"Promessa ao amanhecer", de Romain Gary

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Desde a adolescência, a literatura ocupa o espaço mais importante na vida de Gary. Durante a guerra, entre uma missão e outra, escreve Éducation européenne, traduzido para 27 idiomas e que ganhou o prêmio da Crítica em 1945. Les racines du ciel é premiado com o Goncourt em 1956. Romain Gary se suicidou em 2 de dezembro de 1980. Alguns meses depois, foi revelado que era também o autor de quatro romances assinados por Émile Ajar, inclusive La vie devant soi, que obteve sob pseudônimo o prêmio Goncourt em 1975, o que faz de Gary o único autor a ganhá-lo duas vezes (o que o regulamento não permite). O conjunto de sua obra abrange cerca de trinta romances, ensaios e memórias.

Tradução de Mauro Pinheiro

ISBN 978-85-7448-149-4

9 788574 481494

Romain Gary

uniu-se às forças da França Livre. Capitão de esquadrilha, tomou parte da Batalha da Inglaterra e em campanhas na África, Abissínia, Líbia e Normandia, de 1940 a 1944. Recebeu a Legião de Honra e a Comenda da Libertação. Ingressou no Minis­tério do Exterior em 1945, como secretário e conselheiro da embaixada, em Sofia, Berna e, depois, na Seção Européia deste ministério. Porta voz na ONU de 1952 a 1956, foi em seguida nomea­do para a embaixada na Bolívia e Cônsul Geral em Los Angeles. Deixando a carreira diplomá­ tica em 1961, percorreu o mundo durante dez anos trabalhando para publicações americanas e realizou dois filmes, Les Oiseaux vont mourrir au Pérou (1968) e Kill (1972). Foi casado com a atriz americana Jean Seberg de 1962 a 1970.

rio na base aérea de Hartford Bridge não eram boas. Fazia muito frio. Eu escrevia à noite, dentro da cabana de telha metálica ondulada, que eu dividia com três camaradas; colocava meu casaco de vôo e minhas botas forradas, me instalava no leito e escrevia até de madrugada; meus dedos ficavam entorpecidos; meu hálito deixava sua marca vaporosa no ar gelado; não tive dificuldade alguma para reconstituir a atmosfera das planícies nevadas da Polônia, onde se passa o romance. Lá pelas três, quatro horas da manhã, largava minha caneta, montava na minha bicicleta e ia beber uma xícara de chá na cantina; embarcava depois no meu avião e partia para uma nova missão no amanhecer cinzento, contra alvos poderosamente protegidos.

Promessa ao amanhecer

Ingresso na aviação em 1938, foi instrutor de tiro na Escola de Aeronáutica de Salon. Em junho de 1940,

As condições para o trabalho literáJacques Robert / Gallimard

Nascido na Rússia em 1914, tendo chegado na França aos quatorze anos, Romain Gary fez seus estudos secundários em Nice e se formou em direito em Paris.

Romain Gary

Promessa ao amanhecer

Sobre Promessa ao amanhecer, há certa unanimidade em se dizer que é uma das mais belas narrativas sentimentais da literatura moderna, além de ser um pequeno épico de bravura, solidariedade e camaradagem. Ao mesmo tempo, constitui um recorte dos vários dramas superpostos a assolar a Europa na primeira parte do século XX. O protagonista-narrador, na verdade o próprio Romain Gary, é sujeito de uma história de vida única, atirado pelos ventos do destino entre meia dúzia de países. Relato autobiográfico, romance de amor, livro de guerra e narrativa de viagens, essa convergência de estilos com cru­ za­mento temático nos verte uma obra de singela riqueza e fascinante leitura. Instalado em seu refúgio da costa californiana, Gary debruça -se na idade madura sobre suas lembranças da infância na Lituânia à época russa, sua juventude numa Varsóvia de destino incerto, sua chegada na França em companhia de uma mãe tão memorável quanto quixotesca, sua carreira na aviação militar. Aí os relatos são pungentes, como quando seu avião é forçado a pousar sem piloto, pois este perdeu a vista ao ser atingido. Então não apenas tudo se inicia e termina com certa promessa feita ao amanhecer, como perde-se o fôlego com suas conseqüências. Promessa ao amanhecer talvez seja a obra mais afamada de Romain Gary devido a sua filmagem por Jules Dassin, com Gary sendo interpretado por vários atores e tendo Melina Mercouri como a mãe. O autor, paralelamente a seus jogos de identidades múltiplas e despistes, resquícios tanto de uma infância de mutações quanto de seus anos de combate, se destacou em toda sua obra como um sagaz polemista que atira, inclusive literalmente, contra toda e qualquer ignomínia política, literária ou cultural, reivindicando para si a linhagem do romance picaresco, em contraposição ao nouveau roman tão em voga à época.


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