Escrita Criativa nº13

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Mês Julho nº 13

Um poema que nos faz reflectir sobre a vida e as relações humanas

Um conto fantástico de escrito de uma forma muito original

Uma crítica às atitudes e às circunstâncias que os humanos se impõem

Um poema que remete a tempos medievais da cidade onde Portugal nasceu

Um poema muito profundo e cheio de duplos significados

Um poema que questiona o próprio ser e as suas experiências


Índice e destaques

Índice Editorial………………………………..….3 As Nossas Sugestões………………..5 Histórias Narrativa Habemos Papam…………………..7  “Bichos”……………………………….18  A Matusquela da Tianoca…….28 Histórias Poéticas  A Arte…………………………………31  Viagem à volta de mim……….32  O Conto das Quatro Estações………………………………….34  A Muralha……………………………36  Hoje não vou olhar para o céu………………………………………….37 Capela de São Miguel…………..39

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Destaques Histórias Narrativas  Habemos Papam – uma história sensual que prolonga para além do tempo

Histórias Poéticas A Arte - Um poema que homenageia uma escultura do primeiro rei de Portugal

Críticas ou Sátiras Gado Humano - Uma crítica às atitudes e às circunstâncias que os humanos se impõem

Críticas e Sátiras

Ficha Técnica:

Gado Humano…………………….40

Mês de Julho n.º13 via internet – ebook Editora e Proprietária: Marta Sousa Revisora: Patrícia Lopes Redacção: Marta Sousa, Ruy Crespo Filho, Jennifer Oliveira, Munique Duarte, Miguel Almeida, André Morais, David Martins, Ana Maria Teixeira e Flávio Pereira Grafismo: Marta Sousa, Ana Maria Teixeira nos poemas “A Arte”, “A Muralha”, “Capela de São Miguel” Interdita a reprodução para fins lucrativos ou comerciais dos textos e interdita a outros que não o autor e a reprodução sem a indicação Escrita Criativa do respectivo nome do autor.

Regras para Trabalhos Enviados………………………………….43


Editorial

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Para o mês de Julho, a Revista Escrita Criativa tem sugestões de livros

muito

especiais;

Adoa

Coelho, participante assídua da Revista Escrita Criativa publica um livro com uma história de carácter infantil, que reflecte um problema actual. Contamos também com a sugestão de livro de Miguel Almeida, que participa com um poema do seu livro para que os nossos leitores conheçam um pouco da sua obra. Mas não só as sugestões são motivos para estarmos contentes, mas também as participações deste mês! Temos cada vez mais participações, agradecemos o vosso apoio! Nas Histórias Narrativas contamos com a história sensual de Ruy Crespo Filho, a criativa e imaginativa história de Jennifer Oliveira, e a narrativa deveras engraçada de Munique Duarte; nas nossas Histórias Poéticas contamos com três poemas de Ana Maria Teixeira a cantar Guimarães, a cidade que irá ser Capital Europeia da Cultura em 2012, temos ainda um poema muito profundo e significativo de

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4 André Morais, e ainda o poema de David Martins, com um conteúdo filosófico e sentimental e, por fim, como já foi referido, o poema de Miguel Almeida para conhecermos a sua obra, um poema que questiona o próprio ser e as suas experiências. Nas nossas Críticas ou Sátiras, contamos com mais um poema de Flávio Pereira que crítica as atitudes e as circunstâncias da existência humana. Agradecemos o crescente apoio de todos os nossos participantes e leitores! Continuamos a contar com a vossa divulgação e participação! Marta Sousa

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As Nossas Sugestões Ups! Engoli uma Estrela de Adoa Coelho Uma jovem em plena crise de adolescência procura as respostas para os seus problemas. Refugiada no seu mundo, no telhado de casa, a ajuda apareceu na forma e do lugar mais inesperado - das estrelas. Este ser vinha a fugir dos amigos que a perseguiam. A jovem ficou admirada por o Bullying ser fenómeno em todo o universo, e nem sabia ainda que enquanto se preparava para salvar o nosso planeta da destruição total, também ela viria a sofrer com o Bullyi... Ups! Já falei demais!"

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Ser Como Tu De Miguel Almeida

Numa frase célebre, o poeta russo Osip Mandelstam disse que “na poesia é sempre de guerra que se trata”. Num registo diferente, Carl Von Clausewitz diz-nos que “a paz é a continuação da guerra por outras formas”. E esse também se pode dizer que é o ponto de vista assumido em Ser Como Tu. Em guerra incessante consigo próprio, o Eu que está por detrás dos poemas de Miguel Almeida mostra-nos que as piores guerras, as mais constantes e perigosas, não são as que travamos com os outros, mas as que travamos connosco próprios e com as nossas circunstâncias. Mas estas também são as guerras que nos trazem as conquistas mais importantes e decisivas.

