Vamos Iluminar as Estrelas

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Vamos Iluminar as Estrelas Uma Mensagem de Esperança

LucĂ­lia



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“O Cosmos está dentro de nós. Somos feitos da matéria das estrelas.” Carlos Sagan

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Vamos Iluminar as Estrelas Uma Mensagem de Esperanรงa

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- Mãe! Mãe! Olhe as estrelas do céu Tão bonitas a brilhar! Elas vivem como eu? - Podem viver ou não, Há umas que ainda lá estão E que já não brilham tanto, Essas são as que morreram E perderam seu encanto! 4


Mas não te preocupes, Elas vivem muito bem Num mundo sem poluição, E que não tem tanto mal Como este mundo tem! - Elas comem os cometas?

Se as estrelas os resolvessem comer! - Então o que é que comem? Elas comem foguetões? - Se comessem foguetões, Quem iria viajar? Quem se atreveria ir ao Espaço Para o poder estudar? Não te esqueças que há segredos Ainda por revelar...

Poema de Isabel Maria Cabral, aos 11 anos

Os cometas não poderiam aparecer

Desenho de Mafalda Cabral, aos 7 anos

- Se comerem são patetas!

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A todas as crianças do mundo A todos os adultos que conservam viva a sua alma de criança A todos os que, sendo adultos, se esqueceram de que já foram crianças A ti, amigo leitor A história que vais ler fala do Universo, antes e depois da sua criação. Já pensaste que, se ele não existisse, também tu não existirias? Nem tu, nem a família que amas, nem os teus amigos, nem todos aqueles que conheces e desconheces, nem aqueles que viveram antes de ti? E que não haveria estrelas no céu, nem o azul profundo dos oceanos, nem montanhas verdejantes, nem borboletas coloridas, nem flores perfumadas, nem arco-íris a abraçar o mundo, nem tantas outras coisas de que gostas e que dão cor e sentido à tua vida? Então, sempre que olhares o céu não te esqueças de pensar também nos biliões e biliões de estrelas e nas outras maravilhas escondidas na imensidão do Espaço negro que te rodeia. Já perguntaste a ti próprio como tudo terá começado? Como terão surgido as estrelas e todos os astros que vagueiam no espaço? Como terá surgido a Terra e tudo o que nela existe? Como terás surgido tu e a inteligência que faz de ti um ser hábil e com capacidade para pensar? Será que tudo está conectado? Não farás tu também parte deste enorme sistema cósmico? 6


Claro que fazes! E é bom que tenhas consciência disso. Porque o Cosmos que te rodeia é o maior de todos os tesouros. E tu fazes parte desse tesouro, que desde sempre existiu sob a forma de energia. Uma energia mágica e sábia que já continha em si tudo, muito antes de se revelar, como a semente contém em si mesma a árvore antes de ela nascer e poder dar flores e frutos. Pois é… Foi a partir dessa energia inicial que nasceu o Cosmos – a mais majestosa de todas as criações. O Cosmos do qual todos fazemos parte e que se encontra em expansão desde a sua origem, impulsionado pelas mesmas leis invisíveis que fazem mover os astros e crescer as plantas, as flores, as árvores e os animais, e te faz crescer, também. O Cosmos que te permite aventurar em viagens fascinantes, sejam elas reais ou imaginárias, como aquela que este livro te propõe.

P r e p a ra d o p a ra e s s a

g ra n d e v i a g e m ? ! . .

