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O discípulo se rejubila
Os mestres e as escrituras podem estimular a percepção espiritual. Mas o discípulo sábio atravessa o oceano da sua ignorância pela iluminação direta, pela graça de Deus.
Obtém a experiência diretamente. Realiza Deus por ti mesmo. Conhece o Atman como o Ser uno e indivisível e toma-te perfeito. Liberta a tua mente de todas as perturbações e absorve-te na consciência do Atman.
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Esta é a declaração final do Vedanta: Brahman é tudo - este universo e cada criatura. Estar liberto é viver em Brahman, a realidade indivisa. Brahman é o um sem um segundo, como testemunham as escrituras.
O discípulo se rejubila
O discípulo ouviu atentamente as palavras do mestre. Aprendeu a suprema verdade do Brahman, da qual as escrituras dão testemunho e que é confirmada com a ajuda de seus próprios poderes de raciocínio. Então ele afastou seus sentidos do mundo objetivo e concentrou sua mente no Atman. Seu corpo parecia tão imóvel quanto uma rocha.
Sua mente estava totalmente absorta em Brahman. Pouco depois ele voltou à consciência normal. Então, na plenitude de sua alegria, ele falou:
O ego desapareceu. Compreendi a minha identidade com Brahman e assim todos os meus desejos se desvaneceram. Ergui-me acima de minha ignorância e do meu conhecimento deste universo aparente. Que alegria é esta que eu sinto? Quem poderá medi-la? Tudo o que sinto é uma alegria ilimitada, infinita.
O oceano de Brahman está cheio de néctar - a alegria do Atman. O tesouro que nele encontrei não pode ser descrito em palavras. A mente é incapaz de concebê-lo. Minha mente caiu como pedra de granizo na vasta superfície do oceano de Brahman. Ao tocar uma gota dele, dissolvi-me e tomei-me um com Brahman. E agora, embora de volta à humana consciência, eu vivo na alegria do Atman.
Onde está este universo? Quem o arrebatou? Ter-se-á fundido com outra coisa? Ainda há pouco eu o contemplava - agora ele não mais existe. É deveras maravilhoso!
Eis o oceano de Brahman, cheio de alegria infinita. Como posso aceitar ou rejeitar alguma coisa? Existe alguma coisa separada ou distinta de Brahman?
Agora, finalmente e com clareza, eu sei que sou o Atman, cuja natureza é eterna alegria. Nada vejo, nada ouço, nada conheço que esteja separado de mim.
Curvo-me ante vós, ó grande alma, meu mestre! Estais livre de todo apego, sois o maior dentre os homens sábios e bons. Sois a personificação da eterna bem-aventurança. Vossa compaixão é infinita, um mar sem praias.
Vossos olhos são cheios de misericórdia. Um olhar deles é como uma torrente de raios de luar que alivia o cansaço da minha mortalidade e a dor da minha servidão ao nascimento e à morte. Num instante, pela vossa graça, encontrei esse tesouro inexaurível, indiviso - o Atman, o eterno bem-aventurado.
Estou feliz! Realizei o propósito único da vida. O dragão do renascimento nunca mais tornará a arrebatarme. O Infinito me pertence. Reconheço a minha verdadeira natureza com eterna alegria. E tudo isso graças à vossa misericórdia!
Nada me prende a este mundo. Já não me identifico com o corpo físico nem com a mente. Sou um com o Atman, o imortal! Eu sou o Atman - infinito, puro, eterno, perpetuamente em paz.
Não sou nem o que age nem o que sofre as conseqüências da ação. Estou além da ação e sou imutável. Minha natureza é pura consciência. Sou a realidade absoluta, a eterna bondade.
Não sou eu quem vê, ouve, fala, age, sofre ou goza. Eu sou o Atman eterno, imortal, para além da ação, ilimitado, livre - nada mais que pura, infinita consciência.
