Sonho de Escrever nº34

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Nยบ34 Fevereiro 2014


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Índice

Pág.

Editorial

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Informações Culturais

5

Top de vendas de Ficção em Portugal

6

Top de vendas no Brasil

7

Textos de participantes

8

Fantasmas

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O Meu Corpo é Primavera

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Curta Metragem

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Crédulo Impacto

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A Corda do Enforcado

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Regras para Textos Enviados

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Editorial

No tempo frio não há nada como uma boa história ou poema para nos aquecer, não é verdade? A Revista Sonho de Escrever existe mesmo para isso. Este mês com muitos textos líricos e uma mais história de verdadeiro suspense que não pode deixar de ler.

Queremos agradecer a todos os nossos leitores, participantes por termos alcançado os 1000 gostos na página da Revista Sonho de Escrever do Facebook. Agradecemos todo o apoio e esperamos poder continuar a divulgar textos lusófonos com o vosso apoio. Neste número continuamos a ter também o top de vendas de Portugal (ficção) e do Brasil com a colaboração do Website Portal da Literatura (www.portaldaliteratura.com) que não podem deixar de ver. No top de vendas de Portugal, José Rodrigues dos Santos contínua em força em primeiro lugar. Este notável escritor português tem os nossos aplausos.

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4 Aproveito para informar aos nossos leitores e participantes que se tiverem algum livro publicado e queiram divulgar na Revista basta enviar a imagem da capa e a sinopse que podemos divulgar na rubrica “Informações Culturais”. Esperemos que gostem deste número e não deixem de dizer a vossa opinião e enviar os vossos textos para o email asnossashistorias@hotmail.com

Marta Sousa

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Top de vendas de Ficção em Portugal

Top de vendas retirado do site Portal da Literatura (http://www.portaldaliteratura.com/top 10.php?pais=portugal ) Sonho de Escrever


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Top de vendas no Brasil

Top de vendas retirado do site Portal da Literatura (http://www.portaldaliteratura.com/top 10.php?pais=portugal )

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Fantasmas As ideias continuam, a vida sopra muito rápido, senteste perdido, sem saber onde segurar, talvez seja um momento de viragem, ou a exaustão da caminhada?! Consegues compreender, mas não sabes já executar, estas preso aos teus fantasmas, ou o fantasma és tu agora? És tu quem se esconde, quando diz querer aparecer, talvez o teu ser esteja cansado de falsas criações, de celebres citações, sem concretização, existe um sonho! Esse sonho e seres tu, não seres a pessoa que desejas, mas sim um consenso da ideia para contigo, como conforto psicológico, assim és tu, patologias, problemas, ideias, tecnologias, artes! Ser eu! Autentico, e com vontade de conquistar, querer e viajar, posso não sair deste sofá mas consigo viajar por todo o lado, consigo sentir o chão frio que está lá fora. Mas dexei de conseguir lutar contra ele! Deixei de conseguir colocar os sapatos para sentir, a rua, comecei a sentir como está la fora, mas de um modo duro, e incapaz, destorcido, muito! Deixei de conseguir viajar durante muito tempo, dexei de me sentir na minha Sonho de Escrever


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maior sanidade, começo a ser um numero, e não um ser, começo a ficar assustado, mas ao mesmo tempo sinto-me mais integrado, não quero ser mais um quero ser eu, repito isto muitas vezes, não por não saber o que dizer, mas é isso que quero ser! os numero preenchem espaços, não ocupam ideias, não idealizam muito menos concretizam, são nulos, são câmbios, são ganancias!

Tiago Antunes

Pag. https://www.facebook.com/IntelectoH?fref=ts blog. http://intelectoh.blogspot.pt/

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ME

CORPO É PRIMA ERA

Sinto a primavera em mim. Meu corpo...é campo lavrado por ti com cheiro a terra fresca. Do meu ventre... saem borboletas de todas as cores voando. A minha pele... exala cheiro a flores. Minha alma... germina sementes de amor-perfeito Como um arado, as tuas mãos abrem regos. E neles docemente, plantas a tua paixão. onde florescem lindas flores. No fim... ao anoitecer... com toda a ternura, colheste-me da terra, amaste-me ao luar. Protegeste-me... do frio com teu corpo, Com teus beijios... inundaste de mel

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minha boca e pele Por fim...com tua seiva... regaste-me até ás raízes mais profundas.