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rês crianças sem nome dormiam tranquilamente, embaladas pelo seu sono profundo. A envolvê-las apenas um manto negro e suave todo feito de silêncio. O Tempo estava parado como se não existisse. Porque no sono daquelas três crianças sem nome não havia Tempo. Apenas um Espaço imenso, onde elas flutuavam mais leves que a mais leve pluma ao ser empurrada por um vento preguiçoso. Elas próprias confundiam-se com o Espaço. Um espaço onde não havia qualquer forma ou som. Misterioso e negro. Muito negro. Mais negro que uma noite sem estrelas. 9


Assim era o sono daquelas três crianças sem nome: tranquilo e sem sonhos. Sem alegrias ou tristezas. Sem nada para contar... 10


Mas eis que, de repente, das profundezas do Espaço brota um ruído ensurdecedor mais forte que o som de milhões de foguetes a estalar ao mesmo tempo, enquanto biliões de sóis se acendem e espalham em redor. Logo se iluminou o Espaço. E também os rostos daquelas três crianças sem nome, que acordaram assustadas com tão violento despertar. Sem perceberem porquê sentiram-se projetadas naquele Espaço iluminado. E se, até ali, tinham estado muito juntinhas a dormir, pareciam agora separadas voando em direções diferentes. 11


Ainda estremunhada, uma delas abriu os olhos de mansinho e olhou atentamente em seu redor. Depois, olhando para si prรณpria, viu que estava vestida com um lindo manto de luz, muito quentinho e brilhante. Assim foi o acordar da Menina Luz...

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- O que é que está a acontecer?- perguntou admirada.

- É o U n iv e rs o a d

e s pe rta r . . . - É o Uni v e rs o a de s pe rta r. . . -

repetiam as estrelas que iam nascendo à sua volta, como que passando umas às outras a mensagem. - Ah! - disse apenas a menina, como se achasse isso natural e se tivesse recordado, de repente, do seu destino nesse Universo desperto.

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A envolvĂŞ-la havia agora uma intensa claridade.TĂŁo intensa que chegava a ofuscar. Branca e brilhante como um deserto de areias finas resplandecendo ao sol do meio-dia. 16


Um pouco tonta com tanta claridade, a Menina Luz deu um passo em frente, tentando ver o que havia para além da sua luz. Depois deu mais outro. E outro ainda. Mas nada de novo aconteceu. Aquele deserto branco continuava igual a si próprio para onde quer que ela fosse. - Será que me perdi na minha luz? - perguntou baixinho, um pouco assustada, depois de ter dado mais alguns passos. - É preciso que encontre os meus amiguinhos. Dizendo isto, deu mais um passo em frente. E outro... E outro... Mas tudo continuava igual a cada passo que dava. Ao fim de muito caminhar começou a ficar cansada. Cansada e cada vez mais triste, pensando que se tinha perdido e não poderia cumprir a missão que lhe tinha sido destinada desde o princípio do Tempo.

isteza que não pôde r t a u s a i o evitar que u Ta l f ma e e d s s e a s l m i r o z f a e s s s a e s u av e m e n lágrim te pelo rosto. 17


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Como por magia, essa lágrima, ao cair no espaço negro que a rodeava, logo formou um enorme arcoíris à sua volta, colorindo com lindas cores o manto que a envolvia. E assim, de repente, a Menina Luz se vestiu de Cor… 19


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Animada por novo alento reiniciou a caminhada. E não tardou a chegar ao limiar da sua luz, de onde pode avistar o Universo inteiro. - Que lindo e misterioso é todo este Espaço escuro salpicado de estrelas! exclamou maravilhada ao contemplá-lo.

- E como é bonita a

música dos astros e

im v o mm

! o t en 21


Como esse espaço era imenso, e enormes as distâncias entre as estrelas, a Menina Luz abriu os braços disposta a voar mais rápido, pensando que assim poderia encontrar mais depressa os seus amiguinhos. Mas não chegou a acelerar o seu voo. Mal ela abriu os braços, a sua sombra adquiriu a forma de uma cruz, colorindo-se pouco a pouco com as mesmas cores do seu manto. - Andavas à minha procura? perguntou-lhe a sua sombra - a Menina Forma -, ao mesmo tempo que se fechava sobre si própria, com a mesma graciosidade com que algumas flores se fecham ao cair da noite. Em breves segundos a sombra plana da Menina Luz transformou-se num cubo, e logo uma das suas faces se abriu à frente da menina Luz como se fosse uma passadeira estendida aos pés de um visitante ilustre.

uz entrou, feliz L a n i n e M com este encontro in Ea 22

a r e p es

d

o.

