AULA MAGNA NÚMERO ZERO . Outubro 2009 . Distribuição Gratuita . Mensal
RITA REDSHOES ENTREVISTA
OS EFEITOS DO RJIES+ BANDAS ESTUDANTIS+ NOVO TALENTO: ANDRÉ SOUSA+ CINEMA: REDE SOCIAL
ESTATUTO EDITORIAL
NÚMERO ZERO . OUTUBRO 2009
A revista Aula Magna é um órgão de imprensa estudantil. Feita por nós e para ser lida por nós, os estudantes. Vem para falar de nós, do que fazemos, do que procuramos, do que nos rodeia. Vem fazer tudo isso por dentro, não como algo que nos é oferecido, mas como algo que nos pertence.. Herdeira do espírito estudantil que se bateu pela liberdade de expressão num tempo em que ela não existia, a Aula Magna é um órgão de informação independente, isento e de qualidade. Nada do que é académico nos é indiferente, desde as políticas educativas e pedagógicas, passando pela produção científica e artística, até às festas, tunas e actividades recreativas. Atenta, crítica e fiel aos factos, esta revista é estudante do Norte, do Sul do país e das ilhas, é estudante do ensino universitário como do politécnico, do público como do privado. Este projecto acredita que nos falta a nós, estudantes, sabermos uns dos outros, do que andamos a fazer, do que se passa à nossa volta, para onde caminha o ensino superior e em que nos vai afectar essa caminhada. Se o reitor decidiu, nós queremos saber. Se o grupo de teatro nasceu, nós queremos divulgar. Se aqueles caloiros que estavam sempre no bar com as guitarras formaram uma banda, nós queremos dizer onde e quando é que eles vão tocar. Queremos ser a revista de tudo o que nos diz respeito e não do que outros acham que nos diz respeito. Juntamos aos nossos projectos-colegas da imprwensa estudantil, os recursos profissionais que não existiam, os meios que não estavam ao alcance, a abrangência nacional que não era possível, a colaboração com os professores e funcionários. Assim nos apresentamos, como somos e queremos ser: estudantes em formato de revista. A Aula Magna rege-se pelos princípios deontológicos e pela ética profissional dos jornalistas, respeitando a boa fé dos leitores. É um órgão isento e independente de todas as formas de poder político, económico, religioso e de quaisquer grupos de pressão. Procura sempre a verdade dos factos e a pluralidade das opiniões fundamentadas, separando sempre de forma clara uma e outra coisa. A Aula Magna é um órgão de informação sobre todo o ensino superior, um meio de propagação de ideias e de correntes de pensamento, um espaço de debate e reflexão livre, responsável e civilizado. A Aula Magna é um meio de dinamização e de divulgação do trabalho dos estudantes do ensino superior que aposta num sistema redactorial comunitário e aberto à participação de todos. A Aula Magna é um meio de dinamização e de divulgação do trabalho dos estudantes do ensino superior que aposta num sistema redactorial comunitário e aberto à participação de todos. A Aula Magna é um projecto de imprensa estudantil herdeiro da tradição académica e de associativismo estudantil, sempre defensora dos princípios da liberdade de expressão, da democracia, do respeito pelos direitos humanos, da igualdade social e da universalidade do ensino superior. A Aula Magna pugna pela ideia de Universidade (de onde não se exclui o ensino politécnico) enquanto centro de criação, transmissão e difusão de cultura e ciência de um país. Colabora, inscreve-te num dos nossos grupos ou entrega os teus textos e fotos através de www.aulamagna.pt
Parcerias:
FICHA TÉCNICA Direcção: Luís Oeiras Fernandes Consultores de Edição: Anick Bilreiro, Filipe Pedro, Luís Ricardo Duarte Redacção: Frederico Pedreira,Golgana Anghel (FLUL), João Pedro Barros, Virgílio A. P. Machados (FCT UNL), Consultores de Internet: Abílio Santos, Jorge Martins Direcção de Fotografia: José Miguel Soares Design Gráfico: Andreia Constantino, Bernardo Caldeira, Sílvia Matias. Agradecimentos: Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa; Prof. Doutor Aurelindo Ceia; Prof. Doutor Emílio Vilar | AEESD IPL | AEESM IPL | AEESTC IPL| AEESTS IPL | AEFBAUL | AEFFUL | AEFPCEUL | AAMDL Edição e Redacção: Magna Estundantil - Publicação S.A. Avenida Visconde Valmor, n.º41-2º Esq.1050-237 Lisboa Tel.21 780 02 80 Fax.21 780 08 82 | NIPC 508642558 Conselho de administração: Luís Oeiras Fernandes, Miguel Tapada, Vanda Matias Fernandes Impressão: Lisgráfica, Rua Consiglieri Pedroso, n.º90 Casal de Sta. Leopoldina, Barcarena Periocidade: Mensal | Tiragem 60 mil exemplares | Iniciado o processo de inscrição na APCT | Este projecto beneficia do apoio do programa Finicia e é participação pela Inovcapital. AULA MAGNA . EDITORIAL . 03
ÍN DI CE
04 ANFITEATRO
RIJES PARA OS ALUNOS PEDAGOGIA
10 ENTREVISTA RITA REDSHOES 14 MURAL
BANDAS ESTUDANTIS OPINIÃO REVELAÇÃO
23 GINÁSIO ESGRIMA
24 AUDITÓRIO GALERIA CINEMA DESTAQUES AGENDA
30 ENSAIO POÉTICO DIREITO A VOTAR
TEXTO João Pedro Barros FOTOGRAFIAS Diogo Santos
O novo regime jurídico já mexe com o funcionamento das instituições de ensino superior, deixando os alunos mais desprotegidos. Pelo menos, é isto que pensam várias personalidades ligadas ao meio estudantil. A Aula Magna faz as contas ao que vai mudar.
Os efeitos do RJIES
ESTUDANTES LONGE DAS DECISÕES José Soeiro acha que as instituições se vão tornar «mais agrestes» para os alunos ▶ Para uma grande parte dos alunos do
ensino superior, a sigla RJIES deve soar, na melhor das hipóteses, a um palavrão dito em croata. Aos medianamente informados, pode evocar mudanças no ensino superior. Os outros, muito provavelmente uma minoria, saberão do que se trata: Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior ou, trocado por miúdos, a mais profunda reforma do ensino superior desde a aprovação da Lei da Autonomia das Universidades, em 1982. Na teoria, o RJIES é uma extensa lei, composta por 185 artigos e aprovada na Assembleia da República a 19 de Julho de 2007, com os votos favoráveis do Partido Socialista e os votos contra de toda a oposição. O documento só agora começa a ter verdadeiras consequências no terreno, já que houve a necessidade de alterar os estatutos das universidades e institutos politécnicos e eleger os novos órgãos, como o Conselho Geral, que substitui o anterior Senado. O governo das instituições de ensino superior compreende ainda um Reitor/presidente (eleito pelo Conselho Geral) e um Conselho de Gestão. Nas faculdades, cai a Assembleia de Representantes (substituída por um órgão colegial com um máximo de 15 membros) e há ainda um director, um Conselho Científico AULA MAGNA . ANFITEATRO . 05
e um Conselho Pedagógico. As mudanças estruturais são estas, mas, na prática, em que é que mudam a vida de um estudante? As personalidades contactadas pela revista Aula Magna para comentar o assunto destacaram, sem excepção, o decréscimo da representatividade dos alunos nos órgãos de governo dasinstituições. Sublinharam também a evidência: o novo regime deixa-os mais desprotegidos na defesa dos seus pontos de vista, na maioria das situações. Porém, discordaram quanto à relevância que estas alterações possam ter no seu dia-a-dia. Para André Moz Caldas, eleito para o Conselho Geral da Universidade de Lisboa (UL) e membro do Núcleo de Estudantes Socialistas da Faculdade de Direito da UL, o RJIES apenas se sentirá «muito a jusante», uma opinião compartilhada por Negesse Pina, vice-presidente da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv). Do lado oposto está José Soeiro, que, com 24 anos, foi até Julho o mais jovem deputado da Assembleia da República, pelo Bloco de Esquerda. O sociólogo, que fez parte do Senado da Universidade do Porto (UP) durante dois anos, acha mesmo que as instituições se vão tornar «mais agrestes» para os alunos.
No novo conselho geral, com três ou quatro votos, os estudantes quase não vão ter peso para propor (...) matérias. Pedro Barrias
Bruno Carapinha
Membro do Comité Executivo da Associação de Estudantes Europeus (ESU) O RJIES é como dizer aos estudantes: «deixemse lá de manifestações, de discutir a política geral das universidades, e estudem». Para mim, isto é uma visão retrógrada do papel das universidades. Há uma tentativa de arrumar a casa, de reunir responsabilidades espalhadas e competências conflituantes, mas elas continuam a existir.
Pedro Barrias
Antigo presidente da Federação Académica do Porto (FAP) Os estudantes deixam de ter margem para discutir algumasmatérias no Conselho Geral. Em algumas questões ainda podem ter uma minoria de bloqueio, algum poder de decisão, mas na maioria delas não terão peso quase nenhum.
