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8- MASSOLA, Maria Ester Azevedo, op.cit
É possível que as crianças meditem, mesmo sendo difícil, diz ROZMAN in GUIMARÃES, e isso só é possível com autodisciplina. A criança que medita cria uma autoimagem positiva, torna-se mestre de si mesma, ao perceber que conseguiu acalmar seu corpo, suas emoções e seus pensamentos, mantém o contato direto com o Eu verdadeiro, então, reconhece a sua personalidade, sua forma de interagir com o mundo, sem perder o sentido de unidade, de essência. 7
Existem vários métodos para a prática de meditação, e o sentar-se ereto, relaxado, imóvel, mantendo a atenção em um único foco (objeto de meditação), é o que há de comum entre eles, este objeto pode ser uma respiração, uma imagem, um som, uma palavra, um sentimento...o importante é manter-se concentrado no objeto escolhido durante um certo período de tempo.
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Enquanto medita, a criança desenvolve outro instrumento importante: a concentração, denominada em sânscrito de Dhārana, que é o primeiro passo, e a meditação, definida como Dhyāna, é o segundo.
Para crianças de 06 a 10 anos, já é mais fácil manter a mente atenta, adoram desafios, mesmo que sua mente não esteja completamente desenvolvida, como cita ROZMAN in GUIMARÃES. 8
Elas se relacionam através de seus próprios sentimentos, através da absorção inconsciente dos sentimentos dos outros, através da imitação dos adultos e de outras crianças, através de assimilação inconsciente de impressões e de seus cinco sentidos.
Daí a importância da concentração e até da visualização na meditação, envolver a audição, olfato, paladar e tato.
Como exemplo:
- Audição: sentados com as pernas cruzadas, mãos apoiados nas pernas, ouvir barulhos de pássaros, palmas, conversas distantes, buzinas, crianças sorrindo, alguém batendo palmas, barulho das ondas do mar;
- Olfato: dar para as crianças saquinhos com vários cheiros, pedir para fechar os olhos, distribuir os saquinhos e identificar através do cheiro, guardar na memória até compartilhar com o grupo. Trocar os saquinhos entre elas e repetir o exercício;
- Visão: observar na sala, 3 formas geométricas (quadrado, triângulo e círculo), sentar com os olhos fechados e mentalmente visitar o lugar onde os encontrou, abrir os olhos e conferir;
- Tato: em duplas, um aluno de olhos vendados e outro guiando. O guia conduz o amigo, direcionando a mão do companheiro para objetos interessantes, ou até mesmo, o professor coloca em uma caixa vários objetos e pede para o aluno que está com os olhos vendados identificá-los.
Os exercícios devem ser variados para manterem o interesse. Muitos são os jogos e exercícios que podemos utilizar para trabalhar o centramento com as crianças, porém, é necessário estar atento para perceber as necessidades delas.
Segundo MARASCA, para trabalhar meditação com as crianças, é interessante iniciar com exercícios externos, ou seja, de observação do ambiente e gradativamente se deslocam para o ambiente interior, esse tipo de exercício ajuda a aprimorar a concentração e a consciência do que nos cerca. Após esse trabalho com práticas mais externas introduzir os exercícios “internos”, que nos ensinam a lidar com os pensamentos dispersivos e sentimentos negativos e também a cultivar emoções positivas. 9
A verdadeira meditação só pode ser iniciada quando a criança é capaz de concentrarse, e para concentrar-se ela precisa acalmar o corpo e mente. Portanto é recomendado exercícios físicos, depois um exercício de concentração, seguido da meditação. A meditação não se ensina, ela é uma conquista individual.
Algumas técnicas para meditar:
1- “Filmadora na cabeça” – Exercício de observação e atenção do ambiente. Essa prática pode ser feito em qualquer lugar, mas o ideal é que se ofereça um local em contato com a natureza. Como fazê-lo: Sente-se em posição confortável e imagine que sua cabeça é uma filmadora. Em seguida, calmamente, comece a “filmar” tudo o que vê diante de você. Lembre-se de que uma filmadora não pensa naquilo que vê, apenas registra as coisas. Assim, se você vê uma árvore, por exemplo, não se ponha a julgar se é bonita ou feia nem se gostaria de subir em seus galhos. Apenas filme a árvore e nada mais. Procure olhar todas as coisas como se as visse pela primeira vez. Mesmo que seja alguém que você conhece não se distraia com pensamentos, nem sentimentos a respeito dessa pessoa. Apenas registre o que ela faz.
7- ROZMAN, in ibid.GUIMARÃES, Elaine, p.27. 8- ibid. ROZMAN, in GUIMARÃES, p.72. 9- MARASCA, Ivete Terezinha. TCC – curso livre de formação de instrutores de Yoga, p.32.
