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A corda e a cobra
Recusa a comprazer-te nos objetos sensoriais e a paz surgirá no teu coração. Quando o coração está em paz, a visão do Atman se faz presente. Quando o Atman for percebido diretamente, nossa servidão a este mundo é aniquilada. Portanto, a recusa a comprazer-se nos objetos sensoriais é o caminho da libertação.
Se o homem for instruído, capaz de discernir entre o real e o irreal, convicto da autoridade das escrituras, possuído pela visão do Atman e desejoso de libertação, como poderá apegar-se como uma criança ao que é irreal e suscetível de provocar a sua queda?
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Não pode haver libertação para aquele que está apegado ao corpo e aos seus prazeres. O homem que se libertou está livre do apego ao corpo e aos seus prazeres. O homem adormecido não está desperto, e o homem desperto não está adormecido. Esses dois estados de consciência são opostos um ao outro por suas próprias naturezas.
O homem que conhece o Atman e o vê interior e exteriormente como a base de todas as coisas animadas e inanimadas alcançou de fato a libertação. Ele rejeita todas as aparências como irreais e se absorve na visão do Atman, que é o Ser Absoluto, Infinito.
Ver no Atman, que é único, o princípio de todas as aparências, é o caminho que leva à libertação de toda servidão. Não há conhecimento mais elevado do que o de saber que o Atman é único e está em toda parte. O homem compreende que o Atman está em toda parte e em todas as coisas quando rejeita as aparências e se devota constantemente ao Atman, o Ser Eterno.
Mas como pode o homem rejeitar as aparências se vive identificado com o corpo, se sua mente está apegada aos objetos sensoriais e se ele persegue a satisfação de seus desejos? Tal rejeição só pode ser concretizada mediante um esforço tenaz. Pratica o discernimento espiritual e devota-te apaixonadamente ao Atman. Renuncia às recompensas egoístas que se obtém pela prática de ações e deveres. Abandona a busca do prazer nos objetos sensoriais. Deseja unicamente a posse da eterna beatitude.
Dizem as escrituras: "Quando o homem que ouviu a verdade de Brahman dos lábios do seu mestre se torna calmo, autocontrolado, satisfeito, paciente e profundamente absorto na contemplação, ele realiza o Atman no seu próprio coração e vê o Atman em todas as coisas”.
Para esse aspirante espiritual a passagem acima prescreve a profunda contemplação do Atman a fim de que o Atman, que está em todas as coisas, possa ser compreendido.
A corda e a cobra
É impossível, mesmo para o sábio, desunir o ego de um só golpe - ele está por demais arraigado na natureza humana e perdura com seus numerosos desejos, através de incontáveis nascimentos. O ego só é completamente abolido naqueles que se tomaram iluminados graças à realização de sua mais elevada consciência transcendental.
Quando a mente de um homem é obnubilada pela ignorância, o poder de projeção, cuja natureza é a inquietação, leva-o a identificar-se com o ego. O ego o seduz e o perturba com os desejos que são seus atributos.
É difícil vencer o poder de projeção enquanto o poder obnubilante da ignorância não for completamente destruído. Quando um homem é capaz de distinguir tão claramente entre o Atman e as aparências externas quanto entre o leite e a água, então o véu da ignorância que recobre o Atman desaparecerá naturalmente. Quando a mente já não é distraída pela miragem dos objetos sensoriais, todo obstáculo à compreensão do Atman foi efetivamente removido.
Quando um homem se toma iluminado pelo conhecimento, surge em seu íntimo o perfeito discernimento que distingue claramente o verdadeiro Ser, o Atman, das aparências exteriores. Desse modo, ele se liberta dos grilhões da ilusão criada por Maya e deixa de estar sujeito à morte e ao renascimento no mundo da mutação.
O conhecimento de que nós somos Brahman é como um incêndio que consome totalmente a densa floresta da ignorância. Quando o homem compreendeu sua unidade com Brahman, como pode alimentar qualquer semente de nascimento e renascimento?