estúdio gravataí II / V
Os projetos aqui apresentados foram desenvolvidos pelos estudantes e enviados para a publica巽達o durante o processo de conclus達o do semestre. A vers達o final dos trabalhos pode ser consultada em: www. equipamentospublicos.fau.usp. br/estudiogravatai2015
estúdio gravataí II / V
organizadores:
andré vitiello bellizia carolina silva oukawa dalton bertini ruas guilherme pianca moreno juliana stendart mariana caires souto mariane alves martins paola trombetti ornaghi
são paulo fauusp dezembro de 2015
agradecimentos
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À Universidade de São Paulo e à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, pelos programas PAE e de monitoria de Graduação, sem os quais não teria sido possivel esta publicação. Somente o fortalecimento desses programas poderá expadir esse tipo de atividade extracurricular. Aos professores das disciplinas AUP0158 e AUP0162, pela colaboração e incentivo ao desenvolvimento desta publicação. Aos convidados do seminário intermediário, pela contribuição que trouxeram ao debate interno às disciplinas. Aos alunos, nos quais se fundamenta a finalidade de todo o trabalho. Aos monitores da disciplina Atelie Livre de 2015, por dividirem conosco a experiência que tiveram no primeiro semestre ao publicarem os trabalhos realizados naquela disciplina. Ao José Tadeu de Azevedo Maia e demais funcionários da seção técnica do LPG-FAUUSP, por viabilizarem a impressão destes volumes. À Lucila, bibliotecárias da FAUUSP, pela orientação na elaboração do ISBN.
estúdio gravataí - volume II
índice
o estúdio gravatai
v
programas
viii
oficinas de representação
x
monitoria da graduação
xiv
projetos
74
escalas: redes de equipamentos públicos
-entrevista: Milton Braga
86
projetos
90
seminário intermediário: sala 808
94
projetos
96
o projeto da habitação
-entrevista: Alvaro Puntoni
120
projetos
124
ficha técnica
129
índice remissivo -projetos: sala 808
130
rua
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estúdio gravataí - volume II
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o estúdio gravataí Antonio Carlos Barossi
Duas disciplinas: monitoria e publicação Esta publicação, proposta e realizada como atividade de monitoria pelos estudantes da pós e da graduação da FAUUSP, com apoio do comitê editorial da escola, compreende os trabalhos realizados pelos estudantes para as disciplinas de Projeto de Edificações do Departamento de Projeto: AUP0158-Arquitetura: Projeto 2 (Habitação) e AUP0162-Arquitetura Projeto 4 (Equipamentos). O conjunto de obrigatórias O grupo de Disciplinas de Edificações tem quatro disciplinas obrigatórias no currículo do Curso de Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP. São disciplinas de dois dias, com 4h por dia e que trazem uma estrutura subjacente com ênfases específicas, constituindo três Estúdios de Projeto. ESTÚDIO 1, constituído pela disciplina AUP0156-Arquitetura Projeto 1 cujas ênfases são: Infraestrutura / Arquitetura do lugar / Transposições. ESTÚDIO 2, constituído pelas disciplinas AUP0158-Arquitetura Projeto 2 e AUP0160-Arquitetura Projeto 3 cujas ênfases são, respectivamente: Habitação / Arquitetura da construção / Modulações Espaciais e Habitação / Arquitetura da construção / Modulações Construtivas. ESTÚDIO 3, constituído pela disciplina AUP0162-Arquitetura Projeto 4 cujas ênfases são: Equipamentos públicos / Arquitetura do programa / Transições. Apesar de na estrutura “ideal” estarem posicionadas em sequência nos segundo e terceiro anos, nenhuma delas é pré-requisito, o que permite ao estudante cursá-las a qualquer tempo depois da primeira disciplina de projeto, AUP0608-Fundamentos de Projeto do primeiro semestre do curso. Ciclo de abordagem de diferentes condições urbanisticas Os quatro semestres necessários para cursar as disciplinas formam um ciclo de abordagem de diferentes situações urbanas em que se situam as
áreas de intervenção. Três na região metropolitana de São Paulo: centro histórico/área consolidada; centro expandido/em consolidação e regiões vulneráveis/consolidação precária; e um numa cidade de pequeno ou médio porte, fechando o ciclo que reinicia no semestre seguinte. Calendário e áreas de intervenção em comum, com orientação autônoma e alternância entre trabalhos de equipe e individual A cada semestre são oferecidas duas disciplinas nos mesmos dias (2ª e 3ª) e horário. No semestre ímpar o trabalho é em equipe e nos pares individual. A área de trabalho de ambas compreende o mesmo setor urbano com algumas alternativas de locais de intervenção para escolha dos estudantes. Embora cada disciplina tenha abordagens específicas, além da área de trabalho, o calendário de atividades é comum, permitindo compartilhar aulas e palestras; criar eventos marcantes nos dias de exposição; otimizar a confecção das bases e seus desdobramentos na produção de novos dados pelos estudantes, propiciando assim uma maior sinergia entre os estudantes das duas disciplinas. A monitoria criou uma base de dados comum para compartilhamento dos trabalhos e uma página Facebook. 2º semestre de 2015 Neste semestre, descontados os feriados, tivemos 32 dias de atividades didáticas. Oito com atividades comuns: apresentação do curso; visita à área; palestra do secretário de Cultura e pesquisador de habitação prof. Dr. Nabil Bonduki; uma exposição intermediária dos trabalhos; uma exposição final; cinco seminários simultâneos de discussão e avaliação dos trabalhos no mesmo período da exposição com um professor de cada disciplina e convidados (outros departamentos e externos); e dois dias (uma semana) de participação nas bancas de TFG. Nos outros quatorze dias, cada professor coordenou 28 reuniões, duas por dia, de orientação e discussão dos trabalhos. Com duas horas de duração e abertas à todos os estudantes, cada reunião previa a apresentação de 5 projetos em 20 minutos cada e 50 min de discussão, de forma que o estudante
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pudesse apresentar seu trabalho em 7 etapas de desenvolvimento (Estudos iniciais, Partido, Estudo Preliminar, Estudo Preliminar Revisado, Anteprojeto, Anteprojeto 2, Projeto Final), uma por quinzena, além das finalizações com prancha acabada e modelo volumétrico (uma intermediária e uma final). Rua Gravataí, Moradia e Cultura numa relação de vizinhança. A área de intervenção situa-se em um trecho urbano de aproximadamente 5 ha que compreende a rua Gravataí na região central de São Paulo. Foram indicadas 5 áreas de intervenção a escolher, todas voltadas para a rua Gravataí, que na realidade é o que constitui o objeto primordial de interesse do projeto. O interesse na rua Gravataí, além de estar na região do centro histórico de acordo com o ciclo de abordagem dos quatro semestres, deve-se ao fato de constituir um local que, apesar de totalmente inserido numa região de caráter predominantemente metropolitano, tanto do ponto de vista da mobilidade, como dos usos, ainda preserva uma bonita relação de vizinhança dos seus moradores, que insistem em permanecer ali. Essa condição é particularmente adequada aos programas dos projetos das disciplinas, na perspectiva da caracterização espacial da rua e afirmação dos usos que correspondem às relações de vizinhança. Tanto em relação à Habitação Coletiva a ser desenvolvida na AUP0158, pelos motivos óbvios, como em relação à Casa de Cultura desenvolvida na AUP0162, que visa contemplar mais as atividades artísticas e culturais da comunidade do que realizar eventos culturais em geral. Além dos edifícios residenciais, vale destacar a existência na rua de um teatro desativado originalmente pertencente à escola Caetano de Campos, uma creche, um abrigo infantil e uma escola pública infantil. Para alguns trabalhos, foi solicitado ao estudante escolher para acrescentar na implantação, um projeto da outra disciplina, em outro terreno, que estúdio gravataí - volume II
melhor compusesse com o seu na obtenção de uma espacialidade da rua como um todo. A Habitação e a Casa de Cultura Na AUP0158 foi proposto o projeto de um edifício típico urbano de Habitação com Lojas e Serviços no pavimento térreo podendo conter, além das áreas comerciais de vizinhança, a creche e/ou o alojamento infantil substituindo os existentes. O dimensionamento do programa a partir da definição da quantidade e tipo de unidades residenciais e comerciais, e da inclusão ou não dos equipamentos, constituiu decisão de projeto em função da área escolhida e dos parâmetros urbanísticos de São Paulo indicados pela disciplina. Na AUP0162, foi proposto um programa definido: uma Casa de Cultura voltada prioritariamente para atividades da vizinhança, com quatro ambientes principais de 270m2 cada: Apresentações (eventos); Exposições (mostras); Leitura (biblioteca) e Oficinas (produção). O programa resulta em 2.600 m2 de construção, acrescentadas as áreas complementares: acessos, administração, depósitos, manutenção, pessoal, sanitários, infraestrutura e circulação, que para esse tipo de uso compreende os espaços de estar e encontro a serem resolvidos conforme cada projeto. Aqui os parâmetros urbanísticos (Taxa de ocupação, coeficiente de aproveitamento, recuos, permeabilidade, etc.) foram indicados como referência de conhecimento obrigatório, mas de atendimento livre a critério de cada projeto. Parâmetros gerais como segurança e acessibilidade foram indicados para serem contemplados.
Números 002 disciplinas 011 professores 003 monitores PAE 007 monitores da graduação 388 alunos 035 alunos por professor 128 horas de aula (32 dias) 008 dias de atividades comuns 32 horas de aulas, visitas, palestras, seminários, etc. 014 dias de reuniões de orientação cada professor 1.120 horas de reuniões com um professor nas duas disciplinas 002 reuniões por dia, cada professor 002 horas cada reunião de orientação 010 alunos em média por reunião de orientação 028 reuniões de duas horas por professor 280 reuniões de duas horas com 1 professor nas duas disciplinas 005 apresentações de trabalho por reunião 010 apresentações de trabalhos por dia de orientação 007 etapas de desenvolvimento 007 apresentações do trabalho pelo aluno em reuniões 002 exposições gerais dos trabalhos 005 seminários (simultâneos) com alunos e professores das duas disciplinas mais convidados 012 convidados de outros departamentos para os seminário 006 convidados externos para os seminários 035 alunos tutorados e avaliados por cada professor 002 finalizações de projeto 200 projetos publicados
programas
viii
Programa AUP0158: habitação e equipamento
Parâmetros de projeto: CA = de 2,0 a 4,0; TO = 0,7
Proposta: projeto de um edifício típico urbano de habitação com lojas/serviços no pavimento térreo em na área central da cidade.
área permeável: 15% da área do lote não há limite de gabarito unidades habitacionais devem atender três tipologias: unidade de 1 quarto - 68 m2 unidade de 2 quartos - 85 m2 unidade de 3 quartos - 102 m2 5% das unidades devem considerar acessibilidade universal em todos os cômodos pé direito mínimo 2,50 m em ambientes de permanência prolongada e 2,30 m em ambientes de permanência transitória unidades comerciais área mínima de 50 m2 que engloba dois sanitários acessíveis e uma pequena copa equipamento social é desejável que o edifício habitacional comporte uma creche municipal (800 m2) ou um abrigo para menores (20 moradores) em seu embasamento. as áreas de estudo abrigam atualmente esses equipamentos programas complementares áreas técnicas do edifício: hidráulica, eletricidade, gás, depósitos comuns (manutenção), depósito de lixo (orgânico, reciclável e escombros) e serviços comuns
estúdio gravataí - volume II
Programa AUP 162: equipamento cultural
Parâmetros de projeto: CA = 4; TO = 0,5
Proposta: edifício deequipamentos públicos municipais de cultura (biblioteca, teatro, museu e casa decultura) na Rua Gravataí.
gabarito 8 pavimentos áreaconstruída total 2529 m2 Relação de áreas setor de acesso público - área total 2178 m2 praça de entrada e marquise 445 m2 saguão de entrada 270 m2 loja e cafeteria 36 m2 sala/balcão de informações 18 m2 salão de exposições/museu 270 m2 salão de apresentações/teatro 270 m2 salão de leitura/biblioteca 270 m2 salão de oficinas 270 m2 (subdividido em 6 salas de 36 m2) sanitários 144 m2 circulações 324 m2 terraço descoberto 270 m2 terraço coberto 90 m2 setor administrativo - área total 220,5 m2 secretaria 18 m2 diretoria 18 m2 sala de reunião 36 m2 coordenação - 72 m2 (4 salas de 18 m2) depósitos 45 m2 (5 depósitos de 9 m2) copa e despensa 13,5 m2 sanitários 18 m2 setor de serviços manutenção - área total 130,5 m2 setor de máquinas - área total total 108 m2
oficinas de representação Carolina Oukawa Dalton Ruas Guilherme Pianca
x
Dentro da ampla gama de assuntos abordados nas disciplinas obrigatórias de projeto arquitetônico, a representação acaba sendo um item anexo, que se converte muitas vezes em obstáculo à compreensão e ao aprofundamento dos aspectos do projeto propriamente dito. Para contribuir com a comunicação entre aluno e professor nas orientações, e com o intuito de tornar mais fluida aquela “comunicação interna” (do estudante-arquiteto consigo mesmo ao longo do processo de projeto), foram propostas oficinas de representação, ministradas pelos estagiários do Programa de Aperfeiçoamento ao Ensino da Reitoria (PAE). Na prática, as oficinas configuraram-se como encontros semanais de estudantes matriculados nas disciplinas com estagiários PAE e monitores de Graduação, ao longo do primeiro bimestre, no próprio estúdio. O conteúdo das oficinas foi organizado em três módulos, em torno dos seguintes assuntos: croquis, maquete e representação gráfica para apresentação de projetos. A sequência dos módulos foi definida a partir de uma possível relação entre distintos momentos do projeto e diferentes modos de representar, conforme esboçado brevemente a seguir:
apresentação parcial | final Assunto abordado mais especificamente no módulo III das oficinas e, em partes, no módulo II. No contexto das disciplinas de projeto, podem ser entendidos como momentos de apresentação desde a orientação com os professores aos seminários e entregas intermediários e finais. No contexto profissional, compreende todas as sínteses anteriores ao projeto executivo. A apresentação requer representações mais bem acabadas, mais precisas, elaboradas com atenção a normas técnicas. execução Esta etapa requer representações voltadas à construção, que expressem dimensões e detalhamento necessário à execução da obra, considerando a compatibilização entre projeto de arquitetura e projetos complementares. No curso de arquitetura, constitui uma etapa à qual não se costuma chegar. análise | estudo Utilizam-se representações num contexto de pós-produção da obra, com intuito de aproximação e leitura.
