UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS
Mariane Inês Rambo Ledur
A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
São Leopoldo
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2010
Mariane Inês Rambo Ledur
A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista, pelo Curso de Pós Graduação - Especialização em Educação Infantil, Área de Ciências Humanas, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos. Orientador: Prof. Janaína Fontoura Caobelli
São Leopoldo
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2010
RESUMO
Falar de consciência ambiental não é novidade nenhuma. O planeta vive uma situação alarmante: furacões, terremotos, derretimento de geleiras, catástrofes, e grande parte disto é fruto do desmatamento e do aquecimento global. A questão ecológica vem ganhando corpo e força desde os anos 70, e não há como negar: tudo depende de nós. E se nada fazemos, ou fizermos, vamos acabar tendo que compreender explicitamente o sentido dessas palavras. Milhares de notícias relacionadas à destruição da natureza circulam diariamente nos meios de comunicação. A maioria das pessoas tem acesso a estas notícias, seja por meio de revistas, rádio, televisão, jornais, internet... As crianças também estão expostas a estas notícias e, estando inseridas neste contexto, são despertadas para uma consciência ambiental desde pequenas, aprendendo a preservar o meio ambiente. Na mente das crianças termos como reciclagem, cidadania e respeito à natureza estão bem claros e elas fazem de tudo para colocálos em prática. Indubitavelmente, é preciso investir nas crianças, atuar na educação para que as crianças mudem o cenário no futuro, afinal, elas são o caminho mais curto para se chegar a uma conscientização ambiental dos adultos. Todos devem tomar conhecimento do seu papel enquanto agentes de conscientização e responsabilidade ambiental. Conscientizando e educando, preservando e economizando. É assim que vamos dando os passos na direção de um futuro melhor para todos nós. Palavras-chave: Crianças. Conscientização ambiental. Preservação.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................05 2 PINTANDO O QUADRO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.................07 3 AS CRIANÇAS E A NATUREZA: A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA..........................................................................................................................12 4 RELATOS DE EXPERIÊNCIAS DE CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA EM EDUCAÇÃO INFANTIL.......................................................................................................18 3 CONCLUSÃO....................................................................................................................42 REFERÊNCIAS......................................................................................................................44
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1 INTRODUÇÃO
Na sociedade atual a temática ambiental está permanentemente em discussão, entre os vários segmentos sociais. Muito disso se deve aos meios e comunicação, especialmente a televisão que apresentam, incessantemente, a poluição dos mares e rios, a questão do lixo e das reservas florestais, as queimadas, entre outros, alcançando de forma implícita ou explícita as escolas. Vivemos em tempos difíceis. As gerações presentes estão sofrendo as consequências da Revolução Industrial, de atos impensados de seres humanos que já passaram por este planeta, como também de ações destruidoras do homem do século XXI. No final do século XVIII, a Grã-Bretanha liderava a produção de carvão, alcançando cerca de 10 milhões de toneladas, ou cerca de 90% da produção mundial. O uso crescente do carvão – principal combustível da Revolução Industrial – para fins comerciais e domésticos gerava uma enorme quantidade de resíduos. O smog inglês (mistura de nevoeiro com fumaça) tornou-se a marca registrada das grandes transformações sociais e ambientais desencadeadas pelo modo de produção industrial (CARVALHO, 2001, p. 44).
O planeta, nossa casa, vive uma grande ameaça à sua existência e, consequentemente à nossa existência também. A depredação dos recursos naturais é muito intensa, tornando-os escassos. Os recursos estão sendo utilizados, em grande parte, para o enriquecimento de alguns poucos privilegiados que detêm os meios de produção, ao invés de serem utilizados para o desenvolvimento dos povos. Este modelo de desenvolvimento atual tem produzido muita morte e destruição, tanto dos seres humanos como do meio ambiente. Muitos homens e mulheres, em seu desejo obsessivo de possuir/consumir, consideram a natureza infinita e, sendo assim, sustentam sua vida num modelo de desenvolvimento que não está voltado para o bem-estar e felicidade dos povos e espécies, mas para os interesses de mercado. Centrado na produção e consumo de bens, orientado para gerar lucro, este modelo capitalista, urbano, industrial, patriarcal – vem gerando desequilíbrio ambiental, desigualdade social e sofrimento pessoal. A situação em que vive nosso planeta e os seres humanos clama por medidas urgentes, pois é incomensurável o processo de auto-destruição do ser humano, que cria condições sócioambientais insuportáveis a sua sobrevivência e de outras espécies na Terra.