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Histórias Narrativas

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HABEMOS PAPAM- TEMOS UM PAPA!

ATA- 286-1022-1032-979

VATICANO -1590-19.00 horas

Ele foi escolhido para ser o Papa Bento XV. Naquela noite solicitou a ceia em seus aposentos. Sentou-se em sua poltrona de frente a um espelho e ficou a meditar sobre os ensinamentos: ‘’Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias contra Deus’’... Ele foi implacável com esses difamadores... Olhou-se novamente no espelho. A sua imagem era digna de um deus pagão. ‘’Deu-lhe autoridade sobre cada tribo, povo, língua nação’’. E mais: ’’ foi lhe dada autoridade para agir 42 meses ou 3,5anos, 1260 dias durante o qual o seu poder deveria oprimir o povo’’. Olhou-se no espelho. Confirmava a supremacia que deveria ir de 538 a 1798. Mas ele estava sabendo em segredo que o século 21 sim, era o prelúdio da chaga mortal. Estavam codificados nos quadros e

Habemos Papam

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8 desenhos do Mago Anael e de Ariadne algumas informações que estava sob o seu poder.

VATICANO-1617-19.30 horas

Olhou para a janela e viu uma coisa estranha e maravilhosa acontecendo no céu sereno, sem nuvens de um azul claro. Uma chuva de meteoros provocando um espetáculo de luzes e cores que se manteve por segundos Uma estrela solitária caiu beijando a terra. No inicio do ato da cena lembrou de Isaías 14:12: ‘’ Como caíste do céu, ó estrela d’alva, Filho da Aurora!’’ O Papa Bento XV voltou-se novamente para o espelho e veio uma passagem de João o revelador: ‘’As estrelas cairão do céu na terra, como a figueira, quando abalada por forte vento, deixa cair os seus figos verdes’.

VATICANO-1728- 19.45 horas

E quanto à fidelidade? Ele realmente era fiel? O Julgamento de Ariadne conseguiu tecer fios delicadíssimos praticamente invisíveis para os seus personagens infiéis. Essa infidelidade continua ‘’Como a mulher se aparta perdidamente do seu marido, assim com

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9 perfídia te houveste comigo, ó casa de Israel. Foste como a mulher adultera que, em lugar de seu marido recebe estranhos.

1932- HORA SEXTA

- Santo Padre posso entrar? Era a irmã Consuelo... A maravilhosa... -Entre minha santa... Por que deixaste teu oratório sagrado?

CONSUELO

Para saber se este corpo sagrado tem sede... Para que eu lhe de água. Para saber se tens fome... Para que eu lhe de o que comer. E caso se sinta prisioneiro e solitário eu virei visitá-lo.

O PAPA

- Ó santa o que seria de mim sem tua água e teu pão?

Habemos Papam

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10 A irmã Consuelo se ajoelha e o beija longamente nas mãos. Com seus olhos verdes embriagados de uma inocente sensualidade. Os dois se olham longamente no espelho. Por segundos ele a viu vestida de púrpura e escarlate adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante... Fecha os olhos, tapa os ouvidos e se omiti de ver o resto da triste cena. -Santo Padre? Posso servi-lo em alguma coisa? - Hoje não. Volte para o seu oratório sagrado. Eu como as santas.. E como as virgens... Também necessito de um tabernáculo para fazer silencio aos mártires.. -Gostaria de confessar-me... - Sempre que vieres a mim em confissão eu te perdoarei... -Acabo de entrar na primavera. Tornei-me tua rosa negra!!! -Ó que maravilha minha santa! O que tem de pecado a primavera e o desabrochar de um botão em flor? - Penso em voltar para casa do meu pai? -A tua casa é aqui. A casa do teu pai foi tomada pelo fogo do inferno! Gostaria de explicar os desejos do meu coração. Sinto que a minha luz se esvai. Tenho duvidas se realmente encontrei a verdade. Permita-me Santo Padre perguntar: Tal duvida não te assombra a alma? Quero revelar-te outra duvida.

Habemos Papam

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11 AH! Não é preciso. Prevejo neste teu véu negro uma anunciação... Naquele momento o véu que encobria a face de Consuelo cai para mostrar os seus duros e apetitosos seios que ela propositalmente deixara a descoberto. Com sua voz calma, mas embargada de tesão disse: -A tua confissão é prova que a verdade há de triunfar. Não se pode negar a beleza da criação divina nem tão pouco às tragédias causadas pelo mal que insiste em viver na natureza humana. Não podemos permitir que se crie nada do que já foi criado.

