Módulo 4 ferramentas para a produção do cuidado 14 07 14

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Módulo IV: Ferramentas para a Produção do Cuidado

Salvador 2014


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Fundação Estatal Saúde da Família

Carlos Alberto Trindade Diretor Geral

Estevão Toffoli Rodrigues Diretor de Gestão de Serviços

Ricardo Mascarenhas Cerqueira Pinto Gestor do Núcleo de Saúde da Família

Vania Priamo Núcleo de Implantação de Serviços

Grace Fátima Souza Rosa Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Trabalhador


3 Equipe responsável - 2010

Autores Alessandra Martins dos Reis Antonio Neves Ribas Hêider Aurélio Pinto João André Santos de Oliveira Laíse Rezende Andrade Leandro Domingues Barreto Maria da Conceição da Silva Sampaio Rios Maria do Carmo Campos dos Santos Rafaela Cordeiro Freire

Revisão - 2014 Carla Pedra Branca Valentim Carvalho Daiana Cristina Machado Alves Fábio da Silva Oliveira Lívia Lima Nogueira dos Santos Maria Batista Costa

2014 – Revisão


4 Fundação Estatal Saúde da Família Todos os direitos de edição reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra desde que citada a fonte e que não seja para a venda ou qualquer fim comercial.

Elaboração, distribuição e informações Fundação Estatal Saúde da Família DGS – Diretoria de Gestão de Serviços Endereço: Av. ACM, nº3840, edf. Capemi, 7º andar módulo B Pituba, Salvador – BA CEP: 41820902 Telefone: (71) 3417-3501/3504

Endereços eletrônicos: www.fesfsus.ba.gov.br www.ead.fesfsus.ba.gov.br

Catalogação na fonte

Bahia. Fundação Estatal Saúde da Família. Bahia. Salvador: Fundação Estatal Saúde da Família, 2014. 20p.

Conteúdo: O Processo de Trabalho na USF.

1. Educação. 2. Saúde da família. 3. Educação à distância.


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Sumário

1. Introdução: Formação Inicial do Trabalhador 2. Organização do módulo e atividades 1. Unidade 1 – Produção do Cuidado 1.1 Objetivos de aprendizagem 1.2 Um Esforço Coletivo 1.3 Dia de Reunião 1.4 Necessidade de visita domiciliar 1.5 Organizando-se em Equipe 2. Problematizando a visita domiciliar 3. Gestão do Cuidado 4. À Teoria – iniciando a discussão de equipe 4.1 À Prática – trabalhando em equipe 4.2 Diretrizes para a Atividade presencial 5. Fórum 6. Dispositivo pedagógico 7. Unidade 2 – Estratificação de Risco e Produção do Cuidado na USF 7.1 Objetivos de aprendizagem 7.2 Clara: um Desafio para a ESF 7.3 A Rede de Apoio Social e construção do projeto terapêutico singular (PTS) 7.4 Momentos do PTS 8. Atividade da Equipe - Momento Presencial 8.1 Passo a Passo do Momento Presencial 9. Fórum 10. Dispositivo pedagógico 11. Referências

06 06 06 06 08 09 09 10 10 11 11 12 13 13 14 14 14 14 15 16 17 17 18 18 19


6 3. Introdução: Formação Inicial do Trabalhador

A FIT é uma das estratégias inseridas na Política de Desenvolvimento e Incentivo à Qualidade da FESF-SUS, através da Educação Permanente. Parte-se do cotidiano das Equipes de Saúde da Família, buscando fazer uma reflexão sobre sua prática, a qual fornece substrato para a qualificação profissional e disparador de processos de educação permanente. Para apoiar o conjunto de trabalhadores da saúde da família, A FESF coloca disponível a Formação Inicial dos Trabalhadores – FIT composta por cinco módulos contínuos,

