"Quem é Quem?" na Junta Central - Pe. Luís Marinho

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Entrevista Pe. Luís Marinho, assistente nacional do CNE

«O acompanhamento de pessoas e processos é parte essencial da minha missão.»

Luís Marinho, assistente nacional do CNE, faz o primeiro balanço desta sua missão, onde foi necessário aprender quase tudo, mas onde realça a imensa gratidão por tudo o que lhe tem sido dado a viver. Após a sua recondução no cargo, falou-nos nos momentos mais marcantes, do CNE que temos hoje e de projetos para o futuro. Susana Micaela Santos | Chefe de redação smicaela@escutismo.pt Fotos: Gonçalo Vieira, Bruna Coelho e Susana Micaela Santos

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Que balanço faz destes últimos anos como assistente nacional do CNE? Já passaram quase quatro anos desde que iniciei esta missão! Foi necessário aprender quase tudo, tanto do ponto de vista do funcionamento interno da associação como um novo ritmo de vida pessoal, mas sobretudo o modo como exercer o ministério presbiteral junto desta realidade eclesial que é o CNE. O balanço é, antes de tudo, de imensa gratidão por tudo o que me tem sido dado viver, pelas pessoas que tenho encontrado, com quem tenho partilhado a graça da vida e da fé em Jesus Cristo, e pelos processos em que me tenho envolvido. São já três as equipas da Junta Central em que participei e reconheço como a minha missão é apenas um elo de uma cadeia, uma parte de uma história maior. Do trabalho desenvolvido até agora que aspetos, momentos, gostaria de realçar que o marcaram? Quando cheguei a esta missão, estava a começar a implementação do novo sistema de formação de adultos. Uma das primeiras coisas que me foi pedida foi a concreti-

zação da dimensão da “maturidade cristã”. Com os assistentes regionais propusemos um enquadramento deste tema que me parece simultaneamente desafiador e atento à realidade de cada candidato a Dirigente, reconhecendo como a vida cristã é um caminho, um processo longo, e um convite incisivo a “levantar-se”, a tomar decisões que comprometem a inteireza da pessoa. Penso que a qualidade do Escutismo que o CNE propõe passa em muito por esta etapa da escolha e formação dos seus Dirigentes. E tenho verificado como este desafio é levado muito a sério em todas as regiões. De tal modo que suscita bastantes questões, levanta dúvidas a requerer discernimento atento. Vejo isso como muito positivo. Noutro campo, tem sido muito interessante a descoberta da dimensão internacional do CNE, tanto a participação no Jamboree do Japão como fóruns internacionais da Conferência Internacional do Escutismo Católico (CICE) e da Organização Mundial do Movimento Escutista (OMMS). Nestes contextos, o CNE tem uma presença muito ativa nas organizações e no debate das grandes questões que atravessam o Escutismo ao nível mundial.

«O balanço é, antes de tudo, de imensa gratidão por tudo o que me tem sido dado viver, pelas pessoas que tenho encontrado com quem tenho partilhado a graça da vida e da fé em Jesus Cristo e pelos processos em que me tenho envolvido.»

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Até ao momento atual qual foi o maior desafio que enfrentou? Do ponto de vista organizativo foi a conceção e preparação da peregrinação a Fátima em outubro passado, acompanhando muito de perto o trabalho de uma equipa liderada pelo Pedro Ascenso. E tenho muito orgulho no trabalho realizado, não só pelo acontecimento em si, mas sobretudo pelas sementes de futuro que deixamos tanto na associação enquanto movimento eclesial como em cada pessoa que nela participou. Como já alguma vez referi, o rosto de tantos escuteiros iluminados pela luz das velas na noite do dia 9 de outubro é uma imagem muito bela do que pode ser uma vida inteira iluminada pela pessoa de Jesus Cristo, que me faz recordar uma frase do Papa Bento XVI: «Cristo nada tira do que a vida tem de grande e belo.» Um outro desafio, menos visível, é a prá-