HORA NONA

- Papa Bento XV trago a tua ceia. Era a irmã Maritricia a serviçal. Consuelo se levanta e se despede do Papa Bento XV colocando sobre o seu colo uma delicada orquídea chamada por ele graciosamente de testicule di patri. Ele sorri ao se lembrar da primeira vez que a menina Consuelo confessou com ele. Que mulher sutil... Insinuante... Gostosaaaa! Ela se retira do aposento papal deixando para traz o seu último véu. Irmã Maritricia começa a servir a ceia em uma pequena mesa defronte ao espelho que emoldurava a cena pictoricamente.

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12 Ele olha para a irmã que servia a ceia meticulosamente. Em suas mãos um cálice de ouro. O vinho arbitriun transborda manchando a toalha. Ele a repreende delicadamente; -O que está havendo irmã? Sorriu. Parece estar bêbada? - Devo confessar Santo Padre que realmente comi um pedacinho de hóstia molhada com teu vinho. Perdoa-me Santo Padre? -Ora vamos que mal pode fazer ao molhar teus lábios com arbitriun embebido em uma hóstia?

HORA TERÇA

Ele começa a sua ceia. Ao terminar bebe longamente seu vinho arbitriun. Olha para a irmã com a vista turva e pergunta: -Por que tiraste o véu? Os teus cabelos eram longos e pretos e agora estão brancos para uma jovem Máahh-rii-tri-ciiiaaa!!! A Irmã aproximou-se a passos lentos e macios dançando e tirando a roupagem incomoda de freira ficando completamente nua. Suas curvas sinuosas o provocavam. -Tens medo de mim? – perguntou docemente. -Não, não tenho medo de ti.... É a mulher que veio para servir-me... Ó ...o vinho me sobe a cabeça. Acho que estou começando a ver no

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13 espelho imagens que não existem...Parece que estou em uma arena...

HORA SEXTA

-Ó que lindo! Você está dançando o passo-Doble para me agradar. Em-canta-do-raaaa! Assim que terminou estas palavras abriu-se um portal no espelho saindo o seu Cardeal Inquisidor Nininho acompanhado de mais 11 empunhando tochas de fogos, vassouras e rastelos que logo fazem um circulo em torno dele. Os cardeais estavam vestidos de macacossábios que limpam a arena das touradas depois da morte do touro. Que surpresa eles prepararam para ele! Será que foi ideia de quem esse espetáculo?

HORA NONA

- Que venha o touro! Gritaram batendo palmas. O Papa olha para a mulher que dançava se aproximando dele batendo os pés no chão e tocando suas castanholas e jogando em sua mesa as seguintes cartas de taro: XV-XIII-X-XX e por fim a torre. sim...duas grandes torres sendo derrubadas!!!

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14 - Ó jogando cartas de taro!!! Ele balançava as duas mãos sorrindo em agradecimento. -Olé!Olé!Gritavam os cardeais vestidos de macacos-sábios erguendo suas vassouras,rastelos e tochas. Que loucura ele não conseguia sair do lugar! Estava paralisado pela beleza daquele olhar. Estranho pensou ele: Ela se aproxima com uma das mãos levantadas parecendo empunhar uma espada para a estocada fatal. Vejo que na sua fronte tem uma palavra escrita... Não consigo enxergá-la direito. Que palavra é esta?

-PAQUISTÃO E A GRANDE ÁGUIA

A Irmã Maritricia se aproxima para que ele pudesse ler: -Já começas a asfixiar-te com teu arbitriun? São as carnes e as cinzas dos queimadouros das vitimas dos teus holocaustos! Todos que assumem seus holocaustos como castigos, não são vitimas. Tornar-se-ão carrascos no futuro de outros holocaustos. Não se podem negar fatos incontestáveis. Como não se pode fazer silencio em homenagens as vitimas se os carrascos hoje insistem em não tirar do mal uma lição divina e histórica. Não terão nem como reclamar suas almas e corpos! É o que está escrito no livro do Mago Anael, não é?

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15 O papa Bento XV dá um grito de pavor! -Siiimmmm! -Me entregue o livro dos Magos de Santa Ana e diga o código da NAVE DE ROSALÉM com os desenhos para que a humanidade não saiba quem somos nós. Diga-o! Precisamos fazer o casamento sagrado e deter o Mago Anael e seus anjos. -Não posso... Acho que vou... Morrer...

ORIENTE MÉDIO –VATICANO- E OUTROS PAÍSES

-Deixa-me ler o que está escrito em sua fronte mulher. O que? Misté-riooo! Começa a tossir engasgando com suas infidelidades. - Eu sou a mãe das meretrizes! A tua prostituta! Acabei de servir a tua ultima ceia. Ela da dois passos à frente bate compassadamente os pés e as castanholas e trespassa o coração do Papa com suas mãos em forma de puã de caranguejo dizendo: - Esqueceste infeliz:Deus é ateu o demônio é cristão.Compreende agora?