disponíveis

no

ambiente

virtual

de

aprendizagem

da

FESF-SUS

(ava.fesfsus.ba.gov.br) – AVA-FESF SUS, que discutirá cinco temáticas: Princípios da atenção primária e agenda inicial de trabalho (módulo I); Análise da situação de saúde na comunidade (módulo II); Processo de trabalho na USF (módulo III); Ferramentas para a produção do cuidado (módulo IV); Planejamento local em Saúde (Módulo V) e Gestão Participativa (módulo VI). O documento em questão representa o módulo IV da Formação Inicial do Trabalhador (FIT), as atividades são compostas por encontros presenciais na saúde da família e a distância através do AVA-FESF SUS, ambas desenvolvidas e apoiadas pelo Apoiador Institucional e/ou tutor do respectivo serviço. Propõe-se também a contribuir para a elaboração de tarefas denominadas de dispositivos pedagógicos, as quais, para os trabalhadores da FESF-SUS subsidiarão também o pagamento da Gratificação de Produção e Qualidade (GPQ). Foram reunidas neste material as atividades da FIT para facilitar a impressão e/ou disponibilização a outros trabalhadores que tenham dificuldades de acesso à internet. Os textos sugeridos ao longo desse módulo, para aprofundar o conhecimento, encontram-se disponibilizado na biblioteca do ambiente virtual. 4. Organização do módulo e atividades

Este módulo tem a duração de um mês e apresenta duas unidades temáticas com duração aproximada de 15 dias cada uma. A distribuição recomendada das atividades a serem realizadas está na tabela a seguir: Tabela 1 - Distribuição das atividades da Formação Inicial do Trabalhador durante o mês.


Unidade 2

Unidade 1

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Um Módulo corresponde a um mês Semana 1 Leitura das situações problema, textos de apoio, propostas para atividades presenciais Participação no fórum Semana 2 Leitura das situações problema, textos de apoio, propostas para atividades presenciais Participação no fórum Momento presencial Semana 3 Leitura das situações problema, textos de apoio, propostas para atividades presenciais Participação no fórum Semana 4 Leitura das situações problema, textos de apoio, propostas para atividades presenciais Participação no fórum Momento presencial Total

3 horas à distância

3 horas à distância 4 horas presenciais 3 horas à distância

3 horas à distância 4 horas presenciais no mês = 20 horas

A Formação Inicial do Trabalhador apresenta uma cidade fictícia chamada Macaxeira em que uma equipe de Saúde da Família vivenciará diversas situações que nos convidarão a refletir sobre as práticas da equipe no seu cotidiano. Apresentaremos a seguir o contexto geral da cidade de Macaxeira, os objetivos de aprendizagem de cada unidade temática, as situações problema vividas pela equipe da cidade de Macaxeira para disparar a reflexão sobre o tema, indicação de textos de apoio e orientações para realização de atividades à distância e presenciais em equipe.

3. Unidade 1 – Produção do Cuidado 3.1. Objetivos de aprendizagem Nessa unidade o foco será em uma ferramenta específica e de extrema importância para a Produção do Cuidado: a Visita Domiciliar (VD). Os objetivos a serem alcançados são:


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- Conhecer as potencialidades da Visita Domiciliar, não somente como ferramenta para diagnosticar e intervir isoladamente, mas principalmente para agir com maior integralidade sobre diversificadas necessidades de saúde; - Compreender o papel da Equipe Multiprofissional e de cada profissional da equipe na realização das Visitas Domiciliares; - Planejar e organizar a oferta de Visitas Domiciliares através da identificação das necessidades e estratificação do risco (priorização); Para conhecer o inicio da história da comunidade do Abacateiro e da sua USF leia o módulo I. 3.2 Um Esforço Coletivo Desde que Roberta, Pedro e Fernanda começaram a trabalhar juntos, foi muito difícil conseguir convencer trabalhadores e usuários a mudarem certas práticas no cotidiano da unidade. Fernanda, por uma forte identificação com a comunidade do Abacateiro e por batalhar por mudanças em prol da população, já queria mudar certas condutas há bastante tempo, porém não encontrava parceria. A unidade ficava muito tempo sem médico e quando este chegava só ficava no máximo três dias na semana na unidade. Dessa forma, a população se mostrava insatisfeita e cobrava cada vez mais para que o número de consultas médicas fosse ampliado. Quando chegava um médico então, ele não conseguia fazer outra coisa a não ser atender. Com o dentista não era diferente. A cadeira constantemente apresentava problemas e a manutenção era muito demorada. Por isso, quando tudo estava funcionando a pleno vapor o dentista não parava de fazer consultas, pois a demanda reprimida era imensa. Com isso, Fernanda acabava também ficando muito tempo em consultas, pois se sentia responsável por tomar a frente da situação e minimizar a insatisfação da comunidade. Chegava a extrapolar seu horário de almoço vez ou outra para “dar conta de todo mundo”.