M.M.M.

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CURTA METRAGEM Todos os dias somos tomados de distintos sentimentos Invade-nos a tristeza, de alegria temos momentos. Conhecemos pessoas, Despedimo-nos delas.

Como sempre acontece neste dia A música enche a nossa aula de alegria! O nosso jovem professor está de sorriso aberto Coração forte e desperto para a última aula nos dar.

Foi durante uns meses o nosso treinador Deu-nos juventude Nós demos-lhe amor.

Sabia que vinha mas não era para ficar Deu-nos contudo suas aulas Com toda a sabedoria de quem acaba de se licenciar.

Ana Maria Teixeira

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Crédulo Impacto Que belo momento o de ver uma ave voar! Soberba e serena, além, no horizonte. Que maravilha deve ser, ser-se ave! Que lá no cimo sente o vento a soprar-lhe, E a dizer-lhe ao ouvido as reveses do ignoto. Que maravilha espreitar do alto o mundo em fundo. Ver o vulgar e esperar o misterioso. Aclamar o estranho e viver uma proeza. Que maravilha seria um dia ser ave! Partir sem volta, sem propósito, E viver uma autêntica certeza, Na mais vasta leveza!

Dalila

L. Benjamin

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A corda do enforcado Quem ganha ao jogo, perde ao amor” – Provérbio

Com certeza, alguns de vocês já

ouviram

contar

histórias

de

tipos “manhosos “que conseguiram vender

o

eléctrico

da

Ajuda,

o

Cristo Rei de Almada ou até mesmo a Torre Eiffel de Paris a um otário qualquer. E por certo, também já vos sucedeu serem abordados por um indivíduo, detentor de um discurso deveras eloquente, que vos tenta impingir uma “banha da cobra” ou outra “tralha qualquer”, que na verdade, não serve para nada...

Mas, uma corda de enforcado?

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Pois foi o que me quiseram vender naquele fim de tarde. Eu já ultimava as minhas compras pelo mercado de Odemira

quando,

inesperadamente,

fui

subtilmente

abordado por um sujeito muito bem composto.

- Boa tarde. O meu nome é Casimiro Martins. Será que podia dispensar-me apenas alguns minutos do seu tempo? – Inquiriu ele, abordando-me com delicadeza. Não respondi. -

Se

eu

lhe

disser

que

sou

possuidor

de

um

“amuleto” que pode trazer a sorte e a fortuna para sua casa, vossemecê acreditaria em mim? – O seu tom de voz era coloquial e soava de forma convincente. -Olhe amigo, eu só acredito nas coisas depois de as ver... – Redargui confiante.

Reparei que trazia consigo uma pasta, que segurava firmemente. Sabem, eu não gosto de indivíduos trafulhas, daqueles que observam as pessoas à distância, e desatam logo a tecer juízos de valor sobre a inteligência

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alheia. Pensei nisto e não dei muita importância àquela lenga-lenga.

- Escute, amigo. – Insistiu ele – “Isto” que eu tenho aqui comigo, é algo mesmo genuíno. - Se é tão genuíno assim, e traz sorte e fortuna, não entendo porque motivo se quer desfazer “disso” que você traz consigo... – Atirei - Ah, meu amigo. O senhor não pode ver as coisas dessa forma. Então, se as coisas funcionassem assim, os bancos não vendiam dinheiro, um vendedor de stand, não vendia automóveis, e por aí a fora... - Mas que raio de “amuleto” é esse afinal? - Não posso revelar-lhe para já, amigo. Mas posso garantir-lhe que dá sorte.

-

Desculpe,

irritado.

não

estou

Estranhamente,

interessado

estavam

a

Rematei

faltar-me

os

argumentos para afastar aquele indivíduo “chato” do pé de mim.

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-

Amigo,

deixe-me

propôr-lhe

um

acordo...