ORIENTE MÉDIO -1032-979

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O cálice com o arbitriun das imundícies cai da sua mão se despedindo da vida para viver na cidade do seu inferno. A irmã bebe em seu cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícies da sua prostituição. Veste-se novamente de santa freira e diz: - O hábito não muda a essência do mal. É apenas uma couraça da mentira. Temos um novo Papa e novas alianças no mundo. O Papa Nininho XI arranca o anel de Bento XV e quebra. No meio das pedras um pedaço de papel rasgado escrito: ÓPERA GENESISIS. -Como pode um Papa escrever a criação errada... Queime tudo com ele. Que só reste cinzas. Fala o Cardeal Nininho para os homensmacacos. Abraça Meretrícia e a beija na boca. -Somos o maior tesouro da humanidade! A porra da mentira! No espelho fica a figura caída sem a Palavra. No tapete rastros de sangue desapareciam lentamente. Está escrito no livro dos Magos de Santa Ana como um lembrete a cena final: Revelai ao mundo: ‘’Qualquer que comer o pão ou beber o cálice do senhor, indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor.

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17 Aquele que fizer isso indignamente comerá e beberá a sua própria condenação para aprender a lição do julgamento dos seus holocaustos. Não se construorá a paz até que ´´as vitimas´´ carrascos de hoje sejam detidos pela grande águia! A fumaça noticiava com o badalar dos sinos...temos um novo Papa!!!

ABRA-NA HORA SEXTA, NONA, TERÇA. AXÁS NA HORA SEXTA E NONA ATA QUE TU ME AXÁS!

24-25-28-77-14-1-4-5 42-45-48-135-1-3-5-9 52-54-58-164-1-6-4-11 82-84-85-251-2-5-1-8 6-9-3-6-9 Está escrito.

Mago Anael- 2053

Ruy Crespo Filho

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"Bichos" Ana levantou-se da cama e cambaleou, ainda sonolenta, até á casa de banho, deixando a sua cama desfeita e as suas volumosas almofadas amolgadas com a forma da sua cabeça. Quando se aproximou do espelho do lavatório, reparou nas enormes olheiras que rondavam os seus olhos. Mal tinha dormido essa noite. Lentamente, despiu o pijama e preparouse para entrar na banheira. Depois de tomar banho, secou-se, vestiu umas calças de ganga e uma t-shirt branca, e correu para a cozinha. Parou em frente a um dos espelhos do corredor para verificar em que estado tinha ficado o seu cabelo depois do banho. Como sempre, estava todo molhado e parecia mais escuro do que o habitual. Ana era uma rapariga baixa e bastante magra. O seu cabelo era castanho-escuro, cor que ela odiava mas, por ter apenas 16 anos, os pais não a deixavam pintá-lo. Os seus olhos eram de um verde-escuro quase castanho, e eram a única parte do corpo de que Ana gostava.

“Bichos”

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Na cozinha estava apenas a sua mãe, a preparar o pequenoalmoço. Ana passou por ela e, quando se dirigiu para a porta que dava para a rua, a mãe poisou uma mão sobre o seu ombro e perguntou: - Então querida, onde pensas que vais sem tomar o pequenoalmoço? Típico problema das mães, sempre a enfiarem-nos comida pela boca abaixo, pensou Ana. Era o seu primeiro dia de aulas depois das férias do Verão e não queria chegar atrasada. Por isso, pegou numa maçã e meteu-a na mala, saindo de casa antes que a mãe pudesse objectar. A escola onde andava assemelhava-se a uma quinta com uma grande casa no meio. Os professores eram os tratadores, e os alunos eram, literalmente, os bichos. Os rapazes passavam os intervalos todos a jogar futebol e as raparigas passavam-nos a inventar rumores sobre outras raparigas. Depois havia, claro, os namorados, que andavam colados o dia inteiro. Ana não se encaixava em nenhuma das categorias. Ela e a sua amiga Laura andavam as duas juntas nos intervalos e pouco ligavam às outras pessoas, tentando evitar rumores e outras coisas. Laura

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era muito mais alta do que Ana, tinha os cabelos ruivos e também era muito magra. A primeira aula da manhã era Matemática. Ana sentava-se numa das filas na parte de trás da sala com a Laura. O bom de estar sentado longe da secretária do professor é poder escrever bilhetinhos evitando, assim, a necessidade de falar com a colega do lado e aborrecer o professor. Havia pelo menos três novos alunos na turma este ano: uma rapariga baixa e loira, que estava sentada sozinha numa secretária mesmo ao pé da do professor, um rapaz moreno que tinha o cabelo comprido e estava sentado numa secretária a um canto, e, por fim, um rapaz loiro com o cabelo ligeiramente encaracolado e uns belos olhos azuis para os quais Ana teve dificuldade em parar de olhar. - Vanessa, Carlos, Diogo! Cheguem-se aqui para eu vos apresentar á turma! – disse o professor com aquela sua voz que Ana já não ouvia á três meses. Após as apresentações a aula correu normalmente. Naquela escola todas as salas pareciam iguais: frias, vazias e húmidas. As paredes eram brancas, o chão era de madeira e o tecto parecia

