AGROS dos estudantes
“sustentabilidade”
100
anos aeisa
LISBOA EDIÇÃO ESPECIAL
Novembro 2011
da associação
de agronomia.
revista
é p’ra quem os tem
A R E V I S TA AGROS
A revista Agros distingue-se, no presente, como a revista técnico-científica mais antiga das Associações de Estudantes universitários portugueses, surgindo no ano de 1917 com a sua primeira edição subintitulada “Boletim da Associação dos Estudantes de Agronomia e Periódico de Propaganda Agrícola”. O seu fundador e primeiro Director foi o Engenheiro Artur Castilho. Desde então, a revista Agros constitui-se como referência maior da (outrora) Associação dos Estudantes de Agronomia, hoje Associação dos Estudantes do Instituto Superior de Agronomia. Ao longo destes 94 anos de História da revista, esta desempenhou um papel de enorme relevo na vida académica e na própria comunidade científica no campo das ciências agrárias. Desde que foi criada, a revista Agros inseriu-se nos órgãos directivos da Associação dos Estudantes, primeiramente com uma vasta equipa, que englobava Director, Secretário de Redacção, Editor, Comissão Redactora e Comissão Administrativa, publicando um número da revista por mês. Mais recentemente, a alçada da publicação e edição da Agros incide sobre a “Secção Agros”, definida estatutariamente, publicando-se um número por ano. Embora com ligeiras variações ao longo dos anos em relação ao seu espírito inicial, a revista Agros foi sempre um veículo de conteúdo técnico-científico, associativo ou de divulgação agrícola. Paralelamente, ocorreram iniciativas como a “Brigada Agros”, o “Salão de Fotografia”, o “Salão de Arte”, bem como números especiais dedicados à actualidade nacional. Entre os dirigentes responsáveis pela revista Agros contam-se individualidades que acabaram por se destacar profissionalmente, e em particular individualidades que vieram a ser docentes do ISA. Muitos prestaram posteriormente apoio à revista, quer publicando artigos, quer na revisão científica.No ano em que celebramos o centenário da AEISA, celebramos indissociavelmente a vitalidade da Revista Agros, um dos legados mais indeléveis deste primeiro século e uma referência de destaque da AEISA na comunidade académica nacional. 13 de Novembro de 2011 Instituto Superior de Agronomia Tapada da Ajuda / Lisboa João Carlos Bastos
FICHA TÉCNICA Direcção / Coordenador do Departamento Científico e Cultural / Projecto Gráfico /
ISSN / Propriedade / — Tiragem / Capa / Miolo
Tipos de Letra /
Maria Clara Cota Araújo Caldeira João Pedro Marques Dinis Bernardo Caldeira [ elemento do Collective 4.16 ] eusoubilly.com facebook.com/eusoubilly 0002-1970 Associação dos Estudantes do Instituto Superior de Agronomia Tapada da Ajuda / 1349-017 / Lisboa — 25 exemplares 64 páginas Munken Pure / 150grs Coloraction Antalis / 80grs Idem Superior / 80grs Adobe Garamond Pro e Futura Std
ÍNDICE P. 06 //
O FUTURO DOS JOVENS AGRICULTORES por CAP
ASSOCIAÇÃO DOS ESTUDANTES DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
P. 12 //
DETOX VEGA por Isabel Mª Nunes de Sousa
P. 16 //
COBERTURAS VERDES por João Ferreira Nunes
P. 34 //
DELTA CAFÉS por Ana Margarida G. Carvalho Miguel Ribeirinho
P. 44 //
NEW HOLLAND por Guilhermina Ariza Miguel Angel Herráiz
P. 52 //
OLIVICULTURA DE PRECISÃO por Ricardo Braga Pedro Aguiar Pinto Inês Gonzalez
O FUTURO DOS JOVENS AGRICULTORES
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artigo Nr.
por
CAP
O caminho a percorrer para rejuvenescer e revitalizar um sector cada vez mais envelhecido.
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INTRODUÇÃO A CAP, por intermédio do seu conselho nacional de jovens agricultores, considera que a abordagem desta matéria surge num momento muito oportuno, uma vez que estamos a entrar num período de discussão fulcral para a política agrícola europeia.
Até Dezembro de 2013 tanto a Comissão Europeia, quanto o parlamento e conselho da União Europeia tem de decidir sobre o futuro da Política agrícola Comum de 2013 a 2020. Da mesma forma, os Estados Membros têm de tomar decisões fundamentais para os seus agricultores. No caso de Portugal, o Ministério vai ter de decidir, por exemplo, se quer manter o sector dos bovinos e ovinos ligados, que tipo de programa de desenvolvimento Rural quer implementar, em que sectores vai apostar, se vai eleger como prioritário a instalação de jovens agricultores, entre muitas outras decisões importantes que vai ter de tomar. Nas posições que vierem a ser decididas, esperamos que o executivo discuta com o sector e com os seus representantes quais as melhores alternativas, e temos esperança, porque acreditamos na equipa do Ministério da Agricultura, que é assim que o processo de reforma se vai desenrolar, e também esperamos que, definitivamente, se tomem medidas a longo prazo, porque só desta forma os agricultores poderão estabilizar a sua actividade e trabalhar de uma forma contínua, sem interrupções e mudanças das regras do jogo no meio do quadro comunitário de apoio. A questão dos jovens agricultores continua a ser problemática não só em Portugal como em toda a Europa. Aquilo que pensamos ser o maior problema na instalação de Jovens Agricultores reside na transmissão das explorações dos mais antigos para os mais novos. Um regime de reforma antecipada que permita aos agricultores de idade avançada abandonar a profissão de uma forma digna e o aumento das pensões pagas ao abrigo do regime agrícola poderão contribuir para o êxito desta política. Outro dos grandes problemas que dificultam a instalação de jovens nas explorações agrícolas é o acesso ao crédito, ainda mais neste período de crise económica que atravessamos. Quantos jovens se candidataram ao
PRODER, viram os seus projectos de investimento aprovados e, agora, não conseguem o crédito para executar os seus projectos? É necessária uma verdadeira política de apoio ao sector para que o abandono das zonas rurais seja travado. A formação e as novas tecnologias ao serviço dos jovens agricultores são a base para o desenvolvimento do espírito empresarial. Não basta aos jovens uma formação teórica e pouco actualizada, é também necessária uma assistência constante e profissional, adaptada às necessidades reais da sua actividade. Fundamental é também atrair os jovens para a sua participação no sector associativo. Só assim se preparam hoje os líderes do futuro. Ao nível Europeu, há um agricultor com menos de 35 anos por cada 9 com idade superior a 55 anos. Em alguns Estados Membros como Portugal, Espanha, Itália, Reino Unido e Bulgária, a proporção de jovens agricultores é muito baixa, com apenas 1 agricultor por cada 20 com mais de 55 anos. Existem, porém, países como a Polónia, Áustria e Alemanha que oferecem uma imagem bem diferente, onde há um jovem agricultor por cada 3 com mais de 55 anos. Estas diferenças explicam-se fundamentalmente pela existência em alguns países de quadros legislativos favoráveis, que souberam promover a renovação de gerações nas zonas rurais, através de incentivos à transmissão das explorações agrícolas. Não é por acaso que estes países têm um sector pujante e moderno, temos de aprender com os bons exemplos e aplicá-los à nossa realidade, para conseguirmos atingir o mesmo nível. A análise europeia das estruturas agrícolas revela uma redução sistemática do número de agricultores e um processo de envelhecimento mais dramático do que noutros sectores económicos. Observa-se, a partir de 2000, uma redução de 9% no número de agricultores e de 45% nos jovens agricultores. Ninguém questiona o carácter estratégico da agricultura, mas o processo de abandono da actividade
›
AGROS P.09
O que os jovens agricultores reivindicam é um nível de vida similar ao das outras actividades económicas.
