Punk in Portugal

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DÉCADA DE 70

PUNK ROCK PORTUGUÊS

Revolução 9 Caderno de Pesquisa


Faculdade de Belas-Artes . Universidade de Lisboa Design de Comunicação IV 3º Ano - 1º Semestre // 2010 - 2011 Docente: António Nicolas _ Andreia Constantino // n.º 4767 Bernardo Caldeia // n.º 4768 Sílvia Matias // n.º 4797


ÍNDICE

NOTA INTRODUTÓRIA // 3 ESQUEMA // 4 DÉCADA DE 70 CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL ECONÓMICA, POLÍTICA E SOCIAL DO MUNDO // 6 CULTURA PUNK - O MOVIMENTO // 8 PUNK ROCK EM INGLATERRA // 10 PUNK ROCK NOS ESTADOS UNIDOS // 11 SEX PISTOLS // 12 THE CLASH // 14 THE RAMONES // 16 CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL ECONÓMICA, POLÍTICA E SOCIAL DE PORTUGAL // 18 PUNK ROCK EM PORTUGAL // 22 AQUI D'EL ROCK // 26 OS FAÍSCAS // 28 CORPO DIPLOMÁTICO // 29 UHF // 30 MINAS E ARMADILHAS // 32 XUTOS & PONTAPÉS // 34 PUNK ROCK PORTUGUÊS - UM OLHAR CRÍTICO // 36 CRONOLOGIA // 38



NOTA INTRODUTÓRIA

A década de 70 é marcada pela intensificação das transformações e mudanças de valores desencadeados na década de 60, em muitas áreas da vida e do quotidiano da maior parte das sociedades ocidentais. Estas mudanças tiveram um profundo impacto no panorama sóciocultural dessas mesmas sociedades e naturalmente, na forma como encaravam o presente, revelando um eminente espírito crítico que tão bem caracterizava esta década. A emancipação juvenil e a forma como a mesma se reflectiu nas transformações sociais, no panorama artístico, musical e cinematográfico, a descoberta de uma renovada atitude na crescente influência de uma nova classe média e o crescente bem-estar social das classes trabalhadoras, levaram a mobilizações de confronto e de desafio aos poderes estabelecidos, ao sistema, à tradição e ao gosto até aí instituídos. É neste cenário de contestação social que emana a cultura Punk. Aqui, objecto central de investigação e recolha de materiais. Centramo-nos essencialmente na música e na ideologia que esta consigo transporta. Contudo, nenhuma nova manifestação social surge isolada, sendo absolutamente necessário ter em conta todo o contexto em que está inserida – económico, político, sócio-cultural. O movimento punk surge paralelamente na Inglaterra e nos Estados Unidos reflectindo o clima de turbulência economia e política que se vivia nos dois países. «A música precisa dar assistência a todo esse lixo (a sociedade britânica). A música tem que mostrar saídas para se vencer a estagnação. Ela tem que ser verdadeira.» Johhny Rotten (explicando a revolta da sua banda, os Sex Pistols) Analisa-se o contexto e destacam-se as principais bandas e álbuns, numa pesquisa apoiada em artigos e filmes que abordam o tema. É de destacar que não partimos do caso português como ponto inicial de análise. No entanto, o início do Punk rock em Portugal

é a temática central neste processo de investigação.

Isto, na medida em que, consideramos que o Punk Rock português foi eminentemente influenciado pelos álbuns e manifestações vindas de Inglaterra e dos EUA. O 25 de Abril de 1974 e o contexto político e económico que se desenrolava dão o mote para a criação de

Aqui d'el Rock; Faíscas; Minas e Armadilhas; UHF; Xutos e Pontapés - com letras novas bandas -

de carácter crítico e interventivo, que apesar de constituírem uma manifestação modesta, marcam também em Portugal o início de uma

nova atitude. Constituem esta abordagem artigos de crítica, testemunhos da época, as bandas, os álbuns e entrevistas com os próprios intervenientes,

procura-se com este objecto destacar um período da história da música portuguesa algo desconhecido – o Punk Rock português. (...) em suma,

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Pun roc The Stooges (1º Álbum - 1969)

BLONDIE (1975)

IGGY POP (1947 - )

THE STOOGES (1967) Talking Heads (1974)

Richard Hell & The Voidoids 1974)

The Dead Boys (1976)

Patti Smith Group (1974)

Bar CBGB (1973)

pUNK

(1971)

S

Se

Sham 6 (ESTADOS UNIDOS) The (1976 Crass RAMONES (1974) Slau MC5 (1964)

John Cage (1942 - )

The vibrat

Velvet Underground (1964)

Misfits (1977)

Lou Reed (1942 - )

Scott Asheton (1949 - )

, sonic s rendezvous band ( 1 9 7 0 )

B

Fred Smith (1949 - )

PUNK (POR

Xutos & Pontapés (1979) Os Faíscas (1977) Aqu

Zé Pedro (1960 - )

Projecto Resistência (1985) Tim (1960 - )

Pedro Ayres Magalhães (1960 - )

Corpo Diplomático (1978)

MADREDEUS (1985)

Minas e

Heróis do Mar (1

Ru


nK cK

Eddie and The Hot Rods (1975)

THE BANSHEES (1976) SIOUXSIEAND

Sid Vicious (1957 - 1979)

The Flowers of Romance (1976)

Bromley Contingent (1976)

X-Ray Spex (1976)

uk Subs (1976)

eX PisTOLsthe (1975)

69 6)

PUNK (INGLATERRA)

Mick Jones e Paul Simonon

Joe Strummer (1952 - 2002)

stranglers (1973)

(1975)

101ers (1974)

(1977) Cock Sparrer (1975)

ughter & The Dogs (1975)

tors (1976)

GENERATION X (1976)

BILLY IDOL (1955)

K RTUGAL)

(1976)

Tony James (1958 - )

CHELSEA (1976)

Paul Gray e Graeme Douglas

Gorillaz 1998)

London SS (1975)

the DAMNED (1976) T-REX (1967)

UHF (1978)

ui d’el Rock (1977)

Mau Mau (1981)

e Armadilhas (1978) Punk-Rock 77 (1977)

1981)

Raios e Coriscos (1978)

ui Reininho (1955 - )

GNR (1980)

Primeira compilação de músicas punk, com uma edição de 500 exemplares. Devido à falta de qualidade a compilação foi acusada de pirataria.


DÉCADA DE 70 CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL ECONÓMICA, POLÍTICA E SOCIAL DO MUNDO «Esta foi a década em que se verificou a crise do petróleo que levou os Estados Unidos à recessão, ao mesmo tempo em que, economias de países como o Japão começavam a crescer. Nesta época também surgia o movimento da defesa do meio ambiente, e se deu um crescimento considerável das revoluções comportamentais da década anterior. Muitos a consideram a "era do individualismo". Eclodiam nesta época os movimentos musicais do Rock and Roll, das discotecas...»

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The traumatized city The oil crisis had exacerbated economic inequalities in Britain and the United States, and many artists became increasingly politicized, addressing issues of economic injustice as well as sexual and racial discrimination. . SLADEN, Mark, Panic Attack!: Art in the Punk Years, Merrel Publishees LTD, 2007.

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A aposta checoslovaca nas reformas e na democratização fora brutalmente esmagada pela invasão soviética de 1968; os dissidentes soviéticos eram perseguidos e condenados a campos de trabalhos forçados; os alemães orientavam escapar através do Muro de Berlim. Na china, o povo continuava a sofrer na carne as consequências da turbulência gerada pela Revolução Cultural. A equidade prometida pela sociedade comunista não passava do nivelamento das massas sob o peso de uma opressão burocrático e, muitas vezes, inteligível.

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Nos anos 70, o terrorismo atingiu Israel, a Argentina, o Uruguais, o país Basco espanhol, a Irlanda do Norte e até a Alemanha e a Itália, onde grupos terroristas urbanos, como o Baader.meinhof e as Brigadas Vermelhas, representavam uma ameaça letal para as autoridades. Bombistas e piratas do ar exportaram o terrorismo para o estrangeiro. Qualquer cidadão da Europa Ocidental viva sob a ameaça de um ataque terrorista.

«Em 1970, a nuvem negra que pairava sobre a política mundial era a da destruição mútua. Existia um arsenal nuclear suficientemente grande para destruir várias vezes o mundo – produto da guerra fria, da corrida ao armamento dos anos 60 e da profunda desconfiança entre as superpotências. Para a URSS, a paridade com os EUA a nível de armamento constituía um triunfo. A teoria marxista encara esta situação como o limiar de um mundo novo, já que a neutralização das armas nucleares levaria ao desabrochar de levantamentos populares e de movimentos de libertação que empregariam armas convencionais. (...) Para os EUA, a corrida ao armamento representava um buraco negro do ponto de vista económico e político que ameaçava a prosperidade do pós-guerra e a estabilidade internacional. Na atmosfera instável das relações internacionais, qualquer pequeno incidente poderia desencadear uma guerra nuclear. Para Nixon - eleito presidente dos Estados Unidos em 1960-, este problema era a pedra basilar da sua política. A sua palavra-chave era a détente (desanuviamento), cujo objectivo seria reduzir as tensões. Esta sua posição conciliatória representou um corte radical com o espírito de confrontação da guerra fria que dominara os anos 60. (...) A guerra do Vietname teve repercussões profundas. «make love, not war» era o slogan dos hippies no fim dos anos 60. Enquanto as manifestações contra a Guerra do Vietname se intensificavam em todo o mundo, a brecha aberta na sociedade americana pela guerra ficou bem visível em Maio de 1970, quando quatro estudantes foram mortos na universidade de Kent, no Ohio. Os grupos revolucionários nacionalistas e de esquerda consideravam o envolvimento americano no Vietname um símbolo da agressão capitalista, uma desculpa usada para justificar a violência da acção terrorista. Contudo, «Os EUA continuavam presentes na Guerra do Vietname. Apesar do início da retirada de tropas americana. Este gesto de Nixon era acompanhado por um alargamento do teatro de guerra com incursões no Camboja e no Laos e a intensificação dos bombardeamentos aéreos. Em Março de 1970, os B-52 realizavam 200 missões diárias de bombardeamento do trilho de Ho Chi Minh, a rota de abastecimento vietcongue através do Laos. Os Estados Unidos pareciam atolados numa guerra ruidosa e impossível de ganhar contra a penetração do consumismo no Sueste Asiático. Em 1975, termina a Guerra do Vietname, com a derrota dos Estados Unidos da América e reunificação do país. (...) O Armagedon nuclear parecia uma possibilidade mais remota que nos anos 60, mais longe de ser impossível. Cada Era tem a sua visão apocalíptica, que nos anos 70 era a guerra colonial. A Campanha para o Departamento Nuclear (CDD, Campaign fo Nuclear Disarmament) atraiu multidões de apoiantes às suas manifestações. (...) O Vietname e a guerra nuclear não passavam de um pano de fundo na vida da maioria das pessoas, onde a revolução sexual se estendia por todo o Ocidente. Uma das causas foi a vulgarização da pílula anticoncepcional, complementada pela legalização do aborto. A mulher ganhara uma liberdade sem precedente para explorar a sua sexualidade. Como consequência desta revolução sexual, surgiu a chamada «sociedade permissiva», na qual se esperava que tanto o homem como a mulher tivessem vários parceiros sexuais antes de «assentarem». O processo de afirmação os homossexuais iniciou-se em 1969, em Nova Iorque, e a primeira manifestação da Frente de Libertação Gay realizou-se em Novembro de 1970, em Londres.


Os anticoncepcionais e a revolução sexual libertaram as mulheres da pressão do estereótipo da mulher casada e com filhos; numa perspectiva feminista as mulheres passavam a poder «controlar a sua fertilidade. Nascera uma nova geração de feministas que pretendiam reescrever a história do comportamento dos dois sexos e que coexistia com uma geração de mulheres mais velhas que, apesar de ficarem indignadas em com muitos casos pela falta de feminilidade da sua linguagem tão liberal, também se opunham às desigualdades sexuais contra as quais lutavam as feministas mais entusiastas. Foi no Woman´s Lib (movimento de libertação da mulher) que estas duas gerações encontraram uma causa comum.

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Em 1967, numa manifestação nova iorquina contra o concurso de Miss América, a voz do feminismo fez-se ouvir de forma mais estridente com o aparecimento da ideia de queimar publicamente os soutiens. Nos anos 70, a causa feminista foi apoiada por várias revistas influentes. O número de Março de 1973 da revista Inglesa Spare Rib atacava a tirania do trabalho doméstico.

A REFORMULAÇÃO DE ATITUDES QUE CARACTERIZARA OS ANOS 60 PROLONGOU-SE PELA DÉCADA DE 70, INTRODUZINDO GRANDES MUDANÇAS NA SOCIEDADE – NO PAPEL DA MULHER, NA VIDA DOS HOMOSEXUAIS E NOS DIREITOS DAS MINORIAS. FACE À RECONVERSÃO DOS VALORES, MUITAS PROCURARAM UM SENTIDO EM RELIGIÕES E ESTILOS DE VIDA ALTERNATIVOS. A MÚSICA E OS ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO EXPRESSARAM ESTAS NOVAS ATITUDES E REFLECTIRAM A CRESCENTE GLOBALIZAÇÃO DECORRENTE DOS PROGRESSOS DA INFORMAÇÃO. (...) Nos anos 70 um «fosso entre as gerações» tornou-se uma questão muito em voga. Os jovens pareciam obrigados a distanciar-se dos pais e respectivos valores. Ultrapassados, os pais limitavam-se a observar os filhos que deixavam crescer o cabelo, usavam casacos de pêlo comprido e calças de boca de sino, criticavam as aspirações burguesas dos mais velhos, viviam com membros do sexo oposto sem qualquer compromisso a longo prazo e partiam para o outro lado do mundo à procura de aventuras ou uma nova religião. Além disso, consumiam drogas pouco conhecidas e potencialmente letais que lhes perturbavam a mente. O conflito de gerações poderia ser também interpretado como uma tentativa dos jovens para saber os males de um mundo que produzira o terrorismo urbano e as armas nucleares. Na sua maior parte, estes jovens partilhavam uma preocupação com o ambiente: entravam na linguagem comum termos como conservação, ecologia, chuva ácida e camada de ozono. Em 1971, foi fundado o movimento Greenpeace no Canadá. A era de ouro da cultura experimental da juventude que florescera no fim dos anos 60 no Ocidente, prolongou-se por toda a década de 70. De modo geral, a inocência e o idealismo ingénuo que tinham caracterizado o movimento hippie de paz e amor encontravamse manchados por uma nova veia de civismo e exploração comercial ou corrompidos por uma tendência para o activismo político. (...)»

. Todos os textos: COOPER, Helen Douglas, Memória de um Século XX: Tempos Modernos 1970-2000, Selecções Reader's Digest S.A., 2001. Referências Consultadas . Artigo de Pedro Mexia «Geração 70.» Jornal O Público, Caderno P2, 8 Dezembro 2007.

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CULTURA PUNK - O MOVIMENTO

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O termo inglês“punk”tem um significado despectivo que adopta variar, aplicando-se a objectos (significando lixo) ou a pessoas (significando“vago, despreciable”ou, também, lixo”e“escoria). Utilizase de forma irónica como descrição do substrato crítico ou descontentamento que contém esta música. Ao utilizá-lo como etiqueta própria, os “punkies”(ou punks) desmárcanse da adecuación aos róis e estereótipos sociais. Devido ao carácter deste significado, o punk a miúdo associou-se a atitudes de descuido pessoal, utilizou-se como meio de expressão de sentimentos de mal-estar e ódio, e também deu cabida a comportamentos neuróticos ou autodestructivos. O termo punk utilizou-se como título de uma revista fundada em 1976 em Nova Iorque por John Holmstrom, Ged Dunn e Legs McNeil que desejavam uma revista que falasse de tudo o que gostavam: as reposicións por televisão, beber cerveja, o sexo, as hamburguesas com queijo, os cómics, as películas de série B, e o estranho rock 'n' roll que soava nos garitos mais mugrientos da cidade: Velvet Underground, Stooges e New York Dolls, entre outros. Mais tarde o significado também serviria para inspirar as correntes esquerdistas do género, como etiqueta que desfaz a condição de classe ou rol social com dívidas de reputação ou aparência.

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Anarquismo Movimento político que defende uma

organização social baseada em consensos e na cooperação de indivíduos livres e autónomos, mas onde à partida sejam abolidas entre eles todas as formas de poder. A Anarquia seria assim uma sociedade sem poder, dado que os indivíduos de uma dada sociedade, se auto-organizariam de tal forma que garantiriam que todos teriam em todas as circunstâncias a mesma capacidade de decisão. Esta sociedade, objecto de inúmeras configurações, apresenta-se como uma 'Utopia'”(algo sem tempo ou espaço determinado). É um ideal a atingir. . HURCHALLA, George, Going Underground: American Punk 1979-1992, Zuo Editora, 2005. . Culture Clash: Dread Meets Punk Rockers, Terceira edição, London: SAF Publishing.