Sugeriu ele, arqueando as sobrancelhas. - Um acordo? – Repeti. - Sim, um acordo de cavalheiros! - Que acordo? – Resmunguei impacientemente. -

ossemecê só tem que me oferecer um crucifixo em

ouro, e de seguida eu levo-o até uma casa de apostas, onde podemos arriscar a sorte num jogo qualquer, ou até, se quiser, podemos comprar um boletim de lotaria... O que quiser... - Pode continuar, amigo... – Retorqui, deixando transparecer

alguma

ansiedade.

Casimiro

não

se

assemelhava ao burlão típico de Lisboa que eu já ouvira falar. Era um homem do campo, tal como eu. Estranho, mas do campo. - Eu farei as postas. Se eu ganhar, ou acertar os resultados, vossemecê, como é um homem de palavra, dá-me uma bíblia, e eu em troca, dou-lhe o meu amuleto...O que me diz?...

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“Com o Diabo!” m crucifixo e uma bíblia?... Para que queria ele aquilo? – Questionei-me. Como poderia ele ter tanta certeza do que acabava de afirmar?

Ganhar no jogo, ou em apostas? Era uma proposta muito arrojada, não podia haver truque naquilo. Confesso que me deixei envolver naquela “tentação”

e

senti-me

invadido

pela

curiosidade

mórbida de aceitar o desafio daquele estranho, que dizia chamar-se, Casimiro Martins. Tirei o meu Ford Taunus da garagem e viajámos até minha casa, que distava poucos quilómetros do mercado onde nós estávamos. Pelo caminho, Casimiro não falou. Enrolou um cigarro com a sua máquina dourada, apenas. Eu também nada disse. Estacionei o carro em frente à porta da minha residência e pedi-lhe que aguardasse dentro do carro, que eu voltaria num instante.

Entrei em casa e dirigi-me ao meu quarto. Não consegui explicar à minha querida Florbela o que se

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estava a passar, mas assegurei-lhe que não ia haver problemas. Por fim, e sem que ela percebesse, furtei da gaveta o crucifico de ouro que lhe fora oferecido pela sua mãe, e que ela guardava religiosamente. Guardei-o no bolso das calças, pois no bolso do casaco, enfiei a «6/35». Achei que até prova em contrário, não devia confiar naquele homem. A bíblia veio no bolso também.

Meti-me no carro, retirei o crucifixo e entregueilho para a mão. Oh, mas não pensem que lhe dei o ouro assim de ânimo leve. Não! Depois de lhe entregar a jóia, mostreilhe o revólver por entre o casaco e adverti-o: -

Se

você

se

afastar

de

mim,

mais de

três

metros...dou-lhe um tiro!

E com a sua concordância, viajámos até Lisboa, mais precisamente,

Alcântara.

Disseram-nos

que

ficava

no

quarteirão a seguir à Travessa Teixeira Júnior. E foi para lá que nos dirigimos. Eram quase oito da noite.

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Chegados à tal tasca, entrámos discretamente. Era um espaço exíguo, com uns bancos altos, quase colados ao balcão. Cheirava a vinho e o chão estava encardido. Reparei que havia uma porta lateral que estava fechada.

m indivíduo coxo aproximou-se do balcão. -

ão querer alguma coisa? – Inquiriu ele. Reparei

que também era fanhoso. -

Diga-lhe

que

quer

uma

ginjinha

quente…

-

Sussurrou-me o Casimiro com um ar muito serio. - É um código – Informou ele. - Uma ginjinha quente- pedi um pouco atrapalhado. -Ah, com certeza, aguarde um pouco. - Respondeu ele, agachando-se sob o balcão. – Venham comigo, disse ele, quando se dirigiu à tal porta que estava fechada. Descerrou-a e mandou-nos entrar. Era um pequeno escritório, com uma secretária e ao canto havia uma estante cheia de dossiers com algum pó. - Então diga lá o que quer… - indagou o homem, enquanto empurrava uma cadeira para o lado.

