Escola de Pais do Brasil REGIÃO NORDESTE DO RIO GRANDE DO SUL
Nº 34
Mulheres sozinhas, mães a toda prova. pg 26 Pais NOTA 10, uma experiência que deu certo. pg 22
O erro no processo da aprendizagem. pg 37
Aprendizado do amor ‘‘ Vovó, eu cuido do teu dodói!’’ pg 07
SÃO OS DETALHES QUE MARCAM O ALTO PADRÃO RACINE X.
Avenida das Hortênsias 5855 Estrada Gramado/Canela Gramado - RS 54 3286 7654 - 54 9 9120 9584 racine@racinex.com.br www.racinex.com.br ‘‘O Senhor é meu Pastor e nada me faltará.’’
Editorial
C
hegamos ao final de 2016 e, como em todos os anos, a Região Nordeste do Rio Grande do Sul da Escola de Pais, faz chegar até vocês, pais, educadores e apoiadores, a nova edição de nossa revista. Trazemos um conteúdo com os assuntos pontuais, sobre a arte de educar. Uma proposta para construir no seio das nossas famílias, um ambiente amoroso e educativo com a finalidade de colocar limites, transmitir valores e conhecimentos que se acredita ser essenciais para inserção de nossos filhos na sociedade. Propõe, em cada lar, a formação de laços afetivos e duradouros, com o compromisso de uma relação de cuidados entre pais e filhos e entre família e sociedade. Para editorar o conteúdo de 2016, solicitamos textos de membros da Escola de Pais e também de outros profissionais. São pessoas de nobreza de espírito, verdadeiras fontes inspiradoras e a quem somos imensamente gratos. E, nada disso estaria acontecendo, sem a parceria honrosa de nossos apoiadores. Alguns já de muitas edições, outros de primeira vez, tornaram possível este projeto, em seu gesto a serviço da sociedade. Assim, com o entusiasmo de sempre e muito felizes com nosso voluntariado, agradecemos a Deus e as parcerias da presente edição. Desejamos a todos, um Feliz Natal e um Ano de 2017, pleno de realizações, em cada família.
Mari e Luiz Carlos Muraro Casal Presidente da Seccional de Gramado Roque Reginatto Diretor Comercial Therezinha e Luiz Mazzurana Casal Diretor Regional
Escola de Pais
O menor caminho entre pais e filhos Histórico
Como funciona
A Escola de Pais do Brasil é de origem cristã, iniciada em São Paulo, em 1963, por inspiração de Madre Inês de Jesus, cônega de Santo Agostinho. A apresentação à família brasileira foi feita pelo padre Leonel Corbeil e em seu início presidida pelo casal Alzira e Antônio Fernando Lopes. É filiada à Fédération intemacionak pour l’Éducation des Parents, com sede em Paris e faz parte da Federação Latino-Americana de Escola de Pais. A sede nacional localiza-se em São Paulo, na Rua Bartira, 1.094 - Perdizes. CEP 05009-000. Telefax (11) 3679-7511. Internet: www.escotadepais.org.br; e-mail: epbescoiadepais.com.br.
A Escola de Pais do Brasil é uma instituição que atua na área de educação e atualização dos pais, futuros pais e agentes educadores, no sentido de melhor conduzirem seus filhos e educandos, a partir de reflexões e da conscientização do seu papel de educadores. O trabalho da Escola de Pais do Brasil é voluntário e gratuito sendo desenvolvido por casais que, tendo participado do Círculo de Debates e posteriormente do CAC - Curso de Aperfeiçoamento e Capacitação -ingressaram na instituição. Os casais coordenadores de Círculos são devidamente preparados para atuarem onde forem solicitados. Funciona através de círculos de debates, uma vez por semana, com duração de uma hora e meia, nos quais os participantes, a partir de suas experiências, discutem e compartilham dúvidas, preocupações, dificuldades de educar e possíveis caminhos a serem buscados. Os assuntos são conduzidos por um casal coordenador da Escola de Pais, devidamente preparado para atuar como facilitador. Seu trabalho tem um caráter preventivo e permite, através de sua metodologia, manter o nível de interes-se dos pais, pois enfoca a real problemática educativa de cada grupo.
Missão Ajudar pais, futuros pais e agentes educadores a formar verdadeiros cidadãos. Linha psicopedagógica É definida, entre outros, por pedagogos, médicos, psicólogos e sociólogos que compõem o Conselho de Educadores da Escola de Pais do Brasil, com sede em São Paulo. Objetivos Conscientizar os pais de sua responsabilidade e de seu papel na educação dos filhos; Atualizar pais e educadores em práticas e princípios psicopedagógicos; Promover maior aproximação família/escola na perspectiva de uma educação integral do ser humano. Público alvo Pais e Educadores CONTATO DAS SECCIONAIS REGIÃO NORDESTE DO RIO GRANDE DO SUL REPRESENTANTE NACIONAL Maria Inês e César Augusto Detoni Fone: (54) 3321.1735 | 3321.2794 e-mail: cezardetoni@via-rs.net DELEGADOS REGIONAIS Carla e Wagner Marçal (54) 3027.6420 | 98133.6110 | 99903.8802 e-mail: karla.marcal@yahoo.com.br Therezinha e Luiz Mazzurana Fone: (54) 3286.2278 | 99142.8077 e-mail: theremazzurana@hotmail.com PRESIDENTES Canela: Tanara Spall e Elton Andrade Fone: (54) 3282.1382 e-mail: tanaraspall@ibest.com.br; adm@stport.com.br
Onde funciona Escolas, empresas, associações de classe, centros comunitários, condomínios. Como solicitar a Escola de Pais Entrar em contato com a escola de seu filho ou entidade da qual você faz parte, solicitando um ciclo de debates ou contatar diretamente a Escola de Pais do Brasil, de sua cidade.
Caxias do Sul: Teresinha e Ermilo Guizzo Fone: (54) 3226.1253 e-mail: ermilo.guizzo@superig.com.br; ermilo.guizzo@hotmail.com.br Casal responsável pela parceria com o Projeto Pescar : Claire e Ivo Pioner Telefone: 054 32294614 54 991758507 E-mail: ivopioner@terra.com.br Gramado: Mari e Luiz Carlos Muraro Fone: (54) 3286.2623 e-mail: lc.muraro@via-rs.net Ivoti: Marfisa e Jeferson Luiz Barbieri Fone: (54) 3563.7332 e-mail: marfisabarbieri@sino.net; jefersonbarbieri@sinos.net São Marcos: Liéte e Marcílio de Araújo Fone: (54) 3291.1798 e-mail: araujo@nsol.com.br
CÍRCULOS DE DEBATE Temário ► Educar é um desafio ► Valores e limites na educação ► Pai, mãe e agentes educadores ► A educação do nascimento à puberdade ► Adolescência: o segundo nascimento ► A sexualidade no ciclo de vida da família ► Cidadania e cultura da paz
Benefícios esperados ► Melhoria na comunicação, no diálogo e na convivência entre pais e filhos. ► Definição de limites de forma mais adequada. ► Melhor orientação para uma sexualidade sadia. ► Prevenir o uso de drogas. ► Atender melhor às necessidades dos filhos e prepará-los para o mundo.
Compromisso com a Escola de Pais Instituições ou Comunidades que desejam o Círculo de Debates devem assumir alguns compromissos com a Escola de Pais do Brasil:
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Escolher um local favorável para as reuniões e que seja amplo, arejado, bem iluminado e com cadeiras soltas;
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Convocar os pais e demais participantes através de circulares, de motivação feita com os alunos, telefonemas na véspera da reunião e inscrição dos participantes, constituindo um grupo de no mínimo trinta pessoas;
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Terminado o trabalho, a instituição solicitante deverá fornecer atestado em papel timbrado no qual conste o nome do coordenador que realizou o Círculo, o número de pessoas que frequentaram e o período de duração;
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Na medida do possível, oferecer cafezinho e biscoitos para o momento de integração dos participantes;
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Designar uma pessoa da instituição solicitante para acompanhar os trabalhos e dar ao Coordenador do Círculo; Se você quiser que a Escola de Pais do Brasil atue no colégio de seu filho ou na sua comunidade, fale com o responsável, peça que entre em contato conosco e então procuraremos atende-lo o mais breve possível. Através deste trabalho, os pais poderão encontrar o menor e melhor caminho para a educação do seus filhos.
Sumário www.escoladepais.org.br REVISTA “ORIENTAÇÃO FAMILIAR” Circulação Nacional
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Amar é cuidar
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Prevenindo a obesidade desde a infância
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Danos causados pela exposição excessiva à tecnologia
11 Adolescência Utilidade Pública Federal Decreto 72.220, de 11.05.73 Registro no CNSS MEC 262-234-76 Utilidade Pública Municipal, Lei 3.229 CNPJ: 88.890.298/0001-01 Tiragem: 2.000 exemplares
N° 34
Órgão de divulgação da Escola de Pais do Brasil da Região Nordeste do Rio Grande do Sul, seccionais de Caxias do Sul, Canela, Gramado, Ivoti e São Marcos.
EDITORES Casal editor: Therezinha e Luiz Mazzurana Fone: (54) 3286-2278 / 9142-8077 e-mail: theremazzurana@hotmail.com Casal DR de Canela, Gramado, e Ivoti Colaboração: casais da Região Nordeste do RS.
DIAGRAMAÇÃO Evandro Luís Böhm Rua Albino Fiss, 1021 Cidade Alta / Venâncio Aires/RS Fone: (51) 998220853 / 992044175 / 986156148 E-mail: evandrolb@hotmail.com
IMPRESSÃO
Mazzurana Artes Gráficas Gramadense Ltda. Rua Augusto Bordin, 208 / Floresta - Gramado/RS Fone: (54) 3286 2869
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Educar para os valores
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Influência familiar na escolha profissional do jovem
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Dilema de mãe
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Ninhos e passarinhos
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Como é a história da sua sexualidade?
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Pais nota 10
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Seccional de Gramado
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Identificação sexual na infância
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Mães de primeira viagem
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Mulheres Sozinhas: Mãe a toda prova!
