RAFIK SCHAMI
Sua mulher Nura nada sabe dos projetos de seu marido e se sente rejeitada. Ela se apaixona por um cristão e desaparece sem deixar a menor pista. Neste espelho da sociedade síria nos anos cinquenta, Rafik Schami nos traz a arte da caligrafia em trama passional narrada ao estilo oriental.
O segredo do calígrafo
RAFIK SCHAMI nasceu em Damasco em 1946. Marcou época o jornal mural AlMuntalek, que ele fundou e dirigiu na cidade velha de Damasco. Vive na Alemanha desde 1971, onde estudou química e exerceu vários ofícios antes de se dedicar à literatura a partir de 1982. Suas obras foram traduzidas para 24 línguas e foram contempladas com numerosas distinções em diversos países, destacando-se o importante prêmio Adelbert von Chamisso na Alemanha. Entre elas, destacam-se Die Sehnsucht der Schwalbe [As saudades da andorinha], de 2000, Die dunkle Seite der Liebe [O lado obscuro do amor], de 2004, e Der Kameltreiber von Heidelberg [O puxador de camelos de Heidelberg], de 2006. Notabilizou-se com leituras públicas de suas obras, que narra ao velho estilo oriental.
quer realizar o grande sonho de uma reforma na escrita árabe e não imagina quais perigos o aguardam.
Tradução de Silvia Bittencourt
9 788574 481883
© Root Leeb
O embate entre a continuidade e a renovação, o amor e a sensualidade mal contidos pelos véus de uma sociedade tradicional, o mistério e a violência latente, todos esses elementos o leitor encontrará ao sabor de sua caminhada pelas sinuosas vielas de Damasco.
A turbulenta história do calígrafo damasceno Hamid Farsi, que
ISBN 978-85-7448-188-3
de nuances e contradições terá início — o amor entre uma muçulmana e um cristão.
RAFIK SCHAMI O segredo do calígrafo
Nas ruelas estreitas da cidade velha de Damasco, um boato traça seu caminho: Nura, a bela esposa do famoso calígrafo Hamid Farsi, sumiu sem deixar qualquer pista. Por que deixou para trás uma vida que muitos lhe invejam? Ou ela teria sido vítima de sequestro dos inimigos de seu marido? Desde sua mais tenra idade, Hamid Farsi era festejado como gênio da caligrafia. Em sua beleza toda em filigranas se manifesta da forma mais pura a poesia árabe. No entanto, com o passar dos anos, ele percebe também as fraquezas de sua língua, que restringem seu emprego no dia a dia. Integrando uma confraria secreta de sábios, Hamid Farsi desenvolve planos para uma reforma radical da língua sem imaginar os perigos que o aguardam. Joga-se com o empenho de sua vida em seu trabalho de modo a realizar o grande sonho de sua reforma. Nura não sabe nada dos planos de seu marido. Ela conhece apenas seu lado distante e egocêntrico, que a degradou para ama de casa logo após a noite de núpcias. Não constituirá surpresa se as atenções que lhe devota um jovem e inteligente aprendiz do ateliê de seu marido encontrarem ecos. Uma paixão intensa, complexa e repleta
Ô meu Deus, você, cúmplice do amor em longa noite
estacaoliberdade.com.br
O segredo do calĂgrafo
R afik S chami
O segredo do calígrafo
Tradução
Silvia Bittencourt Caligrafias
Ismat Amiralai
Título original: Das Geheimnis des Kalligraphen © Carl Hanser Verlag, Munique, 2008 © Editora Estação Liberdade, 2010, para esta tradução
Preparação de texto Antonio Carlos Soares
Revisão Leandro Rodrigues
Assistência editorial Tomoe Moroizumi
Composição Johannes C. Bergmann/Estação Liberdade Projeto gráfico de capa Peter-Andreas Hassiepen/Hanser
Imagem de capa © David Vintiner/Corbis/Latinstock
Editores Angel Bojadsen e Edilberto F. Verza
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ S324s Schami, Rafik, 1946 O segredo do calígrafo / Rafik Schami ; tradução Silvia Bittencourt. - São Paulo : Estação Liberdade, 2010. Tradução de: Das Geheimnis des Kalligraphen ISBN 978-85-7448-188-3 1. Romance alemão. I. Bittencourt, Silvia. II. Título. 10-3784.