- Entra! Sê bem-vinda à tua casa, a nave espacial que te estava destinada desde o início do Tempo – disse a Menina Forma.


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Logo que ela entrou, a face do cubo que lhe servira de passadeira ergueu-se, tal como as pontes levadiças dos antigos castelos, atÊ a nave se fechar por completo.

A g o ra , p r o n t a a i n i c

iar a sua v

. m iage 25


fa c e s d o c u b o s a d a m u tinha Cada

uma cor...

A sua transparência permitia ver todo o espaço exterior, que adquiria um tom diferente consoante a perspetiva em que era olhado..

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As cores eram as mesmas do arco-Ă­ris nascido da lĂĄgrima da Menina Luz e, em conjunto, emitiam uma luz suave que iluminava o interior do cubo.

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- Pronta para descer ao centro do Universo, o sítio onde nascemos e onde deve estar à nossa espera o nosso amiguinho Número? - perguntou a Menina Forma à Menina Luz. - Claro! Estou ansiosa por o encontrar e por iniciarmos juntos a nossa viagem pelo Univer... Ainda a menina Luz não tinha acabado de dizer a palavra Universo e já a nave espacial onde viajava começara a descer abruptamente como um elevador em queda livre, parando apenas junto de uma pequena esfera, que mal se via na escuridão do Espaço. Aí, o “cubo-nave” abriu uma das suas faces de modo a acolher dentro de si toda essa esfera, e voltou a fechar-se novamente.

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Então, na presença da Menina Luz, toda a esfera se iluminou e, de dentro dela, saiu o Menino Número com cara sorridente e feliz, embora com uma expressão trocista no rosto.

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- Olá! - gritaram alegremente a Menina Forma e a Menina Luz ao vê-lo. - Olá! - respondeu o Menino Número. - Com que então à minha procura, quando eu tenho estado convosco desde o princípio! - disse. - Como assim? - perguntaram, ao mesmo tempo, admiradas, a Menina Cor e a Menina Forma. - É fácil! - começou por dizer o Menino Número, apontando para a túnica negra que o cobria e onde estavam bordados, a branco, os algarismos até nove, explicando depois que o negro onde eles se destacavam representava o Zero, significando a ausência de tudo, incluindo forma, cor e número. Logo a seguir, virando-se para a Menina Luz perguntou: - Quais são as cores do teu manto? - Vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e roxo respondeu ela. - Então, conta-as comigo: uma, duas, três, quatro, cinco, seis - foi dizendo o Menino Número, ao mesmo tempo que apontava para uma das cores do manto da Menina Luz e para o correspondente algarismo bordado no seu próprio manto.

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- Vês agora por que é que eu disse que tenho estado contigo desde o princípio?! - exclamou. - E tu? - perguntou em seguida, virando-se para a Menina Forma. Quantas faces tens? - Tenho uma de cada cor do manto da nossa amiguinha Luz - respondeu a Menina Forma. - Então as tuas faces também são seis e, como vês, também tenho estado contigo desde sempre. Mas... não percamos tempo. Sei bem como estão ansiosas por iniciar a nossa viagem de estudo pelo Universo. No entanto seria imprudente iniciá-la sem primeiro descobrirmos os segredos escondidos nesta esfera. Importas-te de a iluminar um pouco mais para podermos ver bem tudo o que ela tem dentro?- pediu, dirigindo-se à Menina Luz.

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- Claro que não! - respondeu ela, aproximando-se da esfera e irradiando toda a sua claridade. - Que beleza! - exclamaram todos ao mesmo tempo depois de olharem para aquela esfera iluminada e verem que ela tinha outras esferas transparentes dentro dela, todas com o mesmo centro. Mais pareciam bolas de cristal metidas umas nas outras. - São nove esferas ao todo esclareceu o Menino Número, depois de as contar. - Que coincidência!... Tantas como os algarismos bordados na tua túnica! – exclamou a Menina Luz. - Pois é! E, juntamente com o Zero, vou precisar de todos eles para poder contar as estrelas, definir a nossa posição no espaço e poder fazer os meus cálculos.

