estúdio gravataí vol III/V

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Os projetos aqui apresentados foram desenvolvidos pelos estudantes e enviados para a publica巽達o durante o processo de conclus達o do semestre. A vers達o final dos trabalhos pode ser consultada em: www. equipamentospublicos.fau.usp. br/estudiogravatai2015


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organizadores:

andré vitiello bellizia carolina silva oukawa dalton bertini ruas guilherme pianca moreno juliana stendart mariana caires souto mariane alves martins paola trombetti ornaghi

são paulo fauusp dezembro de 2015


agradecimentos

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À Universidade de São Paulo e à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, pelos programas PAE e de monitoria de Graduação, sem os quais não teria sido possivel esta publicação. Somente o fortalecimento desses programas poderá expadir esse tipo de atividade extracurricular. Aos professores das disciplinas AUP0158 e AUP0162, pela colaboração e incentivo ao desenvolvimento desta publicação. Aos convidados do seminário intermediário, pela contribuição que trouxeram ao debate interno às disciplinas. Aos alunos, nos quais se fundamenta a finalidade de todo o trabalho. Aos monitores da disciplina Atelie Livre de 2015, por dividirem conosco a experiência que tiveram no primeiro semestre ao publicarem os trabalhos realizados naquela disciplina. Ao José Tadeu de Azevedo Maia e demais funcionários da seção técnica do LPG-FAUUSP, por viabilizarem a impressão destes volumes. À Lucila, bibliotecárias da FAUUSP, pela orientação na elaboração do ISBN.

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índice

o estúdio gravatai

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programas

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oficinas de representação

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monitoria da graduação

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projetos

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arquitetura como linguagem formal - entrevista: Rodrigo Queiroz

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projetos

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seminário intermediário

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projetos

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a rua inicial -Francisco Spadoni

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projetos

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arquitetura e cidade -entrevista: Bruno Roberto Padovano

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projetos

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ficha técnica

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índice remissivo -projetos: sala 809

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o estúdio gravataí Antonio Carlos Barossi

Duas disciplinas: monitoria e publicação Esta publicação, proposta e realizada como atividade de monitoria pelos estudantes da pós e da graduação da FAUUSP, com apoio do comitê editorial da escola, compreende os trabalhos realizados pelos estudantes para as disciplinas de Projeto de Edificações do Departamento de Projeto: AUP0158-Arquitetura: Projeto 2 (Habitação) e AUP0162-Arquitetura Projeto 4 (Equipamentos). O conjunto de obrigatórias O grupo de Disciplinas de Edificações tem quatro disciplinas obrigatórias no currículo do Curso de Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP. São disciplinas de dois dias, com 4h por dia e que trazem uma estrutura subjacente com ênfases específicas, constituindo três Estúdios de Projeto. ESTÚDIO 1, constituído pela disciplina AUP0156-Arquitetura Projeto 1 cujas ênfases são: Infraestrutura / Arquitetura do lugar / Transposições. ESTÚDIO 2, constituído pelas disciplinas AUP0158-Arquitetura Projeto 2 e AUP0160-Arquitetura Projeto 3 cujas ênfases são, respectivamente: Habitação / Arquitetura da construção / Modulações Espaciais e Habitação / Arquitetura da construção / Modulações Construtivas. ESTÚDIO 3, constituído pela disciplina AUP0162-Arquitetura Projeto 4 cujas ênfases são: Equipamentos públicos / Arquitetura do programa / Transições. Apesar de na estrutura “ideal” estarem posicionadas em sequência nos segundo e terceiro anos, nenhuma delas é pré-requisito, o que permite ao estudante cursá-las a qualquer tempo depois da primeira disciplina de projeto, AUP0608-Fundamentos de Projeto do primeiro semestre do curso. Ciclo de abordagem de diferentes condições urbanisticas Os quatro semestres necessários para cursar as disciplinas formam um ciclo de abordagem de diferentes situações urbanas em que se situam as

áreas de intervenção. Três na região metropolitana de São Paulo: centro histórico/área consolidada; centro expandido/em consolidação e regiões vulneráveis/consolidação precária; e um numa cidade de pequeno ou médio porte, fechando o ciclo que reinicia no semestre seguinte. Calendário e áreas de intervenção em comum, com orientação autônoma e alternância entre trabalhos de equipe e individual A cada semestre são oferecidas duas disciplinas nos mesmos dias (2ª e 3ª) e horário. No semestre ímpar o trabalho é em equipe e nos pares individual. A área de trabalho de ambas compreende o mesmo setor urbano com algumas alternativas de locais de intervenção para escolha dos estudantes. Embora cada disciplina tenha abordagens específicas, além da área de trabalho, o calendário de atividades é comum, permitindo compartilhar aulas e palestras; criar eventos marcantes nos dias de exposição; otimizar a confecção das bases e seus desdobramentos na produção de novos dados pelos estudantes, propiciando assim uma maior sinergia entre os estudantes das duas disciplinas. A monitoria criou uma base de dados comum para compartilhamento dos trabalhos e uma página Facebook. 2º semestre de 2015 Neste semestre, descontados os feriados, tivemos 32 dias de atividades didáticas. Oito com atividades comuns: apresentação do curso; visita à área; palestra do secretário de Cultura e pesquisador de habitação prof. Dr. Nabil Bonduki; uma exposição intermediária dos trabalhos; uma exposição final; cinco seminários simultâneos de discussão e avaliação dos trabalhos no mesmo período da exposição com um professor de cada disciplina e convidados (outros departamentos e externos); e dois dias (uma semana) de participação nas bancas de TFG. Nos outros quatorze dias, cada professor coordenou 28 reuniões, duas por dia, de orientação e discussão dos trabalhos. Com duas horas de duração e abertas à todos os estudantes, cada reunião previa a apresentação de 5 projetos em 20 minutos cada e 50 min de discussão, de forma que o estudante


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pudesse apresentar seu trabalho em 7 etapas de desenvolvimento (Estudos iniciais, Partido, Estudo Preliminar, Estudo Preliminar Revisado, Anteprojeto, Anteprojeto 2, Projeto Final), uma por quinzena, além das finalizações com prancha acabada e modelo volumétrico (uma intermediária e uma final). Rua Gravataí, Moradia e Cultura numa relação de vizinhança. A área de intervenção situa-se em um trecho urbano de aproximadamente 5 ha que compreende a rua Gravataí na região central de São Paulo. Foram indicadas 5 áreas de intervenção a escolher, todas voltadas para a rua Gravataí, que na realidade é o que constitui o objeto primordial de interesse do projeto. O interesse na rua Gravataí, além de estar na região do centro histórico de acordo com o ciclo de abordagem dos quatro semestres, deve-se ao fato de constituir um local que, apesar de totalmente inserido numa região de caráter predominantemente metropolitano, tanto do ponto de vista da mobilidade, como dos usos, ainda preserva uma bonita relação de vizinhança dos seus moradores, que insistem em permanecer ali. Essa condição é particularmente adequada aos programas dos projetos das disciplinas, na perspectiva da caracterização espacial da rua e afirmação dos usos que correspondem às relações de vizinhança. Tanto em relação à Habitação Coletiva a ser desenvolvida na AUP0158, pelos motivos óbvios, como em relação à Casa de Cultura desenvolvida na AUP0162, que visa contemplar mais as atividades artísticas e culturais da comunidade do que realizar eventos culturais em geral. Além dos edifícios residenciais, vale destacar a existência na rua de um teatro desativado originalmente pertencente à escola Caetano de Campos, uma creche, um abrigo infantil e uma escola pública infantil. Para alguns trabalhos, foi solicitado ao estudante escolher para acrescentar na implantação, um projeto da outra disciplina, em outro terreno, que estúdio gravataí - volume III

melhor compusesse com o seu na obtenção de uma espacialidade da rua como um todo. A Habitação e a Casa de Cultura Na AUP0158 foi proposto o projeto de um edifício típico urbano de Habitação com Lojas e Serviços no pavimento térreo podendo conter, além das áreas comerciais de vizinhança, a creche e/ou o alojamento infantil substituindo os existentes. O dimensionamento do programa a partir da definição da quantidade e tipo de unidades residenciais e comerciais, e da inclusão ou não dos equipamentos, constituiu decisão de projeto em função da área escolhida e dos parâmetros urbanísticos de São Paulo indicados pela disciplina. Na AUP0162, foi proposto um programa definido: uma Casa de Cultura voltada prioritariamente para atividades da vizinhança, com quatro ambientes principais de 270m2 cada: Apresentações (eventos); Exposições (mostras); Leitura (biblioteca) e Oficinas (produção). O programa resulta em 2.600 m2 de construção, acrescentadas as áreas complementares: acessos, administração, depósitos, manutenção, pessoal, sanitários, infraestrutura e circulação, que para esse tipo de uso compreende os espaços de estar e encontro a serem resolvidos conforme cada projeto. Aqui os parâmetros urbanísticos (Taxa de ocupação, coeficiente de aproveitamento, recuos, permeabilidade, etc.) foram indicados como referência de conhecimento obrigatório, mas de atendimento livre a critério de cada projeto. Parâmetros gerais como segurança e acessibilidade foram indicados para serem contemplados.


Números 002 disciplinas 011 professores 003 monitores PAE 007 monitores da graduação 388 alunos 035 alunos por professor 128 horas de aula (32 dias) 008 dias de atividades comuns 32 horas de aulas, visitas, palestras, seminários, etc. 014 dias de reuniões de orientação cada professor 1.120 horas de reuniões com um professor nas duas disciplinas 002 reuniões por dia, cada professor 002 horas cada reunião de orientação 010 alunos em média por reunião de orientação 028 reuniões de duas horas por professor 280 reuniões de duas horas com 1 professor nas duas disciplinas 005 apresentações de trabalho por reunião 010 apresentações de trabalhos por dia de orientação 007 etapas de desenvolvimento 007 apresentações do trabalho pelo aluno em reuniões 002 exposições gerais dos trabalhos 005 seminários (simultâneos) com alunos e professores das duas disciplinas mais convidados 012 convidados de outros departamentos para os seminário 006 convidados externos para os seminários 035 alunos tutorados e avaliados por cada professor 002 finalizações de projeto 200 projetos publicados


programas

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Programa AUP0158: habitação e equipamento

Parâmetros de projeto: CA = de 2,0 a 4,0; TO = 0,7

Proposta: projeto de um edifício típico urbano de habitação com lojas/serviços no pavimento térreo em na área central da cidade.

área permeável: 15% da área do lote não há limite de gabarito unidades habitacionais devem atender três tipologias: unidade de 1 quarto - 68 m2 unidade de 2 quartos - 85 m2 unidade de 3 quartos - 102 m2 5% das unidades devem considerar acessibilidade universal em todos os cômodos pé direito mínimo 2,50 m em ambientes de permanência prolongada e 2,30 m em ambientes de permanência transitória unidades comerciais área mínima de 50 m2 que engloba dois sanitários acessíveis e uma pequena copa equipamento social é desejável que o edifício habitacional comporte uma creche municipal (800 m2) ou um abrigo para menores (20 moradores) em seu embasamento. as áreas de estudo abrigam atualmente esses equipamentos programas complementares áreas técnicas do edifício: hidráulica, eletricidade, gás, depósitos comuns (manutenção), depósito de lixo (orgânico, reciclável e escombros) e serviços comuns

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Programa AUP 162: equipamento cultural

Parâmetros de projeto: CA = 4; TO = 0,5

Proposta: edifício deequipamentos públicos municipais de cultura (biblioteca, teatro, museu e casa decultura) na Rua Gravataí.

gabarito 8 pavimentos áreaconstruída total 2529 m2 Relação de áreas setor de acesso público - área total 2178 m2 praça de entrada e marquise 445 m2 saguão de entrada 270 m2 loja e cafeteria 36 m2 sala/balcão de informações 18 m2 salão de exposições/museu 270 m2 salão de apresentações/teatro 270 m2 salão de leitura/biblioteca 270 m2 salão de oficinas 270 m2 (subdividido em 6 salas de 36 m2) sanitários 144 m2 circulações 324 m2 terraço descoberto 270 m2 terraço coberto 90 m2 setor administrativo - área total 220,5 m2 secretaria 18 m2 diretoria 18 m2 sala de reunião 36 m2 coordenação - 72 m2 (4 salas de 18 m2) depósitos 45 m2 (5 depósitos de 9 m2) copa e despensa 13,5 m2 sanitários 18 m2 setor de serviços manutenção - área total 130,5 m2 setor de máquinas - área total total 108 m2


oficinas de representação Carolina Oukawa Dalton Ruas Guilherme Pianca

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Dentro da ampla gama de assuntos abordados nas disciplinas obrigatórias de projeto arquitetônico, a representação acaba sendo um item anexo, que se converte muitas vezes em obstáculo à compreensão e ao aprofundamento dos aspectos do projeto propriamente dito. Para contribuir com a comunicação entre aluno e professor nas orientações, e com o intuito de tornar mais fluida aquela “comunicação interna” (do estudante-arquiteto consigo mesmo ao longo do processo de projeto), foram propostas oficinas de representação, ministradas pelos estagiários do Programa de Aperfeiçoamento ao Ensino da Reitoria (PAE). Na prática, as oficinas configuraram-se como encontros semanais de estudantes matriculados nas disciplinas com estagiários PAE e monitores de Graduação, ao longo do primeiro bimestre, no próprio estúdio. O conteúdo das oficinas foi organizado em três módulos, em torno dos seguintes assuntos: croquis, maquete e representação gráfica para apresentação de projetos. A sequência dos módulos foi definida a partir de uma possível relação entre distintos momentos do projeto e diferentes modos de representar, conforme esboçado brevemente a seguir:

apresentação parcial | final Assunto abordado mais especificamente no módulo III das oficinas e, em partes, no módulo II. No contexto das disciplinas de projeto, podem ser entendidos como momentos de apresentação desde a orientação com os professores aos seminários e entregas intermediários e finais. No contexto profissional, compreende todas as sínteses anteriores ao projeto executivo. A apresentação requer representações mais bem acabadas, mais precisas, elaboradas com atenção a normas técnicas. execução Esta etapa requer representações voltadas à construção, que expressem dimensões e detalhamento necessário à execução da obra, considerando a compatibilização entre projeto de arquitetura e projetos complementares. No curso de arquitetura, constitui uma etapa à qual não se costuma chegar. análise | estudo Utilizam-se representações num contexto de pós-produção da obra, com intuito de aproximação e leitura.

fases de projeto | representações de arquitetura levantamento Momento anterior e concomitante ao processo de projeto; compreende levantamento planialtimétrico, registro fotográfico e observação (também por meio de desenhos e modelos) de características do lugar da intervenção. concepção | verificação Princípio e desenvolvimento do projeto. Requer recursos de representação compatíveis com a flexibilidade e fluidez características da etapa inicial de proposições. Algumas técnicas de representação correspondentes a esta etapa foram discutidas nos módulos I (croquis) e II (maquetes). estúdio gravataí - volume III

