Jornal do 41.º Congresso Nacional de Ortopedia e Traumatologia Em distribuição no dia 4 de novembro
Da prevenção à recuperação de lesões desportivas
O primeiro dia do 41.º Congresso Nacional de Ortopedia e Traumatologia ficou marcado pelas sessões das diversas secções e sociedades afiliadas da SPOT (P.4-12) e uma mesa-redonda que introduziu a temática principal deste encontro, abordando algumas das lesões relacionadas com o desporto (P.10-11). O programa prossegue hoje, com destaque para a sessão “Lesões desportivas: da prevenção à recuperação” (P.14-15). O Fórum EFORT, dedicado às lesões nos atletas mais jovens (P.20-21), é outro dos momentos mais aguardados, num dia que evidencia as boas relações internacionais da SPOT, como o comprovam as sessões com a Sociedad Española de Cirugía Ortopédica y Traumatología (P.16 e 24), a Swiss Orthopaedics (P.23) e a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (P.24). Amanhã, as atenções voltam-se para as mesas-redondas da Secção de Estudo de Infeção Osteoarticular, do Grupo de Estudo de Ortopedia Geriátrica (P.26), da Associação Portuguesa de Fisioterapia e da Comissão de Internos da SPOT (P.27)
Corpos gerentes da SPOT em 2021-2022 (de baixo para cima): Prof. Rui Lemos (presidente da Direção), Prof. João Gamelas (presidente-eleito da Direção),
Paulo Ribeiro
(secretário-geral da Direção), Dr. António Cartucho (presidente da Assembleia-geral), Dr.ª Inês Balacó (secretária da Assembleia-geral), Dr. António Figueiredo (secretário da Assembleia-geral), Dr. Campos Lemos (vice-presidente da Assembleia-geral), Dr. Carlos Pintado (presidente do Conselho Fiscal), Dr. Alexandre Pereira (vogal da Direção), Dr. José Manuel Teixeira (vogal da Direção), Dr. Manuel Sousa (tesoureiro da Direção) e Dr. José Mesquita Montes (vogal da Direção). Ausentes na fotografia: Dr. João Paulo Sousa e Dr.ª Sílvia Silvério (vogais do Conselho Fiscal).
Aceda à versão digitalMAIOR ENCONTRO CIENTÍFICO E SOCIAL DA COMUNIDADE ORTOPÉDICA
Caros colegas,
Após dois longos anos de pausa, estamos, finalmente, no primeiro Congresso Nacional de Ortopedia e Traumatologia presencial depois da pandemia de COVID-19. Além disso, regressa mos a Vilamoura, após alguns anos de ausência desta que é, indiscutivelmente, a localização favorita da nossa comunidade profissional para a realização do seu congresso.
Apesar das restrições orçamentais, com a preciosa e indispensável ajuda dos nossos par ceiros da indústria de implantes e farmacêutica, conseguimos organizar um congresso com todos os ingredientes tradicionais dos nossos eventos. Contamos com perto de 800 inscritos, 35 expo sitores, 3 simpósios da indústria de implantes e cerca de 57 sessões científicas e corporativas.
A Ortopedia internacional está também pre sente no nosso congresso, evidenciando-se uma delegação da sociedade convidada deste ano – a Sociedade Suíça de Ortopedia (página 23) Contamos também com a presença do Dr. Luis Ramos Pascua, presidente cessante da Sociedad Española de Cirugía Ortopédica e Traumatología (SECOT), que encabeça a delegação espanhola, responsável pela organização de uma conferên cia (página 24) e uma mesa-redonda (página 16) do programa deste congresso. Temos ainda a honra de contar com a presença do Dr. João Antônio Matheus Guimarães, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Trauma tologia (SBOT), que nos vai brindar com uma palestra magistral da sua autoria (página 24)
Sendo o tema geral deste 41.º Congresso a re lação da atividade desportiva com a Ortopedia, nomeadamente o seu papel na abordagem aos variados tipos de lesões, pedimos a todas as unidades orgânicas da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT) que orga nizassem as suas sessões de acordo com este tema. A mesa-redonda principal, cuja organiza ção foi confiada ao nosso colega experimentado em assuntos desportivos, Dr. Henrique Jones, conta com as intervenções de vários especia listas de renome no âmbito da traumatologia das lesões desportivas (páginas 14-15)
Ficha técnica
O Fórum da European Federation of National Associations of Orthopaedics and Traumatology (EFORT), este ano totalmente organizado e su portado pela SPOT, com a preciosa colaboração dos Drs. Manuel Vieira da Silva e Paulo Ribeiro de Oliveira, tem uma orientação idêntica, com a abordagem das lesões do ligamento cruzado anterior em atletas com esqueleto imaturo por especialistas nacionais e estrangeiros de renome (páginas 20-21)
Destaque aos trabalhos científicos
Temos perto de 400 trabalhos científicos a serem apresentados ao longo dos três dias do congresso, entre comunicações livres e pósteres eletrónicos. As equipas lideradas pelo Dr. Antó nio Cartucho, presidente da Comissão Científica da SPOT, e pelo Dr. Nelson Carvalho, responsável pela catalogação e apreciação dos pósteres, desenvolveram um intenso trabalho de sele ção, em estreita colaboração com as unidades orgânicas da SPOT.
Os trabalhos mais pontuados serão apresen tados publicamente pelos seus autores, perante uma assembleia de profissionais experientes de cada ramo de atividade em que atualmente a nossa especialidade se divide. O trabalho mais
pontuado de cada categoria a concurso será submetido a uma apreciação pelo grande júri, composto por três ex-presidentes da SPOT, do qual sairá o honroso galardão da melhor comu nicação livre deste congresso. Também os pós teres serão apreciados por um júri específico, com jurados de cada área, os quais vão atribuir os prémios de cada categoria a concurso.
No final do dia de hoje, 4 de novembro, temos a tradicional Assembleia-geral da SPOT, na qual será anunciado o novo presidente-eleito, bem como os corpos gerentes de várias secções e sociedades afiliadas da SPOT que realizam as suas eleições durante este congresso. O pro grama desta sexta-feira culmina com o Jantar do Congresso, durante o qual serão revelados os vencedores dos prémios a concurso, sendo ainda de destacar a presença de oito ex-presidentes da SPOT.
Pensamos estarem reunidas as condições para que tudo decorra de acordo com as expec tativas da comunidade SPOT naquele que é o nosso maior encontro, tanto científico como social.
Rui Lemos Presidente da SPOTConceitos e controvérsias sobre o menisco e o ligamento cruzado anterior
Asessão organizada pela Sociedade Por tuguesa para o Estudo da Patologia do Joelho (SPEJ) dividiu-se em duas partes. Na primeira, foram abordados os conceitos e as controvérsias atuais em torno do menisco. “O tra tamento da patologia meniscal tem modificado muito nos últimos anos”, introduz o Dr. Manuel Vieira da Silva, presidente da SPEJ e coordena dor do Serviço de Ortopedia do Hospital Trofa Saúde de Braga.
A sessão começou com a apresentação do Dr. Hél der Nogueira, ortopedista no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, dedicada ao efeito condoprotetor da reparação meniscal. A propósito, Manuel Vieira da Silva indica que “é cada vez maior a tendência para tentar salvar a maior quan tidade possível de tecido meniscal”. E explica por quê: “Ao aumentarmos a capacidade para amorte cer a carga e a estabilidade do joelho, teoricamente, estamos a contribuir para que a cartilagem se degenere menos.” Em seguida, o Dr. Nuno Marques Luís, ortopedista no Hospital CUF Descobertas, em Lisboa, resumiu a evidência mais recente relativa às lesões radiais.
Por sua vez, o Dr. Manuel Mosquera, ex-presidente da Sociedade Latino-Americana de Artroscopia, Reconstrução Articular e Trauma Desportivo, refle tiu sobre as lesões da raiz, enquanto o Dr. Levi Reina Fernandes, ortopedista no Hospital CUF Santarém, discorreu sobre as lesões em rampa. “Até recente
mente, o diagnóstico imagiológico destes dois tipos de lesões era muito difícil. As lesões em rampa, em particular, eram negligenciadas. Atualmente, quando fazemos um cruzado anterior, por exemplo, temos de ir à parte posterior do joelho verificar se existe esta lesão”, afirma Manuel Vieira da Silva.
A segunda parte da sessão incidiu sobre os con ceitos atuais relacionados com o ligamento cruzado anterior (LCA) nas atletas, dado que, “num mesmo desporto, o sexo feminino apresenta maior incidên cia de lesões do que o sexo masculino”, justifica o presidente da SPEJ. Para melhor entender as dife renças, o Dr. Luís Machado, ortopedista no Centro Hospitalar de São Francisco, em Leiria, apresentou a epidemiologia de lesões em atletas de elite e em atle tas amadoras. Já o Dr. João Moura, ortopedista no Hospital da Senhora da Oliveira, em Guimarães, falou sobre os fatores de risco de lesões nas mulheres.
Seguiu-se a preleção do Dr. Nuno Camelo, orto pedista na Unidade Local de Saúde de Matosinhos/ /Hospital Pedro Hispano, dedicada às técnicas de reconstrução do LCA, com enfoque nas situações em que é necessário um reforço anterolateral. Por fim, a Dr.ª Rita Tomás, coordenadora de Medicina Física e de Reabilitação no Hospital CUF Descobertas, explicou as diferenças e semelhanças da reabili tação de lesões entre atletas homens e mulheres.
Marta CarreiroNa sua sessão, a Sociedade Portuguesa de Ortopedia Pediátrica (SPOP) começou por analisar o impacto da prática desportiva na criança, de uma forma geral. “Embora o desporto seja reconhecido como benéfico para a saúde, não é isento de riscos, nomeadamente de lesões, que são cada vez mais frequentes e com repercussões imediatas e a longo prazo”, introduz a Dr.ª Mafalda Santos, presidente da SPOP e responsável pela Uni dade de Ortopedia Infantil do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E). “Os objeti vos desta sessão passam por recolher informações acerca das consequências das lesões desportivas
para a saúde, em particular do esqueleto em cres cimento, com o intuito de estabelecer programas de prevenção”, acrescenta.
Nesse sentido, a Dr.ª Teresa Alves da Silva, orto pedista no Hospital de Cascais Dr. José de Almeida, começou por analisar a questão “O desporto faz bem?”, tema que, inclusive, “será objeto de reflexão na quarta newsletter da SPOP, a publicar ainda este ano”, informa Mafalda Santos. Seguiu-se a apresen tação do Dr. Manuel Cassiano Neves, ortopedista no Hospital CUF Descobertas, em Lisboa, sobre os principais traumas associados aos desportos de alta competição.
Depois, a Dr.ª Andreia Ferreira, ortopedista no CHVNG/E, discorreu sobre lesões “overuse”, isto é, causadas pela sobrecarga. Segundo a presidente da SPOP, “há lesões de sobrecarga exclusivas da criança, nomeadamente a apofisite e a epifisite, que foram abordadas na sessão do ponto de vista do diagnóstico e do seu impacto no dia-a-dia das crianças, sendo a doença de Sever e a síndrome Osgood-Schlatter exemplos frequentes”. Muitas destas lesões “têm bom prognóstico, contudo, interferem com a qualidade de vida das crianças”, acrescenta Mafalda Santos.
A segunda parte da sessão organizada pela SPOP abordou as lesões agudas em idade pediátrica.
O Dr. João Cabral, ortopedista no Hospital Pediátrico do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, começou por falar acerca das lesões do ligamento cruzado anterior (LCA). A seguir, a Dr.ª Patrícia Ro drigues, ortopedista no Hospital Dona Estefânia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, incidiu nas lesões meniscais. A última preleção foi assegurada pelo Dr. Nuno Côrte-Real, ortopedista e diretor clínico do Hospital de Cascais Dr. José de Almeida, que abordou a instabilidade do tornozelo.