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ir cair em cima dos alunos a qualquer momento. Ana e Laura, para além de passarem bilhetinhos uma á outra, “divertiam-se” todos os dias a arrancar as pastilhas mastigadas e os pedaços de papel que estavam colados á secretária. Porém, Ana hoje estava distraída. Sentia que o rapaz novo dos olhos azuis – o Diogo – a estava a observar, mas cada vez que ela olhava para o lado ele parecia estar concentrado no que o professor escrevia no quadro. É fruto da minha imaginação, é de mal ter dormido de noite, pensou ela. Nesse preciso momento Diogo virou-se e, quando os seus olhares se encontraram por escassos momentos, Ana teve a sensação de que ela é que o estava agora a observar. Como consequência dessa estranha sensação, Ana virou-se para a frente e praticamente não se mexeu durante o resto da aula, embora continuasse a sentir que estava a ser observada. Ana saiu da escola uma hora mais tarde pois fora á biblioteca adiantar os trabalhos de casa, já que em casa sabia que não os ia fazer. A meio do caminho, como já estava cansada de andar, sentou-se num banco. Já era de noite, a rua estava deserta e a maior parte das lojas já estava fechada. O banco onde Ana se

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sentava estava mesmo ao pé dum café que de dia está cheio de gente, e tinha reclamos luminosos. Enquanto observava o céu, que naquela noite estava limpo podendo ver-se as estrelas a dançar á volta da lua, Ana reparou num vulto, mais ao menos do seu tamanho, que se aproximava dela. De repente, uma dor desceu-lhe pelo pescoço, prolongando-se pelos braços, fazendo-a deitar-se no banco. Quando o vulto se aproximou ainda mais, Ana já não conseguia ver bem; estava confusa e agora também lhe doía a cabeça. Por fim, não aguentando mais, desmaiou. Quando acordou encontrava-se num sítio desconhecido, um quarto decorado com pequenas estátuas douradas de vários animais e criaturas mitológicas. Ana abriu os olhos lentamente e com esforço, pois a sua cabeça ainda lhe doía. Quando olhou à sua volta reparou que as estátuas estavam cheias de pormenores. Havia pétalas de flores espalhadas pelo quarto, pétalas de várias cores: brancas, cor-de-rosa, azuis. O quarto cheirava-lhe a essas flores, cheirava-lhe bem. Definitivamente não é um quarto de pessoas normais, pensou Ana. De repente começou a sentir-se confortável. A sua dor de cabeça tinha

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passado e os lençóis mantinham-na quente. Embora não soubesse onde estava ou o que tinha acontecido, sentia-se bastante calma. Sentou-se na cama, olhando melhor para o enorme quarto. Quando finalmente se tentou levantar, foi impedida por um rapaz que reconheceu de imediato. - Vejo que já estás melhor. Mesmo assim não te deves levantar ainda Ana. – disse Diogo com um sorriso. Por muito que lhe apetecesse sorrir de volta, ela sabia, e sentia, que a presença do rapaz novo da escola aqui, num sítio que ela não conhecia, especialmente depois do estranho acontecimento no banco, não podia ser coisa boa. - Onde é que eu estou? O que é que aconteceu? – perguntou Ana, num tom que parecia vir de uma pessoa mais zangada do que doente. Diogo agarrou-lhe os pulsos e, delicadamente, fê-la subir de novo para a cama. Ele estava vestido com umas calças de ganga e uma camisa branca, e cheirava tão bem como o quarto. Ao mesmo tempo que ela se deitava, ele sentou-se numa cadeira ao pé da cama e agarrou-lhe a mão, entrelaçando os seus

