Após a Segunda Guerra, viveu um período nos Esta dos Unidos, até retornar em definitivo ao seu país natal. Outras de suas obras incluem o romance Mao chéng ji [A cidade dos gatos, 1932] e a peça de teatro Chágan [A casa de chá, 1956]. Faleceu em 24 de agosto 1966, no apogeu da Revolução Cultural, depois de, acusado juntamente com outros companheiros de “direitismo”, ter sofrido perseguição política. Foi reabilitado em 1978 e hoje suas mais de quarenta obras publicadas circulam amplamente.
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LAO SHE
da China moderna, retrato e símbolo da odisseia que o país enfrentou no século XX. O garoto do riquixá, sua obra mais famosa, narra as aventuras de Xiangzi, o Camelo, na Beijing dos anos 1920 e 1930, onde guerra, oportunismo, perigos e desilusões marcam o cotidiano. Tentando ganhar a vida como puxador de riquixá, Xiangzi passa por um incrível sortimento de incidentes enquanto nos revela os porões de uma Beijing hoje desaparecida e que Lao She nos faz reviver com um notável senso de observação e um comedido sarcasmo. Xiangzi, Tigresa, a pequena Xiaofuzi e outros personagens memoráveis se movem numa babel inebriante neste paradigma de determinismo social, que marcou época na literatura de tempos tão conturbados na China pré-revolucionária.
ISBN 978-85-7448-277-4
Tradução do chinês
Márcia Schmaltz
9 788574 482774
O GAROTO DO RIQUIXA LAO SHE
ginário coletivo como o eldorado redentor de oportunidades para uma vida melhor, sempre alimentou esperanças, não importando o lugar ou a época. Essa temática que, em suma, é a luta pela sobrevivência, ganha um registro impactante em O garoto do riquixá, romance de Lao She publicado originalmente em 1937, que agora dá início a traduções do chinês pela Estação Liberdade. Ambientada na Beijing dos anos 1920 e 1930, tempos de grande efervescência social e política na China, a trama acompanha a catártica cruzada de Xiangzi, o personagem-título. Vindo do campo, ele se instala na metrópole determinado a se tornar um condutor de riquixá. A ideia que o anima é simples: economizar seus yuans para conseguir comprar o próprio veículo e, assim, se tornar um trabalhador autônomo.
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O garoto do riquixá
Lao She nasceu em Beijing, em 3 de fevereiro de 1899. Órfão de pai desde criança, não pôde estudar até alcançar a idade dos nove anos, em função da falta de recursos da família. Frequentou a Escola Normal de Beijing, onde se formou em 1918. Foi diretor em escolas primárias e secundárias tanto em Beijing quanto em Tianjin. Teve uma primeira estada no Ocidente entre 1924 e 1929, em Londres, onde atuou como professor de chinês e escreveu suas primeiras obras.
A utopia da cidade grande, pintada no ima-
Lao She é um dos mais venerados escritores
O GAROTO DO RIQUIXA
ruas de Beijing, Lao She marcou seu nome na literatura moderna de seu país. Ao personificar em Xiangzi essa história, o autor faz aqui o registro de uma época, pintando com grande humanismo a eterna luta entre os opulentos e os miseráveis, numa China arcaica ainda bem destoante da potência econômica que despontaria algumas décadas mais tarde.
No entanto, ora traído por sua inocência, ora ludibriado por patrões mal-intencionados ou figuras interesseiras que cruzam seu caminho, Xiangzi parece fadado a um destino de danações. O rapagão bem-disposto e sonhador que veio à cidade com pouco mais do que a cara, a coragem e a roupa do corpo tem de lidar com o choque de uma realidade hostil, onde a noção de sobrevivência pode significar atropelar o próximo, se necessário for. Com esta tragédia social, colocando o povo como principal tema e se apropriando do dialeto das
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