“Escolhi estas lesões agudas porque o seu tra tamento é controverso. Atualmente, somos mais interventivos, temos ao dispor novas técnicas, com o intuito de permitir o retorno ao desporto, inclusive de alta competição, e diminuir as sequelas na vida adulta”, justifica Mafalda Santos. Ao que acrescenta: “Por exemplo, as lesões do LCA são agora mais fre quentes nas crianças, porque praticam desporto de alta competição e pela maior disponibilidade de meios auxiliares de diagnóstico, nomeadamente a ressonância magnética nuclear.” Marta Carreiro
Reportagem fotográfica das sessões organizadas pelas secções do joelho e de ortopedia pediátrica
Lesões do desporto em idade pediátrica
Update em artroscopia e artroplastia da anca
Dividida em duas mesas-redondas, a sessão organizada pela Secção para o Estudo da Patologia da Anca (SEPA) debateu as no vidades na artroscopia e o presente e o futuro da artroplastia da anca. “Com o reconhecimento de novas patologias, o desenvolvimento de terapêu ticas inovadoras e, sobretudo, com a possibilidade de efetuarmos muitos tratamentos endoscópicos no espaço articular e periarticular, assistimos a um enorme crescimento nas indicações da artroscopia da anca”, realça o Dr. Jorge Cruz de Melo, coordenador da SEPA e ortopedista no Hospital da Luz Arrábida. Na primeira mesa-redonda, o Dr. António Seco falou sobre as indicações e os limites da artroscopia da anca, referindo as “possibilidades terapêuticas cada vez mais alargadas no espaço articular e periar ticular”. Depois, o Dr. Sérgio Gonçalves incidiu sobre a reparação e a reconstrução da rutura do lábrum, abordando as várias técnicas existentes. Por sua vez, o Dr. Fernando Leal centrou-se na otimização da correção artroscópica, uma técnica complexa. “A correção em excesso pode causar complicações e a correção insuficiente é a causa mais frequente de falência da artroscopia”, sublinha Jorge Cruz
de Melo. A primeira parte terminou com a preleção do Dr. Miguel Pádua sobre as opções para o tratamento da lesão condral, desde o desbrida mento até à preservação e às técnicas de regeneração
A segunda mesa-redonda analisou o presente e o futuro da artroplastia da anca, iniciando-se com a preleção do Dr. David Sá sobre as vias de abor dagem da prótese total da anca (PTA), analisando as suas especificidades, vantagens, dificuldades e complica ções. De seguida, o Dr. Mário Tapadi nhas “incidiu sobre as componentes acetabular, femoral e par articular, abordando as soluções mais habituais de próteses primárias e refletindo sobre as tendências mais atuais nesta área”, resume Jorge Cruz de Melo.
Já o recurso à PTA para doentes jovens e ativos foi o tema da preleção do Dr. Gonçalo Martinho, que vincou os desenvolvimentos ao nível dos materiais e das soluções cirúrgicas, permitindo aumentar a so brevida média das próteses. Seguiu-se a intervenção
do Dr. Pedro Pinto, que destacou “as vantagens da robótica e dos sistemas de navegação na PTA e no planeamento pré-operatório, mas também enquanto auxiliares da cirurgia, contribuindo para um maior rigor”, comenta o coordenador da SEPA. Por fim, centrando-se na artroplastia de ressurfacing, o Dr. Manuel Ribas abordou as suas indicações atuais, os cuidados na técnica cirúrgica e o seguimento dos doentes. Pedro
Biomecânica e investigação em Ortopedia
A segunda parte da sessão assumiu o formato “ Shark Tank – Investigação e Biomecânica”. O júri foi constituído por três investigadores (Prof. António Manuel Ramos, Prof. José Simões e Prof. Paulo Fernandes) e dois ortopedistas (Dr. Manuel Ribeiro da Silva e Dr. António Camacho). “O objetivo foi colocar em contacto os interessa dos em realizar investigação com investigadores da sua zona geográfica, na tentativa de agilizar trabalhos”, explica Daniel Mendes.
Na sessão organizada pela Secção para o Estudo da Biomecânica do Aparelho Locomotor, o seu coordenador, Dr. Daniel Mendes, começou por apresentar os re sultados do inquérito “Biomecânica e investigação em Ortopedia”, que foi enviado a todos os ortope distas nacionais, em 2021, obtendo “uma taxa de respostas acima do esperado”. Segundo o também coordenador da área de Patologia de Pé e Tornozelo do Cluster Hospitalar CUF Tejo, o principal objetivo do inquérito foi perceber “a relação dos ortopedistas com a investigação em biomecânica, procurando saber se existe interesse em fazer mais, quais os principais obstáculos, a que ferramentas têm acesso e quais as áreas de maior interesse”.
Dos resultados, Daniel Mendes destaca que “60% dos colegas manifestaram interesse em aumentar a sua atividade de investigação, no en tanto, apenas 0,8% disseram ser remunerados por isso”. A motivação para realizar projetos de investigação foi outro aspeto focado no inquérito. “Constatámos que os ortopedistas estão moti vadas, mas deparam-se com várias dificuldades: 55% gostariam de ter mais facilidade de acesso a laboratórios de dissecção em cadáver, 40% a la boratórios de biomecânica e outros 40% admitem um défice nos seus conhecimentos de Estatística.” No entanto, o maior obstáculo identificado foi a falta de tempo para desenvolver investigação, apontada por 70% dos inquiridos.
Para este Shark Tank , selecionaram-se oito propostas de projetos de investigação, que foram apresentadas e analisadas presencial mente. Cada proponente teve cinco minutos para apresentar o seu projeto, respondendo depois às questões do júri. No entanto, “para todas as propostas recebidas, incluindo as não selecionadas para apresentação, tentou-se dar a melhor orientação, nomeadamente sobre a qual a metodologia mais adequada, quais os dispositivos, equipamentos ou laboratórios a recorrer, onde os encontrar, ou mesmo que la boratórios se dedicam a tipos semelhantes de investigação,”, resume o coordenador da Secção de Biomecânica da SPOT. Marta Carreiro
Veja mais fotografias das sessões organizadas pelas secções de anca e biomecânica da SPOT
A coluna e o desporto
Já o Dr. João Correia, ortopedista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria e ex-jogador da Seleção Nacional de Râguebi, abordou as lesões lombares no atleta, que “são altamente incapacitantes, ditando ausências repetidas e pro longadas da atividade desportiva”, sublinha Pedro Varanda. Por isso, “é muito importante fazer um diagnóstico correto e um tratamento atempado, tendo em conta que os atletas têm uma necessidade muito premente de utilizar o seu corpo”.
Em linha com o tema principal do 41.º Congresso Nacional de Ortopedia e Traumatologia, a Secção para o Estudo da Patologia da Coluna Vertebral (SEPCV) desenhou para a sua sessão um programa totalmente centrado nas lesões e pato logias da coluna decorrentes da prática desportiva. “Começámos por apresentar dois casos clínicos exem plificativos da patologia da coluna no desportista, que serviram de mote para as apresentações teóricas”, introduz o Dr. Pedro Varanda, coordenador da SEPCV e responsável pela Unidade de Coluna do Serviço de Ortopedia do Hospital de Braga.
A patologia da coluna no jovem desportista foi o tema da primeira preleção, à responsabilidade da Dr.ª Joana Freitas, ortopedista no Hospital CUF Porto. “Principalmente na adolescência, o crescimento rá pido e a intensidade desportiva podem favorecer
o aparecimento de lesões na coluna. Nestes casos, a decisão do tratamento coloca desafios importan tes”, afirma Pedro Varanda.
Seguiu-se a apresentação do Dr. Rui Pinto, ortopedista e diretor clínico no Hospital de Santa Maria – Porto, sobre as lesões cervicais no atleta. O objetivo foi “chamar a atenção para determi nados desportos que predis põem a coluna cervical a lesões traumáticas, como o râguebi, o futebol americano, o mergulho e os desportos motorizados”. “Em algumas destas modalidades, a in cidência de lesões cervicais até já foi motivo para alterar certas regras do desporto”, nota o coordenador da SEPCV.
Quase na reta final, o Dr. João Pedro Araújo, di retor clínico do Sporting Clube de Portugal (SCP), e o Dr. Nuno Loureiro, especialista em Medicina Física e de Reabilitação no SCP, discorreram so bre o regresso ao desporto após lesão da coluna. “Os dois colegas ajudaram-nos a perceber se, após uma lesão vertebral, é possível recuperar a performance e o nível de atividade física que os atletas tinham an tes, bem como o tempo médio que é expectável para vol tar à atividade após lesão da coluna”, resume Pedro Varanda. A sessão da SEPCV terminou com a discussão do desfecho dos dois ca sos clínicos que tinham sido apresentados na introdução.
Marta CarreiroEnfrentar a falência do tratamento do nervo
Esta foi a questão orientadora da sessão organizada pela Secção para o Estudo da Patologia de Punho e Mão (SEPPM). Como explica a sua coordenadora, Dr.ª Filipa Santos Silva, trata-se de um tema pouco abordado durante o internato de Ortopedia e cujas complicações podem ser muito difíceis de resolver. “Se ocorrer alguma complicação associada ao tratamento, como uma lesão no nervo ou perda da componente muscular, o doente pode sofrer bastante”, contex tualiza a ortopedista no Hospital CUF Descobertas, em Lisboa.
Na primeira preleção, o Dr. Diogo Casal, cirur gião plástico no Hospital CUF Tejo, falou sobre a falência da descompressão do mediano no canal cárpico, seguindo-se a intervenção do Dr. César
Silva, ortopedista no Centro Hospitalar Universi tário do Porto/Hospital de Santo António, sobre a falência da descompressão do cubital no cotovelo. “Tanto num caso como no outro, depois da cirur gia, o doente pode manter as mesmas queixas e, inclusive, após um período livre de queixas, estas voltarem com maior intensidade”, alerta Filipa Santos Silva. Nesses casos, torna-se necessário “proteger o nervo com estruturas especiais, sendo que, em lesões iatrogénicas, pode ser necessária uma reparação do nervo e uma cirurgia de resgate funcional”.
As estratégias que se podem adotar em casos de falência da reparação do nervo e falência do tratamento do neuroma foram abordadas, respe tivamente, pelo Dr. Edgar Rebelo, ortopedista no
Hospital da Luz Coimbra, e pelo Dr. Pedro Negrão, ortopedista no Hospital CUF Porto. “A lógica da repa ração do nervo passa sempre por afrontar os topos, deixando o menor gap possível, tendo em conta que o nervo tem capacidade para se reparar a si próprio. Assim, foram apresentadas as boas práticas clínicas, inclusive as opções existentes em termos de enxertos do nervo”, sublinha a coordenadora da SEPPM. Sobre a falência do tratamento do neuroma, Filipa Santos Silva nota que “são situações muito desconfortáveis para o doente”, realçando que uma estratégia para as zonas de menor relevância sensitiva “pode esconder o tecido do nervo dentro do osso”.
A abordagem multidisciplinar da dor persistente e as melhores estratégias para a mitigar, nomeada mente o recurso a eletroestimuladores, estiveram em análise nas últimas preleções da sessão, a cargo do Dr. Simão Serrano (especialista em Medicina Física e de Reabilitação no Centro Hospitalar de Leiria) e do Dr. Edgar Semedo (anestesiologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra).
Pedro Bastos ReisMais registos fotográficos das sessões organizadas pelas secções de coluna e punho/mão
Novas perspetivas na abordagem das tendinopatias
Procurando selecionar um tema “apela tivo, com um foco prático e uma grande demanda do contributo das novas tec nologias para o tratamento”, o Prof. Hélder Pe reira escolheu as tendinopatias para analisar na sessão organizada pela Secção para o Estudo das Novas Terapias em Ortopedia (SENTO), que coordena. “As tendinopatias, em qualquer segmento anatómico ou circunstância clínica, são sempre situações muito exigentes, para as quais estamos em constante procura de mais e melhores formas de tratamento e de compreen são”, explica o ortopedista no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde, que regista o facto de as opções terapêuticas atualmente dis poníveis ainda não apresentarem os resultados desejados e a necessidade de continuar o seu desenvolvimento.
A sessão arrancou com a apresentação do Dr. Gonçalo Coluna, ortopedista no Hospital de Sant’Ana, na Parede, sobre os mecanismos de degeneração e envelhecimento dos tendões, com o intuito de rever os processos de degradação conhecidos nos dias de hoje. Em seguida, o Prof. Nuno Sevivas, ortopedista no Grupo Trofa Saúde, discorreu sobre o papel das terapias celulares no tratamento das tendinopatias, já que “tem um trabalho altamente reconhecido na aplicação dos secretomas, nomeadamente nos tendões da coifa dos rotadores”, afirma o coordenador da SENTO.
Depois, Hélder Pereira falou sobre a enge nharia de tecidos aplicada à regeneração tendi nosa. “Tentei apresentar uma abordagem mais abrangente, combinando a teia da engenharia de tecidos com as células, os fatores de cres cimento e os estímulos mecânicos, tendo em consideração o que está atualmente disponível e em desenvolvimento.” De acordo com o preletor, “esta combinação é fundamental para obter o resultado pretendido no doente”.
Por sua vez, o Dr. João Pedro Oliveira, orto pedista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, abordou as indicações baseadas na
evidência para o uso de fatores de crescimento. A sessão terminou com a intervenção do Dr. Pe dro Diniz, ortopedista no Hospital de Sant’Ana, sobre métodos quantitativos e semiquantitati vos para avaliar a resposta ao tratamento. “Este colega tem feito um trabalho de investigação altamente meritório nesta área, com especial foco no tendão de Aquiles. De modo a perceber mos qual o resultado e o melhor momento para retomar a atividade funcional, principalmente nos casos relacionados com a prática desportiva, a avaliação da resposta ao tratamento é essen cial”, remata Hélder Pereira. Marta Carreiro
Peritagem médica na Segurança Social
Social. “Há muitas situações que se prendem com o foro ortopédico, que depois são avaliadas na Segu rança Social, seja pelas juntas de invalidez ou pelas juntas de incapacidade”, justifica o ortopedista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e consultor no Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses.