fases de projeto | representações de arquitetura levantamento Momento anterior e concomitante ao processo de projeto; compreende levantamento planialtimétrico, registro fotográfico e observação (também por meio de desenhos e modelos) de características do lugar da intervenção. concepção | verificação Princípio e desenvolvimento do projeto. Requer recursos de representação compatíveis com a flexibilidade e fluidez características da etapa inicial de proposições. Algumas técnicas de representação correspondentes a esta etapa foram discutidas nos módulos I (croquis) e II (maquetes). estúdio gravataí - volume II
O conteúdo apresentado acima sugere que a representação em arquitetura não deve ser considerada como algo absoluto, direcionado a um único propósito. É necessário que as técnicas expressivas estejam de acordo com os objetivos intrínsecos de cada etapa do projeto. módulo I – croquis O fato de uma representação não abarcar, simultaneamente, todas as etapas e informações do projeto de arquitetura liberta sobremaneira as possibilidades do desenho. Os croquis são instrumentos para que se cumpram os objetivos do projeto na etapa de concepção e verificação. São desenhos rápidos, em geral à mão livre, sempre
figura 1: Croqui de Artigas durante elaboração do projeto do edifício da FAUUSP. O aspecto final demonstra que o desenho de concepção e verificação não é um fim em si mesmo, mas instrumento à busca de soluções de projeto. Uma evidência disso seria o fato de o edifício desenhado não apresentar semelhança com o que veio a ser o edifício da FAU.
que possível em escala ou proporcionados. Podem ser feitos sobre uma base cartográfica coletada na fase de levantamento, eventualmente apontando a necessidade de coleta de novos dados, já que as etapas do processo de projeto não são estanques. Em aparência, quanto mais próximo do início do processo, menos definido e acabado é o aspecto desses esboços. O recurso da sobreposição (aproveitando a transparência do papel) substitui o uso excessivo da borracha, o que auxilia o fluxo das ideias na verificação de cada proposição. É fundamental compreender que o croqui não deve ser visto como “bonito” ou “feio”. A beleza desse tipo de desenho, se há, reside na função que desempenha ao servir de veículo para o pensamento a respeito do próprio projeto: o croqui torna visíveis as proposições inicialmente imperfeitas, que podem desse modo ser verificadas e desenvolvidas em sucessivos novos desenhos. Gradualmente, amplia-se a escala, para aprofundar a elaboração de detalhes que surgem conforme o todo vai se resolvendo. Por se tratar de uma representação processual, dificilmente são encontrados croquis de concepção e verificação de fato. É comum que se use o termo para designar um desenho à mão livre genérico, uma mera ilustração de arquitetura; ou, quem sabe, um desenho que sintetiza uma obra em linhas gerais, feito após o final do processo, quando o projeto ou até mesmo a obra está concluída. Um dos poucos exemplos de publicação de croquis de processo é o Caderno dos riscos originais: projeto do edifício da FAUUSP na Cidade Universitária (figura 1). É importante que os jovens estudantes de arquitetura tenham consciência das particularidades do desenho de concepção e verificação. Primeiro, para desenvolverem a habilidade de “pensar com a ponta do lápis”, adquirindo a flexibilidade e a fluidez próprias do início do processo de projeto. Segundo, para não se tornarem reféns de modos de representação paralisantes, ao esperarem muito mais da aparência final do desenho do que dos significados nele contidos.
módulo II – maquetes Ambicionou-se neste módulo o desafio de desmistificar “crenças” enraizadas quanto à confecção de modelos tridimensionais físicos de arquitetura: A) A confecção de maquetes é identificada com o final do processo de projeto. B) Mesmo quando se admite a maquete de estudo na elaboração do projeto, sua finalidade não é clara, assim como seu desenvolvimento em paralelo aos desenhos bidimensionais. Como resultado, os modelos “de estudo” são apresentados muitas vezes no final, e constituem-se como uma extrusão das escolhas realizadas em planta, em uma mera ilustração. C) Fazer um modelo é muito trabalhoso, uma atividade “braçal” que consome mais tempo do que a elaboração “intelectual” do desenho, assim como exige uma capacitação ainda maior para a sua correta execução. Na prática, sua realização é descartada ou, recentemente, relegada à produção “imediata” e “automática” das impressoras tridimensionais. Dado o tempo exíguo para o enfrentamento destas questões, foram elaboradas duas atividades para problematizá-las, sem a intenção de oferecer uma resposta instântanea. Primeiro, buscou-se mostrar por meio de uma seleção de imagens que os modelos físicos devem estar presentes em diversos momentos do projeto, em várias escalas, conforme o interesse da questão a ser pesquisada em cada fase, assim como explicado na introdução deste texto.Antes mesmo da maquete de estudo do projeto, os modelos de levantamento são importantes para a percepção da topografia, da densidade e da trama urbana da área destinada à intervenção. Já no momento de elaboração, ela pode ser tanto conceitual como de verificação de uma ideia. A rapidez na execução permite o surgimento de questões analógicas de projeto, possibilidade que os croquis não oferecem: somente na maquete são percebidas todas as dimensões do espaço simultaneamente, sem nenhuma ambiguidade. Em relação às maquetes de apresentação discutiu-se a escolha dos materiais, que não são neutros
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2’30”
5’00”
7’30”
10’00”
12’30”
15’00”
17’30”
20’00”
figura 2: para desmitificar a produção de maquetes de estudos,realizou-se em 20 minutos o modelo da topografia da Rua Gravataí. HASEGAWA, Go. Thinking, Making Architecture, Living. Tóquio: Inax, 2011.
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e reafirmam ou contradizem o partido escolhido pelo projeto. Por fim, foram abordadas as maquetes para a construção, os protótipos construtivos, como os nós estruturais realizados por Marcos Acayaba na escala 1:1, com o material final. Também poderiam ser feitas em outros materiais para informar a volumetria da peça ou para indicar na obra a forma correta de execução. Neste contexto, podem ser mais eficazes à comunicação do que o desenho dos detalhes arquitetônicos do projeto executivo. Os modelos tridimensionais vistos nestes casos assumem posições ativas na eleição das soluções a serem adotadas nos projetos. Vale lembrar que no contexto internacional há situações em que a produção de modelos está internalizada na atividade de projeto em todos os momentos. O arquiteto japonês Go Hasegawa define a prática de fazer modelos como “a capacidade de saber formular perguntas pertinentes, e quanto mais precisas estas forem, tanto mais os modelos se tornam simples e menos numerosos”1. E por que na FAU fazer modelos de estudo ainda parece ser uma eventualidade? A oficina trouxe uma atividade demonstrativa que problematizou a ideia de que a execução da maquete é mais trabalhosa do que o desenho (figura 2). Em vinte minutos, confeccionou-se a topografia do terreno da Rua Gravataí na escala 1:500, a partir de duas placas A3 de spumapaper. Isso possibilitou uma compreensão imediata da situação planaltimétrica da área de intervenção, que de outra maneira poderia levar semanas para ser alcançada, mediante a realização de muitos desenhos. Portanto, existem falsas noções de tempo, de execução e de apreensão do lugar, que a não-execução da maquete acaba por induzir. módulo III – representação gráfica para apresentação de projeto A preparação da apresentação de um projeto vai muito além de um mero procedimento burocrático, no qual se formatam croquis, maquetes, ideias e anseios do arquiteto, fazendo-os caber numa prancha desta ou daquela dimensão. A representação gráfica estúdio gravataí - volume II
depende de uma série de recursos e pode constituir um enorme campo de experimentação e busca por uma estética visual própria. No caso principalmente do estudante de arquitetura, este momento configura-se como aquele em que se pode aprofundar o contato com as referências sob a luz das estratégias de comunicação de um projeto. É importante perceber como arquiteturas distintas e seus respectivos discursos manifestam-se, além das diferenças formais e espaciais, em formas de representação que busquem expressar tais características específicas e próprias. Trata-se de uma oportunidade única de ampliação do vocabulário, integrada a uma compreensão de significados subjacentes ao projeto de arquitetura. Essa compreensão vai além de questões básicas e normativas de representação (indicação de cotas, níveis, escadas, espessuras de linha, etc.) também importantes, mas que, sozinhas, carecem de sentido. Aprofundar-se no potencial de expressar significados é o que pode alimentar a experimentação, ao mesmo tempo em que torna a apreensão do conteúdo básico de representação gráfica uma consequência natural. Em suma, o conteúdo normativo ganha sentido quando o estudante sabe o que quer dizer. Por esse viés, o módulo III das oficinas procurou debater com os estudantes, com base no material que estavam preparando para a apresentação dos projetos no seminário intermediário, as seguintes questões: Como expressar graficamente o projeto? Quais os caminhos possíveis para expor conceitos arquitetônicos e urbanísticos nos desenhos? Como o domínio do código amplia as possibilidades projetuais? Essas questões podem encontrar respostas parciais no processo do estudante, mas esperamos que, face à força de seu eco na prática arquitetônica, as oficinas tenham sido um primeiro ensaio de autoconhecimento e reflexão crítica acerca da própria linguagem; e dos significados que podem ser trazidos à tona por meio da prática projetual no momento de expressar e comunicar a um terceiro as descobertas que vão sendo feitas a cada novo projeto (figura 3).
figura 3 :Planta de situação em que a proposta do novo edificio na extrema direita tem a mesma identificação dos rios existentes: uma estratégia de conduzir a leitura da inserção urbana dos edifícios. Arquiteto:James Stirling
Carolina Silva Oukawa é graduada, mestre e doutoranda pela FAUUSP. Monitora PAE da disciplina AUP0162, ministrou o módulo I das oficinas. Professora de Projeto e Desenho Arquitetônico da UNIP – Universidade Paulista, tem se dedicado à pesquisa das relações entre desenho e projeto de arquitetura, em interlocução direta com os professores Sérgio Augusto M. Hespanha, Maria Zarria U. Dubena e Corina Bianco.
Dalton Bertini Ruas é graduado e doutorando pela FAUUSP. Possui mestrado pela Universidade Nacional de Yokohama. Monitor PAE da disciplina AUP0162, ministrou o módulo II das oficinas. Foi professor de maquetes e de projeto arquitetônico na Unibero Vila Mariana.
