Revista Escrita Criativa nº16

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Mês Outubro nº 16

Uma história que marca um corpo

Uma história de uma viagem pelo mar da vida com suas tempestades

Uma História com rugas de afecto amor e carinho Um poema sobre ânsia e necessidade de escrever


Índice e destaques

Índice Editorial………………………………..….3 As Nossas Sugestões………………..5 Histórias Narrativa No mar sê Marinheiro…..……...7 Um corpo com história.…….……9 Rugas …………………………….…….16 Histórias Poéticas  Nós abaixo assinados declaramos I……………………………17  Nós abaixo assinados declaramos II …………………..….….18 Poema…...……………………..…….19  Um só com a Natureza…………21

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Destaques Histórias Narrativas No mar sê marinheiro – Uma história de uma viagem pelo mar da vida com suas tempestadesUm corpo com História - Uma história de uma viagem pelo mar da vida com suas tempestades Rugas - Uma história de uma viagem pelo mar da vida com suas tempestades

Histórias Poéticas  Nós abaixo assinados declaramos I – Um enigmático poema sobre o final de um cursoPoema - Um poema que reflecte ânsia e necessidade de escrever

Críticas ou Sátiras Soluções de Desemprego – Uma crítica às políticas de emprego

Críticas e Sátiras Soluções de Desemprego…..24 Regras para Trabalhos Enviados………………………………….26

Ficha Técnica: Mês de Outubro n.º16 via internet – ebook Editora e Proprietária: Marta Sousa Revisora: Patrícia Lopes Redacção: Marta Sousa, Liliana Machado, Diana Tavares, Pedro Mesquita Ana Maria Teixeira, Ana Catarina Zhang, Sofia Rosa e Lena Amurita Grafismo: Paula Salgado (logótipo), Marta Sousa, Interdita a reprodução para fins lucrativos ou comerciais dos textos e interdita a outros que não o autor e a reprodução sem a indicação do respectivo nome do autor.

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Editorial

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Para o mês de Outubro, a Revista Escrita Criativa conta com uma interessante sugestão de livro e como sempre mais participações com novas histórias, poemas e críticas. Este mês sugerimos o livro de Giovana Damaceno que participou com uma crónica no número anterior. Nas Histórias Narrativas contamos com a história de Liliana Machado que nos faz navegar numa viagem pelo mar cheia de sentimentos e pensamentos significativos, onde se revela um ponto metafórico à vida e às suas dificuldades com uma mensagem muito genuína, temos também Um Corpo com História de Diana Tavares, uma descrição criativa que retrata a vida de uma mulher determinada a dar um rumo à sua vida, umas maravilhosas palavras de afecto e de estima que contam as Rugas de Pedro Mesquita. Na rubrica Histórias Poéticas contamos com dois poemas de Ana Maria Teixeira sobre o final de curso da sobrinha e da filha, onde

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4 esta lança um desafio para os nossos leitores adivinharem qual foi o curso que elas concluíram, quem aceitar o desafio poderá responder para asnossashistorias@hotmail.com. Temos ainda o poema de Ana Catarina Zhang que retrata a ânsia de escrever do poeta e o poema de Lena Amurita que reflecte a Natureza como libertação de uma alma atormentada.

Por

fim,

temos

ainda

uma

crítica

relativamente às políticas de emprego onde se apresenta uma real solução de desemprego por Sofia Rosa.

Gostávamos de saber as vossas opiniões e sugestões! Enviem-nas para o email asnossashistorias@hotmail.com. Agradecemos mais uma vez, o apoio de todos os nossos participantes e leitores! Continuamos a contar com a vossa divulgação e participação! Marta Sousa

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As Nossas Sugestões

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Mania de Escrever Escritora de Volta Redonda reúne suas melhores crônicas em livro “Escrever para mim é um exercício de observação do cotidiano. Nas minhas crônicas reclamo, critico, lamento e me divirto com as circunstâncias do dia a dia”. Dessa forma, a jornalista Giovana Damaceno sintetiza as crônicas que compõem seu primeiro livro: Mania de Escrever. A obra, lançada pelo site Clube de Autores, reúne 40 crônicas escritas pela autora de 2007 a 2009 e publicadas originalmente no jornal Volta Cultural e no blog www.giovanadamaceno.com. Giovana conta que o desejo de escrever sempre fez parte de sua vida. Jornalista há 21 anos e escritora desde menina, ela chegou a ser selecionada para compor a turma de 30 cronistas participantes da Oficina de Crônica da Festa Literária Internacional de Paraty – Flip, no ano de 2007. Ainda assim, o desejo de reunir as produções em livro demorou a se manifestar. Mas tudo mudou no dia em que Giovana resolveu reorganizar antigos textos. “Tudo o que escrevo fica no computador, numa pasta chamada Mania de Escrever. Quando estava prestes a completar 40 anos, dei uma olhada na pasta, em tudo que havia escrito, e tive a ideia de selecionar as 40 melhores crônicas para comemorar meus 40 anos,” explicou Giovana. “Posso dizer que reuni um arquivo de lembranças, um registro de observações bem humoradas sobre uma época,” complementou a autora, falando um pouco sobre a essência da obra.