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› agrícola parece não ter fim. É urgente lançar, no âmbito da reforma da PAC, uma profunda reflexão sobre as orientações necessárias para tornar a agricultura atraente e garantir a sua rentabilidade. Se os jovens não encontrarem um ambiente favorável para exercer a sua profissão, todas as medidas específicas e bem intencionadas sobre instalação, formação, transferência de propriedade e fiscalidade serão vãs. Quando falamos de políticas específicas para jovens agricultores, isto não significa marginalizar os mais velhos. Trata-se antes de encontrar um quadro de ajudas coerente, que torne a actividade agrícola viável, porque os problemas que afectam a agricultura são transversais a jovens e não jovens. Os agricultores encontram-se numa situação muito complicada, assumem mais riscos, fazem mais investimentos, enfrentam custos de produção mais elevados, tem melhor formação e, apesar de todos estes aspectos, os preços a que vendem os seus produtos são os mais baixos de sempre. É compreensível que os agricultores recebam hoje em dia menos dinheiro pela venda dos seus produtos do que em 1986, data da adesão de Portugal à União Europeia? Para jovens ou não jovens, haverá um declínio da actividade agrícola, se não se conseguir garantir aos agricultores uma rentabilidade mínima e um preço justo pelos seus produtos. O funcionamento da cadeia alimentar é caracterizada por desequilíbrios que desmotivam consideravelmente os jovens a apostar na actividade agrícola, pelas grandes diferenças entre os preços pagos ao agricultor e o preço final pago pelos consumidores, pela falta de transparência e pelas práticas abusivas. O que os jovens agricultores reivindicam é um nível de vida similar aos das outras actividades económicas, comércio, indústria, serviços, e para que isto aconteça é preciso mudar a mentalidade da sociedade em geral, porque o agricultor português continua muito conotado com a “subsidiodependência”, e
da vida facilitada pela PAC, os jovens agricultores pretendem uma discriminação positiva nas políticas para que tenham a oportunidade de começar a sua vida laboral de uma forma digna e rentável, e teremos atingido os nossos objectivos quando ser agricultor estiver na moda. Ao nível da reforma da PAC, podemos entrar no campo mais técnico da atribuição de ajudas, por exemplo, no primeiro pilar, criando um pagamento específico para os jovens agricultores; ou, no segundo pilar, dando mais pontuação ou considerando como prioritário os jovens agricultores acima de todos os outros critérios. No entanto, pensamos que para já não é importante especular sobre o que vai acontecer na PAC pós 2013, devemos sim aderir e apoiar este movimento de consciencializar todo o sector, sociedade e executivo de que os jovens agricultores são os agricultores do futuro, e os dirigentes associativos do futuro e que, sem actividade agrícola, rejuvenescimento e modernização do sector, o abandono das zonas rurais vai continuar a ser uma realidade, atingindo cada vez maiores proporções, porque sem jovens no sector hoje não há agricultura amanhã. Estamos esperançados e temos confiança que o Ministério da Agricultura vai ter em conta todos estes aspectos na discussão do futuro da PAC, até porque temos tanto a ministra Assunção Cristas como o secretário de estado Diogo Santiago Albuquerque com idade para serem jovens agricultores, se não conseguirmos agora passar as nossas ideias e preocupações, quando será? •
AGROS P.11
por
DETOX VEGA
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artigo Nr.
Isabel Maria Nunes de Sousa
A tecnologia proposta é fácil de adaptar nas instalações industriais existentes.
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INTRODUÇÃO Durante um trabalho que conduziu a uma tese de Mestrado na área da Segurança em Microbiologia Alimentar, da Escola Superior de Ciências da Saúde do Instituto Egas Moniz foram identificados problemas na avaliação da qualidade de saladas minimamente processadas, em venda na região de Lisboa. Como resposta surge este projecto, desenhado para resolver os problemas encontrados e que, como primeira iniciativa, constitui um plano de doutoramento em Engenharia Alimentar, do Instituto Superior de Agronomia. A proposta de solução do problema é inovadora, embora já se encontrem na bibliografia alguns estudos preliminares sobre o tema, e resulta de conhecimentos adquiridos pela equipa em trabalhos anteriores na área da Segurança Alimentar, nomeadamente um doutoramento (1) e vários documentos de divulgação científica (2,3). O projecto foi ainda a concurso na última edição do FOOD ID&T por ocasião da Alimentaria e Horexpo na FIL em Março passado e foi galardoado com o 1º Prémio em Inovação1.
1
Projecto que obteve o 1º prémio do concurso Food I & DT promovido pela INOVISA/Adi/Ministério da Ciência e Tecnologia na Alimentaria & HOREXPO Lisboa, 27-30 de Março de 2011, FIL, Lisboa. http://newsletter.fil.pt/ alimentaria11/news8/news_ alimentaria_b.html
BREVE DESCRIÇÃO
E S TA D O D E DESENVOLVIMENTO
Descontaminação microbiana e estabilização oxidativa de vegetais cortados através das propriedades bactericidas, higienizantes e antioxidantes de soluções aquosas de permeados de soro de leite, sorelho e leitelho (subprodutos da Indústria dos lacticínios) fermentados, péptidos microbianos e óleos essenciais (OEs). O potencial antimicrobiano dos péptidos resultantes da fermentação láctica é conhecido e o uso de nisina para aumentar a segurança alimentar e o tempo de vida útil de produtos lácteos é prática corrente na Indústria. A utilização de ácido láctico como detergente e higienizante é prática antiga em dermatologia e outras especialidades médicas. A gastronomia tradicional mediterrânica faz uso do potencial palativo de óleos essenciais de várias plantas aromáticas, com alto poder anti-microbiano e anti-oxidativo. O aumento de vida útil dos produtos é conseguido através da redução da carga microbiana; da inibição de bactérias patogénicas e de alteração e de fenómenos de oxidação química e enzimática. A tecnologia proposta é fácil de adaptar nas instalações industriais existentes de preparação de produtos vegetais, minimamente processados, de 4ª gama, prontos a consumir. Utiliza subprodutos da indústria de lacticínios, de baixo valor e com elevada carga poluente, que através de uma simples fermentação láctica podem tornar-se potentes higienizantes e bacteriostáticos. Adicionalmente, o posterior revestimento com emulsões de OEs vai garantir um acréscimo bactericida e anti-oxidante, aumentando muitíssimo a segurança e o tempo de vida útil de vegetais cortados e embalados, prontos a comer (RTE-ready to eat) foods. Dependendo do óleo utilizado, estes vegetais poderão ter ainda um efeito nutricêutico podendo entrar na linha dos alimentos funcionais ou na linha Gourmet ou cumprindo as exigências da fileira BIO, nos produtos Biológicos. ›
Testado em Laboratório já com resultados promissores. As capacidades antimicrobianas dos péptidos resultantes da fermentação lactica e de alguns OEs estão cientificamente determinadas. A Higienização dos vegetais cortados ainda é feita à custa, sobretudo, de soluções de cloro e por vezes de peróxido de hidrogénio, de ácido peroxiacético e de ozono, substâncias com alto potential oxidativo. A tecnologia que propomos apresenta um efeito de detergência do ácido láctico na remoção da carga microbiana instalada e naturalmente presente nos vegetais. Esta população microbiana normalmente produz biofilmes (Pseudomonas e Listeria) muito adesivos. A este efeito junta-se a acção bactericida dos péptidos, da fermentação láctica, na desinfeção das superfícies dos vegetais. Posteriormente, ou em simultaneo, a imersão em emulsões de OEs cria um revestimento anti-oxidativo e anti-microbiano, podendo ainda conferir características de aroma e sabor (tr)adicionais (oregão, salva, poejo ou alho) em saladas de alface, de cenoura, tomate, outros vegetais. Embora existam estudos internacionais e nacionais publicados sobre o efeito destas substâncias, não conhecemos nenhuma aplicação desta tecnologia em termos industriais em produtos alimentares minimamente processados. •
Equipa Responsável Isabel Mª Nunes de Sousa / CEER GIII/ISA isabelsousa@isa.utl.pt Mª Adélia da Silva Santos Ferreira / CBAA/ISA massferreira@isa.utl.pt Mª Isabel da Silva Santos / Universidade Lusófona missantos@gmail.com
Descrição do Potencial de Aplicação Comercial da Tecnologia Indústrias de lacticínios como valorização dos subprodutos/ efluentes / Indústrias de vegetais minimamente processados, produtos de 4ª gama / Higienização/desinfeção de produtos alimentares em geral. Referências Bibliográficas / PINTADO, Cristina M. B. S. (2009). Efeito de bioconservantes no crescimento e sobrevivência de Listeria monocitogenes em Queijo de Ovelha. Tese de doutoramento em Engenharia Alimentar pelo ISA/UTL. Para consulta na BISA (bibioteca do ISA) 200 pags e ca de 200 referências. / PINTADO, C.M.B.S. FERREIRA, M.A.A.S.; SOUSA, I. (2009). Properties of whey protein-based films containing organic acids and nisin to control Listeria monocitogenes. Journal of Food Protection 72 (9): 1891-1896. http://www.ingentaconnect. com/content/iafp/jfp/2009/00000072/00000009/art00012 / PINTADO, C.M.B.S. FERREIRA, M.A.A.S.; SOUSA, I. (2010). Control of pathogenic and spoilage microorganisms from cheese surface by whey protein films containing malic acid, nisin and natamycin. Journal of Food Control 21: 240-246. http:// dx.doi.org/10.1016/j.foodcont.2009.05.017
AGROS P.15
COBERTURAS VERDES
3
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artigo Nr.
por
Jo達o Ferreira Nunes
Falar de cobertura significa falar de protecção mas, de igual forma, de rentabilização de usos. Uma relação multi-facetada que foi entendida pelos mesopotâmios da mesma forma que, contemporaneamete, tendemos a compreendê-la.
