"Quem é Quem?" na Junta Central - Joaquim Castro Freitas

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Entrevista a Joaquim Castro Freitas, chefe nacional adjunto

«Temos de ser mais escuteiros» Nesta edição, o chefe nacional adjunto foi o nosso entrevistado. Escuteiro desde os sete anos, tem procurado ao longo do seu percurso criar condições para «deixar o mundo um pouco melhor» como o fundador idealizou. Prioridades, desafios ao longo deste mandato e trabalho que pretende implementar ao nível do desenvolvimento e das relações externas foram alguns dos temas abordados nesta entrevista. Susana Micaela Santos | Chefe de redação smicaela@escutismo.pt Fotos: João Matos, Gonçalo Vieira, Diogo Marcelo e Cláudia Baptista Martins

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Quem é o Joaquim Castro Freitas? O Joaquim é um vimaranense de 33 anos, escuteiro desde os sete, que tem gasto uma boa parte da sua vida a sonhar e a tentar criar condições para implementar aquela ideia principal do nosso fundador de «deixar o mundo um bocadinho melhor do que o encontrámos». E que gosta de se gastar a tentar fazer isso em todas as dimensões da sua vida. Como surgiu este desafio de continuares na equipa da Junta Central, desta vez como chefe nacional adjunto? Eu desempenhava as funções de secretário internacional no anterior mandato, liderado pelo Norberto Correia como Chefe Nacional. Foi a minha primeira experiência como membro da Junta Central e permitiu-me perceber melhor toda a dinâmica da Junta Central e dos Serviços Centrais. E mostrou14 | Flordelis

-me que havia ainda um caminho grande a fazer de reorganização da estrutura nacional, de redefinição de objetivos e prioridades, de criação de condições que possam colocar cada vez mais a estrutura nacional ao serviço dos agrupamentos, e não o contrário. Ora, é neste contexto de alinhamento no pensamento e nas prioridades que surge o convite do Ivo Faria para ser parte do projeto que havia começado a idealizar para o CNE e que resultou na equipa que acabou por ganhar as eleições de dezembro passado. Rapidamente percebemos na equipa que o meu perfil e as minhas competências, depois de um mandato onde conseguimos muitos e bons resultados na dimensão internacional, dentro e fora do CNE e do país, seriam mais úteis ao CNE nas áreas do desenvolvimento e das relações externas. E seguimos por aí.

Gostaria que falasses um pouco sobre as tuas áreas de ação. Decidimos que a Chefia Nacional seria o conjunto das áreas coordenadas pelo Chefe Nacional – o Ivo – e pelo chefe nacional adjunto – eu próprio – por sentirmos que são áreas muito próximas, complementares e que se interligam. Na minha linha de responsabilidade ficou o Desenvolvimento e as Relações Externas. Do lado do Desenvolvimento, a ideia principal é sensibilizar todas as estruturas do CNE para a necessidade de olharmos para o nosso papel nas comunidades e percebermos em conjunto que, se acreditamos mesmo que o Escutismo muda a vida das crianças e dos jovens, e também dos seus adultos voluntários – e eu acredito mesmo que muda –, então não podemos assobiar para o lado e ficarmos satisfeitos apenas com os jovens que nos chegam à porta da sede. Temos de ir ao encontro de outras crianças e jovens e mostrar-lhes que podem, connosco, viver uma verdadeira aventura que lhes mostra o caminho da felicidade ao serviço de um mundo melhor. É, deve ser na minha opinião, parte da nossa missão. Temos mesmo de ser mais escuteiros. Não pelo número que podemos mostrar, mas porque é um imperativo de consciência para um Dirigente proporcionar a tantos jovens quanto possível esta extraordinária oportunidade. E precisamos de criar estratégias, políticas, ferramentas e condições, em diversos níveis e de diversas dimensões, para cooperarmos e caminharmos nesse sentido. Do lado das Relações Externas, procuraremos sobretudo organizar, promover e aprofundar as relações institucionais que temos com todos os organismos e entidades não escutistas nacionais, bem como representar e fazer representar o CNE nos diversos órgãos onde temos voz ativa, com a qualidade da intervenção que uma organização como é o CNE tem de ter, por dever histórico e por responsabilidade inerente à sua condição e importância na sociedade.