O Dr. Carlos Cerca, perito médico no Centro Distrital de Vila Real da Segurança Social e or topedista na mesma cidade, e a Dr.ª Joana Bento Rodrigues, ortopedista no Hospital CUF Coimbra, foram os palestrantes convidados para discor rer sobre esta temática, tendo abordado “toda a metodologia necessária para enquadrar cada tomada de decisão dentro do espírito da lei”. “Por exemplo, num indivíduo com uma incapacidade de 60% resultante de um acidente de trabalho, se a peritagem da Segurança Social não valorizar essa incapacidade, nós, médicos, também não a pode mos transpor para uma doença natural”, explica o coordenador da SEML.
Por isso, Francisco Lucas defende que é fundamental continuar a discutir as questões médico-legais relacionadas com a Ortopedia em
congressos nacionais e outras reuniões da área. “A maior parte dos colegas não tem o conhecimento de causa necessário em muitas situações. É impor tante perceber que nem sempre aquilo que nós pensamos ser o correto se enquadra dentro do exercício da lei”, esclarece. No entanto, analisando o panorama atual do conhecimento nesta área, o coordenador da SEML admite verificar-se “maior esclarecimento e maior abertura, contudo, ainda permanece um longo caminho por percorrer para atingir avaliações médico-legais mais razoáveis”.
Para aproximar a teoria da realidade, foram apre sentados e discutidos diversos casos clínicos que implicaram avaliações e decisões médico-legais, trazidos não só pelos dois preletores da sessão, mas também por ortopedistas da assistência, com o objetivo de dissipar dúvidas neste âmbito.
Marta CarreiroOutros instantes das sessões organizadas pelas secções de novas terapias em Ortopedia e médico-legal
Com o intuito de enquadrar os ortopedistas dentro da prática que deve ser seguida de acordo com a lei, o Dr. Francisco Lucas, coor denador da Secção para o Estudo das Questões Médico-Legais (SEML), organizou uma sessão voltada para a peritagem médica na Segurança Dr. Gonçalo Coluna, Dr. Pedro Diniz, Dr. Nuno Sevivas, Prof. Hélder Pereira e Dr. João Pedro Oliveira (da esq. para a dta.)Temas pertinentes em Medicina Desportiva
Lesões do tendão de Aquiles, lesões miotendinosas, insta bilidade do ombro e lesões do cotovelo nos desportistas, luxação da rótula no atle ta adolescente e tratamen tos ortobiológicos para as lesões condrais foram os temas em análise numa mesa-redonda que procurou proporcionar uma atualiza ção sobre o tratamento e a recuperação destas lesões e patologias associadas à prática desportiva.
Vídeos com destaques das entrevistas ao preletores e fotografias da sessão “Outros temas de Medicina Desportiva”
Segundo o Prof. Rui Lemos, presi dente da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT), “h á cada vez mais pessoas a praticar desporto, desde os mais jovens aos mais velhos, com um nível quase profissional,
de grande exigência, pelo que também aumen tam as lesões decorrentes dessa prática”. Este foi o mote da mesa-redonda “Outros temas de Medicina Desportiva”, que conferiu “uma oportunidade para abordar alguns aspetos não contemplados nas sessões organizadas pelas
diferentes secções da SPOT, com enfoque nas principais novidades, nomeadamente ao nível do tratamento, que têm surgido nos últimos anos”, explica o também diretor do Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho.
Lesões do tendão de Aquiles
“Dentro das lesões do tendão de Aquiles, que são das mais comuns ligadas à prática desportiva , existem dois grandes grupos. Por um lado, as tendinoses, que podem ter várias causas e ser tratadas quer por meios conservadores, quer por cirurgia. As tendinoses, em si, dividem-se em insercionais e não-insercionais. Entre as opções cirúrgicas, a tenoscopia do Aquiles é um método inovador e evita grandes incisões, que interferem no tempo e na qualidade de recuperação. Por outro lado, as ruturas no tendão de Aquiles, que são altamente incapa citantes para os atletas, exigindo longos períodos de recuperação. Revisitando estes aspetos bem conhecidos dos ortopedistas, o objetivo da minha apresentação passou por evidenciar a importância da patologia do tendão de Aquiles, não só a inflamatória, mas também a traumática.” Prof. Paulo Amado, coordenador da Unidade de Ortopedia do Hospital Lusíadas Porto
“Muitas vezes, existem condicionantes no tratamento da luxação no atleta adolescente, devido à imaturidade esquelética. A grande maioria das cirurgias mais comuns tem o potencial de dano à fise. Então, se optarmos por um tratamento cirúrgico, em primeira instância, é necessário determinar o estado de maturação esquelética do adolescente. Podemos fazê-lo através da escala de Tanner e pela determinação da idade óssea com raio-X do punho. Além disso, devemos identificar os fatores de instabilidade rotuliana que estão na origem da luxação. Por exemplo, se for uma patela alta ou uma displasia troclear, abordamos esses fatores individualmente, selecionando a técnica que melhor se adequa e adaptando-a à idade do atleta. Concomitantemente, reconstruimos as lesões que decorrem da própria luxação, sobretudo a lesão do ligamento patelofemoral medial.” Dr.ª Marta Massada, docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
“As deformidades morfológicas dos tipos CAM e PINCER são muito frequentes nos desportistas, rondando os 90% de incidência e podendo dar origem a uma síndrome clínica facilmente confundida com outras entidades patológicas, nomeadamente dor trocantérica, banda iliotibial dolorosa, pubalgia e patologia da coluna lombar baixa. Na apresentação, demonstrei a importância da avaliação clínica desta síndrome, para identificar os casos que podem beneficiar de tratamento cirúrgico e, assim, melhorar a probabilidade de regresso à prática desportiva. O tratamento conservador tem, na sua base, o tratamento fisiátrico, nomeadamente o reforço da musculatura pélvica e central do tronco.” Dr. David Sá, ortopedista no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E)
Seguem-se os resumos do que foi abordado por cada um dos preletores da sessão.Síndrome de conflito femoroacetabular no desporto Luxação da rótula no atleta adolescente
Instabilidade do ombro em desportistas
“Oombro é a articulação do corpo humano com maior arco de movimento, o que consegue através de menor estabilidade ós sea, ficando dependente de estruturas ligamentares e miotendinosas. Durante a atividade desportiva, em particular nos des portos de contacto e de arremesso, estão reunidas as condições para alterar este equilíbrio, seja por um traumatismo major, seja por movimentos repetitivos, levando à instabilidade do ombro. Nesse sentido, foi minha intenção discutir a abordagem desta patologia numa população especial, cujo resultado é avaliado não só pela ausência de novos episódios de instabilidade, mas também pelo regresso à com petição. Desde a abordagem face ao primeiro episódio, várias são as propostas: imobilizar ou não o ombro, em que fase operar e, se essa for a decisão, qual o melhor procedimento para o atleta entre os que temos disponíveis, não esquecendo o papel fundamental da reabilita ção nesta articulação. À luz da evidência mais recente, procurei responder a estas e outras questões relativas à instabilidade do ombro." Dr. Pedro Lourenço, coordenador da Unidade do Ombro do Serviço de Ortopedia do CHVNG/E
Lesões do cotovelo nos desportistas
“Centrei-me num tipo de lesão aguda – as fraturas de luxação do cotovelo – e num tipo de lesão crónica – as epicondilites. Quanto às pri meiras, infelizmente, ainda são tratadas muitas pessoas de forma conservadora e restritiva, principalmente os atletas, nos quais existe necessidade de recuperação rápida, para retornarem à atividade, mas também de prevenir complicações, como a rigidez e a atrofia muscular. Na maior parte dos casos, os atletas precisam de reparação cirúrgica, que implica entre 6 a 12 meses de repouso para retornar à competição. Já a epicondilite, sendo uma lesão de sobrecarga relacionada com uma lesão crónica do tendão, na maioria das pessoas, o tratamento deverá ser conservador, com recurso a uma fisioterapia bem executada. Com esta abordagem, é de esperar que os atletas retornem aos treinos após 2 meses e à competição após 3 meses.” Dr.
“Os tratamentos ortobiológicos englobam uma panóplia de possibilidades. A European Society for Sports Traumatology, Knee Surgery and Arthroscopy está a desenvolver um estudo para mostrar a evidência destas opções, que vão desde os hidrogéis ou proteínas, em várias das suas formas, até aos fatores de crescimento. Existem novidades, como as soluções autólogas de combi nados com proteínas, que incluem proteínas com influência na fase inflamatória, juntamente com fatores de crescimento autólogos. No entanto, acho que há uma desproporção entre as expectativas criadas, quer nos médicos quer nos doentes, e a realidade do que po demos esperar dos tratamentos ortobiológicos, que têm ainda muitas limitações. Por exemplo, não conseguimos uma reparação integral da lesão com estas opções, mas os seus benefícios ao nível do alívio sintomático são claros, quando as indicações corretas são seguidas.” Prof. Hélder Pereira, ortopedista no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde
Miguel Trigueiros, ortopedista no Centro Hospitalar Universitário do Porto/Hospital de Santo António Tratamentos ortobiológicos nas lesões condraisSecção de Trauma promoveu tertúlia sobre a Saúde em Portugal
O debate começou por abordar questões eco nómicas, nomeadamente os limites à atuação médica e os impactos orçamentais na área da Saúde. Depois, a discussão fluiu para outras temáticas, que foram desde a formação em Medicina, à responsabilidade médica e à rela ção médico-doente. Sobre este último tópico, Miguel Marta destaca a importância da colabo ração dos doentes. “Claro que isso levanta outras questões, desde a literacia em Saúde ao estado anímico e psíquico do doente, mas a verdade é que a decisão médica tem de ser cada vez mais partilhada e corretamente percecionada, nos seus objetivos e limites, pelo doente”, concretiza o coordenador da Secção de Trauma.
Aprofundando o modelo adotado no con gresso de 2019, a Secção de Trauma da SPOT voltou ontem a apostar numa ses são de discussão entre a audiência e os palestrantes sobre diversas temáticas da Saúde, desde a vertente económica à relação médicodoente. “Concluímos que seria mais interessante termos uma conversa livre, sem um tema definido. Nesta secção, sempre quisemos propor ativida des multidisciplinares, pelo que, na sessão deste congresso, quisemos transmitir mensagens que contribuam para mudanças, porque, para tal, não devemos falar só para nós, mas também para o exterior”, justifica o Dr. Miguel Marta, coordena dor da Secção de Trauma e ortopedista no Centro
Hospitalar Universitário de São João, no Porto. Nesse sentido, sob o mote “Quo vadis SNS? Ter túlia sobre Saúde”, além do Dr. Miguel Marta, que assegurou a breve introdução, intervieram como preletores o Prof. João Gamelas (ortopedista e presidente-eleito da SPOT), o Dr. Miguel Guimarães (urologista e bastonário da Ordem dos Médicos), o Prof. Rui Nunes (otorrinolaringologista e fundador da Associação Portuguesa de Bioética) e o Dr. Diogo Nogueira Leite (economista especializado na área da Saúde). “Não houve apresentações ou comunica ções formais. Durante duas horas, falámos daquilo que considerámos mais importante e sem tabus, tendo como orientação a atual situação da Saúde em Portugal”, resume Miguel Marta.
Instantes
Sobre a sessão, Miguel Marta sublinha ainda a importância da participação de João Gamelas, que, em março de 2023, tomará posse como pre sidente da SPOT, confiante de que as temáticas discutidas ganhem ainda maior preponderância no seio da Ortopedia. “O Prof. João Gamelas fi cou muito entusiasmado e garante-me que é um formato que vamos manter em sessões organi zadas pela Secção de Trauma ou diretamente pela direção da SPOT.” Pedro Bastos Reis
Mais registos fotográficos da sessão organizada pela Secção de Trauma
Instantes
11h00 13h00, Sala A
Da prevenção à recuperação de lesões desportivas
gelo e controlar a inflamação. Depois, o doente deve começar a pôr o pé no chão, para promover a carga, que é essencial para a cicatrização eficaz dos liga mentos”, salienta. No entanto, Daniel Mendes nota que “a evolução tem sido no sentido da abordagem cirúrgica, que inclui a artroscopia, esperando-se que o início mais precoce da carga e da mobilização acelere a recuperação pós-operatória”.
Lesão do isquiotibial e síndrome pubálgica
Na intervenção seguinte, o Dr. Manuel Virgolino, ortopedista no Hospital das Forças Armadas/Polo de Lisboa, começará por alertar para a “grande incidência das lesões isquiotibiais”, realçando que a prioridade é “garantir que os atletas recuperem o mais rapidamente possível para retornarem à sua atividade desportiva”. O futebol e o atletismo são os desportos em que este tipo de lesão é mais co mum, nomeadamente em situações de aceleração e desaceleração.