O conteúdo apresentado acima sugere que a representação em arquitetura não deve ser considerada como algo absoluto, direcionado a um único propósito. É necessário que as técnicas expressivas estejam de acordo com os objetivos intrínsecos de cada etapa do projeto. módulo I – croquis O fato de uma representação não abarcar, simultaneamente, todas as etapas e informações do projeto de arquitetura liberta sobremaneira as possibilidades do desenho. Os croquis são instrumentos para que se cumpram os objetivos do projeto na etapa de concepção e verificação. São desenhos rápidos, em geral à mão livre, sempre


figura 1: Croqui de Artigas durante elaboração do projeto do edifício da FAUUSP. O aspecto final demonstra que o desenho de concepção e verificação não é um fim em si mesmo, mas instrumento à busca de soluções de projeto. Uma evidência disso seria o fato de o edifício desenhado não apresentar semelhança com o que veio a ser o edifício da FAU.

que possível em escala ou proporcionados. Podem ser feitos sobre uma base cartográfica coletada na fase de levantamento, eventualmente apontando a necessidade de coleta de novos dados, já que as etapas do processo de projeto não são estanques. Em aparência, quanto mais próximo do início do processo, menos definido e acabado é o aspecto desses esboços. O recurso da sobreposição (aproveitando a transparência do papel) substitui o uso excessivo da borracha, o que auxilia o fluxo das ideias na verificação de cada proposição. É fundamental compreender que o croqui não deve ser visto como “bonito” ou “feio”. A beleza desse tipo de desenho, se há, reside na função que desempenha ao servir de veículo para o pensamento a respeito do próprio projeto: o croqui torna visíveis as proposições inicialmente imperfeitas, que podem desse modo ser verificadas e desenvolvidas em sucessivos novos desenhos. Gradualmente, amplia-se a escala, para aprofundar a elaboração de detalhes que surgem conforme o todo vai se resolvendo. Por se tratar de uma representação processual, dificilmente são encontrados croquis de concepção e verificação de fato. É comum que se use o termo para designar um desenho à mão livre genérico, uma mera ilustração de arquitetura; ou, quem sabe, um desenho que sintetiza uma obra em linhas gerais, feito após o final do processo, quando o projeto ou até mesmo a obra está concluída. Um dos poucos exemplos de publicação de croquis de processo é o Caderno dos riscos originais: projeto do edifício da FAUUSP na Cidade Universitária (figura 1). É importante que os jovens estudantes de arquitetura tenham consciência das particularidades do desenho de concepção e verificação. Primeiro, para desenvolverem a habilidade de “pensar com a ponta do lápis”, adquirindo a flexibilidade e a fluidez próprias do início do processo de projeto. Segundo, para não se tornarem reféns de modos de representação paralisantes, ao esperarem muito mais da aparência final do desenho do que dos significados nele contidos.

módulo II – maquetes Ambicionou-se neste módulo o desafio de desmistificar “crenças” enraizadas quanto à confecção de modelos tridimensionais físicos de arquitetura: A) A confecção de maquetes é identificada com o final do processo de projeto. B) Mesmo quando se admite a maquete de estudo na elaboração do projeto, sua finalidade não é clara, assim como seu desenvolvimento em paralelo aos desenhos bidimensionais. Como resultado, os modelos “de estudo” são apresentados muitas vezes no final, e constituem-se como uma extrusão das escolhas realizadas em planta, em uma mera ilustração. C) Fazer um modelo é muito trabalhoso, uma atividade “braçal” que consome mais tempo do que a elaboração “intelectual” do desenho, assim como exige uma capacitação ainda maior para a sua correta execução. Na prática, sua realização é descartada ou, recentemente, relegada à produção “imediata” e “automática” das impressoras tridimensionais. Dado o tempo exíguo para o enfrentamento destas questões, foram elaboradas duas atividades para problematizá-las, sem a intenção de oferecer uma resposta instântanea. Primeiro, buscou-se mostrar por meio de uma seleção de imagens que os modelos físicos devem estar presentes em diversos momentos do projeto, em várias escalas, conforme o interesse da questão a ser pesquisada em cada fase, assim como explicado na introdução deste texto.Antes mesmo da maquete de estudo do projeto, os modelos de levantamento são importantes para a percepção da topografia, da densidade e da trama urbana da área destinada à intervenção. Já no momento de elaboração, ela pode ser tanto conceitual como de verificação de uma ideia. A rapidez na execução permite o surgimento de questões analógicas de projeto, possibilidade que os croquis não oferecem: somente na maquete são percebidas todas as dimensões do espaço simultaneamente, sem nenhuma ambiguidade. Em relação às maquetes de apresentação discutiu-se a escolha dos materiais, que não são neutros


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figura 2: para desmitificar a produção de maquetes de estudos,realizou-se em 20 minutos o modelo da topografia da Rua Gravataí. HASEGAWA, Go. Thinking, Making Architecture, Living. Tóquio: Inax, 2011.

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e reafirmam ou contradizem o partido escolhido pelo projeto. Por fim, foram abordadas as maquetes para a construção, os protótipos construtivos, como os nós estruturais realizados por Marcos Acayaba na escala 1:1, com o material final. Também poderiam ser feitas em outros materiais para informar a volumetria da peça ou para indicar na obra a forma correta de execução. Neste contexto, podem ser mais eficazes à comunicação do que o desenho dos detalhes arquitetônicos do projeto executivo. Os modelos tridimensionais vistos nestes casos assumem posições ativas na eleição das soluções a serem adotadas nos projetos. Vale lembrar que no contexto internacional há situações em que a produção de modelos está internalizada na atividade de projeto em todos os momentos. O arquiteto japonês Go Hasegawa define a prática de fazer modelos como “a capacidade de saber formular perguntas pertinentes, e quanto mais precisas estas forem, tanto mais os modelos se tornam simples e menos numerosos”1. E por que na FAU fazer modelos de estudo ainda parece ser uma eventualidade? A oficina trouxe uma atividade demonstrativa que problematizou a ideia de que a execução da maquete é mais trabalhosa do que o desenho (figura 2). Em vinte minutos, confeccionou-se a topografia do terreno da Rua Gravataí na escala 1:500, a partir de duas placas A3 de spumapaper. Isso possibilitou uma compreensão imediata da situação planaltimétrica da área de intervenção, que de outra maneira poderia levar semanas para ser alcançada, mediante a realização de muitos desenhos. Portanto, existem falsas noções de tempo, de execução e de apreensão do lugar, que a não-execução da maquete acaba por induzir. módulo III – representação gráfica para apresentação de projeto A preparação da apresentação de um projeto vai muito além de um mero procedimento burocrático, no qual se formatam croquis, maquetes, ideias e anseios do arquiteto, fazendo-os caber numa prancha desta ou daquela dimensão. A representação gráfica estúdio gravataí - volume III

depende de uma série de recursos e pode constituir um enorme campo de experimentação e busca por uma estética visual própria. No caso principalmente do estudante de arquitetura, este momento configura-se como aquele em que se pode aprofundar o contato com as referências sob a luz das estratégias de comunicação de um projeto. É importante perceber como arquiteturas distintas e seus respectivos discursos manifestam-se, além das diferenças formais e espaciais, em formas de representação que busquem expressar tais características específicas e próprias. Trata-se de uma oportunidade única de ampliação do vocabulário, integrada a uma compreensão de significados subjacentes ao projeto de arquitetura. Essa compreensão vai além de questões básicas e normativas de representação (indicação de cotas, níveis, escadas, espessuras de linha, etc.) também importantes, mas que, sozinhas, carecem de sentido. Aprofundar-se no potencial de expressar significados é o que pode alimentar a experimentação, ao mesmo tempo em que torna a apreensão do conteúdo básico de representação gráfica uma consequência natural. Em suma, o conteúdo normativo ganha sentido quando o estudante sabe o que quer dizer. Por esse viés, o módulo III das oficinas procurou debater com os estudantes, com base no material que estavam preparando para a apresentação dos projetos no seminário intermediário, as seguintes questões: Como expressar graficamente o projeto? Quais os caminhos possíveis para expor conceitos arquitetônicos e urbanísticos nos desenhos? Como o domínio do código amplia as possibilidades projetuais? Essas questões podem encontrar respostas parciais no processo do estudante, mas esperamos que, face à força de seu eco na prática arquitetônica, as oficinas tenham sido um primeiro ensaio de autoconhecimento e reflexão crítica acerca da própria linguagem; e dos significados que podem ser trazidos à tona por meio da prática projetual no momento de expressar e comunicar a um terceiro as descobertas que vão sendo feitas a cada novo projeto (figura 3).


figura 3 :Planta de situação em que a proposta do novo edificio na extrema direita tem a mesma identificação dos rios existentes: uma estratégia de conduzir a leitura da inserção urbana dos edifícios. Arquiteto:James Stirling

Carolina Silva Oukawa é graduada, mestre e doutoranda pela FAUUSP. Monitora PAE da disciplina AUP0162, ministrou o módulo I das oficinas. Professora de Projeto e Desenho Arquitetônico da UNIP – Universidade Paulista, tem se dedicado à pesquisa das relações entre desenho e projeto de arquitetura, em interlocução direta com os professores Sérgio Augusto M. Hespanha, Maria Zarria U. Dubena e Corina Bianco.

Dalton Bertini Ruas é graduado e doutorando pela FAUUSP. Possui mestrado pela Universidade Nacional de Yokohama. Monitor PAE da disciplina AUP0162, ministrou o módulo II das oficinas. Foi professor de maquetes e de projeto arquitetônico na Unibero Vila Mariana.

Guilherme Pianca é graduado e mestrando pela FAUUSP. Monitor PAE da disciplina AUP0162, ministrou o módulo III das oficinas. Trabalhou no escritório de arquitetura MMBB de 2008 a 2015, com experiência em desenvolvimento de projetos e representação gráfica.


monitoria da graduação Andre Vitiello Bernat Pedro Paola Ornaghi Juliana Stendard Mariana Caires Mariane Martins

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A monitoria da graduação contou com a participação de sete alunos. Três deles na disciplina AUP0162 e os demais na disciplina AUP0158. Estamos na graduação, assim como os demais alunos, portanto nossa participação diferiu da atuação dos monitores da pós-graduação vinculados ao PAE (Programa de Aperfeiçoamento ao Ensino). O processo de acompanhamento dos alunos e auxílio aos professores resultou sobretudo em aprendizado. Conforme o semestre avançou renovamos, cada qual à sua maneira, o modo de encarar o exercício de projeto. Por estarmos diante de outra perspectiva, pudemos presenciar as mais variadas leituras, propostas e desenhos para um mesmo recorte projetual: a Rua Gravataí, o que nos aproximou da complexidade do ato de projetar e de ensinar e nos fez perceber que não existe apenas uma maneira, e muito menos a maneira correta, de propor um edifício para um programa e um lugar. Assim, a pretensão em esclarecer as dúvidas dos colegas cedeu espaço a conversas que resultaram em um entendimento conjunto dos questionamentos, além da troca de referências e experiências. Com essa proximidade, pudemos ajudar na comunicação entre os alunos e os professores, facilitando a compreensão das orientações e da metodologia característica de cada um. Além da relação com os professores, estruturamos nossa atuação, em conjunto com os monitores PAE, por meio de frentes de trabalho idealizadas no início do semestre. A proposta surgiu de carências e fragilidades que nós mesmos presenciamos em disciplinas anteriores. Desse modo gostaríamos que essa experiência servisse como um incentivo aos próximos monitores, criando, assim, uma cultura de atividades pensadas para os alunos. As frentes de trabalho da monitoria da graduação foram, portanto: um blog com compilação de referências de projeto, acompanhamento e auxílio nas oficinas de representação gráfica, organização do seminário intermediário e elaboração desta publicação. A ocorrência de cada uma das atividades foi resultado do comprometimento de todos os envolvidos. estúdio gravataí - volume III

O blog de referências (disponível em: http:// estudio-gravatai.blogspot.com.br/) reuniu projetos citados pelos professores durante as orientações e referências nossas, adquiridas ao longo do curso. A seleção desses trabalhos significou também um exercício de leitura de projeto, um processo muito rico e pouco explorado durante a graduação. A participação nas Oficinas de Representação Gráfica junto aos estagiários PAE foi uma experiência muito interessante. Aprendemos e ensinamos em um diálogo de igual para igual. O Seminário Intermediário foi uma grande celebração da disciplina, em que os alunos tiveram a oportunidade de ouvir, e não mais de apresentar, seus projetos a partir da visão de professores do Departamento de História, de Tecnologia e outros do próprio departamento de Projeto, além de contar com considerações de professores externos à escola. Ajudamos na organização do seminário e participamos como ouvintes atentos. Junto às frentes, houve também a produção de cartazes para a publicização das atividades. Ao lado os cartazes das Oficinas de Representação e do Seminário Intermediário. A organização da Publicação do Estúdio Gravataí, que envolveu o esforço de todos igualmente, significa a síntese de todo o processo. A proposta era não apenas registrar o projeto de cada aluno, mas oferecer um cenário que pudesse contextualizá-los. Registar o que foi o Estúdio Gravataí. Diante dessas considerações, acrescentamos que apesar de compartilharmos a mesma sensação de aprendizado, cada um de nós teve uma experiência única e enriquecedora, possível pela liberdade de atuação e confiança depositada a nós pelos professores e monitores PAE.



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projetos


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Clara Troia Homem de Mello Casa de cultura | Rua Gravatai

A proposta do projeto abarca uma casa de cultura em um território consolidado no centro de São Paulo, em uma rua estabelecida como eixo entre dois importantes espaços públicos da cidade: a Praça Roosevelt e o futuro Parque Augusta. Para tanto, a seleção de um terreno no centro da extensão da rua é feita como modo de centralização deste fluxo. A área de intervenção selecionada é ocupada por um teatro e portanto o projeto parte da ideia de trabalhar com uma das muitas pré-existências da cidade, resignificando seu uso com uma casa de cultura. A estrutura do teatro é evidenciada com a retirada das vedações do térreo e exposição da sua estrutura em pórticos, que dão grande caracterização ao projeto.

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Astrid Fadnes Casa de Cultura Gravataí

Tomando se os lotes L3 e L4 como área de intervenção, propõe-se a abertura da Rua do Teatro, que conforma duas novas esquinas com a Rua Gravataí. Pela Rua do Teatro temse um panorama cenográfico sobre a produção teatral: expõe oficinas e salas de ensaio. Através de diversas maneiras de circulação e um anfiteatro com palco ao ar livre voltado para a Rua Gravataí, procura-se conectar edifício com a rua. Esta conexão com a Rua Gravataí e a Escola Estadual Caetano de Campos potencializa o uso deste espaço pela comunidade local, que se serve do programa oferecido. Parte da cobertura existente na quadra atrás do teatro é reconstruida para abrigar outro palco para apresentações externas. O Teatro Lucas Pardo Filho é incorporado à Casa da Cultura, com ginásio no térreo e salão de apresentações no segundo andar. O vazio entre os dois volumes atravessa o prédio, torna-se um espaço social, a “Rua do Teatro” e gera dois esquinas novas para a rua Gravataí.

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Edifício no oeste tem um sistema estrutural modular com colunas de quatro em quatro metros. O edifício ao leste tem uma estrutura em balanço 4 metros.


