Formação Inicial do Trabalhador
Módulo Princípios da Atenção Primária em Saúde e Agenda Inicial de Trabalho
Salvador Maio de 2014
Fundação Estatal Saúde da Família
Carlos Alberto Trindade Diretor Geral
Estevão Toffoli Rodrigues Diretor de Gestão de Serviços
Ricardo Mascarenhas Gestor do Núcleo de Saúde da Família
Vania Priamo Núcleo de Implantação de Serviços
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Equipe responsável Autores Alessandra Martins dos Reis Antonio Neves Ribas Hêider Aurélio Pinto João André Santos de Oliveira Laíse Rezende Andrade Leandro Domingues Barreto Maria da Conceição da Silva Sampaio Rios Maria do Carmo Campos dos Santos Rafaela Cordeiro Freire Revisão - 2014 Carla Valentim Daiana Machado Fábio da Silva Oliveira Lívia Nogueira
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2014 – Revisão Fundação Estatal Saúde da Família Todos os direitos de edição reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra desde que citada a fonte e que não seja para a venda ou qualquer fim comercial. Elaboração, distribuição e informações Fundação Estatal Saúde da Família DGS – Diretoria de Gestão de Serviços Endereço: Av. ACM, nº3840, edf. Capemi, 7º andar módulo B Pituba, Salvador – BA CEP: 41820902 Telefone: (71) 3417-3501/3504 Endereços eletrônicos: www.fesfsus.ba.gov.br www.ead.fesfsus.ba.gov.br
Catalogação na fonte Bahia. Fundação Estatal Saúde da Família. Bahia. Salvador: Fundação Estatal Saúde da Família, 2014. 25p. Conteúdo: Formação Inicial do Trabalhador. Módulo: Princípios da Atenção Primária em Saúde e Agenda Inicial de Trabalho. 1. Educação. 2. Saúde da família. 3. Educação à distância.
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Sumário Boas Vindas e apresentação 1. Formação Inicial do Trabalhador 2. Organização do módulo e atividades 3. Cenário da nossa estória: município de Macaxeira 3.1 A comunidade do Abacateiro 3.2 A equipe da Unidade de Saúde da Família do Abacateiro 4. Unidade 1 – Atenção Primária à Saúde 4.1 Objetivos de aprendizagem 4.2 As tentativas de Marise 4.3 Atividades para toda a equipe – momento presencial 4.4 Fórum 5. Unidade 2 – Agenda Inicial de Trabalho 5.1 Objetivo de aprendizagem 5.2 Organizando a agenda da equipe do assentamento 5.3 Relembrando as agendas anteriores 5.4 Primeira agenda da equipe do Assentamento 5.5 Segunda agenda da equipe do Assentamento 5.6 Agenda depois da chegada de Pedro 5.7 Roberta problematiza as agendas anteriores 5.8 Construindo a agenda de trabalho inicial 5.9 Atividade para toda a equipe – roteiro para o momento presencial 6. Fórum
7. Tarefa: Dispositivo pedagógico 8. Referências Bibliográficas
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06 08 08 09 09 19 12 12 13 15 15 16 16 16 16 17 17 18 19 21 21 21
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BOAS VINDAS E APRESENTAÇÃO Sejam muito bem vindos empregados de carreira desse projeto promissor e inovador chamado Fundação Estatal Saúde da Família (FESF-SUS). Projeto este que poderia ser chamado de outros nomes como “luta pela garantia de direitos inalienáveis de saúde da população da boa terra da Bahia”; “respeito, reconhecimento, valorização e aposta nos trabalhadores que lutam pela saúde e constroem o SUS no dia a dia”; “integração e cooperação sem precedentes entres as gestões municipais em prol de uma atenção primária de qualidade”, entre outros tantos. Nesse momento iniciamos mais um passo importantíssimo: a Formação Inicial do Trabalhador (FIT). Esta formação é uma estratégia de uma ampla Política de Educação Permanente cujos dois objetivos centrais são o desenvolvimento humano e profissional de nossos trabalhadores e o incentivo à permanente melhoria e qualificação do trabalho, para quem recebe o cuidado sem descuidar de quem o executa. É uma formação prevista como obrigatória na Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2011) e, portanto, na integração do trabalhador ao emprego e carreira FESF-SUS. Mas mais do que isso a FIT é uma grande oportunidade para o aperfeiçoamento do trabalhador e reflexão sobre o seu processo de