CDD: 833 CDU: 821.112.2-3
Todos os direitos reservados à Editora Estação Liberdade Ltda. Rua Dona Elisa, 116 | 01155-030 | São Paulo-SP Tel.: (11) 3661 2881 | Fax: (11) 3825 4239 www.estacaoliberdade.com.br
S umário
13 O boato ou Como as histórias começam em Damasco 21 O primeiro núcleo da verdade 339 O segundo núcleo da verdade 431 Fim de uma história e começo de um boato 441 S obre
as caligrafias
9
Para Ibn Muqla (886-940), o maior arquiteto das letras e de sua desgraรงa
O boato ou Como as histรณrias comeรงam em Damasco
O centro antigo de Damasco encontrava-se ainda sob o manto cinza da madrugada, quando um boato incrível circulou pelas mesas das pequenas barracas e entre os primeiros fregueses das padarias: Nura, a linda mulher do respeitado e abastado calígrafo Hamid Farsi, havia fugido. O mês de abril de 1957 presenteou Damasco com o calor do verão. Nessas primeiras horas, o ar da madrugada ainda preenchia as ruelas e o centro antigo cheirava a flores de jasmim dos pátios, a tempero e madeira úmida. A rua Reta estava às escuras. Só as padarias e as barracas tinham luz. Logo, os chamados dos muezins penetraram nas ruelas e nos quartos, um depois do outro, formando um eco contínuo. Quando o sol apareceu atrás do Portão Oriental, no começo da rua Reta, e varreu o último cinza do céu azul, os comerciantes de carne, verdura e mantimentos já sabiam da fuga de Nura. A rua cheirava a óleo, madeira queimada e excremento de cavalo. Perto das oito horas, o cheiro de sabão em pó, cominho e, aqui e acolá, de faláfel, começava a se espalhar na rua Reta. Barbeiros, paste leiros e carpinteiros tinham aberto e esguichado com água a calçada em frente às suas lojas. Enquanto isso, espalhava-se que Nura era a filha do famoso sábio Rami Arabi. Quando os farmacêuticos, relojoeiros e antiquários foram abrindo pouco a pouco suas lojas, sem esperar grandes negócios, o boato 15
chegou ao Portão Oriental, e como crescera tanto até lá, tornando-se uma grande obra inventiva, não conseguiu passar por ele. Bateu no arco de pedra e estourou em mil e um pedaços, que deslizaram pelas ruelas e procuraram as casas como ratos notívagos. Más línguas contavam que Nura fugira porque seu marido teria lhe escrito inflamadas cartas de amor; e os hábeis propagadores de boatos de Damasco se interrompiam de repente, sabendo que atrairiam assim seus ouvintes para uma armadilha. — Como? — perguntavam estes, indignados. — Uma mulher abandona o marido porque este lhe escreveu sobre as chamas de seu amor? — Não dele, não dele — replicavam as más línguas com a calma dos vencedores —, ele escrevia sob encomenda do mulherengo Nassri Abbani, que queria seduzir a mulher com as cartas. Este gara nhão é podre de rico, mas fora o seu nome ele não sabe escrever nada certo. Nassri Abbani era um conquistador conhecido. Herdara de seu pai mais de dez casas e grandes pomares perto da cidade. Ao contrário de seus irmãos, Salah e Muhammad, que ampliavam a riqueza herdada de forma dedicada, aplicada, e eram maridos honrados, Nassri fornicava sempre que podia. Ele tinha quatro mulheres em quatro casas, gerava quatro crianças por ano e ainda sustentava três putas na cidade. Quando deu meio-dia e o calor chamuscante afugentou todos os cheiros da rua Reta e a sombra dos poucos passantes cobria apenas os pés, tanto os habitantes do bairro cristão como os dos bairros judaico e muçulmano sabiam da fuga. A casa suntuosa do calígrafo ficava perto do arco romano e da igreja ortodoxa de Santa Maria, lá onde os bairros se esbarravam. — Alguns homens adoecem com áraque ou haxixe, outros morrem por causa do estômago insaciável. Nassri adoece pelas mulheres. É como resfriado e tuberculose, pega um e não pega o outro — disse a parteira Huda, que ajudara a colocar todos os filhos dele no mundo e era confidente de suas quatro mulheres. Em seguida, pôs ostensivamente devagar a xícara de café moca sobre a mesa, como se ela 16
mesma sofresse dessas graves diagnoses. As cinco vizinhas acenaram com a cabeça, sem respirar. — E essa doença é contagiosa? — perguntou uma mulher corpulenta, passando-se por séria. A parteira sacudiu a cabeça, e as outras riram contidamente, como se a pergunta tivesse sido constrangedora para elas. Movido por sua mania, Nassri cortejava todas as mulheres. Não fazia diferença entre mulheres da classe alta e camponesas, entre putas velhas e moças jovens. Contam que Almás, sua mulher mais jovem, de dezesseis anos, dissera uma vez: — Nassri não pode ver um buraco sem colocar aquilo dentro. Não me assombraria se ele chegasse um dia em casa com uma colmeia de abelhas pendurada no pau.