Guilherme Pianca é graduado e mestrando pela FAUUSP. Monitor PAE da disciplina AUP0162, ministrou o módulo III das oficinas. Trabalhou no escritório de arquitetura MMBB de 2008 a 2015, com experiência em desenvolvimento de projetos e representação gráfica.
monitoria da graduação Andre Vitiello Bernat Pedro Paola Ornaghi Juliana Stendard Mariana Caires Mariane Martins
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A monitoria da graduação contou com a participação de sete alunos. Três deles na disciplina AUP0162 e os demais na disciplina AUP0158. Estamos na graduação, assim como os demais alunos, portanto nossa participação diferiu da atuação dos monitores da pós-graduação vinculados ao PAE (Programa de Aperfeiçoamento ao Ensino). O processo de acompanhamento dos alunos e auxílio aos professores resultou sobretudo em aprendizado. Conforme o semestre avançou renovamos, cada qual à sua maneira, o modo de encarar o exercício de projeto. Por estarmos diante de outra perspectiva, pudemos presenciar as mais variadas leituras, propostas e desenhos para um mesmo recorte projetual: a Rua Gravataí, o que nos aproximou da complexidade do ato de projetar e de ensinar e nos fez perceber que não existe apenas uma maneira, e muito menos a maneira correta, de propor um edifício para um programa e um lugar. Assim, a pretensão em esclarecer as dúvidas dos colegas cedeu espaço a conversas que resultaram em um entendimento conjunto dos questionamentos, além da troca de referências e experiências. Com essa proximidade, pudemos ajudar na comunicação entre os alunos e os professores, facilitando a compreensão das orientações e da metodologia característica de cada um. Além da relação com os professores, estruturamos nossa atuação, em conjunto com os monitores PAE, por meio de frentes de trabalho idealizadas no início do semestre. A proposta surgiu de carências e fragilidades que nós mesmos presenciamos em disciplinas anteriores. Desse modo gostaríamos que essa experiência servisse como um incentivo aos próximos monitores, criando, assim, uma cultura de atividades pensadas para os alunos. As frentes de trabalho da monitoria da graduação foram, portanto: um blog com compilação de referências de projeto, acompanhamento e auxílio nas oficinas de representação gráfica, organização do seminário intermediário e elaboração desta publicação. A ocorrência de cada uma das atividades foi resultado do comprometimento de todos os envolvidos. estúdio gravataí - volume II
O blog de referências (disponível em: http:// estudio-gravatai.blogspot.com.br/) reuniu projetos citados pelos professores durante as orientações e referências nossas, adquiridas ao longo do curso. A seleção desses trabalhos significou também um exercício de leitura de projeto, um processo muito rico e pouco explorado durante a graduação. A participação nas Oficinas de Representação Gráfica junto aos estagiários PAE foi uma experiência muito interessante. Aprendemos e ensinamos em um diálogo de igual para igual. O Seminário Intermediário foi uma grande celebração da disciplina, em que os alunos tiveram a oportunidade de ouvir, e não mais de apresentar, seus projetos a partir da visão de professores do Departamento de História, de Tecnologia e outros do próprio departamento de Projeto, além de contar com considerações de professores externos à escola. Ajudamos na organização do seminário e participamos como ouvintes atentos. Junto às frentes, houve também a produção de cartazes para a publicização das atividades. Ao lado os cartazes das Oficinas de Representação e do Seminário Intermediário. A organização da Publicação do Estúdio Gravataí, que envolveu o esforço de todos igualmente, significa a síntese de todo o processo. A proposta era não apenas registrar o projeto de cada aluno, mas oferecer um cenário que pudesse contextualizá-los. Registar o que foi o Estúdio Gravataí. Diante dessas considerações, acrescentamos que apesar de compartilharmos a mesma sensação de aprendizado, cada um de nós teve uma experiência única e enriquecedora, possível pela liberdade de atuação e confiança depositada a nós pelos professores e monitores PAE.
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projetos
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Ana Carolina Batista Habitação na Gravataí
Inserido em local de intensa dinâmica urbana, o projeto busca incentivar a interação na cidade através da criação de uma praça interna de uso coletivo, que visa se constituir em um local de convívio. A inserção do estúdio de dança voltado para crianças é justificada pela presença de duas escolas e um abrigo nas proximidades e pela preservação do caráter cultural do local. Ainda, a integração com a cidade é contemplada através da entrada do estúdio que se volta para o interior da praça, e da entrada pela parte posterior do terreno, que possibilita a integração com a escola. Ainda, os diferentes gabaritos dos edifícios se dão a fim de criar uma situação de continuidade e contraste com as construções vizinhas e, os desníveis, através do partido da não inserção de muros ou grades.
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Ana Luiza Ceolin Casa de Cultura na Gravataí
Pensando na necessidade de criação de espaços de uso público na cidade, a rua gravataí foi escolhida para a implantação de uma casa de cultura, tanto porque ela, tendo seu espaço apropriado pelos moradores, é por si só um palco de manifestações culturais, quanto pela sua proximidade com a praça roosevelt, parque e rua augusta e centro, locais intensamente ocupados e usufruídos socialmente. dessa forma, o projeto da casa de cultura volta sua entrada para a esquina, de modo a convidar à entrada os indivíduos que passam pela rua caio prado e aqueles que usam o parque augusta, e sua fachada transparente para a rua gravataí, inclusive com um bar no térreo, com entrada tanto pela casa, quanto pela rua, se comunicando com o intenso e noturno uso da praça roosevelt como espaço de socialização. A distribuição dos espaços do programa se dá em volumes que ora se projetam pra fora do embasamento do edifício e ora se contraem. os acessos à cada piso se dão por meio de escadas pensadas como pontos de encontro, que circulam pelo volume central do edifício constituído pelas torres de circulação e de equipamentos hidráulicos.
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Ana Paula Manzo Beato Habitação na Gravataí
Habitação de interesse social localizada na esquina maior da rua gravataí com a rua caio prado (terreno com 1600m²) composto por sete andares tipo e um andar térreo. Cada um dos andares tipo possui cinco unidades habitacionais, sendo duas com três dormitórios e uma com dois dormitórios, e todos os apartamentos dotados também de cozinha, sala de estar e jantar, lavanderia e dois banheiro. O andar térreo conta com sete unidades alugáveis e uma garagem com vinte e cinco vagas. O edifício conta com uma torre que marca presença na esquina e na qual ficam os dois elevadores, assim como uma escada enclausurada.
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Barbara Barbosa Leite Yadoya Habitação na Gravataí
O projeto de habitação busca consolidar uma forte relação com o entorno, trabalhando na esquina menor entre a rua Caio Prado e a rua Gravataí. Na rua Gravataí, a relação estabelecida é de uma habitação com janelas e varandas voltadas para a mesma, e já na rua Caio Prado, além das janelas e varandas dos apartamentos menores, está presente o comércio, que pode estabelecer forte conexão com a movimentação da área. A estrutura projetada é de concreto armado, as vedações são realizadas em blocos cerâmicos, placas cimenticias e cobogós. As unidades habitacionais foram projetadas com foco na funcionalidade dos espaços e ergonomia para uso.
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Clara Chahin Werneck HIS + Abrigo na Gravataí
O edifício é constituído por dois blocos, unidos por uma circulação horizontal comum e passarelas em todos os níveis. O pavimento térreo abriga 4 lojas com mezanino. O vão central criado entre os blocos configura um pátio de brincar para as crianças da habitação e do abrigo. O abrigo, no 1o piso, tem capacidade para 24 crianças. As áreas de convivência encontram-se na fachada da rua Gravataí, com vista para o Parque Augusta. O espaço do abrigo tem por objetivo o fortalecimento das relações afetivas já existentes e a possibilidade de criação de novos laços. Os demais pavimentos apresentam 8 apartamentos cada, com 4 tipologias diferentes, de 2 ou 3 quartos, no total 64 unidades. Foram privilegiados os lugares de convivência familiar e a flexibilidade dos espaços, atendendo demandas diversas.
estúdio gravataí - volume II
Daniel Locatelli HIS + Creche
Por se destinar a uma parcela da população com renda baixa, este projeto tomou como partido a análise de performance energética, ou seja, todas as decisões projetuais passaram primeiramente por um embasamento técnico de forma a garantir uma moradia de baixo custo de produção e manutenção. A proposta final leva em conta: _Unidades modulares. _Redução de consumo de energia e água. _Reuso de água e reciclagem de lixo. _Unidades esbeltas e orientação favorável que facilitam a ventilação cruzada e a iluminação natural. _Escalonamento evita excesso de autosombreamento e cria terraços voltados ao norte que possibilitam a prática da agricultura urbana. _Corredores posicionados no lado oeste das unidades e fachada oeste equipada com brises verticais protegem da insolação da tarde, mais indesejada.
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Flávia Cristina Fonseca HIS Gravataí
A esquina maior entre a Caio Prado e a Rua Gravataí é um ponto privilegiado na cidade, pois está localizado entre o Parque Augusta e a Praça Roosevelt. O edifício é composto por dois blocos, sendo o bloco B a rotação do bloco A, o que proporciona a possibilidade da criação de uma conexão entre esses dois volumes por meio de um terraço comum que dá a vista para a cidade, além de ser um local para encontros e de apropriação dos moradores. No térreo, visando a importância do pomar de Pitangueiras já existente, foi mantida a área do pomar e redesenhado seu entorno para sua valorização e harmonia com o térreo de comércio e serviços que possuem mezanino. O bloco A possui 14 pavimentos residências, sendo 4 deles acima do terraço, criando dois volumes distintos. O bloco B possui 10 pavimentos residências e apartamentos com terraço. Cada pavimento possui 3 apartamentos, sendo dois de 3 quartos e um de 2 quartos. As fachadas possuem brises móveis. Por fim, foi pensado um projeto que desse aos moradores um bom apartamento e boas áreas de lazer e à cidade um edifício que conectasse os espaços de forma harmoniosa. estúdio gravataí - volume II
Beatriz Pallarés Casa de cultura + passagem conector
Numa rua onde tem sido sinalados os lotes que precisam de atuação, se propõe un projeto conjunto. Os equipamentos públicos apresentados na versão preliminar do programa da disciplina (casa de cultura, creche, abrigo para crianças de rua, CRAS e CAPS) são distribuidos nos lotes acompanhados de volumes habitacionais, na forma de edificios de uso misto. Um sistema de passagens faz conexões entre os predios e as praças vizinhas (Roosevelt e o Parque Augusta) ampliando o espaço público. O projeto da casa de cultura e desenvolvido mais que os outros. Ocupa a esquina maior e o antigo teatro Lucas Pardo Filho. As partes principais do programa são ideadas como salões diferenciados entre os quais o resto de espaços são distribuidos. As conexões entre eles ficam abertas à rua.
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Caio Berlande Habitação na Gravataí
As unidades habitacionais estão todas agrupadas em um bloco laminar suspenso do térreo. O bloco não está alinhado com a rua, mas sim alinhado de forma a buscar que todas as unidades tenham uma boa visibilidade para o Parque Augusta. O pavimento tipo possui dois apartamentos de dois dormitórios e dois apartamentos de três dormitórios. Há duas caixas de circulação externa, que sobressaem na fachada. Todas as unidades habitacionais possuem uma sala de estar voltada para o sudoeste, enxergando o parque, e lavanderias voltadas para o nordeste, possibilitando boa incidência solar. Nenhum apartamento possui parede interna estrutural, havendo possibilidade de modificação das paredes. O térreo é muito pouco ocupado, há duas unidades comerciais e um restaurante/café nos fundos.
estúdio gravataí - volume II
Catarina Cecchini Habitação na Gravataí
O térreo, abaixo do nível da rua e de uso público, representa o negativo do nível elevado da Praça Franklin Roosevelt, ressaltando a importância de espaços de convivência na cidade e homenageando a praça e suas transformações. Com a intenção de reescreve-los no contexto mais recente da região, busca-se conciliar as aspirações cotidianas dos antigos moradores e a tendência cultural que emerge, menos timidamente de noite, nos arredores na praça. Quatro passarelas de circulação funcionam como varandas coletivas - sob gestão dos moradores - incentivando o diálogo e o sentimento de comunidade. São uma transição do térreo público para os apartamentos privados, abrigando atividades coletivas que não encontram espaço dentro das unidades, mas também não se adequam a grande movimentação do espaço público.
escalas: rede de equipamentos públicos entrevista: Milton Braga
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O tema incialmente sugerido para a entrevista do Professor e Arquiteto Milton L. Braga foi bastante sintético – “Equipamento Público” – e diretamente relacionado ao projeto da Casa de Cultura desenvolvido pelos alunos da disciplina AUP0162. Após o término da entrevista, constatada a dimensão mais ampla atribuída ao equipamento público, foi feita uma correção ao título, para conferir ao leitor maior precisão ao pensamento do autor de que o equipamento cultural somente é significativo quando não pensado isoladamente, mas em rede. Estúdio Gravataí: Quais são as definições mais legítimas para demarcar uma distinção do espaço público em relação ao privado? Milton Braga: Vou falar do equipamento público não apenas como equipamento público de cultura, mas em geral, e talvez seja bom dar um passo atrás, e refletir o que distingue o público do privado. Quem melhor pensou essa distinção em São Paulo foi a historiadora Sophia da Silva Telles. Ela disse que, em arquitetura e urbanismo, a melhor forma de distinguir o público do privado não é por propriedade nem por acesso, mas por valor. É muito comum que o edifício público não tenha acesso público e o edifício privado apresente acesso público. E se pensarmos em termos de valor, é público aquilo que vale para todo mundo. E, às vezes, confundimos o público com o coletivo. Por exemplo, uma igreja não é pública, a igreja vale para aqueles que compartilham o mesmo credo. O cinema, ao contrário, é público, porque ali vale a lei pública, o usuário não pode falar, não pode fumar, deve obdecer à lei pública, apesar de ser propriedade privada. EG: E se partirmos desta noção, como podemos começar a compreender a relação entre os equipamentos públicos na cidade de São Paulo? MB: O equipamento público é muito mais amplo do que a rede de equipamentos públicos dos poderes públicos municipal, estadual e federal. E uma consequência negativa disso é olhar muito pouco para o equipamento privado de interesse público. Boa parte do que gostamos na cidade é produzido pelo uso privado. A falta de atenção com isso, o preconceito contra a iniciativa privada, talvez tenham sido estúdio gravataí - volume II
razões para demorarmos tanto em formular uma legislação urbana que valorizasse a oferta privada de interesse público, atividades que animam as ruas da cidade. EG: Qual seria o modelo adequado para se pensar a estruturação dos equipamentos públicos? MB: Vamos pegar o caso da rede de equipamentos culturais, em que boa parte da cultura é produzida em espaços privados de interesse público. E a cultura, quanto mais pulverizada, espontânea e popular, no sentido de ser motivada não a partir de uma politica pública, mas da iniciativa das pessoas, vai continuar a acontecer majoritariamente em espaços privados, desde a casa das pessoas até lugares de encontro, como bares e clubes, entre outros. Para a cultura, sobretudo, e para qualquer equipamento público, a cidade é o grande recinto, isto é, não é um edifício que vai dar conta de tudo sozinho, como muitas vezes acabam por se isolar os centros culturais (no fim, a mesma lógica dos conjuntos habitacionais), mas muito pelo contrário, a própria cidade é o centro cultural. Especificamente no caso da Rua Gravataí, pode-se pensar em equipamentos que não são autossuficientes, dependentes dos vizinhos, tanto privados como públicos, favorecendo que a própria cidade seja um local de produção cultural, de encontro, de shows. Portanto, em um edifício público como a casa de cultura, deveríamos considerar no projeto só aquilo que a inciativa pública pode oferecer, e neste sentido, eu tenho colocado em dúvida a implementação de cafés no térreo dos equipamentos públicos, porque este café provavelmente surgiria no vizinho privado. Se o térreo da casa de cultura for de livre acesso, como alargamento da calçada, podemos considerar que o muro que o separa das construções vizinhas poderá ser eliminado e que nestes espaços poderão vir a oferecer no térreo outros serviços complementares àqueles da casa de cultura, como cafés, bares, livros, moda, design e assim por diante. EG: A partir do anseio de produzir uma outra cidade possível, surgem motivações para os arquitetos transformarem os usos que a cidade permite, como descrito anteriormente no caso da casa de cultura.
