"Não adianta morrer", de Francisco Maciel

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e quinze da tarde, e vai morrer às duas e vinte e dois. Alto, olhos verdes, funkeiro pixaim louro oxigenado, podia ter sido o que quisesse na vida. Jogador de futebol. Segurança. Gigolô. Astro. Sempre sonhou brilhar, era diferente, estava em outra. Mas escolheu a parada errada. Agora está correndo pela Maia. Ilusão.

Francisco Maciel nasceu em São Gonçalo, Rio de Janeiro, em 1950. Em 1997, venceu o Prêmio Julia Mann de Literatura, promovido pelo Goethe-Institut, com o conto “Entre dois mundos”, cujo título batizou a coletânea com os textos vencedores publicada em 2001 pela Estação Liberdade — que também editou o primeiro romance dele, O primeiro dia do ano da peste, no mesmo ano. Vive hoje em São Gonçalo, para onde voltou após um longo exílio no Estácio.

não adianta morrer

F. M.

não adianta morrer Francisco Maciel

ISBN 978-85-7448-245-3

9 788574 482453

Romance

questrou seu autor por mais de dez anos, a ponto de transformá-lo em um conversador monotemático, um “cavalo” montado por personagens que exigiam atenção e oferendas a todo instante, noite e dia. Um tremendo encosto. É claro que o escriba, vez ou outra, conseguiu escapar do cativeiro e exercer as tarefas básicas para a sobrevivência pessoal, mas nem sempre de corpo inteiro. Uma dessas “janelas de oportunidade” foi o momento em que o assombrado autor e sua obra tão exigente receberam o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura, edição 2012, na categoria Ficção. Não se deixe enganar. Não adianta morrer não é um livro de autoajuda ou um manual de sobrevivência, cabala, dicionário de símbolos. Ele não pretende explicar a existência, propor a solução para mistérios arcanos, decifrar enigmas místicos, facilitar o entendimento da máquina do mundo, fazer uma ponte entre o divino e o humano. No mínimo, ele é uma narrativa no fio da navalha entre verdade e ficção. Tentando ser simples, gráfico, básico: Não adianta morrer é um tabuleiro de damas (e cavalheiros): Pedrão, Vovô do Crime, Guile Xangô, Vavau, Beleco, Pardal Wenchell, Lana, Olívia, Mirtes, Dafé, Marcelo Cachaça, as Comadres, os Quatro Mandelas, o Comando Vira-lata, e outras peças da pesada, espíritos de porco, atores atormentados.

www.estacaoliberdade.com.br

“E quando o tempo-vento soprava, os marmanjos apagavam e viravam cinzas.”

não adianta morrer

Dafé está correndo pela Maia de Lacerda às duas

E sta é a versão definitiva de um livro que se-

Francisco Maciel

Ainda no universo do jogo, também pode ser uma mesa de carteado debaixo de uma marquise num dia de domingo, as famílias passando para a missa, um bonde voltando do baile, as motos chispam, os táxis estão parados, cachorros, gatos, pombos, um bem-te-vi na árvore do outro lado da rua. Os naipes podem ser os tradicionais — espadas, copas, ouros e paus —, mas as figuras serão necessariamente novas: o Assassino, o Taxista, a Traição, o Canalha, o Soldado, o General, a Vida, a Morte, o Sonho, a Palavra.


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