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INTRODUÇÃO Os recentes discursos decorrentes de práticas em arquitectura e urbanismo, forçadas a lidar com a falta de espaço livre em meio urbano – a falta de “chão” na cidade – reavivaram o interesse disciplinar por esta matéria que, durante milénios, viveu tranquilamente alicerçada na construção vernacular. Mas esta tomada de atenção para o mundo, tão simplesmente evidenciada pela quantidade de publicações sobre o tema, tem vindo, tendencialmente, a forçar demasiado um carácter verde e ecológico destes espaços que demonstram, sem dúvida, esse potencial, desde que entendidos como sistemas projectuais independentes, libertos de comparações desadequadas com a terra-chão e libertos, até, dos herméticos, demagógicos e politizados discursos sobre sustentabilidade.
E S PA Ç O S V E R D E S DE COBERTURA As coberturas verdes correspondem, na realidade, a uma sobreposição de funções: um edifício com usos específicos e um espaço de cobertura que a ele se sobrepõe, muitas vezes com usos significativamente distintos. A estratégia de construção de uma cobertura tem, precisamente, de ser sensível a este acto de sobreposição de realidades distintas mas, necessariamente, interactuantes. Podemos ter, e muitas vezes temos de facto, espaços públicos de cobertura sobre edifícios privados, ou vice-versa, uma independência que assenta, simplesmente, nos usos já que, no que ao seu funcionamento diz respeito, a sua sobreposição determina fortes condicionamentos de índole técnica. A sobreposição a que aqui nos referimos faz-se construindo um extracto artificial de terra, ou de outros substratos de plantação e cultivação de plantas, sobre a cobertura de um espaço fechado – o edifício – o que, como veremos, traz repercussões nos aspectos construtivos, os quais devem ser levados com seriedade. Na verdade, a sobreposição do extracto de cultivação corresponde a uma forte sobrecarga exercida sobre a estrutura de suporte. Se isso influencia qualquer edifício, independentemente do seu tamanho, quando se
João Ferreira Nunes joao.nunes@proap.pt Fundador e Director do Atelier de Arquitectura Paisagista PROAP. Director Internacional responsável pela liderança dos três ateliers internacionais: Lisboa (Portugal), Luanda (Angola) e Treviso (Itália). Coordena a actividade projectual, conceptual e criativa, e define a orientação estratégica dos processos de investigação. Docente no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa, desde 1991. É actualmente docente também no Istituto Universitario de Architettura de Venezia, Politecnico de Milano, Politécnico di Torino, Roma La Sapienza, Roma Ludovico Quaroni, Facoltá di Architettura di Alghero.
trata de edifícios altos, essa sobrecarga torna-se num ponto sensível da construtividade, já que, além dos habituais constrangimentos, a estrutura tem de ser reforçada, sobretudo, em relação ao risco sísmico. O raciocínio de projecto de coberturas verdes procura resolver a sobreposição, exercício que é, no fundo, uma equação de equilíbrio: uma menor espessura da cobertura vegetal corresponde a um menor peso sobre a laje mas corresponde, também, a uma menor capacidade de carga. As soluções devem, por isso, nascer da procura de um equilíbrio entre as condicionantes construtivas – não apenas o peso mas, igualmente, a drenagem eficiente das águas pluviais e da rega, importante na redução do peso molhado e das flutuações molhado/seco – e os usos que queremos atribuir ao novo espaço de cobertura. Será, por isso, uma premissa fundamental para o desenho conhecer as condições dos programas previstos que podem corresponder a cargas de utilização mais ou menos exigentes. O equilíbrio do desenho é delicado e deve ser estudado caso a caso, para cada condição de utilização, no que respeita à espessura e peso do estrato, à velocidade de drenagem e à necessidade de rega. ›
/ Projecto PROAP / Alcântara Rio
/ Projecto PROAP / Parque Urbano City Life / Milão
AGROS P.19
/ Projecto PROAP / Etar de Alcântara Recuperação morfológica do Vale de Alcântara
/ Esquisso / Cobertura verde no embasamento do edifício
AGROS P.21
/ Projecto PROAP / Jardins São Lourenço Cobertura Privada
/ Esquisso / Cobertura verde no topo do edifício
› A interactuação das soluções projectuais determina, de forma evidente, que um estrato espesso, e por isso, com um peso superior, admita uma zona verde com maior capacidade de carga e, assim, uma utilização activa também maior. Tem, no entanto, maior capacidade de retenção e, eventualmente, pior drenagem. Por outro lado, um espaço desenhado à custa de um estrato fino, demonstra uma menor capacidade de carga – o pisoteio transforma-o facilmente numa “bolacha compactada” sem drenagem, ser ar no solo e sem condições para a acomodação da vegetação – menor peso, e uma drenagem excessivamente rápida. Neste caso, a estratégia de desenho deverá passar pela criação de condições de impedimento do pisoteio das zonas verdes, mais sensíveis, e pela inclusão de regas mais frequentes. Uma cobertura verde é um espaço de manifesta artificialização. São áreas onde a pormenorização técnica das soluções deve ser exaustiva, precisamente porque dessa artificialização resulta uma necessidade de controlo quase absoluta: porque são áreas de manutenção difícil, onde as plantas são sujeitas a stress hídrico e edáfico, demonstrando envelhecimento
precoce; porque a capacidade de carga corresponde a necessários condicionamentos de uso; porque a uma cobertura estão, directa e indirectamente, relacionados custos mais elevados (quando comparados com as zonas verdes em terra). A procura cada vez maior deste tipo de soluções deve-se ao seu potencial na melhoria das condições de génese financeira, ambiental e construtiva. Surge, desde logo, a consciência das mais-valias ao nível das características do edifício e do seu valor imobiliário, relacionadas com programas mais ricos – o condomínio com jardim; a vida na cidade; o verde valioso em cidades densas – e com a sua própria contextualização – a compatibilização do estacionamento com a existência de jardim; a promoção de contínuos verdes com repercussões ecológicas e de enquadramento. A importância destas mais-valias alastra-se, naturalmente, a outros campos, nomeadamente ao facto destes espaços contribuírem para a beneficiação das condições ambientais urbanas e para a criação de espaços de lazer controlados, valiosos porque cada vez mais raros. › AGROS P.23
/ Projecto PROAP / Lounge Hugo Boss Cobertura Privada
/ Projecto PROAP / Casa para Leo Casteli - Estados Unidos EdifĂcio enterrado sob cobertura verde
AGROS P.25
VERDE VERDE VERDE / Esquisso / Edifício enterrado sob cobertura verde
/ Projecto PROAP / Laboratórios Schlumberger Estados Unidos Edifício enterrado sob cobertura verde
› Finalmente, embora não menos importante, são as mais-valias construtivas, por se assumirem enquanto contribuições positivas para melhores desempenhos energéticos, térmicos e acústicos de todo o volume edificado. Não substituindo o inegável valor das “verdadeiras” zonas verdes em terra, nomeadamente em termos da protecção do solo em terras extensivas, ou da promoção de superfícies permeáveis e poços de infiltração, a associação destas coberturas às entradas de infiltração das águas pluviais pode reduzir, substancialmente, o impacto do metabolismo da água em meio urbano. Para a optimização deste equilíbrio muito contribuem alguns detalhes de desenho e especificação técnica. Algumas soluções podem ser aqui referidas, como por exemplo o aumento da capacidade de retenção do terreno pela inclusão de elementos higroscópicos. Uma solução recorrente são os polímeros de fibras sintéticas que, misturados no solo, lhe aumentam grandemente a capacidade de campo, por mobilizarem grandes
quantidades de água e a devolverem gradualmente ao terreno. A melhoria proporcionada por estas pequenas esferas às zonas verdes é ainda maior quando se toma consciência de que não aumentam significativamente o peso sobre a laje. Os mecanismos de resolução técnica destes espaços revestem-se, porém, mais complexos quando operamos sobre a plantação de árvores, essencial para a completa expressão das vantagens de utilização das coberturas e para a sua valorização em termos ecológicos. O desenvolvimento das árvores plantadas em cobertura, não sendo nunca excelente, consegue-se com a prescrição meticulosa de rega e fertilização – a fertirrigação – duas condições fundamentais para um desempenho razoável do material vegetal. Voltamos, uma vez mais, à exploração do delicado equilíbrio entre a espessura da terra, a eficácia da rega e da drenagem – que contribuem para o peso estrutural total da cobertura – e o crescimento e desenvolvimento firme do material vegetal. ›
AGROS P.27
/ Projecto PROAP Porto de Helsínquia - Filândia Edifício enterrado sob cobertura verde
› Os problemas que aqui enumeramos, e as soluções que, pontualmente, indicamos evidenciam o grau de artificialidade dos sistemas de cultivação que compõem as coberturas verdes. São sistemas que expõem, com clareza, a condição de artifício do trabalho de arquitectura paisagista. Estes espaços ganharam relevância especial sobretudo com as recentes exigências de estacionamento resultantes das normas urbanísticas em vigor. Tais regras passaram a obrigar que o desenho do edifício inclua a totalidade do espaço necessário para a resolução das suas próprias necessidades de estacionamento. Ao dedicarem importantes volumes a esse uso, e por acrescentarem escavações profundas, difíceis e caras, os novos empreendimentos acabam por ocupar massivamente os lotes a que estão destinados. A consequência directa – e mais grave – é a ausência de espaço livre, de chão vazio, o que fez sobressair a função de espaço verde das próprias coberturas. Estes problemas contemporâneos a que nos referimos, necessariamente relacionados com a excessiva densidade e impermeabilização do ‘chão’ da cidade acabaram por manipular a discussão em torno do projecto destes espaços, ao compará-los, errada e desadequadamente, com os espaços verdes em terra. O facto de ser afirmarem como superfícies verdes, com manifestas capacidades de infiltração, desenvolvimento vegetal e promoção de usos relacionados com a fruição e o lazer, não implica que o seu desempenho tenha de ser comparável com um espaço verde normal.