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6 Além de ser uma coletânea dos melhores textos, o livro ainda conta com outros dois grandes diferenciais, como conta Giovana. “A foto da capa foi feita pelo meu filho, Caio Damaceno, de 12 anos. E o prefácio foi escrito por cinco dos meus ex-alunos de Jornalismo, que se formam agora”. Os autores do prefácio são Amanda Canuto, Ananda Valente, Jader Moraes, Lesliane Assis e Thayra Azevedo, formandos do curso de Jornalismo do UniFOA.

Literatura independente Quem se interessar pelo livro Mania de Escrever pode comprá-lo pela internet. Ele está à venda pelo endereço www.clubedeautores.com.br, um site que abre espaço para escritores independentes publicarem suas produções. O Clube de Autores é o primeiro site brasileiro (hoje já existem outros) que permite a publicação gratuita de livros de forma 100% sob demanda. O autor pode ‘postar’ seu livro, determinar quanto deseja ganhar por venda e disponibilizá-lo na loja sem pagar absolutamente nada por isso. Uma vez lá, todo e qualquer usuário pode adquiri-lo via comércio eletrônico. Quando o livro é comprado, o pedido vai diretamente para a gráfica, que imprime um a um, dá o acabamento final e despacha para o comprador. Para se ter uma ideia deste mercado indepentende, o Clube de Autores possui hoje quase sete mil obras disponíveis, de autores de várias partes do país, com temáticas que passam por poesia, artes, ficção, culinária, idiomas, religião e outras especialidades, incluindo até Trabalhos de Conclusão de Curso.

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Histórias Narrativas

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No mar sê marinheiro…

Saí para a vida como um marinheiro sai para o mar… valente e pronta a enfrentar as tempestades. No início, tinha a timidez de um marujo inexperiente: não sabia atar nós que fixassem sentimentos nem lançar a âncora em portos seguros. Ainda assim não desisti da aventura, estava apostada em encontrar o tesouro com que tanto almejava desde os primeiros suspiros utópicos. Pelos mares dos meus dias enfrentei Adamastores, dobrei mil cabos fantasmagóricos e venci os piratas que pretendiam roubar, por inveja e malvadez, o meu mapa do tesouro. Queimei a pele, senti sede, cheirei a sal… mas a vida é isso mesmo – conquistar marcas que datem a nossa história. Lembro com especial atenção o dia em que esbarrei numa ilha sem nome, desconhecida e despovoada. Lá pude descansar as minhas tormentas, enterrar as minhas frustrações e afogar os desalentos. Nessa ilha construí o meu espaço – o meu lar tornou-se, então, uma estrutura de madeira que, à primeira vista, pode parecer frágil (queimar com o fogo ou voar com o vento), mas que, para lá das aparências, é o local mais resistente, porque foi construído em bases sólidas. Esta ilha da minha vida não esmorece no pensamento, não é engolida pelo mar ou devastada por um vulcão – ela resiste no

No mar sê marinheiro

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8 tempo. Alturas há em que parto para o mar em busca do meu tesouro, olhando ao longe a minha ilha, despedindo-me lentamente com a feliz sensação de que, em breve, regressarei mais rica. Pela rota marítima vou encontrando novos mundos, experimentando novas emoções e conhecendo outras gentes. Vou colocando na sacola cada pedaço de ouro que me conduz ao meu tesouro, assim, vou enchendo a algibeira de pequenos fragmentos doirados para gastar à medida da minha viagem. Gastar mais do que se tem é perder a dignidade – foi esta a lição de um marinheiro mestre que me mostrou que nunca precisamos mais do que o pão para comer, tudo o resto são vaidades imaturas de um corpo desejoso de ornamentos fúteis que mais não são do que enfeites que desviam a atenção do nosso verdadeiro Ser. Sempre que embarco de novo, sinto já a saudade do que vi… guardo na memória a projecção de histórias que engrandecem o meu saco de viagem. Chego uma vez mais à minha ilha com a certeza de que em breve partirei. Quero encontrar o meu tesouro – uma colecção de pedaços de ouro valiosos que a pouco e pouco vou descobrindo – esses fragmentos doirados são momentos de sorrisos, lágrimas, sentimentos que se revelam o maior tesouro que a vida nos pode oferecer… a Felicidade… e eu estou apostada em ser um marujo feliz! Liliana Machado