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O que o ser humano, adulto ou criança, tem a ver com isso? Tem tudo a ver, afinal, são parte deste planeta. A luta pela preservação da vida do planeta é dever de todos os seres humanos que nele habitam. Todos somos responsáveis pela conservação do ambiente em que vivemos. O que está em jogo não são os benefícios meramente econômicos, mas sim, a defesa da vida do planeta e de sua diversidade. Mas como podemos tornar essa defesa da vida um grito coletivo em um mundo marcado pelo individualismo, onde somos vítimas do consumismo, do prazer momentâneo, do descartável? Diante da problemática ambiental atual, o professor passa a ser peça chave para o processo da cultura de uma consciência ecológica pela valorização da vida em todas as suas formas. Com base em trabalhos já realizados sobre educação ambiental com crianças de Educação Infantil, posso afirmar que as respostas ao trabalho feito foram imediatas. Deste modo, meu objetivo neste trabalho é mostrar que é possível, sim, desenvolver a consciência ecológica em crianças desde a Educação Infantil para, através delas, alcançar os adultos.
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2 PINTANDO O QUADRO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A preocupação com a preservação do meio ambiente se deu a partir da percepção dos sinais ameaçadores do aquecimento da Terra, os quais vinham causando mudanças climáticas, e da destruição da camada de ozônio, conseqüência de toneladas de gases poluentes lançados na atmosfera pelas indústrias. A partir dos anos 70 deu-se início a um profundo processo de reflexão sobre o que conhecemos hoje como “crise ecológica”. Mas, o que se entende por isso? Trata-se das mudanças bruscas nos fenômenos climáticos, mas, sobretudo, do esgotamento dos recursos naturais, da poluição de rios e mares, fontes e nascentes, do desmatamento, das queimadas, do excesso de lixo produzido pela sociedade do descartável nos grandes centros urbanos, da extinção de espécies animais e vegetais. Enfim, toda a quebra do equilíbrio natural, conseqüência da exploração predatória em vista de lucros espoliativos. A preocupação com a Educação Ambiental começou a se solidificar a partir dos anos 80, com a ascensão dos novos movimentos sociais. É nesse período que começam a ser organizados os primeiros encontros estaduais e nacionais voltados para o meio ambiente, como relata Carvalho (2001, p. 147): Na segunda metade dos anos 80, o debate ambiental ganha visibilidade e adentra o cenário político. A entrada das questões e atores ambientais na arena política se materializa em articulações como a Coordenadoria Interestadual Ecologista para a Constituinte e a fundação do Partido Verde no Brasil.
Muitas resistências surgiram por parte de movimentos de base, ocasionando conflitos internos. Mas, a partir do início da década de 90 os movimentos populares e sindicais passam a dar maior atenção à questão ambiental, incorporando-a em suas lutas. Desde que começou o movimento ambientalista na década de 70, no mundo todo foram realizados vários encontros, fóruns, seminários, a fim de encontrar soluções para as questões ambientais que preocupavam e preocupam o mundo. É na década de 90 que começam a surgir no Brasil os primeiros Fóruns Nacionais de Educação Ambiental; o Ministério do Meio Ambiente institui o PRONEA – Programa Nacional de Educação Ambiental; os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN’s, um documento recentemente elaborado pelo MEC no qual a temática ambiental foi inserida como um conteúdo transversal em todas as disciplinas do currículo escolar; o Senado aprova a lei
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federal 9795/99, que tem como objetivo oficializar a presença da Educação Ambiental em todas as modalidades de ensino. Em vista disso, um dos mais importantes eventos aconteceu em 1992, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também chamada “Cúpula da Terra”. A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1989, mais conhecida como Rio-92 ou Eco-92, teve como preocupação principal refletir sobre o chamado “Desenvolvimento Sustentável”; ou seja, como a humanidade pode se desenvolver sem correr o risco de ameaçar o equilíbrio ecológico e a sobrevivência na Terra. Esta Conferência mobilizou processos sociais importantes em todo o mundo, pois ampliou o campo de diálogo entre os movimentos ecológicos e o conjunto das lutas sociais. O Fórum das ONGs, também conhecido como Fórum Global, organizado por entidades da Sociedade Civil, foi muito importante para a ampliação da Educação Ambiental pelo mundo. Iniciado em 1990, pode ser considerado “tanto um movimento social de tipo novo (GOHN, 1997) quanto uma rede de movimentos (SHERER, 1993)” (CARVALHO, 2001, p.149). Reunindo uma diversidade de atores sociais, como entidades de classe, sindicatos, movimentos populares, ONGs e movimentos ecológicos, o Fórum das ONGs instituiu uma coalizão de diferentes setores da sociedade, trazendo à tona muitas das diferenças, disputas e divergências entre as entidades e suas compreensões sobre a relação entre as lutas sociais e as questões ambientais (CARVALHO, 2001, p. 149).