Na sua opinião, o que mudou nestes últimos quatro anos ao serviço do CNE? Visivelmente, mudaram lideranças, quer ao nível nacional, quer em grande parte das regiões. Pusemo-nos de acordo em rever os textos normativos que regem as associações. Identificaram-se lacunas na implementação do novo Programa Educativo. Pôs-se em prática o novo Sistema de Formação de Adultos. Estas são algumas das mudanças mais visíveis. Contudo, vejo uma grande continuidade e firmeza na identidade da associação, o que permite abordar as mudanças em curso com serenidade. Penso que quando a família está unida e em paz pode falar abertamente, sem medo, do que é preciso mudar. O Papa Francisco diz muitas vezes que, mais do que ocupar os espaços, a Igreja é chamada a acompanhar os processos. E isso eu também reconheço no CNE. Mesmo com sadias mudanças de protagonistas, próprias de uma associação com a maturidade democrática e eclesial do CNE, vejo muitas pessoas verdadeiramente apaixonadas pelo Escutismo que não se cansam de procurar caminhos que melhor correspondam ao tica concreta do discernimento em situações difíceis, em caminhos a percorrer em equipa, em rumos a propor a todo o CNE. O acompanhamento de pessoas e processos é parte essencial da minha missão. Como recebeu a notícia da sua continuidade como assistente nacional do maior movimento juvenil do país? Com muita naturalidade! Três anos é, de facto, muito pouco tempo para desenvolver um trabalho desta natureza. Felizmente, o meu bispo – D. Jorge Ortiga – manifestou abertura para eu continuar por mais um mandato, e assim foi possível conjugar a vontade da Junta Central do CNE e da Conferência Episcopal Portuguesa, que me confirmou nesta missão. Mas aumentou a responsabilidade. Porque agora o meu trabalho pode ser mais incisivo, uma vez que já conheço melhor o CNE e os desafios que enfrenta.

«Penso que a qualidade do Escutismo que o CNE propõe passa em muito por esta etapa da escolha e formação dos seus Dirigentes.» julho 2017 | 17


«[...] vejo muitas pessoas verdadeiramente apaixonadas pelo Escutismo que não se cansam de procurar caminhos que melhor correspondam ao tempo que vivemos e à exigência de melhor servirmos as crianças e jovens que nos são confiados.»

tempo que vivemos e à exigência de melhor servirmos as crianças e jovens que nos são confiados. A Área do Desenvolvimento Espiritual continua a ser a que identificam como a mais difícil de trabalhar junto dos jovens. Na sua opinião, deve-se a quê e que trabalho há ainda a fazer e implementar? Mas quem não tem alguma dificuldade – talvez medo – de aventurar-se num caminho desconhecido ou pouco frequentado? Quem não sabe muito de construções ou de socorrismo, facilmente pode aprender e praticar; depois ensina aos outros. Na área do Desenvolvimento Espiritual, também se pode aprender, mas acima de tudo, partilha-se uma experiência vivida. Não tanto uma técnica, mas o modo como 18 | Flordelis

cada um vive aquelas questões perante as quais a vida humana se decide: Qual o sentido da minha vida? Que esperança me faz viver cada dia? Reconheço que o Deus mostrado por Jesus Cristo é alguém em quem posso confiar-me? A comunidade dos que se dizem cristãos é também a minha casa e a minha família? O Evangelho continua a ser “boa notícia” e fonte de alegria? Vale a pena rezar? É provável que muitos Dirigentes experimentem, como todos os crentes, alguma hesitação na hora de se exporem, de modo tão pessoal, nesta dimensão. Embora não se tratando de uma técnica que se possa aprender, é necessário encontrar espaços e pessoas onde estas questões possam ser abordadas explicitamente. E aprofundadas, procurando para o hoje de cada história aquelas respostas que alguns ima-