trabalho. Enquanto proposta de educação permanente se baseia nos desafios cotidianos de cada trabalhador e equipe. A FIT é uma oportunidade de dialogar com diversos colegas que enfrentam situações semelhantes em diferentes lugares e contextos e construindo diferentes soluções. É a oportunidade de aprender com o outro. Por objetivar a ampliação de conhecimentos e saberes relacionado à atenção primária, à saúde da família, ao Sistema Único de Saúde brasileiro, é tão importante para quem é calouro na saúde da família quanto para quem quer aprofundar sua compreensão e identidade com este lugar que se destaca cada vez mais: profissional de saúde da família. A FIT busca atuar na experiência concreta visando melhorar o que fazemos no cotidiano de forma mais feliz e com maior satisfação. Para tanto, a FIT foca nos 05 primeiros meses objetivando revisitar o processo de trabalho na sua equipe de saúde da família, observando os seguintes princípios: trabalho em equipe, apoio entre gestão e
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equipe, humanização e qualificação das práticas, ampliação do acesso e da resolutividade dos serviços, educação permanente e gestão democrática. Esse processo educativo é apenas o primeiro passo para uma política de educação permanente que, além dos vários processos cotidianos, presenciais e virtuais, de ensino e aprendizagem se propõe a ser um disparador de outros processos pedagógicos. Portanto, sejam bem vindos! E a todos, os votos da equipe FESF-SUS para que esta FIT seja muito mais que proveitosa, seja significativa em nossas vidas profissionais. Carlos Alberto Trindade Diretor Geral da FESF-SUS
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1. Formação Inicial do Trabalhador A FIT é uma das estratégias inseridas na Política de Desenvolvimento e Incentivo à Qualidade da FESF-SUS, através da Educação Permanente. Tem como substrato o cotidiano das Equipes de Saúde da Família, propondo-se a apoiar cada profissional e sua equipe na organização e qualificação de seu trabalho, produzindo satisfação a todos. Propõe-se também contribuir a elaboração de tarefas denominadas de dispositivos pedagógicos, as quais, para os trabalhadores da FESF-SUS subsidiarão também o pagamento da Gratificação de Produção e Qualidade (GPQ). É um modo de, além de apoiar o trabalhador na realização da mesma, tentar extrair o máximo de aprendizado do processo de construção dos produtos da GPQ e o máximo de interação, colaboração, troca e diálogo entre o conjunto dos trabalhadores. É importante dizer ainda que a FIT faz parte do processo de integração do trabalhador na Carreira da FESF e deve ser realizado por todos os profissionais (Dentista, Enfermeiro, Médico, Técnico de Enfermagem, Agente Comunitário de Saúde – ACS) com a possibilidade de inclusão de outros programas vinculados a atenção básica como o Núcleo de Apoio a Saúde da Família – NASF e agora de forma mais recente o programa Melhor em Casa. Justamente por isso é uma atividade obrigatória para todos os profissionais FESF-SUS, quando iniciam suas atividades nos municípios, e será ofertada para o restante da equipe, com possibilidade de ampliação para todo o município. Os conteúdos deste módulo são desenvolvidos originalmente no ambiente virtual de aprendizagem (ava.fesfsus.ba.gov.br) e contemplam atividades à distância e orientações para o desenvolvimento de atividades presenciais em equipes de Saúde da Família (SF), bem como poderão ser incluídos os demais serviços da atenção básica vinculados a SF. Foram reunidos neste material as atividades da FIT para facilitar a impressão e/ou disponibilização a outros trabalhadores que tenham dificuldades de acesso à internet. 2. Organização do módulo e atividades
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Este módulo tem a duração de um mês e apresenta duas unidades temáticas com duração aproximada de 15 dias cada uma. A distribuição recomendada das atividades a serem realizadas está na tabela a seguir: Tabela 1 - Distribuição das atividades da Formação Inicial do Trabalhador durante o mês.