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- Diga-lhe que quer um boletim de apostas para a o combate de boxe de 10 de Janeiro, ou seja, de logo à noite, no casino Vilamoura! – Ordenou ele de novo. O coxo, que afinal era o “Tobias”, entregou-me o boletim, alheio à sua presença. –

ou apostar no “Bento Algarvio”, ele nunca

perde! - Porquê, no “Bento”? – Inquiri ingenuamente. - Porque é ele que vai ganhar! Mas, porque nos demoramos aqui?

amos até ao casino, vamos jogar! –

Desafiou ele. - Vamos. – Assenti. Chegamos ao casino Estoril e o Casimiro mostrou-se perfeitamente à vontade e familiarizado com o local. Para mim, aquilo era tudo uma novidade. Nunca tinha entrado num sítio daqueles. Segui o Casimiro para todo o lado onde ele ia. -

amos até à sala das «slot machines» - sussurrou

ele. Ingressámos numa área gigantesca onde havia, pelo menos, umas mil máquinas coloridas e barulhentas.

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Casimiro, com o seu olhar sereno mas profundo, fitou a sala e escolheu uma das máquinas que estava livre. Depois, sentou-se e começou a jogar. Carregou numa alavanca, e de seguida, o “visor” mostrou-lhe três corações idênticos, e sem que ninguém esperasse, a máquina começou inesperadamente a vomitar prémios. Centenas deles, apenas através do toque subtil das mãos do Casimiro Martins.

Não talismã

podia que

haver

lhe

qualquer

transmitia

um

ardil. poder

Ele

tinha

especial,

um uma

“estrela da sorte”, que lhe permitia destapar aquele véu que esconde a fortuna e o destino, inacessível ao mais comum dos mortais.

Não perdi mais tempo a assistir aquela exibição do “Rei Midas”.

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- Espere lá...Se esse seu talismã, lhe trás tanta sorte, porque se quer desfazer dele? – Era a pergunta inevitável.

- Porque comigo, já deu o que tinha a dar. Se eu insistir mais com ele, irá trazer-me azar. Mas estou disposto a arriscar mais um pouco, apenas para lhe poder comprovar em como estou a falar a verdade, e que não estou a enganá-lo com uma artimanha qualquer. Entreguei-lhe a bíblia para a mão.Casimiro abriu a pasta que até então nunca largara e retirou de lá um pedaço de corda com um nó na sua extremidade! - O que é isto?... – Indaguei com o rosto invadido pelo espanto. - É o talismã que lhe falei! – Redarguiu ele serenamente. - O quê?...É por este pedaço de corda seboso, que você me pede dois mil e quinhentos euros? - Rosnei já com a pistola em punho.

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- Esse pedaço de corda vai torná-lo rico, vossemecê bem viu. – Afirmou ele. - O que é isto afinal? -É

a

corda

do

enforcado!

Esclareceu

ele

friamente. - A corda de quem...? - Do enforcado!

Obriguei o Casimiro a explicar-me o significado daquilo tudo. Ou ele me dava um esclarecimento lógico ou forçava-o a devolver-me o crucifixo e a bíblia. Havia várias coisas que não estavam a fazer sentido na minha cabeça. Então ele esclareceu-me que, segundo uma estranha lenda, quem guardar a corda do enforcado consigo, terá êxito e sorte no jogo. Bem, eu não podia fingir que aquilo não era verdade, pois eu tinha-o visto a ganhar milhares de euros numa só noite, e até mesmo o pugilista em

quem

ele

apostara...tinha

vencido

o

combate:

O

“Bento Algarvio” conquistara o título mundial naquela noite!

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Contudo,

ele

ainda

me

advertiu

das

regras

a

respeitar para o “bom uso daquele talismã insólito.

Apenas

podia

usar

e

abusar

“dele”,

se

não

fizesse ninguém infeliz à minha volta; de contrário, atraía a desgraça e o infortúnio. Esta era a regra. Mas “quem” controlava essa regra?... Oh, Ninguém!

No momento em que decidi libertá-lo, reparei que ele tinha estranhamente desaparecido.

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Senti um cansaço profundo a apoderar-se do meu corpo,

possivelmente,

devido

a

tanta

surpresa

e

excitação. Lembrei-me que estava a duzentos quilómetros da minha terra – Odemira. Decidi alugar uma suite no hotel Estoril-Sol, com uma varanda com vista para o mar. Acabei na cama com duas putas da alta, que “engatara” no bar inglês do hotel.