. SLADEN, Mark, Panic Attack!: Art in the Punk Years, Merrel Publishees LTD, 2007. -> . FOUNTAIN, Nigel, Underground: The London Referências consultadas: Aternative Press, London, 1988. . MCKAY, George, Senseless acts of Beauty: Culture of resistance since the sixties, Verbo, Londres, 1996.

PANIC ATTACKS! The punk years looks at British and American culture in the late 1970s and early 1980s, a period of great social and economic turmoil in both countries. It begins in the mid-1970s, in the shadow of the oil crisis, and a time when the United States was preoccupied by Watergate and the end of the Vietnam War in Britain there were IRA bombings on the mainland and massive public-spending cuts (the background to a series of arguments about public spending on the arts-in which the Prostitution scandal was just one episode, following scandals earlier in the year surrounding the Tate’s purchase of Carl Andre’s Equivalent VIII and the exhibition of Mary Kelly’s Post-Partum Document at the ICAl. It ends in the early 1980's, with the two countries ruled by right-wing governments, with a British war in the Falklands and an American one in Grenada, and with the emergence of AIOS. This was a period in which crisis was in the air in both countries, and in which the United States and Britain were the breeding ground of punk and post-punk culture, a culture that seemed to be both a symbol of and an adequate response to the ravaged times. However, if it is now very easy to conceive of Prostitution as a punk event, it must be remembered that in October 1976 ‘punk’ was not yet a common buzzword. The roots and development of punk as a musical movement are much disputed, but it is certainly true that the phenomenon had important progenitors in the United States, and that a recognizably punk scene formed in New York in 1974-75 around such bands as Television and the Ramones. The transference of elements from this scene to London is often associated with Malcolm McLaren, who visited New York in 1974 before returning to London and starting to shape the band that would become the Sex Pistols In 1975-76 the Sex Pistols were a largely underground phenome. but all this was to change just a few weeks after the closure of Prostitution, when, on 1 December 1976, the band were interview live on British television by the journalist Bill Grundy, the resulting performance - drunken on the part of Grundy and foul-mouthed on the part of the Pistols - provoking a media scandal. The Grundy interview marked the start of the Sex Pistols’ national notoriety, a phenomenon that would peak with the scandal surround their single ‘God Save the Queen’. This single was released to coir with the Queen’s Silver Jubilee celebrations in June 1977 and fear Jamie Reid’s cover artwork, with its image of the monarch with ransom-style lettering across her face. The Sex Pistols’ story quick took on an American dimension as well, a story that climaxed with the twin deaths of Nancy Spungen and her partner Sid Vicious, the band’s bassist, in New York in 1978 and 1979. The national and international celebrity of the Sex Pistols propelled the punk moven into public consciousness and also spurred the creation of waves of punk and post-punk bands in a number of cities in Britain and the United States - including a very significant scene on the West Coast - as well as other cities around the world. (Here it must be noted that the terminology gets rather varied, with such labels as punk, New Wave, No Wave and postpunk competing for attention. The punk movement is most commonly associated with music and its attendant graphics and fashions, but the primary focus here is music but art, and the argument is that much of the best British an American art of this time was also punk in spirit.


The artists featured embody the punk zeitgeist in a number of different ways, and one strand looks at artists who made work with direct political intent, who used their work to criticize society, often deploying the imagery of the city as a symbol of social crisis. Another strand looks at artists who deployed transgressive bodily imagery, as well as drag and performance, to explore such issues as sexuality, violence, abjection and empowerment. Yet another strand looks at appropriation, collage, trash, «do-it-yourself» and the generation of alternative means of production and dissemination. The final strand looks at the notion of the scene and of subculture, at the overlapping worlds of art and music at this time, and at the exploration lf the scene as radical social space. Sometimes confrontational or angry, but always fiercely independent and intelligent, this is art that effects the spirit of the punk years.

ART AND SUBCULTURE The engagement with subculture is an important feature of art in the punk years, and for a number of artists in New York and London the representation of subcultural identity - and of the scenes in which the artists themselves were engaged - was a key aspect of their practice. Some of these artists were embedded within gay subcultures, as was the case with Peter Hujar. Hujar’s portraits provide a glimpse into the downtown bohemian atmosphere his day and in particular New York’s gay performance scene, a scene that had links to the activities of Andy Warhol’s ‘Superstars’ and that utilized an improvised and sometimes confrontational form of drag that could be very punk in nature. Moreover, his images of the shattered street scenes of Lower Manhattan at night remind us of a time when economic recession created opportunities for marginal groups including cruisers, drug-takers and artists - to colonize the city. Hujar’s image of New York and its demi-monde was to be echoed in the work of younger artists, including his friend David Wojnarawicz, as well as Robert Mapplethorpe and Nan Goldin. Like Hujar, Mapplethorpe was an accomplished portraitist, and one of his most significant early collaborators was the punk icon Patti Smith; one of his many images of her was used on the cover of her debut album Horses (1976). Mapplethorpe’s most notorious works, however, are the so-called ‘sex pictures’ in which he depicted the sadomasochistic subculture of the city’s gay scene, exploring the boundaries of acceptable representation. A very different scene is offered by ‘Them’, as the social commentator Peter York called the London clan that included the artists Andrew Logan and Oerek Jarrnan.” In 1974 Logan, Jarman and others moved into Butler’s Wharf, a warehouse in Bankside, on the south bank of the Thames, and many parties were held in this bohemian enclave, including the 1975 incarnation of Andrew Logan’s Alternative Miss World, a drag extravaganza that was a semiregular date in London’s gay calendar. Butler’s Wharf was also the location of Andrew Logan’s Valentine’s Ball in 1976, at which the Sex Pistols played, and Logan’s glancing connections with the punk scene are reflected in his sculpture Homage to the New Wave (1977), which features a giant safety pin made in his characteristic collaged mirror glass. One visitor to Butler’s Wharf was the punk figurehead Jordan, and Jarman was to film her, in make-up and tutu, dancing around a bonfire in Bankside’s post-industrial wasteland.

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«The influence punk has had on film, art, fashion and everything else in our culture–good and bad–is beyond my ability to comprehend. Although I hoped, as a teenager, to create this kind of thing, I never expected that something I contributed to would become this pervasive–especially years after I left it. (Punk magazine folded in 1979.) At this point I am concerned that it's some kind of "last word." I was always hoping I'd see the next art or music movement that would wipe out "punk" the way we destroyed hippie culture. I wanted to see something more interesting and outrageous than punk rock take over the world and introduce new ideas and make punk seem like an outdated concept. But it hasn't happened yet.» . Entrevista de Steven Heller a John Holmstrom. «Putting the Punk in DIY: An Interview with John Holmstrom» 9 de Agosto, 2005. http://www.aiga.org/content.cfm/putting-the-punk-in-diyan-interview-with-john-holmstrom

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PUNK ROCK INGLATERRA

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«(...) houve o início da década de 70, após a dissolução dos Beatles um impasse musical. Proliferaram as bandas de Rock pesado Made in England. Lá na outra banda do oceano, o Rock West Coast» ia dando as últimas com o desaparecimento dos seus nomes mais significativos: Jim Morrison, Janis Joplin, Jim Hendrix. O que resta? Apenas reedições de discos. Falar de uma década musical, fazer um balanço é muito pretensioso para quem o faz. Caímos numa certa nostalgia de cunho pessoal e acompanha-se pouco as «novas ondas» ou como dizia um amigo: « os novos filhotes do Rock» Clash! Força, muita força! A maior presença inconformista que apareceu há 5 anos ao lado dos Sex Pistols. Com a consciência de um mundo cada vez mais glacial (alheio a factos!!). falam de coisas importantes de coisas que nos tocam, que nos dizem respeito. Que por isso não deixam de ter uma certa dose de alerta. (já devem ter resparado que gosoto mesmo dos Clash..). É o grupo (com excepção dos Talking Heads) que tem tido uma linha mais evolutiva do Rock, sem esquecer as suas raízes: O (...) Tudo são símbolos de contestação. Aí apareceram os Sex Pistols. Logo a seguir Dammed, Clash, Dead Boys, Skyhooks, earth Quake como mais significativos da primeira linha Punk. Quer queiram aceitar ou não esta revolta que veio dos meios dos subúrbios dos grandes centros urbanos é, e deve ser encarada, como anti-capitalista! (...)»

O PUNK INGLÊS

. Artigo de Mário Correia «O rock viveu mais uma década. Viva o rock!» Revista Mundo da Canção, N.º 58, Junho/Julho, 1981.

Esta nova tendência tomou forma gradualmente e, em 1977, alcançou o seu momento mais radical. Os músicos punk, se podem definir como músicos, levavam ao palco o desencanto e a raiva dos jovens proletários da periferia, e ocasionalmente nos seus concertos explodiam as rusgas seguidas de avalanches de prisões. Entre os primeiros a pensar em tornar rendível este movimento estava Malcolm McLaren, proprietário de uma loja de roupa que se tornaria uma espécie de templo do punk. Musicalmente, o novo filão do rock baseava-se em descargas de violência sonora em que a criatividade não se submetia a nenhuma espécie de preconceito: o ritmo era frenético e violento; as voalizações eram gritos desgarrados; as letras, expressamente anti-poéticas, descreviam situações de quotidiano interpretadas com raiva extravagante e com um gosto marcado pela provocação. Deste modo surgiram os Damned, Sex Pistols, os Generation X, os Buzzcocks... Todos eles se preocupavam mais em exprimir as tensões sociais e as frustações existenciais do momento do que por tocar de maneira aceitável. Também não faltou a vertente mais politizada e algo populista inaugurada pelos Sham 69 de Jimmy Pursey, cujo som vibrante e sarcástico se evidencia em temas como Tell us the truth, Angels with dirty faces, Ulste, If the kids are united, Hurry up Hurry, autênticos manifestos de desespero. Nas letras não procuravam a realidade poetizada, nem o entretimento musical, mas a palavra certa para despertar a raiva dos jovens. A mediação intelectual foi abolida a favor do desafogo institivo, frequentemente condimentado pelo sarcasmo mais violento e pelas críticas mais virulentas.

PUNK!

. BARREIRO, José Manuel Lara, Pop & Rock, Volume 2/4, Temas da Actualidade. Referências consultadas: SAVAGE, Jon, England's dreaming: anarchy, Sex Pistols, punk rock, and beyond, St. Martin's Griffin, 2002.

A 20 de Setembro de 1979 incidiu-se no «100 Club» de Oxford Street o festival punk organizado por Malcolm McLaren, um astuto empresário que alguns meses antes lançara os Sex Pistols, grupo que se tornaria bandeira deste género musical. Uma digressão dos americanos Ramones no início desse ano dera o punk, movimento que consistiu revitalizar um mundo discográfico em crise e suscitar o nascimento de uma legião de pequenas companhias. A indústria, como costume, transformaria a raiva sincera de uma juventude desesperada em fenómeno de consumo. Enquanto o punk americano era minoritário,, os músicos ingleses aprofundaram as suas raízes nas massas marginalizadas e exprimiram o desencanto de toda uma geração. Proliferam os grupos que conjugaram o novo verbo, escandalizando a Inglaterra reaccionária e desencadeando a avidez das etiquetas discográficas. O único interesse destas era tornar a nova forma de protesto - anárquica e destrutiva - em suculento negócio. Desta forma nasceram novas modas e provocações desenfreadas: cabelos às cores, roupas rasgadas e andrajosas, que assumiram o papel de um símbolo de uma geração como aquele que quinze anos antes fora representado pelo «revolucionário» corte de cabelo dos Beatles.

GERAÇÃO DE 77'


PUNK ROCK ESTADOS UNIDOS

UM MUNDO À PARTE Precisamente na mesma altura em que Dylan punha em andamento a sua Rolling Thunder Revue, nos sótãos das cidades norte-americanos havia uma nova geração de músicos a afinar os instrumentos, a compor canções e a articular novos projectos; eram os jovens que iriam dar vida ao fenómeno punk, movimento que na segunda metade dos anos setenta tentaria mudar muitas regras do negócio musical. Também não foi coincidência que esse ressurgimento do rock americano fosse modelado na via convencional pelo êxito de Bruce Springsteen e na actividade marginal pelos agudos choque sonoros dos novos grupos. Em ambos os casos, a máxima aspiração era definir uma nova identidade para uma forma expressiva: o rock, ainda que tendo apenas vinte anos de história, já passara em becos sem saída e já se tornara mais uma engrenagem do mundo do espectáculo. Enquanto as bandas jovens marcavam um novo renascer, outras mais antigas baixavam a guarda. 1976 foi o ano de The last Waltz, concerto de despedida de The band, o grande grupo de apoio de Bob Dylan nos anos sessenta. Esse concerto, gravado em filme por Martin Scorsese, foi a passagem ideal do testemunho aos novos músicos que se esforçavam por aparecer com ideias novas e novas ambições, bem como com uma nova lógica de vida. (...) Naturalmente, tinham mudado as modas e os tempos: os novos grupos punk escolheram caminhos pouco frequentados e a provocação foi um dos meios usados para sacudir a apatia geral. Eles eram os irmãos mais jovens dos rapazes que tinham combatido no Vietname; tinham crescido com a visão dos horrores da guerra através da TV; só conheciam a música dos anos sessenta, as suas estrelas e os seus mitos por intermédio dos discos e das filmagens; do festival de Woodstock sabiam o que tinham lido nas revistas… e do «flowerpower» viam que não se adequava absolutamente nada à realidade das suas cidades. Nas canções dos grupos punk faltava uma aspiração progressiva, um ideal para o futuro, uma dimensão de projecto global. E sem, esperanças, a sua música era rude, desgarrada, rápida. Neste sentido, já nos anos sessenta e princípios dos anos setenta semelhantes: Iggy Pop am The Stooges (com a sua vertiginosa i got nothing), a Velvet Underground de Lou Reed e de Hhn Cale, MC5 e os New York Dolls foram grupos que iam em contracorrente aspiração à expressividade musical absoluta. Partindo dessa referências musicais, o punk americano tomou forma em meados dos anos setenta. Nova Iorque foi a grande capital do movimento, e nem poderia ser de outra forma, dadao o papel de guia que esta grande cidade americana. A grande concentração de operários, de espaços para actuar, de emissoras de rádio, de jornais e de centros de negócios, a sua tradição de estar sempre «à moda», tudo ajudava à expansão do fenómeno, mas o êxito tinha de ser conquistado, apanhado quase à força. Caso típico desta conquista foi o dos locais, as salas que entre 1975 e 1978 foram cenário para bandas como Blondie, Ramones, dead Boys, Television, patti Smith group ou Richard Hell and The Voidoids. «Max’s Kansas City» e «CBGB» constituíram os mais importantes, e os seus nomes já passaram para a história do rock. Antes da invasão punk eram salas de concertos que sonhavam com um público tranquilo e sem má-fama. O punk, no entanto, tornou-as pontos de encontro de jovens artistas, criadores e empresários que, por onde passavam, deixavam as marcas de um furacão. Como sempre, as revoluções criativas fizeramse noite, e nos bares nova-iorquinos ouviam-se concertos que podiam durar horas e horas. No palco alternava, centenas de bandas: algumas de vidas muito efémera, outras com uma carreira muito prometedora.

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Ao olhar a cena punk americana na perspectiva do tempo, pode observar-se que muitas das ideias que a caracterizaram foram fruto de juízos apressados, mas úteis para romper o muro da indiferença. A pretendida e difusa rudeza artística dos seus protagonistas. . BARREIRO, José Manuel Lara, Pop & Rock, Volume 2/4, Temas da Actualidade.

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SEX PISTOLS

«Fuck off» Jonny Rotten

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«Num ano e meio, com dois singles e um álbum, deram arranque à revolução punk e transformaram para sempre a face do rock'n'roll. Lendários, gordos e cinquentões, os SEX PISTOLS andam a celebrar o legado mundo fora.» . Artigo de Mário Lopes «Sex Pistols - O punk é quem mais ordena» Revista Blitz, Julho 2008 http://blitz.aeiou.pt/genpl?p=stories&op=view&fokey=bz. stories/25605

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«As minhas armas são as minhas palavras. Não me dou bem com a violência...Creio que as coisas acontecem porque têm que acontecer. E os SEX PISTOLS tinham que acontecer e aconteceram.» . Documentário de Julien Temple «The Filth And The Fury - A Sex Pistols Film» Londres, 2000.