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Dentro dessas esferas podiam agora ver várias formas coloridas quase impercetíveis: linhas retas e curvas, polígonos e circunferências, pirâmides e paralelepípedos, e outras mais. Todas de rara elegância e em perfeita harmonia umas com as outras. Bastava um olhar atento para as descobrir. Como ninguém dissesse nada, a Menina Forma não se conteve e perguntou: - E das formas que estão lá dentro, ninguém diz nada? Pois fiquem sabendo que eu contenho todas elas! – afirmou com convicção e uma pontinha de orgulho. - Claro! Da mesma maneira que eu contenho todas as cores! - retorquiu a Menina Luz. - E eu todos os números! acrescentou o Menino Número. 42


Depois destes comentários, um pouquinho vaidosos, logo chegaram à conclusão que não valia a pena discutir, pois todos sabiam que não podiam passar uns sem os outros. Por isso depressa deram as mãos, decidindo que o melhor seria começar por descobrir os segredos escondidos dentro daquelas nove esferas. 43


s i p d u e s s e o r ã t am a inici n e ó S a r v e i d a n g a r e g m. a u s a Antes disso, porém, todos concordaram que o lugar daquelas esferas era ali mesmo onde as tinham encontrado, no centro do Universo. Seria em relação ao seu centro, qual ponto de referência, que definiriam a sua posição no Espaço durante toda a viagem. Viagem que teve início logo que o “Cubo - Nave” se abriu para libertar as nove esferas que tinha aprisionado e voltou a fechar-se, elevando-se depois no Espaço. A Menina Forma era aquela que configurava a nave em que viajavam. A Menina Luz, aquela que a pilotava à velocidade da luz. O Menino Número aquele que fazia os cálculos.

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E foi assim, viajando, que ficaram a conhecer muitas estrelas e planetas, cometas e nebulosas, e muitas mais maravilhas. Ao deslocar-se no Espaço a nave deixava um rasto de luz a assinalar o seu percurso, o qual era feito aos ziguezagues nas seis direções indicadas pelas faces da nave espacial em que viajavam. E nunca era necessário mais do que três direções diferentes para unir o ponto de partida ao ponto de chegada. Às vezes, uma ou duas eram suficientes. Conforme a posição da estrela ou planeta que queriam visitar, bastava a Menina Luz dizer: - Vermelha! E lá seguia a nave na direção indicada pela face do cubo com essa cor. - Amarela! 46


n a a a v v a e d u de direção. m å l E a i n d t r o e p . . m i s s a E 47


Visto de longe, o rasto de luz deixado pela nave formava um labirinto luminoso feito de linhas perpendiculares entre si, ligando tudo aquilo que iam encontrando no Universo. 48


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Depois de muito viajar chegaram à Via Láctea.

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E não tardou que chegassem ao nosso sistema solar, onde o Sol - o astro Rei - era o monarca absoluto e os planetas que giravam ao seu redor os seus súbditos. Alguns destes súbditos, porém, reinavam, por sua vez, em outros reinos mais pequenos com outros súbditos girando à sua volta, como acontecia com a Terra, sempre seguida por uma lua prateada. 52


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Vista do Espaço a Terra parecia um berlinde colorido em que predominava o azul. - Rumo ao Planeta azul! - comunicou o Menino Número, indicando as coordenadas da sua posição no Espaço à nave que o transportava. - Cuidado! - advertiu ele, a certa altura, ao ver dirigir-se na direção em que seguiam um enorme foguetão vindo do planeta que estavam a avistar. O foguetão passou mesmo ao lado da nave onde seguiam os três amiguinhos e continuou caminho em direção oposta. Mas, ao cruzaremse, deu para ver que era tripulado por seres vindos daquele planeta. 54