Dalton Bertinni Ruas representou a publicação do Estúdio Gravataí para a entrevista realizada no dia nove de novembro na FAU Maranhão.
De forma a estender esta questão, quais seriam as motivações que deveriam guiar os arquitetos junto ao seu processo de trabalho?
EG: Gostaria que você comentasse as posições muitas vezes engessadas da relação entre arquitetura e função.
MB: O arquiteto é muito mais do que um mero construtor. Como disse Lúcio Costa, poderíamos pensar a arquitetura como a construção feita com intenção. A construção pensada como uma forma de conhecimento é a proposição de Paulo Mendes da Rocha. Outra forma de defini-la é a de que a arquitetura deve ser capaz de construir significados. E a transformação da mera construção em algo significativo pressupõe escolhas que dependem de uma arbitrariedade, ou seja, o arquiteto arbitra aquilo que é mais oportuno, e a beleza desta arbitrariedade, desta autoria do projeto, é que existem muitos caminhos, mas todos não são possíveis juntos. Para fazer algo contundente, realmente significativo, e que não seja histriônico, você é obrigado a renunciar a todas as outras possíveis opções, como muitas vezes nos lembra o Angelo Bucci. Portanto, a arquitetura é uma atividade autoral, e a autoria nesse sentido não é uma ação narcísica, mas é a responsabilidade do arquiteto de escolher um bom caminho e evitar os ruins. Deixar de fazer “bonito” também é um erro, a arquitetura deixa de ser significativa e não encanta; se não encantar, falha. O encantamento é quando reconhecemos em uma construção o seu discurso, o seu significado ou a sua intenção; são todas palavras que traduzem o que se espera do arquiteto e da arquitetura.
MB: A tradução do pensamento de Gropius de que “a arquitetura começa quando cessa a função” é algumas vezes interpretada literalmente. Não deixa de ser verdade isso, porque todo edifício já sem função muitas vezes desperta nas pessoas uma espécie de esperança, uma visão otimista, em que cada um imagina o que gostaria de ver ali acontecer; essa é uma dimensão bonita das obras de arquitetura que não tem um programa pré-determinado. Mas eu prefiro entender a frase em um sentido mais amplo, para qualquer edifício, mesmos aqueles que contemplem um programa determinado. Quando a função deixa de ser um problema, quando foi perfeitamente resolvida é que poderemos perceber como é bonito o projeto realizado.
EG: Seria a arquitetura encantadora mesmo se não fosse pragmática? Nenhum edifício pode ser considerado poético, que nos faça esquecer um pouco do imediato, do cotidiano, se ele tiver falhas técncias grotescas, se o programa não estiver completo e se a demanda não for bem atendida. Portanto, em princípio, o arquiteto não deve partir de sua autoria, de sua subjetividade e arbitrariedade, mas de uma leitura das demandas e condições que se impõem. A partir de condições bem objetivas ele deverá produzir uma obra que responde muito bem a tudo isso e que seja ao mesmo tempo uma bela opção, um belo discurso. Quando deixamos de fazer isso, não fazemos arquitetura para valer.
EG: De que modo você interpreta, portanto, as demandas e condicionantes específicas do local de intervenção para a elaboração de um projeto de arquitetura? MB: A arquitetura é circunstancial ou circunstanciada; ela é um imóvel, não vai nunca sair dali, e, portanto, tem que necessariamente estabelecer relações com o local em que se insere; por exemplo, uma passarela não pode ser igual em Londres e Salvador e é por isso que a Millenium Bridge de Norman Foster é uma maravilha lá e seria um desastre aqui e o sistema de passarelas do Lelé são incríveis aqui e não o seriam lá. Deste modo, a obra deve necessariamente se adequar a um universo de circunstâncias e assim não podem existir dois projetos iguais em lugares diferentes. Não só do ponto de vista espacial mas também do ponto de vista temporal. Assim, se não é na mesma esquina, no mesmo endereço, o projeto tem de mudar. O meta-projeto é muito importante, deve ser visto como tipologia, como uma série de atributos, soluções inclusive, que se mostram vantajosas pela experiência e que devem ser um ponto de partida para um projeto específico, que nunca será igual ao meta-projeto. E o que foi apresentado aos alunos como referência para o projeto da casa de cultura foi um meta-projeto, pensado para ser desenvolvido
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nas cidades brasileiras, na sua maioria pequenas, enquanto que a proposta a ser desenvolvida pelos alunos foi localizado em uma metrópole em sua região central já consolidada, e com uma grande oferta de equipamentos já estruturados, em rede. Para essa ciscunstância e para cada um dos terrenos oferecidos, o projeto acaba por ser outro e por ser único. EG: Como os alunos deveriam compreender a casa de cultura na realidade no centro de São Paulo, tendo em vista as especificidades do programa de necessidades? MB: Primeiro, de um modo geral, em qualquer projeto, devemos considerar que o programa de necessidades apresentado como pedido é ainda apenas uma demanda a ser considerada, mas a ser criticamente transformada em um programa. Ninguém nunca pediu ao Artigas o Salão Caramelo, e hoje, se fôssemos fazer uma lista do programa de necessidades da FAU provavelmente começaríamos pelo Salão Caramelo. Isto não pode ser enunciado no programa de necessidades / demanda, porque se constitui como parte da interpretação do problema de projeto. E ficou logo claro para a casa de cultura, em São Paulo, que ela faz parte de uma rede de equipamentos públicos de cultura, fruto de uma política pública, e no espectro de equipamentos dessa rede a parte comprometida com a produção cultural espontânea e pulverizada de iniciativa popular. Conforme a abordagem hoje em voga do bottom-up, a casa de cultura é o lugar para que o bottom, sem muito up, sem muita programação pública, apareça. E aí entra algo que, me parece, vale para qualquer edifício contemporâneo, que é uma tendência para que os edifícios se “urbanizem”. EG: E quais seriam as interpretações possíveis para edifícios mais “urbanizados”? MB: O sentido mais óbvio seria de eles se abrirem muito para a cidade, muitas vezes 24 horas, pelo menos em alguns espaços, e de virarem espaço público urbano, não ocupado, livre e vazio, como o vão livre do MASP. O outro bom exemplo é a própria FAU, que tem talvez por porta a passagem do estúdio gravataí - volume II
mosaico português para o caramelo; é ali que acho que o Artigas pensou a passagem do “dentro” para o “fora”. São edifícios que quanto mais abertos e convidativos forem, tanto melhor, principalmente no caso da casa de cultura. Mas “urbanizar” seria também, num outro sentido, ser menos especializado e ter uma programação mais aberta, menos pré-determinada, uma vez que a casa de cultura em especial é um lugar para acontecimentos imprevistos – como se espera que sejam os espaços públicos da cidade – cuja decisão deve ser prioritariamente da população, os autores dessa cultura popular, e não definida apenas pela política pública, pelos promotores da cultura formal. Nesse sentido, é o oposto de uma Sala São Paulo, que é necessariamente menos urbana do que a Casa de Cultura, muito mais autônoma em termos de funcionamento e de alta especialização. A casa de cultura, se tiver espaços muito especializados, vai ficar boa parte do tempo ociosa, uma vez que os usos originados pelos exercícios da cultura popular são obviamente tão diversificados quanto o são as próprias pessoas. EG: Quais são as implicações entre a especialização e abertura dos usos na casa de cultura? MB: Hoje a adaptação dos espaços para certas atividades depende muito mais dos equipamentos, do mobiliário, dos eletrodomésticos, do que da arquitetura. Ao contrário do que ocorria no passado, quando era necessário um estúdio de gravação para filmagem e som, hoje as entrevistas podem ter uma qualidade equivalente de gravação em uma sala de jantar com todos os recursos que cabem em um celular. Não precisamos mais de tantos espaços especializados, os edifícios hoje podem ser mais urbanos. Se um edifício for muito especializado, vai se tornar muito cedo funcionalmente obsoleto, ao passo que se ele for um edifício que resolva os problemas essenciais, que não vão deixar de existir, ele vai servir por muito tempo. E o tempo do edifício é muito mais longo do que os tempos da maior parte das coisas atuais. Os tempos da arquitetura são os mesmos de sempre, porque ela tem uma escala, um custo, entre outras condicionantes, que impedem
uma aceleração no mesmo ritmo. O que não muda, portanto, é o modo de se relacionar com os vizinhos, a topografia, com a paisagem, com a luz, os barulhos, como se relacionar com o mundo e com as pessoas de Sheakspeare, ou seja, as pessoas em suas características essenciais. Temos que fazer a arquitetura como sempre se fez. EG: Para finalizar, qual seria a vocação de uma casa de cultura e a importância específica de seu projeto na formação dos alunos de arquitetura em uma universidade pública? MB: A casa de cultura, mais nitidamente, tem essa vocação de ser quase uma infraestrutura. Poderíamos pensar que a casa de cultura é basicamente um pavilhão, em que as pessoas possam se reunir para fazer as mais variadas coisas, das atividades mais claramente artísticas, como cursos de desenho às festas populares, ou mesmo frequentar um terraço para ver a mata do parque Augusta. É um edifício realmente simples e que produz efeitos essenciais e fundamentais, caso seja colocado na cota certa para desfrutar das vistas, resolva o problema da chuva e do sol excessivo, e permita sem nenhuma obstrução de pilares a realização de grandes reuniões. Isso talvez seja uma casa de cultura muito mais acertada do que colocar uma miniatura de teatro ou uma miniatura de biblioteca. É importante isso, muitas vezes os estudantes confundem as escalas na hora de projetar, e realizam miniaturas. Ao se trabalhar no projeto da casa de cultura, tem-se a oportunidade de se aprimorar a percepção espacial para evitar o erro de escala comumente realizado.
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Flora Milanez Casa de Cultura da Gravataí
A Casa de Cultura da rua Gravataí tem um programa que conta com quatro ambientes principais que permitem atividades de oficinas, apresentações, exibições, exposições e leitura. O projeto foi pensado de modo a ser integrado ao edificio sede do Teatro Lucas Pardo Filho, reconhecendo seu significado cultural e histórico na região, recuperando-o e readaptando seu uso; assim, ambos os pavimentos serão utilizados como um dos salões da Casa de Cultura. Os novos salões terão fachada virada para a Gravataí, permitindo uma relação visual entre as atividades de dentro do edifício e a rua. Almeja-se atribuir à própria rua Gravataí um caráter de instrumento cultural, fazendo uso de um saguão de recepção aberto em seu térreo e que deixa livre o eixo que vai da rua até o fundo do lote, com pé direito alto seguindo o gabarito do andar térreo do teatro.
estúdio gravataí - volume II
Gustavo Borges Ramos Casa de Cultura na Gravataí
_ A escolha da esquina menor para a implantação da casa de cultura faz parte de um dos objetivos principais do projeto, máximo adensamento. PROGRAMA PROPOSTO – 2529 m² ESQUINA MENOR – 420 m² _ PROBLEMATIZAÇÃO: como conciliar um programa, em sua condição pública, que exige espaços amplos e conectados – entre si e o contexto; do geral ao específico – e a falta de espaço? A verticalização é necessidade primeira e não solução por si só. É necessidade numérica. O projeto começa pela superação – e não pela negação – dessa condição. Superação de um empilhamento vulgar e monótono de lajes, pela busca de um espaço contínuo.