A comparação não deve ser feita com plantações ideais em termos naturais, mas sim com as suas alternativas mais directas e comuns: as coberturas inertes, em betão ou metal. Desta comparação resulta, não apenas a constatação das enormes mais-valias destes espaços em meio urbano – até como promoção do contínuo verde – mas, também, o exagero da comparação taxativa com outros tipos de sistemas verdes. Os espaços verdes de cobertura são um campo extraordinário, elucidativo e curiosamente sintético da nossa prática em arquitectura paisagista. Talvez uma evidência de que aquilo que fazemos tem, muitas vezes, pouco a ver com aquilo a que, vulgarmente, nos referimos como ‘natureza’. São manifestas provas da capacidade artística e técnica da nossa disciplina profissional, que interliga obsessivamente conhecimentos técnicos e tecnológicos oriundos de discursos do urbanismo, arquitectura, ecologia, engenharia, física e química. Hoje, mais do que nunca, torna-se necessário olhar para estes espaços sem preconceitos de génese conservadora e idílica das condições urbanas do ‘antigamente’ e com redobrado interesse no seu enorme potencial, não apenas enquanto espaços de lazer, de passeio e descanso – jardins de fantasia e descoberta – mas também enquanto activos sistemas infra-estruturais de melhoria dos metabolismos e microclimas urbanos. •
AGROS P.29
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por Ana Margarida Gama Carvalho
DELTA CAFÉS
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artigo Nr.
Miguel Ribeirinho
A Delta cafés assume-se desde a sua fundação como uma marca social e ambientalmente responsável e tem vindo a consolidar-se num conjunto de projectos e iniciativas. Com esta conduta a Delta promove o consumo de cafés sustentáveis, sendo este o fruto que une, como um fio mágico populações muito distantes e diferentes.
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INTRODUÇÃO O consumo de produtos como o café, o cacau e o chá tem aumentado nas últimas décadas à escala mundial. O café parece mesmo ser a "commodity" mais consumida do mundo, logo a seguir ao petróleo, sendo consumido principalmente em países desenvolvidos. Sabe-se que a cultura do café é responsável pela subsistência de 25 milhões de pessoas, envolvendo um total aproximado de 100 milhões, tanto ao nível agrícola, como em termos da cadeia de processamento e comercialização (ICO, 2005). O cafeeiro ou planta do café, originário da Etiópia e do Sudão, é um arbusto da família Rubiaceae, género Coffea L. Embora sejam conhecidas 103 espécies deste género, apenas duas são comercializadas, a arabica – café arábica e a canephora – café robusta, compreendendo cada uma delas diferentes variedades.
Estas espécies, bem adaptadas e crescendo em condições de ensombramento, são cultivadas por métodos tradicionais, em mais de 60 países tropicais em vias de desenvolvimento. As florestas desses países constituem as maiores reservas de biodiversidade da terra e incluem um número elevado de endemismos (Ecardi et al, 2000; From bean to cup, 2005; Gordon et al, 2006; Perfecto et al, 2005; University of Michigan, 2008).
Parece no entanto haver uma tendência para o desaparecimento do sombreamento tradicional, visto as culturas tradicionais começarem a dar lugar a plantações mais intensivas, com uma maior dependência de água e uma maior utilização de fertilizantes químicos, traduzindo-se consequente numa perda de biodiversidade. Deste modo e na tentativa de contrariar esta tendência têm surgido as certificações de café sustentável.
CERTIFICAÇÃO DE C A F É S U S T E N TÁV E L A certificação do café surgiu como uma forma de aproximar valores ambientais, económicos e sociais, na produção e cadeia de valor do café, assim como de aumentar a competitividade dos preços do café a nível de mercado. Actualmente existem diferentes certificações, nomeadamente, Comércio Justo, Orgânico e de Sombra, incluindo-se na última a Rainforest Alliance, UtzKapeh, Bird Friendly e Biodiversity Friendly. Os cafés detentores de pelo menos um destes tipos de certificação são denominados cafés sustentáveis.
o ambiente, é um modo de produção sem adição de pesticidas, fertilizantes sintéticos ou produtos químicos nocivos respeitando o equilíbrio entre os homens, o solo, as plantas e os animais. O consumo de produtos biológicos contribui para o equilíbrio dos ecossistemas, a redução da poluição fomentando a biodiversidade e a preservação dos recursos naturais em virtude do compromisso deste modelo de produção com o desenvolvimento sustentável Outras Certificações: Nestas certificações, o requisito obrigatório a ter em conta é o facto do cafeeiro ter que crescer sob a copa das árvores. As certificações que preenchem este requisito são Rainforest Alliance, Utz Kapeh, Bird Friendly e Biodiversity Friendly e a Delta comercializa a primeiras duas. Para uma plantação ser certificada, o sistema de produção de café tem que ter um determinado número de árvores de sombra e a canópia deve ser diversa, no respeitante à estrutura e à composição específica das árvores (Gobbi, 2000; Rainforest Alliance, 2005). Tem ainda que aplicar uma gestão do solo adequada e proteger as linhas de água. As práticas de poda devem ter impactos mínimos nas plantas, incluindo epífitas, musgos e líquenes e o uso de agroquímicos é restrito (Bird Friendly, 2002; Gobbi, 2000). Na área social têm que ser tidas em consideração as condições de vida dos trabalhadores. Em compensação, os agricultores recebem um preço prémio, pelo cumprimento das boas práticas agrícolas. O desenvolvimento dos critérios de cada uma das certificações, para o café de sombra, passa pela importância relativa das componentes a conservar: espécies particulares, guildes, funções da floresta, toda a biodiversidade ou as bases para a avaliação adequada da conservação na exploração (Giuvannucci et al, 2003).
Sistemas de Certficação de Café Certificação de Comércio Justo: É uma modalidade de cooperação económica que se baseia no diálogo, transparência e respeito. Tem como objectivo conseguir maior igualdade no comércio internacional e garantir um preço justo ao produtor. Pretende recuperar as condições de vida dos trabalhadores mais desfavorecidos relativamente aos sistemas de saúde, educação, acesso a água potável, saneamento básico e protecção dos direitos humanos. Esta certificação tem igualmente preocupações a nível ambiental, protegendo os ecossistemas e a biodiversidade em geral. Certificação Agricultura Biológica: A agricultura biológica baseia-se num conjunto de objectivos e princípios, assim como em práticas comuns desenvolvidas para minimizar o impacto humano sobre
Certificação Rainforest: O selo de certificação Rainforest Alliance contribui para a preservação dos ecossistemas, protecção dos habitats naturais e manutenção da biodiversidade. Garante ainda que os agricultores têm condições de vida e de trabalho dignas, acesso à educação, água potável e ajuda os produtores a reduzir custos, melhorando a qualidade do produto e aumentando a produtividade. Certificação UTZ Kapeh: O selo UTZ combina a qualidade do produto com um processo de produção responsável. Assegura que os agricultores têm boas condições de trabalho e que as suas actividades têm um impacto mínimo no meio ambiente. Capacita cafeicultores fornecendo-lhes informações sobre as boas práticas de agricultura e o mercado global de café. ›
AGROS P.37
› Cafés Sustentáveis { Certificação Comércio Justo } { Certificação Biológica } { Outras Certificações }: { Certificação Rainforest Alliance } { Certificação UTZ Kapeh } { Certificação Bird Friendly } { Certificação Biodiversity Friendly } / Quatro tipos de Certificação de Cafés Sustentáveis
BIODIVERSIDADE DOS ECOSSISTEMAS DE SOMBRA Os níveis de biodiversidade destes sistemas de sombra são elevados, pois a existência de árvores proporciona refúgio e alimento para fauna e flora e possibilita a auto-regulação dos sistemas, proporcionando condições desfavoráveis ao estabelecimento de pragas e doenças, como por exemplo, a cercosporiose (Cercosporacoffeicola), a antracnose (Colletotrichumspp) e o bicho-mineiro (Leucopteracoffeella), que preferem ambientes ensolarados e mais secos (Haggar et al, 2001). Adicionalmente, estes sistemas de sombra aumentam a conectividade da paisagem, principalmente entre florestas, paisagens degradadas e outros sistemas de cultivo mais intensivos (Daugherty, 2001). Podem, assim, funcionar como áreas-tampão e como corredor ecológico para numerosas espécies (Faminow et al, 2001; University of Michigan, 2008), embora não consigam substituir as florestas naturais (Giuvannucci et al, 2003).