No Fórum das ONGs foi elaborada a “Carta da Terra”, que se constituiu, segundo Leonardo Boff, em um código de ética global por um desenvolvimento sustentável que propões mudanças em nossas atitudes, valores e estilos de vida a partir de três princípios interdependentes: os valores que regem os estilos de vida dos indivíduos; as comunidades de interesses entre Estados; e a definição dos princípios do Desenvolvimento sustentável”. Disso conclui-se que é impossível ficar indiferente às questões referentes à questão ecológica ou civilizacional. Analisando escritos do teólogo Leonardo Boff, percebe-se que a crise criada nos últimos 400 anos não é apenas ecológica, mas sim, civilizacional. Suas principais características são: a produção de pobreza e miséria, de um lado, e a riqueza e acumulação, de outro. A crise civilizacional é realizada pelo modelo de desenvolvimento capitalista e
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neoliberal que, com o seu apetite voraz de lucratividade relega às futuras gerações a incerteza da sobrevivência. Neste sentido, é necessária uma consciência e uma prática ecológica que sejam capazes de incluir o ser humano como parte integrante da natureza, em interação e interdependência, e não apenas como dominador e manipulador. Boff (1999) elege quatro formas de realização da ecologia: - Ecologia ambiental: a que se preocupa com o meio ambiente, para que não sofra excessiva desfiguração, visando à qualidade de vida, à preservação das espécies em extinção e à permanente renovação do equilíbrio dinâmico. Essa forma de ecologia vê o ser humano fora da natureza. - Ecologia social: a que insere o ser humano e a sociedade dentro da natureza como partes diferenciadas dela. Além de preocupar-se com o embelezamento das cidades, esta ecologia prioriza o saneamento básico, uma boa rede escolar e um serviço de saúde decente. Defende o desenvolvimento sustentável. A injustiça social é uma injustiça ecológica. - Ecologia mental: a que sustenta que as causas do déficit da Terra não se encontram apenas no tipo de sociedade que atualmente temos, mas também no tipo de mentalidade em vigor, cujas raízes remontam a épocas anteriores à nossa história moderna. Segundo esta forma o ser humano é portador de instintos de violência, dominação, arquétipos sombrios que quebram a relação com a natureza. Nesta forma, estaria inserida a célebre frase de Descartes: “o homem enquanto ser pensante, não faz parte da natureza”. Esses mecanismos são expressões do Antropocentrismo. - Ecologia integral: segundo esta forma de ecologia, Terra e seres humanos emergem como uma única entidade. O ser humano é a própria terra enquanto sente, pensa, ama, chora e venera. O grande desafio ecológico da atualidade é provocar uma reaproximação entre o homem e a natureza, desde crianças. De fato, precisamos tomar consciência de que destruindo a natureza estamos destruindo a nós mesmos, o nosso espaço vital e, portanto, estamos destruindo a possibilidade de uma existência futura. Nos últimos anos, temos presenciado vários fenômenos que são conseqüência da falta de cuidado com o meio ambiente em que vivemos, e que têm trazido conseqüências drásticas para a nossa vida. Mudanças climáticas, empobrecimento do solo, envenenamento dos rios, fontes e nascentes, desmatamento predatório e criminoso.
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Já preocupa a possibilidade da escassez da água potável em alguns países, o que estaria justificando a ação de algumas empresas que defendem a privatização e o comércio da água. A emissão de gases poluentes na atmosfera tem refletido em mudanças climáticas por todo o planeta, com conseqüências quase que irreversíveis. A derrubada ilegal de árvores para a extração de madeira tem comprometido a preservação das florestas, bem como causado a extinção de muitas espécies animais e vegetais. A derrubada das árvores afeta diretamente o equilíbrio ecológico causando uma mudança brusca tanto no clima como no habitat de animais, plantas e nas populações que vivem em harmonia com a natureza. Todos esses elementos supracitados denunciam a lastimável situação de descuido da vida em todas as suas dimensões. Estamos vivendo um progressivo aumento da temperatura do planeta devido à emissão de gases poluentes das indústrias. Este aquecimento global já é percebido com o derretimento de enormes geleiras e, consequentemente, ocorrerá o aumento do nível dos oceanos, podendo causar o avanço das águas para as cidades costeiras, fazendo-as desaparecerem. Outro problema causado pelas mudanças climáticas são as mudanças bruscas de temperatura as quais, visivelmente, causam prejuízos graves para os agricultores, especialmente para aqueles que têm na agricultura sua fonte de renda. Nas creches e pré-escolas, temos, todos os dias, a oportunidade de oferecer sensações, interações, condições materiais e imateriais que contribuam para a formação das crianças. Aprendizagem e autoconstituição são processos conexos e, sendo assim, é fundamental que vivenciem experiências positivas, pois, se a vida transcorre no cotidiano das instituições, é aí que ela se afirma como potência ou impotência. Indubitavelmente,
creches
e
pré-escolas
são
espaços
privilegiados
para
aprender/ensinar e ensinar/aprender, porque é ali que as crianças colhem suas primeiras sensações, suas primeiras impressões do viver. Portanto, as Instituições de Educação Infantil devem ser espaços de vivência do que é bom, do que alegra e do que nos faz mais fortes diante dos desafios da vida (DELEUZE, 2002).