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Mas com a nova equipe formada e pronta para organizar as ofertas da unidade a fim de atender às necessidades de saúde da população novos rumos pareciam estar sendo trilhados. 3.3. Dia de Reunião Era quinta-feira à tarde, dia do qual todos os profissionais já haviam combinado que seria a reunião de equipe. Fernanda frisou bastante que queria a participação de todos dessa vez, pois nas últimas duas reuniões Zélia e Mauro não haviam aparecido e Maria a toda hora ficava saindo da sala, ou seja, as reuniões não foram nada produtivas. Nesse dia Mauro e Zélia já estavam na unidade desde cedo, mas dessa vez quem não havia chegado a tempo era Juliana. A equipe começou a reunião mesmo assim, pois precisavam discutir sobre o agendamento, já que tanto os usuários quanto os ACS e principalmente Marilene, estavam bem insatisfeitos com as propostas de mudanças. Quando Pedro estava falando o quanto aquelas mudanças visavam o bem da comunidade, melhoravam o ritmo de trabalho e eram benéficas para todos, Juliana entrou na sala esbaforida, e muito nervosa. 3.4. Necessidade de Visita Domiciliar Antes mesmo que Fernanda perguntasse para Juliana o porquê do atraso, ela começou a falar bem alto e tremendo, o motivo de sua agonia: -“Eu não aguento mais, não aguento mais! Todos os dias que encontro a Ana ela me cobra a visita da mãe! Dessa vez foi porque ela caiu na cozinha e não tá conseguindo mais sair da cama. Ela me perturbou tanto que fui na casa pra ver a Dona Tereza. E ela está mal mesmo gente, precisa muito dessa visita, porque não vai dar conta de chegar aqui no posto”. Pedro então não pensou duas vezes e falou para Juliana que iria visitar D. Tereza ao final da reunião, junto com Fernanda. Juliana enfim se acalmou, mas assim que se sentou Zélia se levantou com certo tom de indignação: - “Ah, não, se vai fazer a visita na área da Juliana só porque ela gritou então tem que ir ver o Seu Aristides que eu já tô cobrando da Fernanda há mais de dois meses. E tem também a Clara que voltou da maternidade semana passada com os gêmeos depois de duas semanas internada e precisa de uma


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visita. Sem falar nos pais do Seu João, né? Eles já estão mais pra lá do que pra cá…”. Bastou Zélia fazer seu apelo que Mauro repetiu o ato. Disse que estava sendo muito cobrado pela família do Seu Onofre e que a dentista também precisava estar junto porque os filhos diziam que ele tá com a “boca podre”. Até José, sempre calado nas reuniões, falou dos casos de Seu Arlindo e Dona Vera, ambos acamados da sua área. Neste momento, Roberta pediu a palavra e ponderou que a equipe teria que incluir essa pauta na reunião, uma vez que a necessidade era grande e o tema havia mobilizado todos os ACS. 3.5. Organizando-se na sua Equipe Pedro e Fernanda, embora quisessem prosseguir com as pautas combinadas, concordaram que ficaria difícil passar por cima do tema depois de tanta comoção. Pedro ficou assustado ao saber que os médicos que o antecederam quase não faziam visitas e Fernanda se justificou pela alta demanda “nas costas dela” e a dificuldade de arranjar o carro da prefeitura. Roberta então sugeriu que a equipe revisasse o número de visitas ofertadas por semana na agenda. Pedro concordou, mas complementou dizendo que a equipe teria que definir como atender à demanda levando em consideração o princípio da equidade. Maria até interveio concordando que tinha visitas que eram mais importantes que as outras, até porque a última que fez na casa de seu Adalberto podia ser feita depois do caso de Seu Aristides, por exemplo. Complementou ainda dizendo que tem casos que realmente só “se resolvem” com a visita, mas que outros nem precisam, “dá pra resolver” de outro jeito. 4.0. Problematizando a visita domiciliar E aí, você acha que a reunião de equipe deveria ser interrompida para atender ao pedido da ACS Juliana? Será que a necessidade da visita do seu Aristides é “maior” do que a do seu Adalberto? E que casos são esses dos quais Maria falou que “só se resolvem” com a visita? Será a visita domiciliar a única oferta capaz de atender a determinadas necessidades ou existem outras