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Giuliana Capusso Ermini Edifício Roosevelt Augusta

Localizado na Rua Gravataí, região central da cidade, o projeto é composto por dois blocos de habitação, um com 13 andares e outro com 5 andares, respeitando o gabarito do prédio vizinho, além de um bloco com comércio no térreo. A diferença de forma entre os dois blocos residenciais e o próprio formato trapezoidal do bloco mais baixo permite a disposição de sete tipologias diversas de apartamento, tornando o prédio mais versátil para receber famílias com necessidades variadas. A fachada principal conta com a presença marcante de sólidos de concreto que a acompanham de cima a baixo. No edifício maior, esse sólido é formado pelo bloco de elevador, no menor, pelos banheiros dos apartamentos. Além de questões estéticas, esse deslocamento permite um melhor aproveitamento das áreas internas dos edifícios. O toque final à fachada é dado pelas venezianas de madeira que controlam a entrada do Sol nos quartos e salas dispostos na fachada norte dos apartamentos.O prédio ainda conta com uma horta de uso comunitário na cobertura do edifício mais baixo e um bicicletário. estúdio gravataí - volume III


Guilherme Torres Martins Gravataí+6

Uma ação, 6 reações: 1_ocupação otimizada dos terrenos em área central, com total aproveitamento do potencial construtivo permitido (6:1), sobretudo para produção de HIS; 2_interação com o entorno edificado, estabelecendo-se relações equilibradas entre os novos volumes e as preexistências; 3_proteção e recuperação do edifício do ginásio/ teatro anexo à E. E. Caetano de Campos, incorporando-o aos novos programas sociais; 4_imersão no metabolismo urbano e nas dinâmicas locais (novos espaços para comércio, creche, teatro, bar/restaurante, co-working e eventos variados); 5_experimentação de novas tecnologias e processos construtivos (elementos pré-fabricados e técnicas a seco); 6_aplicação crítica de elementos constituintes da estética contemporânea (tectônica e variação compositiva).


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Rua

Ilana Mallak Habitação Urbana | Rua Gravataí

O edifício é composto por 5 andares de habitação com 4 unidades por andar –duas de 50m² e duas de 80m²–, todas com varanda; além do térreo misto, com comercio voltado para a Rua Gravataí e duas unidades de fundo de lote com quintal. Conta com um bloco de circulação vertical, voltado para o pátio central no térreo. O projeto pressupõe uso exclusivamente de pedestres da Rua Gravataí no centro da cidade de São Paulo e propõe a instalação de um equipamento central na rua que faça a integração entre os diversos espaços culturais, de lazer, de estar e habitar em seu entorno. Tal equipamento contará com bicicletário público, espaço para feira livre, espaço com mesas ligado ao restaurante no térreo do edifício habitacional e equipamento de lazer associado ao uso das crianças das escolas próximas.

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Ivan Papaterra Limongi Casa de Cultura Gravataí

O projeto situa-se na esquina maior da rua Gravataí em seu encontro com a rua Caio Prado. O programa da Casa de Cultura articula-se em volta de um vazio central de 9 por 14 metros. No térreo, configura-se uma praça aberta, rebaixada em 50 centímetros, onde espera-se que possam tomar lugar as mais variadas manifestações de rua e de coletivos de expressão.


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Jéssica Crislei de Andrade Habitação Gravataí

Projeto de edifício habitacional com térreo comercial. Composto por duas torres de 16 andares, sendo térreo (com pé direito de 5 metros) mais 15 andares habitacionais (com pé direito de 3 metros), totalizando um gabarito de 50 metros. O térreo funcionará como uma galeria comercial, com vinte e quatro lojas interligadas, e um jardim para descanso e contemplação, que servirá tanto ao público da galeria quanto aos moradores dos edifícios. Cada torre habitacional possuirá dois apartamentos por andar, sendo que na primeira torre os apartamentos possuíram 90 metros² cada um, enquanto na segunda torre teremos apartamentos de 100 metros² e 110 metros². Para uma melhor circulação, além das escadas, cada torre contará com dois elevadores. Tipologia dos Apartamentos: -90m²: 2 quartos, sala, cozinha, banheiro, lavanderia e sacada. -100m²: 3 quartos, sala de estar, sala de jantar, cozinha, 2 banheiros, lavanderia e uma ampla sacada. -110m²: 3 quartos, sala de estar, sala de jantar, cozinha, 2 banheiros, lavanderia e uma ampla sacada. estúdio gravataí - volume III


João Bittar Habitação Gravataí

O projeto deste edifício conta com múltiplos usos: térreo institucional e comercial (parte do programa da Casa de Cultura projetada por Otávio Melo na disciplina AUP 162), segundo pavimento de serviços (clínica pediátrica), e mais sete ou dez pavimentos, dependendo da torre, de habitação de interesse social (HIS). Adotou-se como parâmetro a metragem para HIS estabelecida pelo município. Sendo assim, a maior unidade habitacional, com três dormitórios, tem 63,0m2, a com dois dormitórios, 52,5m2 e a de um dormitório, 40,5m2. O edifício é formado por duas torres de planta quadrada articuladas por um bloco de circulação vertical aberto. A estrutura, metálica, é externa à caixilharia e à alvenaria, tendo como modulação de ritmo as dimensões das unidades habitacionais.


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Julia Camargo Casa de Cultura Gravataí

O projeto tem como premissa a integração e incorporação de um local de produção cultural. A proposta é elevar a Rua Gravataí e transformá-la em um grande calçadão interligando as atividades existentes e propiciando outras. Nesse contexto o edifício integra o térreo livre, uma arena de apresentações e a calçada como uma continuidade capaz de absorver as vibrações da rua para dentro da casa de cultura. O programa possui três blocos: um administrativo; um de apresentação; e outro englobando grandes salões de exposição, oficinas e leitura, propondo uma inter-relação visual destes proporcionado pelos diferentes vãos e iluminação natural zenital. Os blocos superiores são totalmente transparentes no entorno da circulação e abrem grandes janelas que se projetam para a rua.

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Karin Kussuba Habitação Gravataí

Situado na esquina maior formada pelas ruas Caio Prado e Gravataí, praticamente num eixo entre espaços públicos (Parque Augusta – Praça Roosevelt), o terreno escolhido marca um interessante ponto dentro do contexto urbano. Tal localização levantou diversas questões quanto às formas de sua ocupação e distribuição dos volumes no espaço. Por fim, optou-se como partido de projeto o afastamento das lâminas habitacionais para o fundo do lote, organizadas em “L”, enquanto o térreo projeta-se abraçando uma praça central composta por espaços de caráter semipúblico (comércio e serviços). Cria-se assim um movimento mais fluído e natural entre o espaço público, da rua, e o espaço privado do conjunto habitacional. O intuito é que essa mistura de usos incentive trocas de convivência mais ricas e resulte em outras formas de apropriação coletiva desse espaço (por exemplo, noites de projeção de filme ao ar livre, festivais de dança, etc.).


arquitetura como linguagem formal entrevista: Rodrigo Queiroz

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Estúdio Gravataí: Em suas pesquisas há um acentuado interesse em discutir questões relacionados à arquitetura como linguagem. A FAU, apesar de não ter uma pedagogia formal explícita parece ainda produzir arquitetos com traços familiares de linguagem. Você poderia comentar sobre esta questão? Rodrigo Queiroz: Ao que parece, a arquitetura enquanto linguagem formal é pouco ou quase nada discutida nas disciplinas de projeto de edificações, tampouco nas disciplinas do Departamento de História, onde encontramos uma análise sociológica, econômica e cultural da arquitetura e do projeto, mas que, aparentemente, passam ao largo da análise das escolhas formais, sabiamente fruto de uma decisão individual. E esta decisão confere, invariavelmente, a dimensão original da forma arquitetônica, fator que preserva o projeto, usando um termo tradicional, como um ato de criação. Isto que garante, de certa forma, a presença da arquitetura no campo das artes, e a disciplina ser entendida como arte, inclusive. Assim, se a arquitetura perde esta dimensão autoral, reduzindo-se à transposição formal de um pressuposto espacial e programático, ela se torna algo previsível, como a mera aplicação de uma regra que permite algumas poucas variações. E acredito que essa previsibilidade permeia, ou melhor, se deixa perceber em projetos que partem do princípio da dimensão pedagógica de suas referências. A obra de um mestre, e temos vários, é aquela que, a partir de um determinado projeto – seja ele uma habitação, um museu, uma residência, um edifício educacional – é possível compreender não apenas o projeto em si, mas todo o pensamento do arquiteto. Tomemos como exemplo a própria casa paulista: duas empenas, duas fachadas livres, circulação vertical solta, que aparece na obra do Paulo Mendes da Rocha, mas extraída da casa do Carlos Millan. Contudo, vale lembrar que a arquitetura do século XX, principalmente na primeira metade, é pautada por esta dimensão pedagógica: talvez o mais célebre exemplo sejam os “cinco pontos da arquitetura moderna” de Le Corbusier; ou a noção da arquitetura como a organização dos componentes industrializados; a arquitetura como um sistema de produção estúdio gravataí - volume III

não do edifício em si, mas de seus componentes, conforme apregoou a Bauhaus e mesmo o Mies Van der Rohe. Entretanto, a apropriação de certas disposições pedagógicas sem o devido juízo crítico sobre esta referência transforma a escola – ou o desdobramento da obra do mestre – em um contraproducente maneirismo. Ou seja, aquilo que era a solução para um determinado problema e programa acaba se transformando numa forma sedutora capaz de resolver diversos outros programas. Nessa lógica, eu poderia dizer que, no fim das contas, não é o programa ou a especificidade do projeto em si que motiva. O programa é um argumento, um motivo, o qual é submetido aos procedimentos formais do arquiteto, e não o contrário. Por mais que esse processo tenda à diluição, a FAU ainda é uma escola com um conjunto de professores e alunos que trabalham a partir de uma unidade entre discurso e forma que desdobra naquilo que se entende como sendo arquitetura paulista, claro que em sua fase de continuidade e desdobramento. Uma arquitetura que se manifesta sobretudo na obra e no discurso do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, responsável pela disseminação de um pensamento que soube muito bem deslocar para a pré-existência, ou seja, as cidades, a questão moderna do projeto e da construção do território, a partir das suas já conhecidas disposições espaciais, etc. Afinal, diante de um contexto desprovido de unidade, o que é natural e inerente a uma cidade de urbanização espontânea, qual seria então a condição da forma? Qual o parâmetro para a formalização do edifício? Trata-se de uma aporia. Se ele se coloca como um objeto, reduz-se a indesejável condição de elemento de composição da cidade histórica, como representante de mais um estilo entre tantos outros. Para a arquitetura moderna, o objeto só é capaz de responder essas questões se ele conter em si a condição de um modelo. E se ele é um modelo, como o próprio nome já diz, é a matriz de vários outros. Ou seja, a forma moderna pressupõe o projeto do espaço moderno. Daí o paradoxo da separação disciplinar anacrônica entre arquitetura e urbanismo.


Entrevista concedida em 09/11, no AUP. Guilherme Pianca, estagiário PAE, representou a publicação Estúdio Gravataí.

Quando o Mies projeta o Seagram Building em Nova York ele está pensando em um modelo de edifício, que depois ele replica com pequenas variações no Canadá e em Chicago. Ele não está pensando naquilo como objeto de composição na cidade, e este é o grande drama que esta tradição moderna, agora na atualidade, deve pensar. E no caso do Paulo Mendes, e da própria arquitetura paulista, existe a consciência da condição do edifício não como objeto integrante de uma totalidade desprovida de unidade, mas como algo que articula as coisas, re-funcionaliza aquilo que já existe a partir da dimensão infraestrutural antes atribuída aos universo da engenharia, das técnicas, mas que agora se desloca para o campo da arquitetura, e principalmente do ensino, daí a importância da FAUUSP, ao refletir sobre a dimensão poética da técnica, do lirismo do pensamento, tão caro ao universo da criação da forma propriamente dita. EG: Você indica uma pedagogia que aparece como intrínseca nesta arquitetura que revela suas operações constituintes, quando você fala deste prédio-modelo contentor de uma pedagogia é muito tentador pensar no próprio prédio da FAU, onde este discurso técnico media ao usuário e interlocutor do prédio o reconhecimento das intenções do arquiteto. Uma visão desta pedagogia que se manifesta em um edifício me parece diferente do que está apontado para os cinco pontos da arquitetura, que vejo como associada como um esforço disciplinar, não no sentido militar óbvio, mas como um esforço de estabelecer o léxico de uma disciplina e de uma forma de conhecimento. Estabelecendo parâmetros para qualquer arquitetura, independente do estilo que irá operar. Ao contrário da pedagogia que se vincula com um discurso formal específico. RQ: Concordo que existe uma diferença grande, porém sutil. Note que apesar dos cinco pontos da arquitetura de Le Corbusier possuírem uma dimensão pedagógica, algo próximo de uma cartilha, eles não desembocam necessariamente em uma pedagogia formal. Você pode ter piloti, fachada livre, estrutura independente, etc., e não necessariamente reproduzir a Ville Savoye. Então o que Le Corbusier postula são soluções arquitetônicas e não encaminhamentos formais que garantam

a condição moderna de um edifício, nos âmbitos estrutural, formal e, sobretudo, urbanístico. O que ele quer, ao que parece, é garantir a continuidade de um espaço específico, novo, aberto, o espaço moderno. O piloti só faz sentido se o vizinho tiver piloti, e assim sucessivamente. Neste sentido vale a pena citar uma ideia da historiadora Sophia Telles, publicada no texto “Arquitetura Modernista: Espaço sem lugar” (in Arte Brasileira Contemporânea. Caderno de Textos n.3. Rio de Janeiro: Funarte/ Instituto Nacional de Artes Plásticas, 1983.) Ela diz, sabiamente, que a arquitetura moderna já nasce com a condição de ser urbanismo. Se a forma moderna é, antes de tudo, um modelo, a implantação do desdobramento deste modelo e suas variações já contempla, desde o início, o projeto do espaço, do urbano, sendo impossível separar, mais uma vez, arquitetura e urbanismo. Falando da FAUUSP, a escola paulista tem uma caracterização formal, como é sabido, dada pelo uso do concreto armado aparente, pela relação de unidade entre solução formal e solução estrutural. Note que, diferentemente dos “cinco pontos”, a escola paulista contém em si uma certa solução formal pré-estabelecida. Aqui em São Paulo, na Av. Brasil, você vai ver uma agência bancária inspirada no Pavilhão de Osaka: uma viga que toca o chão que, por sua vez, é uma fundação que aflora, etc, revelando um processo no qual toda a dimensão utilitária é sublimada em nome de um desejo eminentemente formal. No fim das contas, aquela frase do Paulo Mendes da Rocha faz sentido, pois o programa parece ser um “pretexto” para o arquiteto condicionar a circunstância a uma formalização ideal. E parece que a forma que identifica este discurso da arquitetura paulista – que por sua vez, do ponto de vista formal, é um desdobramento da escola carioca via Brasília e via MAM do Affonso Reidy – é a relação entre um relevo e uma estrutura que toca este relevo nestes pontos de contato. Ou seja, a sedução formal é mais atraente do que a disciplina propriamente dita, algo diferente do Le Corbusier, para o qual, pelo menos em sua fase purista (as casas brancas da década de 1920) a presença da mão, do gesto, é refreada pelo desejo da arquitetura em


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se multiplicar e se justificar como modelo. No nosso caso paulista, é o contrário, pois existe um desejo, uma disposição moderna extremamente franca, entretanto decorre de uma ação paradoxalmente artesanal, seja do ponto de vista do projeto, como ato criador, seja do ponto de vista da fatura desta forma única, original e, nesse sentido, excepcional, “não-moderna”. EG: Pensando nestes impasses que você apresenta, como você enxerga o desafio de fazer esta crítica às características comuns que definem nossa escola no dia-a-dia do estúdio? RQ: Creio que os estudantes estão percebendo e constituindo um processo de transição. A incorporação e o desdobramento de uma referência passa pelas fases da experimentação, da consolidação e do desgaste, quando a forma já se encontra esvaziada de sentido, esgotada. Acho que estamos entrando nesse último período, no qual a solução formal é quase um dado a priori, sendo assim, previsível. Contudo, como professor de projeto, posso dizer com tranquilidade que projetos que procuram um caminho mais autoral costumam ser, em sua grande maioria, extremamente ingênuos, fruto da incorporação de imagens que circulam aos montes na internet, etc. Vale salientar que, quando o projeto parte para uma solução mais autoral, “lírica”, se torna subjetiva sua própria avaliação, como uma disputa entre valores pessoais sobre um mesmo problema. Afinal, como eu posso avaliar o projeto do outro tomando como verdade absoluta apenas o meu ponto de vista? Na pior das hipóteses, é quase um juízo de gosto. No Brasil, a crítica é mais formalista que a própria arquitetura. Tudo aquilo que ultrapassa os limites de um certo recato formal é taxado de formalista, quase alienado. De fato, estamos passando por um período de revisão dos nossos próprios procedimentos projetuais e críticos. E isso me parece oportuno.