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Diante destas questões surge a grande incógnita de muitos educadores e pais: como educar as crianças na perspectiva de uma vida alegre, saudável e solidária, se vivemos num mundo em que imperam o individualismo, a competição e a destruição da biodiversidade? Percebe-se que, atualmente, as crianças vivem emparedadas. Em creches ou em casa, elas são mantidas, a maior parte do tempo, em espaços fechados, suas necessidades/desejos de movimentarem-se livremente nos pátios, sob o céu, em contato com o sol, a terra, a água não são contemplados. Especialmente em áreas externas, raramente as crianças podem brincar de pés descalços, e, quando brincam ao ar livre, brincam num chão predominantemente coberto por cimento ou brita; e só se aproximam da água para beber e lavar mãos e rostos. Tomar banhos de mangueira, brincar de comidinha, dar banho em boneca, fazer barquinho para colocar na correnteza das valas quando chovia, eram ações freqüentes da minha infância. Hoje, quais e quantas são as crianças que podem fazer isso? Como as crianças podem aprender a respeitar a natureza se não convivem com seus elementos? Como investir na produção de concepções educacionais que se estruturem na contramão de uma tendência que é destrutiva? Existe um caminho, e este caminho está sendo traçado em minha prática pedagógica, juntamente com a prática de muitos outros educadores, pois acredito que ainda há como reverter esse quadro ambiental no qual estamos inseridos. As crianças podem e devem conviver com os elementos da natureza, sentindo-se natureza. A partir do momento em que a criança, o ser humano sente-se natureza, ele cria uma consciência de preservação e cuidado com o meio ambiente, voltando-se para a formação de mais pessoas íntegras, solidárias e comprometidas com a manutenção da vida em nosso planeta.
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3 AS CRIANÇAS E A NATUREZA: A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA
Há bastante tempo me inquieta a necessidade de incluirmos no currículo escolar propostas de educação ambiental. Rousseau, grande pensador do século XVIII foi um defensor da valorização da natureza e do homem natural, e conseguiu realizar uma conexão entre as novas sensibilidades e a esfera pedagógica (CARVALHO, 2006); Outros grandes educadores também já falavam da importância da relação criança/natureza, sob diferentes pontos de vista. Froebel desenvolveu sua teoria de desenvolvimento infantil enraizada na evolução, por exemplo, acreditando numa força criadora universal, na qual o mundo interno da criança era um reflexo do mundo externo da natureza. [...]o educador Friederich Froebel, nascido na Alemanha, desenvolveu ainda mais o relacionamento entre a criança e a natureza, como estabelecido por Pestalozzi e Rousseau, e introduziu nesta mescla uma terceira dimensão ainda mais profunda, a qual envolvia uma conexão tripla entre humanidade, Natureza e espírito (Deus) (HUTCHISON, 2000, p. 95).
As crianças são muito curiosas, especialmente quando se trata de desvendar os mistérios da natureza. Ao encontro disto, Montessori sustenta a ideia de que [...]a investigação da criança sobre o funcionamento interno do universo está enraizada nessa curiosidade natural, na crescente consciência de causa e efeito na natureza, e, talvez mais significativamente, em seu apelo à grandeza e ao mistério do universo como um todo (HUTCHISON, 2000, p.100).