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Henrique Fontana Boeira da Silva Vila Gravataí
O partido do projeto está fundamentado em sua implantação em “L”: os volumes estão distribuídos de maneira a criar uma praça interna que funciona como um alargamento do passeio da rua Gravataí. O volume é basicamente composto pelo bloco habitacional e por um outro, de menor gabarito, correspondente ao abrigo para menores, além de pequenos volumes nos quais comércio e cafés estão instalados. A insolação orientou o partido também: o edifício residencial foi pensado de forma que todos os cômodos dos apartamentos recebam luz solar em algum momento do dia, e da mesma forma o abrigo. O pavimento-tipo habitacional possui três tipologias de unidades: 60m², 75 m² e 90m²(duplex), os quais definem três torres ligadas visualmente por duas circulações verticais, tudo coroado por um terraço-jardim.
estúdio gravataí - volume II
Isabel Samaia De Vivo Casa de Cultura na Gravataí
O projeto de Casa de Cultura aqui apresentado foi desenvolvido na esquina das ruas Gravataí e Caio Prado. Tendo face para o Parque Augusta, propõe-se a criação de um terraço descoberto a ser usado como praça elevada, permitindo uma visão e vivência do parque dentro da própria Casa de Cultura. A grande quantidade de vidro e aberturas na fachada, assim como o pé direito mais alto no térreo e a criação de um mezanino, trazem leveza ao projeto e pretendem deixar a nova Casa de Cultura mais aberta à cidade e ao parque, servindo como ponto de encontro e lazer, principalmente para a comunidade do bairro em questão. Ainda, a escada de acesso ao teatro, bastante larga, foi projetada para ser usada também como arquibancada e plateia para performances que possam acontecer a céu aberto.
seminário intermediário
Investigação coletiva de projeto: Fico impressionado com essa síntese no meio do processo. São
A reflexão dos trabalhos em desenvolvimento foi realizada simultaneamente em cinco
ideias em formação. Acredito muito nessa troca im-
salas distintas. Em cada uma delas, foi apreciada a produção conjunta do Estúdio Gravataí
portante que acontece diante dessa ampla amos-
por dois a três professores das disciplinas, professores de todos os departamentos e professores convidados externos. Nesta seleção de falas, com destaque à sala 808, estão reunidos alguns dos pontos mais significativos levantados pelos professores externos às disciplinas. A multiplicidade de pontos de vista suscitados pelos trabalhos são evidenciados em pelo menos três eixos distintos de leitura: interno, externo e entre as salas.
tragem de trabalhos, que conforma uma espécie de produção coletiva, um laboratório. Todos estão imersos num grande debate, em que cada projeto apresenta uma contribuição. A somatória de todos os trabalhos nos interessa. A atividade de projeto ganha o caráter de uma investigação acerca de um tema. É uma pesquisa. (CS)
Convidados da sala: Leandro Medrano (LM), Luis A. Jorge (LJ), Maíra Rios (MR), Outras salas: Luiz Recaman (LR), João Sette Whitaker (JW), Joana Carla Gonçalves (JG) Ana Lanna (AL), Cesar Shundi (CS)
O habitar e o habitat na cidade: Se vocês compreendem que o objeto do programa, seja cultural ou a própria habitação, como um elemento arquitetônico que só pode ser pensado a partir do entendimento do que é a cidade, todos essas posturas em relação aos recuos, dimensionamento, ordenamento gabaritos, etc, mudam de entendimento. Se o projeto da unidade habitacional é de 45 m2 no máximo, 15 m2 por pessoa, até em dimensões menores, não é porque se entende que essa seria a metragem ideal ou suficiente para uma pessoa viver ou morar; se entende que não vai se viver apenas nesta área. Entre o habitar e o habitat, um jogo de palavras de Lefèbvre e que se refere a um determinado momento em que os arquitetos transformaram o habitar em um habitat, resolveram o problema da habitação como quem resolve o problema da cidade. E habitar
Costurar o espaço interno com o espaço da cidade: Um dado interessante é o fato de as duas disciplinas trabalharem o mesmo território. Isso dá uma ideia geral ao grupo de como ocupar o território, inclusive indicando que alguns lotes foram mais escolhidos do que outros nesta amostragem. E me pareceu que os programas eram complexos, saber o que fazer ou não com a casa de cultura, e existiu muito forte essa vontade dos alunos de responderem aos programas. Alguns
não é o habitat. Habitar é você em contato com a densidade, a trama, os conflitos, com
projetos não ultrapassaram ainda a organização do progra-
a consistência social que envolve a cidade, a trama urbana que é uma trama histórica, de
ma, com preocupações voltadas ao dimensionamento dos
uma consciência coletiva que é da onde vem o melhor que existe na humanidade. (...) E
ambientes e menos com a costura do espaço interno com
é na cidade. Não é em uma casa bonita envolta em 40 milhas de muro em Alphaville. (...)
o espaço da cidade. Esse é o momento de evoluir, pensar e
O entendimento nosso nesta escala urbana, se vocês querem trabalhar na Rua Gravataí,
refletir para que esse programa estabeleça uma relação com
no centro da cidade, e entendendo que ali existe uma certa tensão morfológica, social e histórica, vocês terão de entender o projeto a partir destas tensões, e entender que a
seu espaço externo. É uma situação geral dos projetos. (MR)
cidade é um reflexo morfológico de uma forma social. (LM)
Desenhar o que está fora do programa: Quando
Do isolamento à consideração das pré-existências: Vocês tra-
falamos em desenhar as conexões, o território, as
balham já em uma chave de conhecimento de espaços e cidade
escadas, as passagens, a relação com o vizinho, a
que é outra do que minha geração trabalhou, do ponto de vista do
arquitetura não está somente na resolução do pro-
conceito. A questão da cidade, o próprio centro, as pré-existên-
grama em si, mas no que foge do programa. Mas
cias, os gabaritos que por ventura existem naquele lugar, mesmo
agora se deverá libertar do peso do programa para
que fragmentados, parecem mais natural a serem trabalhados a
se desenhar o que não é programa. (MR)
partir de uma questão, do “reenervamento” da área central, que em outros tempos se via exatamente o oposto, a cidade se espalhou para as periferias,(...) em um sentido de espalhamento geral. (...) Pareceu-me que vocês colocam em evidência essa preocupa-
Apresentação do projeto como narrativa: Preci-
ção de fato mais urbana. De quem (...) procura aprender e com-
sa-se entender que a apresentação é uma narrativa.
preender a cidade no que ela tem de melhor, ou seja, transformar
Se você desenha uma planta do segundo pavimento
esse emaranhado urbano que teoricamente se chama de cidade
que é idêntica ao terceiro pavimento, você está can-
(....) São Paulo parecia que se encaminhava para o seu isolamento
sando o seu leitor e deixando de ocupar o espaço
pleno. E hoje vemos pessoas morando em condomínios horizon-
com outra peça gráfica que trouxesse uma informa-
tais e verticais e pessoas frequentando shopping centers isolados
ção adicional.(...) Vamos ficar atentos para não bu-
e essa lógica funcionou para a classe média em várias escalas e
rocratizar a apresentação, com o desenho de todas
resolvia de uma certa maneira os entraves paulistanos. (...) Com
as plantas, o corte longitudinal e assim por diante.
40 milhas, Alphaville é uma das maiores muralhas do mundo; isso
Vamos inventar um jeito de contar história que me-
parecia ser um caminho, um meio natural, da nossa sociedade
lhor expressa os valores que o projeto tem. Esse é
de enfrentar os problemas urbanos. E hoje vemos o contrário. (...)
um jeito de defender o que foi pensado. (LJ)
Identifiquei em vocês esse olhar mais próximo do espaço da cidade. (LM)
Significado e arbitrariedade em arquitetura: Se desenhamos
Noção estrita de cultura: Em relação ao programa, eu fiquei com
uma linha, que tem uma direção, um ângulo, que é agudo, isso
dúvidas sobre a noção de cultura com a qual vocês operam: é ba-
tem que ter um sentido, preciso, não pode haver nada em que
sicamente oficinas, exposição e teatro. Eu achei essa cultura muito
batemos o olho em arquitetura e soe arbitrário. Aquilo tem que
entediante. Ninguém vai querer ir lá, e apenas um projeto contem-
ter um sentido estético, funcional e construtivo, mas esse signifi-
plou uma quadra esportiva. (...) Eu achei estranhíssimo. (...) Quase
cado tem que ser percebido e fazer sentido, do contrário, parece
todos colocaram o espaço de exposição no nível da rua, e a biblio-
arbitrário. Acontece quando passamos a exigir uma funciona-
teca, creche no sexto e sétimo andar. Porque será? (...) A exposi-
lidade que explique essa forma, o desalinhamento e a inflexão,
ção tem sempre esse lugar impactante e quando me pergunto, uma
mas ao procurarmos o sentido, não o encontramos ao notar
pessoa que se desloca para ir ver uma exposição, ela irá vê-la de
como estão funcionando os ambientes. É essa ideia de integri-
qualquer forma, e qual a razão de sua posição no térreo, não vai
dade que a arquitetura exige, em cada componente, elemento,
atrair transeuntes, e também não vai criar um volume de cidade, (...)
peça, forma, em cada linha, isto tudo deve fazer parte de um
e se tivesse outro programa, talvez nos aventurássemos a olhar e
conjunto que seja íntegro. (LJ)
entrar lá. Então o que significam essas escolhas, essa compreensão estrita de cultura? (AL)
Arquitetura contemporânea: Quan-
Sutilezas e enriquecimento do vocabulário: Considerando que estamos em uma etapa intermediária, (...) é um recado
do eu vi o local, a maneira como vo-
que observei, mas é o tom da cultura arquitetônica de hoje e que merecia ser levantado para a discussão: eu acho que
cês trabalham e o tema, eu me senti
estamos perdendo uma atenção para as sutilezas. Uma capacidade de se preocupar mais com coisas que ninguém
muito seduzido ao olhar todos os
presta atenção. Se nós arquitetos não dermos importância para essas sutilezas, com esse léxico de um desenho de
projetos e tentar entender o que um
espaço público, de ajuste de cota, da escada que ajusta o nível do passeio público para o térreo. Não estou falando de
grupo de estudantes da FAU estão
um problema de colocar uma escada ou uma rampa; falo de um repertório que poderíamos ainda encontrar em uma
pensando neste momento em re-
cidade como Ouro Preto. Basta algumas horas andando para perceber a riqueza construtiva de ajuste destes problemas
lação a um pedaço tão significativo
de passeio e instalação do térreo enfrentado no mais diverso território com todo o vocabulário construtivo da herança
da cidade, tão importante, cheio de
portuguesa.(...) Investigar profundamente essas sutilezas é matéria que deveríamos valorizar. O mundo não está mais
tensões, contradições, em uma situ-
olhando para tantas sutilezas. Não devemos cair nesta diluição de um repertório, de uma tradição que vem de Portugal
ação que não é tão peculiar assim,
e que deveríamos ter a missão de honrar. Não é de teor programático, nem construtivo, mas que faz toda a diferença no
em termos de uma chamada tradição
convite, na relação no conjunto, que chamo de qualidade e menos de parâmetros. (...) Uma arquitetura que enfrenta esse
da arquitetura brasileira e mesmo de
desenho da cidade precisa necessariamente enriquecer o vocabulário, no sentido de se tornar mais qualitativa e menos
uma arquitetura como um todo. (LM)
métrica essa relação com a cidade. (LJ)
Pensar os ambientes internos: Os projetos
Sensibilidade aos vetores próximos, médios e distantes: Tem projetos que tem uma sensibilidade de locali-
culturais me pareceram melhor resolvidos do
dade. Não é contexto e história, (...) existe uma estrutura urbana. E alguns projetos tiveram essa sensibilidade
que os habitacionais, mas todos desenharam
de apontar uma espécie de situação à morfologia, ao novo edifício. Do outro lado do espectro, alguns projetos
e produziram muito material para a avaliação.
ignoraram absolutamente a circunstância da localidade.(...) A maioria dos grupos resolveu o projeto a partir
Fiquei impressionada com o volume de traba-
das questões internas, supostamente, como se fosse possível isso... a dificuldade de montar o programa, a
lho. Contudo, dentre tantos desenhos, vale
dificuldade de pensar a estrutura, e se cria uma espécie de aberração arquitetônica na medida em que isso tem
comentar que faltaram desenhos conceituais
que ser depois colocado em algum lugar. Hoje eu acho que não existe mais como pensar essa forma do edifício
do tipo perspectivas, mostrando as ambiên-
que não seja a partir dos vetores que vem de fora. Isso não significa que o projeto tenha que fazer algum tipo
cias que estão sendo pensadas.
de relação histórica ou nada. Mas os vetores que vem da cidade tem que aparecer no projeto. Os projetos mais
Com respeito aos partidos arquitetônicos, em
interessantes foram aqueles que foram sensíveis a essa vetorização: próxima, média e mais distante, com a
geral, ao meu ver, faltou se perguntar: o que
infraestrutura, com a praça, etc; então eu separaria nesta linha os projetos que tem esse esforço e aqueles que
faz um bom ambiente interno? Quais as quali-
não tem esforço. (LR)
dades ambientais de uma boa residência? Faltou uma discussão de qualidade não somente
Processo de trabalho na habitação: Algumas plantas estão muitos interessantes para a habitação, mas de
ambiental, mas também espacial, lembrando
modo geral, a solução da verticalização, em nenhum desses projetos, surpreendeu-me. A grande dificuldade
que uma está atrelada a outra. Também em
é fugir de uma verticalização óbvia e conseguir trazer um elemento inovador na esquina, no espaço urbano,
todos os projetos, faltou uma atenção maior,
no térreo. Alguns projetos estão burocráticos porque não conseguem sair da camisa de força que é imposta
mais direta, sobre o espaço residual que existe
pela necessidade de resolver as necessidades impostas. (...) Mas isso não é um demérito de vocês, é um pro-
entre edifícios - essa discussão é ainda mais
blema brasileiro de se prender metodologicamente a iniciar o projeto a partir da planta da unidade para fora,
importante quando se propõe algo no meio da
o Minha Casa Minha Vida que o diga. Então o projeto sempre vai ser um invólucro de unidades habitacionais.