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Corte 1:500

Planta de situação 1:2000

Lina Maria Ayala Centro Cultural Rua Gravataí

O projeto centro cultural Gravataí, foi planteado a partir da Idea de fazer uma conexão entre a praça Roosvelt e o parque Augusta. Por esta ração o prédio faz uma diagonal que abre-se para o parque. Adicionalmente o prédio invita a entrar pela diagonal, um volumem aberto no terro que oferece um espaço interior público de permanência. Finalmete ao fundo uma curva protagonista aparece mostrando o espaço mas importante, nele encontramos o museu e a biblioteca.

Planta Terro 1:500 estúdio gravataí - volume III


Mariana Del Moro Casa de Cultura Gravataí

O projeto apresenta-se em um edifício demarcado por três blocos principais. O bloco central está suspenso e apoiado nos blocos laterais, de modo a proporcionar uma grande praça coberta localizada no térreo, a qual é toda aberta e convida o transeunte a explorar seu jardim interno. No 1º pavimento encontra-se o salão de oficinas e no 2º o salão de exposições. O salão de apresentações localiza-se no 3º andar e possui uma parede móvel, de maneira a permitir tanto encenações, palestras e projeções, quanto a ampliação do espaço quando houverem aulas e ensaios. O 4º pavimento abriga o salão de leitura, constituído por áreas de pesquisa, de leitura e um terraço coberto. Todos os pavimentos contém sanitários, sala de coordenação e depósito. No último pavimento encontra-se o terraço parcialmente coberto, o qual é destinado à atividades ao ar livre.


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Mariana Brandão Cine-eixo Gravataí

A Rua Gravataí se coloca como um eixo entre pontos importantes da cidade, onde a presença do espaço público é um elemento marcante. Desse modo, o projeto procura enfatizar a conexão entre esses pontos de encontro por meio de uma implantação que dialoga com o sentido da rua. A implantação segue o “eixo Gravataí”, proporcionado nos apartamentos vistas para Parque e Praça, além de desejada ventilação cruzada. A relação com a rua se vê também na fachada cega em que se propõe usos múltiplos, desde exibição de filmes à intervenções temporárias. O programa no térreo é um cinema com duas salas, relacionando-se com a presença de equipamentos culturais na região. Os cinemas de rua, tradicionais no centro de São Paulo, estimulam o uso dos espaços públicos, e portanto dialogam com seu entorno.

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Marina D’Império Lima Casa de cultura empena

Projetada na esquina maior das ruas Caio Prado e Gravataí, a implantação da Casa de Cultura Empena propõe um diálogo visual com o Parque Augusta localizado à sua frente - afirmando sua importância para a cidade. Nesse sentido, uma grande praça se abre para a rua e esta é cortada -assim como o próprio edifício- por uma empena de concreto que tem como vocação a projeção de vídeos, filmes e exposições, apresentando-se como anteparo de diálogo constante com a cidade. O edifício é constituído por dois volumes ligados por passarelas. Com espaços expositivos, biblioteca e salas para oficinas. A materialidade da fachada –de vidro translúcido autoportante- possui um grande nível de transparência, proporcionando que o espaço interno seja constantemente alterado pelo que está ao seu redor - a cidade.


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Marina de Mello Vieira Casa de Cultura

As principais intenções do projeto se pautam na ligação com seu entorno. Para tanto, apresenta térreo livre, provido de alguns usos específicos como um café, um bicicletário, espaços flexíveis para exposições e exibições, e um espaço livre aberto, que se estende a partir térreo e se conecta com as calçadas, formando também um jardim. Prioriza-se a circulação horizontal ao longo do perímetro do edifício, atendendo às necessidades de deslocamento e ligação com as áreas livres formadas e com a rua. No terraço, a cobertura que se projeta parcialmente, forma neste último andar uma área com cobertura, um pátio coberto, e também um pátio aberto. O efeito desse elemento forma, no térreo, um espaço coberto, que flexibiliza o uso da praça ao mesmo tempo em que, dado ao pé direito que se configura, ainda seja caracterizado como um espaço livre. Por não se projetar sobre de todo o edifício, ainda tem-se uma praça aberta, sem cobertura, que se conecta com a calçada e com os jardins configurados pelo projeto. estúdio gravataí - volume III


Pedro Chiovetti SESC

O projeto tem como inspiração a Sede Social do SESC Itaquera, localizado ao lado do Parque do Carmo, na Zona Leste da cidade de São Paulo. Os componentes que integram os pavimentos são os vazios das lajes, posicionados de modo que se possam ver os acontecimentos nos outros pavimentos. Ao lado da marquise de entrada estão posicionadas as lojas (conveniência e lanchonete), atraindo visitantes para entrar e vivenciar o espaço. A fachada na parte de trás do edifício é praticamente inteira em vidro, possibilitando uma vista panorâmica da região. O terraço panorâmico possui vista para a Rua Gravataí e para o Parque Augusta, principal atrativo da região, juntamente com a Praça Roosevelt.


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Marina Menossi Habitação

A proposta visa a criação de habitação social de qualidade no centro de São Paulo, em um projeto que adota conceitos de integração entre a arquitetura e o espaço urbano, além de aplicar medidas de arquitetura sustentável. A abertura da Rua Gravataí resulta na criação de um calçadão, ambiente de estar e lazer para a população local, que também serve como uma ligação entre a Praça Roosevelt e a futura entrada do Parque Augusta que se dará pela Rua Caio Prado. A adoção de medidas de sustentabilidade é uma forma de contextualizar o projeto nas tendências mundiais de preservação ambiental, economia de água e energia e inserção de espaços verdes nas grandes cidades e adequá-lo à realidade atual paulistana, de crise hídrica e extremos de temperatura.

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William Chinem Equipamento + Comércio + Habitação

A concepção do projeto do edifício de habitação, comércio e equipamento na Rua Gravataí surge de uma questão: qual a melhor forma de integrar estes elementos, de programas e usos tão distintos? Adota-se como solução uma implantação em “L”, com dois blocos de edifícios que acompanham os limites dos lotes. O Bloco A abriga em seu térreo as unidades comerciais, sendo os demais andares destinados à habitação (unidades simples). O Bloco B, de maior altura, destina os dois primeiros andares ao Alojamento para crianças e os demais à moradia (unidades simples e duplex). Estes se conectam por uma torre de circulação, que garante a separação entre os programas. As varandas, os elementos vazados e o espaço multiuso no andar intermediário asseguram o diálogo visual com a Praça Roosevelt e Parque Augusta.


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Julia Guibu Vannuchi Casa de Cultura Gravataí

O programa da Casa de Cultura tem como intenção tornar o equipamento um local de encontro. Assim, os pedestres da Gravataí são convidados a fazerem uso desse espaço através da criação de uma “rua interna” que os leva até o café e aos acessos para outros pavimentos. A escolha dos terrenos foi condicionada à localização deste no centro da Gravataí, intensificando seu potencial transformador da rua. O projeto da Casa de Cultura não tem a pretensão de restaurar o teatro existente, mas de reformá-lo, evitando os gastos de uma eventual demiolição em prol da revitalização de uma estrutura ociosa. Mesmo assim, busca-se a manutenção de uma memória relativa à localidade, de modo que a área antes ocupada pelo teatro corresponde aos salões multi-uso.

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Lucas Piaia Petrocino Casa de Cultura Gravataí

O projeto da Casa de Cultura proposto na disciplina foi resolvido de maneira a criar uma edificação na esquina maior das ruas Gravataí e Caio Prado, tendo em seu repertório cultural uma biblioteca, auditório, oficinas, salão de exposições, sala de dança, terraço coberto para leitura, lojas e cafés. A edificação foi projetada de modo a distribuir o programa perifericamente no terreo, de modo a criar um grande pátio central aberto para as duas ruas. As grandes salas se elevam em dois blocos principais, interligados por áreas de circulação que seguem a limitação do terreno. As salas possuem grandes aberturas envidraçadas observando o pátio central, fazendo exceção aos programas que necessitam de isolamento acústico parcial como biblioteca, sala de exposição e oficinas.


seminário intermediário A reflexão dos trabalhos em desenvolvimento foi realizada simultaneamente em cinco salas distintas. Em cada uma delas, foi apreciada a produção conjunta do Estúdio Gravataí por dois a três professores das disciplinas, professores de todos os departamentos e professores convidados externos. Nesta seleção de falas, com destaque à sala 809, estão reunidos alguns dos pontos mais significativos levantados pelos professores externos às disciplinas. A multiplicidade de pontos de vista suscitados pelos trabalhos são evidenciados em pelo menos três eixos distintos de leitura: interno, externo e entre as salas. Convidados da sala: Guilherme Wisnik (GW), Joana Carla Gonçalves (JG), João Sodré (JS) Outras salas: Leandro Medrano (LM), Beatriz Kuhl (BK), Maria Angela Faggin (MF), Ana Lanna (AL), Luis A. Jorge (LJ)

Do isolamento à consideração das pré-existências: Vocês trabalham já em uma chave de conhecimento de

A necessidade do diálogo com

espaços e cidade que é outra do que minha geração trabalhou, do ponto de vista do conceito. A questão da

o entorno: os trabalhos apresen-

cidade, o próprio centro, as pré-existências, os gabaritos que por ventura existem naquele lugar, mesmo que

tados no seminário procuraram

fragmentados, parecem mais natural a serem trabalhados a partir de uma questão, do “reenervamento” da área

resolver o problema arquitetônico

central, que em outros tempos se via exatamente o oposto, a cidade se espalhou para as periferias,(...) em um

proposto pelos exercícios das dis-

sentido de espalhamento geral. (...) Pareceu-me que vocês colocam em evidencia essa preocupação de fato

ciplinas exclusivamente a partir do

mais urbana. De quem (...) procura aprender e compreender a cidade no que ela tem de melhor, ou seja, trans-

lote. Neste sentido, nem mesmo

formar esse emaranhado urbano que teoricamente se chama de cidade(....)São Paulo parecia que se enca-

com a possibilidade alentada pelo

minhava para o seu isolamento pleno. E hoje vemos pessoas morando em condomínio horizontais e verticais e

programa que permitia a escolha

pessoas frequentando shopping centers isolados e essa lógica funcionou para a classe média em várias escalas

de múltiplos terrenos ao logo da

e resolvia de uma certa maneira os entraves paulistanos. (...) Com 40 milhas, Alphaville é uma das maiores mu-

Rua Gravataí, foram raros os pro-

ralhas do mundo; isso parecia ser um caminho, um meio natural, da nossa sociedade de enfrentar os problemas

jetos apresentados que procuraram

urbanos. E hoje vemos o contrário. (...) Identifiquei em vocês esse olhar mais próximo do espaço da cidade. (LM)

estabelecer um diálogo mais imediato com o seu entorno, ou seja, que procuraram enfrentar a dimen-

Explorar os extremos e novas formar de morar:

As paisagens das cidades brasileiras:

são urbana que sua localização,

Em relação as minhas experiências com o patrimô-

O mais essencial ao se fazer um projeto é

junto a Praça Roosevelt, poderia

nio industrial, muitas vezes você lida com um edifício

olhar a paisagem, mais do que o lote e a rua,

sugerir. Deste modo, foram poucos

existente(...) e o fato de trabalhar com uma realidade

olhar o lugar onde se está trabalhando. Uma

os trabalhos que problematizaram

distante obriga você a pensar fora da realidade. São

paisagem é uma formação social, um retra-

o espaço público nos térreos pro-

Paulo é uma cidade muito construída, de determina-

to de uma sociedade. No caso brasileiro, a

postos, sobretudo em sua dimen-

das soluções, homologadas pelo mercado. (...) Há

paisagem que se forma historicamente não

são mais investigativa.

uma forma predominante de uso e ocupação do solo,

é retrato de uma demanda dessa sociedade,

Portanto, é de se ressaltar que o

e algumas formas muito limitadas de morar. E na ver-

porque o Brasil era uma colônia, e sua paisa-

conjunto dos trabalhos que de-

dade, a partir da experiência dos complexos indus-

gem foi inicialmente formada para propósi-

senvolveram o programa da casa

triais, o morar, o habitar, pode se dar de modos os

tos exteriores àquela sociedade que habitou

de cultura e que enfrentaram mais

mais variados possíveis. (...) E se vocês conseguirem

aquele lugar.(..) Não vamos nos esquecer

satisfatoriamente esta questão. A

pensar a partir da lógica urbana, talvez vocês consi-

que contemporaneamente grandes interven-

intenção de explorar uma integra-

gam reverter um pouco determinadas soluções (...) e

ções na paisagem brasileira foram gestados

ção mais imediata entre o edifício

perturbem um pouco determinadas certezas (...) que

no período da ditadura (...) Da mesma ma-

e a cidade pode ser reconhecida

foram muito naturalizadas, formatadas e impostas de

neira, havia uma tomada de decisão centra-

em algumas possibilidades consi-

modos muitas vezes desagradáveis. O morar e o ha-

lizada: isso aqui vai acontecer ali. As paisa-

deradas em alguns projetos, que

bitar, esse espaço interno de nossas casas, de nosso

gens das cidades brasileiras têm este tipo de

buscaram pensar o programa a

cotidiano, pode e deve ser um espaço muito rico, e

problema: dificilmente elas atendem a uma

partir da liberação das esquinas,

esse momento de vocês na universidade deveria ser

necessidade do cotidiano das pessoas que

da permeabilidade dos primeiros

usado para ousar, mesmo que resulte no erro. (...) Ra-

ali estão.(MF)

pavimentos, da circulação avaran-

ciocinar pelas condições extremas, pelo absurdo, para

dada nas fachadas, das conexões

depois ir depurando, até chegar em algo mais amadu-

aéreas entre os volumes, da espa-

recido(...) e factível. (BK)

cialidade interna, etc.(JS)