Em termos de tratamento, o preletor sublinha a necessidade de intervir perante pseudoquistos ou avulsões ósseas, referindo que, nestes casos, “a abordagem conservadora tem pouco sucesso, devendo-se optar pela cirurgia”. Contudo, para evi tar complicações, é essencial que o diagnóstico seja precoce e preciso, sobretudo com recurso à res sonância magnética e à ecografia. “O diagnóstico é muito importante para que possamos escolher a melhor abordagem terapêutica, evitando as re cidivas e minimizando a ausência do atleta da sua atividade desportiva”, afirma o Dr. Manuel Virgolino.
Abordar a caracterização e o tratamento das cinco lesões mais frequentes nos desportistas, analisando também as formas de prevenção e as especificidades da reabilitação, são os grandes objetivos desta mesa-redonda. Nesse sentido, foram convidados para preletores vários ortopedistas e fisiatras especializados nesta área.
Pedro Bastos ReisNa primeira preleção, o Prof. João Páscoa Pinheiro, especialista em Medicina Física e de Reabilitação e em Medicina Des portiva, vai explicar o conceito de lesão desportiva, notando que “abrange o impacto da lesão micro ou macrotraumática não só no atleta, mas também no clube e na comunidade”. No en tanto, para os clínicos, “em primeiro lugar, deve vir o bem-estar do atleta, a promoção da saúde e a retoma segura ao desporto após lesão; só depois os interesses competitivos e a modalidade”, afirma o também docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Em termos de reabilitação, o orador considera que “é fundamental limitar o sofrimento, criando condições terapêuticas para promover a rápida cicatrização ou regeneração”. Para tal, “deve-se
introduzir uma caracterização de risco e adotar estratégias de prevenção que evitem recidivas”, concretiza o Prof. João Páscoa Pinheiro.
Após a preleção introdutória, serão abordadas as cinco lesões mais prevalentes nos desportistas, começando pela entorse do tornozelo, que também “é a lesão mais frequente do aparelho locomotor”. Como indica o Dr. Daniel Mendes, coordenador da área de patologia de pé e tornozelo do Cluster Tejo, do grupo CUF, a entorse do tornozelo ocorre particularmente nos desportos de equipa, como o futebol.
Depois de referir os diversos tipos de entorse do tornozelo, que podem ocorrer desde o complexo lateral até à articulação subtalar, o ortopedista vai incidir sobre o tratamento e a recuperação. “Nos pri meiros dias, é fundamental elevar o membro, aplicar
Centrando-se na síndrome pubálgica, o Dr. Hen rique Jones, ortopedista na Clínica Ortopédica do Montijo, vai analisar os fatores etiopatogenéticos e osteoarticulares, nomeadamente ao nível da anca, da coluna lombar, da bacia e da sínfise pública. Além disso, “a hérnia do desportista, as tendinopatias insercionais, as compressões neuropáticas e, mais raramente, as patologias urogenitais e abdominais, podem causar uma dor que impossibilita a prática desportiva”, acrescenta o especialista.
Esta “riqueza diagnóstica” faz com que a sín drome pubálgica seja “um desafio terapêutico aliciante e multidisciplinar, nomeadamente na vertente cirúrgica e no suporte biológico.” No en tanto, “o tratamento deve começar pela abordagem conservadora, através da correção dos fatores de risco identificados”. Se tal não for suficiente, “deve -se optar por uma abordagem cirúrgica individual e seletiva”, recomenda Henrique Jones.
Lesões meniscais e ligamentares do joelho
Segue-se a preleção do Dr. Jorge Pon, que começará por evidenciar que o aumento da prática de novos desportos, como o padel, e o facto de as pessoas fazerem desporto até idades mais avançadas
podem contribuir para o aumento da incidência de lesões meniscais. “Deve-se praticar desporto, mas é necessária uma boa preparação física”, adverte o ortopedista no Hospital da Luz Setúbal, que, além da prevenção, vai abordar as opções terapêuticas. “O menisco é o nosso maior amortecedor e, se for retirado, aumentará a carga sobre o joelho. Feliz mente, os avanços em Medicina têm levado a que cada vez mais se consiga recuperar a sua função.”
Quanto à escolha da terapêutica consoante o tipo de lesão meniscal, o ortopedista sublinha que é preciso ter em conta, entre outros fatores, a idade, o tipo de lesão e a expectativa do doente. “Mais importante do que a técnica é termos a certeza de que o menisco vai cicatrizar. Para tal, temos de conciliar, da melhor forma possível, a técnica cirúrgica com a componente dos materiais e as especificidades do doente”, conclui o Dr. Jorge Pon.
Por sua vez, o Dr. Pedro Pessoa vai incidir sobre a caracterização das lesões dos ligamentos cola terais, lateral interno, lateral externo do cruzado anterior e do cruzado posterior, sem esquecer a associação entre estas lesões. Na abordagem dos casos mais complexos, o ortopedista no Hospital Ortopédico de Sant’iago de Outão, em Setúbal, realça que “é fulcral ter muita experiência e dominar as várias técnicas cirúrgicas, nomeadamente os diferentes tipos de enxerto que se podem utilizar”, destaca.
Em desportistas de alta competição, “há casos de lesões graves e recidivantes que implicam o recurso a aloenxerto de cadáver para substituição
de ligamentos”, exemplifica Pedro Pessoa. Como tal, o ortopedista defende a necessidade de apos tar, cada vez mais, em centros de referenciação especializados. “As lesões multiligamentares do joelho não são frequentes, mas têm de ser trata das por quem conhece bem as diversas técnicas e tenha capacidade de planear a requisição de aloenxertos”, reitera.
Prevenção e reabilitação
As especificidades da reabilitação e o regresso ao desporto de competição estarão em foco na apresentação do Dr. Gonçalo Borges, que pretende evidenciar a importância da proximidade entre a Ortopedia e a Medicina Física e de Reabilitação.
“A informação trocada entre o fisiatra e o ortope dista deve ser muito transparente, para que pos samos perceber o estado da lesão e a fragilidade tecidular, de forma a definir um protocolo correto, principalmente na fase inicial da reabilitação”, su blinha o fisiatra no Hospital da Prelada, no Porto.
Quanto ao protocolo de reabilitação mais ade quado, o preletor refere que “não existem con sensos”, nomeadamente no que toca à amplitude articular e à carga nas fases iniciais da lesão des portiva. “A minha preocupação é sempre perceber se uma articulação foi sujeita a suturas que a pos sam inviabilizar. Nessas circunstâncias, devemos ter um cuidado extremo com a carga que vamos permitir ao doente”, aconselha Gonçalo Borges, destacando o conceito de proprioceção, que “é cru cial para garantir a estabilidade das articulações”.
Por seu turno, o Prof. José Gomes Pereira, diretor clínico da Desporsano e professor cate drático da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, vai discorrer sobre a prevenção de lesões desportivas. “A maior per centagem de lesões que um atleta sofre em treino e competições são de sobrecarga ou musculoes queléticas”, informa o especialista europeu em Medicina Desportiva, destacando o transtorno de trauma cumulativo.
Para evitar este tipo de lesões, José Gomes Pereira considera que “a abordagem pluridiscipli nar é fundamental, começando pelo planeamento e pela definição da metodologia de treino mais adequada”. Depois, importa apostar na prepara ção fora da modalidade em específico, como no ginásio, “onde o atleta vai adquirir competências físicas e de resistência musculoesquelética para tolerar a exigência das cargas do treino despor tivo”, sintetiza o fisiatra. E conclui: “As lesões desportivas dividem-se em dois grandes grupos – traumáticas e resultantes de más práticas. Se conseguirmos corrigir as más práticas, estaremos a reduzir uma percentagem muito significativa de lesões.”
–, que aconselham exercícios para evitar lesões no joelho, dirigindo-se a crianças e adolescentes.
“É necessário agir e de forma contínua. Se forem implementados aquecimentos de cinco ou dez minutos, isso levará ao equilíbrio muscular e à redução do risco de lesões”, exemplifica Thomas Patt. Segundo Henrique Jones, membro do board da ESMA e também um dos impulsionadores da campanha “ACL Prevention for All”, “pretende-se levar este programa a escolas, instituições desportivas, associações regionais, clubes e federações, para que as suas mensagens de prevenção cheguem aos jovens desportistas de toda Europa”.
Campanha europeia de prevenção de lesões do LCANa última preleção, o Prof. Thomas Patt, vice-chairman da European Sports Medicine Associates (ESMA), uma secção da European Society of Sports Traumatology, Knee Surgery and Arthroscopy (ESSKA), vai apresentar a campanha “ACL Prevention for All”. Como explica o ortopedista neerlandês, este projeto tem como principal objetivo incentivar a prática de exercícios físicos que permitem prevenir lesões, particularmente do ligamento cruzado anterior (LCA). Para tal, foram criadas duas figuras de animação – o Esmi e a Esmily DR
Megapróteses da anca e do joelho: a “panaceia” para grandes defeitos ósseos?
isso, são procedimentos extremamente exigentes para o cirurgião do ponto de vista técnico”, admite João Paulo Fonseca de Freitas.
Megapróteses em patologias traumáticas e infeciosas
Sobre a colocação de megapróteses da anca e do joelho em doentes com patologia traumática falará o Prof. Luis Ramos Pascua, diretor do Serviço de Cirurgia Ortopédica e Traumatologia do Hospital Universitário 12 de Octubre, em Madrid. Este es pecialista começa por notar que as megapróteses “são modulares, o que permite fazer correções e adaptar às necessidades do momento durante cirurgia, intraoperatoriamente”.
Apesar das vantagens, as megapróteses tam bém estão associadas a complicações. “No caso da anca, as mais frequentes são as luxações, mas há mais, tanto ao nível da anca como do joelho, entre as quais infeções, fraturas periprotésicas, desmontagens, mobilizações e outras”, descreve Luis Ramos Pascua.
Esta é a pergunta que dará mote à discussão na mesa-redonda conjunta da Sociedad Española de Cirugía Ortopédica y Traumatología (SECOT) com a Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT). Em destaque estará o recurso a megapróteses da anca e do joelho como solução para defeitos ósseos causados por tumores, traumatismos ou infeções.
Como explica o Dr. Francisco Baixauli García, secretário-geral da SECOT e diretor do Serviço de Cirurgia Orto pédica e Traumatologia do Hospital Universitário e Po litécnico La Fé, em Valência, “as megapróteses surgiram como solução para reconstruir de feitos após ressecção de tu mores ósseos”. Entretanto, a técnica evoluiu e, atualmente, estas próteses também se uti lizam como solução para outros tipos de defeitos ósseos.
“Em vez de lhes chamarmos próteses tumorais, demos o nome de megapróteses, devido ao seu grande tamanho, utilizando-as para corrigir grandes defeitos ósseos. Recorre-se a esta aborda gem, sobretudo, em casos de traumatismos e tumo res ósseos, mas também de infeções ou quando não existe stock ósseo suficiente para a reconstrução convencional”, resume Francisco Baixauli García.
Ideias principais das entrevistas em vídeo com os oradores da sessão
O Dr. João Paulo Fonseca de Freitas vai falar sobre as megapróteses da anca (na primeira parte da sessão) e do joelho (na segunda parte) em doentes com patologia tumoral. Segundo o ortopedista no Centro Hospitalar e Univer sitário de Coimbra, trata-se de “uma última esperança para situações muito complexas dentro da Ortopedia, permi tindo proporcionar qualidade de vida ao doente, sobretudo pela capacidade de locomoção”. Em situações aparentemente sem so lução, ou quando a amputação parece ser a única hipótese, a colocação de uma megaprótese “permite preservar o membro inferior e a capacidade do doente para fazer as suas atividades básicas com qualidade”, explica.
Estas próteses “são de grandes dimensões para substituírem quantidades consideráveis de osso removido, permitindo reconstruir as estruturas articulares”, clarifica o ortopedista. Embora a im plantação de megapróteses seja um desafio ao nível do joelho, a maior exigência encontra-se na região da bacia. “Estas são cirurgias morosas e complexas devido ao local anatómico onde se coloca a prótese, com grandes vasos, estruturas intrapélvicas e, por
Outra desvantagem das megapróteses é a sua “menor sobrevivência em relação às próteses con vencionais, tanto de anca como de joelho”, afirma o presidente cessante da SECOT. E concretiza: “Aos 20 anos, a taxa de sobrevivência da megaprótese é de 70%; aos 15 anos, ronda os 80% e, aos 10 anos, é de 90%. Face às próteses convencionais, a cada década, há uma percentagem inferior de sobrevi vência em cerca de 10%.” Além disso, “a realização correta do procedimento exige conhecimento e alguma experiência”.