A D E LTA N A PROMOÇÃO E DIVULGAÇÃO DOS C A F É S S U S T E N TÁV E I S O comércio sustentável é um meio fundamental para integrar as economias e combater as assimetrias globais entre as diferentes regiões do mundo e permitir uma distribuição mais justa e equitativa dos recursos. Este comércio constitui uma alternativa ao comércio convencional e rege-se por valores éticos, sociais e ecológicos. Pretende fomentar a capacitação dos trabalhadores locais e a criação de boas condições ambientais sociais e económicas, promovendo a aplicação da legislação e das convenções internacionais. Em matéria de Direitos Humanos, a Delta Cafés ambiciona incentivar práticas ambientalmente responsáveis, nomeadamente, a conservação dos solos, a gestão sustentada da plantação, a poupança de água e o recurso às energias renováveis, de modo a não condicionar o futuro das gerações vindouras. Paralela e complementarmente, através do desenvolvimento de campanhas e projectos desenvolvidos nas origens, a Delta melhora a qualidade da cultura do café, e simultaneamente, contribui em grande escala para a conservação da Natureza e para a melhoria das condições sociais e económicas dos produtores de café nas origens. Enumeramos a título de exemplo alguns projectos neste âmbito. Com o objectivo de promover algumas das principais origens, a Delta lançou a Campanha “Proteger as Origens é Proteger o Futuro” através do relançamento da gama de origens seleccionadas, Timor, Mussulo, Manaus e Colômbia. Esta gama de produtos incluem uma perspectiva duplamente inovadora - uma nova embalagem, mais prática e menos poluente. São blends que foram criados utilizando cafés Rainforest e, para além das origens, o café biológico é um outro blend que apresenta toda a autenticidade de aroma e sabor da natureza. ›
PROTEGER A BIODIVERSIDADE COM A CRIAÇÃO DE BLENDS
/ Flor do Café
/ Fruto do Café
/ Habitat natural do Café
A evolução genética das variedades existentes, arábias e robustas, espalhadas pelos diversos países da faixa equatorial, deram origem a uma enorme diversidade de propriedades e características que se traduzem em diferenças organolépticas relacionadas com o aroma e com corpo da bebida na chávena. Para se obter um café rico em aromas e subtilezas, são recolhidas diversas variedades de forma a garantir a diferenciação do produto final. Esta opção beneficia não só a qualidade do produto final como obriga também, a uma maior investigação e sabedoria na escolha de diferentes variedades. A Delta ao comprar mais de 70 origens de café de todo o mundo para a criação dos diferentes blends contribui ainda para a manutenção da biodiversidade quer a nível das variedades de café existentes, quer na promoção dos ecossistemas onde crescem estas variedades de café. ›
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› “PROJECTO S U S T E N TA B I L I D A D E NAS ORIGENS - TRÊS ORIGENS O MESMO COMPROMISSO”
A C O M PA N H A M E N T O DA COMUNIDADE PRODUTORA EM ANGOLA (Angonabeiro)
A Delta lançou durante o ano de 1999 e 2002, o projecto de cidadania “Sustentabilidade nas Origens”. Foi Timor o embrião deste projecto, que visa capacitar os produtores de café para a Certificação da “Origem Café de Timor”, bem como dinamizar seminários e palestras, sobre a cultura do café e promover o desenvolvimento sustentado das comunidades. Como resultado dessas intervenções, desde as plantas até à beneficiação do café verde, a Delta Cafés apresentou em 2001 a primeira selecção “Origem Gourmet de Timor, seguindo-se de outras certificações. Depois da experiência Timor, a Delta Cafés resolveu alargar, durante esse período, essa politica de cidadania a outros países produtores de café do espaço lusófono, nomeadamente, Brasil, Angola e São Tomé. Os cafés de “Origens Seleccionadas” Delta Manaus, Delta Mussulo e Delta Timor constituíram o suporte dessa intervenção.
Em Angola, o acompanhamento da comunidade produtora de café continua a decorrer através da empresa Angonabeiro do Grupo Nabeiro/Delta Cafés. Desde o seu início, tem desenvolvido acções junto de produtores e comunidades produtoras de café, formando e capacitando os produtores, incentivando e premiando os cafés com qualidade superior através da formação técnica, financiamento e estabelecimento de contratos a longo prazo. Os técnicos da Angonabeiro acompanham de perto as plantações de café, de modo a seleccionar os melhores cafés disponibilizando também alguns utensílios/equipamentos que ajudam a cultura e apanha do café. Este ano são comemorados os 10 anos de existência da empresa e foi inaugurado um furo de captação de água na aldeia de Capina. Esta inauguração faz parte de um dos projectos comunitários, junto aos pequenos e médios produtores de café que em muito vem melhorar a qualidade de vida dos moradores daquela aldeia. Rui Coutinho, director da AngoNabeiro, destaca o modo como a empresa tem estado no país: “Não obstante o facto de Angola estar ainda longe daquilo que foi a sua capacidade produtiva no passado, temos desempenhado um papel pedagógico e pioneiro de certo modo. Vamos à fonte, tentamos criar condições para que a população volte a pensar que o café pode ser uma fonte de rendimento estável e duradoura. É um caminho difícil e tem obstáculos, pois as acessibilidades são ainda rudimentares, mas na AngoNabeiro costumamos dizer que “se fosse fácil estavam cá outros”. (Delta Magazine, nº48) Os apreciadores de café, ao tomarem a sua “bica”, optando pelo café sustentável, podem melhorar a vida das famílias dos agricultores e conservar os ecossistemas tropicais. Um simples gesto que contribui para o desenvolvimento sustentável e beneficia a todos, inclusive os animais!
CURIOSIDADE Uma variedade de café, associada ao sistema de sombra, é produzida nos sistemas da Indonésia. Este café, conhecido por “KopiLuwak” ou “Civeta Coffee”, é obtido a partir de grãos recolhidos intactos das fezes de um mamífero herbívoro Paradoxurus hermaphroditus, conhecido sob a designação de Civeta ou “Asian Palm Civet” – endémico da Indonésia. A civeta ingere apenas os frutos mais doces, maduros e avermelhados do café, não digerindo contudo os grãos, que excreta juntamente com as fezes. A utilização deste processo pelas populações locais, para evitar o desperdício, foi considerada durante bastante tempo uma lenda urbana, mas em 2004 foi confirmada pelo italiano Massimo Marcone. Segundo Marcone, o sabor deste exótico café, menos ácido e amargo do que os cafés comuns, é uma mistura de chocolate e suco de uva. O seu inigualável sabor é atribuído ao processo de modificação que os grãos sofrem no tracto intestinal do animal, semelhante ao da indústria cafeeira para remoção da polpa do grão de café, mas através das bactérias e as enzimas digestivas do animal. Devido à sua produção limitada, menos de 230 quilos por ano, atinge preços muito elevados (da ordem dos US$ 600,00 por quilo). •
/ Fezes de civeta com grãos de café
AGROS P.41
/ Civeta (Paradoxurushermaphroditus)
Referências Bibliográficas / Bird Friendly, 2002. Norms for Production, Processing and Marketing of “Bird Friendly Coffee”. Certified Organic Shade Grown Coffee. / Daugherty, H., Biodiversity Conservation and Sustainable Community Development in the Los Cusingos--Las Nubes Biological Corridor in Southern Costa Rica. Faculty of Environmental Studies, York University, pp3-5 / Delta Magazine, Revista trimestral, nº48 Julho/Setembro 2001. pp 48-51. / Ecardi, F. & Sandalj, V., 2000. O Café, Ambientes e Diversidade. Casa de Palavra. pp 12-17; 20-22 e 111-121. / Faminow, E. D., & Rodriguez, L.A., 2001. Biodiversity of flora and fauna in shaded coffe systems. Report prepared for the commision for Environmental Cooperation, pp 1-9 / “From bean to cup: how consumer choice impacts upon coffee producers and the environment”, 2005. Consumers International and IIED. / Giuvannucci, D., & Koekoek, F.J., 2003. The State of Sustainable Coffe: A study of twelve Major Markets. International Coffee Organization, London; International Institute for Sustainable Development, Winnipeg; UNCTDA, Geneva. / Gobbi, J.A., 2000. Is biodiversity- friendly coffee viable? An analyses of five different coffee production systems in Western El Salvador. Ecol. Econ. 33, 267-281. / Gordon, C., Manson, R., Sundberg, J., & Cruz-Anon, A., 2006. Biodiversity, profitabily, and vegetation structure in a Mexican coffee agroecosystem. Agric. Ecosyst.Enviro. 118, 256-266 / Haggar, J., Schibili, C., & Staver, C., 2001; Cómo manejar árboles de sombra en cafetales? Agroforestería en las Américas, vol.8, pp.42-45 / ICO- International Coffee Organization, 2005 Perfecto, I., Rice, R.A., Greenberg, R., & van der Voort, M.E., 1996. Shade Coffee: A disapeearing Refuge for Biodiversity. BioScience, vol. 46, No 8, pp 598-608 / Rainforest Alliance1, 2005. Critérios e Indicadores Adicionais para a Produção de Café. Rede de Agricultura Sustentável / Rainforest Alliance2 , 2005. Norma com indicadores para Cadeia de Custódia. Rede de Agricultura Sustentável. Versão para fase experimental. / University of Michigan, 2008. Shade Coffee Benefits More Than Birds. Science Daily. / Utz Kapeh, press release 12/04/2005.
por Guilhermina Ariza
NEW HOLLAND
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artigo Nr.