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Sutilezas e enriquecimento do vocabulário: Considerando que estamos em uma etapa intermediária, (...) é um recado que observei, mas é o tom da cultura arquitetônica hoje que merecia trazer para a discussão: eu acho que estamos perdendo uma atenção para as sutilezas. Uma capacidade de se preocupar mais com coisas que ninguém presta atenção. Se nós arquitetos não dermos importância para essas sutilezas, com esse léxico de um desenho de espaço público, de ajuste de cota, da escada que ajusta o nível do passeio público para o térreo. Não estou falando de um problema de colocar uma escada ou uma rampa; falo de um repertório que poderíamos ainda encontrar em uma cidade como Ouro Preto. Basta algumas horas andando para perceber a riqueza construtiva de ajuste destes problemas de passeio e instalação do térreo enfrentado no mais diverso território com todo o vocabulário construtivo da herança portuguesa. (...) Investigar profundamente essas sutilezas é matéria que deveríamos valorizar. O mundo não está mais olhando para tantas sutilezas. Não devemos cair nesta diluição de um repertório, de uma tradição que vem de Portugal e que deveríamos ter a missão de honrar. Não é de teor programático, nem construtivo, mas que faz toda a diferença no convite, na relação no conjunto, que chamo de qualidade e menos de parâmetros. (...) Uma arquitetura que enfrenta esse desenho da cidade precisa necessariamente enriquecer o vocabulário, no sentido de se tornar mais qualitativa e menos métrica essa relação com a cidade. (LJ)

Pensar os ambientes internos: Os projetos culturais me pareceram

O aumento gradual da complexidade do projeto: Nessa etapa de

melhor resolvidos do que os habitacionais, mas todos desenharam

projeto, eu já esperava uma ideia mesmo que preliminar das veda-

e produziram muito material para a avaliação. Fiquei impressionada

ções verticais, ou seja, das fachadas e suas proteções solares.

com o volume de trabalho. Contudo, dentre tantos desenhos, vale

Nos projetos de edifícios culturais, viu-se um grande domínio de

comentar que faltaram desenhos conceituais do tipo perspectivas,

soluções estruturais em concreto. Por outro lado, sobre os sistemas

mostrando as ambiências que estão sendo pensadas.

construtivos e de vedações para os edifícios habitacionais, faltou

Com respeito aos partidos arquitetônicos, em geral, ao meu ver,

uma discussão mais crítica sobre a prática do mercado, incluindo

faltou se perguntar: o que faz um bom ambiente interno? Quais as

as paredes leves e as janelas, que oferecem uma abertura reduzida

qualidades ambientais de uma boa residência? Faltou uma discus-

a 50% do seu vão total para a ventilação natural.

são de qualidade não somente ambiental, mas também espacial,

A questão da ventilação natural é especialmente importante para a

lembrando que uma está atrelada a outra. Também em todos os pro-

qualidade ambiental das unidades residenciais compactas e de alta

jetos, faltou uma atenção maior, mais direta, sobre o espaço residual

densidade ocupacional. Essa questão já deveria ter sido trabalhada

que existe entre edifícios - essa discussão é ainda mais importante

desde as etapas iniciais de projeto.

quando se propõe algo no meio da cidade existente. Vale dizer que

Por outro lado, de uma forma geral, gostei de ver a presença de

uma reflexão sobre essa última questão apareceu mais nos projetos

varandas nos edifícios residenciais (na maioria deles) e espaços de

da Casa de Cultura.(JG)

transição nos edifícios culturais. Espaços de transição (de diferentes tipos e tamanhos) são uma herança de qualidade da boa arquitetura brasileira. Um dos melhores projetos de edifícios residenciais que eu vi foi um que fez uma torre e transformou as quatro fachadas em uma grande área de varanda ao redor dos espaços internos. A meu ver, todas as questões de projeto desde a implantação, forma e estrutura, vedações, conforto ambiental e qualquer outra, devem ser tratadas em todas as etapas de projeto, com um aumento

Monumentalidade necessária? Alguns dos projetos eu li

gradual de complexidade. Algumas dessas questões, não foram

na chave do monumental. Eu devo confessar que tenho um

abordadas, como no caso das vedações dos edifícios culturais.(JG)

pouco de dificuldade com monumentos históricos (risos). Fiquei um pouco perplexa e me vi perguntando qual teria sido a intenção de, em um lugar como aquele, um anti-monumento, construir edifícios monumentais. (...) Acho

Ensaio de situações experimentais: A oportunidade de dispor de

esses projetos de um estranhamento, de uma ruptura em

vários possíveis lotes e programas em uma rua - próxima a uma

relação ao lugar de onde estão sendo construídos. E isso

importante praça, e à cena teatral que a acompanha - coloca o

me toca. Nenhum dos projetos tentou manter a linguagem

desafio de se experimentar uma costura urbana entre os diversos

do local, e todos incidem para transformar. (...)Fico me per-

lotes, articulando programas. Em vista disso, aponto o fato de que

guntando, para quê neste lugar? O que essas intervenções

o interesse maior não está na simples resolução de um programa

garatem desse desafio coletivo que é o estabelecimento da

em um lote, constituindo uma edificação correta, e sim em ensaiar

relação do edifício com a cidade? O quanto destes projetos

situações experimentais, criando conexões aéreas sobre a rua, por

monumentais acabam por fazer essa arquitetura (...) des-

exemplo, e imaginando programas complementares para pisos tér-

conectada de seu contexto, independente da solução ser

reos, como áreas semi-públicas de transição aos estabelecimentos

boa ou ruim. (AL)

comerciais. (GW)


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Beatriz Coelho Casa de Cultura

Este projeto para abrigar uma casa de cultura pode ser compreendido através da organização de seus espaços, diferenciados pelo acesso ao público usuário e pelo uso dos funcionários da casa. Podese notar que as atividades da casa se dividem em blocos. Há um bloco para as atividades, como exposições, apresentações, oficinas e uma biblioteca e outro para a área administrativa e de serviços técnicos. Há também um bloco hidráulico, e aquele da circulação, que é feita horizontalmente através das varandas, e verticalmente pelos dois elevadores ou pela escada central, que definem um espaço marcado pela estrutura de vidro que enfatiza esse bloco. Há também uma escada de emergência na ponta oposta do prédio. No último andar, há um terraço aberto que foi pensado para ser uma área de descanso e convívio. O projeto cria no térreo uma praça, parte aberta, parte coberta pelo bloco de atividades. Um espelho d’água que envolve o prédio é previsto para marcar essa área de integração. estúdio gravataí - volume III


Larissa Yumi Ito Nissi Habitação

O projeto foi pensado de modo que pudesse abrigar uma galeria comercial nos primeiros dois pavimentos e moradias nos restantes. Com duas lâminas e uma circulação aberta central, o formato do edifício foi feito de modo que todos os espaços internos pudessem ser abrigados por luz e que as salas de estar tivessem ventilação cruzada. Há dois apartamentos tipo na edificação, um com apenas um quarto de 41 m2 (tipo 1) e um duplex de três quartos com 74 m2 (tipo 2). Cada andar possui quatro unidades, sendo dois andares com o tipo 1 de apartamento e três andares com o tipo 2; com um total de 20 unidades no edifício. Ainda, foi feito no térreo um pátio privado para os moradores e uma pracinha pensada para uso público conectado à galeria comercial.


159

Luisa Zucchi Casa de Cultura

O projeto da casa de cultura da rua Gravataí foi pensado de maneira que o programa fornecido fosse amplamente atendido, respeitando as áreas propostas e uma modulação concisa. Assim, na planta tipo foi disposto o salão, principal ponto da casa, a sala dos coordenadores, e o depósito. Em todos os andares também possuem três banheiros, sendo o terceiro unissex utilizado para necessidades especiais, cabível com o programa de um edifício público, com acessibilidade universal. Também foi pensado a iluminação e a ventilação dos ambientes de estadia, visando a salubridade do edifício. Os espaços de transição são formalizados em amplas áreas que integram os ambientes de todos os andares do prédio. As salas disponíveis para funcionários acabaram ocupando um andar exclusivo, fornecendo maior conforto para os usuários.

estúdio gravataí - volume III


Lucas Cunha Casa de Cultura

Neste projeto, busca-se decodificar o programa a partir de diferentes volumes, distintos entre si pela forma, pela função e pelos diferentes materiais adotados. Da leve suspensão do teatro é obtido um portal de entrada para o edifício pela rua Caio Prado, que convida o pedestre a adentrar o térreo livre. Em contraste com a suspensão do resto do projeto, o bloco de serviços, que comporta banheiros e a circulação vertical, se ergue a partir do chão como um grande monólito de concreto dando apoio às diferentes unidades que compõem o todo. Tem-se ainda o volume da administração, com suas paredes estruturais e vedações em vidro comum, e o bloco das salas de atividades, que é revestido por uma pele de vidro translúcida. As lajes, cujos vazios criam varandas que definem a forma do edifício como um todo, são a ligação imediata entre os volumes, e são sustentadas por pilares e paredes estruturais de concreto.


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Jéssica Carvalho Silva Casa de Cultura

Foi feita a opção de localizar os programas da creche e habitação em terrenos distintos para que pudessem ser trabalhados nas suas especificidades. Ambos são terrenos pequenos, mas apresentam desafios diferentes, sendo um de esquina e outro entre dois lotes. A organização formal e programática em ambos os edifícios partiu da ideia de ampliar o espaço da calçada, aumentando a área de circulação na esquina e abrindo um espaço de estar e de brincadeiras na creche, especialmente nos períodos de entrada e saída das crianças. Os ângulos agudos formados por esse princípio contribuem para um resultado formal interessante sem prejudicar a funcionalidade das unidades habitacionais e dos ambientes da creche, sendo esses destinados aos terraços e à circulação vertical.

estúdio gravataí - volume III


Anahí Noelia Sánchez Limache Edificio Viveiro

Ocupando dois terrenos, o da esquina maior e o da esquina menor, o edificio atravessa a rua Gravatai oferecendo à regiao um restaurante mirante suspenso, com vista ao parque Augusta de um lado e à comunidade da gravatai do outro. O edificio desce até o solo com um jogo de volumes e vazios dando aos apartamentos ventilaçao e luz natural, inclusive desde o coração de cada torre. Finalmente, as torres pousam no solo com lojas e espaço publico. Na esquina maior há tambem um espaço reservado para uma praça com palco urbano, que poderá receber as festas do bairro e food trucks, e uma creche que, assim como a habitação urbana, oferece luz e ventilação natural. A rua Gravatai é sinuosa e com muita arborização, priorizando o pedestre e limitando a velocidade dos ocaionais vehiculos.


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Bárbara Campelo Habitação Gravataí

A intervenção busca valorizar o eixo Praça Roosevelt - Parque Augusta por meio de uma via pedonal que encontra continuidade no espaço permeável do terreno. Buscando se integrar ao existente, considera como importante a relação com o casarão JC situado no terreno vizinho e com a identidade local. O projeto se constrói originalmente em duas camadas de usos mistos: os comércios e espaços condominiais próximos ao térreo e um volume vertical, composto pode uso habitacional e espaços de co-working. Enquanto a camada mais baixa é gerada por sua relação com o entorno, a torre tem sua origem em um estudo de insolação, que revelou a porção privilegiada do terreno. A torre se constitui de três volumes, cada um sustentado por uma parede estrutural, combinada com uma estrutura metálica.

estúdio gravataí - volume III


Daniel Yoshida Edifício Misto Gravataí

O projeto tem como diretriz criar um terreno permeável ao pedestre, que crie espaços de lazer e estar tanto para os usuários do conjunto, quanto para os indivíduos de fora dele. Dessa forma, o projeto consiste na criação de 2 blocos de edifícios mistos. O primeiro bloco, em frente à Rua Caio Prado, é um edifício com térreo comercial de pé direito duplo. A criação desse setor comercial no terreno tem o intuito de trazer maior movimento à região, como também visa “abastecer” a nova demanda gerada pelos apartamentos e a creche proposta. Os apartamentos nos pavimentos superiores são de caráter H.M.P, com três tipologias diferentes de apartamentos. Assim, esse bloco está configurado em “lâmina”, já que essa tipologia garante melhores condições de conforto térmico graças à ventilação cruzada. Já no segundo bloco, seu térreo é formado por uma creche, buscando atender a nova demanda gerada pelos blocos de apartamentos H.I.S localizados nos pavimentos superiores desse edifício.


0

1

2

R. CAIO PRADO

CREMESP CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA

E.M.E.I. CAETANO DE CAMPOS

SOCIEDADE BENEFICIENTE CLEMENTE FERREIRA

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT R

TÚNEL

R. JOÃO GUIMARÃES ROSA

0

10

25

50

ACESSO A RUA DA CONSOLAÇÃO

Debora Loturco da Silva Casa de Cultura Gsravataí

5

R. GRAVATAÍ

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PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUC

O objeto de estudo localiza-se no cruzamento da Rua das Rosas e da Avenida Senador Casemiro da Rocha. Um dos poucos espaços públicos verdes do bairro, a praça é ponto de convergência de fluxos e de encontro.

O objetivo secundário é a criação de um mobiliário com uma linguagem clara, que unifique as seções da praça e abrigue as atividades que nela ocorrem hoje.

estúdio gravataí - volume III

ODESK EDUCATIONAL PRODUCT

Composta por cinco parcelas desconexas, a praça é circundada por casas, sobrados, alguns comércios locais e as igrejas, além de abrigar equipamentos menores. O objetivo principal do trabalho desenvolvido durante o semestre é reimaginar o espaço invertendo sua lógica de formação: a praça não é mais o resultado do cruzamento de duas vias, passa a ser um conjunto de elementos que molda o fluxo de pessoas e veículos.


Floriane Fauvel Casa de Cultura Gravataí

A casa da cultura é um lugar que junta diferentes usos, fluxos e pessoas. Assim o projeto tem diferentes ambiantes que se organisam ao redor de um grande patio central, permitindo relações entre as partes do programa e dando uma unidade na diversidade. Os tetos são em escada e assim quase todos são accessíveis. Tem dois edifícios distintos reunidos por um ponto de circulação vertical : um edifício mais funcional de escritórios para os trabalhadores e um edifício mais livre para o público. As duas entradas do projeto permitem de atravessar o terreno, caminhar ou ficar lá. Os espaços são relativamente fechados do lado da rua e abertos para dentro. De fato, protegido da ambiante urbana da cidade, o projeto parece um microcosmo, constituido de espaços fluidos e abertos sobre o céu.