Como é comum neste tipo de homem, o coração de Nassri era consumido pelas chamas sempre que uma mulher o rejeitava. Nura não queria saber dele, e então ele ficou quase louco por ela. Dizem que passou meses sem tocar numa puta. — Ele estava obcecado — confidenciou sua jovem mulher Almás para a parteira Huda. — Dormia raramente comigo e, quando se deitava ao meu lado, eu percebia que sua alma estava com a estranha. Mas só depois que ela fugiu é que eu soube quem era. O calígrafo teria escrito as cartas de amor, que deveriam amolecer qualquer pedra; mas isto foi para Nura o cume do descaramento. Ela entregou as cartas para o pai. De início, este sábio sufista, cujo caráter era um exemplo de serenidade, não queria acreditar. Ele supunha que algum espírito mau queria destruir a honra do calígrafo. Mas as provas eram esmagadoras. — Não foi apenas a escrita inconfundível do calígrafo — contava a parteira. — A beleza de Nura foi celebrada nas cartas e teria sido traçada de forma tão precisa que, além dela mesma e de sua mãe, só podia ter conhecimento disso o marido e ninguém mais. E agora a parteira baixava tanto a voz que as outras mulheres mal respiravam: 17
— Só eles podiam saber como eram os seios, o ventre e as pernas de Nura, e onde ela tinha alguma pinta — acrescentou, como se tivesse lido as cartas. — O calígrafo não sabia então o que dizer — adicionou uma outra vizinha —, pois não havia sido informado do destino das cartas do garanhão; poetas só descrevem aquilo que conhecem quando exaltam uma beleza estranha, desconhecida. — Que homem sem caráter — esse suspiro passava de boca em boca nos dias seguintes, como se houvesse apenas esse tema em Damasco. Alguém acrescentou, quando não havia crianças por perto: — Ele deve viver em desgraça, enquanto sua mulher se deita debaixo do garanhão. — Mas ela não está debaixo do garanhão. Fugiu e deixou os dois para trás. Isto é que é estranho — corrigiam as más línguas, em tom de segredo. Rumores com começo e fim conhecidos duram pouco em Damasco; o boato da fuga da linda mulher, porém, tinha um começo curioso, mas não um fim. Vadiava entre os homens, de café para café, nos pátios internos entre as rodas de mulheres, e se transformava sempre que pulava de uma língua para outra. Falava-se das extravagâncias do calígrafo, como a de que teria sido corrompido por Nassri Abbani para que este chegasse até a mulher. Das somas de dinheiro que o calígrafo teria recebido pelas cartas. Nassri teria pago o peso delas em ouro. — Por isso o ávido calígrafo escreveu as carta de amor com letras grandes e margens largas. De uma página ele fez cinco — sabiam as más línguas. Tudo isso deve ter contribuído para facilitar a decisão da jovem. Um núcleo da verdade permaneceu escondido de todos. Este núcleo chamava-se amor. Um ano antes, em abril de 1956, tivera início uma história de amor impetuosa. Nura se encontrava no final de um beco sem saída, quando de repente o amor rompeu o muro empilhado à sua frente e lhe mostrou um emaranhado de opções. Nura precisou agir. 18
Mas, como a verdade não é um simples damasco, ela tem um segundo núcleo, a respeito do qual Nura não sabia nada. O segundo núcleo desta história era o segredo do calígrafo.
19
O primeiro núcleo da verdade
Eu sigo o amor. Aonde sua caravana for, amor é a minha religião, minha fé. Ibn Arabi (1165-1240) sábio sufista
1.