Unidade 2
Unidade 1
Um Módulo corresponde a um mês Semana 1 Leitura das situações problema, textos propostas para atividades presenciais Participação no fórum Semana 2 Leitura das situações problema, textos propostas para atividades presenciais Participação no fórum Momento presencial Semana 3 Leitura das situações problema, textos propostas para atividades presenciais Participação no fórum Semana 4 Leitura das situações problema, textos propostas para atividades presenciais Participação no fórum Momento presencial
de apoio,
2 horas à distância
de apoio,
2 horas à distância 4 horas presenciais
de apoio,
2 horas à distância
de apoio,
2 horas à distância 4 horas presenciais
Total no mês = 16 horas A Formação Inicial do Trabalhador apresenta uma cidade fictícia chamada Macaxeira em que uma equipe de Saúde da Família vivenciará diversas situações que convidarão os trabalhadores a refletirem sobre suas práticas em seu cotidiano do serviço. Apresentaremos a seguir o contexto geral da cidade de Macaxeira, os objetivos de aprendizagem de cada unidade temática, as situações problema vividas pela equipe da cidade de Macaxeira para disparar a reflexão sobre o tema, indicação de textos de apoio e orientações para realização de atividades à distância, presenciais em equipe e os dispositivos pedagógicos. 3. Cenário da nossa história: município de Macaxeira
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Macaxeira é uma cidade de 18.000 habitantes, uma das maiores da região. A cidade tem uma extensa área rural e uma população dispersa em comunidades distantes com estrada de terra ruim. É uma cidade pobre. Vive basicamente dos serviços, da agricultura e pecuária. Planta-se aipim e existem muitas casas de farinha. A principal festa é a de São João. Durante o ano toda a população se diverte nos fins de semana à beira dos rios de águas cristalinas. A atividade política partidária é polarizada entre dois grupos tradicionais e conservadores. Algumas lideranças novas que surgiram da luta dos trabalhadores rurais têm aparecido e conseguido, a partir da Câmara de Vereadores, fazer um contraponto às práticas políticas tradicionais de cunho clientelista e assistencialista. Na área de saúde, o município conta com a estratégia de saúde da família com 2 equipes na zona urbana e 2 equipes na zona rural cobrindo aproximadamente 50% da população. Para o atendimento de urgência, conta com um pequeno hospital que realiza atendimentos de baixa complexidade e alguns partos, encaminhando grande parte da população ao município polo da região que fica há aproximadamente 2 horas de distância e conta com um hospital com mais recursos. Muitas comunidades têm grande dificuldade de acesso aos serviços de saúde pela distância da sede do município, falta de transporte e condições precárias das estradas. Muitas vezes procuram atendimento em municípios vizinhos que ficam mais próximos da comunidade que a própria sede do município. Um grande problema no desenvolvimento da ESF é a rotatividade dos profissionais de saúde, particularmente de médicos. Na área rural então nem se fala. 3.1
A Comunidade do Abacateiro Abacateiro é uma comunidade de cerca de 3.000 habitantes, localizada
entre a periferia e avançando para zona rural de Macaxeira. Formou-se a partir de um acampamento do movimento dos trabalhadores rurais sem terra que se 10
acomodaram do jeito e onde puderam. Com o crescimento do município, tornou-se uma comunidade próxima à sede, mas com características de comunidade rural. Hoje a população empregada vive basicamente do trabalho temporário nas pequenas fazendas, da cultura de subsistência e da prestação de serviços. É grande o número de desempregados e subempregados. A estrutura de saneamento básico na comunidade deixa muito a desejar: muitas casas sem água tratada, esgotos a céu aberto e lixo para todo lado na comunidade. Além disso, a grande parte das pessoas vive em casas bastante precárias. Muita gente não sabe ler nem escrever. Muita criança na rua sem frequentar a escola. Nos últimos cinco anos, a comunidade tem recebido mais investimentos públicos. E com isso implantou uma nova unidade de saúde e uma escola pública. Esse investimento aconteceu depois que a associação comunitária começou a atuar para valer. Existem várias iniciativas de trabalho na comunidade por parte da Igreja e ONG(s). Essas iniciativas estão bastante dispersas e desintegradas e, em sua maioria, voltados para crianças, adolescentes, mães e alcoolistas. Em Abacateiro, trabalha uma Equipe de Saúde da Família – na Unidade do Abacateiro, que foi inaugurada há cerca de 1 ano e está situada na rua principal da comunidade, estradinha de terra que leva à cidade. Apesar da construção da Unidade ser recente, a estrutura já apresenta problemas por falta de manutenção adequada. 3.2
A Equipe da Unidade de Saúde da Família do Abacateiro A equipe é formada por 04 ACS, 01 auxiliar de enfermagem, 01 médico,
01 enfermeira, 01 dentista, 01 auxiliar de saúde bucal, 01 recepcionista e 01 pessoa responsável pelos serviços gerais. Roberta é dentista, especialista em saúde coletiva, costuma avaliar os impactos do trabalho das equipes em que trabalha. Seu desejo é fazer mestrado e doutorado e um dia ser professora universitária. Pedro é um médico com cinco anos de formado. Ingressou na atenção básica esperando em breve ser aprovado na residência de oftalmologia, mas 11