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Gabriel Corrêa Verde

A principal articuladora desse projeto é a esquina entre as ruas Caio Prado e Gravataí. Tendo fixada a ideia de marcar a esquina, a construção de cada planta passou a se dar de dentro para fora, focando a relação do morador com o espaço. Uma das unidades do prédio mimetiza o estar numa casa térrea, trazendo para os níveis acima da rua um espaço propício para um pequeno quintal. É na relação entre esse quintal suspenso e os brises horizontais que ocorre a primeira oposição. Enquanto o quintal se posiciona numa reentrância do apartamento leste, os brises do apartamento oeste se projetam para além do edifício. Uma segunda oposição está presente entre as grandes aberturas dos apartamentos e o fechamento do bloco central, que é o bloco de circulação.

estúdio gravataí - volume III


Juliana Melo Casa de Cultura Gravataí

A ideia é de um projeto que possa se inserir no contexto urbano atual, servindo tanto em escala da rua/bairro, quanto em escala da cidade. Aproveitando o potencial construtivo do local, é possível criar um ambiente de grandes proporções, ainda assim mais isolado do caos da cidade e do trânsito da Rua Caio prado e mais conectado e permeável à Rua Gravataí. O partido procura desenvolver a edificação por meio de escadarias, que atuam como espaços de convivência, distribuindo os espaços servidos e os espaços servidores de forma dinâmica. Em sua totalidade, o edifício exerce a função de uma arquibancada para a rua, conectora de dois elementos importantes como a Praça Roosevelt e o futuro Parque Augusta e palco de diversas manifestações culturais.


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Letícia Berrocal Casa de Cultura Gravataí

O objeto de estudo localiza-se no cruzamento da Rua das Rosas e da Avenida Senador Casemiro da Rocha. Um dos poucos espaços públicos verdes do bairro, a praça é ponto de convergência de fluxos e de encontrh o. Composta por cinco parcelas desconexas, a praça é circundada por casas, sobrados, alguns comércios locais e as igrejas, além de abrigar equipamentos menores. O objetivo principal do trabalho desenvolvido durante o semestre é reimaginar o espaço invertendo sua lógica de formação: a praça não é mais o resultado do cruzamento de duas vias, passa a ser um conjunto de elementos que molda o fluxo de pessoas e veículos. O objetivo secundário é a criação de um mobiliário com uma linguagem clara, que unifique as seções da praça e abrigue as atividades que nela ocorrem hoje.

estúdio gravataí - volume III


Lígia Paschoal Habitação Social com Teatro - Gravataí

O principal componente do projeto que desencadeou as diferentes escolhas tanto na composição quanto estrutural foi o fato de “enterrar” o teatro. Para manter o vão formado e criar um térreo livre tiveram como resposta estrutural a utilização de vigas Vierendeel. Essas vigas são de grandes dimensões, podendo praticamente “morar” dentro delas e com essa ideia são colocadas de maneira alternada (um andar sim, outro não) em duas fileiras as Vierendeels e se conectam com uma passarela central. No térreo há a entrada para o subsolo, onde está o teatro, e possui um café, a bilheteria e a entrada para os apartamentos. Há possibilidade de criar uma conexão direta entre a escola e o teatro, mas não foi profundamente abordado no projeto.


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Matheus Perelmutter Casa de Cultura G_GR

Com acesso pelo casarão abandonado na rua Guimarães Rosa, o projeto incorpora e conecta a construção com o teatro na rua Gravataí por meio de um novo edifício erguido no terreno de uma quadra localizada nos fundos da E.E. Caetano de Campos. O novo edifício, situado no miolo da quadra, escondido das ruas, se configura como lajes sobrepostas com volumes soltos e deslocados nos espaços, criando uma sequência de terraços abertos, maiores ou menores, que conectam o edifício em seu eixo vertical, servindo ao mesmo tempo como circulação e espaços para convivência. Ao passo que o teatro é restaurado para servir ao seu objetivo original (além de obrigar oficinas relacionadas em seu térreo), o casarão abandonado tem seu aspecto deteriorado mantido por interesses estéticos. As áreas de interesse público são divididas das administrativas, essas nos andares inferiores ao acesso.

estúdio gravataí - volume III


Paula Savino S. Melo Fractal Gravataí

O FRACTAL GRAVATAÍ atrai os olhares por sua forma irregular, como um diamante lapidado no centro da cidade. As áreas externas de convívio e lazer, assim como jardim que delimita o terreno são um diferencial, convidando o público a frequentar os seus espaços. Os pavimentos inferiores abrigam áreas dedicadas ao comércio e uma creche destinada a atender a população da região. Os 11 andares habitacionais abrigam apartamentos de três tipologias distintas - 75 m², 63 m² e 45 m² tirando o máximo proveito da geometria peculiar da obra.


a rua inicial

Franscisco Spadoni

173

Este texto é um excerto da conferência que apresentei no I Congresso Internacional de Espaços Públicos, que aconteceu na PUCRS em outubro de 2015. Trata-se de uma primeira aproximação ao tema do exercício da esfera pública no espaço – público – tendo como ponto de partida o texto de referência para o debate apresentado pela curadoria. Participei como debatedor ao lado do professor Pedro Brandão, da Universidade Técnica de Lisboa, tendo como mediador o professor Paulo Bicca, da PUCRS. Sua publicação neste livro dedicado ao resultado acadêmico das disciplinas de Projeto da FAUUSP de 2015 vem de encontro às discussões que envolveram o curso, sobretudo por ter organizado seus temas de intervenção a partir de um polo catalizador urbano: a rua. Tema proposto pela curadoria: Anatomia das Ruas O estudo do urbanismo constantemente é relacionado com uma escala mais abrangente de visualização do espaço. Assim como um organismo vivo, a cidade é constituída de relações e conexões entre todos os seus elementos. O metabolismo urbano sugere uma relação constante dos usuários com o meio, seja em paragens ou fluxos. Nesse sentido, as ruas assumem um papel de protagonismo no habitat urbano. Ora em forma de conexão, ora em forma de espaço de encontro. As ruas são elementos fundamentais do planejamento urbano e ultrapassam meras definições de passagem de um lugar para outro. Nesse eixo temático, a discussão se dará em como a rua é apropriada, usada e/ou deveria ser pensada no planejamento e em projetos urbanos. a rua inicial O tema: protagonismo da rua, ao menos no recorte proposto, pretende induzir-nos a que tomemos a parte que importa do todo, ou seja, entender um aspecto da rua que a valide como momento privilegiado da esfera pública. Não se produziu uma fábula, se dividirmos a cidade em dois mundos, o privado e o público, a rua cairá certamente no segundo, estúdio gravataí - volume III

portanto, como início de conversa proporia uma questão – ainda em aberto para mim: o que poderíamos acrescentar ao texto acima, já tão vasto em seu resumo? Tenderia a propor que a rua é o lugar que nos resta como espaço da ação pública: como conceito, é maior que a passagem, mais complexa que o local de encontro, permite a aparência e direciona os lugares, enfim, ampara e resume a vida urbana, suas atividades e formas de expressão. Seria, em termos objetivos, o espaço mínimo da manifestação desse urbano, mesmo sendo anterior à própria ideia de cidade, ao menos as que conhecemos. Mas de que rua falamos e em que tempo? Talvez nos fosse possível continuar tentando encontrar nas ruas uma única rua que existe dentro de todas elas, como uma espécie de ideia, indissociável de sua função. Para o arquiteto, se isso for possível, já se teria um caminho para aceitação do tema e, ao mesmo tempo, um forte apelo para tentar encontrar aquilo que eu chamaria de a rua inicial, aquela que nasce para organizar o espaço através do mundo público. A esfera pública Parto de uma afirmação do sociólogo norte-americano Richard Sennet em seu Clássico: The Fall of Public Man, de 19741, onde, na abertura, refere-se aos arquitetos “como sendo dos poucos profissionais que, por necessidade, expressam e tornam os códigos de sua visão da vida pública manifestos para outrem”. De outro modo, e Sennet é crítico em seu livro com as obras que apresenta, a arquitetura torna possível a existência deste espaço, que pode vir a não se concretizar, pois o controle ou uso de seu desenho lhe escapa ao domínio. Não apenas por isso, mas, por vezes, prossegue, pela própria postura do arquiteto em valorizar outros aspectos da obra, como a visibilidade, em detrimento do espaço. Sennet não está falando da rua diretamente, mas de obras cuja dimensão pública do que propõem envolvem a relação com a cidade, no caso com a rua. Passados 40 anos de sua publicação, alguns desses espaços a que se referiu se alteraram, como a plataforma de La Defènse, em Paris, que incluiu a Grand Arche e outras ações para incluir a convivência, ou sua leitura deixou de ser significativa, como


Figura 1: Desenho da Polis grega. Fonte:https://www.topoi.org/feature/ public-space-and-private-commerce/. Acessado em 23/11/2015

no caso da Lever House, em Nova York, mas o que particularmente nos interessa a partir de sua leitura é a possibilidade de que essa esfera pública possa ser desenhada, por vezes incluindo a própria rua. A ideia com que tendemos a tomar a esfera pública em nossos dias, seja nas ações humanas, seja em sua expressão física, o espaço público, é a de que funcione como redentora da sociabilidade, ou seja, como a dimensão que ampara as potencialidades humanas e lhe dá o suporte de existência. De modo arriscado tendemos a olhar a relação entre o público e o privado como se viesse a se tratar de uma escala de valores conduzida pelo primeiro e isso se deve, talvez, à multiplicidade de formas que assumem os termos e que no plano espacial o senso comum associa à propriedade. No limite, a existência de um só se justifica pelo outro e, ao menos na forma que assumem em nossos dias, um é a realização do outro. Adicionando um segundo autor ao tema, por sua visão aguda e controversa, em The Human Condition, obra de 1958, a filosofa alemã Hannah Arendt, faz um recuo histórico à construção da Polis na antiga Grécia, para apresentá-la como a solução encontrada pelos gregos para a constituição da esfera pública como um território abstrato, onde os homens poderiam exercer a cidadania. A Polis necessitava de espaço e leis, mas esses eram apenas o suporte para o exercício da ação e do discurso, a base para a ação política: “o espaço era o domínio público e a estrutura era a sua lei”2. A rigor, o conceito de Polis não era um lugar geográfico, mas “a organização de pessoas tal como resulta do agir e falar em conjunto e seu verdadeiro espaço situa-se entre as pessoas que vivem juntas para tal propósito não importa onde estejam. 3 Para a autora, a Polis legitimava a esfera pública ao igualar os desiguais e não exercer, nessa esfera, nenhum instrumento de controle, que era base para o exercício da política. A Polis surgia para dar história e temporalidade às ações, eternizar os atos humanos, elementos mínimos da existência da pluralidade, ou seja, a existência do outro. Esse é o público, o campo da liberdade e da política, atos que só podiam se dar fora do domínio privado, ou

seja, fora da área de controle que esse estabelecia. Portanto, a Polis é expressão do espaço público. Sem estabelecer juízo moral, muito menos é esse o objetivo da autora, a sociedade grega concedia a possibilidade de se aceder à esfera pública. Poder expressar sua liberdade representava já se ter resolvido sua vida privada como proprietário e cidadão. A Polis, excluía da esfera pública aqueles que não tinham visibilidade, como escravos e mulheres, a quem se reservava a vida privada, aqui entendida como privação do mundo. Contemporaneamente, ainda segunda a autora, mas observável também em Sennet, o aparecimento da sociedade burguesa no período moderno, criaria um apagamento das duas esferas, pública e privada, que definiam atribuições específicas na antiguidade e reconhecimento do que se poderia ser feito em cada uma delas. Sob o nome de social (baseia-se na obra de Rousseau) essa terceira esfera (que não se reconhecia como tal na sociedade grega antiga) eliminaria a possibilidade de ação e discurso encontrarem seu espaço de expressão e tudo se resumiria ao campo de uma intimidade que a partir de então estaria sempre sob controle. Estar em público a partir de então significaria saber estar e conviver segundo regras, respeitando padrão de comportamentos que identificavam sua origem e classe. Trazendo a discussão para os dias de hoje, é possível que o que hoje chamemos de público, seja uma atualização da esfera social moderna, com a ambição de ser pública no sentido da Polis: a possibilidade da pluralidade (relacionar-se com outrém) e da ação como ato político, mas aqui já mediado pelo sistema de controle da sociedade e pela massificação. O espaço público por consequência, seria a experiência física que possibilitaria essas relações e as manteria sob controle. Como nos lembra Michel Foucault, a polícia é uma invenção do século 18. Nesse sentido a própria ideia de liberdade também deve ser atualizada, pois o que significaria em nossos dias ser livre no espaço público. Para não deixar o campo da política, Isaiah Berlin, em seu


Figura 2: Projeto de Albert Speer para Berlim Fonte: https://www.topoi.org/feature/public-space-and-privatecommerce/. Acessado em 23/11/2015

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Figura 3: Croqui de Brasília de Lucio Costa Fonte:http://www.arquitortura.com.br/wp-content/ uploads/2015/08/1326482514_croquis_lucio_costa.jpg Acessado em 23/11/2015

famoso ensaio Dois Conceitos de Liberdade, nos ajuda com essa questão. Para o autor, o conceito de Liberdade se apresentaria de duas formas: A Liberdade Negativa, entendida como o campo da não interferência - estar livre de - e a Liberdade Positiva, o campo do autodomínio, que identifica como se estar livre para, ao que o autor tende à primeira por identifica-la como a possibilidade da ação política. Diz Berlin: “A Liberdade política nesse sentido é simplesmente a área em que um homem pode agir sem sofrer a obstrução de outros. Se sou impedido por outros de fazer o que, de outro modo, poderia fazer, deixo de ser livre nessa medida; e se essa área é limitada por outros homens além de um certo mínimo, podem dizer que estou sendo coagido ou, provavelmente, escravizado.” Tomo o cuidado de tratar de tema tão amplo como a liberdade em poucas linhas e conscientemente excluir outros autores contemporâneos a esses, por entender, inicialmente, não ser esse o espaço nem o objetivo, mas seria impensável traçar qualquer juízo sobre a cidadania que exclua o tema, e os dois autores, cada qual a seu modo, abrem caminho para a essa reflexão.

de Berlin, o lugar que ninguém, em princípio, poderia me impedir de estar.

a rua

A cerimônia é um dos atos que fundam a interpretação do espaço moderno (Alain Badiou interpretando “O Enigma de Parsifal” de Richard Wagner) e transformam a rua em seu principal cenário. Talvez as primeiras ocupações da rua tenham sido as procissões medievais, ritual que se atualiza até os dias de hoje nas festas populares, carnavais etc. Mas cerimônia poderia ser também entendida como as grandes aglomerações reivindicatórias, que usam as ruas como domínio e avalista de uma causa, como nas passeatas políticas e nas barricadas. A rua é o suporte, espaço de conflito, tentado ao controle. Na cerimônia a rua confronta o caráter moderno de não ser pública no sentido da apropriação livre, pensando nas estruturas sociais de controle. Ela pode vir a ser política.