. Biografia dos Sex Pistols http://www.sexpistolsofficial.com/

Amidst the chaos that was the Sex Pistols, it's often overlooked just what a great band they are, and what great records they made. The Sex Pistols are no ordinary band; their story is long and complicated, and not without its casualties. Without them popular culture in the last 30+ years would be very, very different. The Pistols didn't just kick down doors; they kicked them off the wall. For a band who (really) only released one album and four singles, they spawned a sea of imitators; and still do to this day. Not bad for a band that supposedly couldn't play. Yeah right! The Sex Pistols could certainly play; one listen to their ferocious slab of raw rock and roll will soon tell you that. Despite claims from New York, the Sex Pistols are the true originators of punk; no one else had their attitude, balls, or honesty. The Pistols were inspired by anger and poverty, not art and poetry. "An imitation from New York, you're cheese and chalk…" There never was a punk movement. There was the Sex Pistols and there was the rest. The Sex Pistols ARE punk; the rest are "punk rock". Big difference.… (...) The band that would become the Sex Pistols originally began in 1972 when school-friends Steve Jones and Paul Cook decided to form a band; Glen Matlock later joined in 1974. Disillusioned by the bloated progressive-rock and hippie music scene of the time, the fledgling Pistols took their musical inspiration from the 60s mod and rock n roll of The Who and The Small Faces. However, it wouldn't be until 1975 and the arrival of John Lydon that the band took on a whole new level. Steve Jones had spotted someone who looked "a bit different" in Malcolm McLaren's clothes shop. Bernie Rhodes, one of McLaren's associates, spotted the same guy on London's Kings Road; complete with hacked green hair and a homemade "I HATE Pink Floyd" T-shirt. Sacrilege at the time. The Sex Pistols soon started rehearsing, with Lydon (soon to be dubbed Rotten on account of his decaying teeth) providing the lyrics, and Matlock and/or Jones providing the music. One look at this mixture of madmen and working class delinquents told you they weren't going to be just any other band. Having made their live debut as quickly as November 1975, by early 1976 the band began playing live more regularly; playing anywhere that would take them. This was a time where your haircut and clothes could get you into serious trouble. With their unique look and sound, the Sex Pistols were such a bolt out of the blue that they would often find themselves in physical danger. They would regularly have to fight their way to their van after having the plug pulled on them! However, they soon started to attract a following of like-minded souls, some of whom were later nicknamed the "Bromley Contingent", and would include the likes of Susan Dallion (aka Siouxsie Sioux) and William Broad (aka Billy Idol). Everywhere the Pistols would play, the majority of the audience just didn't 'get it'. They thought the band couldn't play, John couldn't sing and they looked awful. But there was a small percentage of the crowd they got through to. The Sex Pistols affected everyone they saw, whether it was a positive or negative reaction. They always got a reaction. It wasn't long before they came to the attention of record companies; the ever-ambitious Sex Pistols together with Malcolm McLaren's entrepreneurial (aka blagging) skills had no intention of signing to a small label. They wanted the biggest and best. EMI eventually won the war. The band signed for £40,000 on October 8th


«I am an Antichrist I am an anarchist Don't know what I want but I know how to get it I wanna destroy the passer by 'cos I I wanna be anarchy! No dog's body»

Anarchy in UK - Sex Pistols (Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols, 1977)

1976. A recent composition penned by Rotten was set to be their debut single, 'Anarchy in the UK'! Like his stage presence, Rotten wasn't scared of saying, or doing, anything. He was more than happy to sow seeds of discontent. 'Anarchy in the UK' was eventually released November 26th, 1976; much to the bewilderment of the mainstream music press. December 1st, 1976 changed the Sex Pistols and the music scene forever. After the group Queen had to cancel at short notice, EMI booked the Pistols to appear on the 'Today' TV show, hosted by one Bill Grundy. A notorious drunk, Grundy had no time for these young upstarts. Treating the Pistols and their entourage with nothing short of thinly veiled contempt, he proceeded to goad them into swearing. Pre-empted by an apparent slip from Rotten, Steve Jones called Grundy's bluff and launched into a stream of F-words. Unbeknownst to the band, the show was being broadcast live throughout London. Not that it would have stopped them anyway. Grundy was one of the first people to learn not to fuck (sorry, rude word) with the Sex Pistols… The following day the Pistols were headline news up and down the country. "Punk-Rock", as it had been christened, had reached the masses. By early January 1977, EMI had buckled to internal pressure and sacked the Pistols. Honoring their £40,000 contract in full. 1976, Record their debut album 'Never Mind The Bollocks' with producer Chris Thomas. The album is released in October and preceded by 2 singles 'Pretty Vacant' and 'Holidays in the Sun'. (...) A U.S. tour was arranged for January 1978. Initially the band were refused entry to the States due to their criminal records, however, their visa problems were eventually sorted with the band only having to pull two shows from the tour. The Pistols being the Pistols, they decided not to play big American cities. Instead they opted to play a short series of dates in the Deep South of the country, in a selection of redneck venues throughout the likes of Memphis, Atlanta and Dallas. These shows were probably the straw that broke the camel's back. The pressure of touring, along with the mixture of in-fighting - together with McLaren's unwillingness to deal with the band as human beings - came to a head. Sid's everincreasing drug problem - and the fact he was the only person on the planet who couldn't see the irony in being called Vicious didn't help the animosity between the group either. 1978, Pistols tour USA. They split up after last date in San Francisco. John returns to the UK. Paul and Steve head to Brazil to team up with Train Robber Ronnie Biggs. Sid overdoses and is admitted to Hospital. First post-Rotten single is released. Double A-side featuring Sid Vicious' cover version of 'My Way' and 'No One is Innocent' with Ronnie Biggs on vocals. Sid's girlfriend Nancy Spungen is found dead in the couple's New York hotel room. Sid is chief suspect and is charged with her murder. He has no memory of the events. (...) 2007 was the 30th Anniversary of 'Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols'. Anniversaries are meaningless. Never Mind The Bollocks is not. The album is just as powerful and fresh now as it was 30 years ago. It's an album that has inspired countless musicians and individuals worldwide since its original release in October 1977. And an album that will continue to inspire - forever. "We're the future. Your future…"

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"Se a música fosse apenas música, talvez nem nos lembrássemos deles. (...) Mas porque a música não é apenas música, estando ligada à maneira de os indivíduos pensarem, agirem e viverem, sendo uma das formas mais antigas de atribuir indentidade, associada em certos períodos com movimentos sociais e políticos e com formas alternativas de experimentar o mundo, os Sex Pistols são um dos grupos mais importantes de sempre na história da música popular. (...) A sua música criou uma nova dinâmica, mas também novas capa, o visual, os corpos abandonados, as suas declarações. As situações criadas por eles não predendiam gerar um mundo mais fraterno, mas sim mostrar que tudo era simulacro. Era necessária uma inversão de valores. Fazer da tábua rasa de tudo. Tudo. Os Sex Pistols foram uma criação do seu próprio manager, Malcolm McClaren, o típico indivíduo capaz de anticipar os acontecimentos um pouco antes dos outros. Foi isso que aconteceu depois de uma viagem a Nova Iorque, onde percebeu que a música e atitude punk tinham tudo para vingar em Londres. Desde o primeiro momento que o grupo se destaca pela atitude de confronto em palco e por canções como No future. A Inglaterra acordou para eles a 1 de Dezembro de 1976, quando foram convidados para um programa de grande audiência da BBC, o Today, uma simpática emissão televisiva apresentada pelo popular Bill GRundy. Na manhã seguinte estavam nas capas dos jornais. O país interrogava-se. E dividia-se Uns nunca os perderam de vista. Outros aclamavam por correcção e punição. Tornaram-se rapidamente no alvo mediático. Concertos tumultuosos, declarações provocadoras ou conflitos com editorassão acompanhados a par e passo. Mas o resto do mundo só se apercebeu o que estava a acontecer durante o fim-de-semana das celebrações do Jubileu da Rainha, em Jubileu de 77. (...) No verão de 77, o punk estava em todo o lado. A Times e a Newsweek informava os seus leitores acerca da emergência de uma subcultura chamada punk. . Artigo de Vitor Belanciano «Sex Pisols» Jornal O Público, Caderno P2, 28 Outubro 2007.

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THE CLASH

«Tommy gun, You'll be dead when your war is won.. Tommy gun, But did you have to gun down everyone?» Tommy Gun - The Clash

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Os Clash foram desde o princípio um grupo que se norteava por fortes preocupações políticas e sociais e neste primeiro álbum a faixa «I'm so bored with the USA» tem um carácter fortemente anti-imperialista o que lhe valeu a proibiçao da edição do álbum nos Estados Unidos. (...) Em 79 novo álbum (duplo em estúdio) de título «LONDON CALLING» que foi considerado pelo «MUNDO DA CANÇÃO» como um dos dez melhores álgum editados em Portugal em 80. (...) . Artigo Carlos Neves «The Clash: Um grupo sempre em evolução.» Revista Mundo da Canção, N.º 60, Fevereiro/Março, 1982.

Referência Consultada: . LETTS, Don, NOBAKHT, David, Culture Clash: Dread Meets Punk Rockers, SAF Publishing Ltd, 2008.

Em 1976, o guitarrista Joe Strummer conheceu três jovens punks de origem proleterária, e da fusão dos seus dois conjuntos (os 101'ers e os London SS) surgiram os Clash. (...) Heartdrops, ao príncipio, e depois passou a ser Clash, e ao fim de pouco tempo estreava-se em público no Islington's Screen on the Green, o festival punk que teve lugar a 29 de Agosto de 1976. Depois participaram, juntamente com os Sex Pistols, os Subway Sect e os Siouxies and the Banshees, no Punk Rock Festival organizado por Malcolm McLaren no «100 Club». Também interviram depois na «Anarchy in the UK TOUR», a digressão dos Sex Pistols interrompida ao fim de poucos dias por intervençaõ das as autoridades. No inicio de 1977, os Clash publicaram o seu priemiro single, White riot, uma canção muito dura em torno dos tumultos desencadeados durante o carnaval de 1976 entre a policia e os jovens negros do bairro londrinho de Notting Hill. Desta forma e desde o primeiro momento, tornou-se evidente o activismo politico da banda, facto que a diferenciavam do anarquismo confuso e nihilista dos Sex Pistols. Novos manifestos políticos foram apresentados no primeiro álbum, The Clash, publicado um mes depois e que o semanário britânico Sounds classificou como «O melhor disco da história do rock» Em 1978 apareceu o segundo álbum, Give'em enough rope; o som era mais sofisticado, mas prosseguia a mesma linha do anterior. Também não faltavam temas de grande impacto emotivo, como Safe european home, English civil war, Stay free, All the young punks e Tommy Gun, etc. Este disco anunciava já o novo som do grupo... Em 1979 nasceu LondonCalling, duplo-álbum publicado em 1979 e vendido ao preço de um único disco. LondonCalling revela as complexas influências que tinham determinado as mudanças dos Clash, levando um raggae «progressivo», melódico e variado, que tinha condiomentos de rockabilly, beat, country, funky, ska, rhythm and blues, disco, etc...Não havia género nenhum que a banda não se aproximasse, e isso sem que a sua tensão política original se visse diminuída. Bons exemplos da nova energia são a própria London Calling, a balada Spanish bombs, o rockabilly Hateful e a estimulanten Train in vain. O grupo entrou nos anos oitenta com um álbum especialmente dirigido ao mercado norte-americano:Black market Clash, disco que de um lado regressava ao primeiro som do grupo. O álbum seguinte foi antecedido do filme Rudy boy, que era a terceira participação cinematográfica do quarteto depois do Punk rock movie de Don Letts, de 1978, e de Punk in London de Wolfgang Buld, 1979. Em 1980 editaram o albúm Sandinista é o disco triplo que leva os Clash ao êxito absoluto. Toda a mestiçagem musical era usada pelos Clash para secundar a «internacionalidade» de um ideário político expresso rm letras cada vez menos confinadas aos problemas proletários ingleses. (...)


ÂŤLondon calling to the faraway towns Now war is declared and battle come down London calling to the underworld Come out of the cupboard, you boys and girls London calling, now don't look at us Phony Beatlemania has bitten the dust London calling see we ain't got no swing 'Cept for the ring of that truncheon thing The ice age is coming, the sun is zooming in Meltdown expected and the wheat is growing thin Engines stop running but I have no fear 'Cause London is drowning and I live by the riverÂť London Calling - The Clash (London Calling, 1979)

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THE RAMONES

«Éramos genuínos. Éramos singulares. Éramos quatro indivíduos singulares.» Joey Ramone

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Hey! Ho! Lets Go! Hey! Ho! Lets Go! Hey! Ho! Lets Go! Hey! Ho! Lets Go!... Este é um dos maiores hinos do punk rock de sempre. Um grito de guerra nascido com um dos primeiros grandes sucessos de uma das maiores bandas de punk rock de sempre... os RAMONES, uma banda estadunidense de punk rock formada em 1974, considerada como precursora do estilo, e uma das bandas mais influentes do rock por todo o mundo. Mas voltando a este «lead», pode ser encontrado na música Blitzkrieg Bop ( 1976 ), esta considerada uma das melhores da banda em si, tocada religiosamente em todos os concertos da mesma. Nascidos em 1974, os Ramones tocaram pela primeira vez na forma de um trio composto por Joey, Dee Dee e Johnny, o qual não deu o resultado pretendido. Os Ramones actuaram pela primeira vez em 16 de Abril de 1974 num clube de Manhattan, New York, que dá pelo nome de CBGB & OMFUG ( Country, BlueGrass and Blues and Other Music For Uplifting Gormandizers ). Daqui surgiram bandas como Televison, The Misfits e Blondie e... os Ramones, aqueles que tiveram uma projecção mais alargada e intensa no mundo da música, passando de actuações num pequeno clube para os grandes palcos do rock, somando nada mais, nada menos que 2263 apresentações durante o seu período de actividade que se traduz em 22 anos intensamente vividos...! ( isso mesmo... um número astronómico de concertos por todo o mundo que deliciou multidões de fãs e que abriu as portas a novos estilos e que fez um marco numa geração em que se construiu o Punk ). Diversas bandas têm os Ramones como principal influência, caso dos Sex Pistols e dos The Clash. E assim... ...Theyre forming in straight line theyre going through a tight wind The kids are losing their minds the blitzkrieg bop Theyre piling in the back seat theyre generating steam heat Pulsating to the back beat the blitzkrieg bop Hey ho, lets go shootem in the back now what they want, I dont know Theyre all reved up and ready to go Theyre forming in straight line theyre going through a tight wind The kids are losing their minds the blitzkrieg bop Theyre piling in the back seat theyre generating steam heat Pulsating to the back beat the blitzkrieg bop Hey ho, lets go shootem in the back now What they want, I dont know theyre all reved up and ready to go Theyre forming in straight line theyre going through a tight wind The kids are losing their minds the blitzkrieg bop Theyre piling in the back seat theyre generating steam heat Pulsating to the back beat the blitzkrieg bop... Hey! Ho! Lets Go! . «Ramones» http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=artistas&op=detalhe&m=13&fokey =bz.bands/800 Referência Consultada: . Documentário de Jim Fields e Michael Gramaglia. «End of The Century - The Story of the Ramones» Nova Iorque, 2003.

Com uma imagem que se tornou a quinta essência do rock primitivo (blusões de couro, t-shirt, calças de ganga e sapatos de ténis), os Ramones representaram um parêntese longo e feliz. Foram as suas canções velozes, o som desgarrado e as letras simples que redescobriram o instinto essencial, o som ligado directamente às entranhas. Em 1974, quatro rapazes diplomavam-se em Forest Hills, pequena cidade do estado de Nova Iorque, célebre pelo torneio internacional de ténis que se celebra aí anualmente. Depois tornase-ia famosa também por ser o local de origem do grupo.

OS FILHOS DE PHIL RAMONE A formação original da banda incluía Joey ramone (cuji verdadeiro nome é o Jeffrey Hyman) como cantor; Johnny Ramone (John Cummings), guitarra; Dee dee Ramone (Douglas Colvin), baixo; e Tommy ramnone (Thomas Erdelyi), bateria. Decidiram tomar este apelido seguindo um episódio dos Beatles: Paul McCartney tinha viajado sob o pseudónimo de Phil Ramones para escapar êxitos dos beatles. Nenhum dos quatro era muito hábil com os instrumentos, mas não lhes faltava ânimo; passaram dias a praticar e, ao fim de alguns meses, já estavam dispostos a apresentar-se na vibrante cena punk de Nova Iorque. Ao contrário de muitas das bandas deste movimento, que tentavam profanar tudo, os ramones aproximavam-se daquela tradição do rock (se bem que exagerada, como exigia a nova época): estavam apaixonados pelas canções dos anos cinquenta, e estes temas constituíram a coluna vertebral do seu reportório. O seu primeiro concerto teve lugar a 30 de Dezembro de 1974 no «Performance Studio». Data história para o punk rock americano, já que por fim o público se encontrava diante de um grupo rude mas sincero, corrosivo, mas simpático. Assim começou a sua peregruinação pelo circuito nova Iorquino, que em Agosto desse mesmo ano levou os Ramones ao palco do «CBGB». Ao princípio, as coisas não corresponderam muito bem: «No nosso primeiro concerto só estavam a assistir duas pessoas: o barman e o cão», recordava Joey Ramone. Mas com os auspícios do seu representante, o ex-jornalista Danny Fields, o quarteto não tardou a pôr-se no caminho do êxito e, depois de um festival de verão em que actuaram mais de quarenta novos grupos, obtiveram o desejado contrato discográfico.