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dedos nos dela. Quando a mão dele se separou da de Ana, ela sentiu como se uma parte dela lhe tivesse sido arrancada. - Não te preocupes – avisou ele, passando levemente a sua mão pela cara dela, o que a fez arrepiar-se. – Hás-de habituar-te! -Habituar? Habituar-me a quê? – perguntou ela quando o arrepio acabou, acordando para a realidade. Em vez de responder, Diogo levantou-se e, tocando na mão de Ana, começou a emitir uma luz por todo o seu corpo. Uma luz que fez com que ela não conseguisse tirar os olhos dele. Só quando a luz parou é que reparou que das costas dele saiam asas…de borboleta! Com um grito, ela soltou a mão de Diogo e saltou para fora da cama, encostando-se á parede mais próxima para controlar a sua vontade de desmaiar. Redondas asas de borboleta reluziam nas costas de Diogo, eram azuis e emitiam uma luz como a que ela vira quando ele lhe tinha pegado na mão. Eram belas e ofuscantes, mas como podiam ser verdadeiras? - O que… és… tu… tu… és… um… b… b… bicho? – gaguejou Ana. Estava confusa e assustada. Coisas destas não aconteciam a pessoas normais: primeiro o acidente do banco com aquela

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horrível dor, depois o acordar naquele quarto bonito mas esquisito, e agora o novo rapaz da turma dela transformara-se num bicho? Como se lhe pudesse ler os pensamentos, Diogo aproximou-se e respondeu: - Bicho? Não! Sou uma fada… e tu.. – disse ele apontando para as costas de Ana – também és! Bastou Ana inclinar um pouco a cabeça para ver que também ela se tinha transformado num bicho com asas… ou numa fada, como Diogo lhe chamara. Ela sentou-se no chão, as mãos a cobrirem-lhe os olhos cheios de lágrimas, enquanto ele lhe explicava tudo. Explicou-lhe que ela era filha do rei das fadas e que era por isso que não conhecia o pai. A única coisa que Ana pensava que sabia sobre o pai, era que ele tinha morrido, mas afinal ou a mãe lhe tinha mentido ou também não sabia. Diogo disse-lhe, ainda, que o criado-fada, aquele vulto que ela tinha visto, só a devia ter ido buscar aos 18 anos mas, como o pai a queria ver antes disso, a tinha ido buscar mais cedo. Ele também lhe falou sobre os poderes que ela tinha, e que não era disléxica, mas que apenas a cabeça dela estava pronta para

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ler Latim e não Português. Por fim, disse-lhe que não devia estar assustada pois teria descoberto a verdade mais cedo ou mais tarde, e que, daí em diante, aquele mundo seria a vida dela. - Vem comigo, vem conhecer os arredores. – Diogo ajudou-a a levantar, pegando-lhe na mão, e conduziu-a para a saída de casa, mais propriamente da mansão, onde eles estavam. Ana ainda estava a digerir a informação. Passar de uma humana completamente comum para uma fada era, no mínimo, esquisito! Mas assim que saíram da mansão ela parou de pensar nos problemas e começou a apreciar a paisagem. Por todo o lado viam-se árvores de um verde reluzente, fadas a voar e pequenos pássaros poisados nos ramos das árvores que cantavam ao som dos raios de sol. Era lindo, um mundo como nem em sonhos se podia imaginar, mas Ana ainda sentia falta de casa. Pensou se veria a sua mãe ou Laura outra vez. Pensou se isto era mesmo real. A certo momento largou a mão de Diogo e sentou-se encostada a uma árvore. Ele sentou-se ao pé dela, poisando-lhe uma mão no joelho para a acalmar.

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- Ouve, eu sei que parece paranormal agora, mas deixarás de te sentir assim. Prometo! – disse ele tentando animá-la. – Eu não sei como te sentes, sempre vivi neste mundo. Só fui para a tua escola para te manter debaixo de olho e, mesmo assim foi, só por um dia. Vais gostar de aqui estar. O teu pai é um óptimo rei, não é nenhum bicho. Nós não somos bichos! Por favor, sorri porque estar triste não te vai fazer bem! Ana levantou a cabeça e olhou para ele. Aqueles olhos incomodavam-na desde que os tinha visto na escola. Eram mais azuis que o céu e mais profundos que o mar. Quando o seu olhar encontrou o de Diogo, ambos se inclinaram e deixaram que os seus lábios se tocassem. Sentindo aquele beijo, sentindo os braços dele enrolados á volta da sua cintura, Ana pensou que, se ele a ajudasse, podia vir a ser feliz ali. Naquele mundo de fadas.

Jennifer Oliveira

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A matusquela da Tianoca

Na ponta dos pés, a pequena Tianoca se esticava inteira para ver pela janela o que se passava na casa da Dona Bentinha. Não que fosse curiosa, pobre da Tianoca, é que a vizinhança dava motivo. Pela janela lateral da velha casa desbotada, não conseguia ver nada. A janela até que não era alta, mas Tianoca tinha apenas nove anos. Depois de ouvir muitos gritos vindo da casa de Dona Bentinha, ela foi testemunha do tumulto formado na porta da casa da velha que só andava de saia comprida e lenço na cabeça. Mas minutos depois, o tumulto se transformou em meia dúzia de gente pingada. Tianoca, do alto de sua tenra infância, não se arriscou a perguntar a algum adulto o que tinha acontecido. A resposta era sempre a mesma, que criança não

deve

meter

o

bedelho

em

"certos

assuntos".