acabou adiando seus planos e trabalhando nos municípios da região em que seus pais residem. Gosta de ficar próximo da família e tem se identificado em ser médico de família e comunidade. Fernanda é enfermeira, concursada pela prefeitura, profissional de saúde que está há mais tempo no município. Sempre ativa nos projetos sociais do município, participou das mobilizações para a implantação da USF. José, Zélia, Juliana e Mauro são agentes comunitários de saúde e têm projetos dos mais variados em relação ao seu trabalho. Começaram como ACS na mesma época. Maria é auxiliar de enfermagem e tem um grande desejo de continuar os estudos fazendo uma faculdade de enfermagem, mas não conseguiu ainda pela distância e por ser muito caro. Josélia é auxiliar de saúde bucal, veio de uma cidade próxima a Macaxeira. Ter chegado a ser “trabalhadora da saúde” é algo que dá muito orgulho a ela e a toda a sua família. Marilene está na função de recepcionista e assume junto com os ACS as atribuições de apoio administrativo de toda a unidade. Marilene é uma funcionária da FUNASA que está em desvio de função e está muito ansiosa para se aposentar. Costuma ser ríspida e ter pouca paciência com a comunidade. Léia é auxiliar de serviços gerais, às vezes ajuda na recepção. Por não conhecer muito como funciona a ESF, acaba dando informações erradas à população. Pedro e Roberta foram contratados recentemente pela FESF. Fernanda e os outros profissionais já estavam na USF desde a inauguração. Ao longo de nosso curso você vai voltar muitas vezes a Macaxeira. Vai mergulhar na vida de personagens da comunidade do Abacateiro e vai conhecer a Unidade de Saúde da Família pelos olhos de usuários dessa unidade ou de trabalhadores de saúde. 4. Unidade 1 – Atenção Primária à Saúde 4.1 Objetivos de aprendizagem:
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- Conhecer e compreender os princípios, diretrizes e normatizações nacionais e estaduais da atenção básica à saúde, com ênfase na organização da Estratégia Saúde da Família; - Analisar com a equipe o quanto os princípios da atenção primária ocorrem no seu espaço de trabalho e identificar as dificuldades, potencialidades e propostas para avançar na implementação desses princípios. 4.2 As tentativas de Marise Marise percebe que seu filho mais novo de dois anos está quieto e sonolento desde à tarde do dia anterior. São 9 horas da manhã e ele acordou a pouco, o que causou estranhamento, pois ele costuma acordar cedinho todos os dias. Marise resolveu não sair para fazer a faxina do dia quando percebeu que ele estava tremendo de febre e não queria comer nada, só queria ficar deitado no sofá. Resolve tentar passar no “postinho” – como a comunidade costuma se referir a USF. Ela mora no ponto mais distante da comunidade do Abacateiro. Andou bastante para chegar à unidade. De longe, logo vê uma fila na entrada. Após esperar uns 20 minutos com o filho no colo, Marise fica sabendo que a fila é apenas para marcar exames já prescritos. Na recepção Marilene rispidamente logo avisa: Marilene: “Perdeu a viagem. Seu ACS não te avisou que para passar aqui tem que pegar a senha às 6 horas da manhã? Essa hora já acabou faz tempo. Agora só amanhã!”. Marise: “Mas o que eu faço? Meu filho está piorando!” Pergunta com tristeza. Marilene: “Ah, tenta passar no hospital lá na cidade...”. Marise respira fundo, está preocupada com o filho. Encontra na saída da Unidade a ACS responsável pela sua microárea: Marise: “Oi Zélia! Meu filho está doente e me falaram que não tem vaga hoje, me ajude?!”. 13
Zélia : “Mas é assim mesmo Marise. Aqui só chegando cedo... por que você não veio antes? Agora só amanhã. Nem adianta eu pedir pra alguém te atender, na hora que acaba a senha, não tem conversa. Passe no hospital agora e volte amanhã para marcar com a equipe”. Marise vai para o ponto de ônibus e depois de oito quilômetros, chega ao pequeno hospital da cidade. Depara-se com outra fila. Após aguardar uma hora na fila, a consulta dura poucos instantes, não dá nem tempo de sentar... O médico rapidamente prescreve um medicamento dizendo que uma simples febre é caso para o postinho e questiona por que Marise foi para o hospital? Já com uma forte dor de cabeça, cansada e desanimada, Marise logo desiste de explicar sua tentativa anterior. Sai do hospital e vai a uma farmácia. Marise chega em casa sem forças, e sem ânimo. O filho respira com dificuldades. Ela dá a dose do remédio, coloca-o na cama e deita ao seu lado. Após ler o caso, vamos estudar agora alguns princípios e conceitos orientadores da Atenção Básica. A proposta é fazermos leitura dos Capítulos 1 e 2 do Livro: Atenção Primária e Promoção da Saúde do Conselho Nacional de Secretários de Saúde disponível na Biblioteca virtual do Módulo. É muito importante você ler os dois capítulos inteiros, mas se for necessário, priorize a leitura com os seguintes itens para que você possa criticar o caso e debater com sua equipe utilizando novos conceitos e conhecimentos: Capítulo 1- O papel da Atenção Primária na Construção do SUS 1.2. O papel da Atenção Primária na construção do SUS 1.3. Assistência à saúde nos sistemas nacionais e a importância da APS 1.6. Atenção Primária à Saúde Promoção da Saúde 1.7. Entendendo o que é Atenção Primária à Saúde no sistema de saúde (Não deixe de ler o Quadro 1).