É preciso utilizar esta curiosidade da criança pela natureza para desenvolver nela uma consciência ecológica pois, sem dúvida, é ela que irá orientar a sua família, as pessoas com a qual convive, sobre a importância da preservação e pertencimento à natureza. O professor e ambientalista Jackson Muller, em seu livro Educação Ambiental: diretrizes para a prática pedagógica (1998), propõe alguns critérios gerais para a seleção de conteúdos para a prática de Educação Ambiental: - significação: “[...]o conteúdo será significativo quando atender as necessidades, as aspirações e os verdadeiros objetivos dos alunos e da educação” (p.52). - adequação às necessidades sociais e culturais: “Os melhores conteúdos são aqueles que se aproximam da realidade dos alunos, ou seja, quando trabalhados em uma dimensão
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próxima à sua, propiciando que o mesmo vá muito além do contexto no qual está inserido” (p.52). - interesse: “Os conteúdos selecionados devem refletir profundamente o interesse dos alunos, pois esse interesse possibilita a execução de atividades didáticas e métodos com os quais o professor obterá melhores e mais significativos resultados” (p.53). - validade/utilidade: “É necessário selecionar conteúdos que sejam válidos não só para o momento ou mesmo para satisfazer as necessidades avaliativas da escola, mas que possam servir para toda a vida do indivíduo” (p.53). - possibilidade de reelaboração: “A reelaboração serve para que os conteúdos selecionados na proposta possibilitem ao aluno realizar elaborações e aplicações pessoais, a partir daquilo que aprendeu” (p.53). - flexibilidade: “Diz respeito as alterações que podem realizar em relação aos conteúdos já selecionados” (p. 53). O século XXI se inicia com uma vigorosa ideia-força que defende a imperativa necessidade do estabelecimento de uma nova relação entre os humanos e a natureza. No entanto, não se trata apenas de estabelecer uma nova relação entre os humanos e a natureza, mas dos humanos entre si, e destes com a natureza. Uma
pessoa “ecologicamente
correta”,
preocupada
com a
construção da
sustentabilidade planetária, pode ser alguém que adote comportamentos que favorecem o capital ou o trabalho, o mercado ou a sociedade, etc. No que diz respeito à educação ambiental, as semelhanças não são mera coincidência. A ecologia e a educação ambiental em si são uma política e jamais a deixarão de ser, mas poderão também ser uma nova e utópica doutrina ideológica (LAYRARGUES, 2006). [...] a educação ambiental atua na construção da realidade e institui uma política de identidade específica. Assim, amparada por um determinado sistema de representações culturais, a educação ambiental vem a ser mais uma das "tecnologias educacionais" que fazem apelos e disputam espaço frente àquilo que se entende ser um bom professor ou uma boa professora. [...]Portanto, a identidade de educador/a ambiental /a encontra-se indelevelmente imbricada à identidade de professor/a [...] (SAMPAIO, 2005, p.7).
A Educação, em tempos de crise ambiental, tem-se revestido majoritariamente da função moral de socialização humana ampliada à natureza, rumo à construção da ética ecológica no terreno da cultura.
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O sistema de ensino, como integrante da Educação, é o mais importante aparelho ideológico de Estado porque recebe (ou deveria receber) todas as crianças de todas as classes e grupos sociais, e integra, durante anos, determinados saberes explícitos e implícitos revestidos pela ideologia dominante. Nenhum outro setor de Estado possui à sua disposição um público tão numeroso e por tanto tempo disponível aos seus efeitos. Afinal, o sistema de ensino se encarrega da transmissão das ideologias para o futuro, pois recebe as futuras gerações no sistema social, e as prepara não apenas para participar das regras de convívio social, mas também para assumir os seus respectivos papeis sociais nas sociedades modernas... no mundo do trabalho, das relações produtivas, entre outros. Nessa perspectiva, a educação ambiental pode ser entendida como parte da Educação voltada ao enfrentamento pedagógico da questão ambiental. Assim, pode-se considerar a educação ambiental como um importantíssimo elemento do aparelho ideológico, que através da questão ambiental, atualiza os movimentos ideológicos na dança entre a manutenção ou conquista do poder. Antes de mais nada, é preciso estar ciente de que a educação ambiental é Educação. Sendo assim, nenhuma discussão a respeito das metas, objetivos e avaliação da educação ambiental que mereça credibilidade pode deixar de abordar a perspectiva sociológica da Educação como um instrumento ideológico de reprodução das condições sociais. A questão chave a ser respondida, portanto, além da eficácia é se essa prática pedagógica reproduz ou transforma as condições sociais tal qual se encontram atualmente. A partir disto surge, então, um questionamento: a educação ambiental é um vetor de mudança social? Tudo indica que sim. A ideia da necessidade da inclusão da dimensão ambiental na Educação veio à tona há cerca de trinta anos. Conforme Layarrgues (2006, p.6) Nesse período, uma conjunção de fatores (como a concepção naturalista de meio ambiente, o predomínio de profissionais oriundos da biologia como educadores ambientais, o predomínio de órgãos governamentais ambientais como proponentes de políticas e programas de educação ambiental, a omissão científica na incorporação da educação ambiental como um objeto de estudo da sociologia ambiental e da sociologia da educação) acarretou na ecologização da educação ambiental, moldando-a conforme o modelo de uma educação conservacionista, confundida muitas vezes com o ensino de ecologia, quer dizer, o estudo da organização estrutural e funcionamento dos sistemas ecológicos, embora agora atravessado pela percepção da fragilidade de tais sistemas em função da ação antrópica.