Ricardo Pinto
Presidente da Federação Nacional das Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico Era necessária uma mudança de paradigma no ensino superior português, mas não concordamos com a falta da participação estudantil na sua gestão. As personalidades exteriores devem participar nos conselhos gerais, são os reais empregadores, mas achamos que oseu peso é demasiado. Pela minha experiência, não há assim tantas pessoas de mérito interessadas em participar.
ÓRGÃOS MAIS PEQUENOS E FUNCIONAIS O RJIES toma uma orientação clara: retirar a classe discente (ou reduzir fortemente a sua presença) dos órgãos que tomam as opções estratégicas das instituições. «Ficamos com órgãos mais pequenos, funcionais e dinâmicos, mas também menos democráticos», considera Moz Caldas, que reconhece que havia um problema de sobredimensionamento. «Há uma tentativa de arrumar a casa, de reunir responsabilidades espalhadas e competências conflituantes», acentua Bruno Carapinha, estudante de doutoramentoem Ciência Política na UL, e membro do Comité Executivo da Associação de Estudantes Europeus (ESU). O dirigente pensa que se passa de um processo de decisão «lento» e gerador de consensos para outro «ágil e muito organizado», mas que pode gerar «conflitos e situações de boicote». A composição do Conselho Geral, onde a representação dos alunos (mínimo de 15 por cento) é cerca de metade da das personalidades externas (mínimo de 30 por cento) é o principal alvo das críticas. No Senado, os estudantes tinham paridade com os docentes e investigadores, agora estes ocupam, obrigatoriamente, mais de metade dos lugares. E os alunos que não se preocupam com a gestão da sua universidade ou faculdade, vão sentir a diferença? «É mais do que evidente que o novo modelo está mais preocupado na obtenção de receitas e lucros, deixando de lado tudo o resto, como as actividades lúdicas, as cidadanias activas», observa Bruno Carapinha. José Soeiro antevê que as universidades e politécnicos se vão tornar em locais de «prestação de serviços a quem pode pagá-los», em vez de serem um «lugar de acesso a formação e conhecimento», com cursos ou programas dirigidos à comunidade. O antigo dirigente estudantil dá conta de casos em que a força dos alunos nos órgãos da universidade foi decisiva: «Fiz parte de um Conselho Directivo onde os estudantes conseguiram travar o processo de subida das propinas, e de uma Assembleia de Representantes onde conseguimos fazer passar uma resolução que permitia aos estudantes divulgar os seus materiais e cartazes, que tinham sido retirados», relata. Pedro Barrias, presidente da Federação Académica do Porto (FAP) durante dois anos (2006 e 2007) acrescenta mais uma preocupação: «No Senado da UP éramos 42 alunos. No novo conselho geral, com três ou quatro votos, os estudantes quase não vão ter peso para propor, quanto mais discutir, matérias relativas, por exemplo, ao estatuto de atleta de alta competição ou dirigente associativo».
Ficamos com órgãos funcionais (...) mas também menos democráticos. André Moz Caldas
E HÁ VANTAGENS? Apesar das críticas, a FAP manifestou uma «posição concordante», na generalidade, com o RJIES, por «permitir alguma autonomia das universidades». Também a AAUAv, diz Negesse Pina, «não é contra». «Mas acreditamos que três alunos não conseguem representar a voz dos 12.000 que estudam em Aveiro. É uma questão democrática, nem queremos paridade», salienta. É caso para perguntar: há alguma vantagem para os alunos? Os inquiridos neste artigo consideram, de uma forma genérica, que há um reforço de poderes do Conselho Pedagógico, onde se mantém a paridade com os professores. «É mais fácil tratar das questões curriculares», admite Pedro Barrias. André Moz Caldas salienta o facto do órgão passar a ter competências para aprovar o regulamento de avaliação do aproveitamento dos estudantes.
É mais do que evidente que o novo modelo está mais preocupado na obtenção de receitas e lucros, deixando de lado tudo o resto, como as actividades lúdicas, as cidadanias activas.
O provedor é uma espécie de gabinete de apoio ao cliente. Não é isso que as associações e os estudantes pretendiam. É o rec no à comunidade académica.
Manifestação estudantil - Cidade Universitária, Lisboa, 1964
Estudantes perdem peso na eleição.
No entanto, lamenta-se o facto do organismo ter um carácter essencialmente consultivo. A AAUAv defende mesmo que as suas decisões «deviam ser vinculativas», de forma a «garantir que aquilo que se decide num órgão paritário tem reflexo no Conselho Geral». Para Pedro Barrias, o Conselho Pedagógico acaba por ser vinculativo «na prática», porque «há muitas questões que só ele é que trata». Ainda assim, a ausência, no papel, de um poder «vinculativo ou executivo» impede o órgão de tomar decisões, por exemplo, no caso de «um professor que maltrata um aluno». «Aí, o que se pode fazer é remeter o caso para o Conselho Científico ou Executivo», explica. Bruno Carapinha tem um olhar mais crítico sobre as novas competências do Conselho Pedagógico, classificando o órgão, na prática, como «esvaziado de poder»: «Qualquer implicação financeira, ou interligada com a área científica, não é aplicada. Há um boicote dos Conselhos Científicos e Directivo», acusa. Uma segunda mudança potencialmente favorável é a criação de um provedor do estudante, «cuja acção se desenvolve em articulação com as associações de estudantes», lê-se na lei. Porém, a AAUAv é contra os moldes desta figura, e Bruno Carapinha volta a não poupar críticas: «O provedor é uma espécie AULA MAGNA . ANFITEATRO . 07
de gabinete de apoio ao cliente. Não é isso que as associações e os estudantes pretendiam. É o reconhecimento de que o estudante passa a ser um elemento externo à comunidade académica». Há ainda um novo regime disciplinar do aluno, aplicado pelo reitor ou presidente, e que substitui o decreto de 1932 que ainda vigorava. A pena de expulsão aí prevista é eliminada, e Pedro Barrias julga que há um maior «rigor» e «responsabilização» dos alunos. «Fiz parte da secção disciplinar do Senado, e era muito difícil sancionar alguma coisa, a lei era muito omissa». O novo regime prevê ainda a possibilidade das universidades se transformarem em fundações públicas de direito privado, o que lhes permitirá uma maior autonomia. Para André Moz Caldas, a passagem do direito público para o direito privado pode trazer «muitas diferenças em termos de relacionamento» com os alunos. Mas isso já são contas para outro artigo. No imediato, sobra alguma indignação – «não concordamos com a forma como a mudança foi feita, como se os alunos fossem os culpados do estado do ensino superior», lamenta Negesse Pina – e um alerta de Bruno Carapinha para as instituições: «Andamos entretidos com isto há um ou dois anos, e não fazemos o que devia ser feito em termos educativos». •
Pedagogia
ABAIXO ASSINADO
Os alunos, abaixo assinados, do 1.º ano dos cursos de […] desta universidade […], onde foram admitidos, tornando assim impossível o acesso à universidade de outros candidatos, vêm, por este meio, manifestar-se contra as medidas repressivas, de que têm sido alvo, da parte do prof. Virgílio Machado. ▶ O prof. Virgílio Machado chegou já
Virgílio A. P. Machado
Prof. da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa
O estado de embrutecimento intelectual em que nos encontramos, não nos permite participar ou acompanhar a discussão de qualquer assunto dentro do âmbito da disciplina ou pertinente para a nossa formação.