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formas? E ainda, será que ela é “desnecessária” em alguns casos, do jeito que a Maria também fala? Naturalmente seria preciso conhecer cada um desses casos citados para responder melhor às perguntas, porém o que se pretende é levantar algumas questões acerca desse tema para que a equipe tenha elementos para a discussão e, por fim, para a organização voltada à produção do cuidado. 5.0. Gestão do Cuidado No mundo todo vem ganhando cada vez mais espaço o que vem sendo chamado de gestão ou governança clínica. No Brasil e na FESF-SUS chamamos isso de Gestão do Cuidado. Tentando simplificar ao máximo podemos dizer que gerir e qualificar o cuidado implica em combinar e integrar: - o uso de saberes e ferramentas que qualificam a produção do cuidado sejam através da utilização de lógicas de avaliação e priorização de risco, da avaliação de resultados das intervenções, de orientação da tomada de decisões e intervenções clínicas com base em estudos, protocolos e/ou sistematização da experiência, etc.; - a ampliação da clínica e do trabalho em equipe rumo à produção de um cuidado integral que impacte na saúde, autonomia e qualidade de vida das pessoas; - a gestão do cuidado a um usuário ou grupo de usuários de modo que não se descuide dos princípios de longitudinalidade e coordenação do cuidado; - a gestão da equipe sobre o seu próprio processo de trabalho, organizando e potencializando a ação de cada um de modo que se busque o máximo de qualidade e impacto para o usuário, o melhor ambiente de trabalho e satisfação e realização para os trabalhadores. 6.0. À Teoria – iniciando a discussão com a equipe Fazer tudo isso é simples? Não! Mas podemos dar alguns passos e entender que em todos os lugares esse foi um processo progressivo e permanente de qualificação. O importante é toda equipe se colocar disposta ao aprendizado; é se permitir a refletir coletivamente sobre suas práticas; se dispuser à crítica


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construtiva de seus hábitos, condutas, vícios, concepções e posturas buscando se renovar sempre. Pois bem, buscando iniciar esse movimento propusemos que ele fosse disparado por este tema comum, que afeta a todos e que tem importante impacto (se bem utilizado) na saúde das pessoas a Visita Domiciliar. Mal gerido pode demandar muito trabalho, dar uma grande dor de cabeça a todos, gerar conflitos e pressão e ter um ínfimo impacto. Como são muitas as experiências exitosas de gestão do cuidado relacionadas à visita e atenção domiciliar, eis aqui o primeiro desafio. Na biblioteca vocês têm duas opções de materiais que podem ajudar a sua equipe nesse primeiro passo: 1) Critérios de Classificação por Grau de Risco e 2) Aplicação da Escala de Risco Familiar como Instrumento de Priorização das Visitas Domiciliares. Você poderá socializar estes textos com os demais. O primeiro documento oferece uma tabela com uma lista de fatores de risco (condições específicas ou patologias por ciclos de vida), que quando preenchidos formam uma escala com quatro graduações: nenhum, baixo, médio ou alto risco. O segundo documento fala como se trabalhar com essa escala na priorização das visitas domiciliares e traz exemplos concretos. Além

desses

dois

instrumentos,

sugerimos

também

a

leitura

complementar de um texto que aborda as Concepções de trabalhadores do PSF sobre as Visitas. Leitura rápida e com ricos exemplos da prática 6.1. À Prática – trabalhando em equipe A atividade desta unidade será feita novamente utilizando-se da reunião de equipe. Antes, contudo, há a necessidade de uma encomenda a ser feita aos ACS: pedir a eles que levem para a reunião uma lista de usuários que precisam ser visitados. Durante a reunião a equipe deve envolver todos os profissionais para debater a lista geral (todos os usuários listados por todos os ACS). É importante usar o referencial sugerido e disponibilizado aqui também. A idéia é que a partir da discussão gerada a equipe consiga elaborar um plano de visitas que contemplem os critérios definidos no referencial teórico e as necessidades específicas dos usuários.