Um homem cambaleou para fora de sua loja de cereais, sob a gritaria de um grupo de jovens. Tentou desesperadamente segurar-se na porta, mas a multidão barulhenta espancava-o nos dedos e braços, arrastava-o, dava-lhe golpes, ainda que não tão fortes. Como se tudo fosse uma brincadeira, os jovens riam e cantavam uma música absurda, na qual agradeciam a Deus e, ao mesmo tempo, xingavam o homem de forma asquerosa. Eram obscenidades rimadas vindas de analfabetos. — Socorro — gritou o homem, mas ninguém o ajudou. O medo fazia sua voz soar enrouquecida. Crianças pequenas, usando roupas pobres, zumbiam como vespas ao redor da multidão de jovens que se fechava em volta do homem. As crianças insistiam e imploravam, também queriam tocar nele. Caíam no chão, levantavam-se, cuspiam como adultos, longe e ruidosamente, e corriam atrás da corja. Depois de dois anos de seca, fazia mais de uma semana que chovia sem parar; era março de 1942. Os habitantes da cidade, aliviados, podiam voltar a dormir profundamente. Muito sofrimento se abatera como um elfo sobre Damasco. Já em setembro do primeiro ano da seca, os sinistros haviam chegado; eram os cortiçóis que procuravam, em bandos enormes, água e alimento nos jardins dos oásis verdes de Damasco. Sabia-se, desde tempos imemoráveis, que quando aparecia esta ave de estepe, do tamanho de uma pomba e malhada com cores de areia, haveria seca. Assim aconteceu também naquele outono. Assim acontecia sempre. Os camponeses odiavam o pássaro. 23
Logo que o primeiro cortiçol era avistado, os comerciantes de trigo, lentilha, grão de bico, açúcar e feijão aumentavam os preços. Nas mesquitas, desde dezembro os imames rezavam com centenas de crianças e jovens, que frequentavam em bandos as casas de oração, acompanhados de professores e educadores. O céu parecia ter engolido as nuvens. O azul era poeirento. A semente perseverava na terra seca, desejando água; e o que rapidamente brotava morria — fino como cabelo de criança — no calor do verão, que durava até o final de outubro. Camponeses de aldeias próximas aceitavam qualquer trabalho em Damasco por um pedaço de pão e agradeciam por isso, pois sabiam que logo chegariam os camponeses do Sul árido, ainda mais famintos, que se satisfariam com salário ainda menor. Desde outubro o xeque Rami Arabi, pai de Nura, andava exausto, pois além das cinco orações oficiais em sua pequena mesquita ele precisava guiar as rodas de homens que cantavam músicas religiosas até a aurora para amansar Deus e pedir chuva. De dia ele também não tinha descanso, pois entre os períodos oficiais de oração aproxima vam-se as massas de estudantes, com as quais ele ensaiava cantos tristes para amaciar o coração de Deus. Eram músicas chorosas, das quais o xeque Rami Arabi não gostava, porque delas só escorriam superstições. As superstições dominavam as pessoas como por mágica. Não eram os incultos, mas sim homens respeitados os que acreditavam que as colunas de pedra da mesquita vizinha choravam de emoção durante as orações do xeque Hussein Kiftaros. O xeque Hussein era um semianalfabeto com um grande turbante e uma longa barba. Rami Arabi sabia que colunas nunca choram, mas que por causa do frio as gotas de água se condensam do vapor exalado pelos fiéis. Mas isto ele não podia falar. Tinha de tolerar as superstições para que os analfabetos não perdessem a fé, dizia à esposa. No dia 1° de março caiu a primeira gota de água. Um menino chegou correndo à mesquita no momento em que centenas de crianças cantavam. Gritou tão alto que todos emudeceram. O menino se assustou com o silêncio, e suas palavras saíram envergonhadas de sua boca: — Está chovendo — disse ele. Uma onda de alívio atravessou a mesquita e ouviu-se de todos os cantos o agradecimento a Deus: Allah 24