ao ponto de ameaçar impedir-nos de cometer fraudes nos testes. Impede-nos, assim, de nos iniciarmos numa prática que tencionamos aperfeiçoar durante o nosso curso e na nossa vida profissional, que é a de actuarmos, o mais possível, desonestamente, tornando a fraude, o suborno e a corrupção generalizada, parte do nosso dia-a-dia. Procuraremos, assim, amassar fortunas, não como fruto do nosso trabalho e do desenvolvimento do bem-estar geral, mas de processos que permitam apropriarmo-nos daquilo que não nos pertence e de técnicas de dissimulação que construam as nossas riquezas à custa da miséria dos outros. A fraude nos testes é, além do mais, um processo que nos permite manter o subdesenvolvimento das nossas faculdades intelectuais. Não queremos correr o risco de nos habituarmos a responder a questões que nos são postas, analisando-as à luz dos nossos conhecimentos. Também não queremos ser obrigados a ter a franqueza de admitir que não sabemos. Queremos, pelo contrário, mostrar que temos conhecimentos que não possuímos. Faremos assim, aquilo que esperamos vir a fazer pela vida fora: dar a perceber, aos nossos empregadores e aos nossos subordinados, que somos muito mais sabedores do que realmente somos, criando, assim, não uma relação de respeito mútuo, mas de venaração, como génios intelectuais. Para esse fim, achamos mais próprio apropriarmo-nos do trabalho dos outros, dando respostas que são deles, que não sabemos, nem percebemos, fossem nossas. O prof. Virgílio Machado exige, também, que sejamos pontuais às aulas e não se coíbe de assinalar quando não comparecemos ou chegamos atrasados. Ora, nós somos contra o regime de faltas. Não porque seja des- necessário, por só faltarmos por motivo de força maior, mas porque achamos que as faltas ficam a atestar o nosso desinteresse em participar na vida académica. As faltas obrigam-nos a fazer o sacrifício de frequentar as aulas, de conviver com colegas e professores. Nas aulas temos de ouvir falar de assuntos em que não estamos minimamente interessados. Nós não queremos saber nada do que se passa nas aulas. Achamos que não temos qualquer contributo a dar nas aulas. O estado de
QUEREMOS É ACABAR O CURSO! AULA MAGNA . ANFITEATRO . 09
embrutecimento intelectual em que nos encontramos, não nos permite participar ou acompanhar a discussão de qualquer assunto do âmbito da disciplina ou pertinente para a nossa formação. Não nos sentimos capazes de dirigir qualquer questão ao prof., porque temos receio de cair no ridículo de perguntar qualquer coisa que possa interessar aos outros ou de elucidar dúvidas que também existam no espírito dos colegas, ou pedir um esclarecimento que, na verdade, o prof. devia ter dado, mas que, eventualmente, se tenha esquecido de dar. Temos, também, o direito de chegar atrasados, quando muito bem entendermos. Não queremos deixar de contribuir para que esta nossa terra continue a ser um país atrasado. Pela nossa vida fora, queremos continuar a não respeitar quaisquer horários ou compromissos. No nosso futuro emprego, tencionamos, aliás, iniciar o trabalho sempre fora de horas, dando, assim, o exemplo a todos os nossos su- bordinados e ao operariado em geral. Não tencionamos, nunca, respeitar horas marcadas para encontros, reuniões, negócios ou quaisquer actividades profissio- nais ou privadas, contribuindo, assim, para grandes prejuízos, para todos, em tempo perdido, esperas inúteis e evitáveis. Além do mais, o prof. Virgílio Machado pretende que nos mantenhamos em silêncio nas aulas, quando ele se nos dirige ou um colega faz qualquer intervenção. Obriga-nos, assim, a dar provas de uma educação que não possuímos, a um respeito pelos outros que não temos. Achamos que, nas aulas, devemos poder falar do que muito bem entendermos, uns com os outros, fazendo a algazarra necessária para nos fazermos ouvir no meio da confusão geral, tal qual um grupo de ébrios numa taberna. Outro processo não há, aliás, de impedir que aqueles que estão interessados possam acompanhar as aulas, desmotivando-os de fazerem um estudo sério e incentivando-os a aderirem à mediocridade geral. Assim, e resumindo, porque o prof. Virgílio Machado insiste em que nós temos que estudar, desenvolver qualidades de trabalho, de integridade pessoal e consciência profissional para as quais não estamos vocacionados, nem é para isso que estamos cá, pedimos a sua imediata substituição por outro que nos dê uma boa nota no fim do ano e nos chateie o menos possível. •
TEXTO Jo達o Pedro Barros FOTOGRAFIAS Diogo Santos
Entrevista
A FABULOSA DETERMINAÇÃO DE
RITA REDSHOES Foi estudante de Música e de Psicologia. Desiludiu-se com a primeira, reencontrou-se com a segunda. Pelo meio, aprendeu a redifinir objectivos e a partir imediatamente para a luta. O percurso universitário de Rita Redshoes, uma das vozes mais destacadas da actualidade, tem uma única nota dominante: determinação. Mesmo quando um exame se revela mais difícil que um concerto.
Tudo está bem quando acaba bem
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, diz uma conhecida peça de teatro de Shakespeare.No entanto, para Rita Redshoes, nascida em Loures, em 1981, o caminho até ao final nem sempre foi fácil. Depois de vários anos a lutar por aquilo que considerava um dos sonhos da sua vida (entrar na Escola Superior de Música), não resistiu ao choque de linguagens que teve. De um momento para o outro, viu-se sem chão e sem futuro. Ficou deprimida. Procurou ajuda. Parecia uma tragédia para quem, desde pequena, sempre mostrou tendência para as artes. Mas transformou-se numa epopeia em vários actos, cujos pontos altos são a licenciatura em Psicologia e, mais recentemente, o lançamento da sua carreira musical, com o disco Golden Era. AULA MAGNA . ENTREVISTA . 11
Não posso dizer que seja uma pessoa atenta ao exterior. Centro-me mais no que se passa dentro de mim, no que posso fazer, da forma mais perfeccionista possível.
Com este álbum e com tantos concertos que tens dado, pode dizer-se que estás a viver uma Golden Era? Sim, de certa forma… Não que alguma coisa tenha mudado na minha vida ou na minha cabeça. Mas ter tornado real a possibilidade de tocar e cantar, e ainda por cima com uma boa receptividade, faz com que esteja, de facto, a viver um período dourado. Se calhar, para o público, aconteceu tudo rapidamente. Para mim não. Foram quase oito anos a trabalhar neste disco. É um sonho tornado realidade? E também a minha auto-realização. O que acaba por dar sentido a tudo o que fiz. Pode parecer um pouco dramático, mas a música é muito importante para mim. Passo 24 horas de cada dia a ouvila, a interpretá-la e a pensar nela. Nesse sentido, assemelha-se a um mundo privado, a que poucas pessoas tinham acesso, que de repente se abriu. E é fácil viver-se com a realização de um sonho? Não posso dizer que seja uma pessoa atenta ao exterior. Centro-me mais no que se passa dentro de mim, no que ainda posso fazer, da forma mais perfeccionista possível. Realizar um sonho tem a ver com isso. Antes do lançamento de Golden Era, estava inquieta porque não sabia se viria a realizá-lo, nem se iria ter sucesso para poder continuar a tocar, que é o meu objectivo. Agora, quando me sento no sofá à noite, tenho a calma de ter cumprido pelo menos essa parte. A inquietação, porém, não diminuiu e chamame a atenção para coisas que desconhecia. Sou uma pessoa ambiciosa e gostava de conquistar outros sonhos, porque sei que me vão fazer feliz.
Não posso dizer que seja uma pessoa atenta ao exterior. Centrome mais no que se passa dentro de mim, no que posso fazer, da forma mais perfeccionista possível
Que outras conquistas são essas? Gostava de poder tocar em mais sítios, não só em Portugal, e que o disco também fosse vendido noutros países. No fundo, fazer disto a minha vida. Andar pelo mundo, porque gosto muito de viajar. Olhando para trás, consegues descobrir o segredo do teu sucesso? Talvez a honestidade, na vida pessoal e profissional. E este é um disco muito honesto. Nunca me passou pela cabeça optar por um determinado som para vender mais. O ponto de partida nunca pode ser esse, tem de ser um mundo interior.
Quando é que percebeste que esse mundo interior passava pela música? É a história que se conta muitas vezes: desde pequenina que gostava de música. Tocava, cantava e dava grandes secas à minha família com performances. Era, como diziam os meus pais, uma criança virada para as artes. A certa altura, achei que queria ser bailarina, e acabei por estudar ballet durante oito anos. Depois houve um período em que não estive ligada a nada. Até que o meu irmão comprou uma bateria, o que começou a mexer comigo. Sempre que ele não estava em casa eu tocava. Nessa época, também havia um grupo de teatro na minha escola, que fazia peças muito giras. Não pensava ser actriz, porque sou tímida para falar em público, mas como sabia tocar achei que provavelmente me aceitariam. Foi o que aconteceu. Fiz a banda sonora de um espectáculo. Na primeira vez que toquei em público, pensei: «Hum, isto é muito giro». Percebi que havia ali algo que podia explorar, mesmo não sabendo como. Mais tarde, num ensaio da banda do meu irmão [Atomic Bees], o vocalista faltou. Como sabia as músicas todas de cor, substituí-o. E fui ficando. A partir daí, dos 14 anos, nunca mais deixei essa ideia. Aliás, sou muito obstinada e convenci os meus pais a inscreverem-me numa escola de música.
Este percurso fez de ti uma militante antimúsica clássica? Não, de todo. Num certo sentido, o que eu aprendi na formação clássica ainda me serve para muita coisa, como resolver problemas técnicos, vocais ou de composição. Embora eu não recorra a essa aprendizagem conscientemente, sei que me abriu o leque de possibilidades. As pessoas devem estudar o mais que conseguirem, sem, no entanto, abdicarem da sua identidade e autonomia. É o que faz a diferença. Como surgiu depois a Psicologia? Com a desistência da ESM, fiquei deprimida, como qualquer adolescente que não vê um futuro à frente. Mas ao mesmo tempo, não me deixei acomodar. Fiz psicoterapia, pois precisava de falar, e apaixonei-me pelo processo, que culminou num enorme enriquecimento pessoal. Quis saber mais do método, como é que a minha psicóloga chegava àquelas conclusões e era capaz de me analisar daquela maneira. Aos 21 anos, depois de ter tirado um pequeno curso de marketing musical, entrei no Instituto Superior Psicologia Aplicada (ISPA).