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Família, sexualidade e juventude: Aprendendo a cuidar da vida
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O Pai
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Dê uma chance à gentileza
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TDA - Transtorno do Déficit de Atenção
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Laços familiares podem ser fortalecidos durante as refeições
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Neurociência: o que pode nos ajudar como pais e educadores
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7 verdades para fazer seu cérebro trabalhar melhor para você
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Se filhos fossem violetas, pais não chorariam
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Família, o chão do ser humano
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Para modificar, no professor, terá que investir
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Amar é cuidar ► Verônica A. da Motta Cezar-Ferreira
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a prática, apesar da complexa organizaçãoda entidade família, o que se observa é que não haveria necessidade de haver tanto desentendimento, tanta dor e até doenças, se houvesse menos egoísmo no ser humano, se esse pudesse querer menos as coisas a seu jeito. Por quê? Porque é daquela troca de mensagens entre as pessoas que se vai construir o padrão de relação, e esse padrão é que vai dar a estrutura da família, o que vai desenhar seu rosto. Ora, se cada um se preocupar um pouco mais com o bem-estar do outro, levar mais em consideração seus desejos e necessidades, puder perceber o que, em sua própria maneira de ser e agir, magoa o outro, em suma, se cada um puder dar mais amor e ser mais cuidadoso, ficará mais atento às mensagens recebidas e dosará melhor seu egoísmo, ao responder. A dinâmica será mais saudável e a “dança da família” mais harmoniosa. Amor não é coisa piegas dos românticos; é signo de maturidade na realidade psíquica. Sentir-se mal por ter magoado alguém, é atitude madura. “Amar ao próximo como a si mesmo” é o grande desafio da pessoa humana, que, por vezes, nem sequer se ama, antes, endeusa-se ou, até, tem piedade de si mesma. Amar implica cuidar, de si e do outro. Quem diz que ama e não cuida, pode ter qualquer outro sentimento, mas não, de amor. Amar é cuidar! Verônica é Advogada e psicóloga. Doutora e Mestre em Psicologia Clínica. Membro do Conselho de Educadores da Escola de Pais do Brasil (EPB). Diretora de Relações Interdisciplinares da Associação de Direito de Família e das Sucessões (ADFAS). Consultora de Direito de Família da OAB-SP. Terapeuta individual, de casal e de família. Mediadora, perita e consultora psicojurídica de família. Artigo publicado na Revista do 52º Congresso Nacional da Escola de Pais.
Aquele que diz que ama, e não se mexe, Aquele que diz que ama, e nada tece, Aquele que diz que ama, e não se abala, Aquele que diz que ama, e não cuida Da vida a si dada por empréstimo, E a ela não empresta os seus préstimos, Não ama, apenas pensa amar. O amor é cuidadoso por inteiro, É o que evita o mal, por isso é firme. É o que dá o caminho com carinho, É o que dá a mão para aprender a andar. É o que, mais tarde, anda, lado a lado, E àquele, que, lá atrás, lhe segurou a mão, No ocaso da vida, oferece o braço, E, com paciência, espera cada passo, Agora trôpego e inseguro, E, daquele que o ensinou a andar, Carrega, com cuidado, a bengala. Vida que segue em seu caminhar. O amor é transgeracional, Potencial que se desenvolve, Que vai de pais a filhos, de avós a netos, Que salpica de brilho cada teto, E preenche de vida cada lar. E se traduz nas coisas mais singelas, Como a netinha que, de perto da janela, Vê a vovó doente e pergunta: “Vovó, você tem dodói? Vou te cuidar”. E ao vovô, que está ali, atento: “Vovô, você vai cuidar também”. Parece simples, mas não cai do céu. Isso é algo que foi ensinado, Só aprende a cuidar, quem foi cuidado, Só aprende a amar, quem foi amado. Simples assim: Na teia da vida, amar é cuidar.
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Prevenindo a obesidade desde a infância ► Dra. Janaina Fischborn
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obesidade é um grave problema de saúde pública, pois traz com ela o aumento do risco de várias doenças como o diabetes, a dislipidemia, as doenças cardiovasculares, articulares e até o câncer. A prevenção de todas estas morbidades deve se iniciar na infância, pois nesta fase estão se formando os hábitos alimentares e o estilo de vida da criança, que impactarão na saúde desta pela vida toda. Crianças obesas hoje serão adolescentes obesos, amanhã, e adultos obesos no futuro, além do sofrimento pelo convívio com a moléstia. A cada dia milhões de células estão sendo formadas e cada uma delas precisa de cerca de 45 nutrientes para ser bem formada. Se a alimentação diária for monótona ou pobre em nutrientes vários erros se iniciam e são gatilhos para o desenvolvimento de doenças. Além disso, o excesso de calorias faz com que na fase da infância se formem mais células de gordura do que o normal e o futuro adulto terá que conviver o resto da vida com estas células tendo sempre facilidade para engordar. O aleitamento materno é um dos fatores associados a menor risco de desenvolver obesidade e deve ser incentivado como exclusivo, sempre que possível, até os 6 meses de idade. Além disso, se puder ser continuado após este período até os 2 anos de idade contribui para o desenvolvimento saudável e também para a imunidade da criança. Até os 3 anos de idade os alimentos ofertados são formadores dos hábitos alimentares. Nesta fase, deve-se evitar a introdução de alimentos pobres em nutrientes ou perigosos, como os refrigerantes, açúcares, embutidos, gordura hidrogenada (presente em sorvetes, chocolates, biscoitos...). Infelizmente a falta de informação e de educação nutricional, faz com que hábitos errôneos sejam replicados. O ideal seria a introdução de aulas de nutrição desde a base na escola, pois teríamos adultos mais saudáveis. Na idade escolar, as crianças são apresentadas, seja pela mídia ou pelos colegas, a indústria das guloseimas. Se a mesma tiver boa formação, esses alimentos se
tornam menos atrativos. Deve-se sempre que possível incentivar o consumo de mais alimentos naturais e íntegros no dia a dia, como a presença de no mínimo 5 porções de vegetais diariamente, entre frutas e verduras. Cada porção equivale ao tamanho da mão da criança. Outro fator a ser considerado nos dias de hoje é o sedentarismo das crianças, as várias horas perante a televisão ou jogos eletrônicos. Os pais devem evitar ao máximo ofertar alimentos enquanto a criança assiste televisão pois a mesma não registra os alimentos que está ingerindo, o que colabora para o consumo abusivo. O ambiente familiar compartilhado e a influência dos pais nos padrões de estilo de vida dos filhos, incluindo a escolha dos alimentos, indicam o importante papel da família em relação ao ganho de peso infantil. É de grande importância que os pais se empenhem a ampliar o conhecimento da criança sobre nutrição e saúde, bem como dêem exemplo para influenciar de modo positivo a dieta, a atividade física e a redução da inatividade e assim garantir boa nutrição durante toda vida e mais saúde. Dra. Janaina Fischborn Diplomada pelo “The Institute for Functional Medicine dos EUA” 54-32863516 janainafischborn@yahoo.com.br
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Danos causados pela exposição excessiva à tecnologia ► Ruviane Pozzer
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lguns dados, apontam que, no Brasil, 76% das crianças entre 3 e 5 anos sabem ligar o computador ou tablet, 73% jogam online e 42% sabem usar um smartphone. Entre crianças de 6 a 9 anos, 62% participam do mundo digital, especialmente em redes sociais, 54% estão no facebook (apesar deste exigir idade mínima de 13 anos) e 21% tem email. Uma pesquisa realizada pela AVG Technologies com famílias de todo o mundo mostrou que 66% das crianças entre 3 e 5 anos de idade conseguia usar jogos de computador, no entanto, apenas 14% era capaz de amarrar os sapatos sozinhas. Portanto, esta é, sem sombra de dúvidas, a geração digital. O grande problema é que os estímulos provocados pela exposição demasiada a tecnologias como celulares, ipads, internet, TV, etc., afetam negativamente o desenvolvimento psicomotor das crianças, podendo gerar atrasos cognitivos e de aprendizagem, alterações posturais, dores de cabeça, problemas de visão, dentre tantos outros. O uso inadvertido de vídeo game e televisão está intimamente relacionado ao desenvolvimento do sedentarismo e, por consequência, do aumento da obesidade. Estima-se que crianças que possuem aparelhos eletrônicos em seus quartos tenham 30% mais chance de desenvolver obesidade. Infelizmente, a incidência tende a aumentar tendo em vista a melhoria desses aparelhos e a facilidade de acesso a eles. Além disso, a exposição excessiva à tecnolo-
gia pode provocar distúrbios de sono nas crianças. A luz emitida pelos aparelhos provoca alterações hormonais, em especial do hormônio melatonina, importante na regulação do ciclo sono-vigília e do metabolismo energético. Em pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, foi demonstrado que crianças que têm acesso a smartphones e tablets antes de adormecerem, dormem, em média, 21 minutos a menos que aquelas que não usam essa tecnologia à noite. Não são poucas as pesquisas que comprovam que quanto mais tempo uma criança passa em frente à televisão ou utilizando vídeo games e celulares, pior para sua saúde. Uma pesquisa da Universidade de Montreal, Canadá, com 1314 crianças, entre 2 a 4 anos, mostrou que esse hábito surte efeitos negativos à saúde ao longo de toda infância, prejudicando seriamente a musculatura, alterando negativamente a postura e diminuindo o desempenho nas atividades físicas. Nessa mesma pesquisa, foram realizados testes com as crianças para medir a capacidade delas em saltar. Foi concluído que a cada hora de televisão semanal aumentada nessa idade, diminui-se a distância que um jovem é capaz de saltar. De acordo com os pesquisadores, esses resultados mostram que a criança terá maiores dificuldades em praticar outras atividades que exijam força muscular das pernas. Alterações músculo-esqueléticas relacionadas a desvios posturais como escolioses, cifoses, hiperlordoses, bem como inflamações articulares, podem ocorrer devido ao uso excessivo desses aparelhos
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eletrônicos. Essa má postura, às vezes chamada de “pescoço de texto” (text neck) pode ocasionar degenerações e lesões no início da coluna vertebral, com importantes consequências. Estudos apontam que para cada 3 cm que a cabeça se inclina para a frente, a pressão sobre a coluna dobra. Num adulto em posição ideal, com as orelhas alinhadas com os ombros, o peso transmitido ao pescoço é de aproximadamente 5 kg. Esse valor vai sendo aumentado à medida que o pescoço inclina para a frente. Com 15 graus de inclinação, a sobrecarga aumenta para 12 kg e, assim por diante, até que com 60 graus de inclinação a sobrecarga atinge 27 Kg. Esse é o peso ao olhar para um smartphone. Então pode-se pressupor os danos à coluna de uma criança que é exposta prematuramente a essas condições e durante todo seu crescimento. A dor crônica e a anteriorização cervical podem predispor a hérnia de disco cervicais e cervicobraquialgias crônicas. Além disso, a má postura pode gerar
também redução da capacidade pulmonar, dores de cabeça, problemas neurológicos, depressão e doenças cardíacas. É essencial que esses problemas decorrentes do uso dos eletrônicos sejam prevenidos por meio do controle do tempo gasto neles. A Academia Americana e a Sociedade Canadense de Pediatria recomendam limites para a exposição das crianças a todo tipo de mídia (televisão, games, internet, celulares, etc.). Apenas depois de 2 anos as crianças devem iniciar contato com esses aparelhos. Até os 5 anos, as crianças só devem ficar no máximo 1 hora diante das telas. Dos 6 aos 12 anos, até 2 horas e a partir dos 13 anos, até 3 horas. Embora seja quase impossível evitar as tecnologias, tendo em vista a gama cada vez mais crescente e atrativa desses dispositivos, é fundamental que se faça um esforço no sentido de utilizá-los com a melhor postura possível, com coluna neutra e por período adequado. ■
Ruviane Pozzer Fisioterapeuta Crefito-5: 63.191/F
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ADOLESCÊNCIA
“Alguns adolescentes conseguem ter muitas atividades e ainda irem bem na escola; outros precisam de mais tempo para estudar” ► Marina Azeredo e Camilo Gomide
A
s notas do seu filho pioraram de uma hora para outra? De repente, ele pintou o cabelo de azul e ficou agressivo com os professores ou com colegas? Ele só quer saber de dormir quando chega em casa? Deixou os estudos de lado? Esses comportamentos podem ser mais comuns do que se pensa na adolescência, etapa do desenvolvimento caracterizada por muitas alterações físicas, mentais e sociais. “Nem sempre o adolescente está preparado para tanta mudança. Não tem as informações sobre si mesmo, nem sobre o mundo, na qualidade e na quantidade adequadas às suas necessidades de respostas, aos seus questionamentos”, afirma Miguel Perosa, psicoterapeuta e professor da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Problemas familiares, festas, drogas e choque de gerações são fatores que, há algumas décadas, vem tornando essa fase da vida ainda mais complicada e contribuem para a dificuldade dos jovens em se concentrar na escola. E essa lista só tem aumentado. No século 21, a internet e o celular se somam aos antigos problemas. Com tanta coisa nova, o professor diante da lousa parece pouco interessante. Tudo isso contribui para que muitos jovens tenham problemas na hora de estudar. O resultado é um desempenho escolar ruim ou uma queda momentânea nas notas. É sempre bom ter em mente, no entanto, que ter problemas nessa fase é normal. “Filhos muito normais também devem ser motivo de preocupação”, alerta Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). “Não é normal ter as escolhas definidas demais nessa idade. Ter problemas e dúvidas faz parte do desenvolvimento.” Seu filho está com problemas para estudar?