«Hey oh, let's go Hey oh, let's go Hey oh, let's go Hey oh, let's go They're forming in straight line They're going through a tight wind The kids are losing their minds The Blitzkrieg Bop.» Blitzkrieg Bop - The Ramones (Ramones, 1976)

UM SOM DEVASTAFOR Os rapazes não deixaram escapar a ocasião, gravara, e misturaram o seu álbum em apenas três dias de trabalho sem dormir e quase sem comer. Foi assim que nasceu RAMONES (1976). De certa forma, a música do grupo expressava-se já na capa, em que apareciam os quatro encostados a um muro, como se estivessem frente a um pelotão de fuzilamento. E realmente as catorze canções desse álbum eram um verdadeiro choque para os ouvintes, mesmo para os mais preparados para ouvir o som devastador do grupo. A força arrebatadora dos seus concertos tornou-se a chave que explica o êxito dos Ramones, que subiram muito lugares nas listas, triunfando como os álbuns Leave home(1977), rocket to Russia (1977), road to ruin (1978), It’s alive! (1979), duplo ao vivo, e Rock’n’roll hight school (1980), banda sonora do filme do mesmo nome. Com algumas mudanças na sua formação os Ramones entraram, na década de oitenta com o desenjo de levar a cabo novos projectos. Assim nasceu o álbum End of the cenntury (1980), produzido por Phil Spenctor. O disco não chegou muito alto às listas, mas incluía uma pequena pérola como Do you remember rck’n’roll, uma das mais belas e nostálgicas comemorações dos anos cinquenta. Alcançada a máxima popularidade, desde então o grupo vive um período de relativa tranquilidade. A sua fórmula musical, que paradoxalmente constitui um som único, não oferece muitas possibilidades de evolução, e o público também cresce e muda os seus gostos. Mas os Ramones continuaram durante os anos oitenta a fazer música, discos (destacam-se Too tought to die, de 1985, animal boy, de 1986, e Brain Adrain, de 1989), e concertos, com uma grande missão em nome do mais puro e simples rock’n’roll.

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Sniffin' Glue é o nome de um famoso fanzine mensal, fundado por Mark Perry em julho de 1976. O nome surgiu da música "Now I Wanna Sniff Some Glue", dos Ramones. Alguns que escreviam para a revista incluiam jornalistas como Danny Baker. No começo, a circulação vendeu apenas 50 cópias, mas não levou muito tempo para que as vendas aumentassem para 15.000 cópias. O apelo inovativo da Sniffin' Glue era a sua iminência . The Jamming Book Review «SNIFFIN' GLUE - THE ESSENTIAL PUNK ACCESSORY» http://www.ijamming.net/Music/SniffinGluebook.html . PERRY, Mark, Sniffin' Glue - and Other Rock and Roll habits: The Catalogue of Chaos 1976-1977, Sanctuary Publishing Ltd, Edição Ilustrada, 2000.

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Paulo Dâmaso: O álbum "Ramones", de 1976, foi um marco na história da música? Marky Ramone: Penso que foi um disco que marcou uma era e transformou os Ramones nos pioneiros do punk-rock. Assinalar esse feito é uma celebração, é uma data importante e os fãs da banda desafiaramme a vir para a rua e a tocar. . Entrevista de Paulo Dâmaso a Marky Ramone «Os Ramones foram os pionerios do Punk e marcarm uma era» Jornal de Notícias, 29 de Dezembro de 2006.

Referências consultadas: . NICHOLAS, Rombes, 33-1/3 - Ramones, Continuum International Publishing Group, 2005. . PORTE, Dick, Ramones - La Turbulenta Aventura de la banda más transgresora de la historia del rock'n'roll, Ediciones Robinbook, 2009.

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CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL ECONÓMICA, POLÍTICA E SOCIAL DE PORTUGAL

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EQUILÍBRIO INSTÁVEL DE PODERES Com a substituição de Salazar por Caetano, assiste-se à evolução para um sistema de equilíbrio instável de poderes entre o presidente da República e o presidente de Conselho de Ministros, com um crescendo de hesitação quanto aos caminhos a seguir para a auto-renovação institucional de um regime político em paralisia de um tipo Estado cada vez mais desfasados de evolução económica e do contexto internacional. Nos últimos três anos, porém, a crispação institucional prevalecerá, na sequência da tímida revisão constitucional de 1971. . REIS, António, Portugal Contemporâneo, Volume 3, Selecção Reader's Digest, Lisboa, 2006.

. PINTO, António Costa, Modern Portugal, The Society for the Promotion os Science and Scholarship, Palo Alto - California, 1986. . BARREIRO, José Manuel Lara, Pop & Rock, Volume 2/4, Temas da Actualidade. . REIS, António, Portugal Contemporâneo, Volume 3, Selecção Reader's Digest, Lisboa, 2006. . GONÇALVES, Jorge, Dramaturgias do Medo nos Anos 60 em Portugal, Mestrado em Estudos do Teatro, 2004.

«A tempestade dos anos 60 - anos de revolta, de contestação, de revolução política e de novas ideias e mentalidades - também ecoa em Portugal. O regime lograria sobreviver à agitação política de 1961-1962, à perda do Estado da Índia, ao putsch de Botelho Moniz, à sucessão das lutas estudantis (1962, 1965,1969), e aguentará mesmo o impacte e depois a generalização das guerras coloniais. Mas apodrecera e desagregava-se de forma inelutável: era a espera impaciente pelo render da guarda em São Bento, viabilizadora das reformas exigidas por novos grupos dominantes, crescentemente voltados para a Europa. E na própria Oposição o momento é de impaciência e de rupturas na algo gasta «unidades antifascistas»: é a hora do guerrilheirismo, do moaísmo, mas também do socialismo à europeia. (...) A sucessão de Salazar por Marcelo Caetano desenrola-se num clima de compromisso equívocos que suscitam a desconfiança da ortodoxia do regime e alguma expectativa em sectores liberais, graças a alguns sinais de abertura política. A tentativa de fazer das eleições legislativas 1969 um plebiscito em torno da figura de Caetano acaba por se saldar num relativo fracasso. Os anos que se seguem são marcados pela acentuação do impasse provocado pelas guerras coloniais, com a consequente degenerescência do regime. A reeileição de Tomás em 1972 assinala a definitiva capitulação de Caetano perante os ultras do regime, mau grado os esforços que mantém de uma política de reformas nos domínios económicos, social e educativo. O afastamento da Igreja e o progressivo descontentamento das forças armadas marcam o início da agonia do regime. A resistência do regime salazarista ao movimento descolonizador do pós-guerra levará os grupos emancipalistas das colónias portuguesas à luta armada, primeiro em Angora, depois na Guiné e em Moçambique. Apesar das sucessivas condenações da ONU, Salazar não cede. Desenham-se, no entanto, tendências diferentes no seio do regime para a solução do problema colonial, com predomínio dos integracionistas sobre os federalistas, enquanto a oposição evoluirá para soluções independentistas progressivamente mais radicais. A guerra provocará um surto desenvolvimentista e algumas reformas sociais no âmbito de uma estratégia de isolamento dos movimentos de libertação e consolidação da presença portuguesa. A timidez da linha de autonomismo controlado de Marcelo Caetano acabará, porém, por prolongar o impasse, perante o crescente descontentamento dos quadros médios das forças armadas. (...) No âmbito da evolução natural, a diminuição do número de nascimentos e do saldo fisiológico da população, o decréscimo da mortalidade infantil e juvenil e o correspondente acréscimo da esperança médica de vida representam algumas das características que traduzem a evolução da situação demográfica portuguesa observada entre 1958 e 1974. Num plano mais específico, assiste-se à descida das taxas de ilegitimidade ao longo de todo o período e a diminuição das taxas gerais e especificas de fecundidade. As alterações registadas no plano da fecundidade não são apenas a resultante do processo de transição demográfica. Reflectem de forma evidente o impacto do fenómeno emigratório externo. Como consequência, assiste-se ao envelhecimento na base e no vértice da pirâmide etária. A inserção, tardia em termos europeus, de um Portugal arcaico e fortemente ruralizado num ambiente internacional em franca expansão conduz a que formas caracterizadas por distintos graus de tradição e modernidade coexistam, se articulem ou substituam ao longo de todo este período.


Urbanização e terciarização apresentam-se como os catalisadores privilegiados de novos perfis socio-profissionais, contrastando com a relativa lentidão das transformações no seio do(s) mundo(s) rural(is). Na generalidade, contudo, diversas tendências globais podem ser detectadas: recuo das profissões agrícolas e, em geral, dos indivíduos estatisticamente classificados como padrões; reforço dos trabalhadores por conta própria, das profissões terciárias e da participação feminina no mercado de trabalho oficial (...)» «O cinema e a música, apesar da censura, divulgavam novos estilos e outros comportamentos originando os mais assombrosos comentários. Com a explosão dos meios de comunicação, as fronteiras esbatiam-se e o governo, mesmo que o quisesse, não as poderia fechar. Mas podia controlar a informação a veicular: os telejornais abriam com a guerra do Vietname para não mostrar a interna, a colonial; as lutas estudantis não eram matéria de notícias. Deste modo, os jornais e a RTP ocupavam-se de coisas menores, funcionando, em muitos casos, solícita e reverentemente, como uma extensão da indústria discográfica de menor qualidade. Era o tempo da música yé-yé, para que os discos se vendessem; mas sobre o Zeca Afonso e o Adriano Correia de Oliveira pendia o mais rigoroso silêncio. E isto não apenas porque eram politicamente “perigosos”, mas também porque apareciam como porta vozes de sentimentos e valores que habitavam no fundo dos corações. A voz límpida e transparente de Zeca Afonso tinha o eco de um pulsar colectivo, fraterno, solidário, tomando-se o símbolo de uma década. Na rádio, aparece uma nova geração comprometida com o som das rádios piratas que agitavam a Europa. Em vez do lacónico «vão ouvir» ou «acabaram de ouvir» instalava-se a imaginação e uma alegria que parecia contrariar ‘a tristeza e a pobreza lusitanas. Essa geração contestava «o conceito de que a Rádio é apenas um enorme gira-discos», uma tirania do alinhamento musical, propondo, antes, uma nova relação com o som, ou com o ruído, conferindo uma historicidade própria, tempo e respeito para se ouvir o silêncio? Nós dizemos: o mínimo ruído tem uma história própria que é preciso respeitar, que os sons podem estabelecer relações novas e insuspeitáveis. Nós também achamos que o ouvido pensa. Surgia uma geração de profissionais da rádio comprometida com tudo o que estivesse à margem da cultura dominante do nacional cançonetismo. Tratava-se de oferecer uma cultura alternativa, a chamada contra-cultura, que constituía uma revolução estética e moral. São os Beatles, os Rolling Stones, os Doors, mas também Bob Dylan e Joan Baez.»

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A TELEVISÃO Ao longo deste período, a RTP, surgida em 1957, verá o seu espaço de audiência progressivamente alargado, tornando-se uma companhia indispensável na maioria dos lares portugueses. Arma de poder, foi também uma janela para o mundo donde provinham outras realidades e outros valores. Grandes acontecimentos internacionais entram na casa de cada um, a par de emissões de música e teatro, cinema e séries de ficção e alguns tímidos programas culturais. Com toda as suas limitações, não deixará de contribuir para o fim da autarcia cultural e para uma significativa evolução das mentalidades. . REIS, António, Portugal Contemporâneo, Volume 3, Selecção Reader's Digest, Lisboa, 2006.

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A RÁDIO Para um país com a maioria analfabeta (não basta ter a 4.ª classe para ser uma nação suficiente do mundo) deve ser a rádio um dos instrumentos de educação para esse mesmo país. É em todo este contexto que primeiramente parece o problema da música portuguesa. (...)Trata-se de um problema de necessidades de selecção e situação dos registos efectuados. Em que termos? Se a música de intervenção tem efeitos e é incompleta e se já existem canções que contém propostas razoáveis de busca de identidade em diversos campos estruturomusicais. . Artigo de Carlos Neves Revista Mundo da Canção, N.º 59, Setembro/Outubro, 1981.

«Apesar da persistência da censura, assiste-se neste período um significativo aumento da presença da imprensa periódica e a um esforço de melhoria qualitativa. Apareceram novos jornais: Diário Ilustrado, A Capital e o semanário Expresso. A remodelação tecnológica é outra características deste período, e é adoptado pelo Diário de Lisboa e pelo grupo de publicações de O Século: composição a frio, impressão por sistema offset e a cores. A banca intervém na imprensa, comprando títulos que até então pertenciam a empresas familiares. A imprensa anima-se: Jornal do Fundão, Noticias da Amadora, Comercio do Funchal. Em 1970 publica-se uma lei de imprensa. O facto mais relevante no campo educativo é a expansão do sistema do ensino, por efeitos de um aumento da procura de educação, induzido por transformações sociais articuladas ai crescimento 19


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Dá-se a Revolução dos Cravos em Portugal (25 de Abril de 1974) e a independência das então colónias portuguesas em África: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

económico. Os desajustamentos entre a procura e a oferta de educação vão manifestar-se em carências, disfunções e atrasos de sistema de ensino. (...) Numa sociedade essencialmente católica como a nossa, o sexo tinha como contrapartida o pecado, e a norma de culpabilidadesexualidade era o mecanismo repressivo dos impulsos sexuais indesejados. Os rapazes sofrem de uma situação contraditória: uma liberdade relativa e a interdição de a utilizar para satisfazer os seus desejos sexuais. A Ambos os sexos se ensina a separação do espiritual do carnal. Fala-se de amor, de casamento e do aparecimento de filhos, sem a mínima alusão à vida sexual. Com este tipo de educação garante-se não só a censura social de todas as manifestações sexuais pré-matrimoniais, como uma poderosa autocensura, que era corroborada por uma separação e vigilância contínua dos rapazes e das raparigas. Portugal, contrariamente a diversos países europeus, não sente os efeitos da revolução sexual dos anos 60. Apenas conseguiu recuar um pouco a fronteira do proibido. (...) A década de 60 corresponde a um acelerar do desenvolvimento económico e social culminando no boom do turismo, da indústria e do terceiro urbano, com uma inevitável e gradual fragmentação das ideia e conceitos veiculas que culmina com a ruptura de 1974. A Revolução dos Cravos foi um período da história de Portugal, despoletado por um golpe de Estado militar ocorrido a 25 de Abril de 1974 que depôs o regime ditatorial Estado Novo, vigente desde 1933 e iniciou um processo que viria a terminar com a implantação de um regime democrático com a entrada em vigor de uma nova Constituição a 25 de Abril de 1976 . Este golpe, normalmente conhecido pelos portugueses como 25 de Abril, foi conduzido por um movimento militar, o Movimento das Forças Armadas (MFA), composto por oficiais intermédios da hierarquia militar, na sua maior parte capitães que tinham participado na Guerra Colonial e apoiados pelos oficiais milicianos, estudantes recrutados, muitos deles universitários. Este movimento nasceu por volta de 1973, baseado inicialmente em reivindicações corporativistas como a luta pelo prestígio das forças armadas, acabando por se estender ao regime político em vigor. Sem apoios militares, e com a adesão em massa da população, a resistência do regime ao golpe foi praticamente inexistente, registando-se apenas quatro mortos. Após o golpe foi criada a Junta de Salvação Nacional, responsável pela nomeação do Presidente da República, pelo programa do Governo Provisório e respectiva orgânica. Assim, a 15 de Maio de 1974, o General António de Spínola foi nomeado Presidente da República que por sua vez atribuiu o cargo de primeiro-ministro a Adelino da Palma Carlos. Seguiu-se um período de grande agitação social, política e militar conhecido como o PREC (Processo Revolucionário Em Curso), marcado por manifestações, ocupações, governos provisórios, nacionalizações, e confrontos militares, apenas terminado com uma tentativa de golpe de Estado fracassada a 25 de Novembro de 1975. Com uma conjuntura mais estável, foi possível prosseguir com os trabalhos da Assembleia Constituinte e chegar a uma nova constituição democrática, que entrou em vigor no dia 25 de Abril de 1976, o mesmo dia das primeiras eleições legislativas da nova República. Quase todos reconhecem, de uma forma ou de outra, que o 25 de Abril representou um grande salto no desenvolvimento político-social do país.»


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PUNK ROCK PORTUGAL

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Ao contrário dos anos 60, a década de 70 acabou por se revelar profícua na construção de projectos excepcionalmente válidos para o desenvolvimento do rock’n’roll. Basicamente podemos perspectivar o fenómeno em três intervalos de tempo diferenciados: os primeiros quatro anos até ao Abril de 74; o período do pós-revolução que seguiu; a chegada até nós do punk-rock no final da década e o germinar das raízes da música moderna. Tematicamente, é impossível criar fossos absurdos entre a vaga psicadélica que despontou em 67 e a realidade do nosso rock a partir de 1970. Por isso, teremos de iniciar esta abordagem preciosamente com base na análise da herança deixada por esses conturbados anos 60. Conforme foi referido, o cenário português acabou por actuar como um «pau de dois bicos» para o rock. Se, por um lado, o seu sistema ditatorial servia como motivo de inspiração perfeito para a contestação natural do rock, as suas regras, determinadas segundo modelos severos de vigia, impossibilitavam a sua expansão ao imaginário de todos os jovens portugueses, mantendo-se o fenómeno restrito às zonas urbanas mais populosas, com Lisboa e o Porto à cabeça, muito naturalmente. Apesar disso, o rock impôs-se fortemente como veículo de vida e atitude de muitos portugueses, podendo a sua história entre nós durante a década de 70, ser compreendida a partir do retrato do relato de um episódio que ilustra bem a sua importância social e política. . BARREIRO, José Manuel Lara, Pop & Rock, Volume 2/4, Temas da Actualidade.