(...) HÁ SEMPRE UM EQUILÍBRIO ENTRE DIFICULDADE E PRAZER QUE ME DÁ VONTADE DE FAZER MAIS
Tiveste essa formação profissional no secundário, mas depois a passagem pela Escola Superior de Música não correu bem. Porquê? Por um lado, como comecei tarde a estudar música, tive de fazer um esforço redobrado no secundário. E na verdade nunca consegui acompanhar o ritmo. Por outro, o ensino da ES-Música do IP-Lisboa era demasiado fechado para mim. Eu vinha da pop, um universo mais livre e com mais piada. Mesmo tendo estudado canto lírico no secundário, senti um choque de linguagens, como se estivessem a formatar-me. Nunca me habituei a essa sensação. Foi uma decisão complicada a que tomei, porque tinha sido muito difícil entrar na Escola Superior de Música, estudar e fazer em quatro anos o trabalho de sete. Musicalmente, foi um processo muito produtivo, porque compus imenso nessa altura, mas também muito conturbado. Foi uma coisa má que acabou por se tornar boa? Sim. Fiz a minha escolha e desisti da Escola Superior de Música. Naquela idade complexa dos 18 anos, no final da adolescência, foi um bocado complicado não ter seguido o caminho que pensava ser o melhor para mim e ver-me obrigada a optar por outro. Marcou-me muito. Uma prova de fogo à tua determinação. Sobretudo com todos os meus amigos a estudar e eu sem saber o que fazer. Tive a sorte de o David Fonseca ter ouvido o disco da banda do meu irmão. Gostou e convidoume para integrar a banda do seu projecto a solo. Foi muito importante para mim e um momento de viragem.
Nunca descobriram o teu talento? Não… Porque eu também não me expunha. Pela tua experiência, é mais difícil fazer um exame ou dar um concerto? Depende do exame… Se for de Estatística, o mais difícil é mesmo o exame. Não é fácil responder, mas os concertos dão-me muito mais gozo. De longe. Por mais difíceis que sejam vários aspectos dos concertos, e alguns são, há sempre um equilíbrio entre dificuldade e prazer que me dá vontade de fazer mais. Acabaste recentemente o estágio. A experiência correspondeu às expectativas? Plenamente. Coincidiu com o período de lançamento do disco e de grande exposição, pelo que comecei com algum receio, pois não sabia como as pessoas iam reagir. Claro que há muitos psicólogos que são figuras públicas, mas queria que a minha pessoa interferisse o menos possível. Foi uma experiência muito curiosa e interessante, um apanhado do que tinha aprendido em quatro anos e também a altura em que estive mais próxima do que me levou a tirar o curso de Psicologia. Na verdade, é preciso saber muito para se ser bom nesta área. Ajudoume ter vivido algumas coisas. Não sei se vou exercer, não é algo que tenha presente neste momento, mas é um grande desafio. É pena que nas conversas do dia-a-dia haja uma ideia errada da terapia. É tudo menos esotérico. E a música também é terapêutica? Há estudos que dizem que sim, na linha da musicoterapia. Não é, contudo, uma área que me interesse particularmente, porque como tenho uma ligação à música acho que não conseguiria separar as coisas. Mas para mim, de certa forma, é uma terapia, como provavelmente para muitos músicos. Talvez por ter um sentido transcendente, que mexe AULA MAGNA . ENTREVISTA . 13
com a criatividade ou com um imaginário menos real e pragmático. Tudo o que nos eleva um bocadinho tem sempre essa componente terapêutica, libertandonos para explorar outras coisas. Há quem passe muitos anos na faculdadde nunca aprenda como é que isso se faz. Também não tenho uma fórmula. Mas aprendi a separar as minhas actividades. Olhava para a agenda e pensava: «Quero fazer estas duas coisas, sem as comprometer». Quando começava uma, só pensava nela, deixando a outra de lado. Esse rigor e essa precisão foram-me muito úteis. Porque a música é essencialmente isso, não sair da nota? Claro. Além disso, um músico não se pode cansar de tocar 20 vezes a mesma canção. De outra forma, não pode ser músico. A repetição e a separação de campos são elementos muito importantes. É como tocar piano a duas mãos, cada uma a fazer o seu trabalho, ou cantar e tocar bateria ao mesmo tempo. O que aprendi rapidamente foi: «Se tenho uma frequência, vou estudar para ela, só a seguir vou tocar». O curso também me permitiu ter algo além da música. Qual é agora o teu escape? Não tenho. É terrível. Acordo a meio da noite a pensar em e-mails ou na preparação dos espectáculos. Neste momento, estou muito centrada na divulgação do disco, não posso estar dividida. E de onde vêm os sapatos vermelhos? Têm a ver com o imaginário do Feiticeiro de Oz, com algo ingénuo e sonhador, e com o lado mais feminino dos sapatos vermelhos, sexy e um bocadinho rock n’ roll. Uma música do Bob Dylan aborda precisamente isso, ao falar de uma personagem que age como uma mulher, mas depois chora como uma menina. Também eu salto de mulher para menina, tenho isso tudo dentro de mim. Interessa-me explorar esses universos imagéticos distintos. O que sobressai nos teus telediscos. Precisamente. Mais do que me esconder atrás deles, estes são elementos que mostram a forma como componho e vejo as minhas músicas. Não há propriamente uma história, mas um ambiente. Um conjunto de referências, cores e situações que fazem parte do meu universo musical.•
Naquela idade complexa dos 18 anos, no final da adolescência, foi um bocado complicado não ter seguido o caminho que pensava ser o melhor para mim e ver-me obrigada a optar por outro. As pessoas devem estudar o mais que conseguirem, sem, no entanto, abdicarem da sua identidade e autonomia. É o que faz a diferença.
TEXTO Frederico Pedreira FOTOGRAFIAS Filipe Mateus ILUSTRAÇÃO João Fazenda
As faculdades e os institutos politécnicos são viveiros onde nascem os mais variados projectos musicais. E todos temos um amigo que pertence a um. As bandas com estudantes não são mais apoiadas porque ninguém dá apoios ou porque ninguém os sabe pedir?
Bandas Estudantis
FAZER DA UNIVERSIDADE UM PALCO ▶ Foi numa praxe académica que Mafalda Arnauth, então caloira
de Veterinária, acedeu ao pedido para cantar um fado. O tema de Amália Rodrigues, Triste Sina, desbravou-lhe o caminho para uma promissora carreira nos palcos e para a edição de seis discos, sendo o mais recente Flor de Fado. Muitos são os artistas e bandas, nacionais e internacionais, que se desenvolveram num ambiente universitário, aprimorando os seus ímpetos criativos através de um intenso percurso estudantil. Se Mafalda Arnauth assistiu ao traçar do seu destino numa praxe, a vocalista dos Deolinda, Ana Bacalhau, desencantou-o no ambiente descontraído do Bar Novo da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). Foi na véspera de mais um concerto e na «correria típica destes dias» que explicou como conheceu Dídio Pestana e Gonçalo Tocha, os músicos com quem viria a formar a sua primeira banda, os Lupanar: «Participava sempre que havia uma sessão de Karaoke e, além disso, pedia para cantar a capella uma música da Janis Joplin.» Havia também um núcleo de rádio para o qual contribuía com um programa de música semanal. É por isso que Ana Bacalhau acredita que o contexto universitário foi fundamental para o seu AULA MAGNA . MURAL . 15
desenvolvimento artístico e para o a da banda: «Partilhávamos o interesse pela Língua Portuguesa, pela música, e achámos que nos poderíamos juntar e criar um grupo que trabalhasse diferentes linguagens musicais», afirma. Começaram por ensaiar em casa de Dídio Pestana, mas durante o ano lectivo de 2000/2001 decidiram aumentar o número de músicos para sete. Desta forma, passaram a ocupar as salas de aula da FLUL com ensaios acústicos. Em 2002, os Lupanar continuaram a crescer e a Reitoria da Universidade de Lisboa, atenta às iniciativas de índole criativa, mostrou-se interessada na banda. O auge do início de carreira seria atingido com um espectáculo para cerca de 800 pessoas na Aula Magna da Universidade de Lisboa. Ana Bacalhau diz que este concerto foi «crucial» para o desenvolvimento dos Lupanar. «Nunca poderíamos suportar sozinhos todos os custos financeiros, logísticos e humanos que fazer um espectáculo naquele espaço implica.» Apoio idêntico tiveram, em 2005, para a edição de autor do primeiro álbum da banda. Os Lupanar angariaram outros financiamentos, mas foi a associação de estudantes da FLUL a assegurar o material promocional, como postais e cartazes.
Se não existir uma iniciativa clara das vossas associações de estudantes no sentido da promoção de acções culturais, que as proponham os músicos, as bandas, os fãs. apela
Ana Bacalhau
O PAPEL DAS ASSOCIAÇÕES Os Lupanar constituem um bom exemplo de como uma banda estudantil, com um ou mais membros a frequentarem o ensino superior, pode singrar nos circuitos comerciais da música optando, numa primeira etapa, pela divulgação académica e pelos apoios universitários. Surgem então as questões: como se procuram estes apoios e quem pode ajudar? Para Pedro Barros, dirigente associativo da FLUL entre 1994 e 1997, não poderá ser uma AE a assumir o apadrinhamento das bandas, o que acabaria por resultar numa pré-definição estética dos grupos ou na criação de «boybands ou girlbands». No entanto, sublinha o papel fundamental da estrutura universitária para acolher projectos e iniciativas musicais. Nesse sentido, é essencial as bandas entregarem nas AE um «dossier de apresentação do grupo», onde deve constar uma maquete. «Acima de tudo, o que vai seduzir é o projecto musical», afirma. É importante também incluir «uma biografia dos músicos», na medida em que esses elementos podem «chamar à atenção», através, por exemplo, de uma colaboração com um artista de renome ou o trabalho demonstrado numa área artística diferente. Os membros da banda devem assim «seleccionar os elementos mais fortes», sabendo que serão estes a despertar a curiosidade das associações de estudantis. «Não basta dizer que a música é interessante», diz Pedro Barros. Outros aspectos que fazem a diferença são «a linha gráfica da maquete e um bom texto de apresentação da banda». E os contactos com a imprensa.