Descubra se isso se deve a dificuldades de aprendizagem ou a problemas comportamentais. Diante dessa situação, muitos pais e muitos professores ficam sem saber como agir com seus filhos adolescentes. Pensando nisso, entrevistamos psicólogos, educadores e coordenadores pedagógicos e listamos os principais problemas dos adolescentes na hora de estudar e o que fazer em cada caso para ajudá-los. O SONO Exercer uma atividade com sonolência é difícil. Por isso é importante cuidar para que o adolescente durma ao menos oito horas por dia. Ele não deve ficar acordado até tarde durante a semana. Não importa se estiver estudando, falando ao telefone ou navegando na internet. Precisa ter horário de ir para cama para aproveitar ao máximo a aula do dia seguinte. “Existem variações individuais, mas é recomendável que o adolescente durma entre seis e oito horas por noite”, diz o hebiatra (pediatra especializado em adolescentes) Benito Lourenço, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo. Como a escola deve trabalhar? Quando a escola percebe que um aluno tem dormido em sala de aula e vive cansado, deve procurar a família do jovem para uma conversa. Junto dos pais, é preciso tentar organizar a vida do estudante para que ele esteja mais disposto durante o período letivo. “O aluno tem de estar ativo e disposto na classe para aproveitar a aula. Professor não quer aluno que não aprende”, diz José Carlos Alves de Souza, diretor do Colégio de Aplicação da UFPE.
12 O que a família pode fazer? O primeiro passo é identificar o problema. Segundo o hebiatra Benito Lourenço, as causas mais comuns para a falta de sono dos adolescentes são as baladas e o uso do computador até muito tarde. Depois de identificado o que está fazendo com que seu filho durma pouco, é preciso agir. Se o jovem estiver saindo demais à noite, uma negociação costuma ser a melhor saída. Pais e filhos devem entrar em acordo para que as saídas noturnas só aconteçam em dias nos quais os adolescentes poderão dormir até mais tarde na manhã seguinte. Em casos de uso excessivo do computador, o ideal não é restringir o uso, mas ter algum tipo de controle. O computador deve ficar na sala ou em uma área comum da casa, como o escritório. De acordo com o hebiatra, também é importante que a família zele pela “higiene do sono”. “A partir das 22 horas, tudo na casa tem de começar a ser desligado. Não dá para ligar a televisão nesse horário ou começar a conversar sobre as finanças da família. Essa é a hora em que a casa deve se preparar para o sono. O CELULAR É difícil encontrar um adolescente que não tenha celular hoje. Com o barateamento dos aparelhos, o telefone móvel, antes restrito aos pais, chegou aos jovens. Hoje, inclusive, ele é utilizado como uma forma de controlar à distância a rotina dos filhos. Mas é claro que os adolescentes adoram usar o celular também para outras finalidades: mandar mensagens, jogar, ouvir música e falar com os amigos. O resultado é que, muitas vezes, o celular acaba atrapalhando os estudos. Para evitar esse tipo de problema, os pais e a escola devem entrar em ação. Como a escola deve trabalhar? A escola deve proibir aparelhos ligados durante as aulas. Caso o aluno precise usar o telefone em alguma situação especial, isso deve ser combinado entre os pais do aluno e a coordenação do colégio. “Um celular que toca durante a aula desvia a atenção de toda a turma. O uso tem de ser proibido em sala de aula e a família do aluno tem de entender isso”, diz José Carlos Alves de Souza, diretor do Colégio de Aplicação da UFPE, de Recife (PE). O que a família pode fazer? Opte por um aparelho pré-pago para o seu filho. É uma maneira de controlar a quantidade de tempo que ele fala e como ele usa o celular. “É preciso impor regras e limites. Os adolescentes precisam que os pais se comportem como adultos e não como amigos”, afirma Adilson Garcia, um dos diretores do Colégio Vértice, em São Paulo (SP). Além disso, evite ligar enquanto ele estiver na escola. “Muitas vezes é a família que liga para o aluno durante a aula e não percebe que está atrapalhando. Uma pesquisa divulgada em fevereiro de 2009 pelo Núcleo de Análise do Comportamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR) mostrou que 66% dos alunos do ensino fundamental e médio sofreram ou cometeram agressões contra seus colegas de escola nos seis meses anteriores ao levantamento. É o chamado bullying. “Nessa forma de brincadeira inadequada, só quem brinca tem prazer”, explica Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
O BULLING Como a escola deve trabalhar? A escola não pode se limitar a identificar e punir os alunos que praticam bullying. É preciso tratar o tema abertamente. “Os professores e os orientadores da escola têm de identificar o bullying no cotidiano. E, por meio de atividades em grupo, como vídeos, músicas e dramatizações, levar os jovens a refletir criticamente sobre as diferenças de cada um. Para que eles possam aprender a conviver, respeitando o outro, e a aceitar a própria individualidade”, diz Lavínia Ximenes, psicóloga do Serviço de Orientação Educacional do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), de Recife. O que a família pode fazer? Se o seu filho é vitima ou pratica bullying, é importante tentar entender o que está causando o problema. Além disso, não deixe de comunicar à escola. “Um adolescente que tenha um comportamento passivo em relação a todas as suas relações (familiares, por exemplo) deve ser encaminhado para diagnóstico de um psicólogo”, alerta Miguel Perosa, psicoterapeuta e professor da Faculdade de Psicologia da PUC-SP. No caso do jovem agressor, os pais precisam repensar a conduta da própria família.”Se o filho se sente humilhado em casa, é provável que tenha a atitude de humilhar fora de casa”, completa. PROBLEMAS FAMILIARES Ter problemas de relacionamento é absolutamente normal. Acontece nas melhores famílias. Pode ser uma separação, uma dificuldade financeira ou qualquer outra situação estressante. Mas quando esses problemas são descarregados nos filhos, a coisa muda de figura. O importante é que o adolescente não sofra pelos pais. “Os jovens não ficarão imunes aos problemas da família. No entanto, se não forem envolvidos nas questões que não dizem respeito especificamente a eles, existe uma boa chance de não serem muito prejudicados”, diz Miguel Perosa, psicoterapeuta e professor da Faculdade de Psicologia da PUC-SP. Como a escola deve trabalhar? A escola tem o dever de entrar em ação quando percebe que o rendimento de algum aluno caiu muito, chamando a família para uma conversa, na tentativa de descobrir o que pode estar afetando o aprendizado do adolescente. “É normal que os alunos tenham problemas na escola quando os pais estão se separando, por exemplo. Mas tentamos mostrar para os pais que é possível tornar-se ex-marido ou ex-mulher, jamais ex-pai ou ex-mãe. Os adolescentes precisam de atenção e de acompanhamento”, afirma Adilson Garcia, do Colégio Vértice, de São Paulo (SP). O que a família pode fazer? Evite descarregar os seus problemas graves nos jovens. Lembre-se que filho não é psicanalista, economista e nem especialista em relacionamento familiar. “As dificuldades que aparecerem podem ter seus efeitos nos filhos minimizados com uma boa conversa, com respeito e transparência, objetivando regras claras e compartilhadas”, diz Miguel Perosa, psicoterapeuta e professor
13 da Faculdade de Psicologia da PUC-SP. “Numa separação dos pais, por exemplo, é comum jogar no colo dos filhos a alternativa ou-você-me-ama-ou-ama-a-ele(a). Isso é muito prejudicial. É preciso que o filho saiba que continuará tendo pai e mãe. Dificuldades financeiras são condicionantes do estilo de vida da família. É preciso saber exatamente quanto se pode gastar e que isso fique claro para os filhos”. Além disso, é importante continuar presente na vida dos filhos mesmo em seus momentos de dificuldades. “Ser pai ou mãe exige um pouco de sacrifício”, diz Evely Boruchovitch, professora da Faculdade de Educação da Unicamp. A internet possui um acervo de informações gigantesco que pode ser muito bem utilizado pelos estudantes. São várias as possibilidades de aliar a rede ao aprendizado. Ao mesmo tempo, encontra-se no mundo virtual uma infinidade de práticas pouco construtivas e uma gama sem fim de conteúdo inadequado. Existe um risco enorme de o jovem gastar horas na rede apenas com bobagens. “Hoje, a internet compete com a motivação para o estudo”, afirma Evely. Para que a internet seja uma ferramenta, ao invés de um obstáculo, é preciso orientar os adolescentes. Cabe aos pais e a escola esse papel. A TECNOLOGIA Como a escola deve trabalhar? A tecnologia toma muito tempo dos adolescentes, o que pode ser uma falha da própria escola. “Os colégios não ensinam os alunos a gerenciar o tempo”, diz Evely. Para o diretor do Colégio de Aplicação da UFPE, José Carlos Alves de Souza, a escola tem de ensinar aos alunos como aproveitar melhor a web. “A internet é um meio de informação muito veloz. Por isso, a maioria das informações é muito rasa, e os alunos não têm tempo para refletir sobre o que leem. Com a orientação de professores, a internet pode ser uma boa fonte de conhecimento”, diz o diretor. O que a família pode fazer? Os pais têm papel importante na hora de ajudar o filho a organizar o tempo de estudo e o tempo de usar o computador. Impor um limite de uma ou duas horas por dia é uma solução para evitar que seu filho passe o dia na internet . Para isso, é importante que o computador esteja em um lugar comum da casa. Evite também dar computadores portáteis ao seu filho. “Há alunos que levam o laptop para o banheiro enquanto fingem tomar banho”, afirma Adilson Garcia, do Colégio Vértice. As drogas, talvez, sejam o problema mais grave entre todos os citados pelos especialistas. A adolescência é a fase em que o ser humano está mais vulnerável. Por isso, muitos são facilmente seduzidos pelas drogas. O