Continue sua observação por mais um ou dois minutos. Quando se familiarizar com o exercício poderá praticá-lo por mais tempo. Vire-se agora para o lado oposto e “edite” o que acabou de filmar contando a seu parceiro ou anotando todas as coisas que viu. Quando adquirir maior habilidade nesse jogo, passe a examinar as coisas mais detalhadamente. Observe por exemplo, cada folha de relva, cada fibra do tapete ou os pequeninos poros da pele de uma pessoa próxima. Existe a sua volta uma infinita riqueza de detalhes, olhar é tudo o que precisa fazer. Como variação desse exercício, você pode optar por um jogo de memória no quais diferentes objetos são arranjados numa bandeja que deve ser mostrada a um grupo de pessoas durante pelo menos um minuto.
Os participantes terão de lembrar-se do maior número possível de objetos que conseguiram “filmar”. 2- “Submarino amarelo” – Esse exercício é similar à filmadora na cabeça com exceção do fato de que agora, você terá “todo ouvido” em vez de “todo olhos”. Vai perceber como é espantosa a imensa variedade de ruídos que ocorre em torno de você e até mesmo dentro de você e se sentirá muito bem para ouvi-los.
Como fazê-lo: Ponha as mãos em concha sobre os olhos e imagine que está num grande submarino amarelo. Como submarinos que dependem do equipamento de sonar, sua única forma de receber informações do mundo exterior é por meio dos sons. E tal como sonares, que apenas registram os sons numa tela sua tarefa é registrar os sons sem pensar neles. Não reaja aos diversos tipos de som classificando-os de agradáveis ou desagradáveis, simplesmente ouça sem comentários. Você precisará de um parceiro nas duas fases seguintes desse exercício. Peça ao seu parceiro que toque um disco (por que não o yellow submarine dos Beatles?).Agora “ligue” seu sonar e deixe o som fluir dentro de você. Logo seu parceiro vai abaixar o volume até que mal se possa ouvir a canção e você terá de continuar concentrado no som, por mais baixo que esteja. Há também uma variação desse exercício: seu parceiro tocará uma série de canções em volume muito baixo e, em seguida, você deverá “editar” os nomes de todas elas. Na segunda parte do exercício, apenas sente-se confortavelmente e feche os olhos, se quiser. “Ligue” o sonar e preste atenção nos ruídos que vem do interior da sala (provocado por seu parceiro para que você os identifique). Quantos tipos de som você consegue ouvir? Amplie agora sua atenção além do recinto em que está. Que sons vêm de fora? Não se distraia com eles nem com os pensamentos que lhe provocam. Não perca tempo em julgar se os sons são agradáveis ou monótonos apenas deixe que venham e passem. Qual é o som mais baixo ou distante que pode ouvir? Na última fase do submarino amarelo, você deve voltar o sonar para si mesmo e ouvir a própria respiração. Fique tão calmo e quieto quanto possível e se não conseguir ouvir sua respiração torne-a mais intensa e escute o ar quando passa pelo nariz. Depois reduza aos poucos a intensidade dela e tente ouvir o som. Procure em seguida acompanhar o ritmo da sua respiração, que flui e reflui como as ondas sobre a areia da praia. ¹º
10- idem, p.p.32 e 33.
3-
“Meditando na Respiração”: o objeto da meditação é a respiração. Sentados com a coluna alinhada, em uma posição bem confortável, relaxe bem os ombros, os braços, as mãos. Suavize bem o rosto (pausa), observe a sua respiração (pausa). Vá somente acompanhando a sua inspiração e a sua expiração, sem interferir (pausa). Sinta a temperatura do ar entrando pelas suas narinas e a temperatura do ar saindo. Mantenha sempre a atenção na sua respiração. Caso se desconcentre, o que é normal acontecer, volte suavemente a se concentrar na sua respiração (pausa). Continue por alguns minutos seguindo o movimento do ar entrando e saindo de seu corpo suavemente (grande pausa – silêncio).
Quando for terminando este exercício, respire mais profundamente, movimente devagar o seu corpo, vá abraçando seus joelhos, descansando a cabeça entre eles... Ao término da meditação, perguntar aos alunos :como se sente? Foi fácil, mais ou menos ou difícil manter-se concentrado em sua respiração?¹¹
4“Meditando com a imagem”:
Sentados com a coluna ereta, numa posição confortável, respire algumas vezes devagar e profundamente. Relaxe bem o corpo, da cabeça aos pés. Pense com calma e escolha uma imagem que lhe seja agradável, lhe traga alegria, bemestar. Pode ser a imagem de um lugar que você goste muito, de uma foto, de um filme, de uma viagem ou mesmo de um lugar de sua imaginação. Pode ser a imagem de uma pessoa querida, um animal de estimação, uma flor ou algum acontecimento que lhe traga sensações muito agradáveis. Então fixe sua atenção nessa única imagem (pausa). Observe bem as cores, as formas que aparecem (pausa). Toda vez que sua mente se distrair, traga sua atenção suavemente de volta para essa imagem agradável (pausa). Permaneça concentrado nessa imagem por alguns minutos. (Grande pausa – silêncio) Ao término da meditação, perguntar aos alunos: Como se sente?Como está sua mente? ¹²
11-ibid., MASSOLA, Maria Ester. P.p.161 a 163. 12- idem, p.p. 164 a 166.