As bandas devem também estar a par «do fecho das agendas dos jornais para anunciar os concertos a tempo», para além de «fazerem um apanhado dos jornalistas que escrevem sobre música», tendo em conta as áreas de especialização de cada um. «Depois, é enviar os press-releases e as maquetes ao cuidado dessas pessoas», explica Pedro Barros. Vice-presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e organizador de um torneio de bandas universitárias, Tiago Veríssimo acredita que é possível dar apoio a bandas que tenham um projecto bem estruturado, incluindo as autorizações necessárias, por parte do Conselho Directivo, para alugar um espaço da universidade para ensaios. Foi o que a associação de estudantes fez para a tuna, a quem foi atribuído uma sala num dos pavilhões da faculdade. Para este dirigente, a primeira acção que as bandas devem tomar é apresentar um projecto na associação de estudantes seguindo os critérios da «concisão e credibilidade». Assim, no portfólio da banda «devem constar dados simples, como o número de membros, há quanto tempo se juntaram, que instrumentos usam, descrevendo o tipo de música e a quem pode interessar, anexando também um historial de concertos». Tiago Veríssimo afirma já ter uma considerável experiência no contacto com músicos, mas num circuito comercial exterior à universidade. Conclui que, com uma abordagem informada por parte da banda, os responsáveis pelos espaços «ficam quase obrigados a aceitar os pedidos que forem feitos».
Stencil - Banksy
as bandas devem ter , objectivos bem delineados quando procuram a ajuda da sua universidade e saberem que tipo de apoios precisam. diz
A ATITUDE DAS BANDAS Agora jornalista na Agência Lusa, Filipe Pedro colaborou activamente na revista estudantil Subcave, onde se empenhou na divulgação de bandas portuguesas em início de carreira. Recordando o caso dos Ornatos Violeta, «que viviam todos juntos quando se formaram», e dos Zen, «que surgiram de jam sessions ocasionais e de uma mescla de diferentes bandas», sublinha a importância do convívio universitário. «É necessário criar uma rede de contactos e uma componente intelectual que seja comum aos membros da banda», afirma. No entanto, para obter apoios, as bandas devem «ter objectivos bem delineados» quando procuram a ajuda da sua universidade e «saberem que tipo de apoios precisam e o que pretendem conseguir através deles». «Para cada fase de desenvolvimento da banda corresponde um tipo de apoio diferente», lembra. Mas nem todo o trabalho de promoção deve ser feito pelos músicos. Da sua experiência, Pedro Barros pode afirmar que «não há uma política de incentivo» por parte das entidades soberanas do meio universitário. Aquilo que há são «as festas do caloiro e semanas culturais.» Destaca a necessidade das próprias associações de estudantes «olharem para o que está à sua volta, saírem mais à noite e procurarem projectos interessantes que possam ser integrados em espectáculos organizados pelas faculdades». Considera «inacreditável» que, por exemplo, a Associação Académica da Universidade de Lisboa tenha convidado novamente Quim Barreiros para a festa do caloiro deste ano, quando há projectos mais pequenos mas de qualidade superior. «Pegar em coisas interessantes feitas
Filipe Pedro pelos alunos das universidades» é o que propõe para uma melhoria da programação desses concertos. Ana Bacalhau completa a questão com um incentivo aos leitores: «Se não existir uma iniciativa clara das vossas associações de estudantes no sentido da promoção de acções culturais, que as proponham os músicos, as bandas, os fãs». Todo o processo de obtenção de apoios pode revelar-se complicado, e por vezes até frustrante. Como Tiago Veríssimo explica, um dos factores negativos é o Orçamento de Estado, que torna quase impossível um maior investimento nas actividades cultu-rais: Hugo Barros, produtor freelancer e habitué na produção de concertos na Aula Magna da Universidade de Lisboa, completa o cenário menos propício: «Nas AE há um processo burocrático pesado, e as poucas pessoas que dela fazem parte têm de passar o tempo todo a tentar segurar a própria estrutura». No entanto, há todo um trabalho de promoção interna, incluindo a tarefa incansável que Pedro Barros denomina de «bater a todas as portas», que a banda deve desenvolver e que, tal como sucedeu com os Lupanar, pode abrir caminhos auspiciosos. E é de bom grado que Ana Bacalhau se lembra dos incentivos prestados pela FLUL aos Lupanar, que se revelaram «essenciais», «quer em termos logísticos, como em termos de promoção e do boca-a-boca». Revela-se então essencial uma vontade inabalável das bandas para se auto-promoverem, até porque alguns apoios são realmente possíveis. Filipe Pedro concorda que todo o processo de obtenção de apoios universitários «não é uma batalha fácil», mas que é fundamental as bandas «acreditarem» em si mesmas.•
NÃO HÁ DINHEIRO NEM PARA O MATERIAL NECESSÁRIO PARA AS AULAS
AULA MAGNA . MURAL . 17
Bandas Estudantis
OPINIÃO PÚBLICA
Mário Lourenço
Carlos João e Carolina Costa
André Martins
Membros da AE FCT
F. Belas Artes da U-Lisboa
Nada se compara à FEP Street, que anima a semana de recepção ao caloiro da AE da Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
Muita música, bar aberto ou happy hours e temas sempre diferentes. São as «famosas» noites académicas da FCT.
O toque artístico é uma das imagens de marca das noites de Belas Artes.
▶ FEP Street e Baconal
▶ As noites do GANK
▶ No convento de Belas Artes
Não perde uma. Por mais festas que tenha no currículo, nada se compara à FEP Street, que anima a semana de recepção ao caloiro da AE da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (UP). «É uma festa que chama muita gente, tem boa música e um óptimo ambiente», assegura Mário Lourenço. Este ano, a FEP Street realizou-se na discoteca Via Rápida, com música a cargo da dupla Funkyou e dos Dj Luís Santos e Nuno Beleza. «Imperdível», garante. Mário Lourenço também não falta às festas que organiza, enquanto presidente da AE da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Instituto Politécnico do Porto. E não vai faltar, dia 20 de Novembro, a mais uma edição da All You Need is Vougue. Mas, a norte, a oferta é grande. E o cardápio de festas não ficaria completo, diz, sem uma referência à Baconal, a festa da Faculdade de Medicina da UP. É remédio santo. •
Às quartas-feiras, de 15 em 15 dias. O ritual repete-se na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT UNL). Carlos João e Carolina Costa marcam presença sempre que podem. Muita música, bar aberto ou happy hours e temas sempre diferentes. São as «famosas» noites académicas organizadas pelo Grupo Académico Nús Koppus, conhecido por GANK. Não terão seguramente o glamour de outros espaços, nem a promoção de outras iniciativas, como a Gala Anual da AE da FCT UNL, no Buddha Bar, em Lisboa. Mas a sua regularidade cativa muitos adeptos, garantem Carlos João e Carolina Costa. E a «originalidade» também. No 29.º aniversário da AE FCT UNL, assinalado no passado dia 12, houve um pouco de tudo. Magusto à tarde, porco no espeto ao cair do dia, promoções para quem foi trajado e música pela noite dentro. A última, antes das férias do Natal, é dia 26 de Novembro. •
Soaram aleluias quando o Conselho Directivo da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa voltou atrás na decisãode suspender as festas dentro do edifício. É que não há festa como esta, garante André Martins. «Como a faculdade fica num antigo convento, é um espaço diferente, que fica espectacular com o jogo de luzes e com a amplificação natural do som», descreve. Numa das últimas, que decorreu nos corredores, até houve vídeo no tecto. O toque artístico é uma das imagens de marca das noites de Belas Artes. «A música não é a martelo», afirma, lembrando algumas sessões mais alternativas. Depois, é o carnaval que se repete sempre que os estudantes querem. Recentemente, houve uma festa dedicada aos anos 80 e outra sobre as personagens dos filmes do Tarantino. À lei da bala, ou ao ritmo da série B, a !cção invadiu a realidade. «As pessoas mascaradas vêm com outro espírito», atira André Martins. «Sentem-se mais à vontade». •
Presidente da AE da ES de Técnica de Saúde do IP. Porto
20 de Nov. Discoteca Vougue
26 de Nov. FCT UNL
AULA MAGNA . MURAL . 19
19 de Nov. F. Belas Artes
TEXTO saude.sapo.pt FOTOGRAFIAS Diogo Santos
«A Saúde» pretende contrariar esta postura, promovendo as vantagens de adoptar estilos de vida saudáveis e responsáveis.
