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Entrevista Sandra Martins, secretária nacional do Planeamento
Dar apoio na monitorização e execução dos planos e relatórios quer nacionais, quer regionais é a prioridade
Sandra Martins define-se como uma sonhadora que trabalha na concretização dos seus sonhos. Adora desafios que a façam ir mais além e em prol de uma sociedade mais justa e equitativa. O desafio que lhe lançaram foi assumir a Secretaria Nacional do Planeamento, que considera ser a sua "cara". Vamos conhecer melhor a Sandra Martins e todo o trabalho que pretende desenvolver. Susana Micaela Santos | Chefe de redação smicaela@escutismo.pt Fotos: João Matos, Manuel Joaquim e Sandra Martins
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Quem é a Sandra Martins? Tenho 36 anos e nasci e vivo na ilha Terceira, nos Açores. Adoro desafios que me façam ir mais além, e as causas em prol de uma sociedade mais justa e equitativa fascinam-me. Sou muito fiel a mim própria e aos valores e causas em que acredito e defendo. No fundo, sou uma sonhadora, e trabalho na concretização dos meus sonhos, marcando uma diferença nos círculos onde vivo. Aos 19 anos parti em missão para Moçambique, onde colaborei na construção do primeiro centro de reabilitação psicossocial para crianças e jovens com deficiência, em Maputo. A partir desse momento descobri a minha paixão pela área da deficiência e da inclusão da pessoa com deficiência. Formei-me em Psicologia e trabalho numa unidade orgânica do sistema educativo. Desde junho de 2015 que estou requisitada na Direção Regional da Educação, da Região Autónoma dos Açores, onde lido com as questões da Educação Especial, que vão desde a formação de profissionais à reestruturação das respostas educativas. Tenho o hábito de dizer que sou uma técnica de terreno e gosto muito de trabalhar em articulação com os diferentes profissionais, pois acredito que é em rede e através da partilha de áreas de saberes e conhecimentos que promovemos uma mudança capaz de suprimir dificuldades e disfuncionalidades. Acredito que o macrossistema só funciona quando tem a capacidade de compreender e sentir o microssistema, e é neste sentido que tenho desenvolvido o meu trabalho ao nível profissional. Num nível mais pessoal, venho de uma família grande e que me proporcionou uma infância muito feliz. São um pilar fundamental da minha vida e estão sempre lá para me apoiar. Gosto muito de ler, de caminhar, de estar entre amigos, de viver nos Açores; adoro viajar e conhecer novas culturas, novas formas de viver e sentir a vida. Desafio mais recente: pertencer a um grupo que fundou a DAR – Dreams Are Real, uma organização não-governamental (ONG) que tem como fim contribuir para o
acesso à educação e formação de crianças e jovens através da arte e de atividades socioculturais, a nível nacional e internacional, recorrendo à cooperação com entidades locais. Fala-nos um pouco sobre o teu percurso escutista. O meu percurso nos escuteiros começou quando tinha dez anos e estava no 5.º ano. Como não tinha frequentado a escola primária da minha freguesia, mas estava na catequese, sentia-me um pouco desenquadrada do meu grupo de pares naquela paróquia. Não me lembro ao certo quem sugeriu, mas o facto é que houve a possibilidade de entrar para o Agr. 466 – Posto Santo em janeiro de 1992, um ano após a reativação do mesmo. Fui Exploradora, Pioneira, Caminheira e Dirigente, sempre no mesmo agrupamento. Participei em Jamborees açorianos, em atividades de núcleo, como cursos de guias, e em muitas atividades de agrupamento, que recordo com uma enorme satisfação, pois
foram tempos muito bem vividos em patrulha, em secção. Entre 2003 e 2006, como Caminheira, colaborei muito ativamente com o Departamento Regional da IV Secção, o que permitiu conhecer muito bem a minha região e a realidade regional da IV. Nesse período, pela primeira vez, os Caminheiros começam a conhecer-se entre as diferentes ilhas e a construírem laços que perduram até hoje. Foram três anos de atividades, reuniões, grupos de trabalho com um impacto muito positivo. Dessa altura destaco a equipa regional que integrava, composta por sete Caminheiros de diferentes agrupamentos da ilha Terceira, e o chefe, que era um verdadeiro líder, que sempre potenciou as nossas capacidades, mesmo quando nós achávamos que não éramos capazes. É nesta altura que começo a lidar com as questões mais operacionais na organização de atividades escutistas. Mais tarde, entre 2011 e até 2016, integro a equipa regional por dois triénios. Primei-
«Planeamento era a minha cara, e sendo eu uma mulher de causas com as quais me identifico, sobrava pouca margem para recusar.» setembro 2017 | 11
ro como secretária regional para a Participação e Cidadania e, no último mandato, como secretária regional Recursos Humanos e Projeto Educativo, acumulando com o cargo de secretária da Associação Alerta. No meu agrupamento, sou Dirigente desde 2010, onde assumi o cargo de secretária de agrupamento e chefe de expedição. Por motivos profissionais, em setembro de 2015 deixei a expedição. Como surgiu este desafio para assumires a Secretaria Nacional do Planeamento? Este desafio foi uma grande surpresa e numa altura em que estava a regressar de oito meses de trabalho consecutivo pelas nove ilhas dos Açores. Tinha acabado de regressar de uma semana intensiva de trabalho no concelho da Ribeira Grande, em São Miguel, e tinha comentado com familiares e amigos que agora necessitava de uma pausa grande de viagens, que precisava de uns meses mais tranquilos e sem grandes agitações. Confesso que quando o Ivo me ligou nem processei bem a informação, nem o motivo pelo qual ele queria falar comigo. Também nunca tinha ouvido falar dele, embora, no passado, tenhamos participado em reuniões comuns. Marcamos um chá das 5, num sítio agradável, e o convite surgiu. Identifiquei-me com o projeto e com a área que ele tinha para mim. Planeamento era a minha cara, e sendo eu uma mulher de causas com as quais me identifico, sobrava pouca margem para recusar. Além disso, e tal como referi acima, acredito mesmo que o macrossistema só funciona quando tem a capacidade de compreender e sentir o microssistema, e, no fundo, é esse o projeto do Ivo, que se transformou na missão de uma equipa. Gostaria que descrevesses um pouco a tua área de trabalho e como está organizada. A Secretaria Nacional para o Planeamento tem como principal finalidade dar o apoio necessário na monitorização e execução dos planos e relatórios quer nacionais, 12 | Flordelis
«A grande prioridade é, sem dúvida, garantir que no final do mandato alcançamos os objetivos inicialmente definidos.»