Akbar. E, como se também seus olhos tivessem recebido a bênção de Deus, muito adultos choraram de emoção. Lá fora chovia, hesitantemente a princípio, torrencialmente depois. A terra empoeirada pulava de alegria; em seguida se saciou, tornando-se serena e escura. Em poucos dias, livre da poeira, o asfalto das ruas de Damasco brilhava, e os campos amarelos fora da cidade ganhavam um fino manto esverdeado. Os pobres respiravam aliviados, e os camponeses tomavam o caminho de volta para suas aldeias e mulheres. Mas o xeque Rami se irritava porque a mesquita virava um deserto. Afora alguns homens velhos, ninguém aparecia nas orações. — Eles tratam Deus como um garçom. Pedem-lhe chuva e, assim que a recebem, dão-lhe os ombros — dizia ele. A chuva amainava, um vento morno levava as finas gotas de água para os rostos dos jovens, que transferiram a dança com o homem para o meio da rua. Cercavam-no com os braços e rodavam-no no centro, até que sua camisa voou sobre as cabeças; como se ela fosse uma cobra ou uma aranha, os menores fora da roda, excitados, começaram a pisoteá-la, mordê-la e rasgá-la em pedaços. O homem parou de resistir, pois as muitas bofetadas o desnor teavam. Seus lábios se mexiam, mas ele não emitia som algum. A certa altura, seus óculos voaram pelos ares e caíram numa poça na calçada. Um dos jovens já estava rouco de excitação. Não cantava mais versos, apenas palavrões alinhados. Como que extasiados, os jovens gritavam em coro e estendiam suas mãos para o céu: — Deus nos ouviu. O homem parecia não ver ninguém enquanto seu olhar vagueava em busca de apoio. Por um momento ele fitou Nura. Ela acabara de fazer seis ou sete anos e, protegida da chuva, estava sob a grande marquise colorida da loja de balas, na entrada de sua rua. Bem naquele momento queria começar a saborear o pirulito vermelho que comprara de Elias por uma piastra. Mas a cena à sua frente a deteve. Agora os jovens rasgavam as calças do homem e nenhum dos passantes o ajudava. Ele caiu. Seu rosto estava paralisado e pálido, como se ele já tivesse ideia do 25
RAFIK SCHAMI
Sua mulher Nura nada sabe dos projetos de seu marido e se sente rejeitada. Ela se apaixona por um cristão e desaparece sem deixar a menor pista. Neste espelho da sociedade síria nos anos cinquenta, Rafik Schami nos traz a arte da caligrafia em trama passional narrada ao estilo oriental.
O segredo do calígrafo
RAFIK SCHAMI nasceu em Damasco em 1946. Marcou época o jornal mural AlMuntalek, que ele fundou e dirigiu na cidade velha de Damasco. Vive na Alemanha desde 1971, onde estudou química e exerceu vários ofícios antes de se dedicar à literatura a partir de 1982. Suas obras foram traduzidas para 24 línguas e foram contempladas com numerosas distinções em diversos países, destacando-se o importante prêmio Adelbert von Chamisso na Alemanha. Entre elas, destacam-se Die Sehnsucht der Schwalbe [As saudades da andorinha], de 2000, Die dunkle Seite der Liebe [O lado obscuro do amor], de 2004, e Der Kameltreiber von Heidelberg [O puxador de camelos de Heidelberg], de 2006. Notabilizou-se com leituras públicas de suas obras, que narra ao velho estilo oriental.
quer realizar o grande sonho de uma reforma na escrita árabe e não imagina quais perigos o aguardam.
Tradução de Silvia Bittencourt
9 788574 481883
© Root Leeb
O embate entre a continuidade e a renovação, o amor e a sensualidade mal contidos pelos véus de uma sociedade tradicional, o mistério e a violência latente, todos esses elementos o leitor encontrará ao sabor de sua caminhada pelas sinuosas vielas de Damasco.
A turbulenta história do calígrafo damasceno Hamid Farsi, que
ISBN 978-85-7448-188-3
de nuances e contradições terá início — o amor entre uma muçulmana e um cristão.
RAFIK SCHAMI O segredo do calígrafo
Nas ruelas estreitas da cidade velha de Damasco, um boato traça seu caminho: Nura, a bela esposa do famoso calígrafo Hamid Farsi, sumiu sem deixar qualquer pista. Por que deixou para trás uma vida que muitos lhe invejam? Ou ela teria sido vítima de sequestro dos inimigos de seu marido? Desde sua mais tenra idade, Hamid Farsi era festejado como gênio da caligrafia. Em sua beleza toda em filigranas se manifesta da forma mais pura a poesia árabe. No entanto, com o passar dos anos, ele percebe também as fraquezas de sua língua, que restringem seu emprego no dia a dia. Integrando uma confraria secreta de sábios, Hamid Farsi desenvolve planos para uma reforma radical da língua sem imaginar os perigos que o aguardam. Joga-se com o empenho de sua vida em seu trabalho de modo a realizar o grande sonho de sua reforma. Nura não sabe nada dos planos de seu marido. Ela conhece apenas seu lado distante e egocêntrico, que a degradou para ama de casa logo após a noite de núpcias. Não constituirá surpresa se as atenções que lhe devota um jovem e inteligente aprendiz do ateliê de seu marido encontrarem ecos. Uma paixão intensa, complexa e repleta
Ô meu Deus, você, cúmplice do amor em longa noite
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