Por sua vez, o Dr. Francisco Baixauli García abordará o papel das megapróteses na correção de defeitos ósseos decorrentes de patologias in feciosas. No caso da anca, o ortopedista alerta para uma dificuldade: “Quando o defeito ósseo na parte proximal do fémur é muito significativo, existem riscos de luxação, ou seja, de deslocação da pró tese.” No entanto, “geralmente, as megapróteses resultam sem problemas e existe um aval científico para a sua utilização, porque melhoram a qualidade de vida das pessoas”, esclarece.
Ao nível do joelho, as infeções relacionadas com a prótese são mais frequentes do que na anca. Além disso, “não são de descurar as dificuldades com a estabilidade do mecanismo extensor do joelho”, porque “a fixação da haste femoral distal é muito instável e tende a falhar bastante”, adverte o se cretário-geral da SECOT.
No final da primeira parte da mesa-redonda, Francisco Baixauli García vai apresentar e lançar para discussão um caso clínico complexo de me gaprótese da anca. Já no final da segunda parte, será Luis Ramos Pascua a dar o mote à discussão, depois de apresentar um caso clínico complicado de megaprótese do joelho.
Instabilidade da articulação acrómio-clavicular
Amesa-redonda organizada pela Sociedade Portuguesa do Ombro e Cotovelo (SPOC) incide sobre a instabilidade da articulação acrómio-clavicular, tendo com “pano de fundo” a lesão desportiva, tema central deste congresso. “Na traumatologia de origem desportiva, uma das situações mais prevalentes é a luxação acrómio -clavicular, que está associada não só ao desporto de contacto, mas também a traumatismos diretos relacionados com o ombro”, explica o Dr. Rui Claro, presidente da SPOC e responsável pelo Grupo de Patologia do Ombro do Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar Universitário do Porto/Hospital de Santo António.
A primeira preleção abordará as classificações, a avaliação radiológica e as alterações cinemáticas da luxação acrómio-clavicular, pelo Dr. Diogo Silva Go mes, ortopedista no Hospital de Vila Franca de Xira. De seguida, o Dr. Nuno Vieira Ferreira, coordenador da Unidade de Ortopedia e Traumatologia do Hospi tal Lusíadas Braga, discutirá a necessidade (ou não) de tratar cirurgicamente as lesões agudas. “Se, por um lado, temos evidência científica que alguns graus da Classificação de Rockwood, nomeadamente o IV, o V e o VI necessitam de tratamento cirúrgico e
que a maioria dos doentes com graus I e II necessita apenas de tratamento conservador; por outro lado, nas luxações de grau III, não existe consenso sobre qual o melhor tratamento”, sublinha Rui Claro.
Segue-se a preleção da Dr.ª Ana Catarina Ângelo, ortopedista no Hospital SAMS Lisboa, que vai fa lar sobre técnicas de ligamentopexia dos coraco -claviculares e dos acrómio-claviculares nas lesões agudas. Depois, o Dr. João Afonso, ortopedista no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, incidirá so bre a utilização da placa gancho nas lesões agudas, refletindo se deverá ser um método a abandonar. “É uma técnica relativamente fácil de executar e célere no tratamento, contudo, implica complica ções e, muitas vezes, uma segunda cirurgia”, avança o presidente da SPOC.
Ainda nesta mesa-redonda, a Dr.ª Maria João Leite, ortopedista no Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, vai discorrer sobre o estado da arte da ligamentoplastia nas lesões crónicas. Segue -se a apresentação do Dr. João Amaro, especialista em Medicina Física e de Reabilitação no Hospital -Escola da Universidade Fernando Pessoa, que vai discutir como reabilitar e quando regressar à prática desportiva. “Vamos apresentar recomendações e,
com a experiência dos palestrantes, mostrar o que de melhor se faz hoje em dia na abordagem à luxação acrómio-clavicular, do tratamento à reabilitação”, conclui Rui Claro. Pedro Bastos Reis
Multidisciplinaridade cirúrgica em sarcomas
Éeste o tema da mesa-redonda organizada pela Secção de Tumores do Aparelho Locomotor (STAL). “Muitas vezes, as cirurgias de sarco mas necessitam da colaboração de colegas das mais diversas especialidades, em particular da Cirurgia Geral, da Cirurgia Vascular e da Cirurgia Plástica”, realça o Dr. Joaquim Soares do Brito, coordenador da STAL, para justificar a pertinência do tema.
Os sarcomas podem surgir em qualquer região anatómica, “muitas vezes junto de estruturas no bres, como vasos, nervos, vísceras, reto, bexiga ou ureter”, o que implica um conhecimento cirúrgico e anatómico para além da Ortopedia. “As cirurgias de sarcomas são altamente exigentes e complexas, daí a escolha deste tema, para que possamos partilhar experiências com colegas de outras especialidades”, reitera o orto pedista no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte/ /Hospital de Santa Maria.
Na primeira preleção, a Prof.ª Vânia Oliveira, ortopedista no Centro Hospitalar Universitário do Porto/Hospital de Santo António, vai discutir o papel do cirurgião geral na ressecção de sarcomas. Segundo Joaquim
Soares do Brito, essa aborda gem “pode passar pela simples realização de uma colostomia no caso de um sarcoma pél vico de enorme volumetria, ou pela ressecção associada de vísceras intrapélvicas em conjunto com o sarcoma”. Já a intervenção do cirurgião vascular é particularmente útil “quando uma ressecção alargada exige o sacrifício de vasos de grande calibre, com a consequente necessidade de reconstrução através de bypass, seja com próte ses ou enxertos”. A contribuição desta especialidade será aprofundada na sessão pela Dr.ª Sandra Santos, or topedista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
A Prof.ª Vânia Oliveira e a Dr.ª Sandra Santos são as oradoras da sessão, juntamente com o Dr. Joaquim Soares do Brito
A terceira e última preleção será do Dr. Joaquim Soares do Brito, que vai falar sobre a colaboração com a Cirurgia Plástica em casos de sarcomas ósseos. “Se é verdade que conseguimos realizar reconstruções com próteses tumorais, noutras situações
optamos por reconstruções biológicas. Em qual quer uma das opções a estreita colaboração da Ortopedia com a Cirurgia Plástica poderá ser de terminante”, salienta. Além disso, “a intervenção do cirurgião plástico é necessária para a cobertura de defeitos após ressecção em sarcomas de partes moles”. Frequentemente, é necessário recorrer a re talhos pediculados ou livres em determinadas áreas anatómicas, “o que exige treino de microcirurgia, que os cirurgiões plásticos têm e, normalmente, os ortopedistas não”, remata o coordenador da STAL.
Pedro Bastos Reis11h00 13h00,
Sala C
Estado da arte em barras társicas
Nesse sentido, o também ortopedista nos Hospitais de Vila Nova de Gaia e Ma tosinhos do Grupo Trofa Saúde planeou uma sequên cia lógica de apresentações, a começar pela anatomia, que será abordada pela Dr.ª Marta Gomes (Hospital da Luz Arrá bida). Depois, a biomecânica será analisada pelo Dr. Miguel Brites Moita (Hospital CUF Santarém) e o diagn óstico e a clínica pelo Dr. João Vide (Hospital Par ticular do Algarve).
de Gaia/Espinho), seguindo-se a comunicação do Dr. João Teixeira (Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga) sobre a excisão da barra. Por sua vez, o Dr. Manuel Santos Carvalho (Hospital CUF Porto) vai abordar a osteotomia, e o Dr. Daniel Saraiva (Hospital da Prelada) a artrodese. “O tra tamento a adotar depende da idade do doente. Por norma, quanto mais novo for, mais tendência há para retirar a barra, deixando que o pé ga nhe flexibilidade e retome, quase por completo, à normalidade anatómica”, afirma Nuno Brito.
S
egundo o Dr. Nuno Brito, “as barras tá r sicas s ão um problema que atinge não só crian ças mas também adultos, nos quais, muitas vezes, o diagnóstico é feito tardiamente”. Por outro lado, os tratamentos disponíveis “ainda não estão perfeitamente definidos em termos de evidência, pelo que é importante discutir as diferentes possibilidades e os critérios que per mitem ao ortopedista tomar a melhor decis ão para cada doente”, justifica o coordenador da Secção para o Estudo da Patologia do Tornozelo e Pé (SEPTP).
8h30 13h00, Sala E
“A barra tá rsica surge de uma comunicação anormal entre dois ossos, que formam uma união que pode ser óssea ou fibro cartilag ínea. Sempre que nos aparece alguém com dor e rigidez no retropé, devemos pensar nesta patologia. Muitas vezes, as pessoas vivem anos sem se aperceberem da sua presença, que acaba por ser notada devido a algum trauma ou ao aumento da atividade física, justificando mui tos dos diagnósticos tardios”, alerta Nuno Brito.
Já no âmbito do tratamento, a via conservadora será a primeira a ser focada na sess ão pelo Dr. Ra úl Cerqueira (Centro Hospitalar de Vila Nova
Papel da Enfermagem
Na generalidade dos adultos, a excisão da barra não é tão eficiente “pelos anos de evolução da doen ça e pelo facto de o corpo já não estar em crescimento”. “Na maior parte destes casos, optamos pela artrodese/fixação da articulação”, refere o coordenador da SEPTP, frisando que as características da barra tá rsica e do doente também influenciam a escolha do tratamento. “Um doente com desalinhamento do retropé po derá , primeiro, ser submetido a osteotomia, que, em alguns casos, pode resolver o problema, sem necessidade de outra intervenção”, acrescenta Nuno Brito. Após uma conclusão apresentada pelo Dr. Luís Carvalho (Unidade Local de Saúde de Matosinhos) a sessão terminará com a discussão de vários casos clínicos levados pelo Dr. Manuel de Resende Sousa (Hospital da Luz Lisboa).
Marta Carreiroabordagem às lesões desportivas
Oprograma do 13.º Congresso da Associação dos Enfermeiros Portugueses de Ortopedia e Traumatologia (AEPOT) também segue a temática central do 41.º Congresso da SPOT, incidindo sobre o papel que os enfermeiros desem penham na abordagem às lesões desportivas, seja na prevenção, no tratamento ou na recuperação. “É um tema muito importante porque o desporto, do lazer à competição, assume um lugar cada vez mais preponderante na vida das pessoas. Por ou tro lado, não tem sido dada grande visibilidade ao papel da Enfermagem neste âmbito, apesar de o enfermeiro ser fundamental numa equipa multidis ciplinar”, introduz a Enf.ª Marisa Vicente, presidente da AEPOT e enfermeira no Spine Center do Hospital da Luz Coimbra.
Notando que existe “pouca especialização nesta área”, Marisa Vicente sublinha que o Congresso da AEPOT pretende ser um espaço formativo. Nesse sentido, a edição deste ano começa com um workshop de aplicação de bandas neuromus culares (9h00-10h30), ministrado pelo Enf.º Rúben Fernandes, do Centro Hospitalar e Universitário
na
de Coimbra (CHUC) e docente na Universidade de Leeds, no Reino Unido. Com demonstração prática, o formador vai explicar as situações em que estas bandas devem ser aplicadas.
Segue-se a mesa-redonda “A lesão desportiva –da prevenção à recuperação”, cuja primeira preleção será conduzida pelo Enf.º João Gonçalves (Centro de Medicina Desportiva do Porto e Autoridade Antido pagem de Portugal), que incidirá sobre a prevenção de lesões desportivas, destacando, por exemplo, o papel de um aquecimento adequado. Depois,
o Enf.º Rúben Fernandes volta a intervir, desta feita para discutir a intervenção da Enfermagem no tratamento e na recuperação da pessoa com lesão desportiva. Na preleção seguinte, o Enf.º Artur Caldas (Unidade Local de Saúde do Alto Minho/ /Hospital de Santa Luzia e Unidade de Cuidados na Comunidade de Melgaço) falará sobre a atuação dos enfermeiros em situações de urgência/emergência relacionadas com a prática desportiva.
“Os enfermeiros podem atuar nas fases de trata mento e de reabilitação, agindo de forma holística e tendo também em conta a componente psicológica do doente, sobretudo nos atletas de competição, que esperam uma recuperação rápida para voltar ao ativo”, sublinha Marisa Vicente. Quanto às si tuações de urgência/emergência, a presidente da AEPOT chama a atenção para os “casos de paragens cardiorrespiratórias nos desportistas de competi ção, aos quais a Enfermagem também tem de estar preparada para dar resposta”.
O 13.º Congresso da AEPOT terminará com um espaço dedicado ao esclarecimento de dúvidas e a reunião dos seus sócios. Pedro Bastos Reis
14h00 16h00, Sala A
Lesão do ligamento cruzado anterior em atletas com esqueleto imaturo
de reparação, sem esquecer as medidas preventivas e de reabilitação.