Miguel Angel Herrรกiz
Exploração Agrícola Energeticamente Independente e tractor NH 2™: a New Holland anuncia a constituição da primeira exploração agrícola piloto.
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INTRODUÇÃO Vencedor da Medalha de Ouro nos Prémios de Inovação SIMA 2009, o projecto da Exploração Agrícola Energeticamente Independente e do tractor NH²™ foi escolhido, juntamente com os seus 13 parceiros de consórcio, de entre projectos de topo no programa “Indústria 2015 – Novas tecnologias Made in Italy”, promovido e financiado pelo Ministério Italiano para o Desenvolvimento Económico. O protótipo movido a hidrogénio NH²™ tornar-se-á operacional na Exploração Agrícola La Bellotta em Venaria (Turim) no terceiro trimestre de 2011. O hidrogénio será gerado experimentalmente, utilizando electricidade a partir de painéis fotovoltaicos e através da reformação por vapor do metano de uma nova unidade de biogás de 1MW, inaugurada na exploração agrícola no início de Agosto.
UM PROJECTO DUPLAMENTE PREMIADO Através da sua estratégia de Líder em Energia Limpa, a New Holland ganhou reputação como sendo a marca de máquinas agrícolas mais consagrada e proactiva na área da protecção ambiental e da agricultura sustentável. A New Holland é pioneira na promoção e na utilização de biodiesel desde 2006. Actualmente, 85% de toda a sua gama de produtos pode trabalhar com biodiesel a 100%. A New Holland está já a comercializar a mais ampla gama de produtos do sector em conformidade com a norma Tier 4A, apresentada em 20 tractores e 6 modelos de ceifeiras-debulhadoras. A marca anunciou também a constituição, na zona periférica de Turim, da primeira Exploração Agrícola Piloto Energeticamente Independente, equipada com os tractores NH2™ da New Holland.
Vencedor da Medalha de Ouro nos Prémios de Inovação SIMA 2009 e único na sua classe a nível mundial, o extraordinário tractor NH2™, movido a células de combustível com zero emissões, gerou um enorme interesse e despertou a atenção da comunidade agrícola e de todos aqueles que se preocupam com a agricultura sustentável. O conceito de Exploração Agrícola Energeticamente Independente concentra-se na capacidade das explorações para produzir energia eléctrica a partir de fontes naturais com baixo impacto ambiental, armazenando-a em forma de hidrogénio e reutilizando-a facilmente. O conteúdo altamente inovador do projecto (de um ponto de vista tecnológico, energético e ambiental, bem como a sua conformidade com os objectivos da UE para a energia renovável) conquistou-lhe um lugar entre os projectos de topo do programa “Indústria 2015 – Novas tecnologias Made in Italy”, promovido pelo Ministério Italiano para o Desenvolvimento Económico. Como resultado deste prestigiado reconhecimento, a New Holland, juntamente com 13 parceiros de consórcio, incluindo a Elasis, Envi-Park, ENEA, CNR, Verderone, Tonutti, API-COM, CRF, Ferrari Costruzioni Meccaniche, Roter Italia, Sapio e Zefiro, será financiada pelo Ministério, que contribuirá com aproximadamente metade do investimento total de cerca de 11 milhões de euros para desenvolver a segunda geração de novos tractores NH2™. ›
AGROS P.47
A PRIMEIRA EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA PILOTO O ensaio prático terá início na Exploração Agrícola La Bellotta em Venaria, a poucos quilómetros de Turim. Em finais de 2011, a exploração agrícola assistirá à introdução da segunda geração de tractores NH2™ da New Holland, que serão utilizados para testar acessórios movidos a electricidade, tais como semeadoras, plantadeiras, transplantadoras e espalhadoras. O tractor movido a hidrogénio NH2™ utiliza a tecnologia de células de combustível para gerar electricidade que acciona o seu motor de transmissão eléctrica, o equipamento auxiliar incorporado e mesmo os acessórios eléctricos de plantio. Com base no tractor T6000 da New Holland, o modelo em utilização na exploração La Bellotta possuirá três células de combustível com uma potência total de 100kw. No âmbito do projecto, serão avaliados vários métodos de produção do hidrogénio que abastece o tractor NH²™, incluindo a electricidade produzida a partir de fontes renováveis até ao mais inovador processo de reformação por vapor do metano de “reduzida” escala. O primeiro caso envolverá a electrólise utilizando a electricidade produzida pela unidade fotovoltaica da exploração agrícola. O segundo método utilizará o metano fornecido pelos digestores da unidade de biogás de 1MW, que começou a funcionar recentemente em La Bellotta. Para além de produzir hidrogénio e de satisfazer todas as necessidades energéticas da exploração agrícola, a unidade conseguirá fornecer electricidade suficiente à rede nacional para satisfazer as necessidades diárias de cerca de 10.000 pessoas em termos de energia.
“Escolhemos La Bellotta,” afirma Riccardo Morselli do Departamento de Inovação e Desenvolvimento do Produto da New Holland, “porque os seus programas de desenvolvimento de energia sustentável estão em perfeita harmonia com o conceito de Exploração Agrícola Energeticamente Independente e ofereceu-nos a oportunidade de demonstrar que o tractor movido a hidrogénio não é, como o defendem alguns cépticos, um simples exercício de estilo, mas uma realidade que mudará o futuro e o impacto da agricultura mundial.” Para permitir o trabalho dos tractores NH2™, a exploração agrícola será equipada com um depósito de armazenamento de hidrogénio e uma estação de abastecimento especial com um compressor.
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› L A B E L L O T TA : PRECURSORES DA AGRICULTURA S U S T E N TÁV E L Criada em meados dos anos 50, a Exploração Agrícola La Bellotta expandiu-se gradualmente até atingir o seu tamanho actual de 400 hectares: possui 100 hectares de talhadias geridas para produção de lenha, 25 hectares de plantações de árvores de qualidade para produção de madeira e cerca de 250 hectares em fase de cultivo para produção de milho, sorgo e triticale para a unidade de biogás. Outros 40 hectares são cultivados com gestão de solo orgânico e fornecem alimento para as 9.000 galinhas poedeiras de ovos orgânicos para uma marca líder. “Sempre acreditámos na agricultura sustentável e orgânica,” afirma o proprietário da exploração agrícola, Luca Remmert, “e estivemos entre os primeiros nessa área para praticar cultivo mínimo e plantio directo e para efectuar a separação de resíduos e a recolha de óleo usado, muito antes de se terem tornado actos obrigatórios.” Em 1994, a exploração La Bellotta começou a mover-se na direcção da produção de energia renovável, testando várias culturas, como a de beterraba, girassol, linho e colza. Em 2007, a exploração instalou uma unidade fotovoltaica de 3.000m2 com um rendimento de 180kw. “Os cereais cultivados por nós cobrem o total anual de biomassa necessária para abastecer a unidade,” continua Remmert, “Além disso, temos ainda os produtos provenientes da ceifa e o estrume das galinhas, vitais para o processo de conversão de biomassa em metano nos dois digestores da unidade”. “O ciclo fecha-se quando utilizamos até 15.000 toneladas de lamas e lodos de digestores gerados anualmente como um subproduto do processo, sendo um fertilizante excelente para os nossos terrenos. O calor excedente é utilizado para a próxima construção de uma rede de aquecimento à distância para abastecer a área industrial circundante com calor para utilizações técnicas”.
A exploração agrícola já possui uma frota de tractores da New Holland, incluindo um T7070 Auto Command, um T6090, um T6070 Elite, um T6020 Elite e um T4050. Aproveitou a oportunidade para se tornar na primeira exploração a testar o modelo movido a hidrogénio NH2™ em condições de trabalho reais. “Para nós” afirma Luca Remmert, “representa a realização de um sonho que começou há muitos anos e que se foi tornando gradualmente numa realidade: praticando agricultura sustentável e orgânica, sendo auto-suficientes em termos energéticos e agora, com o tractor NH2™ da New Holland, atingindo o objectivo de zero emissões”. • AGROS P.51
Estão disponíveis informações detalhadas sobre o tractor movido a hidrogénio NH2™ da New Holland, o conceito de Exploração Agrícola Energeticamente Independente e a estratégia de Líder em Energia Limpa no novo sítio da Web: www.thecleanenergyleader.com A New Holland Agriculture compensou as emissões de gases com efeito de estufa, produzidas pelo transporte, a energia e o papel consumido durante a Conferência de Imprensa. A AzzeroCO2, uma empresa italiana sedeada em Roma, efectuou todos os cálculos necessários para quantificar as emissões produzidas durante o evento, que foram na ordem das 29 toneladas de CO2, e garantiu a compensação eficaz desse carbono. Os créditos de carbono são comprados no mercado voluntário e são gerados através da absorção de CO2 recorrendo à reflorestação. São registados e evitados num registo próprio e são atribuídos a cada tonelada de CO2 evitada. A New Holland Agriculture optou pelo projecto florestal da região de Piedmont, cuja capital é Turim.
por Ricardo Braga Pedro Aguiar Pinto
OLIVICULTURA DE PRECISテグ
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artigo Nr.