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Além de debater a priorização, também é relevante problematizar qual o objetivo da visita domiciliar, se ela consegue resolver problemas que não são resolvidos numa consulta na unidade, e todas as perguntas levantadas anteriormente.

Sugerimos

utilizar

os

questionamentos

do

item

3.5.

“Organizando-se na sua Equipe” para ajudar na discussão. 6.2. Diretrizes para a Atividade presencial Com o objetivo de orientar a sua atividade, vale ressaltar algumas diretrizes, alguns itens que são importantes na composição do mesmo: - Número de visitas domiciliares ofertado na agenda semanal. É suficiente para atender à demanda? - Priorização: Os critérios utilizados no referencial teórico servem na prática? A equipe consegue entrar em consenso sobre a priorização a partir das análises dos casos? - Nós críticos: quais são as principais dificuldades encontradas ao se discutir, montar um plano de visitas e executá-lo na prática? Propomos que você e sua equipe discutam o caso da equipe e busquem responder aos questionamentos do item 3.5. “Organizando-se na sua Equipe” para ajudar no debate sobre o tema, assim como também, a leitura do texto disponibilizado. 7.0. Fórum A parte de orientação desta unidade se encerra aqui, porém é fundamental que você troque com profissionais de outras unidades o que aconteceu e como foi a reunião da sua equipe. Qual foi o resultado para organização da visita domiciliar a que sua equipe chegou? Como ficou a adaptação/re-invenção dos critérios na sua realidade? Você pode apresentar para os seus colegas no fórum para que aprendam/debatam essa produção de sua equipe? Para isso use e abuse do espaço do Fórum no Ambiente Virtual. Boa discussão! Lembre-se que você tem 15 dias para concluir a leitura dessa unidade, a realização da reunião de equipe e a apresentação dos resultados no fórum. O envio da lista de frequência dos trabalhadores, por categoria, na atividade presencial é essencial para a certificação. 8.0. Tarefa: Dispositivo pedagógico


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Como

dispositivo

pedagógico

você

deve

postar

no

AVA

(www.ead.fesfsus.ba.gov.br) a síntese da atividade desenvolvida com sua equipe no momento presencial.

9. Unidade 2 – Estratificação de Risco e Produção do Cuidado na USF

9.1 Objetivos de aprendizagem

Após identificar as necessidades de saúde do território, pautado pela definição de critérios das visitas domiciliares, propomos, para a continuação da discussão sobre ferramenta para produção do cuidado, a elaboração em equipe, de um projeto terapêutico singular que possibilite, sobretudo, o exercício da equidade, intersetorialidade e da integralidade no planejamento e execução de suas ações. Pensando nisso, apresentamos alguns objetivos para essa unidade, os quais poderão ser visualizados a seguir: •

Utilizar

os

conceitos

de

equidade,

intersetorialidade,

integralidade longitudinalidade como base na organização das ações de saúde da USF, considerando o lidar com as diferentes Linhas de Cuidado; •

Organizar as diversas ofertas da USF através da identificação de

necessidades e estratificação de risco para populações em situação de vulnerabilidade; •

Construir um projeto terapêutico singular que contemple a

necessidade e o risco, em uma perspectiva da atenção integral. 9.2. Clara: um Desafio para a ESF Durante a reunião, Fernanda muito preocupada com Clara (a puérpera sinalizada por Zélia) justifica-se por não ter programado a visita, alegando