cidade existente. Vale dizer que uma reflexão
O H é isso, uma praga. (...) Parte-se da planta mais prática, é feito de dentro para fora, uma lógica projetual
sobre essa última questão apareceu mais nos
que começa pela unidade para depois entender o prédio em si. Enquanto que um projeto de arquitetura tem
projetos da Casa de Cultura. (JG)
que ser pensado tudo ao mesmo tempo, agora. Eu tenho que pensar a unidade ao mesmo tempo que penso a volumetria, o conjunto, a fachada, o corte, como atravesso o entorno, etc, porque ai eu consigo ajustar uma na outra, permanentemente. (JW)
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João Akira Okimura de Sousa Casa de Cultura na Rua Gravataí
Os espaços da Casa de Cultura se distribuem apoiados em um volume central onde estão os banheiros, a circulação vertical e a administração. Os salões de leitura, exposições, oficinas e o grande terraço, junto com as áreas técnicas e o espaço destinado aos funcionários, foram distribuídos em meios níveis, formando dois blocos elevados por pilotis. Cada bloco tem somente quatro pontos de apoio. Apenas o salão de apresentações possui outra solução: colocado embaixo de um dos blocos, voltado para a Rua Caio Prado, no formato de um teatro aberto, onde uma arquibancada tem vista para o palco e para uma empena com função de plano de projeção de filmes e da programação da Casa.
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Juliana Dalkimin Habitação na Gravataí
Localizado na Rua Gravataí, o projeto propõe uma nova arquitetura no centro de São Paulo. O complexo habitacional conta com apartamentos, alojamento para crianças, unidades de comércio, café e horta comunitária. Promovendo assim uma integração entre os espaços públicos e privados. O projeto tem como diretriz a sustentabilidade, com a inserção de terraços verdes, horta comunitária, reuso de água da chuva, e aplicação de placas solares. Propõe em conjunto o alargamento das vias e a retirada de estacionamento para carros na rua, dando enfase a esse eixo de acesso entre a Praça Roosevelt e o Parque augusta, e aumentando a qualidade do espaço público com parklets e vegetação.
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Laura Castañer Casa de Cultura na Gravataí
A rua Gravataí conecta o Parque Augusta e a Praça Roosvelt, dos espaços públicos bem diferenciados, o primeiro muito tranquilo e o segundo bem movimentado. Um dos objetivos da intervenção é trasladar atividade também pro Parque Augusta criando um eixe (praça-rua-parque) que promove o fluxo de pessoas. Isso é conseguido com a diversidade de usos que propõe uma casa de cultura, e no caso do projeto, com dos equipamentos (um teatro com talheres, é uma biblioteca-museu) que costuram a rua com os espaços públicos já mencionados. Arquitetonicamente a rua é muito diversa e presenta dificuldades para criar dialogo entre os edifícios que compõem ela. Assim, o projeto opta para adoptar uma aparência opaca exteriormente (com a materialidade de concreto) para dar todo o protagonismo no vazio interior (de fachada de vidro para aportar luz) completamente permeável, que recorta o edifício e torna-se parte da mesma rua e dos espaços públicos do entorno.
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Leila Sayuri Kinzu Habitação na Gravataí
Uma das ideias do projeto é a integração com o entorno existente, evidenciada pelo uso dos gabaritos como referência para uma melhor inserção do projeto no tecido urbano. Levando em conta o projeto existente de adequação da E. E. Caetano de Campos, a permeabilidade é valorizada através de um térreo que se abre para o interior da quadra, onde é possível acessar a escola e o equipamento projetado para o conjunto, uma biblioteca. As unidades habitacionais aproveitam ao máximo a área construída e o núcleo de circulação vertical, dispondo os ambientes de acordo com os níveis de privacidade e tentando aproximar as áreas úmidas. Existem três tipologias, com 1, 2 e 3 dormitórios, de 40m², 60m² e 84m² respectivamente. As coberturas dos edifícios são aproveitadas para áreas comuns e de convivência.
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Letícia Chaves Habitação na Gravataí
O projeto consiste em duas torres de unidades residenciais e térreo integrado à cidade. As unidades habitacionais são de tipos de 1, 2 ou 3 dormitórios, visando atender a diferentes necessidades espaciais dos moradores. O térreo, que articula áreas condominiais e o contexto urbano, conta com áreas para estabelecimentos comerciais, um grande espaço livre público e áreas destinadas ao uso de moradores e funcionários do conjunto habitacional, como vestiários e um bicicletário. Além disso, há um andar condominial formado por uma lâmina que interliga as duas torres, onde se localizam uma sala de leitura e estudos e um salão para reuniões e festas. Evidencia-se no projeto as torres de circulação dos edifícios, como volumes destacados e revestidos com painéis retangulares coloridos.
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Letícia da Silva de Jesus Habitação na Gravataí
Container: caixa grande que acondiciona carga para transporte e que tem como objetivo facilitar a locomoção e o manejo. Velocidade construtiva, menos entulho, reutilização de material e diminuição de custos são algumas das vantagens deste material, que se torna habitável após adição de revestimentos e pintura adequada. O edifício também contará com um sistema de água completo, incluindo reservatórios de reuso e captação de água da chuva. Este projeto se estrutura a partir do uso do C.A. máximo, pois entendo que a infraestrutura completa do Centro deve ser melhor aproveitada. A diversidade tipológica de unidades revela a intenção de provocar interação entre usuários de diferentes níveis sociais, priorizando apartamentos de até 60m².
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Luciana Monteforte Habitação na Gravataí
Trata-se de um projeto de pequeno porte, que busca misturar-se à paisagem pré-existente, através de seu gabarito e proposta de térreo aberto a quem passa pela rua. O comércio, ocupando toda a extensão do térreo, reforça a intenção de atrair os pedestres e estimular o passeio no térreo. Os apartamentos têm entre 50 e 60m², em plantas variadas, que permitem maior adequação às necessidades dos eventuais moradores. O térreo e o pavimento coletivo trabalham com duas ideias complementares de espaço coletivo. O primeiro, destinado aos pedestres, moradores do prédio ou não, promove a integração do edifício com a cidade e consequentemente, com seus moradores; o pavimento coletivo estimula a convivência entre os moradores do edifício, tentando evitar a ideia de isolamento muito presente atualmente.
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Luis Guilherme Alves 35 unidades de habitação na Gravataí
O projeto consiste em um edifício de uso majoritariamente residencial, com alguns espaços para serviços e comércio. Foi considerado o interior da quadra como espaço importante e potencial na constituição da imagem urbana, fortemente marcada pela presença do enclausuramento dos espaços privados. Assim, buscou-se evidenciar a profundidade do lote e os elementos do miolo de quadra. O edifício se desenvolve como uma torre de 12 andares ao fundo (com unidades de mercado) e um bloco de 5 na parte frontal (HIS). Da torre se lançam, através de pontes, unidades duplex que aproveitam da circulação vertical da mesma e se dedicam à residência de estudantes. Buscou-se uma alta densidade, bem como a variedade de alturas e perfurações favorecendo a iluminação e ventilação urbanas. Densidade: 615un/ha.
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Maria Alice Peregrina Habitação na Gravataí
Tendo como objetivo o reconhecimento do usufruto público da rua Gravataí, a implantação do projeto pretendeu criar um espaço livre com dimensões de rua (6.5m) dentro do próprio terreno. Assim sendo, o térreo convida o pedestre a visitar a livraria, o café, ou até observar as aulas da escola de desenho enquanto senta em um dos banquinhos. Outra vantagem da implantação é permitir que as amplas janelas dos apartamentos se voltem para a lateral com os mesmos 6.5m de distância do edifício ao lado, criando agradáveis espaços internos de contemplação e permanência. As 70 unidades habitacionais, com área média de 50m² cada, se distribuem pelo edifício com 5 apartamentos por pavimento tipo – com exceção dos espaços vazios, que dinamizam e conferem personalidade à linguagem de continuidade da fachada. E dessa forma, se abrindo para a cidade, é configurado mais um edifício.
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Marina Wong Casa de Cultura na Gravataí
O projeto - Intenção de ligação entre a escola na rua João Guimarães e a rua Gravataí. - Projeto de quadra poliesportiva para uso público e também da escola. - Divisão de usos entre blocos: olhando o corte no bloco maior estão concentrados os salões, os depósitos e sala de reuniões; no bloco menor, circulação vertical, área administrativa e de funcionários, sanitários, e terraços. -Ligação entre os blocos feita por passarelas e pela escadaria aberta independente das mesmas. - Fachada determinada pelos usos. - Terraços em todos os andares e também na cobertura (vista para o Parque Augusta).
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Juliana Sumiya Habitação na Gravataí
O projeto está inserido na esquina da rua Gravataí, composto por um volume em L voltado para dentro do lote, abrindo um pátio interno para si. O bloco possui dez pavimentos, três lojas no térreo, um abrigo, biblioteca, áreas comuns e 32 apartamentos. O partido propóe integração de um abrigo para crianças e das habitações, através de espaços comuns como a biblioteca e áreas de recreação para as crianças, situando o abrigo e criando-lhe uma identidade em uma região importante do centro da cidade.
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Natália Andrade Edifício Casa de Cultura Gravataí
Esse projeto tem como protagonista a rua e pretende valorizar a Gravataí como um eixo de arte, cultura e apropriação do espaço público a partir do compartilhamento de seu espaço. O edifício Casa de Cultura Gravataí marca o enquadramento das duas esquinas. Os térreos dos edifícios das esquinas são espelhados, tornando-se um térreo único, livre, unificado e ativo, conectado pela rua. Sua configuração é simples. Os planos dos andares valorizam os salões como espaços de uso múltiplo e espontâneo. Além de voltar-se para o Parque, o edifício volta-se para si mesmo, para seu elemento central que é a rua e para as atividades que nela acontecerão. Dessa forma sua circulação vertical e seus espaços de serviço localizam-se na lateral, permitindo a comunicação e visão da paisagem do próprio edifício e da cidade.
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Natasha Arabuski Casa de Cultura na Gravataí
Implantado na esquina da Caio Prado com a Gravataí, o projeto busca consolidar esse espaço como esquina cultural. Um edifício cujos acessos se dão por duas pontes, uma em cada uma das ruas, que passam por cima de um pátio rebaixado - um espaço ao mesmo tempo multiuso e acolhedor. A partir do entendimento da função da Casa de Cultura na rede de equipamentos culturais públicos, foi encarado como problema central a criação de espaços crus, passíveis de apropriação pelo usuário de acordo com suas necessidades. Portanto, o programa se desenvolve em pavimentos tipos, englobando 3 blocos: circulação, área servidora (banheiros, depósitos e salas de monitores) e área servida (os salões multiuso, cujo layout se adequa à função pretendida).
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Otavio Melo O Território como Projeto
A localização do projeto, na área central da cidade, entre a Praça Roosevelt e o Parque Augusta fazem da Rua Gravataí um eixo de ligação entre os dois espaços livres. Tomando a rua em toda sua extensão como território de projeto, o trabalho pretende constituir um corredor cultural dividindo o programa da casa de cultura em 3 edifícios, a partir dos usos gerais propostos: Difusão e consumo cultural (exposições, teatro, cinema), produção cultural (oficinas e trabalhos manuais) e ensino/aprendizado (biblioteca e salas de aula). O projeto também se relaciona com o edifício de habitação proposto por João Bittar Fiammenghi na AUP158 através da conexão entre os térreos e usos comuns no edifício das oficinas.
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Paula Dal Maso Coelho Habitação na Gravataí
O projeto, localizado na esquina maior da rua Gravataí com a rua Caio Prado é de uso misto, com comércio no térreo e unidades habitacionais nos outros pavimentos. Procurou-se delinear o desenho da quadra e da esquina, chegando a uma solução projetual com implantação em “L”, estabelecendo relações equilibradas entre o novo volume e as edificações existentes. Buscou-se também o adensamento do lote, com o projeto de 61 novas unidades habitacionais e um coeficiente de aproveitamento 4.
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Paulo Eduardo Paiva Casa de Cultura na Gravataí
O projeto da casa de cultura na Rua Gravataí pretende, por meio de linhas simples, unir todas as etapas do processo criativo: a pesquisa, a produção e a exposição. Faz isso por meio de espaços destinados a pesquisa por meio de livros e computadores ( biblioteca ); a produção e ensino ( oficinas );e exposição dos trabalhos concluídos( salas de exposição e teatro experimental ). A idéia de unir todas as atividades do processo criativo em um mesmo espaço proporciona ao cidadão uma nova possibilidade de contato com a cidade, em que ele e seu trabalho tornam-se protagonistas. Esse projeto utiliza a Rua Gravataí como ligação entre os edifícios; térreos e subsolo livres; e uma marquise de ligação entre os grandes volumes; como partido, buscando criar um espaço abraçado e contemplado pela cidade.