No mar sê marinheiro

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Um corpo com história

Se conseguir este trabalho, a minha vida vai finalmente ter uma hipótese de acabar bem. Poderei arranjar algum dinheiro para fazer algo mais do que dormir e pagar uma casinha. Tenho duas mulheres a rodear-me, olhando para a minha pele com olhos intensos. Estão a avaliar-me, à procura de algo que eu tenho, ou não… simplesmente a comer com os olhos cada pequena parte de mim, vendo os meus traços, as minhas cores e formas, com toda a atenção. Sou o seu novo brinquedo, uma nova aquisição à sua casa de bonecas, e terão de se certificar que a nova iguaria é algo que vale a pena usar no negócio que gerem. Eu sei isto tudo, mas honestamente, não me sinto mal. Como a minha pele podia contar, se falasse, o meu corpo já não se preocupava em sentir-se constrangido com os olhos de outros. Já não se arrepiava com olhares gulosos, ou sons excitados de forasteiros. Sabia que existia muito pior. Pesadelos muito mais desesperantes. Ali, ninguém faria muito mais do que tocar ligeiramente no braço, ou roçar os dedos na pele enquanto colocava o dinheiro na minha roupa. E se tentasse, existiam boas hipóteses de não conseguirem o seu intento, pois não era essa a fantasia que aquele estabelecimento em particular criava.

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10 Nós criávamos fantasias, mas não as concretizávamos, pelo menos eram essas as palavras regulares da patroa. Ela estava ali, e a outra era uma médica, contratada para cuidar de nós. Só de nós e de mais ninguém, embora, de acordo com o que eu pude ouvir, o resto do mundo não soubesse disso. Para o mundo fora desta perversa casa de bonecas, ela está desempregada, algo que é comum, diz ela, a mulheres da sua idade. Torci um pouco o nariz, quando a ouvi comentar isso. Ela não é assim tão velha, tem quarenta anos. A patroa é muito mais velha, embora tente escondêlo com mil e uma tintas e produtos de maquilhagem e roupa. Ambas muito mais velhas que eu, que não passo de uma rapariga, com o corpo cansado. A avaliação com os olhos terminou, e agora começam a tocar-me na pele. A delas é pálida, comparada com a minha. - Podes abrir a boca querida? – Pergunta a médica, com uma voz doce e um sorriso simpático. Tinham-me dito isso, em histórias que ouvia no meu antigo trabalho. Que os portugueses eram sempre muito simpáticos e calorosos. Ela examina os meus lábios, os meus dentes e a minha língua, procurando qualquer particularidade, e repara no meu molar partido. – Oh! Tens um molar em mau estado. – A patroa inclina-se para a frente, tentando ver por cima do ombro da médica, com o sobrolho ligeiramente franzido. Tenta ver se é muito

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11 visível, ou se passa despercebido para a maioria dos clientes, que são desatentos. Ah, sim, esse molar, partira-o há tanto tempo que já nem me lembrava que ele não devia ser assim. Faltava-lhe metade da parte de cima, que se separara do resto do dente quando o meu pai me atirara com a primeira pedra, depois de me apanhar a espiá-lo com a namorada. Lembro-me de ele ter segurado o pano que tinha o meu sangue na mão, e de ter ameaçado que se espalhasse a notícia pela comunidade, ou se contasse à mãe, ele me partia o resto dos dentes. - Um pouco de massa e isto deixará de ser problema. Posso oferecer-ta – disse a patroa, sorrindo para mim – como presente de boas-vindas ao nosso país. Tendo

aquele

pormenor

do

meu

corpo

resolvido,

continuaram a inspecção, procurando mais falhas que poderiam tornar-se um contratempo para o sucesso da minha participação, e examinam o meu corpo até chegar aos meus seios, medindo-o com os dedos. Eu cumprira o pedido da patroa, e usava uma roupa que lhes permitia ver o mais possível, sem se tornar indiscreto. - Tens uma cicatriz aqui a querer aparecer ao cantinho – disse a médica – ligeiramente, aqui – apontou com o dedo para a patroa poder ver. De novo, era quase invisível, só se olhássemos com