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que a demanda durante as últimas semanas tinha sido muito grande, já que estavam em campanha de vacinação contra a pólio. Após apresentar a situação de Clara para os demais presentes, chega-se a um consenso que essa visita deveria ser priorizada. Clara, 17 anos, vítima de violência sexual praticada pelo padrasto, mostra sinais de depressão pós-parto e rejeita os gêmeos. Durante o pré-natal, faltou várias vezes às consultas, o que dificultou o seu acompanhamento e o dos bebês por todos os profissionais da equipe. Seu último comparecimento à unidade foi motivado por fortes dores de dente, intenso sangramento gengival e edema de face. Nesse momento, ela foi atendida pela dentista Roberta como demanda imediata, sendo orientada para retorno, o que não ocorreu. A violência sexual sofrida por Clara nunca foi denunciada, porque a mãe da mesma não queria se separar do marido. Durante uma das poucas vezes em que esteve presente na consulta de pré-natal, Clara contou aos prantos, para a enfermeira Fernanda o motivo de sua gravidez ser indesejada e que mesmo grávida, o padrasto, que continuava morando em casa, insistia em assediá-la. Ela não sabia mais o que fazer e a quem procurar para proteger a si e aos seus filhos, mesmo que não os desejassem. Tinha medo que eles passassem pela mesma coisa, já que ela sofria de abuso sexual desde os cinco anos de idade.

9.3. A Rede de Apoio Social e construção do Projeto Terapêutico Singular (PTS)

Tentando ajudar Clara, Fernanda começou a pesquisar quais outras pessoas ou instituições poderiam contribuir no caso. Lembrou que além da equipe de Saúde da Família do Assentamento, o município contava com Pastoral da Criança, Conselho Tutelar, CRAS e que tinha a equipe do NASF, conseguida a partir de um consórcio com o município vizinho. Pensou então em conversar com Clara, quanto à possibilidade de ajudá-la, o que poderia ocorrer com o apoio de outras pessoas. Diante da complexidade do caso e após a visita domiciliar na qual Clara concordou em receber a ajuda da equipe, decidiu-se por construir um projeto


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terapêutico singular (PTS), proporcionando um plano de intervenções considerando os princípios da integralidade, equidade e intersetorialidade. Mas o que é um PTS? Segundo a Cartilha da Política Nacional de Humanização "Clínica Ampliada e Compartilhada" (BRASIL, 2009), o PTS é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas, para um sujeito individual ou coletivo, resultado da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar, com equipe de referência e apoio matricial se necessários, sendo dedicado geralmente a situações mais complexas. Vejamos agora quais elementos devem ser considerados para a elaboração do PTS e quais etapas devem ser seguidas no tópico seguinte. 9.4. Momentos do PTS 1) Definição de hipóteses diagnósticas: deverá conter uma avaliação orgânica, psicológica e social, que possibilite uma conclusão a respeito dos

riscos

e

da

vulnerabilidade

do

usuário.

O

conceito

de

vulnerabilidade (psicológica, orgânica e social) é muito útil e deve ser valorizado na discussão. A equipe deve tentar captar como o sujeito singular se produz diante de forças como as doenças, os desejos e os interesses, assim como também o trabalho, a cultura, a família e a rede social. Nesse sentido é importante considerar que os motivos e as expectativas das pessoas precisam ser trabalhados e que para que a produção do cuidado se dê de forma adequada é preciso saber, além do que o sujeito apresenta de “igual”, o que ele apresenta de “diferente”, de singular. Ou seja, é necessário adotar uma concepção ampliada do processo-saúde doença. 2) Definição de metas: uma vez a equipe discutiu as hipóteses diagnósticas, ela faz propostas de curto, médio e longo prazo, que serão negociados com o sujeito doente pelo membro da equipe que tiver um vínculo melhor. 3) Divisão de responsabilidades: é importante definir tarefas de cada um com clareza. 4) Reavaliação: momento em que se discutirá a evolução e se farão as devidas correções da conduta.


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Lembre-se que a concepção de clínica ampliada e a proposta do PTS convidam-nos a entender que as situações percebidas pela equipe como de difícil resolução são situações que esbarram nos limites da clínica tradicional. É necessário, portanto, que se forneçam instrumentos para que os profissionais possam lidar consigo mesmos e com os sujeitos acometidos por uma doença ou agravo de forma diferente da tradicional. Para tanto serão importantes instrumentos como a escuta, o diálogo, o vínculo e um bom trabalho em equipe. 10.0. Atividade da Equipe - Momento Presencial Agora que você já sabe o que é um PTS e como elaborá-lo, procure sua equipe e em reunião, reflitam sobre a produção do cuidado e tudo o que já foi abordado até este módulo. A partir disso, discutam qual o melhor projeto terapêutico singular para ajudar a usuária Clara e a Equipe de Saúde da Família do Abacateiro. Lembre-se que para tanto: “[...] a atitude de cuidar não pode ser apenas uma pequena e subordinada tarefa parcelar das práticas de saúde. A atitude “cuidadora” precisa se expandir mesmo para a totalidade das reflexões e intervenções

no

campo

da

saúde”

(AYRES,

2001,

p.71).