. Artigo de Rui Miguel Abreu «ROCK EM PORTUGAL Anos 70: Eléctricos & Revolucionários» Revista Blitz, 22 de Fevereiro de 2007 http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?num=20&fokey=bz.stories/4922&p =stories&op=view&uop=userlogin

Musicalmente falando, o final da década de 60 em Portugal foi extremamente rico e entusiasmante, graças às movimentações de grupos como o Quarteto 1111, Psico, Pop Five Music Incorporated e Objectivo. Na música desses grupos encontravam-se algumas das mais significativas sementes que marcariam boa parte da produção de 70, uma década com um cariz revolucionário que não se limitou ao plano político. O clima em Portugal, no arranque dos anos 70, não era o mais propício ao livre desenvolvimento de culturas juvenis. Por isso mesmo, o eco de inovações internacionais na música – sobretudo as que eram personificadas pelo eixo Black Sabbath/Led Zeppelin que liderava o contingente mais pesado do rock – chegava a Portugal mas o seu impacto era limitado. Júlio Pereira, um dos nomes incontornáveis da música popular portuguesa, que na década de 70 deixou a sua marca em grupos como os Petrus Castrus e os Xarhanga, refere que a missão rock no Portugal pré-25 de Abril era praticamente impossível: «Estar no rock nesse tempo era difícil porque muitas vezes acarretava desavenças com a família, com a escola, com os vizinhos e... sobretudo com a polícia...». De facto, logo em 1970, o extremar de posições das autoridades em relação à música ficou claro. No Verão desse ano, um festival em Oeiras, onde deveriam apresentar-se grupos de rock e alguns cantores como Zeca Afonso, mereceu das autoridades policiais uma forte repressão. Zeca envolveu-se de corpo e alma no movimento sindicalista que tinha sido despoletado pela «Primavera marcelista» e tinha acabado de editar Traz Outro Amigo Também, álbum gravado no início de 1970, em Londres, e que motivou o Prémio de Honra da Casa de Imprensa, que reconhecia na sua obra um forte estímulo para a renovação da música popular. Para as autoridades, tudo isto era sinónimo de problemas. Por isso mesmo, e para tentar impedir a realização do festival que tinha levado alguns milhares de jovens até à vila de Oeiras, foi ordenada uma carga policial. A história provou, no entanto, que não se podia parar o tempo e, no ano seguinte, Vilar de Mouros recebeu o primeiro Festival de Rock do nosso país e provou que havia uma nova geração a vibrar com este pulsar eléctrico. Na génese de um Portugal sintonizado com os caminhos mais duros do rock encontra-se obrigatoriamente o grupo Chinchilas de Filipe Mendes, também conhecido por Phil Mendrix, um verdadeiro ícone da «arte eléctrica de ser português». Os Chinchilas tiveram uma existência efémera e editaram muito pouco, mas foram a primeira plataforma para o talento de Filipe Mendes – que havia de formar os míticos Heavy Band no início dos anos 70. «As minhas influências foram os Beatles e os Stones e mais tarde os Cream e o Jimi Hendrix», revela Filipe Mendes, que continua activo e que até tem um disco novo. Inovador na forma de abordar a guitarra e com um estilo próximo do de Jimi Hendrix (razão pela qual ganhou a alcunha Phil Mendrix), Filipe Mendes tornou-se um verdadeiro militante da causa rock em Portugal. Com os Chinchilas editou em 1971 o single «Barbarella», que Filipe Mendes ainda hoje considera o melhor dos seus registos na década de 70, explorando o formato de power-trio que continuaria com a Heavy Band, grupo que criou em 1972 com Zé Nabo e João Heitor. Esta formação ganharia mesmo estatuto mítico, por causa de distantes relatos de incendiários concertos e também porque os dois singles que gravaram só tiveram edição em Angola, factor que contribuiu para uma certa raridade e consequente procura. Filipe Mendes reconhece que os Heavy Band surtiram algum efeito no panorama musical português: «eu tenho noção que tive seguidores, desde o estilo de música até ao tipo de


aparelhagem que usava. Muitas vezes entrei em casas de música em que os gerentes me diziam que havia muita procura de amplificadores como o meu. Na altura, recebi muitas ofertas, quer a nível nacional quer internacional, para comprarem as minhas próprias guitarras e amplificadores». Filipe Mendes faria ainda parte da única formação dos Psico que ficou registada para a posteridade (com a edição do single «Al» em 1978) e dos Roxigénio, que editariam já depois do virar da década, em 1980. Mais ou menos contemporâneos dos Chinchilas são os Beatniks de João Ribeiro e, mais tarde, Rui Pipas, Mário Ceia e José Diogo (nesta fase acrescentaram um «c» e passaram a ser os Beatnicks). Ao esforço de contracultura dos tempos que precederam a revolução, os Beatnicks acrescentaram uma certa reverência psicadélica pelo lado mais «druggy» da cultura beat e dos seus reflexos no rock. Em 1971, o seu single «Christine Goes To Town» espelhava a influência pesada dos Black Sabbath e obrigava as longas cabeleiras que ocorriam aos seus concertos a abanarem-se em perfeita sincronia com as descargas de poder eléctrico. Os Beatnicks foram uma das presenças mais discretas em Vilar de Mouros (ver caixa) mas também uma das mais pesadas. Filipe Mendes não hesita mesmo em incluir os Beatnicks – juntamente com os Objectivo de Zé Nabo – no grupo das bandas mais pesadas do Portugal de 70. Júlio Pereira pode ter assumido lugar de destaque na geração que partiu à descoberta das raízes tradicionais da música portuguesa – mas, muito antes de insuflar nova vida no cavaquinho, era com uma guitarra eléctrica que o podiam encontrar. «Praticamente só ouvia rock. E gostava de tocar o que na altura se designava por Hard Rock. Formação “clássica”: baixo, guitarra e bateria. Só perto dos 20 anos descobri o jazz e outras músicas», revela o músico quando questionado sobre o início da sua carreira. Júlio Pereira fez parte dos hoje históricos Petrus Castrus, grupo que em 1970 editou um dos marcos da década, o LP Mestre, obra carregada de rock e política com um famoso poema de Ary dos Santos, «SARL», a servir de mote para pesadas deambulações eléctricas de Júlio Pereira. O poder instituído não gostou e o grupo foi mesmo pressionado pela censura que, como diria José Cid, silenciou alguns dos seus trabalhos. Júlio Pereira só participou na formação que gravou Mestre e saiu pouco depois para criar os Xarhanga, grupo que deixaria dois singles para a posteridade: «Acid Nightmare»/«Wish Me Luck» e «Great Goat»/«Smashing Life». Na altura cantava-se em inglês, com bastante peso e alguma medida. O 25 de Abril estava próximo e traria enormes mudanças. «O 25 de Abril foi um marco importante na vida dos portugueses. Mas para o rock trouxe uma regressão porque as pessoas associaram o estilo de música anglo-americana ao imperialismo», afirma Filipe Mendes. Júlio Pereira tem outra visão da revolução de 74: «até lá odiava música popular. E não havia em casa o hábito de ouvir fado. O 25 de Abril proporcionou-nos a possibilidade de conhecer muitos sons de instrumentos e vozes da nossa tradição musical». Outra das coisas que a Revolução dos Cravos proporcionou, pois claro, foi liberdade – valor sem o qual, garante JC Serra, membro fundador dos Aqui d’El Rock, o punk nunca teria acontecido em Portugal:

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A claustrofobia social das grandes cidades britânicas acabava de criar, assim, uma das gerações mais emblemáticas na luta do rock contra todos os sistemas por excelência. Isto é, mais do que uma causa musical, o punk apresentou-se como uma bofetada política, arrastando consigo todos os rebeldes e descontentes, sem excepção. Em Portugal, e especificamente em Lisboa, os seus ecos foram sentidos nos já referidos grupos, apesar de, esteticamente, nunca terem atingido os extremos tocados pelos Sex Pistols ou X-Ray Spex. No entanto, o seu aparecimento no circuito musical nacional não é espontâneo, tendo um homem sido o responsável pelo seu apadrinhamento: António Sérgio e o seu programa Rotação da Rádio Renascença. Inclusive, António Sérgio foi mais longe e lançou o primeiro «álbum pirata» de edição portuguesa pela Pirate Dream Records, uma editora igualmente ilegal. Nessa compilação - Punk Rock 77 - encontrara,-se bandas como os Morhead, Sex Pistols, The Jam, Genaration X ou London. . BARREIRO, José Manuel Lara, Pop & Rock, Volume 2/4, Temas da Actualidade.

«IMPOSSÍVEL!»(...) 23



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AQUI d'EL ROCK

«Há que violentar o sistema! Há que violentar o sistema! Há que violentar o sistema!» gritava, com todas as forças que podia, o vocalista dos Aqui d'el-Rock no primeiro concerto desta banda punk, no pavilhão de Campo de Ourique.

Quando em 1977 os Aqui d’el-Rock nasceram, foram apelidados de oportunistas pelos que em Lisboa se auto-proclamavam de punks autênticos – uns certos betinhos da Av. de Roma e seus acólitos. Dois dos elementos fundadores da banda, José Serra e Fernando Gonçalves, já se tinham juntado em 1972 quando formaram a sua 1ª banda no sítio onde viviam, o Bairro do Relógio (aka Bairro do Cambodja), bairro que viria a tornar-se um dos mais marginais de Lisboa e que já nos anos 90 foi demolido, alegadamente devido ao contínuo agravamento dessa marginalidade e aos graves problemas sociais que originava. Integravam a banda na sua formação original, a que se apresentou no seu 1º concerto no C.A.C.O. (Clube Atlético de Campo de Ourique), os já referidos Serra (bateria) e Fernando (baixo), o Alfredo Pereira (guitarra), os três que já faziam parte de uma formação anterior (Osiris), e o Oscar Martins (voz e guitarra), colega do Alfredo na Faculdade de Economia de Lisboa (I.S.E.), que se juntou aos demais precisamente para completar e lançar o projecto Aqui d’el-Rock. A concepção da banda foi na verdade fruto de uma conjugação de circunstâncias, que levaram o seu colectivo a achar-se no direito de reclamar o espírito do movimento punk como sendo seu também, já que esse espírito representava na sua essência algo que tinha a ver com o sentir do grupo, ou seja, uma grande revolta quer em relação à cena rock nacional e internacional, quer em relação à organização da sociedade em geral, além de que poderia eventualmente ajudar a descobrir vias por onde pudessem fazer passar os seus idealismos musicais. Três anos após a chamada Revolução dos Cravos (25 de Abril de 1974), viviam-se em Portugal grandes transformações, grandes expectativas, mas também imensas dificuldades a muitos níveis. Conscientemente o grupo assume essas vivências e sem concessões escolhe a sua própria filosofia; e é com grande naturalidade que os AdR acabam por liderar essa corrente apelidada de “boom” do rock português, onde as novas bandas procuram fazer coisas diferentes. Temas fortes com letras corrosivas, som agressivo e muito poderoso, alguma experiência de palco a par com a novidade, são os principais factores para que tal aconteça. Falta o dinheiro para a compra de material, ou para pagar o aluguer de um estúdio para trabalhar/ ensaiar. A 1ª guitarra do Fernando é construída pelo próprio; a bateria é comprada à peça e fabricada por um artesão que a vai construindo conforme a possibilidade de pagamento; o P.A. de voz é adquirido em 2ª mão a um grupo de baile e em muitas prestações, servindo na prática também como amplificador de guitarras. Os locais de ensaio são os mais diversos e as mudanças compulsivas sucedem-se, devido sobretudo às queixas pelos incómodos provocados na vizinhança que reclamava do excesso de decibéis. Mas nessa época há muita vontade e dinamismo e o resultado desse empenhamento começa a dar frutos em meados de 1978, com a gravação de um 1º single que incluía o mítico “Há que violentar o sistema” e a apresentação oficial no já referido espectáculo no C.A.C.O., ambos citados na imprensa ligada ao meio e não só, o que constituiu também algo de raro e inovador, tal como o próprio espectáculo que até registou uma encenada invasão de palco por parte dos elementos de outro grupo conotado ao punk - Os Faíscas. Aliás, os Aqui d’el-Rock acabaram por forçar a RTP a produzir o 1º video-clip português, imagens raramente exibidas. Devido à sua incómoda postura, a banda foi alvo de censura, a tal que deveria ter acabado com a ditadura fascista, numa perseguição que lhe foi movida e aplicada com as mais esfarrapadas justificações (...)


«Puxa p’la pinha e adivinha qual é a coisa qual que sendo velha como o cagar é nova ou está por inventar pior que boa melhor que mal e que de tanto mudar continua igual A coisa é peta por cheta, é cheta por peta, é virgem puta é treta a coisa são coisas e loisas são loisas e coisas a coisa é o sistema e por isso há que violentar o sistema...» Aqui d'el rock - Há que Violentar o sistema (Há que violentar o sistema - Quero Tudo, 1978)

ENTREVISTAS (...) RP – Porquê “Aqui d’el-Rock”?... Serra – Somos um grupo de gajos que vivem, desde há uns anos à brocha... Somos músicos sem formação básica de conservatório e essas coisadas todas. Somos os chamados músicos orelhudos, como alguém nos chamou. Nós somos os orelhudos, né? Começámos há uns anos a fazer barulho. Fomos juntando umas colunas, uma bateria feita aos bocadinhos e mais umas coisas... Verificámos, então, que havia um certo movimento de músicos que não têm possibilidades monetárias de fazer grandes coisas, agarrámos nessa ideia e fazemos o que sempre desejámos fazer... RP – Vocês entraram para o punk por oportunismo? Serra – Nós, para já, não nos auto-denominamos... como é que é... é assim que se diz? - de punk. Temos uma série de ideias que, em grande parte, coincidem com as do punk. Se o punk for aquilo que nos propusemos a fazer, somos punk. Se não for, não somos punk. Para já, não nos auto-denominamos de punk. RP – Então o que é isso que vocês fazem? Alfredo – O que a gente está a fazer é uma música que sempre gostámos. Se isso é punk pois nós somos. (...)

. Extracto da entrevista de António Duarte. Revista Rock em Portugal.

(...) M&S – Mas qual é a importância da música “punk”, da vibração intensa, frenética, imperativa que só se pode recusar ou aceitar como uma espécie de ritual colectivo? Porquê a música motorizada sem esperança? Óscar – Há um certo êxtase... mas não queremos arregimentar hostes cegas. A gente leva uma vida intensa, e só nos interessa viver intensamente; as pessoas têm de viver urgentemente senão tornam-se cadáveres ambulantes... Alfredo – É uma música que traduz um modo de vida. O “modus vivendi” que nos é próprio, mas muito mais a vida de muitas pessoas; traduz a oposição dos que agem e a vida dos que aceitam. E isto reflecte-se naquilo que dizemos. (alguém) – A gente tinh a uma cultura rock – uma cultura rock não oficializada de preferência, isto é, não a música massificada... numa música viva e actuante não existe essa cultura. Alfredo – A agressividade com que tocávamos era o resultado da nossa vida de desempregados.... são as forças vivas que retirámos do que fomos vivendo que nos levam ao que fazemos hoje. M&S – E em relação a saídas? Na Grã-Bretanha há grupos que se reivindicam do socialismo ou da anarquia, dentro da “New Wave”, estou-me a lembrar de “Anarquia… hhmmmm...”, no Reino Unido,... Óscar – “Anarchy in U.K.”, dos Pistols. M&S – É isso, os Sex Pistols por exemplo, ou os Clash, ou os BuzzCocks... Óscar – Não queremos dizer às pessoas que devem fazer isto ou aquilo. Nós transmitimos as nossas experiências, gritamos “alerta”, dizemos que estamos vivos. A partir daí as pessoas desenvolvem, têm de ter a cabeça oleada, senão... Alfredo – Em termos gerais, todos nós temos ideias de um sistema se de esquerda, se de direita. Há um ano era mais fácil, mas sabemos o campo político por que optamos. (...)

. Extracto da entrevista de Pedro Ferreira. Revista Música & Som.”