resultado é que o tema substâncias ilícitas já faz parte da rotina de muitas escolas. Uma pesquisa da Unesco mostrou que 10% dos alunos das escolas públicas brasileiras afirmam haver tráfico de entorpecentes nas escolas. AS DROGAS Como a escola deve trabalhar? A escola deve investir na prevenção. Uma boa solução é ter programas de valorização da vida, que alertem sobre os perigos das drogas. “Trabalhamos com a prevenção durante toda a vida escolar dos alunos”, conta Isabel Tremarin, do Anchieta. Além disso, manter o diálogo aberto com os pais é importante, principalmente quando se detecta um possível envolvimento de um aluno com algum tipo de droga, pois só a família pode descobrir qual é o grau do envolvimento. “É preciso tentar descobrir se tudo não passou de uma mera experimentação ou se o adolescente precisa da ajuda de profissionais”, recomenda Evely Boruchovitch. O que a família pode fazer? É importante conscientizar, mas nunca exagerar sobre os efeitos da droga. “Mensagens exageradas causam ansiedade e não funcionam como prevenção”, afirma Evely Boruchovitch.Também é importante evitar escândalos caso descubra que o seu filho está envolvido com drogas. “Se o jovem contar que tomou um porre e a mãe ou o pai tiver um ataque, ele nunca mais conta nada”, alerta a educadora. “Nessas horas, o mais importante é trabalhar a auto-estima do adolescente”, completa. Converse sempre com o seu filho, aproxime-se e mostre que as drogas não vão torná-lo uma pessoa mais legal e extrovertida (pelo contrário!). Faça-o perceber que é muito melhor se divertir sem elas. Marina Azeredo e Camilo Gomide, escritores de Educar para Crescer WWW.educar para crescer.com.br Fontes da pesquisa: Miguel Perosa, psicoterapeuta e professor da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Benito Lourenço, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo. José Carlos Alves de Souza, diretor do Colégio de Aplicação da UFPE. José Carlos Alves de Souza, diretor do Colégio de Aplicação da UFPE, de Recife (PE). Evely Boruchovitch, professora da Faculdade de Educação da Unicamp Adilson Garcia, do Colégio Vértice.
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EDUCAR PARA OS VALORES é convidar alguém a acreditar naquilo que apreciamos, como, por exemplo, respeitar o próximo ► Paulo de Camargo e Juliana Bernardino (edição web)
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transmissão de valores é uma das preocupações que todo pai tem ao educar. Como fazer isso no dia-a-dia? Quais valores precisam ser passados? A escola pode ajudar? É natural que dúvidas acabem surgindo: o assunto é sério. Sem transmitir os valores humanos universais, não há como formar cidadãos éticos e preparados para viver em sociedade. Apesar de não existir respostas simples, é possível apontar caminhos a serem seguidos, com o objetivo de amenizar alguns problemas de comportamento enfrentados atualmente. Indisciplina, rebeldia, birra infantil, envolvimento dos jovens com álcool e drogas e os insatisfatórios níveis de aprendizagem estão entre as reclamações mais comuns das famílias (e das escolas). A pergunta que fica é “como chegamos a esse ponto?”. Para o psicoterapeuta e consultor organizacional José Ernesto Bologna, a realidade de hoje é conseqüência das transformações que marcaram o século 20 - perda do papel da religião como fonte de moralidade, desestruturação da família e, também, nascimento de um novo status para o jovem, que passou a ser reconhecido como uma força social com vontade própria. Educar para os valores é convidar alguém a acreditar naquilo que apreciamos, como, por exemplo, respeitar o próximo. Não há valor que se sustente sem bons exemplos. Não adianta os pais defenderem que a criança não pode agir como se ela fosse o centro do universo se eles próprios o fazem em seu dia-a-dia. O que você precisa saber para transmitir seus valores sem medo? 10 respostas ajudam na formação de crianças e adolescentes: O que são valores? - Valores são investimentos afetivos. Isso quer dizer que, apesar de se apoiarem em conceitos, estão ligados a emoções, tanto positivas quanto negativas. Educar para os valores é transmitir aos filhos ou alunos idéias em que realmente acreditamos: verdade, justiça, respeito... Quem define os valores da criança - É claro que família e escola estão juntas nessa empreitada, mas a influência que elas exercem tem pesos diferentes. A escola pode dar um apoio fundamental aos pais, mas está longe de substituí-los na tarefa de educar. A família vem em primeiro lugar, pois os laços afetivos entre pais e filhos são dos mais fortes.
Impor valores é um ato autoritário para nossos tempos? - Muitas famílias hesitam em transmitir valores por acharem que estão sendo moralistas e autoritárias. Mas este é um pensamento equivocado. - Todo mundo precisa ter seus próprios valores, porque é a partir deles que derivam o caráter, as crenças e as opiniões de uma pessoa. Por outro lado, os pais não terão sucesso se tentarem impor o pacote todo aos filhos. É preciso aceitar que existem muitos outros fatores que interferem na formação do indivíduo, como, no caso da adolescência, o grupo de amigos, a necessidade de afirmação e aceitação no grupo e, também, a própria pulsão de ser diferente dos pais. Os pais podem pedir o apoio da escola? - Sim, hoje em dia, a Educação requer informação e apoio, e a escola pode ser um braço-direito nessa questão. O problema é que muitos pais pedem socorro aos professores, mas nunca abrem mão
15 de suas próprias soluções. ‘Cada vez mais, quando a escola toma medidas disciplinadoras, a primeira providência dos pais é passar a mão na cabeça dos filhos, justificando seus atos e posicionandose contra a escola’, reclama a diretora de um colégio de elite na zona sul de São Paulo. Esse absurdo não pode acontecer. As escolas estão preparadas para transmitir valores? - De maneira geral, sim, as escolas estão preparadas para se unir aos pais na Educação para valores. Cada vez mais as instituições tentam aliar o ensino de conteúdos com o trabalho com valores. Assuntos como gravidez precoce, por exemplo, estão sendo trabalhados nas mais diversas situações escolares. É o que educadores chamam atualmente de temas transversais, que podem cruzar as aulas de biologia, de português, de artes, entre muitas outras. Além disso, para dar conta não apenas dos conteúdos tradicionais, mas também das grandes questões que envolvem valores, as escolas vêm trabalhando com os extensos projetos pedagógicos, que buscam ir além do discurso e concretizar as idéias no cotidiano das crianças e jovens. A família e a escola devem ter os mesmos valores? - Sim, é grande a importância de se escolher uma escola afinada com os valores das famílias. Pais conservadores, que vão buscar os filhos nas festas, não se darão bem em escolas liberais. Educar e formar pessoas completas requer diálogo. Para que os diálogos sejam produtivos, é importante que partam de conceitos compartilhados, de trocas de idéias em reuniões. ”Aí está uma das necessidades primeiras dos pai: Estar em contato com a escola do filho.Não podem mais pensar em ir até lá apenas para buscar o boletim ou reclamar das notas. Desses desencontros entre pais e professores, é que vieram os atos desrespeitosos dos alunos. É preciso voltar a falar bem da escola e de seu corpo docente.” Como separar os papéis da família e da escola? A criança precisa perceber claramente que as regras são definidas por aquele que está no comando: na escola, o professor; em casa, os pais. ‘Família e escola precisam definir muito bem os seus códigos de conduta e têm o dever de fazer com que sejam
seguidos pelos jovens’, afirma Flávio Gikovate, diretor do Instituto de Psicoterapia de São Paulo. Porque os adolescentes contestam tanto os valores da família? - Geralmente, porque, nesta fase, a influência do grupo é muito forte. Os adultos precisam entender que, na adolescência, a palavra principal não é formação, e sim transformação. ‘Os jovens colocam os valores em dúvida, e querem testá-los, o que é fundamental para seu amadurecimento’, diz o psicólogo e educador Paulo Gaudêncio. Isso, segundo ele, fará com que escola e família percam importância, enquanto crescerá muito a influência do grupo de convívio. O psicólogo Bologna considera importante também levar em conta que entre os valores principais da juventude são a imitação (dos amigos), a cumplicidade (com os amigos) e a transgressão (de limites). Os pais não devem se incomodar com isso, o que não significa que não precisem ficar atentos. Paciência e perseverança dos pais são de suma importância na adolescência de seus filhos. Ninguém ensina nada sem a força do exemplo. Então pais, muito diálogo e viva você mesmo, os valores que deseja que seu filho possua. Qual a melhor maneira de garantir o caráter? É preciso dar o exemplo! Isso mesmo, além de conhecerem bem os seus valores, os adultos precisam praticá-los em seu dia-a-dia, nas pequenas e nas grandes atitudes. O mesmo nas escolas. Se não for assim, os jovens ficam sem ter onde se segurar, onde apoiar suas crenças.Professores que cobram disciplina, mas chegam atrasados e não cumprem acordos; pais que cobram posturas cidadãs, mas levam a vida com ‘jeitinhos’, ou, bem mais comum, que fazem promessas e não as cumprem: tudo isso pode abrir caminho para a formação de pessoas que dão mais valor à imagem que à palavra.