Pedro Bastos ReisPara explicar a pertinência do tema, o Dr. Filipe Lima Santos, young member at large da EFORT, chama a atenção para a prevalência das lesões do li gamento cruzado anterior (LCA) em Portugal. “São lesões bastante frequentes no nosso país, onde a prática desportiva, sobretudo de futebol e futsal, é muito comum. Esta condição afeta bastante a vida dos atletas, principalmente os que estão em fases mais iniciais de carreira, com enormes repercussões no seu futuro”, salienta o ortopedista no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho.
Referindo que, em termos terapêuticos, têm -se registado avanços nos últimos anos, o repre sentante nacional na EFORT destaca algumas mudanças na prática clínica. “Cada vez mais, avança-se para o tratamento cirúrgico em ida des mais jovens, o que tem sido possível graças aos desenvolvimentos nas técnicas cirúrgicas, nomeadamente as artroscópicas.”
Esses avanços estarão em evidência no Fórum EFORT, que tem como oradores especialistas nacionais e internacionais de referência, que vão discutir a melhor forma de abordar as lesões do LCA. “Os jovens optam, cada vez mais, por ativi
dades desportivas de competição e exigentes do ponto de vista físico. No entanto, as lesões e suas sequelas, nomeadamente do LCA, podem condicionar a performance destes atletas no futuro. Assim, os objetivos desta mesa-redonda passam por alertar para a realidade atual, criar consensos, bem como modificar e uniformizar metodologias de diagnóstico e tratamento das lesões do LCA nos desportivas jovens”, realça o Dr. Paulo Ribeiro de Oliveira, secretário-geral da SPOT e coordenador da Unidade de Joelho e Artroscopia do Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar Universitário de São João.
Melhorar resultados
Na primeira preleção, o Prof. Ricardo Bastos vai substituir o Prof. João Espregueira-Mendes, que, por imprevistos de última hora, não poderá estar no congresso, explicando como controlar a ro tação e melhorar os resultados na reconstrução do LCA. Para tal, o ortopedista vai apresentar a experiência da Clínica do Dragão, no Porto, no âmbito da investigação da recidiva nos jo vens com menos de 25 anos. “Na nossa clínica, inventámos e patenteámos o dispositivo Porto -Kness Testing Device [PKTD], que permite medir
a instabilidade durante a ressonância magnética [RM], perceber quais os doentes com grande ou pequena instabilidade rotatória e, por con seguinte, agir em conformidade”, refere João Espregueira-Mendes.
O especialista também se tem dedicado à investigação da morfologia óssea e a aprimorar a técnica cirúrgica para melhor controlar a rota ção. Aliando estas duas vertentes aos achados do PKTD, Espregueira-Mendes assegura que “o paradigma mudou completamente, registando -se uma diferença abissal nos resultados na população jovem”. “Em casos de grande insta bilidade rotatória, com fatores de morfologia óssea importantes para essa instabilidade e com uma medição superior a 15 mm de rotação no PKTD durante a RM, passámos a fazer duas plastias”, concretiza.
Prevenção e tratamento cirúrgico
Como salienta o Dr. João Pedro Oliveira, tendo em conta o aumento crescente da prática de desporto entre os mais jovens, é fundamental apostar na prevenção. “Atletas com 14 ou 15 anos já são treinados como se fossem profissionais, com um nível competitivo muito alto. Isso faz com
que a incidência da lesão do LCA seja elevada, com consequências para o futuro”, contextua liza o ortopedista no Centro Hospitalar e Uni versitário de Coimbra, que, na sua preleção, vai referir os diversos fatores de risco e o que fazer para evitar lesões.
Em particular, João Pedro Oliveira alerta para o risco de lesão do LCA nas mulheres, cuja prática desportiva tem vindo a aumentar significativamente. “Sabemos que as mulhe res jovens, em fase de alterações hormonais, estão mais sujeitas a estados inflamatórios generalizados, sendo que práticas desportivas muito intensas aumentam o risco de lesão”, afirma o ortopedista. Para o prevenir, é preciso compreender a morfologia e a estrutura física das atletas, tentando evitar a prática intensa de certas modalidades. “Deve-se também ter cuidado com o local e as condições de treino, nomeadamente quanto às sapatilhas utiliza das e à carga de esforço”, defende João Pedro Oliveira.
Em seguida, o Dr. Mário Vale, ortopedista no Hospital CUF Descobertas, em Lisboa, vai discutir se o LCA pode cicatrizar sem cirurgia. “Nas crianças, coloca-se sempre o dilema entre escolher o tratamento conservador, que evita o risco de complicações associadas à fase de crescimento, ou o tratamento cirúrgico, que reduz o risco de novas lesões articulares devi das à instabilidade”, introduz o preletor.
A abordagem não cirúrgica consiste em fisioterapia e coloca ção de ortóte ses. “Sa bemos que o LCA tem condições biológicas para cicatrizar, mas também sabemos que a maioria dos casos são de rutura completa e os sintomas de instabilidade persistem após o tratamento conservador”, sublinha Mário Vale. Por isso, “deve-se individualizar a deci são de tratamento com base nos sintomas, nas lesões associadas e, sempre que indicado, utilizar técnicas cirúrgicas que reduzam o risco de perturbação do crescimento da criança”, conclui o ortopedista.
Reparação cirúrgica
De acordo com o Dr. Manuel Vieira da Silva, co-chair do Fórum EFORT, “houve uma fase em que se optava pela sutura, e não pela re construção cirúrgica, no tratamento da rutura do LCA”. Contudo, “os resultados iniciais fo
ram desanimadores”, pelo que essa técnica perde u relevância, o que tem vindo a mudar nos últimos anos. “Neste momento, há um res surgir da reparação do LCA, mas com novos conceitos, métodos, tecnologias e materiais. Particularmente nas crianças, caso este pro cesso tenha um bom resultado, será a solução ideal para quem sofre lesão no LCA”, refere o presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo do Joelho e da Sociedade Portuguesa de Artroscopia e Traumatologia.
Esta mudança de paradigma será abordada com mais detalhe pelo Dr. Manuel Mosquera, ortopedista em Bogotá, na Colômbia, que vai discorrer, sobretudo, sobre as indicações e técnicas para reparação cirúrgica do LCA. “Em todos os doentes com lesão na categoria Sher man 1 e bom remanescente, tenham esqueleto maduro ou imaturo, não faço reconstrução do ligamento, mas sim reparação”, indica o ex-presidente da Sociedad Latinoamericana de Artroscopia, Rodilla y Deporte, reforçando que “o remanescente deve estar em boas con dições, com o tecido de boa qualidade”. Ou tro tratamento que pode ser considerado é a “utilização de suturas de alta resistência, nomeadamente com recurso a implantes rea bsorvíveis”.
Quanto às complicações associadas à re paração do LCA, Manuel Mosquera alerta para as lesões do menisco, nomeadamente na raiz lateral e posterior, bem como as lesões na cartilagem articular e no côndilo femoral, medial ou lateral, sem esquecer as patologias ligamentares e do canto posterolateral do joe lho. Para prevenir essas lesões, o ortopedista colombiano salienta a importância de uma “boa reabilitação, com um tempo prudente de cicatrização”.
Vincando que “os enxertos não garantem a mesma vascularização nem a mesma pro priocetividade”, Manuel Mosquera conclui que “é fundamental recuperar o LCA original”.
“Se existir remanescente para reparar, há que fazê-lo”, recomenda.
Personalizar o protocolo de reabilitação
Após o tratamento das lesões do LCA, a reabilitação assume um papel-chave, devendo o protocolo ser adaptado mediante a idade da criança. Quem o afirma é o Dr. Gonçalo Borges, fisiatra no Hospital da Prelada, no Porto, explicando que, ao contrário da reabilitação no adulto, cuja principal preocupação é o desenvolvimento da estrutura muscular, da força e da tenacidade do músculo, na criança, a principal preocupação prende-se com o apoio muscular e os mecanismos de proprioceção. “Na fase de reabilitação, é muito mais importante preparar a criança para um mecanismo de defesa da estabilidade do joelho, do que preocupar-nos muito em fortalecer o músculo”, aconselha o fisiatra.
Comentários em vídeo dos moderadores e palestrantes do Fórum EFORT
Para tal, é necessário que a criança coloque em prática “uma variedade de exercícios que têm por base o equilíbrio”, nomeadamente saltar à corda, subir e descer degraus, ou fazer movimentos de instabilidade que criem estabilidade na paragem. Nas crianças, estes protocolos de reabilitação duram “cerca de seis meses, um tempo superior ao adulto”. Por isso, como sublinha Gonçalo Borges, “o envolvimento dos pais é crucial, nomeadamente para explicar os objetivos do programa de reabilitação, alertar para as complicações e criar motivação na criança para que esta adira a um programa que é longo e cansativo”.
Dr. Filipe Lima Santos Dr. João Pedro Oliveira Prof. Ricardo BastosAbordagem do tromboembolismo venoso em Ortopedia
diagnóstico, o cirurgião vascular evidencia o papel dos métodos imagiológicos para identificação de trombo endovenoso, acrescentando que “a eco grafia é o método menos invasivo, amplamente difundido e com a melhor relação custo-benefício”.
No que respeita ao tratamento do TEV, a hipo coagulação é a “pedra basilar”, incluindo várias alternativas – heparinas, antagonistas da vitamina K e os mais recentes anticoagulantes orais diretos. “Nos doentes com contraindicação temporária para hipocoagulação, pode-se considerar a inser ção de filtros na veia cava inferior e, nos casos de tromboses venosas com envolvimento do setor ilíaco, a trombólise ou a trombectomia mecânica percutânea poderão ser opções recomendáveis.”
Guidelines e consensos internacionais
Na
Diana VicenteAmesa-redonda tentará responder às prin cipais dúvidas sobre “uma das mais temi das complicações da cirurgia ortopédica e traumatológica, os fenómenos trom boembólicos”, como refere o Prof. Nuno Neves, coordenador do Serviço de Ortopedia do Hospital CUF Porto. No entanto, “há poucas certezas quanto ao que se pode fazer para prevenir e reconhecer os casos de tromboembolismo venoso [TEV] no contexto da Ortopedia”. Outra razão que levou a debater esta temática no congresso deve-se ao facto de “um painel de consenso internacional ter emitido recomendações muito diferentes das prin cipais guidelines atuais”, explica o moderador e organizador da sessão.
Na primeira preleção, o Dr. João Paulo Sousa, di retor do Serviço de Ortopedia do Hospital Particu lar do Algarve, vai apresentar um ponto de situação do TEV em Ortopedia e Traumatologia. “Habitualmente, o tromboembo lismo dos membros inferiores pode evoluir e desencadear tromboembolismo pulmo nar, que pode ser fatal, mas existem estratégias para diminuir essa probabili dade”, afirma. O ortopedista refere-se a “medidas médicas e de mobilização precoce do doente”. No entanto, atualmente,
discute-se “por que razão se deve utilizar cada uma das possibilidades, nomeadamente farmacoló gicas, em que situações, em que patologias e em que doentes”.
Além disso, os doentes não têm todos o mesmo risco de TEV, pelo que “há casos nos quais não se justifica fazer profilaxia, porque essa abordagem também tem riscos”, esclarece João Paulo Sousa. Nesse sentido, o ortopedista destaca a necessi dade de “conversar com o doente para identificar as suas características que implicam risco de TEV e os fatores que podem levar à introdução de medidas profiláticas”. Por outro lado, após a cirurgia orto pédica, “é muito importante incentivar o doente a realizar os exercícios de mobilização que consiga”.
Diagnóstico e tratamento
Como reconhecer e tratar o TEV é o foco da segunda preleção, do Dr. José Carlos Vidoedo, cirur gião vascular no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. “A identificação atempada, com a instituição de tratamento adequado, é crucial para diminuir as sequelas do tromboembolismo. Também é importante ter um baixo limiar de suspeição, pois, na maioria das vezes, a clínica de trombose venosa é discreta”, afirma o prele tor. Quanto aos meios auxiliares de
Em seguida, a Dr.ª Teresa Abegão e Dr. Carlos Cabrita, internistas no Centro Hospitalar Univer sitário do Algarve/Hospital de Faro, vão discutir as recomendações atuais do American College of Chest Physicians (ACCP/Chest) para a profi laxia do TEV. “Estas são as recomendações em vigor, nas quais se sustentam as orientações e normas clínicas em Portugal”, comenta o Prof. Nuno Neves.
Com enfoque nas recomendações publicadas este ano pelo International Consensus Meeting on Venous Thromboembolism (ICM-TVE), que trazem algumas modificações relativamente às guidelines do ACCP/Chest, a última preleção, do Dr. Eurico Lisboa Monteiro, vai incidir sobre uma possível mudança de paradigma. “Há dire trizes diferentes, quer da American Academy of Orthopaedic Surgeons, quer do National Institute for Health and Care Excellence [NICE], ao nível europeu. No entanto, não são completamente uniformes”, refere o coordenador da Unidade de Anca e Bacia e da equipa de Ortopedia de Atendimento Permanente no Hospital CUF Porto.