Tianoca, insistente matusquela, não arredou o pé da casa da Dona Bentinha. Descobrir o acontecido era o objetivo do dia daquela tarde de domingo sem graça em povoado de quinhentos habitantes. Por mais que se contorcesse na janela, Tianoca não conseguiria nem ultrapassar a medida de meio olho. A única coisa que a magrela conseguia ver era uma fumaça escura subindo pelo meio do quarto da casa e indo se desfazer no teto, como bolha de sabão. Será que a

A Matusquela Tianoca

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29 Nhá Frozina havia entrado na casa de Dona Bentinha? Nhá Frozina era mestre na arte da benzedura, e com aquele auê todo de gritos e mais gritos deve ter ido voando acudir a Dona Bentinha, que já era velhinha pra lá dos oitenta. E a fumaça do cachimbo não parava de subir. Por falar em subir, Tianoca tinha problemas em ganhar mais altura para suas verificações dominicais. Pensou em correr para o quintal de casa buscar um caixote velho de maçã, mas logo pensou que, ao subir, o caixote iria se espatifar com ela e tudo. Já estava podre de tanto levar chuva em mês de março. E quanto mais pensava, mais perdia tempo a matusquela. Olhando para o lado, avistou o objeto de sua salvação. Uma lata vazia gigante de ervilha, meio enferrujada, mas que quebraria o galho oportunamente. Era só uma olhadinha rápida, ora. Mirou para os lados para conferir a falta de testemunhas e ao colocar o pé direito em cima da lata para alcançar a bendita janela, Tianoca ouviu o sonoro dizer de sua graça: Sebastiana Angélica! Era o grito de sua mãe, irritadíssima com a curiosidade da matusquela, aquela história do "o que é que os outros vão falar" e etc e tal... Agarrou a mão de Tianoca e a arrastou para casa. De queixo erguido ela pensava em seu futuro recente, xingamento de esquentar a orelha ou chinelada de esquentar o traseiro. Mas Tianoca ansiava ainda pela terceira possibilidade, a de um longo

A Matusquela Tianoca

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30 castigo enquanto sua mãe sairia para conferir as novidades da vizinhança, porque curiosidade para Tianoca era feito hereditário, e sua mãe nem precisaria da lata gigante de ervilha.

Munique Duarte

A Matusquela Tianoca

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Histórias Poéticas A Arte Sociedade Martins Sarmento Ou sociedade do conhecimento, Aqui se recolhe e estuda arqueologia Aqui se tenta entender como a nossa gente vivia.

Aqui se entregam prémios Aqui se premeia quem sabe Aqui se começam por receber prémios Crianças em tenra idade.

Aqui se mostra a arte Não importa qual desde que arte seja, Aqui se recolhem e guardam Vestígios da cultura Castreja.

Neste edifício arte se respira Mesmo que esteja fechado à arte nos inspira, Basta apenas parar e olhar Para imediatamente em arte navegar. Ana Maria Teixeira

A Arte

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Viagem à volta de mim Numa procura de quem se busca, fiz de mim mesmo uma nau E embarquei, na viagem. Desfraldadas aos ventos, ofereci as velas ao Norte e ao Sul Ao Este e ao Oeste, entreguei ao não sabido o meu eu. Embarquei, naveguei e deixei-me ir.

Vi cidades onde estive, mas não gostei Vivi nelas, paredes meias com a dor Em rostos, que não quis conhecer E de quem, na verdade Quis fugir.

Caras tristes, com marcas tristes Visíveis, como casas sem inquilinos.

Suspensão de mim a meu ser, Distância (in) finita, Quis perder-me, para me achar Quis procurar-me, para me encontrar.

Viagem à volta de mim

Escrita Criativa


33 Perdido, vagueei em busca de mim Mas no fim, nau fundeada Num cais, com velas ancoradas Já gastas, procurei viver esta viagem.

Miguel Almeida, Ser Como Tu, pág. 90.

Viagem à volta de mim

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O Conto das Quatro Estações Um rapaz feliz de vestes compridas, Caminhava feliz num caminho de rosas floridas. Orquestrava ostentar as jazidas apetecidas, Que diziam por ali descansarem esquecidas, E só a Primavera de mãos bem erguidas, As sabia de cor nas rosas aparecidas.

Um rapaz feliz que caminha feliz, Cego pelas jazidas tropeça na raíz. Caí e fere-se nos espinhos vís. E desperta a serpente numa estrela de anis, Apenas sente de tal rapidez o petiz, O calor do Verão e a peçanha na sua variz.