Não sou nem este nem aquele objeto. Sou Aquele que toma manifestos todos os objetos. Sou supremo, eternamente puro. Não estou nem dentro nem fora. Sou o infinito Brahman, o primeiro sem um segundo.
Eu sou a Realidade sem princípio, incomparável. Não participo da ilusão do “eu“ e do “tu", do “isto” e do "isso". Eu sou Brahman, o um sem um segundo, a bem-aventurança infinita, a Verdade eterna, imutável.
Sou o Senhor e o refúgio de todas as coisas. Sou o destruidor de todos os pecados e impurezas. Sou pura e indivisível consciência. Sou a testemunha de todas as coisas. Não tenho outro senhor além de mim mesmo. Sou livre do significado do “eu” e do "meu".
Estou em todos os seres como o Atman, a pura consciência, o princípio de todos os fenômenos, internos e externos. Sou ao mesmo tempo o fruidor e a coisa usufruída. Nos dias de minha ignorância, costumava pensar nessas coisas como separadas de mim mesmo. Agora sei que eu sou Tudo.
Em mim está o oceano da alegria, infinito, indiviso. O vento de Maya sopra sobre ele, criando e dissolvendo as aparências deste mundo, como ondas.
Tomando a aparência pela realidade, as pessoas imaginam, em sua ignorância, que estou encerrado numa forma corporal e mental. Do mesmo modo, imaginam que o Tempo, que é indivisível e contínuo, está dividido em ciclos, anos e estações.
Mas, não importa o que a imaginação dos tolos iludidos e ignorantes possa sobrepor à Realidade, a Realidade permanece imaculada. A miragem do grande rio não pode molhar as areias do deserto.
Como o éter, não posso ser contaminado. Como o sol, sou diferente dos objetos que revelo. Como a montanha, permaneço imóvel. Como o oceano, sou ilimitado.
O céu não é confinado pelas suas nuvens. Eu não sou confinado pelo corpo. Como, pois, posso ser afetado pelos estados de vigília, de sonho e de sono sem sonhos, meras condições corporais?
Minha forma exterior vem e vai. Ela age e prova os frutos de suas ações, definha e morre. Mas eu permaneço, como uma grande montanha, firme e imóvel para sempre.
Não conheço nem o desejo, nem o fim do desejo - porque sou sempre o mesmo, incapaz de divisão. Como pode qualquer ação ser possível para aquele que é eterno, universal e infinito como o céu? Em que deveria ele empenhar-se?
Sou desprovido de órgãos, de forma e de mente. Sou alheio à mudança. Sou a consciência pura, indivisa. Como posso imiscuir-me na ação, seja ela justa ou iníqua? Por isso as escrituras declaram que “o Atman permanece igualmente alheio ao bem e ao mal".
O homem é diferente da sua sombra. Não importa o que essa sombra venha a tocar - quente ou frio, bom ou mau -, ele permanece completamente intacto.
As propriedades dos objetos observados não afetam a testemunha que se mantém separada deles, sem apego. Do mesmo modo, as propriedades de um aposento não afetam a lâmpada que as revela.
O sol testemunha as ações, mas é distinto delas. O fogo queima todas as coisas, mas é distinto delas. A corda é confundida com urna cobra, mas continua sendo uma corda. Do mesmo modo eu - o imutável Atman, a pura consciência - sou distinto desta for-ma aparente.
Eu não ajo nem faço os outros agirem, não experimento nem faço os outros experimentarem, não vejo nem faço os outros verem. Eu sou o Atman, auto-iluminado, transcendente.
O sol se reflete na água. A água se move e o tolo pensa que o sol está se movendo. O Atman se reflete nos corpos físico e mental. Os corpos se movem e agem, e o tolo pensa: "Eu ajo, eu experimento, eu sou assassinado.”
O corpo pode cair morto na água ou na terra. Eu não sou afetado por isso. O éter contido num jarro não é afetado quando o jarro se quebra.