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1.8. Desafios para a saúde da família Capítulo 2 - Os fundamentos da Atenção Primária e da Promoção da Saúde 2.1. As características da Atenção Primária à Saúde Esse último item é essencial para a crítica que queremos que você seja capaz de fazer ao caso e para facilitar a atividade presencial da equipe. 4.3. Atividades para toda a equipe – momento presencial A atividade do momento presencial será realizada durante uma reunião de equipe e tem como objetivo disparar o movimento ação-reflexão-ação e que articula o aprendizado com a transformação concreta dos serviços de saúde. 1 - Reserve o tempo para essa discussão com sua equipe na própria reunião semanal da Equipe. Duração aproximada de 4 horas. 2 - Na primeira parte da reunião a equipe deve realizar a leitura coletiva do caso “As tentativas de Marise” para aquecer o exercício de reflexão sobre o tema e envolver todos os trabalhadores. Tempo aproximado de 10 minutos. 3 - Para preparar a equipe para a atividade e facilitar esse momento de discussão, recomendamos também a leitura do trecho destacado da Portaria GM/MS n°2.488/2011(biblioteca virtual do módulo). Tempo aproximado: 30 minutos. Atividade 1 - Pois bem, depois de passarmos por vários princípios orientadores e diversos conceitos associados, retomemos nossa atividade: vamos analisar criticamente o caso: As tentativas de Marise. Algumas questões norteadoras para discussão com a equipe durante o momento presencial:
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•
A Unidade de Saúde da Família do Abacateiro funciona de acordo com os princípios orientadores da Atenção Básica?
•
Com base em seu estudo, identifique o quanto a Unidade de Saúde deixou de cumprir ou cumpriu os Princípios da Atenção Básica no caso de Marise.
•
Quando identificar um princípio, tente trazer para o grupo como a através das falas, perceber como compreendem cada princípio.
Nosso objetivo é que você compreenda e se aproprie dos conceitos para que possa usá-los como ferramenta de análise de situações fictícias ou reais.
4.4. Fórum Discuta no fórum com seus colegas o seu entendimento sobre a temática, as dúvidas e outras mobilizações. Importante também, discutir a realização da atividade proposta. Nesse fórum, deve ser apresentada a síntese das questões discutidas no momento presencial com sua a equipe. Lembre-se que você e sua equipe têm 15 dias para concluir a leitura da unidade 1, a realização da reunião para o momento presencial e a apresentação dos resultados no fórum.
5. Unidade 2 – Agenda Inicial de Trabalho 5.1. Objetivo da aprendizagem: •
Analisar e revisar a agenda de trabalho existente, visando à garantia dos princípios da atenção primária em saúde (APS).
•
Atualizar a agenda de trabalho condizente com os princípios da APS.