- Pelos vistos os habitantes do planeta azul já aprenderam a viajar no Espaço - comentou a Menina Forma. - Só falta saber se, como nós, conseguem viajar por todo o Universo. - Conseguir, conseguem… mas não tripulando foguetões - afirmou a Menina Luz. - Claro! Mas será que sabem disso? – perguntou a Menina Forma. - Talvez - respondeu o Menino Número. - Se já tripulam foguetões devem ser inteligentes. Mas, como inteligência nem sempre é sinónimo de sabedoria, só observando-os de perto poderemos saber se, além de inteligentes, também são sábios. - Ok. Então vamos sobrevoar o planeta em que vivem e observá-los de perto - disse a Menina Luz, fazendo descer a nave em que viajavam em direção à Terra. 55


À medida que se foram aproximando da Terra começaram por ver vastos oceanos cor de esmeralda, praias de areias finas beijadas por alvas ondas de espuma, rios prateados serpenteando montanhas, vales e planícies, e extensas florestas de uma cor verdejante. E, sempre que o sol nascia ou se deitava por trás da linha do horizonte, o planeta era banhado por um halo de cores quentes de beleza indiscritível. 56


- Espero que os seres que aqui habitam sejam merecedores de tanta beleza! - exclamou a certa altura a Menina Luz, emocionada, consciente de que tudo o que podiam avistar só era possível graças a ela, mesmo quando, à noite, metade da Terra ficava mergulhada na escuridão e certas zonas surgiam pontilhadas de minúsculos focos de luz, efeito de muitas luzes acesas. - Realmente este planeta é muito bonito - confirmou a Menina Forma pouco depois quando, já mais próximos e em zonas iluminada pelo sol, puderam ver savanas onde animais diversos corriam em plena liberdade, bucólicos prados salpicados de lindas flores silvestres e árvores carregadinhas de frutos coloridos com as mais variadas formas. 57


Por fim, quando começaram a sobrevoar algumas cidades e outros agregados habitacionais mais pequenos, a Menina Luz não pode deixar de querer ouvir a opinião da sua amiguinha Forma. - Que te parecem as formas construídas pelos habitantes deste planeta? - perguntou. - Depende. De algumas gosto. De outras não. A estas últimas falta-lhes proporcionalidade e beleza. - E os seres que as construíram? Por onde andarão eles? - perguntou o Menino Número. - Olha, aí tens alguns… - disse a Menina Luz apontando para um grande número de transeuntes que percorriam apressados as ruas de uma grande cidade, por onde também circulavam carros e outros veículos. - Para onde é que irão com tanta pressa? perguntou, intrigada, a Menina Forma. - Sabe-se lá! Só os vejo entrar e sair dos meios de transporte que utilizam e dos edifícios que estão à volta - respondeu o Menino Número. - Bom, pelo menos parecem viver em paz! - admitiu a Menina Forma…

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- PAZ?!!!...- Olhem! Olhem só! - chamou a atenção a Menina Luz quando já pairavam sobre outra cidade e viu ruas com vários edifícios destruídos e pessoas a correr de um lado para outro, algumas delas com armas nas mãos disparando tiros em diferentes direções, enquanto outras iam caindo no chão. O espanto dos três amiguinhos foi grande. - Como é que isto é possível num planeta que tem tudo para poderem viver em paz uns com os outros? - desabafou a Menina Forma ainda não refeita do choque. - Será que esta violência só está a acontecer aqui, ou haverá outros pontos do planeta onde se passa o mesmo? A resposta a esta pergunta exigia que eles observassem de perto outras zonas daquele pequeno berlinde azul que pouco antes tinham visto a flutuar no Espaço. E, infelizmente, para tristeza de todos, não lhes foi difícil ver violência em outras zonas do planeta, onde seres iguais aos que tinham visto tripular a nave com que se tinham cruzado no Espaço agrediam e matavam seres da sua espécie e outras espécies diferentes, e mostravam um total desrespeito pela Natureza. 59


o n c f n i o o r d m n e c ado, o Menino Número e r a P a e m ç e b a g c e a s u t o o de negação. n a b a - Custa a crer que este planeta já tenha uma tecnologia avançada, prova evidente de que nele existem seres inteligentes que usam as suas capacidades para melhorar as condições de vida de todos que o habitam, mas muitos deles se comportem ainda de modo tão cruel e primitivo. Será que não sabem que o planeta em que vivem é a nave que os transporta no Espaço, e que todos são seres universais com a mesma origem que nós? - perguntou o Menino Número. 60