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12 atenção. Mas conseguia perceber a preocupação. Haveria clientes que olhariam com atenção, não era assim? – Como fizeste isto? Como fizera isso? Com o erro da imprudência. Achava que fumar era sexy, ou melhor, que era o hábito perfeito. Ouvia tantas vezes, as pessoas à minha volta, as minhas amigas e tias, contar como fumar ajudava no controlo do peso, como acalmava o stress, que nos dava um ar mais adulto passado muito pouco tempo… e aquela sensualidade, desejo, que a imagem de uma mulher jovem a fumar suscitava… era lindo, e queria-o para mim. Comecei a fumar, cada vez, cada vez mais, ignorando que a minha família tinha um historial bastante significativo de doenças relacionadas com o sistema respiratório. A minha sorte foi que o cancro foi diagnosticado cedo, e a salvação foi uma “limpeza a frio” do vício, e uma cirurgia para retirar a doença de dentro de mim. - Uma cirurgia, há quatro anos atrás. – Respondo eu, com a minha voz fina, de boneca. - Um pouco de maquilhagem cobre isso, e com as nossas luzes nada se deve notar – disse a patroa. – Agora… piercings e tatuagens? - Tenho uma, na omoplata direita – indiquei, levantando o braço e roçando com a ponta dos dedos a figura pintada nas minhas

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13 costas, que o meu casaco fino e semi-transparente conseguia tapar. O desenho de um kanji, que significava “mãe”. Era um quadrado dividido em dois rectângulos mais pequenos, com pequenas curvas à volta da letra, indicando o fim do suposto deslize do pincel. Fora um bom trabalho. Quando a fizera, tivera medo que não ficasse nada de especial, mas ficou óptimo no final. Fora fazê-la quando a minha mãe morreu, pouco tempo depois de terminar a escola. Não sabia se iria trabalhar ou simplesmente ficar em casa, até termos dinheiro para me voltar a colocar num estabelecimento de ensino, mas quando ela morreu, essa pequena esperança, já de si muito vaga, tornou-se vã. Então, resolvi juntar todos os meus trocos e poupanças e fazer aquela tatuagem, num salão da capital, conhecido por ser de qualidade e de não ter, quase nunca, “acidentes” com os materiais. Representava o amor que eu tinha pela minha mãe, e o futuro que morrera com ela. A patroa fez um trejeito com os lábios, mas fez que sim com a cabeça – até tem bom aspecto, e ninguém, a não ser que saiba ler japonês, saberá o que significa… dá-te mistério! - Então – disse eu, esperançosa – não terei de a ir tirar? - Não, podes ficar com ela.

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14 Respirei de alívio. Porque não queria livrar-me dela. Era um símbolo para mim. - Afasta um pouco as pernas – disse a médica, depois de avaliar o meu abdómen, sem encontrar nada de invulgar. Obedeci, afastando-as à largura das ancas, para que ela as pudesse avaliar sem ter de pedir de novo. Como a patroa pedira, levara shorts de ganga, fáceis de levantar. Ela tocou nas coxas, nas ancas e nas nádegas com ligeira força, beliscando aqui e ali, e não encontrando nada de muito significativo, avançou para baixo. - Tens aqui outra cicatriz, e esta é um pouco maior que a do peito. Aqui, na barriga da perna esquerda. – A patroa olhou – onde a fizeste? Olhei para a marca que ela estava a indicar. Ah… essa marca… - Rasguei a pele, a saltar uma cerca, o ano passado. – Fora um assalto que correra um pouco mal. Não contara que o morador tivesse um pastor alemão numa casa tão pequena. Conseguira guardar o portátil e os porta moedas na minha mochila, mas não contara com o guarda canino do outro lado da divisão, que com a presença do humano estranho e com más intenções atacara em força. Lembro-me de me sentir desapontada, pois considerava-me uma pessoa boa, e acreditara no discurso da minha avó, quando ela