5.2. Organizando a agenda da Equipe do Abacateiro Roberta iniciou o trabalho na USF do Abacateiro do município de Macaxeira há apenas uma semana. Pedro já vai completar o primeiro mês de trabalho na FESF-SUS, mas já trabalhava em Macaxeira há seis meses na UBS do centro da cidade. Desde que Pedro chegou, a equipe tem conseguido garantir o horário para sua reunião semanal. Roberta participará hoje da sua primeira reunião de equipe. Para começar a organizar o trabalho junto à nova equipe, todos estão ansiosos em conversar sobre a agenda de trabalho para pactuar suas atividades semanais. 5.3. Relembrando as agendas anteriores
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Pedro sabia que antes de formular a agenda de trabalho necessitaria da análise da situação de saúde. Isso demandaria um tempo para a realização de visitas domiciliares, acesso aos dados da ficha do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), entre outras atividades que componham este diagnóstico. No entanto, não tinha como esperar a conclusão deste diagnóstico para iniciar sua atuação na equipe. Assim, começou a discutir sua agenda inicial com toda a equipe nas últimas reuniões, para depois da análise da situação de saúde reformulá-la. Fernanda se empolga e começa a apresentar o histórico sobre a construção das agendas na USF do Abacateiro. Ela pegou um papel grande e caneta e começou a desenhar as agendas anteriores: 5.4. Primeira agenda da equipe do Abacateiro Fernanda começou a falar: “Inicialmente, a USF do Abacateiro não tinha equipe de saúde bucal e a comunidade apresentava uma grande demanda por consultas, considerando que tinham muitas dificuldades de acesso à unidade de saúde, então basicamente o médico se concentrou nas consultas e eu comecei alguns atendimentos e outras atividades: MÉDICO MANHÃ
SEG 18 fichas
TER 18 fichas
QUA 18 fichas
QUI 18 fichas
SEX 18 fichas
TARDE
18 fichas
18 fichas
18 fichas
18 fichas
18 fichas
ENFERMEIRA MANHÃ
SEG Pré-Natal
TER Criança
QUA Pré-Natal
QUI Criança
TARDE
Reunião com ACS
Visitas
Visitas
Grupo
SEX Exame Preventivo Reunião com ACS
Essa agenda permaneceu mais ou menos por três meses. Logo resolvemos fazer algumas mudanças: 5.5. Segunda agenda da equipe de Abacateiro Fernanda: “O médico que trabalhava aqui achou que era melhor organizar a agenda por grupos de atendimento, porque estava muito bagunçada essa agenda 17
por fichas (demanda espontânea). Assim, reduzimos as consultas de demanda espontânea e aumentamos o agendamento programado. Percebemos, ainda, que era importante ele participar das reuniões de equipe e fazer algumas visitas. Para aumentar o número de pessoas atendidas, eu considerei melhor incluir mais grupos na minha agenda”: MÉDICO Manhã
Tarde
SEG 08 senhas 10 Programa HAS/DIA 12 Programa TB/HAN
ENFERMEIRA MANHÃ TARDE
TER 08 senhas 10 Programa Criança 08 senhas 10 Programa HAS/DIA SEG TER Grupo e Grupo e Pré-Natal Criança Educação Visitas Permanen te e Avaliação da Equipe
QUA 18 senhas
08 senhas 10 Programa HAS/DIA QUA Grupo e Pré-Natal Visitas
QUI 08 senhas 10 Programa Criança Visita Domiciliar
SEX 08 senhas 10 Programa Mulher Reunião de Equipe
QUI Grupo e Criança
SEX Grupo e Exame Preventivo Reunião de equipe
Grupo
Fernanda: “Essa agenda permaneceu por mais quatro meses. Depois o médico foi embora e eu fiquei um tempo sozinha, até a chegada de vocês da FESFSUS. Durante este tempo, fiz o que pude! Tentei garantir as consultas de pré-natal, algumas de criança e do programa Hipertensão e Diabetes (HAS/DIA). Com tantas consultas e as filas “pegando fogo”, reduzi o número de visitas e tivemos dificuldades em manter nossas reuniões. Ufa, foi um alívio a chegada de mais uma pessoa na equipe para dividir as tarefas!”. Pedro, o médico, chegou. 5.6. Agenda depois da chegada de Pedro Pedro: “Pessoal, nestes dias já percebemos algumas novas necessidades para organizar nossa agenda: precisamos garantir um tempo para acolher as pessoas e agendar segundo suas demandas. Além disso, percebemos que precisamos deixar um tempo para consultas mais rápidas e consultas mais demoradas, ou seja,
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aquelas em que já conhecemos o usuário e sabemos que ele precisa de um atendimento longitudinal e continuado”. “A minha proposta é que busquemos integrar a minha agenda, a da enfermeira e a da dentista” - Diz Pedro entusiasmado e apresentando no papel a sua agenda: SEG M A N H Ã T A R D E
5.7.
