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A flecha não se deterá
Enquanto o homem experimentar prazer e dor, suas tendências passadas haverão de persistir. Todo efeito é antecedido por uma causa. Onde não existe causa, não existe efeito.
Quando o homem desperta de seu sonho, suas ações oníricas; se desfazem no nada. Quando o homem desperta para o conhecimento de que ele é Brahman, todas as causas acumuladas, todas as ações praticadas ao longo de milhões e milhões de vidas se dissolvem.
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Enquanto está dormindo, o homem pode sonhar que está praticando boas ações ou cometendo terríveis pecados. Mas, quando o sonho cessa, como podem essas ações oníricas conduzi-lo ao céu ou ao inferno?
O Atman é eternamente livre, puro e intocável como o éter. Aquele que realizou o Atman jamais será agrilhoado pelas suas ações, sejam elas passadas, presentes ou futuras.
O éter encerrado num cântaro não é afetado pelo cheiro do vinho. O Atman encerrado em seus invólucros não é afetado pelas propriedades desses invólucros.
A flecha não se deterá
O Discípulo:
Entendo que, depois de se alcançar a iluminação, nenhuma ação pode afetar o Atman. Mas, e as ações praticadas antes do despontar do conhecimento? O conhecimento não pode cancelar-lhes os efeitos. A seta atirada contra um alvo não pode ser desviada.
Suponhamos que confundimos uma vaca com um tigre e lhe desferimos uma flecha. A flecha não se deterá quando descobrirmos que a vaca não é um tigre e atingirá a vaca.
O Mestre:
Sim, tens razão. As ações passadas são muito poderosas, caso já tenham começado a produzir seus efeitos. Elas devem esgotar o seu poder através da experiência atual, mesmo no caso de uma alma iluminada. O fogo do conhecimento destrói toda a acumulação dos karmas presentes e futuros e dos karmas passados que ainda não começaram a produzir seus efeitos. Mas não pode destruir os karmas; passados que já começaram a produzir seus efeitos. No entanto, nenhum desses karmas pode realmente afetar aquele que compreende sua identidade com Brahman e vive continuamente absorto nessa consciência. Tais homens uniram-se a Brahman, o um que está além de todos os atributos.
O vidente vive absorto na consciência do Atman. Ele compreendeu sua identidade com Brahman. Brahman é puro e está livre das qualidades que pertencem aos invólucros denso e sutil. Os karmas passados pertencem a esses invólucros - não podem, pois, afetar o vidente. Quando um homem está desperto, deixa de estar sujeito ao mundo aparente de seus sonhos.
O homem que despertou deixa de identificar-se com seu corpo onírico, com suas ações oníricas ou com os objetos do seu sonho, voltando a si pelo simples despertar.
Ele não tenta afirmar que os objetos do seu sonho são reais nem procura possuí-los. Se continuar a buscar os objetos do mundo onírico, certamente ainda não terá despertado do seu sono.
Do mesmo modo, aquele que despertou para o conhecimento de Brahman vive absorto na união com o eterno Atman. Não vê nada mais. Por certo ele precisa comer, alimentar esse corpo enquanto viver neste mundo. Mas essas ações são praticadas, por assim dizer, de memória. São como as ações que rememoramos de um sonho.
O nascimento num corpo é o resultado do karma. Pode-se dizer, pois, que as ações passadas afetam unicamente o corpo. O Atman não tem princípio. Não se pode dizer que ele nasceu em decorrência do karma. Por isso, é insensato pensar que o karma pode afetar o Atman.
As infalíveis palavras das escrituras declaram que “o Atman é não nascido, eterno, nunca sujeito ao declínio", Como supor, então, que algum karma afete o homem que vive na consciência do Atman?