A aurora despertou nevoenta e triste, e os ardinas já bradavam as notícias frescas pela rua, quando eu abri os olhos. Olhei em volta. As putas já tinham ido embora. Pensei que tinha sonhado com tudo aquilo. Deitei as mãos ao bolso do casaco e verifiquei que a corda do enforcado ainda lá estava. O dinheiro tinha desaparecido. As putas tinham-no

roubado,

provavelmente.

Mas

o

amuleto

continuava comigo, e isso indicava que tudo tinha sido real, e não um sonho.

Ergui-me da cama num pulo, como se tivesse molas nos pés. Tomei um duche rápido e vesti-me ainda mais

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depressa. A ansiedade de ir ganhar dinheiro não parava de crescer por mim acima. Agora, tal como um Playboy, eu ia gozar a vida enquanto pudesse, pois a vida é um breve trilho, do berço para o túmulo. Por isso, só tinha de desfrutar desta oportunidade, e ser feliz.

Apanhei um táxi até ao “Tobias” e quando lá cheguei adquiri duas cautelas e um boletim de apostas, desta vez para o grande derbie do fim-de-semana: o Benfica – Sporting. Ainda

no

“Tobias”,

preenchi

um

boletim

de

totoloto - Não havia pressas. Todos estes resultados apenas seriam divulgados e afixados na segunda-feira seguinte.

“ Quem se satisfaz com a sorte será feliz até à morte”, diz o provérbio popular!... E bem!

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Não encontro as palavras certas para descrever a forma como aquele amuleto mudou radicalmente a minha vida, pois a partir daquele dia, a sorte passou a ser a minha fiel companheira, e onde quer que se realizassem jogos ou apostas, eu lá estaria presente, sempre para ganhar!

Costumava ir a um clube clandestino, onde se jogava poker. Das vezes que lá fui, bati os meus adversários,

apresentando

sempre,

ou

um

“straight

flush”, ou uma “sequência de cor” – o que os deixava confusos e baralhados. Da última vez, eles até correram comigo, pois achavam que eu fazia batota. O pior é que não conseguiam prová-lo, e assim tinham que me dar a massa toda que tinham apostado.

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Jogava

a

tudo:

roletas,

lotarias,

apostas

clandestinas...tudo!

Percorri

os

casinos

da

Póvoa,

da

Figueira,

Vilamoura, enfim, todos! Somei uma fortuna durante largos meses, apenas a jogar e a apostar. m dos meus “feitos, até foi notícia nacional. Com certeza

alguns

de

vocês

devem

ter

lido

no

jornal

«Correio da Manhã»: “ m jogador de 45 anos ganhou na terça-feira um «jackpot» de 250 mil euros no Casino de Lisboa, o maior prémio desde que a sala de jogos abriu. O premiado, residente em Lisboa pediu o anonimato e efectuou várias apostas de cinco cêntimos, totalizando 15 euros numa «slot machine» no jogo «star wars». O jackpot saiu-lhe pouco depois da meia-noite”

Em poucos meses realizei todos os meus sonhos. Comprei uma vivenda em Vilamoura, no luxuoso projecto da

Lusort; um veleiro «Fast 395»; um «Jaguar xj super

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com bancos de couro e tapetes de lã de carneiro. Tencionava até comprar um helicóptero para que as minhas viagens pudessem ser mais rápidas. Viajei pelo mundo inteiro e experimentei coisas que vocês nem conseguem imaginar. Até fundei um clube só para ricos, imaginem!

Sentia-me o homem mais sortudo do mundo, mas de repente... Fiquei só...

É verdade! A minha querida esposa abandonou-me. Florbela,

tal

como

eu,

era

uma

pessoa

de

origens

humildes. Fora criada na aldeia e teve uma educação muito conservadora. Apesar de lhe ter prometido que lhe dava

tudo

o

que

ela

sempre

sonhara,

Florbela

não

suportou as minhas excentricidades e extravagâncias. O pedido de divórcio e o pedido de custódia dos dois gaiatos foi inevitável.