TER
QUA
QUI
SEX
7h-8h 8h-9h
Organização da USF e Atividade de Sala de Espera Consultas de Pacientes do Acolhimento
9h-10h 10h-11h
Agendado Normal (sem Risco Adicional) Agenda Rápida (c/ Risco e/ou Situação que exige atenção + rápida) Cuidado Longitudinal e Continuado Consultas de Pacientes do Acolhimento
11h-12h 14h-15h 15h15:30h
15:30h17h
Retornos em Grupo Cuidado Longitudinal e Continuado
Visita Domiciliar
Reunião Equipe/ Educação Permanent e e Avaliação da Equipe
Retorno s em Grupo Cuidado Grupos Longitudinal e Continuado
Roberta problematiza as agendas anteriores Roberta acompanhou todas as apresentações e pensou: que bom que a
equipe está propondo uma agenda integrada! Como a saúde bucal está iniciando agora nesta unidade, posso trazer algumas experiências de agendas para debater com a equipe e começarmos também a da saúde bucal de forma integrada! Pedro fala: “Roberta, você poderia nos contar sua experiência enquanto dentista de saúde da família. Assim, podemos pensar juntos, uma agenda integrada”. Roberta logo se animou. Estava esperando uma oportunidade para falar: “Poxa, Pedro, que bom que estamos tendo essa abertura. Normalmente quando chego às equipes, a saúde bucal é vista como um atendimento a parte. Tanto pelos trabalhadores da saúde da família como pelos próprios dentistas. Na minha experiência eu costumo pactuar e construir a agenda com os agentes comunitários. Qual a agenda que existia na equipe?”. 19
Zélia, a agente comunitária fala: “Roberta, gostei da sua proposta. Tem tanto tempo que eu nem lembro mais como era a agenda do dentista anterior. Você pode ir apresentando a sua e nós vamos opinando?”. Roberta se levanta e desenha no papel metro a sua experiência anterior: Dentista MANHÃ
TARDE
SEG TER QUA QUI 08 Micro área Micro área Paciente Crianças + 2 3 s 2 especiais urgências (hiperten são, diabético s, gestantes etc) Micro área Educação Micro área Micro 1 4 área 5
SEX Microárea 6
08 Crianças + 2 urgências
Mauro agente comunitário: “Roberta, dá pra colocar o dia da extração na sexta de manhã? É porque a comunidade está acostumada”. Roberta: “Pode sim, Mauro. Mas teremos que com o tempo renegociar com a comunidade, visto que a saúde da família trabalha sobretudo com a promoção da saúde. Além do que na outra unidade não tinha o turno da visita domiciliar do dentista, que é importante para a primeira visita da puérpera, a orientação aos idosos, acamados, pessoas com dificuldade de locomoção em geral, para rastreamento e prevenção do câncer de boca, entre outras demandas que possam surgir na comunidade. Entretanto, como a proposta agora é construirmos uma agenda conjunta com Pedro e Fernanda, vamos pensando”. Fernanda se levanta e fala animada: “Isso mesmo Roberta, vamos sentar juntos, chamar o pessoal da recepção e do serviço gerais e construir a agenda integrada. Não podemos se esquecer destas pessoas, pois são fundamentais para o acolhimento. Vamos colocar no papel a proposta da agenda integrada de Pedro e vamos redesenhando”. A equipe resolveu reservar um dia e suspender o atendimento para organizar a agenda. As urgências logicamente foram atendidas. No final, Roberta fez a leitura para a validação da equipe:
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M A N H Ã
8h-9h
T A R D E
14h-15h
8h-9h 9h-12h
15h15:30h
SEG TER QUA QUI SEX Organização da USF e Atividade de Sala de Espera (Resp. ACS, técnico de enf., auxiliar de saúde bucal). Acolhimento e atendimento das urgências encaminhadas pelo acolhimento (enfermeiro, dentista e médico). Consulta agendada e cuidado longitudinal e continuado Acolhimento e atendimento das urgências encaminhadas pelo acolhimento (enfermeiro, dentista e médico). Reunião Equipe/ Visita Cuidado Cuidado domiciliar Educação Longitud Cuidado Permanent longitudinal inal e Longitudinal e e e Continua e Avaliação continuado do Continuado da Equipe
15:30h17h
Grupos
5.8 Construindo a agenda de trabalho inicial da sua equipe Caro trabalhador, com base no caso apresentado, propomos fazer uma reflexão sobre a agenda de trabalho da sua equipe. Serão disponibilizados materiais que apoiarão a discussão. A agenda pode facilitar ou dificultar o trabalho em equipe, melhorar ou piorar o acesso dos usuários, restringir ou alargar as ofertas, desperdiçar tempo precioso ou otimizar, levando à satisfação profissional. Esta deve ser um espelho da organização de seu processo de trabalho e iniciar esse diálogo constitui-se um passo importante nessa direção. A reflexão sobre a agenda tem o objetivo de facilitar e qualificar o cotidiano, sendo uma atividade comum em diversos ramos da saúde. Teremos a oportunidade de produzir um bom diálogo sobre o tema com capacidade de experimentar soluções que respondam às necessidades de cada equipe e comunidade. Para apoiar esse debate, propomos que você realize com sua equipe a leitura dos textos: “Problemas Comuns e Diretrizes para a Agenda da Equipe de Saúde da 21