Fonte da pesquisa: Paulo Gaudêncio, Yves de La Taille e outros especialistas. Texto Paulo de Camargo e Juliana Bernardino (edição web) WWW,educar para crescer.com,BR
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INFLUÊNCIA FAMILIAR NA ESCOLHA PROFISSIONAL DO JOVEM ► Djalma Falcão
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escolha profissional marca a vida de todas as pessoas. Em um determinado momento, normalmente na adolescência, o indivíduo é levado a tomar uma decisão sobre qual profissão irá seguir. De certo modo isto determinará o seu destino e seu estilo de vida. Tendo em vista que o desenvolvimento da carreira ocorre de modo não linear ao longo da vida, enfatiza-se aqui o processo da primeira escolha profissional na adolescência, período da vida repleto de significativas alterações fisiológicas e psíquicas. “ É neste contexto de conflitos, ressignificações e readaptações, próprios do processo de adolescer, que a escolha da profissão representa a primeira grande decisão do adolescente” ( Maria Luiza Dias). Tal decisão implica reflexões sobre “ o que fazer”, mas ,sobretudo, “quem ser” e “quem não ser”. Para a citada autora, o futuro, no qual o adolescente se projeta ao escolher, não se caracteriza por ser uma profissão despersonificada. A tomada de decisão, assim, sustenta-se nas relações interpessoais, especialmente com as figuras parentais que servem de modelos de comparação e referência. Indaga-se, entretanto, como o adolescente tem sido influenciado por suas relações familiares na construção de seu projeto de futuro, diante do instável cenário contemporâneo. A despeito do caráter de transitoriedade próprio da atualidade, Romanelli aponta que a unida-
de doméstica, “independente da configuração, ainda é, o grupo de referência mais importante, sobretudo por meio dos pais, na transmissão do capital cultural para orientar os filhos nos processos de socialização e desenvolvimento.” “A idéia de que o indivíduo escolhe sua ocupação ou profissão a partir das condições sociais em que vive e em função de suas habilidades, aptidões, interesses e dons( vocação) não é algo que sempre existiu. Teve início quando se instalou na sociedade o modelo de produção capitalista” ( Odair Furtado, Ana Mª Bahia Bock). Antes do advento do capitalismo, as profissões eram atividades laborais passa-
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Desde muito cedo, os pais, figuras significativas, inserem nos filhos, expectativas, vivências, tradições familiares, sonhos e projetos. das de pais para filhos. Hoje tem-se a possibilidade de escolher a profissão de acordo com aptidões e desejos. Segundo Barreto e Aiello-Vaisberg, a prática atual de escolha profissional parece estabelecer uma divisão drástica entre o mundo infantil e o adulto, onde a sociedade espera que esse adolescente, logo no final do ensino médio (ENEN) defina a profissão que seguirá por toda a sua vida. Dos fatores que interferem nesta escolha, destaca-se o grupo familiar e o grupo de amigos que são os fatores mais relevantes, aqueles que exercem maior pressão e fornecem maior número de elementos ao indivíduo nesta escolha. A referência oferecida pelo grupo, normalmente é bem aceita pelo jovem, enquanto a familiar pode receber alguma rejeição. Isto ocorre pela complexidade existente nas relações familiares e também pelo fato de a família não pertencer a um grupo de sua escolha como o grupo de amigos. A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA A família é um dos elementos principais no momento da escolha profissional, podendo auxiliar ou dificultar o processo. Uma vez que a família incentiva ou recrimina certos comportamentos ou atitudes está interferindo no processo de apreensão da realidade do jovem. “Essas influências familiares determinam, em parte, a formação de hábitos e interesses deste sujeito quando adolescente, contribuindo para a formação de opinião e percepção” (Alexsandra Machado Maffei). Deste modo, as representações sociais, positivas ou negativas, que o jovem tem em relação à profissão exercida pelos pais, sua relação com o trabalho e a maneira com que este se identifica com as profissões familiares, interferirão em sua escolha profissional. Desde muito cedo, os pais, figuras significativas, inserem nos filhos, expectativas, vivências, tradições familiares, sonhos e projetos. O momento da escolha profissional dos
filhos pode gerar nos pais fantasias inconscientes de reparar “as suas próprias escolhas, fazendo com que os genitores despejem sobre seu filho suas frustrações ou sonhos de continuidade” (Nepomuceno e Witter). Na orientação ao adolescente, os pais podem se defrontar com uma encruzilhada preocupante:
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Podem evitar participar do processo de decisão do jovem, temendo influenciá-lo ou simplesmente não dar a devida importância a esse crucial momento da vida dos filhos. Isto pode gerar neles um ressentimento por se sentirem sós e solitários nesta fase que é de grandes dúvidas, conflitos e expectativas.
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Por outro lado, podem pressionar direta ou indiretamente os filhos a seguirem determinadas carreiras mais de acordo com seus próprios interesses e aspirações. Isto significa impor um projeto de vida que não é deles. Muitas vezes os filhos, por desejarem corresponder às expectativas dos pais “escolhem” os caminhos que lhes são determinados. Porém no decorrer de suas vidas poderão ficar com a sensação de que as escolhas que fizeram não foram genuínas. Face a esse dilema é importante intervir junto aos pais, abordando aspectos práticos do processo de decisão profissional, no sentido de ajudá-los a participar do processo de escolha dos filhos de uma forma saudável e com o mínimo de interferências de fantasias e frustrações pessoais, até então inconscientes. O velho e bom diálogo é o caminho mais indicado para uma orientação que saiba guardar os limites de uma intromissão indesejável. Orientar, sim, mas sempre respeitando a individualidade pois, afinal de contas é o filho que vai viver sua própria vida no pleno exercício de sua liberdade.
Djalma é Geofísico, Economista, Mestre em Família na Sociedade Contemporânea pela Universidade Católica de Salvador, Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Juntamente com Terezinha casal – Presidente Nacional da Escola de Pais do Brasil.. Artigo publicado na Revista do 53º Congresso Nacional da Escola de Pais.
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Dilema de mãe ► Maria Flor Calil
Minha filha adolescente e meu marido vivem brigando por causa das roupas dela - em geral, muito decotadas e curtas. O corpo é dela, mas acho que há exagero. Como entrar em acordo?
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egundo a Organização Mundial da Saúde, a adolescência é o período dos 10 aos 19 anos. Etapa intermediária entre a infância e a idade adulta, traz não só transformações físicas como comportamentais. Os jovens imitam uns aos outros, seja no estilo de roupa, na atitude, seja no modo de falar. “Também ficam mais ousados e provocadores porque se sentem fortes em grupo”, observa Carla Ribeiro, psicóloga clínica e hospitalar, do Rio de Janeiro. Ao medir forças com essas influências sociais - que auxiliam o adolescente a construir sua autoimagem e autoestima -, os pais costumam perder. Castigos, sermões e a imposição de um estilo raramente são a solução. No lugar disso, Gilberto Picosque, psicoterapeuta de família e casal, de São Paulo, recomenda um diálogo sincero, em que os lados entendam a postura que o outro está defendendo. “O pai pode estar se baseando em parâmetros mais tradicionais, onde recato e discrição são valorizados, e a filha sustentando a visão de sua época, de vanguarda, evitando destoar do seu grupo de referência”, exemplifica o especialista. Nesse embate, a intervenção materna é muito importante para manter a autorida-
de do pai e garantir que a filha não se sinta extremamente reprimida. “Além de facilitar o diálogo entre dois, a mãe pode ajudar a adolescente a adequar as roupas à idade dela - até porque ela talvez esteja confundindo maturidade com sensualidade”, afirma Carla. E, também, para situar a filha. Embora hoje seja claro que não deveria haver meca-
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Ao medir forças com essas influências sociais que auxiliam o adolescente a construir sua autoimagem e autoestima -, os pais costumam perder. nismos de controle do comportamento e do corpo das mulheres, não há como negar que ainda vivemos em um país machista, onde persiste a chamada “cultura do estupro”. Análise do Ipea divulgada em 2014 mostra que 70% das vítimas de violência sexual são crianças e adolescentes. Aqui, vale lembrar que pais e mãe são responsáveis pela integridade física dos filhos. “Mesmo quando a mãe diz: ‘O corpo é dela’, não devemos esquecer que falamos de uma adolescente, que precisa ser orientada e ter consciência de que seus atos po-
dem trazer consequências”, alerta Carla. Já o pai pode explicar que alerta se norteia por critérios que valorizam e protegem a identidade feminina. “Ao reprovar a banalização erótica e a vulgarização do corpo, ele deve convidar a filha a ampliar a noção de que sua pose adulta a torna mais vulnerável”, orienta Gilberto. Os especialistas concordam que ambos os lados têm que dissolver a rigidez, adotando parâmetros comuns para contemplar o senso de preservação do pai e a necessidade de sintonia social da filha. “A ideia é transcender o clássico cabo de guerra entre autoritarismo e insubordinação, típico jogo de poder que há muito deveria estar erradicado das famílias contemporâneas”, finaliza Gilberto.