quer regionais. Neste sentido, ela assenta em três grandes áreas: Dinâmica Interna, Envolvimento das Regiões e Inclusão e Diversidade. Esta última área acabou por integrar a minha secretaria, atendendo um pouco à minha formação académica e domínio profissional. Na área da Dinâmica Interna, o foco é colocado no Plano Trienal, onde se pretende, de uma forma geral, assegurar a conceção, execução e avaliação do plano trienal da Junta Central, e respetivos planos anuais, assim como monitorizar a ação das secretarias nacionais, e na Equipa Nacional, promovendo a articulação entre as diferentes secretarias nacionais e os respetivos planos anuais de atividades Na área do Envolvimento das Regiões pretende-se, sobretudo, promover uma cultura de proximidade entre a Junta Central e as juntas regionais com vista ao levantamento de necessidades e à resolução de problemas, e acompanhar os planos e
relatórios anuais das regiões, procurando identificar oportunidades de criação de sinergias, partilhas de boas práticas e colaboração entre os Serviços Centrais, a Junta Central e as juntas regionais. Para a área da Inclusão e Diversidade, definiu-se como prioridade no mandato a reflexão e definição de procedimentos no âmbito da inclusão de crianças e jovens com necessidades especiais e a criação de ferramentas pedagógicas de apoio aos Dirigentes, em articulação com a Secretaria Nacional Pedagógica e a Secretaria Nacional dos Adultos. Como orgânica da secretaria, estão definidas duas equipas, uma mais direcionada para o planeamento e suporte, quer ao nível nacional quer regional, e a outra focada nas questões da inclusão e diversidade no movimento.
Quais as grandes prioridades da tua secretaria para este mandato? A grande prioridade é, sem dúvida, garantir que no final do mandato alcançamos os objetivos inicialmente definidos. Se eventualmente, por algum motivo, isso não acontecer, quero muito que se perceba o porquê, assim como qual ou quais as redefinições que são necessárias para que o movimento tenha um plano ajustado e exequível às suas necessidades. É muito gratificante quando alcançamos um objetivo definido, assim como é muito importante uma boa avaliação do que não funcionou, para que se possa tomar decisões na proporção adequada à realidade. Nem sempre aquilo que não é atingido significa incompetência ou desleixo; pelo contrário, ter a capacidade de realizar uma avaliação transparente e honesta é compreender o que funciona e o que necessita de ser ajustado.
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Por um lado, chegar ao fim e perceber que o nosso plano era adequado às necessidades do movimento, o que permitiu à equipa nacional cumprir o dever para com o qual se comprometeu no dia da tomada de posse. Por outro lado, ter uma Junta Central e uma equipa nacional muito mais próxima das regiões, dos núcleos e dos agrupamentos para que as tomadas de decisão do movimento possam ter um impacto mais ajustado à realidade de cada um.
«É uma secretaria que vai caminhando em paralelo com as outras secretarias, o que permite ter um olhar diferente e, ao mesmo tempo, global do que está acontecer.»
Qual a importância de o CNE ter uma Secretaria Nacional de Planeamento na sua estrutura nacional? Embora esta não seja uma secretaria com um trabalho muito visível e imediato no dia a dia do movimento, ela é importante na medida em que alguém está mais concentrado na monitorização e acompanhamento daquilo que a equipa estabeleceu como metas a atingir no final do mandato. É uma secretaria que vai caminhando em paralelo com as outras secretarias, o que permite ter um olhar diferente e, ao mesmo tempo, global do que está acontecer. É igualmente importante a área do envolvimento das regiões na medida em que esta equipa nacional considera fundamental a proximidade como motor proativo da participação e tomada de decisão assim como acreditamos que a Junta Central e as juntas regionais são parceiras fundamentais no sucesso do CNE. No final deste mandato, que trabalho gostarias de deixar feito? Existem duas coisas que para mim são importantes atingir no final do mandato.
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