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Pedro Felix Casa de Cultura Gravataí
A concepção do projeto se baseou em criar dois edifícios compostos de volumes que possibilitassem a leitura clara de seus espaços. Sobrepôs-se então, a cada conjunto, um bloco cujo uso seja único. Assim, situa-se respectivamente: no andar da praça, ou subsolo, a área expositiva livre e café; no térreo recepção, bilheteria e loja; na marquise, restaurante; no bloco de cobogó, a área expositiva; no bloco de vidro a biblioteca; e por fim o auditório e o foyer de recepção. O segundo edifício é ocupado por 3 andares para oficinas e mais 2 andares administrativos. Enquanto a Fachada se mantêm independente, toda a estrutura se apoia nas empenas cegas e no conjunto de pilares que permitem os blocos se separarem, permitindo também o corte na lateral do edifício, que tornaria esses blocos independentes explícitos aos visitantes.
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Renata Thina Yoshida Habitação e Comércio Gravataí
O projeto está localizado na Rua Gravataí no centro de São Paulo e conta com 2232 m² de área construída em um terreno de aproximadamente 552 m². Possui no total 3 unidades comerciais e 24 apartamentos de 1 a 3 dormitórios. Inserido nos limites da Operação Urbana Centro e com amplo acesso ao transporte publico e áreas de lazer, o projeto de interesse social visa restabelecer o diálogo “moradia – centro” usufruindo de todas suas potencialidades. Em sua concepção, adotou-se a modularidade de 6m x 4m, além do coeficiente de aproveitamento 4 e taxa de ocupação de 0,6. Além disso, as unidades comerciais localizadas no térreo possuem o acesso por uma das laterais do edifício, sendo a outra direcionada para moradores com acesso privado. O vão de 5,5m na parte frontal do edifício permite diferentes usos sem diferenciação do espaço público e privado.
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Ricardo Iannuzzi Esquina Gravataí
O partido do projeto norteou a ativação da esquina da rua Caio Prado com a rua Gravataí através a alocação de um comércio no encontro das vias. O bar, café ou restaurante está elevado a um metro do nível da calçada, resguardando os clientes e abrindo luz à biblioteca, instalada no subsolo. Esta pode ser acessada tanto pelo café, através de uma escada helicoidal que conecta a os níveis públicos do projeto, ou pela praça em desnível aos fundos do terreno. A praça também faz passagem ao miolo da quadra, que passa a ser transponível através do pátio do Instituto Clemente Ferreira, possibilitando ao passante chegar à praça Roosevelt e à rua da Consolação. Sobre o programa público, uma torre habitacional de quinze andares abriga 60 famílias.
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Sariana Fernández Monsalve Viviendas
Para o projeto de habitação social foram escolhidos os terrenos do teatro e das casinhas, tratando-os como um terreno somente. Projetaram-se dois prédios, cada um tendo três apartamentos por andar – um de 1 quarto, um de 2 quartos e outro de 3 quartos. Os prédios têm sua fachada principal orientada para o Norte, garantindo boa insolação para essa fachada. Devido ao movimento do sol, as fachadas Oeste e Sul também têm uma boa iluminação natural. Para aproveitar isto, as janelas do projeto têm a maior folha de vidro possível, assim permitindo a entrada da luz solar nos apartamentos. No térreo, cada um dos prédios tem 3 locais comerciais que podem ser utilizados tanto para lojas quanto para restaurantes (existe a possibilidade do uso de área externa). No subsolo, projetou-se o bicicletario.
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Sofia Lopes Habitação na Gravataí
Localizado na região central de São Paulo, o conjunto integra funções de residência, comércio, alimentação e lazer, enfatizando o uso heterogênio do solo, e propondo um redesenho urbano do local através da preocupação com a escala do pedestre. O sistema empregado para a proposta formal e conceitual do edifício foi o concreto armado na tradicional junção pilar e viga, com balanços de 2 metros que atribuem leveza ao volume. O que orientou o projeto foi a intenção de estimular o convívio entre as pessoas não apenas no nível térreo, mas no edifício como um todo por intermédio de varandas compartilhadas. O pavimento de lazer da torre proporciona ao morador e ao visitante vista convidativa do entorno, de forma a completar a concepção do projeto como elemento catalisador de uma vivência integrada.
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Sophie Bastianutti Habitação e Creche na Gravataí
O projeto foi desenvolvido no terreno do antigo teatro. Juntando comércios, habitações e uma creche, o edifício tenta criar uma ligação entre os usuários através de espaços comuns públicos e privados. O prédio maior abriga uma biblioteca para as crianças e um espaço de coworking além das habitações. O segundo prédio acolhe a creche para vinte crianças. No quarto piso, dois jardins unem os prédios e estimulam a convivência entre moradores e crianças. Apartamentos dúplex de três quartos e apartamentos de um quarto só foram privilegiados a fim de incentivar uma diversidade de moradores. Com luz dos dois lados, as unidades beneficiam de uma boa iluminação natural. O primeiro andar dos apartamentos dúplex é dedicado aos espaços comuns e no andar superior, encontra-se os quartos e os banhos.
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Suzanne Akabane Habitação na Gravataí
Devido as dificuldades do entorno do terreno, a implantação foi feita dividindo a área em 5 “tiras” de maneira simétrica. Em seguida, visando melhorar da ventilação dos andares superiores, essas “tiras” foram movimentadas a fim de aumentar a superfície livre do conjunto todo. O edifício apresenta 8 pavimentos mais a cobertura, sendo a área comercial localizada nos dois primeiros pavimentos e os outros 6 destinados a habitações de 60 e 75 m2 . Na parte comercial, existem 4 lojas, sendo cada “tira” uma unidade, e a área logo acima no 2º andar, seu depósito. Já o pavimento tipo também segue a mesma divisão, apresentando 4 habitações por andar e sua circulação vertical na área central. A área da cobertura será utilizada para lazer e possível instalação de um jardim ou horta de consumo próprio.
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Vanessa Balbino Habitação na Gravataí
O conjunto arquitetônico é composto por dois edifícios de habitação, galeria de comércio e áreas livres constituídos a partir do vazio central. No térreo verifica-se a relação com a cidade por meio da incorporação dos caminhos das pessoas no desenho urbano, da criação do pátio central aberto e da transição amigável entre público e privado – utiliza-se vegetação e desníveis em vez de muros. Além disso, também consideraram-se gabaritos diferentes, conforme a morfologia urbana envolta, mas próximos ao vizinhos. As unidades habitacionais foram pensadas juntamente com o desenho do bloco que se justifica pelo desenho do pátio interno e pelas aberturas das unidades bem como do prédio em si. A circulação horizontal dos edifícios voltam-se para o pátio interno estabelecendo contínua relação entre os moradores e das unidades, no lado oposto, para a rua.
o projeto da habitação entrevista com Álvaro Puntoni
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Na tarde do dia quatro de novembro, o Programa da Habitação foi apenas o mote da conversa dos monitores com o professor Alvaro Puntoni. Expomos, a seguir, alguns temas que pautaram a reflexão. Atualmente, estamos perdendo o controle As cidades em que vivemos estão realmente em uma situação muito complicada, como na ideia do Antonin Artaud [poeta e dramaturgo francês, atuante na primeira metade do século XX]: estamos perdendo totalmente o controle, ou já o perdemos. O arquiteto pouco participa. A nossa escola ainda se dá ao luxo de ser uma escola generalista que carrega uma ideia dos anos sessenta, de que o arquiteto é um artista, ao invés de formar profissionais com uma determinada competência para enfrentar tecnicamente as questões da atualidade: como construir edifícios e espaços públicos. Claro, isso não é uma decisão individual, pessoal. Tem um aspecto político, uma decisão anterior, que está relacionada com a participação de todos como cidadãos. Indivíduo e coletivo na escola Há pouco mais de uma década, temos tentado, na FAU, organizar minimamente uma estrutura cristalina para todos – que eu sei que é difícil de ver, porque quando se está submerso em águas turvas, pouco se vê. A partir do momento em que os professores que formaram a minha geração começaram a sair da escola, a se aposentarem, essa estrutura foi se consolidando. A ideia dos estúdios, a ideia das concentrações de tema: infraestrutura, habitação, equipamentos, a ideia das transições, modulações, do programa, da construção do lugar; a preocupação de relacionar isso com a cidade. Entretanto, o que constato é que aparentemente isso perde a força, fica esmaecido, dentro da estrutura maior e mais ampla da FAU, porque é tudo muito fragmentado, atomizado. Os departamentos forçam essa atomização dos processos de ensino. O último mentor que a FAU teve foi o Artigas. Nós não temos estúdio gravataí - volume II
uma coordenação. Então a coordenação, fazendo uma leitura política, talvez pudesse aparecer de um coletivo, não mais de uma pessoa, talvez não exista mais uma pessoa. Esse coletivo seria capaz de conduzir um processo de discussão e transformação da estrutura de ensino, que considero defasada. Estudar a cidade Quando se estuda a cidade, tem-se que estudar o conjunto edificado, as construções que a conformam, os objetos que estão nela e que a fazem ser ou não ser cidade: a infraestrutura que conforma os sistemas urbanos, toda a questão sociológica, filosófica, o por que estamos aqui. De que forma a cultura humana há cem mil, dez mil anos, é uma construção de uma resistência à natureza, para que seja possível a nossa sobrevivência. A questão ecológica pautada hoje não tem o sentido de preservar algo para ser pictórico ou companheiro na existência, mas para ser a razão da existência. Enfrentar e projetar a cidade O que é ser arquiteto hoje? Como enfrentar a cidade? Uma das formas de se enfrentar essas questões, na nossa disciplina, é pensar o projeto da construção na estrutura universitária: o estudante está apto a empreender um processo de pesquisa? Paulo Mendes da Rocha é muito claro: fazer arquitetura é convocar os saberes necessários; e a FAU é uma estrutura que, teoricamente, oferece esses saberes: filosofia (a questão da história) e técnica. Fazendo uso desse conhecimento, o arquiteto tem que saber pesquisar e efetuar sínteses. Pensando na Rua Gravataí: como se faz um projeto, como lidar com essa rua? A rua precisaria ser vista como parte de uma estrutura mais ampla. A grande maioria dos alunos está com muita dificuldade de enfrentar aquela área. O Milton (Braga) fez uma observação pertinente no dia do seminário intermediário: grande parte, a maioria dos projetos que vimos, estavam sempre pensando da figura para dentro, do quadra-
Representaram a publicação Estúdio Gravataí os monitores de graduação e de pós, Paola Ornaghi e Guilherme Pianca.
do para dentro e não pensando do quadrado para fora, para além dos limites do terreno. Pensar a cidade como um elemento determinante é muito importante, quase conformador da arquitetura. Há uma tendência de reprodução do que está aí, pouca pesquisa, pouca especulação, pouco interesse em navegar em um mar desconhecido. “Não sei exatamente como é, mas eu vou tentar saber, mas aí nesse momento, que eu não sei como é, posso me livrar das amarras da realidade e fazer um projeto mais livre.” Isso é um equívoco. O projeto entendido como pesquisa e uma atitude crítica diante da realidade
profissão que é bonita por isso. Por isso, é muito importante que ao projetar, haja a capacidade de se imaginar naquele lugar. O Projeto da Habitação Duas coisas eu sempre reclamo com os estudantes e pouco observo como resposta. Uma delas é, considerando o projeto uma forma de produção de conhecimento, de pesquisa, questionar e discutir as formas de viver. Não reproduzir de forma automática, quase mimética, a forma que vivemos hoje. Esta é a única forma de viver? Sempre viveremos dessa forma? As estruturas de habitabilidade de um espaço são sempre uma cozinha, um banheiro? É sempre a janela, o sol? Será que é apenas isso? Será que não existem outras formas? Nós não nos permitimos especular sobre outras formas, outras relações internas, ou até mesmo não nos permitimos explodir o programa da casa.
Uma coisa que sempre tenho comentado com os alunos é que o grande interesse do projeto dentro de uma escola de arquitetura vem do fato de termos muita liberdade, o que fomenta e garante a produção do conhecimento. A disciplina impõe alguns prazos, mas não temos um cliente, um orçamento, normas e leis que devam ser necessariamente seguidas. O projeto deveria ser entendido como uma pesquisa que ao final gera conhecimento, questionamentos em relação a elementos que enfrentamos no cotidiano e à própria realidade. O projeto sempre tem esse caráter de ser uma atitude crítica diante da realidade. Artigas demonstra essa preocupação arquitetura quando conclamava, no Caminhos da Arquitetura: o que fazer? Enquanto não fosse possível – é bem panfletário – uma revolução, até lá, ele propõe uma atitude crítica face à realidade. Acho que é um pouco isso.