Texto extraído do site da Escola de Pais do Brasil www.escoladepais.org.br
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Ninhos e passarinhos ► André Luís Kawahala e Rita Massarico Kawahala
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ma família só é família quando se faz lar. E um lar precisa ser abrigo. E se é abrigo, precisa habitar seus cômodos com frutos do amor. Costumamos comparar lar com ninho, onde há a preparação, a acolhida e o desenvolvimento dos passarinhos. Na família deveria ser assim. Por isso a fertilidade do casal é tão importante: abrir o relacionamento a dois para aceitar o desafio de acolher os filhos do ventre ou os filhos do coração, que chegam pela adoção e são tão sangue do sangue quanto os biológicos. Mas nem sempre as coisas correm dentro de um planejamento, e quando chegam os filhos não é raro que aconteçam alguns problemas no relacionamento esposo-esposa. É próprio desse momento de novidade que haja uma readaptação da vida a dois. Algo natural. Antes dos filhos, a vida do casal consistia em cuidar da própria autonomia e da estabilidade da relação entre dois adultos independentes, que viviam num pacto de interdependência sem ferir a individualidade de cada um. Ao chegar uma ou mais pessoas tão preciosas, mas tão dependentes de cuidados, atenção e carinho, pode-se perceber quanto aquela união está sólida ou não. Um casal, para receber os frutos do amor em seu ninho, precisa estar firme no diálogo, maduro em seus sentimentos, relacionando-se de maneira equilibrada e com um projeto de vida conjugal alinhado com os projetos pessoais de vida. Isso seria muito bom, pois os filhos devem ser uma das metas dos esposos. Mas sabemos quanto ainda somos despreparados, por mais que sejamos precavidos. As crianças quando chegam dominam. E o fazem porque precisam de nós. Quebram a rotina, desviam a atenção da mãe e do pai, testam seus limites e, nos primeiros meses, viram o cotidiano de seus pais do avesso. E é por isso que os casais devem estar atentos ao que já dissemos: cuidar um do outro.
Pássaros-pais — A verdade é que com tantas exigências da vida nestes últimos tempos, nem todos os casais conseguem dar conta de reservar um tempo e um espaço para o planejamento familiar. Alguns recebem os filhos até mesmo antes de casar. Outros, já casados, os acolhem com alegria, mas no susto. Por isso, também é comum virem algumas crises: maridos carentes, esposas enciumadas, disputas pela atenção dos recém-chegados, “seca” na intimidade conjugal, “ranzinzices” sem explicação nem motivos, e por aí vai. Ninguém deve se desesperar se isso vier a acontecer, porque tudo é resgatável! Se houver amor e um compromisso firme entre o casal, ambos terão condição de fazer os acertos necessários para que o relacionamento não volte a ser como antes da chegada da criança, mas seja ainda melhor. Cada dia é sempre um novo exercício de adaptação. Até que comecem a cuidar de si mesmos, os filhos exigirão do casal atenção e dedicação máximas. Mesmo que mãe e pai trabalhem fora de casa, o tempo juntos deve suprir as necessidades de cada criança, ainda que seja difícil. Mas, ao mesmo tempo, o casal precisa se dedicar um ao outro, ainda que seja para pequenos e espaçados momentos em que um não deixe o outro esquecer que a criança é fruto dos dois, um presente recebido por ambos. O tempo passará, os temores se transformarão, os filhos crescerão e exigirão mais e mais. Os passarinhos precisam do ninho. Mas os pássaros-pais também precisam. Nessa dinâmica da vida é preciso cuidar bem do que acontece entre marido e esposa, para que naquele ninho nada falte, nem mesmo quando os passarinhos forem embora.
André Luís Kawahala e Rita Massarico Kawahala Casados há 24 anos, trabalham com casais e famílias Texto extraído da Revista Família Cristã - agosto/21016
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Como é a história da sua sexualidade? ► Valéska Walber
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história da nossa sexualidade começa a ser escrita quando nascemos, é indissociada de nossa história de vida, e evolui conosco ao longo de
cada etapa. Pode soar estranho olharmos para um bebê e imaginarmos que ele é um ser que tem sua sexualidade. Muitos de nós ficamos com a impressão de que sexualidade é algo que faz parte dos contextos adolescentes e adultos. Isso se justifica em função de relacionarmos, geralmente, sexualidade com relação sexual. Mas o papo é outro. Pense comigo: Nada, em termos de repertório comportamental humano, nasce pronto. Certo? Da mesma forma nossa sexualidade. Daí o fato dela ir se desenvolvendo ao longo do nosso ciclo de vida, sejamos nós bebês, crianças, adolescentes, adultos ou idosos. Desnecessário destacar, que ela se manifesta de diferentes maneiras em cada uma destas etapas. Sendo assim, podemos afirmar que a nossa sexualidade atual, a forma como mantemos relações sexuais, a forma como desejamos e sentimos prazer é assentada em experiências e registros prévios, fazendo uma analogia a uma construção. Desde o início desta história, a sexualidade encontra-se associada às sensações e percepções de prazer/desprazer que vamos tendo nas relações importantes que estabelecemos com as pessoas à nossa volta. Podemos imaginar então, que as trocas afetivas, os toques de aconchego no bebê, os cuidados durante a fase de amamentação, olho no olho, cheiros, pele, fundam, por assim dizer, o que podemos considerar as marcas de nossa “geografia libidinal”.
E os registros se estendem por toda a vida. Sabedores que somos da importância das primeiras vivências na influenciação das seguintes, cabe a esta altura a pergunta: Quando você pensa na sua história sexual, que registros aparecem? Como as vivencias anteriores te marcaram? São marcas prazerosas, amorosas? São registros frágeis, como se estivessem apagados, pouco marcados no mapa libidinal? São marcas dolorosas, agressivas, maltratantes, abusivas? Quando re-le sua própria história percebe -a marcada por distorções, repressão sexual e falta de informação? As perguntas certamente não param por aqui, e a possibilidade de encontrar as respostas nos permite uma apropriação do que realmente somos, e de como foi estruturada nossa geografia libidinal. Pensando e repensando a própria história, temos a possibilidade de protagonizar de forma mais lúdica e prazerosa nossas experiências sexuais. Experimente! Valéska Walber é Psicóloga |Clínica, membro da Escola de Pais de Carazinho/RS
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PAIS NOTA 10: UMA EXPERIÊNCIA DE UNIÃO MUITO BEM SUCEDIDA Um dos pontos altos da 4ª edição do Aluno Nota 10 do Mini Mundo foi a realização do projeto Pais Nota 10, em parceria com a Escola de Pais e Orbis Clube Gramado. Quatro auditórios, distribuídos regionalmente em Gramado, serviram de palco para as palestras: Escola CAIC, Escola Mosés Bezzi, Escola David Canabarro e Secretaria de Educação. Desta forma, foram proporcionadas alternativas de locais mais próximo de cada para viabilizar um maior número de participantes. O parque Mini Mundo realiza o Aluno Nota 10 há quatro anos, quando ao completar 30 anos conseguiu a liberação do projeto realizado pelo empresário Luciano Barreto, em Morro do Chapéu, Bahia. A cada ano de realização, sempre com o foco de incentivar a melhoria do ensino/aprendizagem, são propostos dois desafios à comunidade estudantil, com o objetivo de provocar reflexões. Neste ano, devido ao interesse da Escola de Pais, um destes desafios foi envolver mais os pais. Assim, a Escola de Pais realizou as palestras previamente formatadas em nível nacional, e o Mini Mundo e o Orbis Clube Gramado envolveram as escolas para que um maior número de pais e mães participassem. O primeiro tema, “Educar é um desafio”, chegou aos pais e mães presentes do Projeto Pais Nota 10 como um olhar reflexivo sobre o mundo atual, com seus ganhos e perdas; os vínculos e apegos no desenvolvimento do ser humano; e o que é educar e para que serve a educação. O sucesso do primeiro encontro se repetiu em todos os demais, fazendo com que o clima nos quatro auditórios fosse de muito amor, reflexão e desejo de aprimorar a arte de educar os filhos. Therezinha Mazzurana, da Escola de Pais de Gramado, reforçou a cada encontro, junto com a sua equipe, que a metodologia adotada de quatro auditórios permitia recuperar a palestra perdida num outro momento. O resultado foi que 62 pais e mães conseguiram obter 100% de presença durante o projeto. No fechamento dos trabalhos, em outubro, os pais e mães das quatro regionais se reuniram para um grande encontro no ExpoGramado. “A ideia de trabalhar os pais dos alunos das escolas do Aluno Nota 10 surgiu em 2015, quando os membros da Escola de Pais de Gramado nos procuraram para conhecer melhor o projeto e ver a possibilidade de unir forças. Nós agradecemos muito a iniciativa e a todos os envolvidos. Neste ano, nos sentimos honrados em poder trabalhar temas tão fundamentais para a vida das famílias”, comenta a diretora do Parque Mini Mundo, Jussara Höppner. Jornalista/Mini Mundo - Ana Maria Cemin
Coordenação: Neusa e Mário Ecker
Coordenação: Neusa e Mario Ecker
Coordenação: Therezinha e Luiz Mazzurana
Coordenação: Mônica Felipetti e equipe de Canela
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Seminário de encerramento do Pais Nota 10
Dr. César Detoni. Dra. Valeska Walber com seu esposo Everson
Duas brilhantes palestras foram a chave de OURO, do Pais Nota 10: Afetividade e Sexualidade pela competência da Psicóloga Valeska. Limites, Valores e Cultura de Paz com a experiência e sabedoria do Dr César Detoni. Seccional de Gramado aproveitou o momento para comemorar seus 15 de trabalho voluntário. “Não apagaremos velinhas. Queremos sim que esta luz que hoje brilha, se prolongue e possa iluminar a vida de muitas outras famílias.”