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Seguidamente faleceu o meu melhor amigo, a quem eu oferecera um «Masaratti», último modelo, que mandara vir de Itália, exclusivamente para lho oferecer. O pobre Joaquim não teve mãos para o carro e...despistou-se contra uma árvore! Tudo isto aconteceu no dia do seu quadragésimo segundo aniversário. Estranhamente,

o

enigmático

talismã

deixara

de

gerar o seu efeito mágico, e cada vez que eu ia jogar ou apostar, acabava sempre por perder dinheiro. Contudo, eu continuava

a

insistir,

acreditando

no

seu

poder

extraordinário e sobrenatural que tanta riqueza me tinha trazido.

Mas inexplicavelmente, toda a fortuna que granjeara em tão pouco tempo, tivera um sumiço ainda mais rápido, e num curto espaço de dois meses, voltei a ficar sem nada.

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Tornara-me num miserável, sem dinheiro, sem casa e sem família.

A desgraça e a fatalidade eram duas cabeças de um monstro esfomeado que me perseguia para todo o lado onde eu fosse.

Por

fim,

uma

doença

estranha

atingiu

os

meus

sentidos, levando-me a ficar surdo. Mais tarde fiquei cego de uma vista. Nem os melhores médicos do país conseguiram diagnosticar a origem do meu padecimento. Só havia uma explicação: a corda do enforcado detinha uma influência

macabra

no

modo

como

a

minha

vida

se

transformara, tanto para o bem, com o para o mal! – Até que uma ideia súbita assaltou o meu cérbero – “Eu tinha de devolver a corda ao Casimiro Martins”. “E agora? Onde ia eu descobrir aquele estranho indivíduo que, num mau dia me vendeu a corda de um enforcado?”

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De imediato, meti-me no eléctrico e desloquei-me a Alcântara, à tasca do Tobias.

Assim que lá cheguei, fui atendido por ele (pelo Tobias – o fanhoso). - Olhe lá, Tobias...Não se lembra de me ter visto, há

uns

meses,

aqui

com

um

indivíduo

assim

meio

esquisito, com um chapéu de feltro?... – Inquiri eu meio nervoso. - Não, não me lembro, não senhor... – Murmurou o Tobias, coçando a cabeça num modo meio confuso. - Ele até comprou um boletim de apostas para o combate do “Bento Algarvio”... – Insisti ansioso.

-Não. Não me lembro de nada, amigo. – Redarguiu ele impaciente.

Havia qualquer coisa de muito estranho naquilo tudo. Porém, não perdi mais tempo no “Tobias”, que

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acabou por me revelar que naquele dia, pareceu-lhe terme visto por ali, mas sozinho, e não acompanhado!

Regressei

a

Odemira.

Afinal

fora

que

tudo

começou, e foi onde tivera o primeiro contacto com o Casimiro Martins. Lembrei-me de ir ao posto de correios da zona, e ali indagar se conheciam algum tipo com aquele nome. Falei com o velho Luís, o funcionário mais antigo do posto dos correios. O coitado pensava que eu ainda era o fabuloso milionário de há uns meses atrás e então, valendo-me de tal, prometi-lhe que mandava fazer uma piscina nas traseiras da sua moradia. E só assim ele acabou por me fornecer a morada do Casimiro Martins.

Fiquei a saber que ele vivia no Alto de São Sebastião, uma pequena povoação a poucos quilómetros

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dali, por isso meti-me num táxi, e fui até à morada que me foi indicada pelo funcionário dos Correios. Não paguei ao taxista, pois também lhe prometi um casaco “vison” para ele oferecer à Dª Maria.

A povoação situava-se numa planície melancólica de tons escuros. As casas eram baixas e não se via ninguém naquela

paisagem

desconsolada,

onde

apenas

os

cães

vagueavam pelas azinhagas a fora. O vento rumorejava um suspiro fúnebre.

A habitação de Casimiro era a mais afastada de todas. Situava-se no fim de uma encosta íngreme e aparentava estar estranhamente desocupada. Aproximei-me e bati à porta várias vezes, sem obter qualquer resposta do interior. Senti um pavor gelado a subir-me pela espinha, quando me voltei e dei de caras com uma velha sinistra, que me observou demoradamente com o único olho que tinha na sua face disforme. - O que quer?... – Inquiriu ela com uma voz pastosa.