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OS FAÍSCAS

. Artigo de Pedro Brinca Revista Ritual, página 25, Abril de 1993. http://rockemportugal.blogspot.com/2008/04/biografia-osfascas-actualizada-com.html

Foram primeira banda punk em Portugal. Pelo menos é o que a história. Mas nunca gravaram nenhum disco, tendo sido batidos, nesse aspecto, pelos Aqui d'EI que editaram dois singles. O início dos Faíscas pode ter sido na cervejaria Munique, juntamente com o arranque de outros projectos. como os Raios e Curiscos ou os Deliriwl1 Iremens. mais tarde. Xutos & Pontapés. O local de ensaio era a Senófila, onde ensaiava meia Lisboa, e também aí se cruzaram com os Xutos. Aliás Zé Pedro e Zé Leonel, dois fundadores do grupo de "Sémen", chegaram acolaborar, como pcrformers, num concertos dos Faíscas. A sua função era dar estaladas no público e obrigá-lo a mexer. Mas os Faíscas, mais do que divertir e escandalizar, como diria Johnny Rorren, c como eles sejustificavamnaaltura. foi o apalpar de terreno para a criação de uma série de projectos que marcaram adécada de oitenta e toda a história da música portuguesa. Subiam para opalco com a cara pintada, vestidos de uma forma bem estranha,principalmente lendo em contaque poucos cm Portugal acompanhavam os fenómenos britânicos dos Sex Pistols e Clash, pejados de alfinetes e cruzes suásticas. Tocam muito em Lisboa, no “Bar É” ou na boite “Browns”, sozinhos ou com os UHF, Minas & Armadilhas (duas bandas que surgiram depois) e os “contemporâneos” Aqui D’El Rock. Muitos dos concertos eram organizados pelos próprios membros da banda. Editavam um “fanzine”, também intitulado “Faíscas”. Em 29 de Abril de 1978, no Liceu D. Pedro V, houve um Festival em Lisboa, com os Elo e os Aqui D’El Rock. Os Faíscas, como não foram convidados, invadiram o palco e pediram para tocar. Conseguiram tocar durante dez minutos, antes de serem expulsos do palco. No dia 27 de Maio de 1978 (há quase trinta anos- como o tempo fogeparece que foi na semana passada), os Faíscas deram um concerto no Cine – Teatro do Sabugal, que ficou na memória de todos quantos a ele assistiram, não tanto pela música, mas pelas peripécias associadas a tal espectáculo. Foi uma noite de Punk a valer que incluiu tudo o que se associa a um espectáculo Punk. Para manter o ar, os nomes eram camuflados por pseudónimos: Rocky Tango, Dedos Tubarão, John Lee Finuras e Flash Gordon . Falta dizer que corria o anode 1978 e na altura pouco mais havia em Portugal para além dos Tantra, Beasnicks, Petrus Castrus e Arfe & Ofício, todos na onda do rock sinfónico, excepção dos últimos, dedicados ao hard-rock. Apesar dc terem dito numa entrevista que não queriam mais um conjunto que apareceu e desapareceu e que tinham vindo para ficar, os Faíscas duraram pouco, muito pouco mesmo. Em Julho de 1979 aparecia um disco dos seus sucessores, Corpo Diplomático. Originários da evolução dos Faíscas, os Corpo Diplomático surgiam com formação reforçada e editavam um dos melhores discos portugueses de sempre, preconizando alguns anos antes, aquele que seria adoptado a partir da 1984 como rótulo para a música portuguesa. O álbum chamou-se "Música Moderna". Ramalho formou depois os Street Kids, juntamente com Nuno Rebelo,e tocou em mais grupos do que qualquer outromúsico português, incluindo os Rádio ea banda de Lena D'Água. Actualmente é baterista dos Delfins. Em relação a Paulo Pedro Gonçalves e Pedro Ayres Magalhães, escusado será dizer que foram mentores dos Heróis do Mar, integrando actualmente os LX 90, um, e os Madredeus, Resistência e Delfins, o outro. No final dos anos 70 os Faíscas eram uma banda punk, na transição da década os Diplomático inseriam-se na New Wave, no início dos 80 os Heróis do Mar foram neo-românticos.


CORPO DIPLOMÁTICO

A Banda Corpo Diplomático é um acontecimento emblemático da música punk/new wave em Portugal, aparecendo mesmo do fim dos anos 70, mas que foram esquecidos em virtude da vertente vanguadista da sua música, mas que mais tarde se irá popularizar ou massificar na Banda Heróis do Mar . Tendo a sua origem na banda verdeiramente punk, os Faíscas, dos quais infelizmente não existem gravações, mas apenas na memória de alguns qua a viram ao vivo que como eu estiveram no festival da “Música & Som” ou nas noites quentes do saudoso Brown’s. Os Corpo Diplomático, apradinhados pelo locutor realizador de rádio António Sérgio, que foi o primeiro a divulgar no nosso país música punk e new wave (correntes onde a banda ia buscar água para matar a sede), gravam um single, em 79, de edição limitada e numerada. Este registo continha no lado A o tema a "Festa do Bruno" e no lado B a arrojada recriação de "Engrenagem" de José Mário Branco. O tema principal deste disco aparece na colectânea "Biografia do Pop/Rock" editada pela Movieplay. Mo mesmo ano é editado o LP "Música Moderna", cuja bela capa tem uma imagem cedida pela Associação de Amizade Portugal - China. Sem o apoio por parte dos média este excelente disco passa completamente ao lado. O tema "Férias " aparece na compilação "O Melhor do Rock Português – Vol.II 1979-1985 (EMI 2004).

. http://discosperdidosruc.blogspot.com/2009/03/biografiacorpo-diplomatico.html

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MINAS & ARMADILHAS

Corriam os anos de 1978 e 1979. Eu e o Paulo Borges tínhamos acabado o Liceu, passámos um ano sem fazer nada no Serviço Cívico e entrámos para a Faculdade: eu para História, ele para Filosofia. Ouvíamos então Sex Pistols, Clash, Damned, Television e Dr. Feelgood. Numa conversa num dos corredores da Faculdade de Letras resolvemos criar os Minas & Armadilhas. O Paulo Borges já tinha a ideia mais ou menos pensada, faltava arranjar um baterista e um baixista. Não tardaram a juntar-se a nós o Zé Eduardo e o Peter. Depois, entre a minha casa e a Senófila, os ensaios começaram. O Paulo Borges escrevia as letras e eu sacava umas malhas na viola para encaixar as letras "Corriam os anos de 1978 e 1979. Eu e o Paulo Borges tínhamos acabado o Liceu, passámos um ano sem fazer nada no Serviço Cívico e entrámos para a Faculdade: eu para História, ele para Filosofia. Ouvíamos então Sex Pistols, Clash, Damned, Television e Dr. Feelgood. Numa conversa num dos corredores da Faculdade de Letras resolvemos criar os Minas & Armadilhas. O Paulo Borges já tinha a ideia mais ou menos pensada, faltava arranjar um baterista e um baixista. Não tardaram a juntar-se a nós o Zé Eduardo e o Peter. Depois, entre a minha casa e a Senófila, os ensaios começaram. O Paulo Borges escrevia as letras e eu sacava umas malhas na viola para encaixar as letras."

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UHF

«Não havia espírito de comunidade porque a malta de Lisboa era mais burguesa. Os Aqui d'El Rock eram mais genuínos mas o pessoal da Avenida de Roma tinha outra abordagem». Carlos Peres

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«Seria pouco inteligente da nossa parte não assumir a função discursiva do rock. O rock precisa de ter um mass-media altamente capaz de ser conotado, quer um termos de imagem quer em termos de ideologia.» António Manuel Ribeiro «Quanto a mim, não me custa absolutamente nada referenciar as minhas origens, o meu ponto de partida. A minha aproximação ao rock deu-se através do contacto com a música dos anos 60, em geral, é, de um modo mais particular e intenso, com a música dos Doors. Dentro da grande avalanche de nomes e de grupos desses tempos, durante os quais decorreu a minha adolescência, a minha atenção concentrou-se sobretudo nos Doors, devido a aspectos ligados aos textos, nos quais se reflecte toda uma causa social (...)» . Artigo de Mário Correia Revista Mundo da Canção, N.º 62, 1982.

Há 30 anos, em Almada, começou a desenhar-se uma das mais importantes histórias do rock português. Os UHF nasceram de sonhos e cresceram de forma sólida, tendo muito provavelmente palmilhado mais quilómetros de estrada do que qualquer outra banda nacional. Em 1977, quando o punk estalava em Inglaterra, Portugal ainda se procurava ajustar à liberdade recém-conquistada. Os UHF foram dos primeiros a saciar uma imensa sede de rock nessa nova realidade social e política. Os Xutos & Pontapés já são comendadores e Rui Veloso atingiu o ponto de uma inabalável unanimidade. Mas os UHF – que anteciparam o estoiro de «Chico Fininho» por uns bons meses e que chegaram a emprestar material aos Xutos no início da carreira destes – parecem nunca ter recolhido o mesmo reconhecimento de que os seus contemporâneos hoje gozam. Apesar da vida intensa na estrada, da dilatação constante da discografia e do culto fervoroso de que são alvo, aos UHF parece faltar qualquer coisa. Carlos Peres e Renato Gomes, baixista e guitarrista da primeira formação, não hesitam em usar a palavra «injustiça» e falam de um aplauso sentido que tarda em chegar. Peres, que hoje é funcionário público, refere «um certo abandono dos UHF» e depois acrescenta: «penso que isso também se deve ao facto de o António Manuel ter prosseguido com o grupo. São muitos anos – e às vezes é preciso parar». Já Renato Gomes, hoje representante português da marca de equipamento musical Fender, adiciona à fogueira a acha da independência: «talvez isso se deva também ao facto de sempre termos sido independentes – sempre procurámos fazer tudo sozinhos, nunca ficámos presos nem a editoras nem a empresas ou partidos e nunca frequentámos os cafés da moda ou aquela noite onde certas coisas se decidiam. Talvez por isso, as pessoas foram-se esquecendo dos UHF». No momento em que passam 30 anos sobre os primeiros passos que levaram à formação oficial dos UHF, em 20 de Novembro de 1978 (data do primeiro concerto), procurámos a origem e desfiámos o novelo da memória de que se fazem estas três décadas de «canal maldito». Entre as primeiras conversas nos cafés de Almada – «quando uma “mini” tinha que dar para dois», como refere António Manuel Ribeiro – e a consagração com a edição do primeiro álbum, À Flor da Pele, em 1981, há uma história de dedicação extrema, singular e, de certa forma, visionária. Mas antes de qualquer história há uma pré-história – e a de António Manuel Ribeiro fezse de colagem de posters nas paredes do quarto e de sonhos rock de olhos bem abertos.

A Pré-História

. Artigo de Rui Miguel Abreu «UHF 1978-1981 verdes anos» Revista Blitz, 30 de Novembro 2007.

«No princípio não gostei dos Beatles», explica o eterno vocalista dos UHF. «A minha primeira ligação à música britânica foi através dos Rolling Stones. Com o rádio de pilhas debaixo da almofada ia ouvindo aquelas vozes mágicas da rádio e descobrindo música». O primeiro disco de que António se lembra foi-lhe oferecido pela avó e era The Boxer, da dupla Simon & Garfunkel. Mas comparações com Jim Morrison foram a constante ao longo da carreira – e haviam até de sair da boca de futuros rivais. Porém, foram os discos e as poses que via espalhadas pelas páginas da revista francesa Rock & Folk, que assina desde 1971, que lhe conquistaram o espírito. «A primeira vez que senti que queria ser músico devia ter uns 14 anos», revela. «Tinha descoberto o Alvin


«Rua do Carmo, rua do Carmo Mulheres bonitas, subindo o Chiado Mulheres alheias, presas ás montras, Alguns aleijados em hora de ponta.. Olha como é, a Rua do Carmo Olha como é, a Rua do Carmo » UHF - Rua do Carmo (À Flor da pele, 1981)

Lee, com o Love Like a Man. Nas fotos, ele aparecia com uma Gibson ES-335 e eu decidi fazer uma guitarra igual. Eu era um aluno excelente a matemática e a desenho – com as fotos como referência, comecei a desenhar a guitarra. Media o dedo dele, media o meu dedo e fazia os cálculos para chegar ao tamanho correcto. Dessa forma construí três guitarras, não a parte eléctrica, mas toda a parte de madeira». Esse jeito para a marcenaria, herdado do pai, havia de ser útil daí a uns anos – já com os UHF. Equipado com livros como o Método de Guitarra – «muito difícil de seguir, a colocação dos dedos não era nada fácil», confessa – e vários «songbooks», de Beatles a Crosby Stills & Nash, o futuro vocalista dos UHF obrigou--se a aprender música, seguro de que era esse o seu caminho, ao mesmo tempo que ia prestando atenção à paisagem musical que o rodeava: «seguia a carreira do Filipe Mendes, do Quarteto 1111, do Pop Five Music Incorporated do Miguel Graça Moura. Os Chinchilas eram uma banda fantástica», explica o cantor. «Eu estudava em Lisboa, no Dom João de Castro, na Ajuda, porque estava a seguir Ciências, que não havia em Almada. Lembrome de saber de um concerto no antigo Pavilhão Carlos Lopes, que era uma final qualquer de um concurso de bandas. E eu, mais um par de malucos da turma que gostavam de música, fomos vê-los e lembro--me de absorver tudo – ficámos à espera que chegassem as bandas, prestei atenção ao que vestiam – tinham todos cabelos mais compridos do que nós. Foi fantástico». Antes de os UHF propriamente ditos surgirem, António Manuel Ribeiro teve uma experiência incipiente num circuito que se revelaria mais tarde como embrião do boom do rock português – o dos bailes. «Cheguei a ter uma banda que foi convidada para um par de bailes, que era o que havia na altura. Essa banda tinha um guitarrista brasileiro – que eu detestava porque só queria tocar coisas brasileiras. Então tínhamos que cantar cinco sambas, antes de eu poder tocar o “Satisfaction”, e depois mais cinco temas brasileiros…». Renato Gomes também recorda essa era dos bailes, num país que ele descreve como sendo «a preto e branco»: «era uma época muito agitada, de grandes incertezas, muito cinzenta. Mesmo assim, em Almada, respirava-se música – apesar de, nessa altura, não haver condições: não havia salas de ensaios apoiadas pela câmara e mesmo a Incrível Almadense nesse tempo estava muito fechada ao rock. Era uma sala de baile. Acho até que fomos um pouco pioneiros em levar para lá o rock». Claro que o desfecho desta passagem pelo mundo dos grupos de baile não foi feliz: «lembro-me que uma vez nos chateámos em palco… tínhamos alugado os instrumentos na Senófila e chegou uma altura em que o presidente da colectividade nos pediu para cantar o Parabéns A Você”, porque a filha dele fazia anos. Recusei-me – e depois não nos pagaram, o que levantou um problema por causa do aluguer dos instrumentos». Nome dessa efémera banda? «Purple Legion, não por causa dos Deep Purple, mas por causa do “Celebration of the Lizard” dos Doors…». Mas importa reter este nome para a posteridade, porque foi aí que o futuro dos UHF se começou a desenhar, como explica António Manuel Ribeiro: «de certa forma, os Purple Legion são embrião dos UHF, porque nessa banda tocava o Alfredo Antunes, primeiro baterista dos Iodo. Depois o Alfredo e eu chateámo-nos porque ele não tinha espírito de sacrifício – andar a tocar sem nos pagarem – e saiu dando lugar ao Américo Manuel que havia de gravar o “Jorge Morreu” [primeiro single da carreira discográfica dos UHF]. Com o Américo demos um salto qualitativo. Ele era um grande baterista, mas também um grande guitarrista. Isso levou- -nos a evoluir». 33


XUTOS E PONTAPÉS

«Juntou-se ali muita gente: alguns por causa das raparigas do Liceu Camões, outros por causa dos ensaios na Senófila, havia quem morasse por ali, outros que vendiam ali umas coisas, outros ainda que iam lá para comprar... e era curioso porque aquilo era a 100 metros da Polícia Judiciária. Todo o dia e toda a noite aquilo tinha muito movimento e havia muita gente que morava ali ao pé, o António Variações, o Paulo Gonçalves dos Faíscas. Foi nesse ambiente que eu conheci o Zé Leonel [que viria a ser o primeiro vocalista dos Xutos], graças a uns amigos comuns». Jorge P. Pires, jornalista há muitos anos ligado ao mundo da música

SONHOS EM TOALHAS DE MESA "Quando a noção do movimento punk chegou a Portugal, nós já estávamos cheios de punks. Essa é que é a realidade. A revolução tinha sido há muito pouco tempo, vivia-se ainda aquela euforia toda. E havia muita gente que sempre tinha calado o bico que de repente começou a exprimir-se. Era como se o punk já existisse cá, mas sem estar referenciado, sem ter código de barras. Por isso o timing foi perfeito", explica Zé Leonel, vocalista original dos Xutos & Pontapés, posição que manteria até 1981. "Estávamos na espuma da onda, para nós mais revolução ou menos revolução, sentíamos que fazíamos parte de tempos agitados, tudo era revolucionário", adianta Tim, baixista dos Xutos e, desde 1981, "dono" do microfone. «As coisas nasciam nas mesas dos cafés, com violas de caixa: tiravam-se duas cordas a uma para ter um baixo. No nosso caso, o ponto de encontro era a cervejaria Munique, uma coisa que existia ali no Areeiro. Quando os Xutos & Pontapés nasceram, tinham mais expressão física do que musical. Eu e o Zé Pedro [guitarra-ritmo dos Xutos] inventávamos zangas para andarmos à tareia no meio da rua e só parávamos quando aparecesse sangue, isto ainda antes de existirem os Xutos & Pontapés. Já havia a ideia de dar espectáculo e até de vir a ter uma banda. Chamámo-nos Delirium Tremens primeiro e tínhamos certezas de que a banda iria para a frente, mesmo ainda antes de haver alguma música", explica Zé Leonel, que depois dos Xutos fundou os ExVotos. Jorge P. Pires tem memórias que seguem no mesmo sentido: "Era naquela vida de café, nas toalhas de mesa, que o Zé Leonel escrevia as canções, e eu assisti a isso muitas vezes».

