Afeganistão, anos 1990. O jovem desempregado Rassul planeja um assassinato nos moldes daquele cometido por Raskólnikov, herói de Dostoiévski em Crime e castigo. O plano de eliminar a velha desprezível que humilha a namorada dele, entretanto, não sai como o previsto.
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Neste país onde a lei escrita é relativa, Rassul acredita que o seu ato de exterminar a escória da sociedade é exemplar, mas como fazer com que esse assassinato ganhe uma dimensão única se ele passa despercebido? Como atingir o patamar dos homens de grandes feitos e entrar para a história se nem o próprio autor do crime tem certeza de ter matado nana Alia? Como dar um sentido a seu crime e, mais do que isso, à sua própria vida?
Maldito seja
Maldito seja APF/Other Images
“O novo romance (de Atiq Rahimi) não é apenas alentador, bonito e forte, é indispensável.” (Le Point, 7/4/2011) “[...] no mais, Rahimi realça a dimensão existencialista do romance de Dostoiévski insistindo sobre a vontade de redenção de seu personagem. O Prêmio Goncourt de 2008 vai até mais longe: ‘Este livro (Crime e castigo) deveria ser lido no Afeganistão, um país outrora místico, que perdeu o sentimento de responsabilidade’.”
De súbito, perde a voz. “O que fazer?” é a pergunta que ecoa enquanto a angústia de não ter sido bem-sucedido em seu ato passa a assombrar o herói, que sai em busca de salvação pelas ruas de uma Cabul em guerra civil, após a retirada das tropas soviéticas. Em meio às bombas e mísseis, o leitor acompanha as inquietações e o cotidiano do conturbado personagem, permeado por tragadas de haxixe e delírios sobre uma mulher de tchadari azul.
(Le Figaro, 10/3/2011) APF/Other Images
“À maneira dostoiveskiana, que ele molda e ressente, Atiq Rahimi injeta seu próprio sopro, esse jeito todo pessoal de oscilar entre lirismo e despojamento, grandes tiradas e didascálias.” (Le Magazine Littéraire, 11/4/2011)
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Tradução de Marcos Flamínio Peres ISBN 978-85-7448-210-1
Atiq Rahimi nasceu em 1962 em Cabul. Faz seus estudos no colégio francês e cursa Letras na universidade da capital afegã. Em 1984, durante a guerra, deixa o país rumo ao Paquistão. Obtém asilo político na França, onde faz doutorado em comunicação audiovisual na Sorbonne. Publica Terra e cinzas (adaptado para o cinema pelo próprio autor) e As mil casas do sonho e do terror, escritos em persa e posteriormente vertidos por ele para o francês. Sua primeira obra literária escrita diretamente em francês, Syngué sabour, publicada em trinta países, rende-lhe o prêmio Goncourt em 2008. Em 2009, vem para o Brasil como convidado da Flip. Atualmente reside em Paris, mas cumpre temporadas no Afeganistão, onde mantém workshops para escritores e cineastas.
Maldito seja Dostoiévski
— Antes, diga-me por que não foi até o fim de seu crime. — É justamente a pergunta que me faço. Talvez porque eu não tenha podido... — Ou porque não quis. Porque você não é um bandido. É um homem justo. — Foi também o erro de Dostoiévski. — O erro de Dostoiévski? Que mais ele lhe fez, o seu grande autor? — Ele me proibiu de concluir meu ato.
O premiado autor assina aqui, em seu quarto romance publicado no Brasil pela Estação Liberdade, um relato incandescente que nos faz refletir sobre a justiça e a moral, a incoerência do conceito pré-estabelecido sobre o crime e o poder modificador da culpa. Acossado por seu crime, Rassul sai ao encalço de um castigo que parece não existir para ele sob essas latitudes.
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