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Paralela a esta percepção, há ainda a crença de que basta a aquisição de conhecimentos ecológicos para se alcançar uma mudança de comportamento individual, e que o somatório dos comportamentos individuais traria enfim a materialização da nova relação humana com a natureza. A imagem que se forjou sobre a função da educação ambiental parece estar assentada na dimensão ética do relacionamento humano com a Natureza, colocando a dimensão do relacionamento entre os humanos em segundo plano, como se tratasse de um outro universo de questões que não possuem qualquer ponto de contato entre si. Para que a mudança maior ocorra, é necessário a conscientização de que a mudança cultural resultará de pequenas mudanças individuais nos hábitos cotidianos, como o consumo sustentável e a reciclagem por exemplo. Assim, a repartição dos benefícios (a geração de riqueza) e prejuízos (a geração de danos e riscos ambientais) do acesso, apropriação, uso e abuso da Natureza e recursos ambientais em geral, é sempre mediada por relações produtivas e mercantis. Nessa situação onde se percebe que uns ganham e outros perdem na relação humanoNatureza, revela-se a limitação e a ingenuidade de uma educação ambiental que tem em vista a criação de uma consciência ecológica, promovendo uma mudança dos valores culturais. Para atingir a mudança ambiental, a educação ambiental, enquanto Educação, possui relações não apenas com a mudança cultural, mas também com a mudança social, sobretudo em sociedades desiguais. Atualmente torna-se cada vez mais presente que só é possível conjugar a educação ambiental no plural. Primeiro porque ela, enquanto Educação, necessariamente está rodeada por variadas concepções pedagógicas. Segundo porque, em função da origem estar vinculada ao movimento ambientalista, ela também sofre influências das inúmeras vertentes do pensamento ambientalista. A educação ambiental, assim como a Educação, é um instrumento ideológico de reprodução social. É um veículo por onde também atravessa a disputa pela conservação ou transformação das condições sociais. Uma educação ambiental com responsabilidade social é aquela que propicia o desenvolvimento de uma consciência ecológica no educando, mas que contextualiza seu planejamento político-pedagógico de modo a enfrentar também a padronização cultural, a
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exclusão social, a concentração de renda, a apatia política, a alienação ideológica; muito além da degradação do ambiente (sem confundi-la com o ‘desequilíbrio ecológico’). Cabe-nos perguntar: o ambiente em que as crianças convivem na escola é adequado para trabalhar e fazer experiências com os quatro elementos: água, terra, ar, fogo? Raramente de pés descalços, a maioria das crianças brincam sobre chão coberto por cimento e brita, revestimentos que predominam nas áreas externas. Poucos pátios são de terra ou barro. A grama, onde existe, muitas vezes não está liberada para as crianças, sob o pretexto de que nela não se pode pisar. Sendo o chão coberto por cimento, não oferece alternativas de brincadeiras de cavar, amontoar, criar e demolir, atividades tão desejadas, que só a terra e a areia propiciam. A disposição dos móveis, das salas, enfim, deve proporcionar à criança um contato com o ambiente, conforme ressalta Dayrell (1996, p. 147) [...] a arquitetura escolar interfere na forma de circulação das pessoas, na definição das funções para cada local. Salas, corredores, cantina, pátio, sala dos professores, cada um deste locais tem uma função definida a priori. O espaço arquitetônico da escola expressa uma determinada concepção educativa.
Como, então, as crianças podem aprender a respeitar a natureza se elas não convivem com seus elementos? Em grande parte das escolas, as crianças são mantidas predominantemente em espaços-entre-paredes, porque a proximidade com a natureza ameaça uma visão de mundo que se sustenta na idéia de divórcio entre seres humanos e natureza. Assim, conclui-se que a proximidade do mundo natural ameaça, não apenas porque está associada à perigo, sujeira, doença, mas também à liberdade de corpo-mente, à criatividade, ao relaxamento. Portanto, como salienta Reigota (2009, p.47): Na educação ambiental escolar deve-se enfatizar o estudo do meio ambiente onde vive o aluno e a aluna, procurando levantar os principais problemas cotidianos, as contribuições da ciência, da arte, dos saberes populares, enfim, os conhecimentos necessários e as possibilidades concretas para a solução deles.
Inúmeras vezes os espaços ao ar livre não são considerados como lugares de aprendizagens escolares sistemáticas, pois, do ponto de vista do planejamento pedagógico, o lado de fora é, comumente, o lugar do nada. Indubitavelmente, ninguém será capaz de amar o que não conhece; ninguém será capaz de preservar uma natureza com a qual não convive. Por isto, a educação, em especial,
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precisa realizar uma aproximação física, estabelecendo relações cotidianas com o sol, com a água, com a terra, fazendo com que sejam elementos sempre presentes, chão, pano de fundo, matéria prima para a maior parte das atividades. [...] a escola pode e deve ser um espaço de formação ampla do aluno, que aprofunde o seu processo de humanização, aprimorando as dimensões e habilidades que fazem de cada um de nós seres humanos. O acesso ao conhecimento, às relações sociais, às experiências culturais diversas podem contribuir assim como suporte no desenvolvimento singular do aluno como sujeito sócio-cultural, e no aprimoramento de sua vida social (DAYRELL, 1996, p. 160).