+ «A Saúde» é o nome do projecto vencedor da primeira edição do prémio Angelini University Award 2009/2010. Este inovador conceito pretende oferecer um serviço de gestão integrada de saúde com vista à melhoria da qualidade de vida dos doentes de Alzheimer. O projecto foi desenvolvido por um grupo de alunos do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, finalistas do curso de Gestão de Marketing, que recebeu da Angelini Farmacêutica uma bolsa no valor de 6.000,00 euros. Para os vencedores «este prémio significa o reconhecimento pelo nosso esforço e trabalho ao longo deste ano». O grupo, composto pelos alunos Catarina Dionísio, Catarina Cabrita, Diogo Carneiro, Filipa Sousa, Gonçalo Peixoto e Marta Lousada, reforça ainda que «o desenvolvimento e criação deste projecto tornou-nos mais unidos do que nunca, e, o próximo passo é, quem sabe, implementar esta nossa ideia. Como demonstrámos na nossa apresentação é um projecto viável a todos os níveis, quer em termos de serviço para os doentes, quer em termos de rentabilidade financeira».
Revelação
PRÉMIO DE INVESTIGAÇÃO «ANGELINI UNIVERSITY AWARD» Universitários portugueses apresentam soluções inovadoras para combater a doença de Alzheimer. ▶ Actualmente, a sociedade portuguesa
Os estudantes criaram projectos únicos que no futuro vão certamente ajudar no cuidado aos doentes de Alzheimer e seus familiares.
desenvolveu uma mentalidade fortemente baseada em remediar as doenças em alternativa à prevenção. O projecto «A Saúde» pretende contrariar esta postura, promovendo as vantagens de adoptar estilos de vida saudáveis e responsáveis. A Saúde pretende ser uma empresa que vem colmatar esta lacuna, oferecendo um serviço inovador, que combina diversas práticas não só associadas aos doentes, mas também a pessoas preocupadas com a sua saúde e bem-estar. Este projecto está assente em cinco pilares - Alimentação, Exercício Físico, Exercício Mental, Gestão de Stress e Acompanhamento Médico - reconhecidos como benéficos no retardamento dos efeitos da doença de Alzheimer. «A inovação deste projecto está presente não só ao nível da gestão destas cinco áreas, mas também pelo facto de ser especializado em Alzheimer e extremamente diferenciado, o que faz dele pioneiro» reforçam ainda os alunos vencedores do Prémio AUA. A primeira edição registou uma adesão significativa a nível nacional, envolvendo 116 alunos de 17 escolas, representadas por 33 equipas. Um sucesso que levou a Angelini Farmacêutica a anunciar ontem uma segunda edição 2010/2011, com inicio marcado já para Novembro. Além do trabalho vencedor a Angelini apurou ainda mais quatro finalistas, que, pela sua inovação mereceram um reconhecimento do júri. Os projectos finalistas são muito AULA MAGNA .MURAL . 21
abrangentes, focando temáticas que vão desde o desenvolvimento de serviços específicos para doentes e cuidadores, até à identificação de marcadores genéticos para diagnóstico precoce de indivíduos de risco. Segundo Dr. João Paulo Guimarães, director médico da Angelini Farmacêutica e responsável pelo prémio, «os estudantes criaram projectos únicos que no futuro vão certamente ajudar no cuidado aos doentes de Alzheimer e seus familiares.» «Na Angelini sempre tivemos o desejo de criar algo que motivasse a investigação ao nível dos estudantes universitários, uma vez que acreditamos no talento dos nossos alunos. E no final não ficámos desapontados, pois a qualidade dos trabalhos é sem dúvida muito elevada.», afirma o Dr. Luigi Cianci, Director Geral da Angelini Farmacêutica. «A criação do Angelini University Award teve como principal objectivo promover o desenvolvimento de novos produtos e serviços destinados a melhorar a qualidade de vida dos doentes de Alzheimer, demências e envelhecimento cerebral, assim como dos respectivos cuidadores. E na nossa opinião esse objectivo foi amplamente atingido», acrescenta. Na Europa, 8,6 milhões de pessoas sofrem de doenças neurodegenerativas e, em Portugal, estima-se que nos próximos anos haja um aumento significativo da prevalência destas doenças, devido ao prolongamento da esperança média de vida. •
Ginásio
POUCAS ESGRIMAS NAS ACADEMIAS A esgrima que se faz em Portugal é de clubes... reconhece André Escobar professor no Estádio Universitário de Lisboa
A vida não está fácil para um estudante do ensino superior que se queria iniciar na esgrima. Com excepção de Lisboa, a modalidade está ausente. ▶ Os clubes são os locais de eleição para a prática da esgrima em
Portugal. Numa ronda efectuada entre as principais academias do país, a Aula Magna apenas conseguiu encontrar aulas da modalidade em Lisboa, na Escola de Desportos de Combate, que funciona no Estádio Universitário. «Somos uma espécie de ilha, porque a esgrima que se faz em Portugal é de clubes», reconhece André Escobar, professor no Estádio Universitário de Lisboa. No entanto, esta é uma esgrima «de lazer» e não filiada, já que o Centro Desportivo Universitário de Lisboa (CDUL) abandonou a sua prática, apesar do largo historial na modalidade. Na Associação Académica de Coimbra, também já não há esgrima, há cerca de dez anos. Nem o facto de o primeiro ministro José Sócrates ter sido atirador da instituição, entre 1975 e 1980, salvou a secção. «Já nem sequer existe uma competição universitária», nota Joaquim Videira, o melhor esgrmista português no ranking internacional (35.º lugar), que esteve presente nos Jogos Olímpicos de Pequim. O facto pode parecer pouco relevante a quem apenas procura uma actividade física salutar, mas é representativo da pouca aposta na esgrima ao nível do ensino superior. André Couto, presidente da Federação Académica do Desporto Universitário, reconhece mesmo que o Evento Nacional Universitário de Esgrima (uma espécie de campeonato o!cioso), previsto para o dia 18 de Abril de 2009, «não teve instituições interessadas na sua organização». Fora de Lisboa, AULA MAGNA . GINÁSIO . 23
a situação torna-se ainda mais difícil e os clubes são a única opção. Enquanto estudou e treinou no Porto, entre 2005 e 2007, Joaquim Videira tentou «iniciar um projecto», que poderia ter sido desevolvido em torno do Centro Desportivo Universitário do Porto, mas não teve sucesso. Consultando a lista de salas de armas da Federação Portuguesa de Esgrima (disponível no sítio www.fpe.pt/~fpept/SGC/index.php/fpe_site/ salas_de_armas), é possível veri!car a concentração em torno das grandes cidades. Quanto custa começar? A esgrima tem fama de ser um desporto caro, mas André Escobar rejeita essa ideia. Em primeiro lugar, porque na maioria das instituições o material pode ser emprestado «até um máximo de um ano, se for preciso». Depois, para começar basta «um fato de treino, ténis e boa disposição». Para disputar provas nacionais, o professor estima que seja necessário gastar «cerca de 500 ou 600 euros em equipamento». E O PREÇO DAS AULAS? No Estádio Universitário de Lisboa, as condições são mais favoráveis para os estudantes, que pagam 17,5 euros mensais por duas aulas por semana e 22 euros por três aulas semanais, para além de uma inscrição no valor de 25 euros. Os outros utentes têm de despender consideravelmente mais dinheiro, o que também é a situação mais usual nos clubes. •
TEXTO André Sousa FOTOGRAFIAS André Sousa
Galeria
OLHAR PECULIAR ANDRÉ SOUSA andresirgado.tumblr.com
▶ A fotografia tornou-se uma ferramenta para a nossa experiência, ou pelo menos, para a nossa aparente contribuição. Se à um par de décadas o ‘Walkman’ era um dos principais aparelhos de contribuição artística, hoje em dia a máquina fotográfica tornou-se o aparelho de eleição. Dá-me a ver a tua ‘foto’ e dir-te-ei quem és... f./1,4. Se algo vale a pena ver, consequentemente vale a pena fotografar. Já dizia a Susan Sontag que uma fotografia não é apenas o resultado do encontro entre um evento e o fotógrafo - fotografar é em si mesmo um evento: «A omnipresença de câmeras sugere, de forma persuasiva, que o tempo consiste de eventos interessantes, eventos que valem a pena fotografar.» Embora o evento se torne passado a fotografia vai existir sempre, conferindo ao evento uma certa imortalidade (e importância claro...) que de outra forma este nunca teria recebido. 1/125s. E enquanto todos os outros são passivos, ter uma câmera ao pescoço transforma uma pessoa em algo activo, num viajante: em que apenas ele ‘tem a mania’, controla a situação e esconde as suas influências – credo, não é o meu caso. 400ASA. •
A fotografia tornou-se uma ferramenta
AULA MAGNA . AUDITÓRIO . 25
Ípsilon Texto por Mário Jorge Torres Fotografias Diogo Santos
A «Rede Social» é um grande filme. E é um grande filme sobre coisas muito mais universais do que o Facebook.