. Artigo de Rui Miguel Abreu «JORNAL OPTIMUS/BLITZ #10: Xutos & Pontapés 30 anos ligados à corrente » Revista Blitz/Jornal Optimus, 29 de Janeiro de 2009.

«Antes ainda do concerto de 13 de Janeiro, houve um espectáculo punk no CACO, o Clube Atlético de Campo de Ourique", refere Jorge P. Pires. "Como não havia muitos concertos, eu e os meus amigos íamos a tudo, mesmo que não fosse punk. Esse era um concerto com O Circo da Vida, com o Fernando Girão a cantar, e talvez os Aqui d'El Rock. Essa foi a primeira vez que vi a tribo punk de Lisboa, gente maquilhada. Digamos que metade desse público não era composto por freaks, o que era um acontecimento", ironiza. "Nós tomávamos uns comprimidos interessantes nessa altura e fomos depois tomar uma amêndoa amarga ou Licor Beirão a uma leitaria na esquina do CACO onde vimos entrar o Pedro Ayres [dos Faíscas e, depois, dos Heróis do Mar] com uma guitarra e o Emanuel Ramalho [baterista que faria parte dos Rádio Macau, entre outras bandas] de baquetas na mão. Eles sentaram-se e lembro-me de acharmos aquilo esquisito, porque eles não estavam no cartaz. Ficámos à espera para ver o que aquilo ia dar. Foi uma coisa curiosa porque os Aqui d'El Rock tocaram e, quando acabaram, os Faíscas entraram pelo palco dentro, houve ali uns empurrões e tal e eles tocaram mesmo duas ou três canções». Zé Pedro foi um dos pioneiros punk em Lisboa, tendo tido a vantagem de experimentar muito cedo, num festival em França [Mont de Marsan] por onde passaram os Clash logo em 1977, o impacto desse explosivo movimento. "Nessa altura", adianta o guitarrista dos Xutos & Pontapés, "ainda havia pouca gente sintonizada com o fenómeno punk, mas felizmente o António Sérgio tinha começado muito cedo a tocar punk na rádio, ainda na Renascença. Vivíamos aqueles tempos pós-25 de Abril com toda a gente muito aluada e aberta a todas as cenas de arte. Havia uma enxurrada de informação para digerir».


«Em termos visuais, o acessório mais fácil era o alfinete, que se podia arranjar em qualquer lado", avança Zé Pedro. "Depois a loja Porfírios começou a encomendar alguns adornos, umas pulseiras, etc". Referindo-se igualmente à "farda", Tim explica que "não havia aquela atitude que surgiu com a new wave de a roupa estar totalmente ligada à música, mas já havia a ideia de se criar uma personagem. Adoptei aquele ar meio Wilko Johnson, da gravata estreitinha e camisa. O Zé Leonel era uma pessoa muito mais exuberante, o Zé Pedro tinha a atitude mais punk e o Kalu se calhar mais bluesy. Já nessa altura a banda vivia exactamente desse encontro de personalidades».

13 DE JANEIRO, 1979 «Foi a 22 de Dezembro que eu, o Kalu, o Tim e o Zé Leonel nos juntámos para um ensaio na Senófila", recorda Zé Pedro. "O Zé Leonel já tinha umas letras para uns temas e esse foi o primeiro contacto que tivemos todos, uns com os outros. Depois o Kalu entrou para a tropa logo no início de Janeiro. Entretanto o Pedro Ayres veio ter comigo para me dizer que ia haver uma festa no dia 13 de Janeiro que ia ser o final dos Faíscas, a despedida, porque ele já estava a pensar nos Corpo Diplomático. Para o Pedro seria uma espécie de passagem de testemunho porque ele já estava com a cabeça numa cena mais new wave. Eu fiquei com o bichinho atrás da orelha. Eu o Zé Leonel e o Tim acertámos as coisas todas, mas faltava o Kalu com quem não se podia comunicar por estar no quartel. Só me restou mesmo ir para a porta do quartel e esperar que ele saísse. Tinha marcado uma hora na Senófila só para vermos umas coisitas e depois íamos tocar logo a seguir». «O primeiro concerto dos Xutos foi uma coisa vivida com alguma expectativa porque uns bons meses antes, talvez em Outubro de 78, o Zé Leonel veio ter comigo e eu ainda fui com ele até à Senófila prestar provas para baterista... a coisa não me correu assim tão bem e depois veio o Kalú e ficou-me com o emprego», prossegue Jorge P. Pires.

«Sémen, Sémen, Sémen Semente dum corpo que cai Do corpo da gente Velha disputa do sexo Nunca é quem se espera Terá isso nexo; Será menino ou menina Ao pai pouco importa É mais um anexo Bem ninguém vê O que tem Só vê o que não tem.» Xutos & Pontapés - Sémen (78/82, 1981)

«Esse concerto dos Xutos em Janeiro de 79 juntou essa malta toda que foi sendo arrebanhada pelos concertos punk do ano anterior e mais alguma gente mais velha, que nós não conhecíamos, que estavam lá porque supostamente aquilo era para comemorar os 25 anos do rock. O Variações estava lá a cortar cabelo, o Gimba estava a gritar qualquer coisa nas escadas para uma malta africana. Havia também gente muito produzida visualmente, as raparigas que tinham ido buscar as saias das mães, sapatos dos anos 50. E depois houve um concerto de uns tais Jó Jó Benzovac & os Rebeldes, de que nunca tínhamos ouvido falar, que eram na verdade os Faíscas com umas meias na cabeça que tocaram umas canções de rock and roll um bocado aceleradas".

Uma questão de speed "Na sala do baile era a maior loucura" (...) 35


PUNK ROCK PORTUGUÊS UM OLHAR CRÍTICO

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PUNK IS NOT DEAD Esta frase pode ser encontrada, um pouco, por todo o lado nas paredes dos grandes contros urbanos. Mas será mesmo assim? Em Portugal, os cultivadores deste «movimento-moda» ainda por aí aparecem de noite, com os seus trajes bizarros e os cabelos eriçados à custa de muito «gel» e paciência, nusmas quaisquer «noites longas» ou afins, quais fantasmas do passado, tentando reviver, à custa da cerveja e da noite, uma mitologia que nunca passou da infantilidade. . Artigo de Eduardo Pais Mamede Edição Especial sobre o Punk em Portugal Jornal Blitz, Ano 2, N.º 74.

AS VELHAS QUESTÔES DE BASES Creio que já não haverá hoje em dia em Portugal grupos musicais que se reclamem punk. Mesmo o grupos como os Xutos e Pontapés, há muito que se reciclaram, e agora fazem outro tido de coisas. O que interessa, contudo, é que neste país, a uma dada altura, surgiram grupos musicais que, à imagem do que sucedia em Inglaterra, se diziam música punk. Mas que base cultural e social teriam eles para os levar, no nosso país, em que todos os movimentos culturais chegam atrasados e já diluídos, a tomar esta posição radical e provocatória? Não teria sido tudo mesmo moda? Todos os grupos de juventude radicais, enformados por uma violências endémica e gratuita, têm na sua origem, problemas de frustração social, nomeadamente pela falta de perspectivas profissionais, desemprego dos pais, insegurança familiar e desintegração de ideias culturais identificadores com o seu meio social. Tem-se encontrado estas situações através dos tempos mas, mais acutilantemente, nos após-guerra, nas grandes sociedade industriais e de consumo. Como é óbvio, a juventude, como estrato social instável, de procura constante de identificação, é o veículo natural de condução dos diversos «inconformismos» e «revoltas». Por outro lado, se esta ânsia de procura, de crítica apaixonada e, até, de violência latente, é natural na juventude, também o seu imaginários pode ser (e é) muitas vezes preenchido com uma mitologia exterior, que mais tarde se vem perfeitamente a identificar com ela. Assim aconteceu com os romances de Jack Kerouac e a poesia de A. Ginsberg, que enformaram o imaginário dos jovens dos anos sessenta e polarizaram q formação de grupos de ruptura tão diversificados como, e só para citar, dois dos mais importante e antagónicos, os beatniks e os hippis. A música, que sempre acompanhou esta movimentação de ideias e estilos de vida, foi, de início, encarada pelo sistema (por polo em causa) como violenta, marginal e subversiva, e, por isso, a combater. Até que se deu o fenómeno dos Beatles. Com a condecoração deste grupo pela rainha de Inglaterra coma ordem dos Império Britânico, pelas colossais vendas dos seus discos tanto no mercado interno como especialmente, no externo, com a subsequente entrada de divisas, o sistema dava o sseu aval à música da juventude, percebendo que ela era um óptimo negócio altamente lucrativo. E a partir daí nunca mais deixou de comandar o processo. É neste cenário que se tem que perceber a curta duração e a base do fenómeno punk.

«Que significado pode ter o punk neste momento em que se comemora o primeiro decénio sobre o seu surto primitivo?»

. Artigo de Eduardo Pais Mamede Edição Especial sobre o Punk em Portugal Jornal Blitz, Ano 2, N.º 74.

Esta a questão a que o corpo redactorial do Blitz procurou dar resposta no número que lhe foi especialmente dedicado. Agora a questão é recolocada nestas páginas, mas desta feita quem lhe dá resposta, não somos nós mas alguns dos mais destacados críticos do publicismo musical português que se prestaram a pronunciar-se nessa matéria.


«Posso apenas considerar o punk como uma postura sócio-musical historicamente situada nos anos 70. Se musicalmente a sua investida não foi importante, por outro lado, foi uma radicalização impressionante do rock contra os valores dominantes na sua própria sistematização tendencialmente capitalista. Seria bom, – e há certos vestígios- que o rock português se revoltasse contra a injúria do monopólio do disco e a blasfémia do comércio multinacional. Seria uma purificação punk, via única, talvez para a libertação estética e a automatização da nossa música. Uma semente de contestação que por si mesma pode dinamizar a estrutura do rock actual. É que nada do que é histórico acontece efemeramente e o punk foi um momento fulcral da história do rock. » Jorge Lima Barreto «Não se viveu o punk em Portugal, porque na altura existiam outras coisas para se viverem,. Ouviu-se falar dele no semestre de 77, quando António Sérgio iniciou a divulgação do movimento nas páginas da Música e Som e, aos microfones da RR, no programa Rotação. Só no anos seguinte começaram a surgir os «punks portugueses», em primeiro aparições públicas – os faíscas no pav. Do Belenenses, os Aqui d’el Rock no caco, os Xutos nos Alunos Do Apolo. Havia, contudo, uma dinâmica que encontrava eco nos liceus; por exemplo, onde se organizavam concertos nas salas de convívio (o mais inesquecível foi o que propiciou a reunião dos Xutos e dos Minas e armadilhas no liceu D. Pedro V. as noites de fim-de-semana passavam-se em associações recreativas de bairro, porque eram mais baratas do que o Brown’s e o 2001. Mas o punk, cá, nunca foi verdadeiramente um movimento passivo. Foi qualquer coisa que se pilhou a demasiada distância e, portanto, foi sobretudo imaginado. Viveu-se (vive-se) o punk anos depois deter decretado a sua morte oficial. Tudo tem um tempo e um lugar.» Jorge Pires «Vivi dois punks diferentes. Durante o ano lectivo, o punk de Manchester, violento, nortenho, de ressentimento antilondrino. Eram duas frentes de ar quente. A primeira destruía, pela sátira, toda a herança do rock, incluindo Bolan, Bowie, Cockran, e nada propunha para o recomeço (eram Alberto y Los Trios Paranoia). A segunda era pura ira proletária (Slaughter & The Dogs). Nas férias, descia a Londres, onde o punk era movimento, moda, música até. Tinha lojas, cortejos de sábado à noite na Kings Road, onde eu morava. Os sex Pistols não eram anti-idolos – eram ídolos novos. O Norte e o Sul sempre foram muito diferentes. Houve sempre punks muito diferentes. Para mim o puk foi uma catarse. Nunca gostei de Rock’n’roll. Só depois de viu quão necessário foi. Até morrer, o punk estava demasiado perto de mim para eu poder compreendê-lo. Aceitei que tinha os mesmos inimigos. Mas não o queria como alternativa. Só no fim diquei grato. Se não fosse o punk, nunca a música poderia ser como è agora. Isso para o bem e para o mal.» Miguel Esteves Cardoso, a residir em Londres.

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CRONOLOGIA

1970

1971

Política, História Militar

.Tumultos de Gdank, na Polónia: Gomulka demite-se após 14 anos. .Guerra civil na Jordânia: guerrilhas paslestinianas contra forças governamentais. .O Biafra rende-se: fim da guerra civil na Nigéria. .Tropas amaricanas invadem o Camboja. .Em Portugal os deputados independentes oassam a construir na A.N. a chamada «ala liberal» que se manifestacontra a censura à imprensa e polícia política a favor da integração na Europa. .Marcello Caetano extingue a PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estando, criando, em sa substituição a DGS. Direcção Geral de Segurança. .É extinta a União Nacional Popular, sendo Marcello Caetano eleito como presidente da Comissão Central. .Constitui-se a SEDES - Sociedade de Estado de Desenvolvimento Económico e Social. . Mário Soares é levado a exilar-se em Paris. .Morre Salazar que mareara «o estilo» de Portugal durante 40 anos.

.Guerra no Vietname estende-se ao Laos e ao Camboja. .Amin toma conta do poder da Uganda. .Direito de voto extensivo aos maios de 18 anos nos EUA. Guerra entre o Pasquistão Oriente e Ocidente: a Índia auxilia o estado independente de Bangladesh. .A China é finalmente adminida nas Nações Unidas; Taiwan (Formosa) é expulsa. .Direito de voto concidido às mulheres na Suíça. .O presidente da República do Malawi, Dr. Banda, visita oficialmente Moçambique em sinal da Cooperação existente entre os dois territórios.

Religião e Cultura

.O Papa Paulo VI recebe os chefes do movimento nacionalistas de Angola, Moçambique e Guiné.

Cidade e Desenvolvimento Social

.Grande agitação estudantil nos EUA:448 Universidades e colégios universitários encontra-se fechados ou em greve. .É permitido o divórcio na Itália. .231 milhões de aparelhos de televisão no mundo.

.Os EUA desvalozição o dólar: o iene e a maior parte das moedas europeias são valorizadas.

Descobertas e Invenções

.A British Petroleum descobre petróleo no Mar do Norte. .A China coloca no espaço o seu primeiro satélite. .A nave russa Soyuz IX consegue um record de 18 dias na órbita da Terra: o Luna XVII faz alunar um veículo a fim de explorar a sua superfície.

.Satélite americano Mariner IX em Órbita em Marte. .Astraunautas americanos descobrem duas novas galáxias adjacentes à própria galáxia terrestre via Lactea.

.Filmes: Tristama, Mash, quase todas as grandes companhias de Hollywood fazem parte de consórcios. .Discos:Simon&Gulfankel, Bridge over Trouble Water; Jimi Hendrix, Vodoo Chile; The Doors, Morrison Hotel. .Lançamento do segundo álbum dos The Stooges: Fun House.

.Filmes: Decameron, A Laranja Mecânica. A Cerimónia, Cães de Patrulha. .Abertura em Washington do Centro Kenny de Artes Dramáticas e Musicais. .E.M. Forster, Maurice (póstumo). .Discos: T.REX, Get it On; George HArrinson, My Sweet Lord. .Formação inicial dos New York Dolls, com: o vocalista David Johansen, os guitarristas Johnny Thunders e Sylvain Sylvain, o baixista Arthur Kane e o baterista Billy Murcia.

Artes (Música, Cinema


1972

1973

1974

.Rebenta a Guerra Civle no Líbano. .Nixon visita a China e a URSS; continua uma política détente. .A Grã-Bretenha impõe uma governação directa À Irlanda do Norte. .Ceilão torna-se república, alterando o seu nome para Sri Lanka. .Américo Thomás, preside da Républica Portuguesa, visita oficialmente o Brasil fazendo-se acompanhar da urna contendo os restos mortais de D.Pedro IV, primeiro imperador do Brasil, oferecidos aquele país. .Américo Thomás, candidato único, é eleito pelo Colégio Eleitoral como presidente da Républica, inciando um terceiro mandanto. Agitação política no país.

. Inglaterra, Irlanda e Dinamarca juntam-se à CEE. .Paz de Paris: os EUA retiram-se do Vietname. .Golpe militar no Chile derruba governo de Allende implementando um regime de direita. .Guerra de Yom Kippur: a quarta guerra israelo-àrabe, com mais forças militares do que as anteriores. . As naçoes árabes produtoras de petróleo cortam os fornecimentos às nações orientais que apoiam Israel. .As duas Alemanhas establecem relações diplomáticas e, pela primeira vez, reconheceram a sua separação pós-guerra. .Na noite da passagem de ano o «Incidente no Rato» em Lisboa, confirma estar latente a oposição à politica governamental. .Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro. .I Congresso da Acção Nacional Popular. .Dois decretos do governo relativo às Forças Armadas criam um mal-estar traduzido no «movimento dos capitães» inicialmente de reivindicação profissional.