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- Procuro o senhor Casimiro Martins...ele ainda mora

aqui?...

Ao

escutar

aquele

nome,

a

velha

enterrou ainda mais o seu olhar em mim e fixou-me como se eu fosse uma aparição do inferno. – Sabe, tive com ele há pouco tempo, fizemos um negócio e... –

Á-SE EMBORA! – Grunhiu a velha estridentemente.

Á-SE EMBORA DAQ I, JÁ! Não insisti, estava assustado e abandonei o local. Pois já não havia nada a fazer ali, e com certeza,

o Casimiro já não morava naquela casa há muito tempo. Teria de prosseguir a minha vida, com ou sem a “corda do enforcado”. Não demorei a abandonar o Alto Sebastião. Contudo, resolvi ainda dar um salto à esquadra da polícia e indagar mais alguma coisa sobre aquele homem misterioso.

A subchefe que me atendeu era uma mulher austera e antipática. Expressava um ar sisudo, e implicava com tudo em que punha as mãos. Após algum tempo perdido à espera que ela reparasse na minha presença, lá me atendeu com um ar impaciente.

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- Boa tarde. O que deseja? - Inquiriu. - Boa tarde. Procuro pelo senhor Casimiro Martins. Sou um familiar e... -

O

Casimiro

Martins?

Interrompeu

ela,

empurrando os óculos para a sua face fechada.

-Sim. Ele ainda reside aqui nesta zona? - Reside sim. Reside lá em cima no jardim da colina... - No jardim da colina? - Sim, aí mesmo – Retorquiu. - Onde fica esse jardim? – Insisti. - Siga a esta estrada em direcção a Odemira. Depois passa uma ponte, e vira à sua direita. siga por uma azinhaga adiante, até dar com um cemitério...e é aí! - Aí onde, minha senhora? – Inquiri inocentemente. - No cemitério. É o destino inevitável! – Exclamou ela com o rosto rubro de impaciência. - Mas...o senhor Casimiro... -Sim, já morreu! Pensei que soubesse, ora! – Concluiu ela a bufar.

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Tremi. Tremi completamente quando trespassei os portões do cemitério de Odemira, ansioso por encontrar a sepultura de

Casimiro.

Preveni-me

para

o

pior.

Não

percebia

porquê, mas algo de sinistro e macabro lampejava nas antecâmaras da minha mente. O cemitério parecia abandonado. Algumas sombras já se tinham abatido pelas lápides frias abaixo, e o ambiente à minha volta tornara-se terrivelmente sombrio. Mas eu estava perto, sentia que a qualquer momento os meus olhos haviam de ser puxados para a efígie da sua lápide... Ali estava ele!

A foto era recente. Apesar dos tons cinza, o retrato era bastante nítido. Não restavam dúvidas quanto à sua identidade. Confesso que senti alguma pena por

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saber que ele jazia ali. Mas quando olhei melhor, senti um terrível arrepio trespassar a minha alma debilitada. Na

sua

Martins,

lápide

podia

nascido

em

ler-se,

12/07/1958

aqui e

jaz

Casimiro

falecido

a...

9/1/2002”. Atemorizado e confuso, puxei a cópia do boletim de apostas referente ao dia em que o conheci e, meu Deus, que visão terrível! Tinha a data de 10/1/2002!? – “Isto não pode estar a acontecer”, murmurei.

- Enforcado! – Sibilou uma voz gutural, mesmo por trás de mim, que me fez saltar de terror. - O quê? – Perguntei com a voz trémula. - O senhor Casimiro enforcou-se! – Proferiu um indivíduo baixo e corcunda, que a avaliar pelo estado das suas botas lamacentas, deduzi que se tratava do coveiro. E deduzi bem. - Enforcou-se? – pensara ter ouvido mal, pois cada vez estava mais surdo.