Um rapaz feliz acorda e houvera escurecido, Sinistra Figura encontrava-se sentada num jazigo. O Luar revelava a cal mão que ora dá ora quita sem ruído, Apontava para o dilema de um rapaz que de feliz já se tinha esquecido, Ou um cálice que mata a sede ao veneno, mas não coagula o sangue sofrido;

Conto das Quatro Estações

Escrita Criativa


35 Ou uma garrafa que sara as feridas mortais, mas que, jamais!, limpa venenos tais. Eis que chega o Outono aos olhos do rapaz, e as folhas chovem por inescapável fado.

Sinistra Figura que já se levantara, Estendia a mão e o rapaz chamara, Seria certo que o levara, A Morte nunca se enganara. Até que o frio do Inverno um rapaz congelara, Um rapaz feliz que recusara, Nada de sede a sua boca gritara, De sorriso nos lábios a sua vida não abandonara, Nenhuma das purgas à margem provara, Viveria o tempo que o seu corpo ditara, A Sinistra Figura sentiu que de humano se tratara, Deixou-o partir e uma ampulheta virara. Até que a areia cinzenta parara, Um rapaz a jazida encontrara, Debruçou-se sobre a jazida apetecida, tocou-lhe e sorrira, Deu a sua mão à Figura Dextra e no final do solestício morrera. André Alexandre Bettencourt Morais

Conto das Quatro Estações

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A MURALHA É imponente e sublime Quem nos visita por ela fica arrebatado Ficando à espera que a noite a ilumine Para uma viagem de regresso ao passado.

Os nossos antepassados a ergueram Para dos opressores seu povo proteger, Encimaram-na muitas ameias Para bem o inimigo ver.

A muralha toda a Vila envolvia De vida fervilhava, a vila… Ferreiros, Pedreiros, Padeiros, Escudeiros, Bobos da corte E crianças vivendo à sorte Dentro da vila tudo se fazia Só dentro dela o nosso povo vivia.

A Muralha

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Orgulhamo-nos desta muralha que é nossa Que é património mundial E até as suas lindas ameias Deram origem a um logótipo muito original De Guimarães capital europeia da cultura 2012.

Ana Maria Teixeira

A Muralha

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Hoje não vou olhar para o céu... E se há algo por descobrir, Eu quero descobrir. Se há algo que não sei, Quero aprender. Imaginar o que nunca imaginei E ver o que não vi aos olhos de quem não vê, Sentir que me amas e sentir que te amo como nunca amei Não...não foi assim que me educaste, Me ensinaste, Naquela vida que não foi vida a que "infância" chamaste Mas nada podes fazer e so te resta arrepender, De nunca o teres tentado. Não passas de uma lembraça distorcida Nesta memória atormentada. Hoje sinto-me acorrentado, Sem nada poder fazer Ou mesmo saber o que podia ter feito. Vejo ao espelho uma figura despedaçada Que me rasga o peito, Nesta encruzilhada de sentimentos.

Hoje não vou olhar para o céu

Escrita Criativa


39 Solto-me e percebo: Não posso contrariar o facto de ser imperfeito. Todos somos e sempre seremos A perfeição.Oh...a perfeição, essa não existe... Nem nunca irá existir, por mais que procures, Por mais que tentes insistir. Mesmo que existisse continuaria a ser imperfeita. É um esforço desperdiçado. Não consegues se não tentas Não vences se não te esforças. Eu não olho para o céu por mero acaso. Observo a beleza da imensidão Desta terra madrasta. Mas hoje não vou olhar para o céu. Por mim basta !

David Martins

Hoje não vou olhar para o céu

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Capela de São Miguel

Reza a história Que na Capela de S. Miguel Se baptizou o nosso soberano. Reza a história Que perto deste espaço cresceu Um rei que não foi insano.

Dos invasores ele nos protegeu Contra a vontade de sua mãe lutou Para nos defender de Castela No Castelo de Lanhoso A aprisionou. E batalha a batalha Ele Portugal conquistou.

Ana Maria Teixeira

Capela de São Miguel

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Críticas ou Sátiras

O Gado humano

Somos gado quando a biologia é maior que a razão Quando nos deixamos dominar pela pulsão Na violência com os outros animais Quando são reactivados os nossos instintos pré- carnais

Nós somos Gado Quando deixamos uma guerra á pancada Quando batemos em alguém do meio do nada Quando a fúria é maior que o coração Quando amamos com a espada e sem perdão

Nós gado somos a viver Pobres se não tivermos que comer

Gado Humano

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42 Somos gado infernal com razão Quando rasgamos outro animal sem fiel missão

Que fazer a este humano Se a vontade é mais forte A razão dá o seu corte Para actos felidais? Flávio Pereira

Gado Humano

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