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15 me explicara que os animais são capazes de sentir e distinguir os bons dos maus, atacando apenas os maus. Saltara para o terraço vizinho com tanta pressa, para escapar àquela bocarra enorme, que rasguei a perna no candeeiro de rua que este tinha, e só repara nisso quando já estava no meu sítio, quase do outro lado da cidade. Mas nem tudo fora mau. Conseguira comprar comida nesse dia, e conseguira arranjar material para efectuar uma cura improvisada, no dia seguinte. Mas infectara e fizera uma cicatriz, que agora via, podia constituir um problema para ser admitida naquele estabelecimento em particular. Mas a patroa, uma mulher prática, simplesmente suspirou longamente e disse – terá de usar meias. Os meus olhos devem ter ficado brilhantes de esperança – então… estou contratada. Ela sorriu – bem-vinda ao “palácio”, o melhor clube da cidade. – Estendeu-me a mão – vem, vou apresentar-te às tuas irmãs. A partir de agora, és um membro da nossa família.

Diana Tavares

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Rugas

Em cada uma das rugas encontro a vida, os traços que me fizeram. Nasci sem eles, mas vincaram-se. E bem no canto dos olhos, na pele encorrilhada, é a ti que vejo, meu filho. Sabes, são as marcas do meu sorriso por te ter. Rasgam-se, sem parar, porque te amo. São as rugas que nascem dos abraços e de escutar as palavras que ensaias. As rugas crescem quando me fitas e tocas por dentro, com ternura. Alimentam-se. Quero soltar-te, o mais que posso, mas sossega. Eu não te largo. Ensinei-te a nadar, equilibrei-te nos pedais e caminhamos os dois. O passo é curto mas há tanto, ainda, para nos aprendermos. Basta que confies, como há onze anos, quando me olhavas entre os dedos. Cabias-me na mão, sabias? Hoje preenches-me a alma. Começo a ficar gasto. A linha da vida já vai longa, mas estas mãos ainda te afagam e protegem. Vivo-te nas minhas rugas. Intensamente. Que sejam muitas, porque te quero. Gostava de morrer velhinho e ser só rugas. As tuas. As nossas. Trilhadas em mim. Pedro Mesquita

Rugas

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Histórias Poéticas

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Nós abaixo assinados declaramos I Que se tu fores um planeta É para lá que queremos emigrar, Iremos todos armados de paus e picaretas Para a tua química aplicar.

A tua nave especial Sabemos que estás a ataviar, Ornando-a de matéria essencial Para o teu futuro glorificar.

Nós queremos ser as tuas cobaias, Matéria amiga para analisar. De ascendentes a colaterais No teu tubo de ensaio todos queremos entrar.

Na tua nave não recolhas só as novas gerações Ciosas de conhecimento e audácia, Pois querem acompanhar-te também os anciões Para testemunhar a tua eficácia. Ana Maria Teixeira Nós abaixo assinados declaramos I

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Nós abaixo assinados declaramos II Que se tu construíres uma nova arca de Noé É para lá que nós vamos viver Levaremos todos os livros, todas as gramáticas Para dos novos legisladores os proteger.

Embarcará primeiro e pelo seu próprio pé Quem bem português falar Pois terá como missão diplomática De todos os outros ensinar!

Tal como o profeta, também precisas ter fé Pois é um difícil projecto, Que não é ensinar matemática Mas sim português correcto!

Depois do dilúvio, encontrarás novas marés. O português a salvo dos seus inimigos, vingará! Novos conhecimentos, colocarás em pratica, A língua Portuguesa, vencerá! Ana Maria Teixeira

Nós abaixo assinados declaramos II

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Poema O terror regressa. Esteve sempre lá do outro lado da cortina à espera de atacar.

Lágrimas soltas como se de gritos se tratassem. O tão familiar sabor a choro entranhado na garganta.

E depois, a ausência de ar.

A ânsia de querer respirar e não conseguir. A ânsia de dormir e ter apenas o som de um cérebro fervilhante, como resposta.

Eu gostaria de escrever poesia mais alegre – e escrevo!

Poema

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20 Mas, por vezes, dou ouvidos à pequena besta que reside dentro de mim.

É como um parasita que não me larga enquanto não estiver nas luzes da ribalta.

Ou talvez não seja uma besta. Talvez até seja a luz.

Seja o que for, não deve ter dado conta que, mais uma vez, as palavras salvaram-me a vida.