As maiores diferenças entre as linhas orien tadores americanas e europeias para a profila xia do TEV em Ortopedia relacionam-se com o fármaco a utilizar em primeira linha. “Na Europa, tende-se a privilegiar os agentes mais baratos, como as heparinas não fracionadas ou de baixo peso molecular. Nos Estados Unidos, além da Aspirina ® , recorre-se muito aos anticoagulantes orais diretos”, explica Eurico Lisboa Monteiro.
Quanto a Portugal, segundo o ortopedista, “o mais importante é identificar as diretrizes in ternacionais que podem ser extrapoladas para a realidade nacional”. Nesse sentido, “é necessário criar consensos”, nomeadamente no âmbito da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Trauma tologia, “para minorar o risco de TEV com um bom perfil de segurança”.
Conceitos para lidar com problemas frequentes em Ortopedia
Na mesa-redonda da Sociedade Suíça de Ortopedia/Swiss Orthopaedics, convidada deste congresso, serão discutidos conceitos para lidar melhor com problemas frequentes, nomeadamente a abordagem anterior direta na artroplastia total da anca, os desafios dos sarcomas ósseos e dos tecidos moles e o tratamento das fraturas proximais do úmero.
Diana VicenteAsessão começará com a intervenção, por videoconferência, do Prof. Olivier Borens, a propósito da história da Swiss Orthopae dics, à qual preside. “Logo no início do seu trajeto, esta sociedade foi capaz de desenvolver conceitos verdadeiramente importantes, envol vendo ortopedistas dos cantões alemães e fran ceses da Suíça. Consequentemente, foi criada no nosso país a AO Foundation, nos anos de 1950, com o principal objetivo de estandardizar o tratamento cirúrgico das fraturas e doenças ósseas”, explica o também responsável pela Unidade de Ortopedia e Traumato logia do Hospital Universitário de Lausanne.
Por outro lado, “graças a Maurice Edmond Müller”, orto pedista suíço, “foi desenvolvido o tratamento da artroplastia total, sobretudo da anca, paralelamente ao que aconteceu em França e In glaterra”. “O trabalho de precisão nos implantes é outra vertente importante da Ortopedia suíça, porque os nossos cirurgiões ortopédicos tiveram um acesso rápido à indústria dos implantes, permitindo desenvolver bons ins trumentos, como placas e parafusos, o que ajudou a AO Foundation a crescer ainda mais”, evidencia Olivier Borens.
Dando início aos temas da sessão, o Dr. Tobias Bühler, ortopedista no Centro Hospitalar Univer sitário de Balgrist, discutirá a abordagem anterior direta na artroplastia total da anca, os seus riscos e a gestão de complicações. Esta técnica “é domi nante na Suíça”, porque é a mais usada na artroplastia total da anca. “Quase 60% das abordagens são pela via anterior direta, que é mini mamente invasiva. Usamo-la em 95% dos nossos doen tes, mesmo nos idosos com fraturas da anca”, afirma o orador.
Uma das principais van tagens da artroplastia total da anca pela via anterior direta é a “reabilitação bastante simples e rápida, uma vez que os doentes conseguem suportar peso e não têm limitações de mobilidade”,
destaca Tobias Bühler. Contudo, há situações nas quais esta pode não ser a melhor solução, “nomeada mente para as pessoas com obesidade”. Além disso, “em alguns casos, a anatomia do fémur proximal não é adequada para a fixação da haste e tem de se recorrer à osteotomia”. No entanto, a maioria das complicações ocorre du rante a curva de aprendi zagem. “Adquirir expertise na técnica é crítico, pois os maiores problemas que podem surgir são as fraturas trocantéricas ou as fraturas do fé mur, que são bastante difíceis de tra tar pela via anterior”, sublinha o ortopedista.
Desafios dos sarcomas na Suíça
Em seguida, o Dr. Stéphane Cherix, ortopedista no Centro Hospitalar Universitário Vaudois, em Lau sanne, falará sobre as dificuldades na gestão dos doentes com sarcomas ósseos e dos tecidos moles na Suíça, a começar pela necessidade de tratamento por uma equipa multidisciplinar. Depois, o país “tem um sistema político e médico não centralizado, por isso, ainda não há a necessária coordenação entre os hospitais e as diferentes regiões no tra tamento dos doentes, o que gera um grande problema quando se lida com doenças raras como o sarcoma”, explica o orador. Ao que acres centa: “Este sistema acaba por impactar os tratamentos, espe cialmente porque os centros de referência do sarcoma seguem certificações diferentes e nem todos estão certificados.”
Portanto, segundo Stéphane Che rix, “é necessário desenvolver as redes existentes, se possível juntando-as, para centrali zar a resposta e aumentar a qualidade dos cuidados
de saúde”. No entanto, a Suíça tem a vantagem de “dispor de todas as ferramentas necessárias para tratar os sarcomas de forma apropriada, porque se consegue aceder ao melhor das modalidades imagiológicas, há excelentes boards de sarcoma e acesso a todos os protocolos terapêuticos e a novos fármacos, sendo que alguns foram mesmo desen volvidos no país”, onde estão sedeadas algumas das maiores empresas da indústria farmacêutica.
Tratamento das fraturas do úmero
A última intervenção será a do Dr. Christian Spross, ortopedista no Hospital do Cantão St. Gallen, cujo foco é o conceito suíço de tratamento das fratu ras proximais do úmero. “Tentámos encontrar uma forma de implementar um algoritmo que fosse o mais possível baseado na evidência científica e di recionado especificamente para o doente. Há mais de cinco mil papers sobre fratura proximal do úmero e, para cada tratamento, é possível encontrar um artigo que lhe dá o necessário suporte científico”, introduz o preletor.
Essa abordagem tem sido bem-sucedida. “Mais de 80% dos doentes estão bastante satisfeitos e também foram encontrados muito bons resulta dos com o tratamento conservador em doentes bem selecionados”, indica Christian Spross. Com algoritmos terapêuticos baseados na evidência científica, “tenta-se escolher o tratamento mais adequado para o doente concreto”. Segundo a experiência deste ortopedista suíço, “70% das fraturas proximais do úmero podem ser tratadas de forma conservadora com ótimos resultados, 30% são tratadas cirurgicamente, 20% através de osteossíntese e 10% com artroplastia primária, sobretudo a artroplastia total invertida”.
12h30 13h00, Sala D
Os “dez mandamentos” da gestão do tumor ósseo
Intitulada “Os dez mandamentos da gestão do tumor ósseo: o primeiro, não matarás”, a conferência da Sociedad Española de Cirugía Ortopédica y Traumatología (SECOT) será pro ferida pelo Prof. Luis Ramos Pascua, chefe do Serviço de Cirurgia Ortopédica e Traumatolo gia do Hospital Universitário 12 de Octubre, em Madrid, e secretário-geral da SECOT. O preletor admite que, com esta escolha, teve o intuito de “provocar, mas também chamar a atenção para um problema complexo”. “Os tumores ósseos são pouco frequentes, mas, se não forem alvo de uma boa gestão, podem ser cometidos erros com consequências muito graves, nomeadamente ao nível do tratamento, resultando em recidiva do tumor, risco de amputação ou redução da sobre vivência do doente”, alerta o também presidente cessante SECOT.
Entre os tumores ósseos que exigem maior preocupação, Luis Ramos Pascua realça o con drossarcoma, o osteossarcoma e o sarcoma de Ewing. Os dois últimos, em particular, geram muita apreensão, uma vez que afetam, sobretudo, doentes jovens, não sendo possível curar todos os casos. “A sobrevivência a cinco e a dez anos é de 60 a 70%. Se é verdade que, há 30 anos, estas percentagens eram mais baixas, atualmente, es tão estanques”, lamenta o ortopedista.
Nesse sentido, “é fulcral diagnosticar e tratar rapidamente estes tumores”. Um dos primeiros sinais de alerta é uma dor contínua e cada vez mais intensa, que deve espoletar o diagnóstico com
radiografia simples e, depois, ressonância mag nética. “Não podemos saltar passos. Em primeiro lugar, é preciso suspeitar da doença, com base nos dados clínicos e de imagem, e depois confirmá-la, geralmente através de biópsia, encaminhando o doente para um centro especializado”, explica Luis Ramos Pascua.
Quanto ao tratamento, o ortopedista nota que, “até há alguns anos, a maioria dos doentes tinha de ser alvo de amputação”, caso o tumor ósseo fosse em algum membro. Graças à quimioterapia e outras terapêuticas adjuvantes, esse cenário coloca-se cada vez menos e verificou-se diminuição da mortalidade. Luis Ramos Pascua também des taca os avanços no tratamento médico e cirúrgico dos tumores ósseos, nomeadamente os estudos imagiológicos, os novos materiais protéticos e as novas terapêuticas personalizadas.
Ao nível cirúrgico, “os procedimentos também melhoraram, com avanços na impressão 3D, na navegação cirúrgica e na realidade virtual”. No entanto, “continua a ser essencial estar muito alerta para os tumores ósseos, utilizando todos os meios à disposição e trabalhando rapidamente até à biópsia e à referenciação do doente”, remata o secretário-geral da SECOT.
16h30 17h00, Sala D
Como tratar a infeção após osteossíntese
OProf. João Antônio Matheus Guimarães, ortopedista no Rio de Janeiro, vai proferir a conferência da Sociedade Brasileira de Orto pedia e Traumatologia (SBOT), intitulada “Quando manter o implante em caso de infeção após osteos síntese?”. O objetivo principal é “apresentar o que há de novo no tratamento das infeções que ocorrem após uma fixação de fratura, com uma visão da traumatologia e não só da artroplastia”, ou seja, com “a perspetiva do ortopedista que trabalha o trauma ortopédico”.
Segundo o presidente-eleito da SBOT, “a infeção pós-osteossíntese é um problema muito grande para qualquer ortopedista que trata fraturas”. Acresce que os infeciologistas, normalmente, pe dem a retirada do implante para tratar a infeção, o que traz problemas aos ortopedistas. “Geralmente,
O Prof. João Antônio Matheus Guimarães explica os fatores que podem desencadear infeção após osteossíntese
o tratamento da infeção é cirúrgico. Con tudo, uma prótese de anca ou de joelho tem de durar 30 anos e, se a retirar mos, cria-se um problema gravís simo, implicando a necessidade de revisões”, explica o ortopedista. Ao que acrescenta: “É um problema de difícil solução, pelo que a interação entre o ortopedista e o infeciologista tem de ser cada vez mais aprimorada, para que possamos melhorar a qualidade do tratamento dos nossos doentes”, destaca João Antônio Matheus Guimarães.
Há situações em que é possível manter o im plante, mas “é fundamental que o ortopedista que operou a fratura não ignore os sinais precoces de infeção”. Se necessário, o ortopedista deve atuar de imediato, “fazendo desbridamento, biópsia, colheita de material para isolar o germe e, depois, tratar adequadamente a possível infeção”, acon selha o especialista.
Se os primeiros vestígios de infeção não forem detetados, e se for usado um antibiótico de forma
empírica, provavelmente, “perder-se-á a hipótese de salvar o implante, porque a infeção vai continuar latente e o metal da prótese propicia a aderência de bactérias, formando aquilo a que se chama de biofilme”, alerta João Antônio Matheus Gui marães. É que, “com o implante, dificilmente um antibiótico e as de fesas do doente vão combater a infeção, porque as bactérias ficam, de certa forma, protegidas”.
Em conclusão, “é crucial que a Infeciologia tra balhe em conjunto com a Ortopedia no tratamento das infeções após osteossíntese, numa abordagem multidisciplinar”, sublinha o presidente-eleito da SBOT. Além disso, nos últimos anos, “têm surgido novidades na literatura sobre boas práticas inter nacionais, identificando, por exemplo, os melhores antibióticos a escolher e que tipo de tratamento adotar”. Diana Vicente
Melhor formação para os jovens ortopedistas
Apresentar os projetos de formação para os recém-especialistas de Ortopedia, refletir sobre o impacto da pandemia de COVID-19 na transição do internato para a especialidade e traçar caminhos para o futuro são os grandes objetivos da sessão promo vida pela Comissão de Jovens Especialistas da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Trau matologia (JESPOT). Esta sessão marca o fim do mandato da atual coordenação, composta pelo Dr. André Faria Couto (zona norte), pelo Dr. Marcos Carvalho (zona centro) e pela Dr.ª Ma ria Miguel Carvalho (zona sul). Portanto, tam bém será apresentado o balanço do mandato, seguindo-se a eleição da nova coordenação. Antes disso, o Dr. André Faria Couto vai descrever os projetos formativos da JESPOT, com especial enfoque na bolsa para fellowship internacional atribuída anualmente. “Os can didatos devem indicar o país e o hospital onde querem fazer formação, apresentado uma carta de aceitação. A coordenação da JESPOT analisa as candidaturas e atribui a bolsa, no valor de 2500 euros, ao candidato que cumpra mais requisitos”, explica o orto pedista no Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto.