No próximo capítulo, apresentarei alguns trabalhos realizados desde o início de minha caminhada como docente, no ano de 2008, nos quais o objetivo principal era desenvolver uma consciência da preservação ambiental, bem como experimentar o pertencimento à natureza, em todas as suas dimensões.
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4 RELATOS
DE
EXPERIÊNCIAS
DE
CONSCIÊNCIA
ECOLÓGICA
EM
EDUCAÇÃO INFANTIL
Sempre acreditei muito na utilização de materiais concretos nos meus trabalhos como educadora, principalmente porque as crianças criam um vínculo muito grande com estes materiais e eles ficam marcados para sempre na memória e no dia-a-dia das mesmas. No meu primeiro ano como professora, em 2008, trabalhei com meus alunos o Projeto Água e Meio Ambiente. Naquele ano, o tema transversal da escola tratava sobre “Alimentação Saudável”. Dentro deste projeto mestre, às turmas de Educação Infantil coube trabalhar o tema água e a necessidade de preservá-la e fazer uso racional dela. Na minha turma eu percebia o grande desperdício de água e poluição do meio ambiente que os próprios alunos faziam. Para criar uma consciência quanto a preservação da água e do meio ambiente, iniciei o assunto a partir da história “O Belo Riozinho”. O protagonista da história, Maurinho, morava em um lugar muito bonito, com muitas flores, árvores e animais. Atrás de sua casa passava um riozinho de águas limpas, cheio de peixinhos. Todos os dias Maurinho brincava com os animais e nadava nas águas do riozinho. Certo dia, a mãe de Maurinho pediu que ele fosse enterrar o lixo. Mas como Maurinho gostava muito de brincar, ficou com preguiça e jogou o lixo no riozinho. Então o riozinho ficou sujo, os peixes e as árvores foram morrendo, as flores murcharam e os animais saíram de lá. De repente, um peixinho conversa com Maurinho e faz com que ele perceba o quanto está fazendo mal para a natureza, especialmente para a água daquele riozinho. A partir daquele dia, Maurinho recolheu todo o lixo que havia jogado no rio e nunca mais voltou a poluir as águas do belo riozinho. Após refletirmos sobre a história, estudamos sobre a origem da água, o que acontece com a água da chuva, a importância de beber muita água, o cuidado em não desperdiçar e poluir a água e o meio ambiente, entre outros. Resolvemos confeccionar um boneco, ao qual damos o nome de Maurinho. Ele acompanhava as aulas, participava das atividades da turma, e, a cada dois dias, um aluno era
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sorteado para levar o novo coleguinha para casa, a fim de brincarem com ele e ele observar o cuidado que sua família tem com a água. Junto com o Maurinho, ia um livrinho no qual as crianças faziam o registro da estadia do amiguinho em sua casa. Abaixo, seguem imagens do que os alunos e suas famílias registraram.
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Durante o desenvolvimento do projeto, era muito bonito de ver o envolvimento das crianças e de suas famílias com a questão ambiental. Não raras vezes, os pais vinham às escola comentando fatos de atitudes que tiveram nos quais eles se sentiram envergonhados. Certo dia uma mãe chegou até mim, expondo o que tinha ocorrido em uma viagem de família. Ela havia jogado um papel de bala para fora da janela e a filha obrigou o pai a parar e recolher o lixo que havia jogado pela janela. Vale lembrar que quando este fato ocorreu, o Maurinho não estava mais indo junto às casas das crianças. Ao final do projeto alguns alunos foram entrevistados pela reportagem do jornal de circulação da região e as colocações foram muito interessantes e me deixaram muito felizes, demonstrando que o projeto surtiu efeito não só nas crianças, mas também em suas famílias. Eis as colocações: “Joguei bola com ele e o Maurinho brincou com o cachorro”. “A gente não pode ficar sem beber água. Por isso, precisamos cuidar para não poluir”. “Nós não podemos jogar água ora, brincando no chuveiro”. “Nunca devemos deixar a torneira aberta, com a água correndo fora”. “Nunca podemos deixar a torneira aberta enquanto escovamos os dentes”. “Devemos ensinar aos outros que é preciso cuidar da água que temos”.
Como culminância do projeto da escola todas as turmas fizeram apresentações sobre os trabalhos realizados ao longo das atividades. Minha turma fez a encenação da história do Maurinho e apresentou a música: Vamos cuidar!.