+ SINOPSE Universidade de Harvard, Outubro de 2003. Numa noite de embriaguez e desilusão amorosa, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) recorre à base de dados da Universidade e cria um sítio na Internet onde podem ser votadas todas as raparigas do campus. Baptiza-o de Facemash. Em pouco mais de duas horas, o sucesso é tal que arrasa o sistema interno da Universidade, gerando o caos e tornando-o ainda menos popular entre as estudantes... Mas é nesse preciso momento que nasce a ideia de criar o Facebook, a mais revolucionária e concorrida das redes sociais, que se espalha como um vírus pelos quatro cantos do mundo, tornando o seu criador o mais jovem milionário da História. Porém, tudo tem o seu preço, e o sucesso de Mark não será excepção. O novo filme do realizador David Fincher tem argumento de Aaron Sorkin, baseado no livro «Milionários Acidentais» de Ben Mezrich, sobre Zuckerberg e o Facebook.
Cinema
A REDE SOCIAL DAVID FINCHER
A Rede Social» é um filme sobre um assunto muito menos tópico e muito mais clássico do que parece: o poder e a ambição - e nesse aspecto tanto podia ser sobre o Facebook como sobre o Google, a Starbucks ou o Bcp. ▶ Independentemente de tudo o que possam ter lido, ouvido ou
mesmo antecipado sobre «A Rede Social», este não é um filme sobre o Facebook. Nem sobre a internet, sobre a tecnologia, sobre o modo como ela nos mudou a vida (mesmo que isso esteja lá, nas entrelinhas). Nesse aspecto, aliás, é também um filme que remete para uma Hollywood clássica que já não faz filmes sobre as lutas do poder corporativo há uns largos anitos por não serem suficientemente emocionantes para a audiência de adolescentes que a mantém viva. «A Rede Social» é, paradoxalmente, um filme sobre a adolescência. Ou, melhor, sobre o modo como a transportamos connosco para a idade adulta, e como ela fica menos para trás do que qualquer um de nós acha à partida. Os processos judiciais que servem de âncora narrativa não são mais do que versões sérias, «adultas”, das partidas e das praxes universitárias; tudo se reduz às rivalidades petulantes, quase de adolescente que se quer impôr, de quem tem mais dinheiro, o carro mais espalhafatoso, a moto mais potente, a namorada mais estonteante. No guião do dramaturgo e argumentista Aaron Sorkin - «Uma Questão de Honra», «Os Homens do Presidente» - inspirado no controverso livro de Ben Mezrich, o Facebook é um mero arquétipo, usado para desmontar a singularidade da empresa - apresentada como uma mera extensão da necessidade de validação social que todos temos - e para revelar a sua universalidade - reproduzindo os lugares-comuns clássicos das lutas pelo poder desde tempos imemoriais. Mark Zuckerberg (espantosa criação de Jesse Eisenberg) pode ser o mais jovem AULA MAGNA . AUDITÓRIO . 27
milionário do mundo, mas como disse (e bem) David Fincher ao «Le Monde» ser-se milionário aos dezanove anos não é pêra doce. E é numa das melhores frases de um guião notável que se deve encontrar a chave de «A Rede Social»: «todos os mitos de criação precisam de um demónio.» É por isso que não há computadores nem virtualidades naquele que é o menos virtual e mais real filme de Fincher até ao momento: este não é um filme sobre um site internet nem sobre o modo como ele mudou o mundo, é um filme sobre pessoas e sobre o modo como as relações virtuais não substituem as relações verdadeiras do mundo real. É também por isso que não vale a pena procurar aqui um qualquer relato fiel e fidedigno da «verdade» do Facebook (e, para que conste, ninguém se sai a rir deste retrato - nem Zuckerberg, nem o sócio fundador Eduardo Saverin, nem os gémeos Winklevoss que terão dado a ideia original a Zuckerberg, não há santos nem pecadores). Não era isso que interessava nem a Sorkin nem a Fincher. A verdadeira rede social não está online, e é essa a chave do guião (que deve aliás bater um qualquer recorde de velocidade de débito de diálogos): por trás da internet estão apenas as mesmas velhas questões de sempre que fazem de nós quem somos. Dirão que isso faz de «A Rede Social» menos um filme do que uma peça? Ah, mas é aí que entra a mãozinha mágica de Fincher, que se limita a sustentar, com delicadeza e inteligência, a estrutura de Sorkin, mas que o faz sem cair na armadilha de filmar à velocidade da internet ou de dirigir uma peça filmada. É mais difícil do que parece, e a mestria de Fincher é a de estar à altura do argumento que lhe coube filmar. •
DESTAQUES Ernesto Castro Leal Os republicanos da I República
Prémio Jacinto Prado Coelho Literatura clássica distinguida
IP. Leiria Conferência de 6 Sigma
Contribuir para o estudo do campo partidário republicanom português, entre 1910 e 1926, é o principal objectivo do livro Partidos e Programas, de Ernestro Castro Leal. Recorrendo a um conjunto muito alargado de documentação, em grande parte inédita, o professor de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa analisa a estrutura, evolução e fragmentação do Partido Republicano Português, com a consequente pulverização de pequenos organismos partidários. «Os vários partidos e grupos políticos republicanos configuraram múltiplas identidades políticas, sem apresentarem uma diferenciação intensa, dado que se inscreviam no património comum do republicanismo histórico», escreve Ernesto Castro Leal. No entanto, a par de rivalidades de che!a e de carácter, ou tácticas, os diversos protagonistas da agitada I República, como se demonstra neste estudo, podem filiar-se ideologicamente em duas identidades políticas: «O demoliberalismo unitarista e o radicalismo federalista». Além de Partidos e Programas, editado pela Imprensa da Universidade de Coimbra, Ernesto Castro Leal publicou, entre outros títulos, António Ferro: espaço político e imaginário social e Nação e nacionalismos: a cruzada nacional D. Nuno Álvares Pereira e as origens do Estado Novo.
Carlos Ascenso André, da Universidade de Coimbra, e José Pedro Serra, da Universidade de Lisboa (FLUL), foram distinguidos em ex-aequo com o Prémio Jacinto Prado Coelho, no valor de cinco mil euros. As obras em causa foram Caminhos do Amor em Roma, uma edição da Cotovia, e Pensar o trágico: categorias da tragédia grega, da Fundação Calouste Gulbenkian. Trata-se de dois estudos sobre a literatura clássica, o primeiro centrado na poesia latina do século I a.C, o segundo, na herança do teatro grego. Actual director do Conselho Directivo da Faculdade de Letras de Coimbra, Carlos Ascenso André tem vindo a estudar e a traduzir alguns dos principais nomes do chamado século de ouro do Império Romano, tutelado pela !gura de Augusto, e em particular os temas do exílio e do amor na antiguidade. São da sua responsabilidade as traduções de Arte de Amar e Amores, de Ovídio, poeta que é abordado neste ensaio, a par de Vergílio, Propércio, Catulo e Tibulo. Pensar o trágico: categorias da tragédia grega foi a tese de doutoramento. Esquilo, Sófocles e Eurípides são alguns dos autores analisados neste périplo pelo mundo helénico. Uma revisitação que tem como objectivo «lançar mão a esses textos antigos, compreender como deles “orescem radicais questões que nos habitam, tomando para nós o mesmo heróico desejo de querer ver, de querer saber, na procura do nosso rosto mais autêntico». O júri do prémio, atribuído pelo Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, foi constituído por Fernando J. B. Martinho, Helder Godinho e Fernando Pinto do Amaral.
Divulgar as vantagens da metodologia «6 Sigma» é o objectivo da conferência que o Instituto Politécnico de Leiria e a empresa Sinmetro organizam nos dias 4 e 5 de Dezembro. É a primeira apresentação em Portugal deste sistema de trabalho que pretende rentabilizar o binómio serviço / cliente, através de um elaborado processo de de!nição, medição, análise, melhoria e controlo. A conferência, que decorre no Auditório da Escola Superior de Tecnologia e Gestão, conta com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros. Nas várias intervenções, falarse-á das aplicações do 6 Sigma em sistemas de saúde, indústrias farmacêuticas, laboratórios e actividades musicais, entre outras. Porque, qualquer que seja a área, o cliente tem sempre razão.
Bragança de Miranda A imagem do corpo, o corpo da imagem Que relações se estabelecem entre o corpo e a imagem? De que forma as novas tecnologias alteraram essa ligação? Quais as consequências dessa mudança? Estas são algumas das questões a que J. A. Bragança de Miranda tenta responder em Corpo e Imagem, uma edição da Vega. Este ensaio parte do princípio de que a «imagem, num sentido lato, constituiu historicamente uma forma de protecção do corpo». Porém, com a fotografia, o cinema e o advento do digital verificaram-se dois fenómenos. Por um lado, «o deslocamento das imagens que passam a circular livre e desencontradamente». Por outro, «a sua hibridação com o imaginário teológico, estético e técnico». Foi essa nova «plasticidade» que pôs em causa a noção clássica de corpo. Na mesma editora, o professor do Departamento de Ciências da Comunicação da F. Ciências Sociais e Humanas da U. Nova de Lisboa publica Envios, uma antologia de textos curtos que escreveu para o seu blogue, «Reflexos de Azul Eléctrico».