- Pelo visto muitos não sabem - disse a Menina Luz. - Biliões e biliões de estrelas ao seu redor e é como se, para eles, estivessem apagadas. Nem sequer olham para elas. Sabes o que te digo? Ignorância, querido amiguinho… ignorância… - Será só isso? - Poderá não ser. Mas que é, sobretudo, ignorância, isso é! E o pior é que, se forem longe demais com o seu instinto de violência, a sua ignorância poderá levá-los à destruição de si próprios e do planeta em que vivem. A Menina Forma mostrou-se preocupada. - Nesse caso, todos correm grande perigo - concluiu. - Claro que sim! - confirmou a Menina Luz. 61


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r m o p e o s m m entos, com a . r a o l v Ca i a r p e n s at

AtĂŠ que o Menino NĂşmero alvitrou: - E se lhes deixĂĄssemos uma mensagem a dar-lhes pistas para evitar esse perigo? - Boa ideia! - concordaram os outros dois amiguinhos.

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E foi assim que, numa linda noite estrelada, a nave que transportava a Menina Luz, a Menina Forma e o Menino NĂşmero se foi afastando lentamente da Terra, depois de deixar uma misteriosa mensagem.

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Atraídos por uma cruz iluminada que pairava no ar, dois velhinhos que seguiam de mãos dadas, conhecidos pelos nomes de Tradição e Conhecimento, acercaram-se dela para a observar. De um dos lados a cruz era formada por seis quadrados, cada um deles colorido com uma das seis cores do manto da Menina Luz. 65


Do outro lado a cruz era branca, vendo-se nela, recortadas a negro, seis letras que ocupavam o centro dos seis quadrados que a formavam. 66 66


Lidas na horizontal, três dessas letras formavam a palavra SOS - a sigla de alerta em situações de perigo. Lidas na vertical, de cima para baixo, quatro dessas letras formavam a palavra COMO - sugerindo a solução para se ultrapassar esse perigo. 67 67


Sábios como eram, a velhinha Tradição e o seu inseparável companheiro Conhecimento logo decifraram a mensagem e dispuseram-se a agir. Com muito cuidado pegaram naquela cruz e dobraram-na as vezes necessárias até lhe darem a forma de um cubo semi-aberto, de modo a tornar visíveis as cores da luz que iluminava o interior daquela nave misteriosa, no exterior da qual se podia ver as letras que formavam a palavra COSMOS. 68


E ali mesmo fizeram a sua morada, para assim poderem ajudar os seres humanos daquele planeta a descodificar a mensagem deixada pelos trĂŞs amiguinhos - Forma, NĂşmero e Cor,

e d e s p m e e g r a a s n nça para t . e e m a d a um oda a humanid 69


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fim... 71


Que farias, amigo leitor, se avistasses a nave misteriosa deixada pelos três amiguinhos deste conto? Aproximar-te-ias dos seus guardiães e pedir-lhes-ias ajuda para decifrar a mensagem? Se quiseres saber o que eles te diriam começa por recortar o retângulo que se encontra a tracejado na página seguinte, abrindo assim uma janela para o reino das estrelas. Em seguida, recorta a cruz e dobra-a de modo a formares um cubo, de maneira que as letras que estão nas suas faces tanto possam ficar viradas para fora como para dentro. Descobre com elas a palavra COSMOS e ilumina-o com a luz do teu ser interior. Só então estarás preparado para entender a mensagem… 72


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C S

O M O

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S


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Um conto de Lucília Barata Ilustração de Isabel Fiadeiro Paginação de Cláudia Sequeira

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