A mistura improvável de gêneros e a originalidade na forma fazem de Reflexões do gato Murr um livro de inventividade ímpar e frescor cômico atemporal, assinado por um dos mais clássicos autores da produção literária alemã.
Tradução, apresentação e notas de Maria Aparecida Barbosa Ilustrações de Maximilian Liebenwein
E.T.A. Hoffmann
De novo, agora mais suavemente, duas mãos me pegaram e depuseram-me num lugar macio e quente. Sentia-me cada vez melhor e comecei a expressar minha agradável disposição interior soltando aqueles tons estranhos e bem peculiares da minha raça, que os homens muito acertadamente designam “ronronar”. Dessa maneira, dava largos passos rumo à minha formação como ser civilizado.
Reflexões do gato Murr
A originalidade de Reflexões do gato Murr, no entanto, não se resume à narrativa feita pelo gato-autor: como nos adverte o editor da obra, um acidente de edição teria impresso, no mesmo livro, o manuscrito de Murr e uma outra história, a do compositor Johannes Kreisler, originalmente escrita no verso dos papéis que o gato usou como suporte de suas memórias. A abordagem bem-humorada cede, então, à tensão da trama paralela, já que nela acompanhamos uma série de intrigas típicas vivenciadas entre personagens da realeza e subalternos, como amores proibidos, assassinatos e deliciosas conspirações.
Hoffmann Reflexões do gato Murr
Assim, o petulante Murr, em meio a reflexões filosóficas e divagações mundanas, repassa ao leitor os momentos marcantes de sua vida, desde a primeira mão humana que o recolhe para pô-lo diante de uma generosa tigela de leite, até as danações de sua vida adulta, que incluem, por exemplo, a peculiar amizade com o poodle Ponto; o amor malfadado pela beldade bichana Miesmies; e o truculento acerto de contas “a dentadas” com o gatuno pintalgado que a roubou dele. Murr também critica seus pares “filisteus”, aqueles desprovidos de qualquer erudição – o que não deixa de ser uma ironia de Hoffmann sobre os hábitos burgueses que ele condenava.
Ernst Theodor Wilhelm Hoffmann nasceu
em Königsberg, na Prússia Oriental, em 1776. Desenvolve carreira como jurista, atuando em tribunais de apelação em Berlim e em Varsóvia. Mas desde cedo demonstra inclinação para as artes, como pintura, teatro e, sobretudo, música clássica (era admirador de Mozart, de quem adotou o nome Amadeus em substituição a Wilhelm), passando a dedicar-se a tais paixões de modo exclusivo a partir de 1808. Falece em 1822.
ISBN 978-85-7448-225-5
9 788574 482255
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Se um gato-narrador já seria uma opção narrativa ousada na literatura de qualquer autor contemporâneo, que dizer da Alemanha do início do século XIX? Pois é essa a iconoclastia proposta por E.T.A. Hoffmann em Reflexões do gato Murr, obra de grande comicidade e irreverência, em que o bichano evocado no título, metido a erudito e cuja personalidade passa longe da modéstia, dedica-se a produzir a própria biografia com o intuito de legar à posteridade o registro de sua felina e brilhante passagem por esta existência.
maximilian liebenwein
Estação Liberdade www.estacaoliberdade.com.br
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