George Steiner Os romances do ensaísta Anno Domini é a mais recente colectânea contos de George Steiner publicada em Portugal. A edição é da Gradiva, que tem vindo a traduzir uma faceta menos conhecida do prof. da Universidade de Oxford e reputado ensaísta: a de ficcionista. O pós-guerra é o cenário comum às três histórias de Anno Domini, também marcadas pela evocação da violência da Guerra. Não é só a dor física que atormenta estas personagens, mas também o mal existencial provocado pela consciência de terem vivido o fim de um tempo. Tal como em O Transporte para San Cristobal de A. H. ou Provas e Três Parábolas, também lançados pela Gradiva, a literatura de George Steiner é fortemente contaminada pela teses que defende nos seus ensaios. Não poucas vezes ecoam nestas páginas livros tão importantes como «Nostalgia do Absoluto», «No Castelo do Barba Azul» ou «O Silêncio dos Livros».
U. Lisboa Festival de Tunas A décima edição do Festival de Tunas S. Vicente é dedicada a Júlio Verne, o conhecido escritor visionário do início do século XX. Será uma inspiração futurista para a tuna anfitriã, a VicenTuna, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (UL), e para as outras cinco que vão submeter-se a concurso. Recordese que a Magna Tuna Cartola de Aveiro, a Tuna da Escola Superior de Comunicação Social, a Estudantina Universitária de Lisboa e a Tuna Académica do ISCTE foram os vencedores da edição do ano passado. O Festival realizase na Aula Magna da UL a 22 de Novembro, às 21 horas. À semelhança da edição anterior, parte dos lucros revertem a favor do Instituto Português de Oncologia.
Oficina de Shiatsu Universidade de Lisboa A secção de Desporto da Universidade de Lisboa promove, no dia 22 de Novembro, das 10 às 13 horas, nas suas instalações, uma oficina de Shiatsu. Esta velha técnica de massagem, originária do Japão, tem como objectivo a recuperação e manutenção da saúde do alinhamento energético do corpo. Um bálsamo para a agitação da vida contemporânea. A oficina destina-se a pessoas sem qualquer experiência nesta disciplina. Os preços
AGENDA LISBOA
▶ ISG - Escola de Gestão Rua Vitorino Nemésio, n.º 5 21 751 37 00 http://www.isg.pt/
AVEIRO ▶ DECA da U-Aveiro
Campus Universitário de Santiago 234 37 03 89 http://www.ua.pt/ca/
Improvisação / Oficina por Mário Laginha 19/ Nov: 21h30
▶ Teatro Aveirense
Rua Belém do Pará 234 400 920 http://www.teatroaveirense.pt/
Concerto de encerramento dos Festivais de Outono da U. Aveiro Orquestra Filarmonia das Beiras, Coro e Orquestras do DECA da U-Aveiro (Elsa Silva, piano e Luís Carvalho, direcção) 21/Nov: 21h30
▶ Reitoria da Universidade de Aveiro Campus Universitário de Santiago 234 37 06 06 http://www.ua.pt/
Semana aberta da ciência e tecnologia da Universidade de Aveiro – 2008 «A Universidade de Aveiro apresenta palestras, aulas, sessões de esclarecimento, de cinema, exposições e outros eventos sobre ciência e tecnologia. Para estudantes, professores e público em geral.» 24 a 29 de Nov: das 9h00 às 18h00
COIMBRA ▶ Auditório da Reitoria da U. Coimbra Paço das Escolas 239 859 800 http://www.ces.uc.pt/direitoshumanoscoloquio/
Colóquio Internacional
Desafios aos direitos humanos e à justiça global. Na comemoração dos seus 30 anos, o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra organiza um colóquio internacional sobre direitos humanos e justiça global. 27/28 Nov: das 9h30 às 18h30
ÉVORA
▶ Auditório da Reitoria da U. Évora Largo dos Colegiais, 2 266 740 800 http://www.ciep.uevora.pt/eps/
II Congresso Nacional de Educação Saúde
Conferência Alimentação Saudável: Desafios Alcançáveis, de Isabel do Carmo, directora do Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do Hospital de Santa Maria (CHLN). Conferência Drogas ou Vida: Uma Opção Decisiva, de João Goulão, presidente do Conselho Directivo do Instituto da Droga e da Toxicodependência.
Conferência Educação Sexual na Actualidade: Perspectivas e Caminhos, de Marta Reis Conferência Promoção e Educação para a Saúde, de José Robalo, sub-director geral da Direcção-Geral de Saúde. Conferência Violência(s) em Meio Escolar, de Pedro Strech. Conferência de encerramento, de Filomena Araújo, vereadora da Camâra Municipal de Évora. 19, 20 e 21 de Nov: das 9h00 às 18h00
FARO
▶ Reitoria da Universidade de Faro
Campus de Gambelas 289 800 100 http://congresso.amigosdoscastelos.org.pt/
VIII Congresso dos Monumentos Militares 27, 28 e 29 Nov: das 9h00 às 18h00 AULA MAGNA . AUDITÓRIO . 29
Debates do Ciclo de Serões da Justiça do ISG Justiça e a Questão Penitenciária, com Anabela Miranda Rodrigues (Centro de Estudos Judiciários), Conceição Gomes (Observatório Permanente da Justiça Portuguesa) e Nuno Caiado (Direcção Geral de Reinserção Social). 19 de Nov: das 18h30 às 21h30 Eficiência e Equidade na Tributação, com Eduardo Paz Ferreira (F. Direito da U. Lisboa), Paulo Macedo (BCP) e Rogério Fernandes (ISG)
▶ Departamento de Engenharia de
Electrónica e Telecomunicações e de Computadores do ISEL R. Conselheiro Emídio Navarro, n.º 1 21 831 71 80 http://www.deetc.isel.ipl.pt/
JETC08 - Jornadas de Engenharia de Electrónica e Telecomunicações e de Computadores Organizadas de três em três anos, as JETC incluem conferências, concursos, oficinas (workshops) e outras iniciativas. 20 e 21 de Nov: das 9h00 às 18h00
▶ Aula Magna da U. Lisboa Alameda da Universidade 21 011 34 00 http://www.ul.pt/
Mercury Rev Concerto de apresentação do álbum Snow”ake Midnight 29 Nov: 22h00
▶ F. Letras da U. Lisboa
Alameda da Universidade, Sala 67 21 792 00 86 http://www.”.ul.pt/centros_invst/teatro/pagina/ poeticas_rock.htm
Poéticas do Rock em Portugal (call for papers) Colóquio sobre literatura, música e palco. As letras, os textos, a poesia e a sua encenação na música Pop e Rock. Até 30 Nov
PORTO ▶ F. Engenharia da U. Porto
Rua Dr. Roberto Frias 22 508 14 00 http://sicc.fe.up.pt/conf/manager.php/gescon/home
Fórum Internacional de Gestão da Construção - GESCON 2008 O evento abordará temas como o Financiamento, Planeamento e Concepção, a Gestão de Projecto, a Gestão da Construção / Desconstrução e a Gestão da Utilização. Principais oradores: Vitor Abrantes, Hipólito Ponce de Leão, Reis Campos (FEPICOP), Jorge Moreira da Costa (IcBench), Daniel Bessa (EGP.UPBS), Pedro Gonçalves (Soares da Costa) 11 e 12 Dez: das 9h00 às 18h00
CHELTENHAM, Reino Unido
▶ University of Gloucestershire
+44 (0)844 8010001. http://www.wam-research.org.uk/conference/
Conferência Crossing Cultures: Women, Ageing and Media 5 Dez
ELEIÇÕES
AE F. Psi. e C.da Educação da U. Lisboa 4 e 5 de Dezembro A. Académica da U-Lisboa Votação: 10 e 11 de Dezembro Tomada de posse: 8 de Janeiro A. Académica de Coimbra Primeira volta: 26 e 27 de Novembro Segunda volta: 3 e 4 de Dezembro AE F. Belas Artes da U. Lisboa Votação: 27 e 28 de Dezembro Tomada de posse: 2 de Dezembro
DIREITO A VOTAR encontrar-te-ás sozinho à porta do delírio, terás os cognomes da espera e o direito a votar, comprarei um passe para visitar o museu das tuas obsessões, saberás fazer-me voltar a horários fixos, tirarei notas de rodapé com pormenores complicados e referências exaustivas, farei esboços dos teus sorrisos, apunhalar-me-ás com ideias universais e alegres a caminho das coisas particulares e tristes, sangrarei adjectivos ao modo superlativo, formas retóricas imprecativas e estruturas paralelísticas, deixarei as veias dos cárpatos abertas até encherem a tua piscina, chamarás o segurança e dirás: isto não é hollywood, babe!, aqui ninguém se suicida com uma overdose de felicidade, não temos rottweilers a vigiar o sono das crias, nem personal shopper para tratar as depressões, terei o tamanho das minhas cicatrizes e as pestanas a fazer tim-tim-tim, terás fome de mim, prender-me-ás à cama como nos abraçámos às nossas ilusões, subirei àquele comboio chamado desejo, gritarás o meu nome de boca virada para a estação do prazer, confundir-me-ás com as outras, serei as outras nesse flutuar branco e veloz, declinar-te-ei nas conjugações do passado, desprezarás os volumes que imitam o contorno do meu corpo, arrumarás num canto do mapa as ruas que levam a nós, colocarás cartazes em cima dos destroços enquanto um néon publicitário da boticário executará o papel do ocaso. dois minutos antes de cair o pano, o director de som escolherá para o nosso fim uma banda sonora na moda.