Câmara de Vereadores rende homenagem pelos 15 anos da Seccional de Gramado
ESCOLA DE PAIS E PROJETO PESCAR PARCERIA DO BEM EM CAXIAS DO SUL A pedido da coordenadora do Projeto Pescar Consolação Simone Dias Bresolim declaramos que coordenamos sete encontros da EPB no ano de 2016, com os pais dos jovens participantes no Projeto Pescar Consolação. Abrimos oportunidade para a participação dos próprios jovens. Podemos observar que os temas abordados com o grupo foram muito bem aceitos e, facilmente assimilados, pois logo começamos a verem todos os participantes, muitas mudanças: menos agressão, mais diálogo, afeto, compreensão amor e aceitação.Com relação às mudanças dos jovens adolescentes, percebemos também que passaram a ser mais compreensivos com seus pais e percebemos também que eles passaram a repensar a sua escala de valores e a mudar certos conceitos com relação a seus pais e colegas, valorizado mais seus familiares e valorizando mais suas próprias vidas. Isto ficou muito claro até mesmo nos depoimento deles ao receberem o certificado de participação da EPB. Foi um belo grupo. Queremos, em nome da Escola de Pais do Brasil, agradecer a todos os diretores, facilitadores e coordenadores do Projeto Pescar por terem nos dado esta rica oportunidade de ajudar pais futuros pais e agentes educadores a formar verdadeiros cidadãos conscientizando-os que a família é o tijolo mais importante na construção de uma sociedade mais justa humana equilibrada e feliz. Caxias do Sul /24/9/2016 Claire e Ivo Pioner
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Identificação sexual na Infância ► Liete Maria de Araujo
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xiste uma preocupação por parte dos pais quanto à identidade sexual dos meninos. Acredita-se que a criança pode compreender, elaborar a sua sexualidade, conforme a realidade que vive. Pode-se dizer que a questão de papéis na família, ou seja mãe, pai e filho, homem mulher é muito importante. É preciso que se definam, claramente, os papéis de cada um, não queimando etapas, falando as palavras certas na hora certa. Devemos estar atentos para responder com naturalidade somente o que a criança quer saber, não propiciando confusão de sexualidade com sexo no sentido de erotização, banalização. Sexualidade é muito mais que isso. É amor, ligação afetiva, carinho, valorização da pessoa enquanto ser humano. Brincar é fundamental para o desenvolvimento da criança em todos os aspectos. Através das brincadeiras ela treina ações futuras, aprende novos papéis, ensaia como deve ser o comportamento esperado do seu sexo. E assim vai atravessando diversas etapas no processo de identificação sexual. A criança começa seu aprendizado sexual através, primeiramente, da observação e depois da imitação. No início imita as pessoas que tem para ela grande valor afetivo. Por isso se diz que os pais são modelos para os filhos sempre. Sabemos que as crianças aprendem, também, pela observação, que é uma ferramenta importante nesse processo de identificação sexual. O filho observa como é o comportamento do pai com a mãe. É Importante destacar a participação do pai na vida do “menino”, pois na sua ausência pode ficar cada vez mais mergulhado no mundo feminino. Como exemplo destaca-se a possibilidade do pai levar o filho em atividades comumente realizadas pelos homens, com jogar futebol, comprar jornal, consertos diversos, etc. Assim vai esculpindo a referência masculina. Do contrário, o único espelho
possível vai ser sempre a mãe que jamais poderá substituir inteiramente a figura masculina. Quando o menino realiza pequenas coisas com o pai vai percebendo que o seu mundo é mais semelhante àquele do pai. Assim, através dessas vivências, a criança começa a incorporar aspectos do seu cotidiano e que vão reforçar ou inibir a sua identificação com pessoas do mesmo sexo. Neste processo é importante que se reconheça no pai e na mãe que vale a pena ser desse sexo. E mais, que o progenitor do mesmo sexo seja valorizado pelo do sexo oposto. Biologicamente falando, meninos identificam-se com os pais e meninas com as mães e na falta de um deles é importante que uma pessoa próxima (tios, avós, padrinhos..) assumam esse papel de referência e modelo. Muitas vezes, as mães se preocupam porque o menino está brincando de boneca, de casinha, gosta de brincadeiras de menina. É preciso ressaltar que não tem problema nenhum, desde que seja esporadicamente, ou melhor, que não se torne uma rotina. O mesmo pode acontecer com meninas que tem preferência por brincadeiras de meninos. Portanto, mães e pais devem viver de forma harmoniosa e participativa na vida de seus filhos, direcionando-os de forma a ter uma convivência sadia e amorosa. Tudo isso começa em casa, na família, célula mater da sociedade, e posteriormente se estende à escola e grupo de amigos. Assim sendo os pais devem exercer sua sexualidade com responsabilidade, passando aos filhos os valores inerentes ao comportamento humano com um todo.
Liete Maria de Araujo Professora e Psicóloga Membro EPB São Marcos -RS
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MÃES DE PRIMEIRA VIAGEM ...preparem seu lado psicológico! Você vai precisar
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mocionante e real o depoimento de Vanessa, mãe do Rodrigo de 2 anos e meio:
“Na verdade, o que mais se gasta ao criar filho são nossas emoções, que vão ao limite após tê-los. É amor ao extremo, medo, alegrias, raiva (sim, às vezes sinto, principalmente das doenças) e frustração por não ser “a mãe de revista” (aquela perfeita, que não existe mas nós queremos ser). O dinheiro se ajeita, mas o psicológico é o que mais temos que preparar. Todos falam que ter filho não é fácil, pra mim é difícil mesmo! Difícil abdicar de nossa antiga vida, difícil se imaginar sem o filho, difícil não ter mais um tempinho de descanso, difícil fazer o básico, como jantar sem interrupção... Rezar para ele dormir logo e sentir vontade de encher de beijo quando dorme... Enfim os finais de semana parecem não ter fim, já que não tem escola, mas durante a semana dá uma saudade enorme de ficar mais tempo com ele! Enfim, cada um deve se preparar a seu modo pra ter um filho, mas não se esqueçam do psicológico!!”
Vanessa é controladora de vôos por profissão. Mãe, por muito amor!
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Mulheres Sozinhas: Mãe a toda prova!
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ão muitas as circunstâncias que levam uma mulher a enfrentar sozinha a criação de seus filhos. As que ficaram viúvas mal têm tempo de superar a dor quando já se encontram frente à tarefa de assumir, além de suas responsabilidades de mãe, o papel de pai. Aquelas que depois de um bom tempo de vida matrimonial se separam, também sentem a obrigação de virar rapidamente a página e voltar a funcionar como família, apesar da perda do companheiro e da ausência do pai. No caso das mães solteiras, a dor de não poder compartilhar cotidianamente as penas e as alegrias da paternidade é igualmente intensa, porém logo se transforma em uma carga com a qual é preciso aprender a conviver. A ausência do Pai Segundo assinala Patrícia Fernandes, psicóloga infanto-juvenil com vasta experiência em temas de família, existe uma tendência muito acentuada - com exceção das mulheres que ficaram viúvas - de que as mães procurem “apagar” a figura do pai do contexto familiar. “Há muito poucas mulheres que conseguem separar suas raivas e conflitos interiores e, em geral, transmitem às crianças os sentimentos de frustração derivadas da relação fracassada com o cônjuge. É freqüente que as crianças se transformem em confidentes da mãe e recebam todas as críticas que ela faz ao pai”, indica a psicóloga. Como conseqüência, há uma alta porcentagem de crianças que não tem pais funcionando bem não só pela irresponsabilidade do próprio pai, senão que pelos efeitos da consciência da mãe. “As mamães devem ter claro que é muito importante a presença do pai na educação e formação dos filhos, especialmente nos filhos homens”, explica Patrícia Fernández. Se o pai está ausente da vida do garoto, é preciso proporcionar-lhe igualmente uma imagem
paterna, porque isso lhe assegura um equilíbrio emocional e a possibilidade concreta de poder, no futuro, formar uma família. Um substituto masculino significativo para o menino pode ser algum de seus avós, um tio ou inclusive algum professor e, para estabelecer uma relação entre ambos, é preciso que exista uma clara disposição desse substituto de estabelecer um vínculo com o garoto mais além de seu parentesco ou relação inicial. Assim mesmo, é vital dar-lhe respostas coerentes e consistentes frente à pergunta: tenho papai? Ou: por que meu pai não vive comigo? Estas perguntas variam dependendo da história de cada mãe, porém sempre, segundo indica Patrícia Fernández, “devem dar à criança a certeza de que ela tem um pai, que pode estar longe no caso das mães solteiras ou separadas, porém que em algum momento pode voltar; ou que está no céu, quando se trata de mães que ficaram viúvas, porém que estará sempre presente em seu coração”. É importante evitar na criança a fantasia de que seu papai se foi porque não o queria ou que o que se sucedeu entre seus pais foi por culpa dele. Por isso, é necessário deixar-lhe claro que seu pai o ama, porém que, por distintos motivos não pode estar com ele. Mães solteiras Durante a infância, as mães solteiras se deparam entre o segundo e o terceiro ano de vida de seu filho com a pergunta: e meu papai? Patrícia Fernández assinala que apesar de que sempre se devem dar à criança respostas consistentes, “quando o menor dos filhos é pequeno, não convém entrar em detalhes porque não está preparado para entendê-los. A única coisa que quer é ter um pai e ter o direito de pensar que ele existe”. Se o pai conhece a criança e quer participar de sua educação, é recomendável que a mãe o permita, porém ao mesmo tempo regule sua presença. É
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necessário proteger as crianças de relações não estáveis, e por isso não é conveniente que o pai apareça quando queira, senão que - para o beneficio da criança - participe de maneira constante. Por esta mesma razão, as mães devem ter especial cuidado ao apresentar a seus filhos um eventual novo companheiro, porque se for algo passageiro, os expõem a viver uma nova perda. Assim mesmo, é habitual que o pai não se faça presente, e em situações como esta a psicóloga recomenda “dizer à criança, por exemplo, que seu pai vive em outro lugar, porque com o passar dos anos pode aparecer novamente. Com efeito, muitos pais aparecem quando as crianças já são pré-adolescentes ou quando já estão entrando na vida adulta”. Como assinala a profissional, é muito melhor que o menino tenha a ilusão de que seu pai está longe, porém que existe, do que viver com um sentimento de abandono constante. No entanto, as mães têm que ter especial cuidado em não supervalorizar a figura do pai para não fazer crescer no pequeno falsas expectativas a respeito dele. “Não se trata de retratar o pai ausente como um super-homem ou de dizer-lhe que quando voltar vai-lhe trazer presentes; senão que simplesmente existe e que tem que viver em outro lugar, mas que apesar disso o quer muito”. A psicóloga explica que a medida que a criança cresce e seu pensamento se torna mais complexo, é bom dar-lhe mais explicações. “É recomendável, por exemplo, que a mãe diga ao filho: teu pai e eu nos separamos, e por razões de trabalho ele teve que ir-se para longe, porém quem sabe em algum momento te escreverá”. Mães separadas Patrícia Fernández assinala que quando os pais se separam e o pai se vai da casa e ainda se desentende dos filhos, os pequenos vivem a situação com uma dor muito profunda, e inclusive se sentem como se seu pai tivesse morrido, ficando desconcertados frente à sua repentina ausência. No caso de uma separação matrimonial, a psicóloga recomenda que as mães se esforcem ao máximo para conseguir que o pai continue presente na vida dos filhos. Assim mesmo, esclarece que há casos em que os pais procuram estar perto dos filhos, porém se deparam contra um “muro” da mãe. “Muitas vezes os pais querem participar, mas as mães não o deixam ou condicionam as visitas ao pagamento da pensão alimentícia. No entanto, e se o pai em algum momento não puder pagar? A mãe vai expor a criança à ruptura com seu pai? As duas coisas não deveriam estar relacionadas porque assim se prejudica a estabilidade emocional das crianças”, afirma a psicóloga. Se depois da separação é o pai que se esquece dos filhos, as mães devem explicar-lhes a situação dizendo, por exemplo: “teu pai está passando por um mau momento. Tenhamos fé e esperemos, porque ele te ama e seguramente depois de algum tempo irá procurar-te”. A mãe nunca deveria pressionar o pai para que
visite seus filhos, porque se ele não quer fazer isto, para as crianças não fará bem estar com ele. Não vai lhe transmitir amor, e a mãe tem a obrigação de proteger o filho disso. Mães viúvas Quando a causa da ausência do pai for a morte, é importante que as crianças tenham uma figura paterna que o substitua. Deste modo sabe que, além de levar a memória do pai no coração deles, tem alguém perto a quem recorrer quando precisar falar de homem para homem ou para jogar e aprender coisas que não poderiam fazer sozinhos ou com a ajuda da mãe. Neste sentido, Patrícia Fernández diz que é muito importante o papel dos avós, já que se o menino tem a sorte de criar-se com algum deles, a dor de não ter seu pai por perto será muito mais tolerável. A psicóloga recomenda que neste caso a mãe se aproxime mais do seu pai ou do sogro e lhe peça - explicitamente - que participe de modo mais ativo na educação dos seus filhos. Como a psicóloga indica, na sociedade ocidental se prescinde muito dos avós e não se valoriza o que eles podem dar aos netos. “Em geral, as crianças criadas com seus avós são crianças muito seguras porque foram desde sua infância tremendamente queridas e apoiadas. A única coisa que muitos avós querem é estar próximo dos seus netos e isso é algo que as mães que estão sozinhas e as famílias em geral devem resgatar”. A felicidade mútua As mães que criam sozinhas as suas crianças e as crianças que crescem sem o pai delas, podem, de igual maneira às famílias normalmente constituídas, alcançar a felicidade. Porém, isto requer um trabalho de desenvolvimento pessoal consciente e constante por parte das mães, essas que devem estar permanentemente se interrogando a respeito da educação de suas crianças. Muitas mães os vêem como extensão delas mesmas, portanto, acabam exigindo que cumpram com as suas expectativas e, por outro lado, não conseguem colocar limites nem fazê-los respeitar normas, por querer desta maneira compensar a ausência do pai. É benéfico que as mães tenham grupos de amigas e amigos que levem a cabo alguma outra atividade à parte de seu trabalho e que sempre estejam rodeadas de outras mães, para assim comparar o desenvolvimento de seu filho em relação aos dos outros. Deste modo, podem prevenir-se de transformar-se - produto da pressão e da solidão - em mães superprotetoras, onipotentes e asfixiantes, e alcançar, tanto elas como seus filhos, a felicidade mútua.