Sem me desviar de nosso sujeito, a rua e sua vocação, e admitindo-a como lócus privilegiado da vida pública, nos parece que sua simples existência não garante a possibilidade da ação, no sentido de Arendt e muito menos da liberdade no sentido de Berlin. Ambos falam da política, mas devemos entender por isso não aquela que se institucionalizou como profissão, mas a que suporta os conflitos humanos. Como traçado onde os homens se encontram a rua seria, talvez, seu facilitador. Assumo a idéia que a rua continua sendo o espaço da visibilidade, da aparência, que se em épocas distintas, na antiguidade e no período moderno, foram conceitos que podiam definir socialmente os indivíduos, como nos trajes indentitários dos séculos 17 e 18, ainda hoje continua a expressar as individualidades por outros meios. Ela tanto une como segrega, aproxima os iguais e se abre ao conflito (por vezes a violência), mas é inegável que se consolidou como a arena do coletivo, a somatória das privacidades e, no sentido estúdio gravataí - volume III

Para o arquiteto, no entanto, é fundamental que se identifique de qual rua estamos falando: a rua genérica, que está dentro de todas as ruas, ou a rua particular, que em sua identidade define um caráter que amplia suas funções de passagem. Como sugerimos ao início, é possível imaginar que a rua surja até mesmo antes da cidade, ou pelo menos seja seu traço fundador. Por exemplo, ao longo de uma estrada alguém se detém e na presença do outro funda um lugar. Proponho aqui identificar alguns tipos, que, entendo, possam ser úteis em nossa leitura e tentar validar a possibilidade da pergunta inicial se aquela parte do todo, ou seja, a rua como local de encontro, manifestações, aparências etc. é um caráter intrínseco a esse espaço, ou aquilo que resta do domínio privado e do controle do Estado. cerimônia: o evento a rua altera sua função de passagem e se afirma como ocupação.

fronteira: limite do espaço a rua une dois lados mas pode separar.Como traçado a rua é também um limite, onde as coisas começam e terminam. Na geografia é uma cisão no


Figura 4: Passeata dos cem mil, Rio de Janeiro, 1968 Fonte: https://i.ytimg.com/vi/3OvTRcptohU/maxresdefault.jpg Acessado em 23/11/2015

Figura 5: Tráfego de carros em Kuala Lumpur Fonte: https://mohdjuhary.files.wordpress.com/ 2013/04/dsc_2240-a.jpg Acessado em 23/11/2015

território, que abre passagem, mas também organiza os lados. Nem sempre os une. Isso pode depender de sua espessura ou densidade, por exemplo, mas também dos interesses e forças que atuam na sua ocupação. Pode ser a ultima fronteira de um país.

alteração de esferas, que por não ser explícita como a casa por exemplo, reforça as individualidades num espaço onde deveria prevalecer o coletivo.

desenho: a ordem e o desencontro

as ruas em que gosto de estar.

Paris; Berlim; Brasília: abstração e expectativas para o público. Talvez a questão mais dramática da arquitetura, a procura da ordem foi também estratégica para o pensamento da cidade. Ordem não apenas no exercício racional do desenho, como a cidade geométrica, mas como forma de controle absoluto de sua organicidade. Ou, ainda melhor, de negação de alguma organicidade possível que ponha em risco a possibilidade da ordem. Por isso, é frequentemente encontrada como expressão de ações totalitárias, estejam a favor de regimes os mais diversos –normalmente centralizadores– ou apenas como forma de conter e controlar. Os três casos que apresento são versões distintas da rua a serviço da ordem. São abstrações de uma cidade a ser destruída e reconstruída, a Paris de Napoleão III, conduzida por um empresário, o Barão Haussmann, a Berlin de Hitler, modelada por seu arquiteto e ministro Albert Speer, idealizando sob a ordem clássica e a Brasília de Kubitschek, desenhada por Lúcio Costa sobre a cartilha de Le Corbusier. Em todos os casos, a rua é desenho que se antecipa e ensina como se usa. carro: privado no público. o fluxo desagregador O carro ao substituir o espaço público pela somatória dos privados, altera a densidade da rua. Mais do que nunca a rua do público se torna a calçada. O carro potencializa a visão do transporte como extensão do homem, como se deu com o cavalo, a charrete, a bicicleta. Talvez sua dimensão mais perversa não seja a de ser simplesmente o modo de negar aquilo a que se propõe: deslocar-se com facilidade, mas o de ser um espaço do privado que usa o público e o compromete. Uma espécie de

afeto: a minha rua A rua interior é aquela que não se desenha. É a que vivemos. A maior rua do mundo será a sua rua. A rua da memória, do encontro fortuito, a que só significa pra você. As ruas em que gosto de estar eu não posso representar. São como aquilo que só existe na ausência ou na esperança de um dia ser encontrada. Notas 1 Sennet, Richard. O Declínio do Homem Público: as tiranias da intimidade: São Paulo, Cia das Letras, 1989, 2a. ed. pag. 26.

Arendt, Hannah. A Condição Humana: Rio de Janeiro, Forense Universitária, 12a. ed., 2014, pag. 241.

2

3

Idem pag. 246.

Berlin, Isaiah. Dois Conceitos de Liberdade, in: Quatro Ensaios sobre a Liberdade: Brasilia: editora Universidade de Brasilia, 1981, pig: 133 -144.

4

5

Idem pag. 136.


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Theo Moraes Teixeira Casa de Cultura Gravataí

A casa de cultura se organiza em dois volumes conectados, um opaco com circulações verticais fechadas e áreas molhadas, e outro transparente, fechado em placas de vidro e de alumínio perfurado, onde se distribuem verticalmente os salões conectados por uma escada externa com vista para a Rua Caio Prado e o Parque Augusta, no canto oposto do bloco fechado. Com um terraço na cobertura, sala de leitura no último andar (quebrado em duas cotas), espaço expositivo logo abaixo e no primeiro pavimento um salão de oficinas, o térreo, abaixo deste, articula a Rua Gravataí, loja e café com uma praça rebaixada em 4,50m em relação à rua, através de uma escadaria-arquibancada, que dá acesso ao salão de apresentações.

estúdio gravataí - volume III


Letícia Brasil Freitas Habitação Gravataí

O edifício implantado no terreno da esquina maior das ruas Gravataí e Caio Padro, abriga três usos distintos: comercial, abrigo para crianças e habitação social. Apesar de cada uso ter seu espaço separado, quase sempre sem acesso direto ao outro, dois espaços comuns de acesso pela área comercial integram estes, o terraço e o jardim comum. A área comercial é formada pela base do edifício com pé direito duplo e um mezanino que dá acesso ao terraço. O abrigo se em três andares, ocupando parte da base do prédio e de uma das torres. E as habitações de distribuem nas duas torres do edifício, com tipologias variadas, desde um cômodo único até apartamentos de três dormitórios.


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André Silva e Gabriela Oliveira Casa de Cultura Gravataí

O projeto nasceu da urgência de se reforçar eixos existentes – e iminentes -, de ressignificá-los. A forma emerge em decorrência de algumas vontades primordiais: o fortalecimento do fluxo Roosevelt – Parque Augusta, a ruptura com a idéia do morar no edifício como essencialmente hermético e a valorização do usuário infantil. Para além da creche prevista nesta proposta, há três outras escolas no entorno, mas nenhum entretenimento para o público em questão. Neste sentido, o programa fecha a Gravataí para pedestres, libera um vão com acesso à tal rua no lote com fundos para EE Caetano de Campos, e implanta uma praça temática, voltada ao público infantil, meio pé direito abaixo do nível da rua. Os térreos, quando não abertos por questões inerentes ao partido, ganham fachadas ativas e uso comercial.

estúdio gravataí - volume III


André Silva e Gabriela Oliveira Casa de Cultura Gravataí

Nesta fase, foram detalhados dois blocos articulados, capazes de elucidar a lógica do projeto. O desenho desposta como fruto do desejo de se reforçar o protagonismo das áreas públicas e de se questionar a ideia de que a arquitetura está condenada ao lote. Deste modo, optou-se por fazer a creche, que se inicia na conexão com o Parque a Augusta, atravessar a Gravataí em direção ao lado oposto, ocupando-o. Os dois andares subsequente, com a Galeria e praça elevada, reproduzem a mesma estratégia formal e estendem-se por três dos quatro blocos do complexo. A parte residencial inicia-se no sexto pavimento, sendo o 13º andar do conjunto um piso interligado, acessível aos moradores, os quais partilham áreas de uso comum, como lavanderia, salão de festas, academia, entre outros.


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Giovanni Vespe Casa de Cultura Gravataí

Para realização do projeto da casa de cultura, partiu-se da ideia de projetar-se um edifício com salões que permitissem usos variados. As dimensões do terreno, foi o maior problema encontrado, para tanto reuniu-se os serviços em uma das extremidades do edifício, compondo uma espécie de torre, deixando o restante da área livre para os salões. A estrutura segue a mesma ideia, para tanto os pilares foram projetados próximos as fachadas, mantendo assim grandes vãos livres. A fachada que alterna entre janelas de vidro e segunda pele opaca, permiti que o pedestre possa ver o que acontece dentro do edifício e que o usuário da casa de cultura tenha vista das ruas Gravataí e Caio padro; e do Parque Augusta.

estúdio gravataí - volume III


Heloisa Valarini Casa de Cultura Gravataí

O projeto de ocupação perimetral cria um pátio interno protegido da movimentação da R. Caio Prado, o qual permite diversas atividades e usos. As fachadas envidraçadas permitem o contato visual dos pedestres com as atividades que ocorrem internamente, formando uma vitrine da casa de cultura, com os salões de atividades voltados tanto para a Caio Prado como para o pátio. O edifício é dividido entre dois blocos pela circulação, que pretende ser leve, com as escadas externas. Tem-se então o bloco de áreas maiores, com os salões e seus apoios, que são áreas completamente de acesso ao público, e o bloco de áreas menores, majoritariamente para administração e serviços, mas que abre em seu meio duas lajes de acesso público para atividades complementares à biblioteca e às exposições existentes.


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Kevin Carvalho Casa de Cultura Gravataí

Uma cobertura única, leve, que une dois edifícios em um só, criando um pátio urbano no térreo e terraços livres. Na fachada com maior insolação, brises garantem o conforto térmico dos ambientes. Todo o sistema estrutural foi pensado buscando atender o grande vão livre no térreo e garantir grandes espaços internos, além de sustentar o forte empuxo causado pela cobertura. Concreto armado e treliças metálicas combinam-se e permitem grande legibilidade da simétrica estrutura e pleno equilíbrio de forças.

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Ilka Apocalypse Joia Habitação social + abrigo cultural

Além de trazer hab. social para o centro de SP, o projeto busca abraçar a vocação cultural da região. Priorizou-se a criação de novos percursos e polaridades a partir das tipologias mistas e da preferência pelo pedestre. A passarela entre os edifícios pretende integrar seus vários usos. Mais simbólica do que essencial, pois transpõe uma via pedonal, esta rua elevada integra comércio, teatro e restaurantes, além de servir como ponto de encontro e contemplação. A relação histórica da Pça Roosevelt com a cultura condicionou a ideia de um novo tipo de equipamento, o abrigo cultural: um lar para menores que é também escola de teatro e música. A habitação conta com duas lâminas conectadas através de varandas. As rampas foram projetadas como uma alternativa à escada enclausurada e aos elevadores.


arquitetura e cidade entrevista: Bruno Roberto Padovano

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Estúdio Gravataí: Seu Memorial de Titulação mostra uma produção técnica extensa. Você trabalhou com programas diversos, inclusive com habitação, que é o tema da disciplina AUP0158. Qual o rebatimento da atuação profissional no ensino de projeto? Bruno Roberto Padovano: De fato, a bagagem profissional, o realismo, o fato de ter acompanhado obras, enriquece a atividade didática. A experiência nos ajuda a dar informações aos alunos, a falar sobre o que eles deveriam evitar, chamando atenção para erros e problemas que eles teriam numa situação real. Por outro lado, é importante lembrar que a faculdade é o período no qual o jovem arquiteto, que está começando a carreira, tem oportunidades (que não deveriam ser desperdiçadas) para fazer algo diferente e criativo. Nós professores temos a tarefa de encontrar o equilíbrio entre uma visão consolidada, da experiência prática (essa bagagem da profissão real, do que é possível fazer), e a obrigação de nos mantermos muito abertos a tudo aquilo que está acontecendo de mais novo na arquitetura, para que o aluno não seja demasiadamente doutrinado a atuar com uma perspectiva meramente de mercado. Até porque o mercado muda, oportunidades surgem em outros contextos. O aluno pode se deslocar para outro país, por exemplo, para uma outra realidade, mais tecnologicamente avançada ou inovadora do que a nossa. Tenho me sentido um pouco como um artista de circo, que anda na corda bamba. Me parece extremamente importante encontrar o equilíbrio entre sonho, imaginação, criatividade e, ao mesmo tempo, pragmatismo, para que o aluno não estranhe quando for procurar trabalho fora da universidade. Transmitir experiência e ao mesmo tempo se manter num eixo de projetos diferenciados, criativos, e incentivar os alunos a não seguirem padrões já consolidados. EG: Que estratégias você utiliza para que os alunos sejam propositivos, para que não se acomodem aos padrões existentes? BRP: Tenho abordado a questão do paradigma no estúdio gravataí - volume III

projeto. No início do semestre, tenho sempre uma conversa com os alunos, na qual eu peço que eles busquem a complexidade sustentável e que sejam criativos. Deixo claro que a sua ousadia terá peso na minha avaliação, que valorizo muito esse lado. Deixo claro que, se eles puderem me surpreender, trazer soluções inesperadas, diferentes, atuais em termos de linguagem de arquitetura, certamente ficarei bastante satisfeito, porque é preferível que o aluno voe e o professor o traga para um nível de realismo do que o oposto. Há alunos que já apresentam esta tendência e surpreendente maturidade, apesar da idade. Talvez fosse o caso de falar de talento. Esses alunos já chegam à escola com uma atitude inovadora. Nesses casos, o melhor é interferir o mínimo possível. Deixar que sigam adiante, incentivar e reconhecer seu trabalho, voltado às novas ideias. O aluno mais realista tende a repetir o que já foi feito. Neste caso, penso que o professor tem que orientá-lo a dar um passo adiante. Como disse, isso é mais difícil de fazer. Estudantes que não têm muita propensão à inovação, à criação, usando pouco a imaginação, são mais difíceis de serem estimulados. Sempre peço que tragam papel manteiga, porque aí vou fazendo croquis para me explicar e vou dialogando com eles, sugerindo novas possibilidades e a busca de novas relações com a cidade, que é cada vez mais dinâmica na sua espacialidade. É preciso entender que hoje o urbano permite grande abertura de intervenção e de interpretação. Incentivo os alunos a buscarem soluções que não sejam gratuitas, meros formalismos, mas ao mesmo tempo sejam voltadas ao complexo. Não basta “fazer por fazer”, é necessário que o espaço inovador signifique algo, dentro do novo paradigma emergente. EG: Você disse esperar dos alunos soluções atuais em termos de linguagem de arquitetura. Como você definiria essa linguagem? BRP: Meu paradigma de projeto hoje é um modelo de arquitetura mais complexa e dinâmica, mas que seja viável dentro do nosso nível de desenvolvimento. Hoje, podemos ver arquiteturas fluidas sendo realizadas ao redor do mundo (como


Entrevista concedida em 09/11, no AUP. Carolina Silva Oukawa, estagiária PAE, representou a publicação Estúdio Gravataí.

