Carta a Christophe de Beaumont - Jean-Jacques Rousseau

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NENHUMA VERDADE TÃO CLARAMENTE ENUNCIADA QUE SEJA IMUNE A QUALQUER OBJEÇÃO CAPCIOSA, TAMBÉM NÃO HÁ

Jean-Jacques Rousseau

“NOSSAS LÍNGUAS SÃO OBRAS DOS HOMENS, E OS HOMENS SÃO LIMITADOS. NOSSAS LÍNGUAS SÃO OBRAS DOS HOMENS, E OS HOMENS SÃO MENTIROSOS. COMO NÃO HÁ

ISBN 85-7448-110-6

9 788574 481104

E A

Jean-Jacques Rousseau Carta a Christophe de Beaumont E OUTROS ESCRITOS SOBRE A

RELIGIÃO E A MORAL

R ELIGIÃO

Carta a Beaumont

E OUTROS ESCRITOS SOBRE A

ALGUMA FALSA RAZÃO.”

M ORAL

MENTIRA TÃO GROSSEIRA QUE NÃO POSSA SER APOIADA POR

Carta a Christophe de Beaumont

em Paris e em sua cidade natal, vindo a amargar um longo e penoso exílio. O que, afinal, não deixa de ser compreensível, pois o ataque direto às convicções religiosas pode ser neutralizado com alguma facilidade, ao passo que a proposta de uma genuína reforma, baseada na consciência e nos sentimentos mais íntimos e autênticos do ser humano afigura-se muito mais temível, particularmente quando conduzida com o formidável talento literário e argumentativo, como é o caso de Rousseau. Este livro é portanto um convite ao leitor para experimentar em si mesmo esse impacto de idéias e refletir criticamente sobre as concepções deste filósofo acerca da condição humana, da divindade, da providência, da fé e da revelação; e, não menos importante, sobre as implicações desses temas nos campos da educação, da moral e da política. Nos textos aqui reunidos, em sua maioria cartas escritas originalmente a amigos (e também a inimigos...), encontramos aquele cuidado meticuloso por ele empregado na produção de seus livros mais conhecidos, dado que esta correspondência foi toda ela concebida com vistas à publicação. Obras como as Cartas morais, a Carta sobre a Providência, as Cartas a Malesherbes e principalmente a Carta a Beaumont, resposta ao documento acusatório preparado pelo então Arcebispo de Paris – que também encontra-se aqui reproduzida –, são há muito reconhecidas como indispensáveis para uma apreciação mais profunda do pensamento do autor; ao apresentá-las reunidas pela primeira vez em língua portuguesa, este volume pretende preencher uma importante lacuna na bibliografia brasileira dos estudos sobre Rousseau.

José Oscar de Almeida Marques, org.

O tema da religião e suas articulações com a política e a moral é o fio condutor desta coletânea de ensaios e correspondências de Jean-Jacques Rousseau, o pensador de Genebra que, ao lado de Montesquieu, Voltaire, Diderot e d’Alembert se inseriu na grande empreitada do Esclarecimento, combatendo as trevas, a ignorância e o preconceito que ainda tolhiam os homens e a sociedade na segunda metade do século XVIII. Neste contexto, Rousseau constitui uma figura muito singular, pois, apesar de colaborador da Enciclopédia e íntimo do círculo dos philosophes, foi dele que a modernidade ainda nascente – da qual foi um dos principais artífices – recebeu a primeira e mais severa crítica em seus aspectos econômicos, sociais, artísticos e educacionais. É fato conhecido que na época já ocorriam protestos contra a supremacia da ciência e da razão diante dos valores religiosos e tradicionais, mas estes provinham compreensivelmente do flanco conservador, opondo-se aos próprios princípios liberais, individualistas e seculares das novas forças que se organizavam. É apenas com Rousseau que a modernidade foi chamada a prestar contas em seus próprios termos e condenada por seu insucesso em prover a melhoria das condições materiais e morais dos seres humanos rumo à máxima liberdade, felicidade e dignidade de cada um. Crítico das Luzes, de relações rompidas com os círculos intelectuais da metrópole parisiense, Rousseau não teve melhor tratamento por parte dos oponentes, criando-se a paradoxal situação em que ateus declarados como Diderot e d’Holbach (e antes deles, Espinosa) eram deixados em paz pelo regime e pela Igreja Católica, ao passo que Rousseau – em suas próprias palavras, “o único homem na França que acreditava em Deus” – tivera sua prisão decretada, suas obras queimadas


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