Em paralelo, e em estreitíssima cooperação com as regiões e os agrupamentos, construir ferramentas, materiais, dinamizar formação para que possamos ser mais eficientes na dinâmica de relações externas que vamos realizando um pouco por todo o país. Toda a atividade que realizarmos procurará dar resposta a estas duas áreas de atividade. Neste mandato, quais são as tuas principais prioridades? Para além destas duas maiores que acabei de enunciar, temos algumas iniciativas mais concretas que queremos priorizar: – A celebração anual do aniversário do CNE como momento de afirmação dos valores, da missão e da história da nossa associação. Começámos já este ano com os 94 anos na Região de Braga – celebrámos

na cidade de Guimarães –, e estamos já a iniciar as preparações dos 95 anos, celebração que irá acontecer na Região de Vila Real. – A realização de um Encontro Nacional de chefes de agrupamento em 2019, que tenha como passo prévio a realização de encontros regionais em 2018 e nos ajude, em conjunto, a desenhar a Visão 2023 do CNE como azimute que nos leva para além dos mandatos das Juntas Centrais, não lhes retirando espaço de autonomia, mas reafirmando um caminho de futuro cada vez mais partilhado e coconstruido – A criação, disseminação e aplicação de políticas de desenvolvimento e relações externas que nos permitam organizar e concertar a ação nestas áreas, tornando-nos mais eficientes enquanto Corpo e permitindo um desenvolvimento mais sustentado e sustentável destas áreas dentro da associação.

Na tua opinião, que papel deve ter um chefe nacional adjunto na associação? Eu gosto de ver a Junta Central como uma Patrulha. Um exemplo de Patrulha também para os nossos escuteiros. E estou convencido de que esta Junta Central tem as condições para, na sua diversidade, se manter ao longo de todo o mandato essa Patrulha que proponho. Nesse sentido, o chefe nacional adjunto deve ser o subguia, que necessariamente substitui o Chefe Nacional quando é necessário, procurando apoiar e aconselhar o resto da equipa nacional, o que no meu caso acontece também por via da experiência acumulada do anterior mandato, e, naturalmente, deve concretizar o plano de trabalho que propõe para as suas áreas de responsabilidade. Deve ser um interlocutor importante com as estruturas regionais, de núcleo e com os agrupamentos e, no meu caso em particular, operaciona-

«... que tem gasto uma boa parte da sua vida a sonhar e a tentar criar condições para implementar aquela ideia principal do nosso fundador de «deixar o mundo um bocadinho melhor do que o encontrámos» outubro 2017 | 15


lizar a relação do CNE com organismos e entidades não escutistas nacionais. Ao seres um dos elementos que vem da Junta Central anterior, apesar de uma área diferente, quais as principais diferenças que encontras no CNE nos últimos quatro anos? O nosso fundador dizia que primeiro tinha tido uma ideia, depois viu um ideal, depois criou um movimento e que, se não tivéssemos cuidado, iríamos acabar como uma estrutura. Ora, é difícil marcar diferenças de há quatro anos para cá, ou de há dez. Os caminhos que percorremos são longos, nem sempre a direito, e exigem tempo e ponderação. O que acho é que o CNE tem caminhado, e é crítico que o faça com maior velocidade nestes nossos tempos, no sentido de devolver às estruturas locais – os agrupamentos – o cerne da atenção, do trabalho, do foco e da prioridade na ação. É lá que a “magia” acontece, é lá que o impacto maior se faz sentir, é lá que mudamos as vidas das pessoas, é lá que, de facto, cumprimos em pleno a nossa missão. E só assim é que seremos cada vez mais um movimento e cada vez menos uma estrutura. A estrutura – importante para nos dar os meios e as condições para realizar o nosso trabalho – tem de estar ao serviço desta prioridade. E penso que, mais depressa algumas vezes, mais devagar outras, temos caminhado nessa direção. É importante compreendermos todos que também as nossos níveis (central, regionais, de núcleo e agrupamento) são lideradas por voluntários. São adultos que oferecem o tempo, as competências, uma boa parte da sua vida pessoal, familiar e até profissional pelo nosso CNE. Não é coisa pouca e, não raras vezes, pedimos demais, exigimos sem perceber a dimensão do impacto dessa exigência na vida das pessoas, e sem darmos por isso, levamos à exaustão bons talentos que poderiam continuar connosco e não