Inテェs Gonzalez
A olivicultura é um importante sector da agricultura portuguesa. A manutenção da importância e competitividade adquiridas passará por uma continuada melhoria na gestão agronómica e ambiental dos olivais. A olivicultura de precisão apresenta-se como um sistema de produção capaz de responder a esses requisitos. Neste artigo avalia-se a variabilidade espacial da produtividade da cultura e da fertilidade do solo. Ilustram-se ainda duas aplicações práticas: as cartas de margem bruta e de prescrição de P.
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INTRODUÇÃO O sector da olivicultura aparenta cada vez mais ser um sector estratégico para a afirmação da agricultura portuguesa no contexto nacional e também no estrangeiro. Após cerca de 50 anos de incapacidade de auto-aprovisionamento, Portugal está prestes a inverter essa situação. Em 2010 a área total de olival era próxima de 369 mil ha com uma produção total de cerca de 54 mil toneladas (GPP, 2010). Prevê-se para 2020 uma produção de quase 92 mil toneladas duplicando a produção de há 10 anos atrás. Este notável aumento da produção resultou por um lado da intensificação da produção em olivais tradicionais e por outro, da plantação de novos olivais quer em regime intensivo ou super-intensivo. Estes últimos configuram notáveis avanços tecnológicos a diversos níveis do itinerário cultural: plantação, rega, condução e poda, colheita, etc.
A manutenção da importância e competitividade adquiridas pelo sector olivícola passará certamente por uma continuada melhoria na gestão agronómica e ambiental dos olivais. Neste contexto, a agricultura de precisão terá um papel central, enquanto sistema de produção agrícola, quer em culturas anuais quer em culturas permanentes como o olival. Braga (2009) definiu agricultura de precisão como a gestão da variabilidade temporal e espacial das parcelas com o objectivo de melhorar o rendimento económico da actividade agrícola quer pelo aumento da produtividade e/ou qualidade quer pela redução dos custos de produção, reduzindo também o seu impacte ambiental e risco associado. Numa escala mundial, a adopção da agricultura de precisão é mais significativa em culturas arvenses (milho, trigo, soja, algodão). Entre as culturas permanentes, a adopção é marcadamente superior na vinha (viticultura de precisão) quando comparada com o olival ou outras árvores de fruto. Talvez pelo âmbito agro-ecológico mais restrito da cultura (basicamente a bacia do mediterrâneo) e necessariamente pela menor massa crítica associada, a adopção da agricultura de precisão no olival ainda não passou de casos-de-estudo pontuais. No olival, os assuntos mais investigados são: (a) a utilização da detecção remota (Apan et al., 2004; Peña-Barragán et al., 2004; Sepulcre-Canto, 2005; Romo et al., 2007; García Torres et al., 2008) e (b) a amostragem espacial do solo e plantas (López-Granados et al, 2004; Fountas et al, . 2009; Gargouri et al.2009) para a caracteri-
zação da variabilidade espacial da cultura e cobertura do solo, com vista à criação de cartas de prescrição de factores de produção. Pérez Ruiz et al (2010) e Solanelles (2005) apresentaram mesmo soluções para levar as cartas de prescrição à prática no caso do uso de tecnologias de taxa de aplicação variável (VRT) de fitofármacos em função da dimensão das oliveiras. Gargouri et al. (2009) estudaram a variabilidade espacial da fertilidade do solo numa parcela de olival com 134 ha na Tunísia, tendo encontrado coeficientes de variação entre 16 e 49% nos teores de P, K e Na, condutividade eléctrica e matéria orgânica (MO). Quanto à estrutura da variabilidade espacial apenas os teores em MO e Na pareciam agrupar-se em zonas bem delimitadas (patches). De entre os restantes
parâmetros, ou a variabilidade era demasiado pontual (caso do P) ou demasiado sectorial (caso do K). Fountas et al.. (2009) analisaram a variabilidade espacial da produtividade bem como a de alguns parâmetros relativos à fertilidade do solo numa parcela de 9ha na Grécia durante duas campanhas. Os coeficientes de variação foram pequenos para o pH e teor de areia(<10%), médios (16-50%) para limo, argila, P, K, Ca, Mg, Fe, Zn e MO e elevados (>50%) para NO3, Mn e B. A produtividade no primeiro ano apresentou um valor médio de 10 t/ha com uma variação espacial entre 1 e 20 t/ha (C.V. = 46%). No segundo ano, a produtividade baixou para 7 t/ha com uma ainda maior variação espacial entre 0,5 e 21 t/ha (C.V. = 60%). As diferenças interanuais de produtividade bem como a diferente variabilidade espacial parecem resultar do fenómeno de safra e contra safra. López-Granados et al. (2004) observaram a variabilidade espacial do teor de N, P, K, B e Fe nas folhas de um olival de 30 ha em Espanha durante duas campanhas. Enquanto P, K e B demonstraram uma forte organização espacial nos dois anos, o N só mostrou organização semelhante num dos anos. Os valores observados de Fe não evidenciaram qualquer estrutura espacial em nenhum dos anos. Como consequência, no desenho das cartas de prescrição apenas foi necessário aplicar N em 3 ou 17% da área, respectivamente. A agricultura de precisão, através da criação e utilização de mapas de prescrição, possibilita uma gestão dos recursos (e.g. fertilizantes / fitofármacos) mais eficiente. Aumentando o detalhe espacial com que se faz a aplicação de factores de produção, passando de taxa de aplicação médias por parcela para cartas com resoluções espaciais até aos poucos metros, torna-se possível a aplicação do factor de produção de acordo com as necessidades específicas de cada zona da parcela. ›
Ricardo Braga (Prof. Adjunto) / ESA ELVAS / Instituto Politécnico de Portalegre / ricardo_braga@esaelvas.pt Pedro Aguiar Pinto (Prof. Catedrático) Instituto Superior de Agronomia Inês Gonzales (Eng. Agrónomo) Sociedade Agrícola Monte da Ordem / Elvas
AGROS P.55
› Desta forma, atingem-se ganhos de produtividade, redução de custos e de perdas de factores de produção aplicados que são geralmente nocivas para o ambiente. Para que este processo seja exequível é necessário criar cartas de prescrição com base no conhecimento da variabilidade espacial do solo, do terreno e das plantas. Os objectivos deste estudo foram a avaliação da variabilidade espacial da produtividade de um olival em produção comercial assim como a estimativa da variabilidade de grandezas características da fertilidade do solo, do terreno e da dimensão das plantas. Este objectivo ambiciona perceber quais os factores determinantes na variabilidade espacial da produtividade e, dessa forma, conseguir definir critérios de actuação na gestão dos factores de produção que melhorem o desempenho agronómico, ambiental e económico da parcela. São ainda demonstradas, como exemplos, duas aplicações práticas resultantes dos dados observadas, nomeadamente a carta de margem bruta e a carta de prescrição de P. ›
M AT E R I A I S E MÉTODOS Foi analisada uma parcela de olival com 16 ha, localizada na Herdade da Sibreira (38.909 N, -7.303 W), freguesia de Vila Fernando, concelho de Elvas, propriedade da Sociedade Agrícola Monte da Ordem (fig. 1). O olival foi plantado há 19 anos com a variedade Cobrançosa num compasso de 7 x 7 m e desde então é regado por sistema de rega gota-a-gota. ›
/ Figura 1 / Parcela de olival com 16 ha, localizada na Herdade da Sibreira Freguesia de Vila Fernando / Concelho de Elvas Pertence à Sociedade Agrícola Monte da Ordem
O clima é mesotérmico com Verão quente e seco (Csa na a classificação de Köppen).– A temperatura média do mês mais frio é inferior a 18 C e superior a3 C.. A temperatura média do mês mais quente é superior a 22 C. A ocorrência de chuvas está concentrada nos meses de Inverno e da Primavera sendo o Verão a estação seca. Os solos predominantes na parcela são calcários vermelhos de calcários (Vc) e solos mediterrâneos vermelhos ou amarelos de calcários cristalinos associados a rochas cristalofílicas básicas (Vcv). As observações realizadas incidiram sobre três categorias de características: da cultura (produtividade, altura da copa e diâmetro do tronco), do solo (teor de matéria orgânica, potássio, fósforo e pH em análise sumária) e do terreno (índices de caracterização topográfica). A amostragem da cultura realizou-se sobre uma malha regular de 50 por 50 metros, correspondendo cada um dos pontos à média de quatro plantas. Deste modo foram amostradas 256 árvores resultando num total de 64 pontos. Todas as plantas foram identificadas e georeferenciadas por GPS. A colheita manual foi feita durante o mês de Novembro. As pesagens em cada ponto foram realizadas todos os dias no fim da jornada de colheita, sendo contabilizados os pesos do conjunto de quatro árvores. A balança utilizada foi uma balança de plataforma (decimal). A altura das plantas foi medida com recurso a uma mira topográfica enquanto o diâmetro dos troncos foi medido com uma suta. Para caracterizar a fertilidade do solo foram recolhidas amostras de solo para cada ponto (64 amostras), devidamente identificadas. Na caracterização do terreno foram utilizados diversos índices topográficos calculados com recurso a um SIG. Para isso, foi feito