É muito coerente quando o Paulo [Mendes da Rocha] fala que é muito difícil, hoje, defender o projeto da residência unifamiliar, por mais que a gente faça casas para clientes e às vezes até a própria casa. Mas o Paulo tem total razão. Em uma cidade como São Paulo, não tem o menor sentido você pensar em diluir a densidade. Quando se fazem cálculos muito simples (São Paulo tem mil quilômetros de solo urbanizado; 10 milhões de habitantes; 100 habitantes por hectare), é muito baixa a densidade. Se quiséssemos ter uma densidade de, no mínimo, o dobro, teríamos que desfazer cinquenta por cento da cidade.
Deve-se insistir nessa dose de liberdade, sempre ancorada pela vela do conhecimento, da pesquisa, que tem que estar aberta em cada estudante, deflagrada, estendida. Ao projetar, independente do que seja, devemos nos imaginar no espaço como usuário e fruidor daquilo. Ser arquiteto é fundamentalmente pensar como o outro, isso é o bonito da profissão. Para projetar uma escola, você tem que ser professor, aluno, bedel, funcionário, pai, criança, adulto. Para projetar uma casa, você é fundamentalmente outra família na forma de vida dela. É uma
Ao mesmo tempo, São Paulo tem, desses 1000 quilômetros quadrados, trinta quilômetros quadrados de área verde, três por cento de parques, duzentos quilômetros quadrados de ruas e áreas de solo impermeável, concreto asfáltico, viadutos e oito milhões de carros, cento e setenta e cinco milhões de metros quadrados para estacionar carros! Se continuarmos a falar em números, poderíamos tentar imaginar como seria se a cidade tivesse cinquenta por cento de vazios. Para começar essa obra (que nunca será feita, mas que seria muito boa),
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demoliríamos o bairro dos Jardins inteiro, para juntar com o Parque Ibirapuera. Teríamos imediatamente um parque metropolitano que ligaria o Ibirapuera à Paulista, só preservaria o museu da escultura. É muito bonito, esse projeto de demolição. Devaneios à parte, nós abstraímos a ideia de concentrar. Então o Paulo fala: é impossível pensar na casa residencial, tem que se pensar no tipo, na casa típica, na casa que está uma sobre a outra. Mas quando a gente pensa nisso, a pergunta é: porque temos que reproduzir o programa um sobre o outro? A cozinha, lavanderia... Existe a virtude da verticalização e da circulação vertical de repensar essas estruturas. Repensar o programa da habitação poderia ser muito bonito como pesquisa e a escola é o lugar para se ter essa imaginação. Perde-se uma chance muito grande de pensar isso, ter a liberdade de imaginar, isso que eu sempre cobro dos alunos. Mas muito poucos vão por aí. A maioria tende a reproduzir. A habitação é um projeto do percurso. Como se conforma um espaço que vai construindo uma transição entre a cidade e a unidade (portanto, da sociedade ao individuo), entre o sol e a sombra, entre o ruído e a música? Como isso é feito da maneira mais gentil, bonita, prazerosa? Trabalho em grupo, trabalho individual e o trabalho do arquiteto Quando começamos a tentar reorganizar as disciplinas, houve um grande embate, porque, até então, os trabalhos eram individuais. É importante? Sim, é importante esse mergulho individual. Eu acho que o coletivo só tem sentido quando o indivíduo sabe se identificar, se entender como indivíduo dentro de um processo coletivo que, no meu entendimento é a única maneira possível de condução. Enfim, houve um embate que transformou o trabalho individual em totalmente coletivo, restando o TFG como o momento do individuo. E agora estamos voltando, já é o quarto ano que o trabalho individual é considerado, numa espécie de estrutura: primeiro semestre coletivo e segundo semestre individual. estúdio gravataí - volume II
Só que, se pensamos na profissão, hoje ela é só coletiva. Dificilmente destacam-se figuras da estirpe do Paulo, Artigas, Niemeyer, que claro, sempre trabalharam com equipes, sempre consideraram as equipes (talvez o Paulo mais do que os demais citados), no ponto de vista de reconhecer a participação dos outros arquitetos, de compartilhar. Então, é uma contradição o que temos feito na FAU ao reinstituir o trabalho individual, porque hoje a produção é eminentemente coletiva e multidisciplinar. O arquiteto não vai resolver tudo. Eu acho que a nossa profissão nos dá uma condição de podermos ser, em alguns momentos, coordenadores de processos coletivos. Às vezes não, às vezes fazemos parte de um coletivo maior, subordinado a outra coordenação mais importante. Então, me parece que hoje a arquitetura é fundamentalmente uma ação coletiva. O trabalho individual na escola é um balizador para saber se o estudante está de alguma forma se capacitando. Mas permanece essa dúvida: o Brasil tem algo em torno de trezentos e sessenta escolas de arquitetura – agora mesmo, nós estamos falando e já está abrindo mais uma. Temos muitas escolas de arquitetura e isso corresponde a uma política de Estado, de ampliar o número de jovens inseridos em universidade. O governo regula de outra forma, realizando um controle posterior. Ou seja, gera o número e depois testa se está certo. Ao mesmo tempo, vemos o Canadá, com sessenta milhões de habitantes e apenas dez escolas de arquitetura. Na Alemanha, talvez, não passam de quinze escolas. Parece-me, portanto, que a desorganização profissional leva necessariamente a uma desqualificação dos processos de ensino. Nos países centrais existe uma organização profissional mais rigorosa, em que a pessoa tem que fazer, agora pelo tratado de Bologna, o bacharelado, o master e em muitos países é requerida, ainda, a prática profissional. Só a partir desse momento se pode pleitear a inscrição nas associações profissionais e assinar projetos. Isso necessariamente induz a um ensino mais consistente. Aqui, é muito comum que as escolas “melhor consideradas” sejam habitadas por uma elite que não precisa de nada disso para fazer a vida. Infelizmente, nós vivemos em uma situação hoje
em que o ensino, a educação - que é talvez a única forma de transformação do ser humano, de qualificação - é pouco valorizada. A arquitetura não escapa desse cenário. É um problema que vem lá de trás, da formação da criança, da noção de responsabilidade e que culmina nessa falta de rigor pessoal diante dos processos coletivos, sociais. O individuo está muito acima de tudo. A pergunta talvez pudesse ser: qual é o procedimento que deveríamos adotar agora? Desanimar e dissolver-se diante desse quadro? Ou, muito pelo contrário, enfrentarmos com força o desafio de capacitar cada vez mais, tendo certeza de que, não como profissonais, mas como sociedade, temos a capacidade de reverter esse quadro? Crise e organização profissional A crise é um momento de se reinventar. É espantoso ver os colegas da Espanha se lamentarem. Eles viveram um momento auspicioso, a união européia, um massivo investimento antes da crise. Lá se enxerga tudo construído. Vêem-se a infraestrutura, a mobilidade, os equipamentos culturais. Eles construíram. Nós sempre vivemos em crise e nunca vimos bonança. Quando vivemos o mínimo de organização e possibilidade econômica, nós arquitetos de certa forma não tivemos (porque não temos) força política como categoria para estarmos vinculados a esse processo de uma forma mais interessante. Quem que se deu bem? Não foi o coletivo. Não teve um fortalecimento dessas associações profissionais, não conseguimos dialogar com o governo, não conseguimos pleitear junto ao governo uma mínima forma de organização. Para mim, o mais trágico foi o Minha Casa Minha Vida que, de certa maneira, reproduziu a pior política urbana possível, que é ampliação do tecido urbano de forma predatória desprovida de infraestrutura. Tudo bem, numericamente atingiu-se um dado interessante. Mas fez-se cidade? Não se fez cidade. Ah, se pudéssemos olhar para dentro das cidades e fazer um programa consistente de habitação... Finalmente, diria que o mínimo que deveria fazer
uma pessoa que se formou em escola pública era trabalhar o mesmo tempo que estudou para o governo, ganhando um salário digno, etc., mas retribuindo o que recebeu de alguma forma para a sociedade. Onde? Onde o governo te mandar.
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Vanessa Mattara Habitação na Gravataí
O terreno escolhido para a implantação da habitação é o do antigo teatro. A planta é em forma de U, na qual a edificação circunda um pátio interno, sendo este pensado como um espaço de encontro tanto de moradores quanto de transeuntes, uma vez que o térreo é voltado para uso comercial. O primeiro pavimento é destinado ao uso comum dos habitantes, com espaços de lazer, sendo estes conectados por uma passarela. Além de interligar os dois lados do edifício, ela permite a vista tanto para a rua para o pátio. Para a determinação do gabarito, o projeto buscou mantê-lo não muito elevado, de modo a não prejudicar a ventilação e entrada de luz tanto no pátio quanto nas unidades. O edifício é composto por 2 unidades habitacionais, com 1 e 2 dormitórios. Os apartamentos possuem 65m² e 88m², respectivamente.
estúdio gravataí - volume II
Yollanda Arruda Casa Gravataí
O projeto Casa Gravataí é compreendido por três edifícios (térreo+7pavimentos+laje superior social) mais sobsolo; Partido pela manutenção do abrigo (que atende hoje vinte crianças vítimias de maus tratos e violência), foram destinados os pavimentos térreos dos três edificios mais sobsolo para adequação do novo programa, a fim de requalificar o espaço, além de possibilitar, na medida do possível, a interação das crianças com os moradores. Essa interação se inicia pelo jardim que permea do subsolo ao térreo e pode ser visto desde a Rua Gravataí, pelos pedestres que passeam pela calçada. Primeiro ao sétimo pavimento são destinadas à moradia, contando com dois edifícios de dois dormitórios (85m²) e um edificio de um dormitório (75m²), três plantas organizadas em espaços privado-cheio/ comum-vazio.
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Cinthya Marques Harmonia
O empenho para projetar uma habitação de interesse social associada a um abrigo para menores direcionava a escolha de um terreno extenso, uniu-se a isso a atração pela esquina como sendo um ponto de encontro, definindo assim a “esquina maior” como o terreno para o projeto. O programa organiza-se em dois blocos verticais conectados por uma biblioteca engastada nos edificios. A disposição é resultado da orientação solar e liberação da esquina para exploração da sua pracialidade. O prédio mais baixo, voltado para a gravataí concentra o programa do abrigo, já o prédio mais alto possui o traçado da HIS de maneira a anunciar o abrigo com tanta importância quanto o prédio de habitação. O diálogo é estabelecido pela biblioteca que no térreo gera uma marquise sombreada e no terraço tem seu uso voltado para ao abrigo como um pátio suspenso.
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ficha técnica
AUP0158 Prof. Dr. Álvaro Puntoni
AUP0162 Estúdio Gravataí volume II/V Prof. Dr. Alexandre Delijaicov Impressão: LPG FAU USP
Prof. Dr. Bruno Padovano
Prof. Dr. Angelo Bucci
Prof. Dr. Francisco Spadoni
Prof. Dr. Antonio Carlos Barossi
Prof. Dra. Helena Ayoub
Prof. Dr. Milton Braga
Prof. Dra. Marta Bogea
Prof. Dr. Rodrigo Queiroz
Prof. Dr. Oreste Bortolli
Andre Vitiello Bruna Bertucelli Bernat Pedro Paola Ornaghi
Número de páginas: 72 Papel capa: Reciclato 90g Papel miolo: sulfite 75 g Tiragem: 150
Estagiários PAE: Monitores de Graduação:
Tipologia: Helvética Neue
Carolina Oukawa Dalton Ruas
Formato: 31 x 22.5 cm Fotografias: Gal Oppido
Guilherme Pianca Monitores de Graduação: Juliana Stendard Mariana Caires Mariane Martins
A diagramação dos projetos foi realizada pelos monitores de Graduação e de Pós, a partir do material enviado pelos estudantes. O conteúdo das imagens e textos dos projetos é responsabilidade de seus autores. dezembro de 2015
índice remissivo
130
projetos: sala 808 Ana Carolina Batista 76
Letícia da Silva de Jesus 101
Ana Paula Manzo Beato 78
Luis Guilherme Alves 103
Ana Luiza Ceolin 77
Luciana Monteforte 102
Bárbara Leite 79
Maria Alice Peregrina 104
Beatriz Pallarés 83
Marina Wong 105
Caio Berlande 84
Natasha Arabuski 108
Catarina Cecchini 85
Natália Andrade 107
Cinthya Marques 127
Otavio Melo 109
Clara Werneck 80
Paula Dal Maso Coelho 110
Daniel Locatelli 81
Paulo Eduardo Paiva 111
Flávia Cintra Fonseca 82
Pedro Ricardo Felix 112
Flora Milanez 90
Renata Yoshida 113
Gustavo Borges Ramos 91
Ricardo Iannuzzi 114
Henrique Fontana Boeira da Silva 92
Sariana Monsalve 115
Isabel Samara de Vivo 93
Sofia Lopes 116
João Akira Okimura de Sousa 96
Sophie Bastianutti 117
Juliana Dalkimin 98
Suzanne Akabane 118
Juliana Sumiya 106
Vanessa Balbino 119
Laura Castañer 98
Vanessa Mattara 124
Leila Sayuri Kinzu 99
Yollandra Arruda 125
Letícia Chaves 100
estúdio gravataí - volume II
angelo bucci marta bogéa artur rozenstraten ana lanna césar shundi estudantes aup 158 e 162
publicação das disciplinas aup 158 e aup 162 fauusp 2015 estúdio gravataí - volume II