5 – “Meditando com mandala”:
Escolha o desenho de uma mandala de que você goste, ou faça você mesmo a sua. Desenhe um círculo e coloque um ponto bem no centro. Esta é uma mandala universal; você pode usá-la desta forma na sua meditação. Se quiser, pode também pintá-la como achar mais bonito. Sente-se em uma posição confortável, no chão ou em uma cadeira, com a coluna ereta. Respire algumas vezes mais devagar e profundamente. Contemple a mandala colocada a sua frente, à altura dos olhos. Somente observe-a, sem nenhum esforço, com toda a sua atenção. Toda vez que seu pensamento se desviar daquilo que está olhando (o que é bem normal), volte simplesmente sua consciência para o centro da mandala (pausa). Depois de alguns minutos, feche os olhos e observe-se: sensações que aparecem, cores, pensamentos, imagens interiores. Mantenha sua atenção, sem querer julgar ou classificar. Simplesmente observe-se. (grande pausa – silêncio) Com a prática, vá aumentando o tempo de concentração em sua mandala e também o quanto pode permanecer de olhos fechados, observando-se.
Você também pode colocar uma música de que goste e usar como objeto de meditação, por exemplo, um dos instrumentos musicais para seguir concentrado.¹³
6-
“Visualização no fundo do mar”: você é o peixe e os pensamentos são anzóis, se você se prender a um pensamento será fisgado. Você tem três chances, quando for fisgado pela quarta vez deite de barriga para cima simbolizando que morreu.
7-
“Balões”: esse exercício de meditação nos ensina que não há necessidade de ficarmos prisioneiros de nossos pensamentos e emoções. Podemos nos livrar deles se querermos, assim como soltamos um balão e o observamos enquanto se afasta. Como fazê-lo: De olhos fechados, imagine que você flutua num imenso céu azul, cercado de ar por todos os lados. Esse céu infinito está dentro de você. Os Yogī s o chamam de “coração-mente” – e está sempre puro e cheio de paz. Relaxe profundamente nesse espaço durante alguns minutos. Permita a si mesmo sentir-se em casa, perfeitamente seguro. Imagine que seus pensamentos e suas emoções são como balões que flutuam nesse claro céu azul. Quando sentir que um deles se vai, segure-o pelo fio e observe-o por alguns momentos. Ele é muito grande? Qual é a sua cor? É brilhante ou opaco? Não precisa ser redondo, poderia ser quadrado ou triangular – poderia ter ainda qualquer forma que você quisesse dar a ele. Seu balão está firmemente preso no fio ou flutua com suavidade? Como você se sente tão perto dele? Depois de observar bastante o balão, solte o fio e deixe-o ir embora, flutuando no céu. Cada vez que você respira, o balão se afasta mais –até desaparecer de sua consciência. Agora espere tranquilamente que o balãopensamento se aproxime. Se preferir, em vez de soltar o balão você pode furá-lo com um alfinete imaginário. No entanto, não faça isso se o som da explosão lhe parecer desagradável. 14
13- idem, p.p. 167 a 170. 14-- ibid.,MARASCA, Ivete,p.35.
8-
“Para afastar as nuvens": é um exercício similar ao dos balões, pois ajuda as pessoas a libertarem-se dos pensamentos negativos, como dúvidas, preocupações, raiva, tristeza e medo. Pratique-o sempre que se sentir perturbado ou deprimido por qualquer problema. Como fazê-lo: Imagine como no exercício anterior, que você está flutuando num imenso céu azul (feche os olhos para facilitar essa mentalização). Lembre-se de que esse “céu” azul é sempre de paz, pois se encontra em seu mundo interior, e você pode retornar a ele quando quiser. Pense nos sentimentos negativos como se fossem nuvens que cruzam o céu. Sente-se calmamente e observe essas nuvens por um momento, sua forma, suas cores e texturas. Talvez lembrem a fisionomia de alguém, talvez se transformem diante de seus olhos. Tente conhecê-las melhor. Lembre-se: por maiores e mais ameaçadoras que sejam as nuvens passam sem alterar o céu interior. Da mesma forma, emoções fortes como dúvidas, raiva, tristeza e medo não podem ferir você. Quando estiver pronto para deixar partir suas nuvens de pensamentos, diga-lhes “adeus” e imagine que se dispersam e desaparecem cada vez que você respira. Pouco a pouco, o céu se torna novamente azul e brilhante e você se sente bem, feliz e livre das ações negativas. 15
15- idem, p.36