um levantamento GPS prévio da parcela o qual foi utilizado para derivar os diversos índices topográficos (Moore, 1991): Declive (relação entre a diferença de cotas e a distância na horizontal de dois pontos da superfície do terreno); Orientação (direcção de exposição da encosta); Direcção do escoamento (direcção em que se dá o fluxo da água); Escoamento acumulado (número de células de escoamento a montante); Distância de escoamento a jusante; Distancia de escoamento a montante. Todas as variáveis observadas foram descritas por parâmetros de estatística descritiva (média, desvio padrão, coeficiente de variação, etc.) e também se determinou a sua matriz de correlação. Posteriormente, a estrutura espacial dos dados foi analisada com recurso à geoestatistica (modelação do semi-variograma). Foram ainda criadas cartas da produtividade e teor de P no solo com recurso ao kriging com resolução espacial igual ao compasso de plantação (7x7m). O rácio entre a semivariância no ponto (nugget/pepita) e a semivariancia total (sill/ patamar) foi utilizado para caracterizar o grau de dependência espacial: ≤25% - elevada dependência espacial i.e. organização da variável em manchas bem definidas; entre 26% e 75% - dependência espacial moderada; >75% - fraca dependência espacial (ou nula se o valor atinge 100%). O coeficiente de correlação entre variáveis espacialmente dependentes deveria ser corrigido em função do grau de auto-correlação. No entanto, a não existência de métodos expeditos para proceder a tal correcção e a ampla aceitação do coeficiente de correlação para caracterizar a relação (linear) entre duas variáveis justificou a sua utilização neste estudo. ›
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› R E S U LTA D O S E DISCUSSÃO A produtividade apresentou um valor médio de 2,3 t/ha, tendo variado entre 0,5 e 4,7 t/ha (quadro 1). Esta variabilidade conduziu a uma coeficiente de variação de 41,3 %, valor bastante significativo e consistente com os valores referidos noutros trabalhos. Outras variáveis apresentaram igualmente elevada variação na parcela, nomeadamente as relacionadas com a fertilidade do solo e terreno. O CV do teor de matéria orgânica do solo foi de 20%e de 30 e 44% para os teores de K e P, respectivamente (quadro 1). As variáveis caracterizadoras do terreno foram as que apresentaram maiores variações no espaço da parcela, desde o declive com CV de 50% até ao escoamento com CV de 493%. Isto resultou do facto de a
parcela apresentar uma topografia algo acentuada, com uma variação total de cota de quase 47m. De facto, o declive médio da parcela é de 6,6% com um declive máximo de 13,3%. A orientação da encosta também é bastante diversa, com encostas voltadas a Norte e a Sul. Foi esta variabilidade que justificou a inclusão deste grupo de variáveis na análise, dado o impacto que a topografia tem no solo, na água e na planta. As variáveis que caracterizaram a dimensão das plantas, diâmetro do tronco e altura da copa, apresentaram valores de CV relativamente baixos (<10%). A quadro 2 apresenta a matriz de correcção entre todas as variáveis observadas com os valores estatisti-
/ Quadro 1 / Análise estatística descritiva das variáveis observadas.
camente significativos. A produtividade encontra-se significativamente relacionada com diversas variáveis (por ordem decrescente): direcção N (-0,49); altitude (0,44); Distância do escoamento a jusante (0,40); direcção E (-0,32); Distância do escoamento a montante (-0,28); e MO (0,26). Entre estas, a direcção N e E não apresentam aparentemente qualquer significado agronómico. Deste modo, as variáveis relacionadas com a fertilidade do solo (teores em P e K nem se encontraram significativamente relacionados com a produtividade), serão à partida menos responsáveis pela variabilidade encontrada na produtividade. A distância do escoamento a jusante e a montante são variáveis geralmente relacionadas com as propriedades
do solo, mais propriamente com as relações hídricas (escoamento lateral, profundidade do solo, teor em argila, etc.) o que sugere que seja esse um dos factores responsáveis para variabilidade encontrada na produtividade. Infelizmente não foi possível observar directamente a profundidade do solo nem tão pouco proceder à análise textural das amostras de modo a confirmar aquela hipótese. Dado tratar-se de uma parcela regada seria igualmente necessário proceder à verificação da uniformidade do sistema de rega. ›
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/ Quadro 2 / Matriz de correlação entre todas as variáveis observadas com apresentação apenas dos valores estatisticamente significativos (p<0,05)
› O quadro 3 apresenta os parâmetros dos modelos de semi-variograma das variáveis observadas. Destas, o diâmetro do tronco, a orientação da encosta e o fluxo acumulado não apresentam qualquer estrutura espacial já que o nugget ratio foi de 100%. Para as restantes variáveis foram ajustados modelos esféricos (produtividade, pH, MO, P, K, Altura da copa, declive e distância do escoamento a montante), exponenciais (direcção de escoamento) e gaussianos (distância do escoamento a jusante). A produtividade, o declive e a direcção de escoamento apresentaram uma elevada dependência espacial com nugget ratio de 25, 4% e 17%, respectivamente. Todas as restantes variáveis apresentaram uma dependência espacial moderada. O Alcance da dependência espacial variou entre 90 m (direcção de escoamento e distancia do escoamento a montante) e 240 m (MO). A carta da produtividade resultante da interpolação espacial é apresentada na fig. 2. Com base nesta carta, e tendo em conta os custos variáveis da cultura, assim como o preço da azeitona, foi possível determinar a carta de margem bruta (fig. 3). Esta carta
apresenta-se de extrema relevância para o empresário agrícola, já que ao aumentar o detalhe espacial da produtividade, permite diferenciar as zonas da parcela em função do rendimento proporcionado. Assim, neste caso concreto, verifica-se que em cerca de 19% da área da parcela em estudo (3 ha), o rendimento não chega para cobrir os custos de produção. Neste cenário, o empresário terá que tomar decisões no sentido de corrigir tal situação. Na ausência destes dados, o empresário, face à produtividade média (2280 kg/ha), determinaria uma margem bruta média de cerca de 400 €/ha. ›
/ Quadro 3 / Parâmetros dos modelos de semi-variograma das variáveis observadas
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/ Figura 2 / Carta de produtividade (kg/ha) da parcela estudo (16 ha) com resolução espacial igual ao compasso de plantação (7x7m)
/ Figura 3 / Carta de margem bruta da parcela (€/ha) estudo (16 ha) em que em cerca de 3 ha (19% da área) o valor é negativo i.e. se perde dinheiro com a cultura.
› Outro exemplo de aplicação dos dados observados é a carta de prescrição de P. A fig. 4 apresenta a carta de P no solo obtida por interpolação espacial dos valores observados. É possível verificar que nos 16ha da parcela existe, como referido anteriormente, uma elevada variabilidade do teor de P entre valores muito altos (>200 ppm) e valores que são limitantes para o crescimento das plantas (<100ppm). A recomendação clássica, com base no valor médio 185 ppm, resultaria numa escassa e uniforme aplicação do nutriente em toda a parcela. Com recurso à carta de P no solo, é torna-se possível determinar com elevada resolução espacial as necessidades de cada zona da parcela e assim implementar uma carta de prescrição de P. Verifica-se, então, que em certas zonas será necessário aplicar grandes quantidades de P ao contrário de outras, correspondentes a 38 % do total da parcela, a quantidade a aplicar seria nula. Neste momento existem já distribuidores de adubo com GPS e tecnologia VRT que permitem levar a carta de prescrição à prática.
CONCLUSÃO A variabilidade espacial da produtividade no olival pode ser suficientemente elevada para conduzir à existência de zonas de uma mesma parcela em que a margem bruta se torna negativa. No olival em estudo, com um CV da produtividade superior a 40%, os resultados obtidos parecem sugerir que a variável causadora da variabilidade encontrada estará relacionada com a disponibilidade hídrica do solo. São necessárias posteriores indagações no sentido de confirmar esta hipótese. A consideração da variabilidade espacial da produtividade da cultura assim como dos factores que a determinam é essencial para melhor a performance agronómica, económica e ambiental da actividade agrícola. Isso mesmo foi ilustrado com sucesso no caso da fertilização fosfatada. •
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/ Figura 4 / Carta de teor de P no solo (ppm)
/ Figura 5 / Carta de prescrição de P (ppm) em que em cerca de 6 ha (38% da área) não é proceder à aplicação do nutriente
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