O vencedor da última bolsa foi o Dr. Bruno Direito Santos, ortopedista no Hospital de Braga, que realizou o fellowship entre janeiro e fevereiro de 2021, em Espanha. O ortopedista vai apresentar um balanço desta experiên cia, revelando não só as aprendizagens, mas também os desafios enfrentados, nomea damente pelo impacto da pandemia de CO VID-19. Aliás, nos últimos dois anos, esse foi um problema transversal a toda a Medicina, com consequências mais evidentes para os internos e os jovens especialistas. “Muitos internos não tiveram acesso à formação que seria normal sem cenário de pandemia, pelo que talvez tenham de compensar a formação em falta em determinadas áreas”, adverte An dré Faria Couto.
No final da sessão, será apresentado o ba lanço do mandato da atual coordenação da JESPOT, evidenciando-se os projetos que ficam para o futuro. A esse respeito, André Faria Couto espera que a próxima coordenação continue a apostar nos fellowships, alargando -os, se possível, e noutras ofertas formativas. O responsável também apela a uma participa ção mais ativa dos jovens ortopedistas. “O prin cipal objetivo da JESPOT é ajudar na transição
entre o internato e o início da especialidade, para que os jovens ortopedistas possam traba lhar e tomar decisões de forma mais indepen dente. A JESPOT está em fase de crescimento, pelo que todas as ideias e opiniões são bem -vindas”, conclui o coordenador da zona norte. Pedro Bastos Reis
11h00 12h30, Sala A
Abordagem multidisciplinar às infeções periprotésicas
ortopédica nacional a nova definição interna cional de infeção periprotésica, elaborada no âmbito da European Bone and Joint Infection Society (EBJIS), em 2021, e na qual tive a honra de estar fortemente envolvido”, introduz o Prof. Ricardo Sousa, coordenador da SEIO
“A nova definição alcança o principal objetivo a que se propôs – aumentar a sensibilidade para o diagnóstico, evitando-se os diagnósticos er rados associados às definições mais antigas de infeção periprotésica”, acrescenta o também ortopedista no Centro Hospitalar Universitá rio do Porto/Hospital de Santo António (CHU Porto/HSA). A nova definição da EBJIS será apresentada na sessão pelo Dr. André Grenho, ortopedista no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central/Hospital Curry Cabral.
último de uma equipa multidisciplinar é “oferecer as melhoras hipóteses de cura a estes doentes frequentemente complexos”.
De seguida, o Dr. Hugo Cruz, microbiologista no CHUPorto/HSA, vai falar sobre o papel dos achados microbiológicos na abordagem das infeções periprotésicas, uma “pedra angular” do tratamento antibiótico. “Julgamos essencial criar um espaço de diálogo entre ortopedistas e microbiologistas para discutir as especificida des do diagnóstico microbiológico das infeções ortopédicas e encontrar, com esclarecimentos e compromissos de parte a parte, a melhor estra tégia possível”, defende Ricardo Sousa.
Asessão organizada pela Secção para o Es tudo da Infeção Osteoarticular (SEIO) vai centrar-se nas infeções periprotésicas. “O principal objetivo é apresentar à comunidade
11h00 12h30, Sala B
Antes dessa intervenção, será abordada a importância da equipa multidisciplinar no tratamento das infeções periprotésicas, na preleção do Dr. André Carvalho, ortopedista no CHUPorto/HSA. “Não faz sentido exigir ao ortopedista que saiba abordar todas as verten tes médicas e laboratoriais necessárias para o correto tratamento destas infeções”, sublinha o coordenador da SEIO, notando que o objetivo
Na última preleção, a Dr.ª Bárbara Flor de Lima, infeciologista no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, na Amadora, vai debruçar-se sobre a otimização da terapêutica antibiótica. “Certas opções cirúrgicas não devem ser selecionadas se não houver sensibilidades a antibióticos es pecíficos. Por outro lado, é necessário ajustar a antibioterapia à ciru rgia que foi realizada. Esta dicotomia é exemplo da necessidade de uma equipa multidisciplinar para prevenção e tra tamento das infeções periprotésicas”, conclui o coordenador da SEIO. Pedro Bastos Reis
Intervenções nos membros superiores
do doente idoso
Já na reta final do congresso, o Grupo de Estudo de Ortopedia Geriátrica (GEOGER) organiza uma sessão centrada em intervenções orto pédicas nos membros superiores, nomeadamente no ombro, na população geriátrica. Como explica o Dr. Carlos Evangelista, coordenador do GEOGER e da Unidade de Ortopedia Geriátrica do Hospital de Sant’Ana, na Parede, “para a mesma doença, a abordagem difere de doente para doente, con soante a sua idade”.
A sessão começará com uma apresentação do Dr. João Sarafana, ortopedista no Hospital de Sant’Ana, sobre luxação do ombro na geriatria. “Num doente jovem com luxação primária do ombro, podemos fazer uma imobilização até um mês, mas, numa pessoa com 70 ou 80 anos, isso é impensável para o seu dia-a-dia, pelas questões de equilíbrio e não só”, exemplifica Carlos Evangelista.
Em seguida, o Dr. Rodrigo Lopes, também ortopedista no Hospital de Sant’Ana, abordará o papel da artroplastia do ombro no tratamento das fraturas. Como esclarece o coordenador do GEOGER, “numa pessoa jovem, pode-se pensar numa abordagem com osteossíntese, ao passo
que, nas pessoas de idade mais avançada, com osteoporose e défice muscular, existe muita in capacidade associada que limita o procedimento”.
Por sua vez, o Dr. André Ferreira, também do Hospital Ortopédico de Sant’Ana, incidirá na interven ção em casos de fratura distal do rádio, seguindo-se a apresenta ção do Prof. Fernando Fonseca, diretor do Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar e Universi tário de Coimbra, alusiva ao tópico “Porque operamos o ombro”. “O nosso objetivo é sempre a rápida recuperação e a integração do indivíduo na sociedade, evitando a imobilização prolongada, até porque muitos doentes idosos andam com o auxílio de canadianas, pelo que necessitam dos membros superiores aptos a serem utilizados”, sublinha Carlos Evangelista.
O coordenador do GEOGER espera que esta sessão seja mais um alerta para os cuidados especiais que os idosos requerem, porque têm
particularidades diferentes da restante popula ção. E conclui com um exemplo: “Habitualmente, 80% das fraturas do punho eram tratadas com gesso. Hoje em dia, podemos fazer uma osteos síntese mais rápida e, ao fim de 15 dias, libertar a mão da pessoa. O mesmo aplica-se nas fraturas do colo do úmero, pelo que o essencial é que o cirurgião seja tecnicamente diferenciado e men talmente preparado para tratar o doente idoso.” Marta Carreiro
12h30, Sala C
Formação do Internato de Ortopedia em análise
Asessão organizada pela Comissão de Inter nos da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (CISPOT) tem como principal finalidade esclarecer dúvidas sobre as novidades do Internato Complementar de Ortopedia, levantando o debate em redor de questões como o currículo cirúrgico e académico, a diferença entre hospitais centrais e periféricos ou o futuro da formação e do exame final de especialidade. “Há duas vertentes principais relativamente ao internato: o nível de preparação do interno para se tornar especialista e, antes disso, o cumprimento da grelha de avaliação do internato, que tem de obedecer a determinados checkpoints cirúrgicos e académicos”, introduz o Dr. Filipe Castelo, coordenador da CISPOT na zona centro e interno de Ortopedia no Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira (CHUCB).
“Como devo organizar o meu internato?” e “Como devo construir o meu currículo?” são as duas ques tões-chave da preleção do Dr. João Gancho, CEO da Xerpa, que vai, precisamente, falar sobre as po tencialidades desta aplicação móvel criada por si. “É uma app que permite, entre outras funcionalida des, atualizar a base de dados cirúrgica e partilhá-la com outros utilizadores. No fundo, pretende-se que seja um apoio na organização da atividade clínica, formativa e científica durante o internato”, sintetiza Filipe Castelo.
8h30
11h00 12h30, Sala D
De seguida, discutir-se-á se existem diferenças de for mação entre diferentes hos pitais. O Dr. Eduardo Salgado, ortopedista no CHUCB, abor dará a realidade dos hospitais de nível II, enquanto o Dr. Diogo Chorão Constantino, ortope dista no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Cen tral, incidirá sobre a formação nos hospitais de nível I. “Existe a ideia de que, nos hospitais mais pequenos, os internos fazem mais cirurgias, mas com menos diferenciação. Por outro lado, nos hospitais de maior dimensão, os inter nos podem ter menos opor tunidades cirúrgicas, mas mais possibilidades de realizar cirurgias diferenciadas e multidisciplinares”, reflete Filipe Castelo. “Os preletores vão discorrer sobre estas diferenças, explicando que estratégias podem ser seguidas para ultrapassar as dificuldades, aproveitando as vantagens de cada tipo de hospital”, acrescenta.
Por fim, o Prof. João Gamelas, presidente-eleito da SPOT, e o Dr. José Montes, presidente do Colé
gio da Especialidade de Ortopedia da Ordem dos Médicos, vão responder às dúvidas dos internos da assistência quanto ao futuro da formação e do exame final de especialidade. “É do interesse dos colegas que vão realizar exame em 2023 esclarecer todas as suas questões, para que possam orientar o estudo da melhor forma e saber com o que po dem contar”, remata o representante da CISPOT. Pedro Bastos Reis
Indo ao encontro do tema central deste congresso, a Associação Portuguesa de Fisioterapeutas [APFISIO] organizou uma sessão com duas mesas -redondas principais – uma dedicada aos fatores de risco e à prevenção das lesões desportivas e outra centrada na reabilitação e no return-to-play”, explica Ricardo Dias, membro do Conselho Diretivo Nacional da APFISIO, fisioterapeuta (Ft.) na Federação Portu guesa de Futebol e docente no Instituto Politécnico de Castelo Branco.
Ainda antes das duas mesas-redondas, o Ft. Diogo Santana (Federação Portuguesa de Rugby) vai dis correr sobre as normas e orientações clínicas relati vas à concussão cerebral em atletas. “Este tema tem vindo a ganhar importância não só nas instituições desportivas, mas também na formação das equipas médicas e técnicas”, justifica Ricardo Dias. Segue-se a intervenção da Ft.ª Raquel Trindade (mestre em dis funções musculoesqueléticas e atleta de BTT) sobre a dor não traumática no atleta. “A Fisioterapia tem atuado e desenvolvido muito conhecimento nesta área, particularmente na dor crónica, cuja abordagem não foi pensada diretamente para o desportista, mas que se aplica com bons resultados.”
Quanto à mesa-redonda sobre os fatores de risco e a prevenção de lesões, Ricardo Dias realça que, “independentemente da modalidade desportiva, é essencial gerir o risco de lesão”. Assim, a preleção do Ft. João Noura (docente na Escola Superior de Saúde Jean Piaget e no Instituto Politécnico do Porto) incidirá sobre os conceitos a clarificar em torno da prevenção. Seguem-se as palestras sobre fatores de risco e movement screening no atletismo, pelo Ft. David Oliveira (Clínica maisCARE e Federação Portuguesa de Atletismo); avaliação em Fisiotera pia no basquetebol, pela Ft.ª Ana Ferreira (Imortal Basket Club); e especificidades da Fisioterapia no trail running, pelo Ft. Pedro Almeida (docente na Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve e também trail runner).
Já na mesa-redonda dedicada à reabilitação e ao return-to-play, o Ft. Diogo Santos (Clínica FLEXUS e Federação de Ginástica de Portugal) começará por esclarecer o papel do fisioterapeuta enquanto educador em contexto desportivo. “Além de intervir no atleta, o fisioterapeuta deve tam bém desenvolver um conjunto de competências para ser um bom educador, podendo esclarecer e
encaminhar os atletas e restante equipa”, defende Ricardo Dias. Depois, a Ft.ª Sara Rosado (com prática clínica e formação em fisioterapia na saúde pélvica e uroginecológica) vai falar sobre a incontinência uri nária na mulher atleta. Os critérios de progressão e return-to-play na lesão dos Hamstrings nos futebo listas serão apresentados pelo Ft. Alexandre Estaca (Casa Pia Atlético Clube). A manhã terminará com uma “mesa aberta” de discussão com a assistência sobre a prática clínica dos fisioterapeutas em contexto desportivo.
Fisioterapia: da prevenção à recuperação da lesão desportivaCoordenadores da CISPOT (da esq. para a dta.): Dr. João Luís Silva (zona sul), Dr. Filipe Castelo (zona centro) e Dr. Pedro Balau (zona norte)