.Conflito greco-turco em Chipre agudiza-se: os turcos invadem a ilha, irigianndo a partilha. .Escândalo Watergate força o presidente Nixon a demitir-se. .O «moviemnto dos capitães toma feição política». .O general Spínola, vice-chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas publica Portugal e o Futuro. .Marcello Caetano demite o chefe e o vice-chefe do EstadoMaior-General. .Em 25 de Abril, o Movimento de Forças Armadas derruba o regime vigente. O poder é assumido pela Junta de Salvação Nacional, liderada pelo general Spínola, nomeado Presidente da Republica. .Regressam muitos exilados políticos, entre os quais Cunhal e Soares. Organizam-se os partidos politicos. Com os acordes de Argel (26/8) e de Lusaca (7/9) inicia-se a dissolução do império colonial português. .Independência de Guiné-Bissau (10/9). Spínola renuncia à Presidência e Costa Gomes é nomeado em sua substituíção (30/9).

.O Papa Paulo VI canoniza Teresa Iban.

.Filmes: O Charme Discreto da Burguesia, Roma, Cabaret. .Shostakavitsh, Décima Quinta Sinfonia. .Discos: Alice Cooper, School’s Out; Rod Setwart, Every Pictures Tells a Story; Deep Purple, Machine Head.

.A crise energética precipitada a crise económica do Ocidente. .Semana britânica de três dias para poupar energia a seguir à greve dos mineiros. .Centro mundial do Comercio, em Nova Iorque: Torres Gémeas com 411,5 m de altura cada uma.

.Epidemia de varíola na Índia mata entre 10 000 e 20 000 pessoas. .Seca no Sahel, região de África, origina fome. .Sears Tower, Chicago: 442 metros de altura, o edifício mais alto do mundo.

.Greene, O Cônsulo Honorário. .Filmes:Aguirre, A Ira de Deus, Mean Streets, o início do reviver em Hollywood. . Soljenitsine, O Arquipélego Gulag. Discos: David Bowie, Hunky Dory; Roxie Music, For You Pleasure. .Morre o baterista Billy Murcia dos New York Dolls, por afogamento em uma banheira (onde fora colocado pelo companheiros para se curar de uma ressaca) e para seu lugar foi chamado Jerry Nolan. .Lançamento do primeiro álbum dos New York Dolls com o mesmo nome, foi completamente ignorado pela crítica e pelo público. .Lançamento do terceiro álbum dos The Stooges: Raw Power.

.Filmes: Amarcord, Chinatown, O Padrinho II, Alice já não mora Aqui. .Patrick While, Os olhos de Tempestrade, novela australiana. .Formação inicial dos The Ramones, com: Joey Ramone (Jeffrey Ross Hyman), Dee Dee Ramone (Douglas Glen Colvin) e Johnny (John William Cummings) Ramones. .Devido à dificuldade de Dee Dee para tocar e cantar ao mesmo tempo, assim como Joey não conseguia cantar e tocar bateria ao mesmo tempo, banda decidiu que os vocais ficariam com Joey, e que iriam procurar um novo baterista; entra Tommy Ramone. .Primeiro concerto dos Ramones a 30 de Março no Performance Studios, a 16 de Abril dão o primeiro concerto na casa noturna CBGB e passariam a fazer parte do rock underground nova-iorquino. .Lançamento de mais um álbum fracassado dos New York Dolls: For Too Much Too Soon. .Tour dos New York Dolls por Inglaterra, onde a banda visita a loja “SEX” de Malcolm McLarem, conquistando imediatamente a sua atenção, Malcolm torna-se produtor e estilista da banda. .Lançamento do álbum ao vivo dos Stooges: Metallic K.O., lançado pela editora Sky Dog, meses depois a banda chega ao fim.

39


1975

1976

.Vitórias comunistas no Camboja. O Vietname do Sul rende-se ao Norte, fim da guerra Vietnamita. .Reabertura do Canal de Suez, frechado desde a guerra de 1976. .A Grã-Bretenha realiza o seu primeiro referendo e vota favoravelmente a sua permanência na CEE. .O Golpe de 11 de Março leva Spínola a exilar-se em Espanha e depois no Brasil. .Dá-se iníco a um conjunto de reformas socializantes. .Nacionalização da banca, seguros etc. Procede-se à descolonização dos territórios Ultramarinos. .É criado o Conselho da Revolução, com poderes legislativos, e dissolvida a Junta de Salvação Nacional. Eleições para a Assembleia Constituinte. .O Documento dos Nove, da autoria de um grupo de oficiais, esboça a reacção política do governo e, em 25 de Novembro, é essa facção militar que evita uma maior radicalização política. .É proclamada a Républica Popular de Angola (10/11)

. Guerra do Bacalhau entre a Grã-Bretenha e a Islândia. .Assassínio do general Muhammad, na Nigéria. .Tumultos no Soweto, distrito africano nos arredores de Joanesburgo, contra a aprendizagem do africanês nas escolas. .Abertura do caminho de ferro de Tanzan (de construção chinesa) de Dar-es-Salam, na .Tanzânia, até Kapiri Mposhi, na Zâmbia. .Morte de Mao Tsé-Tung,põe fim a uma época da história chinesa. .Aprovação da nova constituição Portuguesa. .Eleições para a Assembleia da República dão o primeiro lugar ao PS. .Primeiras eleições pós-25 de Abril. São principais candidatos Ramalho Eanes, Otelo Saraiva de Carvalho, Pinheiro de Azevedo e Octávio Pinto. .Ramalho Eanes é eleito pelo P.R. com o apoio expresso do P.S. e do P.S.D. Mário Soares é convidado a formar o I Governo Constitucional. .Continua a luta armada entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte.

.Dr Coggan torna-se o 101º arcebispo de Cantuária - o Papa faz representar-se na cerimónia.

.A Índia estipula a idade mínima para contraior matrimónio: homens 18 a 21 anos e mulheres de 15 a 18 anos.

Cidade e Desenvolvimento Social

Refugiados do Vietname voam em massa para os EUA. É publicado o Scottish Daily News, o primeiro diário nacional editado por uma cooperativa de trabalhadores. .O desemprego na Inglaterra aumenta para cima de um milhão pela primeira vez desde a época anterior à II Guerra Mundial.

.A rainha Isabel II visita os EUA para a celebração do bicentenário da Independência. .Um explosão na fábrica de Seveso na Itália, contamina uma área de de 7 km com produtos químicos venenosos.

Descobertas e Invenções

.A primeira conferência sobre a energia nuclear realiza-se em Paris. .Um grupo chinês, Salyut IV, bate um recorde de 63 dias no espaço.

.Trabalhadores descobrem uma rosa perfeitamente conservada na parede da Abadia de Romsey, datando de 1120; pensando ser o espécime de botâmico mais velho da Europa. .O Viking II entra em órbita à volta de Marte. .O Luna XXIV soviético recolhe amostras do solo com uma pá automática.

Artes (Música, Cinema

.O património de Picasso, é avaliado em 650 milhões de libras. .Filmes: Voando sobre um Ninho de Cucos. .Discos: Led Zeppelin, Phycial Graffiti, Pink Floyd, Wish You Were Here. .Os Ramones conseguem um contrato de cinco anos com a gravadora Sire Records. .Formação dos Sex Pistols, com: o vocalista Johnny Rotten, o guitarrista Steve Jones, o baterista Paul Cook e o baixista Glen Matlock. .O primeiro concerto dos Sex Pistols acontece a 6 de novembro.

Isabel II inaugura o Teatro Nacional em Londres. Filme: A Teia, Rocky. .Lançamento do primeiro álbum de punk rock da história: Ramones, com 14 músicas rápidas e curtas, a duração do álbum é de pouco mais de 29 minutos, sendo considerado um dos álbuns mais influentes de todos os tempos. .Primeiro concerto realizado em Londres em 4 de julho, com integrantes de bandas Sex Pistols e The Clash na platéia. .Os Pistols assinam o histórico contrato com a EMI. .Lançamento do compacto Anarchy in the U.K. .Pela primeira vez na história da televisão britânica, a expressão Fuck Off é dta diante das câmeras por Jonny Rotten. .Filme: Sex Pistols Number One por Julien Temple. .Formação dos The Clash, com: o vocalista e guitarra rítmica Joe Strummer, o guitarrista principal Mick Jones, o baixista Paul Simonon e o baterista Terry Chimes. (Strummer fazia parte dos The 101ers, Jones e Simonon da lendária banda de proto-punk London SS). .O primeiro concerto dos The Clash como banda de apoio dos Sex Pistols, e então assinaram contrato com a CBS Records. .Formação da banda inglesa UK Subs, com: Charlie Harper, Nicky Garratt, Jamie Oliver e Alvin Gibbs.

Política, História Militar

Religião e Cultura


1977

1978

1979

.Conflito entre a Etiópia e a Somália an região de Ogaden. .A África do Sul desencadeia uma ofenciva contra jornais negrous, organizações antipartheid e líders negros. .As Nações Unidas impõem um embarco de armas obrigatório à Àfrica do Sul. .O presidente Sadate, do Egipto, visita Israel e discurso no Knesset (Parlamento). .É constituído em Portugal o II Governo Constituicional de coligação P.S. - C.D.S. Mário Soares continua primeiroministro.

.Uma força americana é enviada para o Líbano devido a problemas de fronteira com Israel. .Os EUA concordam em encetar relações diplomáticas com a China e cortar com Taiwan. .Escandalo de Muldergate, na Africa do Sul. .Em Portugal, o C.D.S. rompe coligação governamental. A Política agrária de Luís Saias de António Arnaut são pretexto para a ruptura. .Inícia-se um período de três governos sucessivos de iniciativa governamental. .Nobra da Costa forma o governo por convite de P.R. mas é derrubado na Assembeia da República. .Mota Pinto é convidado a formar governo e consegue passar a A.R.

.Após a pressão crescentes e tumultos vários o xá abandona o Irão, regresso do líder religioso exilado, que proclama uma república islâmica. .Efectuam-se primeiras eleições directas para o Parlamento Europeu nos nove países da CEE. .Egípto e Israel assinam um tratado de paz em Washington. .Conferência de Commonwealth em Lusaca adopta propostas para pôr fim à UDI na Rodésia. .Golpe apoiado pelos soviéticos no Afeganistão. .O governo de Mota Pinto encontra-se dificuldades na A.R. apesar da aprovação do seu O.G.E., o que leva o primeiro ministro a representar ao P.R. o pedido de demissão. .Sá Carneiro cira a A.D. com a participação do P.S.D., C.D.S. e P.P.M. .Ramalho Eanes dissolve o Parlamento, anuncia eleições intercalares e designa como primeira-ministra Maria de Lurdes Pintasilgo. .As eleições, em 2 de Dezembro dão a vitória à A.D.

.Prémio Nobel Paz atribuído a Madre Teresa de Calcutá.

.O presidente Cartar perdoa burlões do sistema bancário americano. .A Comissão Internacional de Juristas relata às Nações Unidas massacres no Uganda sob governo de Amin - 80 000 a 90 000 vítimas.

.Recuparação do templo de Augusto, ilha de Philae, até então sob as águas do Nilo. .O Cardeal Karol Wojtyla, um polaco torna-se o João Paulo II, o primeiro não italiano a ser eleito em 450 anos. .Primeiro bebé-proveta nascido em Oldham, Lancashire.

.Os astrónomos observam, pela primeira vez, anéis à volta de Úrano. .O relatório de Royal College sobre o tabaco admite que a vida do fumador é encurtada cinco minutos e meio por cada cigarro.

.Cosmonautas russos passam 48 dias no espaço na Salyout VI. .Primeira travessia do Atlântico de balão é efectuada por três americanos. .Dois astraunautas russos passam 140 dias em órbita numa estação espacial.

.A Orquestra Sinfónica de BBC escolhe para seu maestro o russo Gennadi Rozhdestvensky. .Filmes: Annie Hall, The .Goodbye Girl. .Discos: Wings, Mullof Kintyre. .Os Ramones lançam: Leave Home e Rocket to Russia; tour por toda a América do Norte onde tocam com o ídolo Iggy Pop. .Dão um dos melhores concerto de sempre no Rainbow Theatre juntamente com os Rezillos e Generation X e gravam o álbum It’s Alive - que só seria lançado em 1979 - foi considerado por muitos como um dos cinco álbuns ao vivo mais importantes da história do rock. .Início da era punk na Grã-Bretenha, com as bandas como The Sex Pistols - música agressiva e em breve moda. .Glen Matlock é substituído por Sid Vicious. .Os Pistols são “expulsos” da EMI a 6 de janeiro. .Rapidamente assinaram um contrato com a gravadora A&M Records e lançam o single “God Save the Queen”, que atacava o conformismo social e a subsmissão à Coroa da sociedade britânica. Em março, foi a vez da A&M despedir o grupo. Após dois meses, a Virgin contrata a banda. . A 12 de Novembro lançam o primeiro e único álbum: Never Mind The Bollocks, Here’s The Sex Pistols. .Primeiro álbum dos The Clash com o mesmo nome: The Clash, meses depois Terry Chimes foi substituído pelo baterista Topper Headon. .Formação dos Aqui D’el Rock, com: com JC Serra na bateria, Fernando Gonçalves no baixo, Alfredo Pereira na guitarra e Óscar Martins na voz e guitarra.

.Os assassinos de Lady Spencer-Churchill revelam que ela destruiu o retrato de Winston Churchill, em Graham Sutherland. .Filmes: Regresso a Casa, O Caçador. .Discos: Jam, All Mod Cons; Fleetwood Mac, Rummours. .Saída do baterista Tommy Ramone, e para seu lugar é chamado o ex-baterista do The Voidoids, Marc Bell; agora, Marky Ramone. .Os Ramones fizeram 154 shows para divulgar seu quarto álbum, Road to Ruin. .No fim da turbulenta tour pelos Estados Unidos, Jonny Rotten abandona os Sex Pistols e anuncia da banda. .Vicious é preso pelo suposto assassinato de sua namorada Nancy Spungen. .Filme: Who Killed Bambi? .Lançamento do primeiro albúm dos Aqui D’el Rock Há que violentar o sistema. .Primeiro concerto da banda a 29 de Abril no Pavilhão do Clube Atlético de Campo de Ourique e a 5 de Agosto no estádio de S.Luís em Faro. .Formação inicial em Fevereiro dos Faíscas. .Primeiro concerto da banda no Festvial da Revista “Musica&Som” a 31 de Março. .A 29 de Abril invadem o palco do concerto de um festival de Lisboa e pedem para tocar e a 27 de Maio têm um concerto no Teatro do Sabugal. .Formação dos UHF, com: Américo Manuel (bateria), Carlos Peres (viola-baixo), Renato Gomes (Guitarra) e António Manuel Ribeiro (voz e guitarra). .Primeiro concerto no “Bar É” em Novembro. .Formação dos Minas&Armadilhas. .Formação dos Corpo Diplomático .Formação dos Raios&Coriscos.

.A Grã-Bretenha sobre «o Inverno do descontentamento», com greves de muitos serviços municipalizados e outros. .Onda de atentados na Irlanda do Norte. .O americano Bryan Allen efectua a travessia do canal da Mancha em 2 horas e 20min a nado.

.Filmes: Kraumer contra Kraumer, Norma Rae. .Discos: Blondie, Parallel Lines; Police, Ragatta da Blanc. .Sid Vicious morre de overdose de heroína em fevereiro. .Filme: The Great Rock ‘n’ Roll Swindle - The Punk Rock Movie. .Lançamento do álbum: Give ‘Em Enough Rope e tour nos Estados Unidos. .The Clash ganham notoriedade com o lançamento do terceiro álbum dos The Clash: London Calling, a seguir veio Sandinista!, álbum triplo pelo preço de um duplo, lançado no final de 1980. .Lançamento do primeiro álbum dos UK Subs: Another Kind of Blues e do documentário. .Filme: U.K. Subs: Punk Can Take It - A Documentary por Julien Temple. . Aqui D’el Rock lançam o segundo albúm: Eu não sei/ Dedicada (a quem nos rouba). .Participação da banda na abertura do concerto dos Eddie & Hot Rods no Coliseu de Lisboa. .Formação inicial dos Xutos&Pontapés, com: Zé Pedro, Kalú, Tim e Zé Leonel. .A 5 de Maio concerto no Liceu de D.Pedro V em Lisboa com os e com Minas&Armadilhas. Participação da banda na abertura do concerto dos Eddie & Hot Rods no Coliseu de Lisboa. .Os Faíscas terminam a 29 de Janeiro. .Lançamento do primeiro albúm dos UHF: Jorque Morreu. .Corpo Diplomático lançam dois albúns: A Festa do Bruno/ Engrenagem e Música Moderna (LP).

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