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- Pois é. Infelizmente nesta terra há muito boa gente que põe termo à vida desta forma. Dizem que é uma maneira de morrer de pé. Ainda a semana passada enterrei aqui o Ti Raimundo. Era um homem de 68 anos, cheio de saúde.

m agricultor dedicado e amigo do seu amigo.

Certo dia, sem ninguém saber como ou porquê, saiu de casa e nunca mais ninguém o viu. Foram dar com ele, uns dias mais tarde, enforcado numa das árvores mais altas da serra. - Meu deus! – Sussurrei apavorado. - Segundo já ouvi dizer, Odemira é a terra onde há mais suicídios por habitante, em todo o mundo, sabia? - Não, não sabia. Mas já agora, o que levou o pobre Casimiro a suicidar-se?

- Oiça, senhor... Aqui em Odemira, não gostamos muito de falar do assunto, mas diz-se por aí, que certo dia, ele comprou um amuleto a um forasteiro qualquer, e

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que esse tal amuleto, que nunca ninguém chegou a saber o que era, trouxe-lhe muita fortuna, mas depois também lhe indicou o caminho para o inferno e para a desgraça. Então, o pobre Casimiro, farto de viver na miséria, e desesperado com os pesadelos que o assombravam, decidiu enforcar-se! - Credo! – Murmurei num tom desgostoso. - Sabe, os mortos manifestam-se segundo regras que nós, os vivos ignoramos... - Que quer dizer com isso? – Indaguei.

O coveiro colocou a pá sobre o seu ombro e virou-me as costas, sem me dar resposta. Abandonei o cemitério em completa agonia. A minha cegueira tinha-se agudizado, bem como a minha surdez. Estava economicamente falido e a minha vida tornara-se numa ruína completa.

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Caminhei vários quilómetros pela estrada adiante. Não conseguia compreender como tudo aquilo se tinha passado comigo. A corda que tirara a vida ao Casimiro Martins continuava no meu bolso. Ele fora uma aparição que

interferiu

na

minha

vida,

para

me

passar

um

“testemunho”, disfarçado de talismã. Agora era a minha vez de o fazer... Mas como?

Aluguei um quarto na pensão Rosa dos

entos, e

pernortei por lá. Peguei num pedaço de papel e escrevi tudo o que tivera acontecido nestes últimos dias. Se um dia alguém encontrar este diário, so peço que reze pela minha alma.

No dia seguinte, esperei pelo fim da tarde, e caminhei pelo planalto. Estava um dia cinzento e feio.

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As cores pálidas do crepúsculo davam um tom cruel ao planalto. À minha frente elevava-se um imponente sobreiro. Atei a corda à pernada da árvore e murmurei “Aguenta com o meu peso. Não deve custar muito. Afinal, são só alguns segundos, e depois...tudo acaba, e tudo recomeça”. Alexandre Cthulhu

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Regras para textos enviados para a Revista Sonho de

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diferentes, senão será publicada apenas quando tiver o número de participações suficientes. - A Sonho de Escrever não corrige erros ortográficos nem faz alterações às obras enviadas, se for enviado algum trabalho poderá não ser aceite. - A Sonho de Escrever só aceita trabalhos escritos em português. - Trabalhos com expressões noutras línguas deverão ter uma nota no fim a dizer o seu significado, caso não esteja incluída poderão não ser aceites. - Trabalhos com direitos de autor registados na Sociedade Portuguesa de Autores deverão informar a SPA antes de enviar os seus textos para a Revista Sonho de

Escrever. - A Revista Sonho de Escrever publica somente textos autorizados pelos autores. Ficha Técnica: Mês de Feveiro 2014 n.º34 via Internet Editora: Marta Sousa Redacção: Marta Sousa, Ana Maria Teixeira, Maria Manuela Macedo, Tiago Antunes, Alexandre Cthulhu e Dalila L. Benjamin Grafismo: Paula Salgado (logótipo e contracapa). As imagens dos textos na secção de textos dos participantes foram enviadas pelos respetivos autores. A imagem de capa foi retirada da Internet. Interdita a reprodução para fins lucrativos ou comerciais dos textos (excepto pelo autor do texto) e interdita a reprodução sem a indicação do respectivo nome do autor.

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