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«Na minha linha de responsabilidade ficou o Desenvolvimento e as Relações Externas.» o fazem porque não conseguem mais. É verdade que isto é fruto “dos tempos”, mas este caminho de sustentabilidade e equilíbrio na missão dos nossos adultos voluntários é um caminho que precisamos de cuidar e valorizar. Consideras que nos últimos anos o CNE assumiu um papel de maior destaque na sociedade? Quais os principais fatores? E que caminho ainda há a fazer? Sem dúvida. Quer por via do trabalho desenvolvido nos nossos agrupamentos um pouco por todo o país, e do suporte que recebem dos núcleos e das regiões, quer pela dimensão da associação e do seu impacto na sociedade, o CNE parece-me cada vez mais visível e reconhecido. A presença do senhor Presidente da República e de um impressionante número

de bispos, de membros do Governo e de tantas outras organizações parceiras do CNE neste Acanac de 2017 é disso prova inequívoca. Precisamos ainda de melhorar a nossa capacidade de nos apresentarmos fora do ambiente escutista, de despirmos a nossa comunicação de um “escuteirês” para uma linguagem que quem não é escuteiro e não conhece o CNE compreenda e, porque compreende, valoriza. Precisamos de criar estratégias para alargar a nossa intervenção e posição nos organismos onde temos assento, bem como de nos aproximarmos do tecido empresarial português para que, também por essa via, possamos criar sinergias e parcerias que resultem em melhores condições e benefícios para a concretização da nossa missão. Precisamos de nos afirmar enquanto


áreas de responsabilidade, ficarei muito satisfeito se formos, em conjunto, capazes de inverter a queda nos números do nosso efetivo, se conseguirmos realizar e acordar a nossa Visão 2023, colocando-a em prática, se afirmarmos a celebração do aniversário do CNE como uma data importante no nosso calendário anual, se formos capazes de levar à prática uma nova política de desenvolvimento e relações externas que nos posicione na dianteira das discussões e dos processos de decisão nos meios e nas dimensões onde operamos e para as quais procuramos contribuir.

Mas este é, essencialmente, um trabalho de equipas. Nada se consegue com individualismos, com estratégias isoladas, com decisões irreversíveis. É um caminho de partilha, de coconstrução, de cedências às vezes, de avanços outras tantas, mas que no final tem de garantir a melhor solução para os nossos Lobitos e escuteiros, e o respeito pelo trabalho dos nossos adultos voluntários, procurando dar os tais nós que unem, que constroem e que criam as fundações para o CNE do centenário.

parceiros fundamentais dos órgãos de Governo e dos organismos públicos (de nível nacional, regional e local) nas áreas que nos são mais afins – Juventude, Educação, Ambiente, Participação, entre tantas outras. Há, por isso, caminho a fazer. No final deste mandato, que trabalho pretendes deixar feito? O Plano Trienal que propusemos à associação é muito ambicioso. E é ambicioso porque procura, de um ponto de vista novo, continuar um trabalho importante que vem sendo feito – e bem feito –. aliando-o com um conjunto importante de novas áreas de ação, posicionamento e intervenção que procuraremos concretizar. Pela minha parte, pretendo dar o melhor de mim para que esse plano se concretize em todas as dimensões. Porque estou certo que ganha o CNE com essa concretização. Mais especificamente nas minhas

«Temos de ir ao encontro de outras crianças e jovens e mostrar-lhes que podem, connosco, viver uma verdadeira aventura que lhes mostra o caminho da felicidade ao serviço de um mundo melhor.» outubro 2017 | 17


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