Família” (biblioteca virtual do módulo) e “Os elementos da agenda de uma equipe” (biblioteca virtual do módulo). 5.9. Atividade para toda a equipe – roteiro para o momento presencial A atividade do momento presencial será realizada durante uma reunião de equipe e tem como objetivo disparar o movimento ação-reflexão-ação que articula o aprendizado com a transformação concreta dos serviços de saúde. Reserve o tempo para essa discussão com sua equipe na própria reunião semanal da Equipe. Passo a passo: 5.9.1. Na primeira parte da reunião a equipe deve realizar a leitura coletiva do caso “Organizando a agenda da equipe do Abacateiro” para aquecer o exercício de reflexão sobre as possibilidades de agendas e envolver todos os trabalhadores. Tempo aproximado 10 minutos. 5.9.1.2 - A equipe realizará um primeiro debate identificando nos modelos de agenda apresentados no caso da equipe do Abacateiro, duas vantagens e duas desvantagens para os profissionais e usuários. Para organizar a discussão, propomos a utilização do quadro a seguir: PROFISSIONAL VANTAGENS
DESVANTAGENS
USUÁRIO VANTAGENS
DESVANTAGENS
Tempo aproximado: 1 hora 5.9.2. No segundo momento da reunião, a partir da discussão sobre as vantagens e desvantagens das agendas do caso, dos princípios da Atenção Primária em Saúde (APS) e da leitura dos textos disponibilizados, a equipe deverá pensar sua agenda atual e uma nova proposta de agenda (caso necessário). Abaixo disponibilizamos questões que podem auxiliar nesta análise. PERGUNTAS PARA REFLETIR SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO E 22
A AGENDA DE TRABALHO A Agenda de Trabalho reflete e estabelece o modo como o trabalho, às ações e ofertas de serviços da Equipe são organizados e disponibilizados à população. A Agenda é um elemento importante tanto para ter uma ideia e avaliar o como se dá a organização do processo de trabalho da equipe e a qualidade do mesmo, como para instituir novas lógicas de trabalho e cuidado. 1. O que está previsto na agenda? 2. Que ofertas a compõem? 3. Ela permite: - realizar reuniões? - atender pessoas individualmente e em grupo? - atuar no território? - planejar e avaliar as ações de saúde? - desenvolver atividades de educação permanente na Unidade e fora dela, atividades de gestão do cuidado e qualificação da clínica e da atenção à saúde? 4. O modo de organizar o trabalho facilita ou dificulta o acesso? 5. O usuário consegue acessar a consulta do médico numa situação de urgência? 6. Há articulação entre o trabalho e as agendas dos diferentes membros da equipe? Ela tenta evitar que um mesmo usuário tenha que voltar várias vezes caso necessite de intervenções de diferentes membros da equipe? Pode-se dizer que é uma agenda compartilhada da equipe? 7. Há flexibilidade para adequar os horários e tempos de consulta à necessidade dos usuários?
5.9.2.1. Você pode utilizar a proposta do quadro a seguir para facilitar a visualização da equipe durante a discussão: Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Manhã
Enfermeiro
Tarde
Manhã
Tarde
23
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Manhã
Tarde
Tempo aproximado: 2 horas 5.9.2.2. É muito interessante a participação de algum membro da gestão municipal, apoiador institucional ou gerente da unidade nesta atividade. A aproximação da gestão municipal das atividades cotidianas da equipe potencializa a capacidade do município em apoiar a atenção básica. 6.0. Fórum Discuta no fórum com seus colegas o seu entendimento sobre a temática, as dúvidas e outras mobilizações. Importante, discutir a realização da atividade proposta. Deve ser apresentada a síntese das questões discutidas mais importantes para sua equipe no fórum de discussão do módulo no ambiente virtual de aprendizagem (www.ead.fesfsus.ba.gov.br). Lembre-se que você e sua equipe têm 15 dias para concluir a leitura da unidade 1, a realização da reunião de equipe e a apresentação dos resultados no fórum. 7.0. Tarefa: Dispositivo pedagógico Como
dispositivo
pedagógico
você
deve
postar
no
AVA
(www.ead.fesfsus.ba.gov.br) a agenda da equipe definida no momento presencial. 8.0.
Referências Bibliográficas
Brasil. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Atenção Primária e Promoção da Saúde / Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília: CONASS, 2007.
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Brasil. Ministério da Saúde. PORTARIA Nº 2.488, DE 21 DE OUTUBRO DE 2011 Política Nacional de Atenção Básica. Série Pactos pela Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Pinto H.A, Lima JC, Romano RAT, Carvalho LC. O SUS e os processos de trabalho em saúde. In: Formação Docente em Educação Profissional Técnica na Área da Saúde. Rio de Janeiro: EAD/ENSP, 2008. Silva Júnior, AG. Lógicas de programas ações de saúde. In: BARBOZA, P. (Org.). Curso de autogestão em saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz/ENSP, 2001. v. 4, p. 82-107.
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