é o caso das conhecidas obras de Zaha Hadid e Frank Gehry). Sou um grande admirador desses arquitetos de vanguarda. Por outro lado, reconheço que a realidade brasileira é diferente daquela dentro da qual eles operam, com mais recursos físicos e tecnológicos, com mais ímpeto inovador esperado pela própria sociedade. As ideias e linguagens que eles desenvolvem têm a ver com essa realidade mais avançada. No nosso contexto, temos que sem dúvida tentar voar também, mas talvez em altitude mais baixa para evitar o destino de Ícaro (risos). O arquiteto também tem que ter o senso de realismo para não permanecer num plano de não concretização, o que é comum. Em Harvard, onde estudei nos anos 70, chamam isto de “grounded visionaries”, visionários com pé no chão. EG: Que tipo de arquitetura poderia ser considerada atual no contexto brasileiro? BRP: Dentro da nossa realidade, de maneira geral, não temos tido um olhar muito aberto ao novo. A nossa escola dominante ainda é baseada no paradigma racionalista. Esse paradigma já deixou de ser culturalmente dominante no primeiro mundo há pelo menos 30 anos. Isso gera um problema: o que devemos ensinar aos alunos? O novo paradigma, para eles se tornarem arquitetos incompreendidos na nossa realidade? Ou continuamos ensinando o paradigma consolidado, dominante no país? Eu acredito no novo paradigma, mas acabo sendo de certa forma induzido a ainda considerar o velho. O novo paradigma é o da complexidade sustentável criativa, que não deveria repetir as soluções racionalistas obsoletas numa “sociedade líquida”, como o filósofo polonês Zygmunt Bauman a definiu na década passada. Neste sentido, acredito que os jovens arquitetos, nossos alunos, sejam justamente quem pode ter alguma chance de desafiar esses limites. Arquitetos experientes e bem sucedidos tendem a repetir o que já conhecem. A experiência pode nos engessar. Eu mesmo, por mais que tente promover e praticar uma arquitetura diferente, vejo que as oportunidades para isto não se materializam no Brasil, como nos concursos de arquitetura. Porque o sistema social e cultural dominante, no campo da arquitetura, é ainda racionalista.

EG: O que você tem feito nessa direção? BRP: O pós-modernismo deixava claro que não devemos criar rupturas com a cidade tradicional. Que deveríamos ter transformações com continuidade em relação ao território consolidado, sem isolar os edifícios. Então se criou, no pós-modernismo, uma tendência ao uso de soluções híbridas, entre o moderno e o tradicional. Produzi, no início de minha carreira, diversas obras dentro desta linguagem híbrida, que hoje vem sendo abandonada, porque vem surgindo o novo paradigma. Aquela linguagem pós-moderna era uma transição paradigmática que reconhecia a crise no paradigma anterior, do racionalismo funcionalista, mas não conseguia realizar uma ruptura com ele, levando ao hibridismo. Uma expressão mais atual e podemos dizer sintética do novo paradigma seria “arquitetura líquida”, em oposição a uma “arquitetura sólida” anterior. Nas minhas pesquisas recentes e aulas para o curso do Design na FAU, tenho buscado uma “arquitetura etérea”, que possa ir, até, além da líquida. Esse tipo de arquitetura propõe intervenções muito leves, capazes de ativar espaços urbanos. Intervenções simples, que até uma pequena ONG conseguiria realizar e que possam regenerar os espaços públicos degradados e reintroduzir vida neles. É o caso dos “Palcos Urbanos”, que venho estudando e propondo, feitos com estruturas em bambu e coberturas leves, para reintroduzir as artes performáticas, como a música, nos espaços públicos esvaziados de vida. O clipe da música popular “Dancing Frenzy”, que lancei como artista independente, vai nesta direção, assumindo a arte de rua como uma nova possibilidade de expressão da própria arquitetura pelos arquitetos contemporâneos. EG: Como você trabalha com os alunos a aplicação desses conceitos no projeto de habitação na Rua Gravataí? BRP: Esses conceitos são um tanto difíceis de aplicar no contexto da disciplina, porque nós solicitamos um projeto de muita metragem construída, na busca de uma cidade mais compacta. Os alunos são obrigados a gerar uma densidade elevada. Ainda assim, tenho falado muito do uso e da conexão dos lotes disponibilizados para o exercício


Ilustração de Palco Urbano, feito com estrutura em bambu e coberturas leves. Padovano explica que um dos intuitos do projeto seria reintroduzir as artes performáticas nos espaços públicos esvaziados de vida

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de projeto. Não basta resolver o projeto dentro dos limites do lote. É necessário ter uma estratégia para a rua como um todo, considerando a possibilidade de diálogo entre os edifícios e espaços públicos adjacentes. O exercício da Rua Gravataí é muito interessante nesse aspecto, porque mostra que, para relacionar espacialmente os edifícios entre si, é interessante adotar ligações aéreas e geometrias mais livres para os edifícios. Tenho sugerido aos alunos o uso de conexões físicas, passarelas a cinco ou seis metros de altura, conexões subterrâneas ou mesmo em nível. Dessa maneira se introduz uma outra dinâmica na paisagem metropolitana. Alguns alunos seguiram essa vertente; outros não, são mais convencionais e restringiram-se aos limites de cada terreno, mas de maneira geral se libertaram da geometria dominante que existe ao longo da Gravataí hoje, com sua fragmentação típica da paisagem urbana local. A atividade musical que tenho desenvolvido em paralelo com a arquitetura tem me ajudado a refletir sobre essa sua necessária flexibilização e maior leveza e fluidez. Não se pode mais pensar arquitetura como um algo rígido e imutável. É preciso criar ligações com a cidade, tangíveis e intangíveis também, entrando em sintonia com as suas dinâmicas sociais e espaciais. Os palcos urbanos, por exemplo, seriam meios de aproveitar o espaço dos terrenos para abrigar eventos, situações que possam acontecer na Gravataí, que alguns de meus alunos incorporaram em suas propostas. Tenho solicitado também que seria desejável misturar o máximo possível os usos, para evitar o monofuncionalismo da superada matriz racionalista, que ainda impera no mercado. EG: E quanto ao interior da unidade habitacional? BRP: Na mesma linha, temos proposto menor definição de ambientes, maior flexibilidade de arranjos e diferentes disposições dos ambientes, com plantas mais livres. Manter a ideia de um uso racional do espaço, mas não determinista, oferecendo mais liberdade espacial ao usuário. EG: Que contribuições finais você gostaria de transmitir aos estudantes? estúdio gravataí - volume III

BRP: Niemeyer dizia que a arquitetura dele era uma “arquitetura do espanto”. Espanto no sentido de surpresa, de inovação, de invenção. O oposto disso, eu diria, são os “sustos”, ou seja, a não busca desta inovação. Eu gostaria de solicitar aos alunos que proponham sempre mais “espantos” e menos “sustos” (risos).



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Laisa Campos Brianti Casa de Cultura Gravataí

O projeto afirma a Rua Gravataí como um eixo cultural, se iniciando com a Casa de Cultura na esquina com a Rua Caio Prado, passando pelo teatro já existente e se encerrando com a Praça Roosevelt como espaço de convivência. O terreno escolhido considera também a própria rua como uma praça descoberta e estabelece conexão com o Parque Augusta – com as fachadas de vidro e varandas -, sendo a esquina um elemento marcante no projeto, com a proposta de ampliação de calçada e faixa de pedestres. O partido garante que os coletivos culturais usufruam os salões de forma livre, sem restrições de uso. A Casa de Cultura proposta tem como objetivo continuar e ampliar a apropriação do espaço urbano já observada na Rua Gravataí.

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Luiza Amoroso Casa de Cultura Gravataí

O ponto de partida deste projeto foi a percepção de uma volumetria negativa atrelada à um gabarito eleito como saudável para a escala da rua ( a do prédio residencial à esquerda da implantação). As tipologias visam atender à um público não familiar, mas pessoas sozinhas ou estudantes, sendo assim se cria dois ambientes convergentes no pavimento tipo, dois blocos de estúdios, que incluem espaços de cozinha e para lavanderia e um bloco de cinco apartamentos que compartilha uma cozinha com espaço de lavanderia. Os espaços comuns são projetados de forma a incentivar uma permanência e fomentar a sociabilidade dos habitantes do prédio. Essas tipologias são resultado de um reconhecimento do teor cultural do centro da cidade e do caráter das pessoas que buscam viver nessa região, tendo em vista a quantidade de universidades no entorno e a boa conexão com outras partes da cidade pelo transporte publico


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Lukas Hoshina Casa de Cultura Gravataí

Este projeto tem como partido o grande destaque entre elementos cegos e vazados, dado pelas duas grandes caixas retangulares que se projetam para fora do edifício, onde se encontram o cinema/auditório em uma caixa e um espaço para exposições na outra, e os vazios entre pavimentos, propiciados pelo recuo em 1,5m da pele de vidro para dentro do edifício, como um grande radiador. Além da função estética o recuo da pele de vidro faz com que as lajes dos pavimentos protejam a edificação do sol direto em boa parte do tempo, que ajuda no conforto térmico do ambiente. Houve também , assim como no pensamento das áreas comuns da habitação, o intuito de promover uma interação intra implantação , mesmo que visual , entre os diversos usos do edifício, e isso se materializa pela criação de um vão central em que os pátios do abrigo, o comercio , o acesso e as aberturas da habitação se esbarram visualmente.

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Miguel Oliveira Vale Casa de Cultura Gravataí

Entendo que uma “Casa da Cultura” deve procurar uma certa banalidade na arquitetura da cidade e conseguir contaminar as transformações nos lotes vizinhos. Este projeto posiciona o programa dito funcional junto à Rua Gravataí de forma a não existirem espaços excludentes. É uma subversão que tira partido da permuta do terreno traseiro adjacente ao edifício do teatro e ao terreno da Escola Caetano de Campos - cujo projeto de reabilitação foi considerado - com o gaveto menor (lado sul) da rua. Assim, a casa da cultura, a escola e o teatro formam uma unidade heterogénea, intergeracional e interclassista, onde os vários espaços acolhem o ritmo complexo da cidade. Já do outro lado da rua, no gaveto norte, surge o projeto de habitação social do aluno Teo Butenas Santos (Prof. Dr. Spadoni), cuja relação com o meu projeto e com o Parque Augusta em tudo se articula. A Rua Gravataí transforma-se numa praça, entre duas praças.


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Clement Tafin Casa de Cultura Gravataí

No começo tem um lugar central da cidade e a ideia que ele é alegoria da metropole inteira: variavel, diverso, complexo. A Gravatai não é se destaca, mas é vinculada com eixos maiores da cidade. Não é burguês nem muito popular, e apresenta grande mistura de funções e classes sociais Dai resolvi revelar ela, e no mesmo movimento criar uns espaços com potencial de muitos usos diferentes. Dividi o programa numa variação de formas-sintese da metropole. Articulando lo, escolhi o conceito «descascar», porque percebi o centro de São Paulo como uma fruta dura que primeiro esconde a sua beleza e o exprimi em três dinâmicas: para abrir a tem que impactar verticalmente; dai levar a casca lateralmente da baixo por cima, emfim deslizar horizontalmente o resto. Elas compem as partes maiores do projeto.

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Eileen Sambo Casa de Cultura Gravataí

Uma estrutura de aço, modulada de 6 em 6 metros, e balanços treliçados expressivos criam o volume revestido de vidro translúcido e aço, criando espaços abertos/fechados; cheios/vazios que se voltam para o fundo do lote. A junção da ausência de recuo na esquina e o térreo com planta livre integram o edifício ao passeio público. O programa se distribui de maneira vertical, separando os usos por andares, pensando sempre na necessidade de iluminação natural para as atividades. No subsolo duas áreas para apresentações, uma fechada e uma aberta. O espaço aberto é acessado a partir do nível da calçada através de uma escadaria/arquibancada. No último andar a biblioteca recebe toda a luz, mas conta com a tranquilidade por estar mais distante do nível da rua.


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ficha técnica

AUP0158 Prof. Dr. Álvaro Puntoni

AUP0162 Estúdio Gravataí volume III/V Prof. Dr. Alexandre Delijaicov Impressão: LPG FAU USP

Prof. Dr. Bruno Padovano

Prof. Dr. Angelo Bucci

Prof. Dr. Francisco Spadoni

Prof. Dr. Antonio Carlos Barossi

Prof. Dra. Helena Ayoub

Prof. Dr. Milton Braga

Prof. Dra. Marta Bogea

Prof. Dr. Rodrigo Queiroz

Prof. Dr. Oreste Bortolli

Andre Vitiello Bruna Bertucelli Bernat Pedro Paola Ornaghi

Número de páginas: 84 Papel capa: Reciclato 90g Papel miolo: sulfite 75 g Tiragem: 150

Estagiários PAE: Monitores de Graduação:

Tipologia: Helvética Neue

Carolina Oukawa Dalton Ruas

Formato: 31 x 22.5 cm Fotografias: Gal Oppido

Guilherme Pianca Monitores de Graduação: Juliana Stendard Mariana Caires Mariane Martins

A diagramação dos projetos foi realizada pelos monitores de Graduação e de Pós, a partir do material enviado pelos estudantes. O conteúdo das imagens e textos dos projetos é responsabilidade de seus autores. dezembro de 2015


índice remissivo

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projetos: sala 809 Anahí Noelia Sánchez Limache 162

Karin Kussuba 142

André Silva e Gabriela Oliveira 179,180

Kevin Carvalho 183

Astrid Fadnes 134

Laisa Campos Brianti 189

Beatriz Coelho 157

Larissa Yumi Ito Nissi 158

Bárbara Campelo 163

Letícia Berrocal 169

Clara Troia Homem de Mello 133

Letícia Brasil Freitas 178

Clement Tafin 191

Lígia Gimenes Paschoal 170

Daniel Felipe Outa Yoshida 164

Lina Maria Ayala 145

Debora Loturco da Silva 165

Lucas Cunha 160

Eileen Sambo 192

Lucas Piaia 154

Floriane Fauvel 166

Luisa Zucchi 159

Gabriel Corrêa 167

Luiza Amoroso 190

Giovanni Vespe 181

Lukas Hoshina 189

Giuliana Capusso Ermini 135

Mariana Brandão 147

Guilherme Torres Martins 136

Mariana da Silva Gonçalves

Heloisa Valarini 182

Mariana del Moro 146

IIana Malak 137

Marina de Mello Vieira 149

Ilka Joia 184

Marina D’Imperio Lina 148

Ivan Papaterra Lenogi 138

Marina Menossi Baptista 151

Jessica Carvalho Silva 161

Matheus Perelmutter 171

Jessica Crislei de Andrade 139

Miguel Oliveira Vale 190

João Bittar 140

Paula Savino S. Melo 173

Julia Camargo 141

Pedro Chiovetti 150

Julia Guibu Vannucchi 153

Theo Moraes Teixeira 177

Juliana Melo 168

William Chinem 152

estúdio gravataí - volume III



rodrigo queiroz francisco spadoni bruno padovano joana carla gonçalves guilherme wisnik joão sodré estudantes aup 158 e 162

publicação das disciplinas aup 158 e aup 162 fauusp 2015


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