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Abaixo, a letra da música “Vamos cuidar!” Eu só tenho esse mundo pra morar, para crescer, se eu não cuido deste mundo, onde é que eu vou viver? /:Se eu não cuido da terra, o que será da plantinha?:/ O que será de mim, o que será de mim, se eu não cuido da terra, o que será de mim? /:Se eu não cuido da água, o que será do peixinho?:/ O que será de mim, o que será de mim, se eu não cuido da água, o que será de mim? /:Se eu não cuido do ar, o que será da avezinha?:/ O que será de mim, o que será de mim, se eu não cuido do ar, o que será de mim? Preservar a natureza é reconhecer o valor da vida. Preservar a natureza é retribuir o amor de Deus.
Segundo Leite e Tassoni (2003, p.136): Pode-se afirmar que as relações de mediação pelo professor, durante as atividades pedagógicas, devem ser sempre permeadas por sentimentos de acolhimento, simpatia, respeito e apreciação, além de compreensão, aceitação e valorização do outro; tais sentimentos não só marcam a relação do aluno com o objeto de conhecimento, como também afetam a sua autoimagem, favorecendo a autonomia, fortalecendo a confiança em suas capacidades e decisões.
Muller (1998) considera essencial que o professor tenha conhecimento dos princípios básicos da Educação Ambiental: a) considerar o meio ambiente em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos naturais e criados pelo homem (tecnológico e social, econômico, político, histórico-cultural, moral e estético) b) constituir um processo contínuo e permanente, começando pelo pré-escolar e continuando através de todas as fases de ensino formal e não-formal c) aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de cada disciplina, de modo que se adquira uma perspectiva global e equilibrada d) examinar as principais questões ambientais, do ponto de vista local, regional, nacional e internacional, e modo que os educandos se identifiquem com as condições ambientais de outras regiões geográficas e) concentrar-se nas situações ambientais atuais, tendo em conta também a perspectiva histórica
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f) insistir no valor e na necessidade da cooperação local, nacional e internacional para prevenir e resolver os problemas ambientais g) considerar, de maneira explícita, os aspectos ambientais nos plenos de desenvolvimento e crescimento h) ajudar a descobrir os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais i) destacar a complexidade dos problemas ambientais e, em conseqüência, a necessidade de desenvolver o senso crítico e as habilidades necessárias para resolver tais problemas j) utilizar diversos ambientes educativos e uma ampla gama de métodos para comunicar e adquirir conhecimentos sobre o meio ambiente, acentuando devidamente as atividades práticas e as experiências pessoais Por meio do trabalho realizado com o Maurinho, pude perceber o envolvimento das crianças e a importância de elas terem o boneco, com o qual se identificaram.
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5 CONCLUSÃO
Esta pesquisa me possibilitou compreender melhor o meu papel social de professora na construção de um conhecimento, mais especificamente na construção da consciência ambiental nas crianças. Utilizando o conhecimento do dia-a-dia das crianças, foi possível realizar as atividades e ajudá-las a compreender o papel que elas têm na educação ambiental. Nesse processo o conceito foi construído como uma forma de agir, refletir e falar. O ambiente da sala de aula foi um espaço de rica interação discursiva em que eu e os alunos fomos atores e protagonistas da construção coletiva de sentidos. Eu aprendi a ensinar realizando a pesquisa, e o resultado dela ia me ensinando a aprender. Aos alunos foi dada a possibilidade de se comunicarem e relacionarem com as a natureza, percebendo-se parte dela. Neste contexto, surgiram novas palavras e sentidos que, da minha parte, me exigiam pensar e refletir o mundo deles. Nesse processo aprendemos juntos. O saber escolar é muitas vezes carregado ideologicamente de um pensamento dominante na esfera política, que tanto impõe para negar uma natureza diferente. São concepções não visíveis que estão estabelecidas nas práticas pedagógicas dos educadores ambientais, e que contribuem para uma compreensão de que as relações de conhecimento sobre os problemas ambientais são construídos com signos que representam as relações e poder imbricados na sociedade. Se não decifrarmos historicamente o que está por trás da linguagem, como iremos atingir um dos objetivos básicos, também em Educação Ambiental, que é a construção de um conhecimento através do qual o indivíduo opere uma mudança de posturas em relação ao processo de apropriação e transformação da natureza? Finalmente, entendo o conceito de natureza como histórico, ou seja, a natureza não é um produto exclusivo das leis naturais, mas é um produto das necessidades impostas pelo relacionamento de apropriação e transformação que os homens estabelecem entre si, mediado pelo trabalho; relacionamento esse que é construído em condições históricas determinadas.
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O homem vive da natureza, ou também, a natureza é o seu corpo, com o qual tem de manter-se em permanente intercâmbio para não morrer. Afirmar que a vida física e espiritual do homem e a natureza são interdependentes significa apenas que a natureza se inter-relaciona consigo mesma, já que o homem é uma parte da natureza (Marx, 2001, p.116).
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