ginaram definitivamente “arrumadas” nos revolvidos tempos de iniciação à fé e práticas religiosas. Para além de tantas iniciativas desenvolvidas localmente, a proposta que voltaremos a fazer ainda este ano “4x4 Para uma fé todo o terreno” é um desses lugares de aprofundamento. Partindo da experiência pessoal de fé de cada Dirigente e da comunidade onde estão inseridos, pode-se e deve-se aprender conteúdos e técnicas que ajudem a melhor trabalhar esta dimensão. O tema do próximo Sínodo dos Bispos, a realizar em outubro de 2018, sob o tema «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional». Considera que a temática tem a ver com a preocupação de aproximar mais os jovens da Igreja? Ouvir os jovens e ouvir a Igreja é a preocupação do Papa Francisco ao propor este sínodo, não centrando esta escuta apenas na dimensão da fé, mas igualmente em tudo aquilo que é a vida: escolhas profissionais e de estado de vida, relação com os coetâneos e educadores, utilização de redes sociais, etc… E tudo isto para melhor vermos os desafios que se colocam aos jovens, crentes ou não. A ideia não é, portanto, trazer mais jovens para a Igreja, mas perceber como pode a Igreja acompanhar jovens na sua vida, nas suas escolhas, com toda a riqueza espiritual e humana de que somos herdeiros. É igualmente um importante questionamento interno à vida da Igreja para avaliarmos até que ponto as propostas de vida e acompanhamento de jovens mantêm a sua pertinência e respondem aos desafios atuais. De que forma o CNE, nomeadamente a área da assistência, pensa em trabalhar este documento? Neste Sínodo, por jovens entende-se aqueles que têm entre 16 e 29 anos. Diz respeito, portanto, a muitos dos Pioneiros e Marinheiros, todos os Caminheiros e Companheiros e muitíssimos dos nossos candidatos a Dirigentes e Dirigentes. Nes-


ta fase de auscultação, convidamos todos a participarem nas dinâmicas criadas em cada diocese para responder ao questionário, cuja síntese será feita, ao nível de Portugal, por um grupo de trabalho da Conferência Episcopal Portuguesa, onde também estou integrado. Por outro lado, está disponível um questionário online específico (também em língua portuguesa) que cada jovem pode responder diretamente: http:// youth.synod2018.va/content/synod2018/ it.html. Queremos divulgar ativamente este modo de participação. O Sínodo dos Bispos terá ainda outras etapas. Depois do mês de outubro deste ano, na Santa Sé, farão um resumo de todos os contributos, o que há de constituir o Documento de trabalho (Instrumentum laboris). Será a partir deste texto que bispos de todo o mundo (e certamente também jovens) irão discutir na Assembleia do Sínodo, em outubro de 2018. Posteriormente, o Santo Padre publicará uma Exortação Apostólica que será o culminar de todo o processo.

Onde encontrar informações sobre o Sínodo 2018 http://youth.synod2018.va - este é o site onde podes encontrar toda a informação sobre a XV Assembleia-Geral Ordinária sobre o tema «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional» http://youth.synod2018.va/content/synod2018/it.html - está disponível um questionário (também em português), para cada jovem (entre os 16 e 29 anos) responder diretamente, dando a oportunidade de cada jovem ser ouvido e poder expressar-se. http://w2.vatican.va - no site da Santa Sé está reunida toda a informação no espaço Sínodo dos Bispos.

«[...] numa relação muito próxima com todos os assistentes regionais, que a missão do assistente nacional se concretiza.»

Queremos, por isso, dar amplo destaque ao caminho sinodal, como movimento eclesial que somos. Projetos para o futuro... Um futuro já muito imediato será a realização do Acanac, onde a assistência está envolvida ativamente na sua preparação há mais de um ano. Será a grande festa do Escutismo português que, estou certo, deixará muitas memórias felizes para toda a associação. Para o atual mandato da Junta Central, o desenvolvimento de um programa na área da espiritualidade para o Centro Nacional Escutista de Fátima (CNEF) e outros centros escutistas, a dinamização dos modelos propostos para cada ano escutista são os aspetos que cuidarei mais de perto. Sou membro da Junta Central e constituímos uma equipa, uma pequena comunidade de Igreja, partilhando um pouco das nossas vidas e acompanhando os eixos de desenvolvimento aprovados no Plano Trienal. É neste sentido, e numa relação muito próxima com todos os assistentes regionais, que a missão do assistente nacional se concretiza. julho 2017 | 19


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