Vejamos agora o passo a passo do momento presencial. 10.01. Passo a Passo do Momento Presencial A atividade do momento presencial será realizada durante uma reunião de equipe e tem como objetivo, discutir o “caso de Clara” para, inicialmente, identificar as situações de risco em que ela se encontra, levantando as justificativas para a priorização da visita e elaboração do PTS. 1 - Na primeira parte da reunião a equipe deve realizar a leitura coletiva do caso “Clara: um desafio para a ESF” analisando o contexto em que ela se encontra. 2 – Em um segundo momento, discuta o caso analisando a necessidade de priorização e elaboração do PTS. Reserve o tempo para essa discussão com sua equipe na própria reunião semanal. Propomos para tanto, a utilização das


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seguintes

questões

para

ajudar

na

reflexão

da

análise

de

risco.

3 - Como leitura auxiliar ao exercício da análise de risco e construção do PTS, recomenda-se o texto "Clínica ampliada e compartilhada (p. 39-60)". 4 - A partir da discussão do caso e análise da situação de risco, a equipe passa a elaborar o PTS. Você pode utilizar outras perguntas presentes no texto sugerido para direcionar essa construção. OBS: É importante lembrar que existe uma bibliografia obrigatória para esta unidade e uma bibliografia complementar. Além disso, é muito interessante a participação de algum membro da gestão municipal nesta atividade. 11. Fórum


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Após a realização da atividade proposta, apresente a síntese das questões discutidas e quais elementos considerou na elaboração do PTS no fórum de discussão do módulo 4. Lembre-se que você tem 15 dias para concluir a leitura da unidade, a realização da reunião de equipe e a apresentação dos resultados no fórum. 12. Tarefa: Dispositivo pedagógico Como

dispositivo

pedagógico

você

deve

postar

no

AVA

(www.ead.fesfsus.ba.gov.br) a síntese da atividade desenvolvida com sua equipe no momento presencial. 13. Referências ARAGON, L. E. R. A espessura do encontro. Interface - Comunic, Saúde, Educ, v. 7, n. 12, p. 11-22, fev, 2003. AYRES, J. R. de C. M. Sujeito, intersubjetividade e práticas de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 6, n. 1, p. 63-72, 2001.BRASIL. BRASIL. Ministério da Saúde. Clínica ampliada e compartilhada. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009, p. 39- 61. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.96 p. CAMPOS, G. W. de S; DOMITT, A. C. Apoio matricial e equipe de referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 2, p. 399-407, fev, 2007. CLASSIFICAÇÃO FAMILIAR POR GRAU DE RISCO. Instrumento de SES Minas Gerais adaptado pela FESF-SUS. COELHO, F. L.G.; SAVASSI, L. C. M. Aplicação de Escala de Risco Familiar como instrumento de priorização das Visitas Domiciliares. FLACH, A et al. Projeto Terapêutico Singular: uma construção coletiva relato de experiência. Merhy, E. E. Apostando em projetos terapêuticos cuidadores: desafios para a mudança da escola médica ou utilizando-se da produção dos projetos


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terapêuticos em saúde como dispositivo de transformação das práticas de ensino-aprendizagem que definem os perfis profissionais dos médicos. ROZEMBERG, B.; MINAYO, M. C. de S. A experiência complexa e os olhares reducionistas. Ciência & Saúde Coletiva, v. 6, n.1, p.15-123, 2001. SAKATA, K. N. Concepções da equipe de saúde da família sobre as visitas domiciliares. Rev Bras Enferm, Brasília; v. 60, n. 6; p. 659-64, 2007.


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