Cassandra - Christa Wolf

Page 1

Eu, a vidente! A filha de Príamo. Cega por

Tradução de Marijane Vieira Lisboa

Em Was bleibt (O que fica, escrito em 1979 e publicado em 1990), em Auf dem Weg nach Tabou (A caminho de Tabu, 1995) e em Ein Tag im Jahr (Um dia por ano, 2003), Christa Wolf se debruça sobre a vida na RDA entre coerção, tolerância e conquista de espaço frente ao regime de partido único, nos trazendo ainda seu confronto pessoal com a unificação alemã.

ISBN 978-85-7448-129-6

Cassandra, filha dos reis troianos Hécuba e Príamo, é uma bela e trá­gica figura mitológica da Guerra de Tróia. Amada por Apolo, recebe deste o dom da profecia. Não se entregando a ele, é fulminada por castigo divino: a partir de então, ninguém mais acreditaria nela.

Christa Wolf

tanto tempo diante dessa evidência: que tivera que escolher entre a minha origem e essa função. Tanto tempo amedrontada diante do horror que deveria despertar em meu povo, caso eu estivesse certa. E esse horror antecipou-se, atravessando o mar antes de mim. O povo daqui, ingênuo se comparado aos troianos — pois ele não conheceu a guerra —, expressa seus sentimentos, toca nos carros, nos objetos estrangeiros, nas armas do butim; até nos cavalos. Mas não em mim.

Cassandra

© Anna Weise

Christa Wolf nasceu em 18 de março de 1929 em Landsberg sobre o Warthe, hoje GorzówWielkopolski, na Polônia. Ao final da guerra, em 1945, a família teve que transferir-se para o Mecklemburgo, que viria a integrar a República Democrá­tica Alemã. Ela foi filiada ao Partido Socialista Unificado alemão de 1949 a 1990, mantendo-se fiel ao Estado mas crítica do regime. Estudou literatura em Jena e Leipzig, e de 1953 a 1962 trabalhou numa revista literá­ria e como editora na Mitteldeutscher Verlag, depois do que dedicou-se unicamente a compor uma das obras mais importantes (e mais premiadas) da literatura alemã contemporânea, na qual dominam a ética do indivíduo frente ao Estado e outras questões morais. Destacou-se logo de início, em 1963, com Der geteilte Himmel (O céu dividido), e depois, entre suas obras mais importantes, sucederiam: Nachdenken über Christa T. (Réquiem para Christa T., 1968), Kein Ort, Nirgends (Em lugar algum, 1979), Cassandra (1983) e Medea (1996).

Christa Wolf assandra

C

Prisioneira de Agamemon diante dos portões de Micenas, Cassandra só tem algumas horas de vida antes que os guardas de Clitemnestra venham-na buscar. Enquanto isso, querendo ser testemunha de seu próprio destino até o último momento, repassa o que foi sua vida: a infância no palá­cio, a dolorosa separação de seu pai, seu mergulho na loucura quando suas visões contradiziam as verdades palacianas, os sofrimentos da interminá­vel guerra que assolava sua gente. Esta obra se divide no romance Cassandra, com sua já­ famosa releitura da Guerra de Tróia enquanto luta pelo poder econômico e registro da mudança de uma sociedade matriarcal para uma patriarcal, e quatro relatos, “as conferências”, nos quais Christa Wolf narra, por ocasião de uma viagem à Grécia, como a figura de Cassandra se apossou inteiramente de sua mente e seu dia-a-dia, fazendo com que não conseguisse pensar em outra coisa, em rara entrega espiritual e literá­ria. O conjunto do romance e das conferências é comumente considerado a obra-prima de Christa Wolf.

9 788574 481296

Capa_Cassandra_Final_Estacao.ind1 1

11/10/2007 13:07:42


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.
Cassandra - Christa Wolf by Estação Liberdade - Issuu