Ana Catarina Zhang

Poema

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Um Só com a Natureza

Deste-me vida e amor Enquanto criança me amaste Quando cresci me negligenciaste E só me deste motivos de dor

À medida que cresci quis acreditar Que um dia estarias aqui para me pegar Não te minto quando digo que não te sinto Soas-me um ser incógnito e isso eu não te omito

Como posso eu alguma vez dar "amor"? Quando tu me tocas e só me retribuis com dor? Lutei, acreditei que um dia irias reconhecer o meu valor Desisti então, a tua alma não tem salvação Em mim só me provocas o tenebroso terror Já não procuro mais pela tua validação

Olho para ti com imensa tristeza

Um só com a Natureza

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Consegues ver a minha desistência? Não! Continua! Não mostres nenhum tipo de clemência Entrego a minha alma à Mãe Natureza

Suga-me o último fluxo de energia Converte meu corpo em meras cinzas Só espalhas o terror em mim Aprisionada nesta muralha sem fim

Liberta-me!

Quero ser um só com a Natureza

Sufoca-me!

Se é o melhor que sabes fazer porque não me deixas viver?

Vou cerrar os olhos novamente Selar os pensamentos na minha mente E abrir o meu espírito para ir a teu encontro

Um só com a Natureza

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Quero ouvir a água da cascata a cair Tão livremente corre sem nada a obstruir Cheirar o aroma verdejante das plantas Ouvir o "som" da "vida" de cada Ser Vivo

E por fim.

Quero libertar-me e sentir apenas esta sensação tão natural O coração não pode ficar tão afeito ao mal!

Lena Amurita

Um só com a Natureza

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Críticas ou Sátiras

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Soluções de Desemprego É certo que hoje em dia o que vemos todos os dias destacado nos jornais é o assunto da crise. Os preços a aumentarem os ordenados a congelarem e pessoas a serem despedidas. Consigo compreender as medidas apesar de não me agradarem como é óbvio. Mas como as pessoas conseguem trabalho com empresas a fechar e a diminuir os seus custos? Parece-me um pouco difícil, senão impossível. O que me preocupa mais são as pessoas com uma idade mais avançada com mais de 45 anos que são despedidas da empresa que sempre trabalharam, para entrar no mercado de trabalho quase impossível para jovens, quanto mais para pessoas com mais idade. Apesar da proposta de trabalho comunitário para desempregados ser apelativo, é muito mais apelativo para jovens e para pessoas que se adaptam a qualquer trabalho do que algumas pessoas de meia-idade. Será que se adapta para estas pessoas? Para mim, são essas pessoas que são as ideais para criarem novas empresas, isso sim, é necessário em Portugal. Novas empresas, porque senão houver empresas onde há trabalho? Onde há rendimento?

Soluções de Desemprego

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25 Mas considero que para começar uma empresa é ridículo pedirem 5000 euros de capital social ou seja, de entrada. Por vezes para ter um negócio próprio não é necessário tanto dinheiro e assim promove-se as pessoas a pedirem créditos. Se pedirem ajuda ao Centro de Emprego é isso que sugerem, aliás, até ajudam a pedir créditos. Agora eu pergunto, é de crédito ou empréstimos que precisamos? Eu acho que de dívidas todos os portugueses estão cheios, nem que seja das dívidas do Estado. Os nossos governantes deveriam ser mais criativos a prestar ajuda aos novos empresários. Sofia Rosa

Soluções de Desemprego

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Regras para Trabalhos Enviados

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- A Escrita Criativa não se responsabiliza pelo conteúdo que é publicado a responsabilidade é única e exclusivamente dos seus autores. - A Escrita Criativa publica os trabalhos dos autores tendo como o limite a capacidade da revista, caso haja demasiados trabalhos enviados alguns poderão não ser publicados ou poderão ser publicados no número seguinte. - O limite de tamanho dos trabalhos recebidos é de vinte páginas A5 com letra a tamanho 11, se os trabalhos não respeitarem estas indicações poderão não ser aceites. - A Escrita Criativa não aceita trabalhos com conteúdo sexual explícito. - Por norma só será publicado um trabalho por pessoa em cada número, podendo haver excepções por falta de trabalhos. - A Escrita Criativa não corrige erros ortográficos nem faz alterações às obras enviadas, se for enviado algum trabalho com erros ortográficos poderá ser enviado de volta para correcção ou não ser aceite. - A Escrita Criativa só aceita trabalhos escritos em português.

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- Trabalhos com expressões noutras línguas deverão ter uma nota no fim a dizer o seu significado, caso isto não aconteça poderão não ser aceites. - Trabalhos com direitos de autor registados na Sociedade Portuguesa de Autores deverão informar a SPA antes de enviar os seus textos para a Revista Escrita Criativa. A Revista Escrita Criativa publica somente textos autorizados pelos autores.

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