Fonte: Artigo publicado na Revista espanhola “Padres OK” de setembro de 2002. Tradução de Carlos Casagrande.
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Família, sexualidade e juventude:
APRENDENDO A CUIDAR DA VIDA
► Ilham El Maerrawi
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efletir sobre o tema sexualidade é refletirsobre a essência humana, seus aspectos sociais, culturais e pessoais. Neste sentido, é importante entender que a sexualidade é uma necessidade básica do ser humano, não podendo ser dissociada dos outros aspectos e necessidades da vida. Porém, normalmente, as discussões sobre a sexualidade humana no ambiente familiar se convergem a um ponto de conflito: normas e padrões de comportamentos já existentes que se chocam com as normas e padrões atuais, ou seja, choque de gerações. O que temos visto em nosso cotidiano, pouco parece com a vivência natural das necessidades básicas do ser humano. Hoje, temos que lidar com questões sobre a sexualidade voltadas
mais para o cuidado da saúde e da vida de nossos jovens, discutindo sobre os riscos à saúde, à preservação da dignidade, dos valores pessoais e essenciais à vida, ao direito e ao respeito à diversidade sexual. Podemos considerar que todas as pessoas nascem com órgão genital previamente determinado, com características masculinas ou femininas, com ressalvas a algumas anomalias genéticas. O mesmo não ocorre com a sexualidade. O desenvolvimento da sexualidade é um processo que segue por toda a vida, incorporando a ele sentimentos, valores e conceitos que se modificam de acordo com cada período da vida. A vivência da sexualidade é uma junção de vários aspectos, sejam eles sociais, econômicos, familiares ou ambientais, desta forma, o desen-
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volvimento da sexualidade é passível de interferência, influência, conceitos e pré-conceitos, que podem determinar os comportamentos e as expressões sexuais atuais ou futuras. Portanto, se faz necessário e fundamental a participação dos pais e educadores nesta construção. É da família que herdamos os valores fundamentais para o aprendizado do sentido da vida, da importância do amor, da felicidade, do prazer e respeito a si próprio e ao outro. Esses valores serão os principais ingredientes no desenvolvimento e vivência de nossa sexualidade.
É importante entender que a sexualidade é uma necessidade básica do ser humano, não podendo ser dissociada dos outros aspectos e necessidades da vida No Brasil, 4 milhões de jovens tornam-se ativos sexualmente a cada ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 22% dos adolescentes fazem sexo pela primeira vez aos 15 anos de idade. Diante da realidade atual, podemos considerar que grande parte desses jovens iniciam a vida sexual sem maturidade, informações ou orientações adequadas. É nesta fase importante de autoconhecimento e incertezas que a falta de informação e de orientação podem gerar uma gravidez inesperada ou mesmo a contaminação por doenças sexualmente transmissíveis. A adolescência é um período de grandes modificações, especialmente, de questionamentos, da valorização e de dificuldade em
controlar os impulsos e os desejos. O desejo de pertencer a um grupo e sofrer influências desse grupo são algumas características comuns para a maioria dos jovens. Quando essas características são vividas numa sociedade que favorece a erotização sexual infantil, deturpação de valores e de respeito a si próprio e ao outro, a vivência sexual do jovem pode ser bastante equivocada. Essa vivência pode resultar em danos à saúde física e mental desse jovem, tais como: transtornos de personalidade, frustrações, depressão, anulação de si próprio, além das doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids, gravidez indesejada ou precoce. Os contextos de vida social, familiar, cultural, econômica e individual diferenciam tanto a vivência sexual de cada jovem quanto a sua vulnerabilidade frente aos riscos ou consequências dessa vivência. A vulnerabilidade do jovem também pode estar no próprio contexto familiar, decorrente da dissolução ou inexistência de valores básicos nos cotidianos familiares, tais como, direitos e deveres, respeito e responsabilidades, certo e errado, bem e mal, conflito entre limites e permissividade, além da indefinição dos papéis de mãe, pai e família. A precocidade e a inexistência de valorização e respeito na vivência de uma sexualidade sadia, traz riscos importantes aos nossos filhos e para toda sociedade. Atualmente, a sociedade e muitos jovens tratam o sexo como algo recreativo influenciados pelo grupo, pelos meios de comunicação e pelo mundo virtual, que contribuem para vulgarização e banalização do sexo. A reflexão sobre a vulnerabilidade dos jovens nestes e em outros contextos e sua interferência no desenvolvimento e na vivência da sua sexualidade, contribui para que pais e educadores identifiquem as fragilidades e promovam o fortalecimento dos valores e das oportunidades para uma sexualidade mais saudável. Os adolescentes necessitam ter conhecimentos e habili-
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dades que os auxiliem na adoção de comportamentos, escolhas e vivências mais saudáveis. O contexto familiar é o primeiro espaço de vivência dos filhos, portanto, um espaço vital. Para que as famílias possam auxiliar melhor seus filhos, alguns aspectos devem ser levados em consideração. Inicialmente, é necessário considerar a sexualidade como algo saudável e importante para o relacionamento afetivo das pessoas.
Uma adequada vivência da sexualidade fortalece a segurança e valorização do afeto. Outra questão a destacar é a necessidade das famílias buscarem mais informações sobre o tema, reverem seus conceitos ou preconceitos, serem mais autênticos e francos na vivência de cada fase de vida de seus filhos. Transformar o ambiente familiar em um ambiente agradável e acolhedor que facilite o diálogo com os filhos, trocando as críticas pelo diálogo, propiciando momentos que abram um espaço de entendimento mútuo entre pais e filhos, com postura aberta e presença permanente na vida dos filhos. Este é um exercício diário de prontidão, reflexão e priorização da sua presença e participação na vida dos filhos. A família é a primeira comunidade responsável pela educação dos filhos, portanto, ela tem papel fundamental na vida e no desenvolvimento sexual dos jovens Os pais são o primeiro modelo dos filhos, educando-os através do seu comportamento e atitudes. Independente da idade dos nossos filhos, as relações e os valores familiares, a atenção às suas dúvidas, conflitos e inseguranças, servindo de apoio e direção são fundamentais no processo de aprendizagem e desenvolvimento da sexualidade. Separar a dimensão do amor, do compromisso e dos valores é deturpar o sentido da sexualidade.
A escola é a segunda comunidade importante na vivência sexual dos jovens. O repasse de informações pela educação sexual nas escolas, tem papel importante na prevenção de doenças e gravidez assim como, na divulgação de serviços e aos meios de prevenção. O ambiente escolar, geralmente, é o primeiro espaço de interatividade da criança e de vivências e manifestação da sexualidade do jovem. A atração pelo outro, as brincadeiras interpessoais e o primeiro beijo normalmente ocorrem na escola. Neste sentido, ela tem papel importante na promoção de espaços que promovam a discussão sobre direitos, respeito com o outro e respeito à diversidade sexual. Acreditamos que a sexualidade deve ser orientada e direcionada ao afeto e ao amor, e este, o único que a torna verdadeiramente humana. A discussão sobre este tema envolve a reflexão de como nossos filhos desenvolverão e viverão sua sexualidade. Qual e como exercer o nosso papel como primeiros educadores? Agregar, ao mundo atual, valores éticos e morais é questão desafiadora para os pais. “Na educação sexual o mais importante é a educação para os valores, educação para o amor e para a felicidade, e a educação para a liberdade”. Pe. Charbonneau - Escola de Pais do Brasil. No processo da aprendizagem do jovem, talvez seja inevitável não sofrer os riscos e as consequências de suas experiências, vivências ou ações, porém, nós, pais e família, temos a possibilidade e o dever de intervir, influenciar e auxiliar para que haja, em cada uma dessas situações, a possibilidade de um novo aprendizado. Na Escola de Pais, EDUCAR é conduzir, é interferir no processo de crescimento e desenvolvimento dos nossos filhos, imprimindo-lhes uma direção, amorosamente, para que eles possam desenvolver melhor seus poderes de ser mais gente, mais pessoa e aprendam a construir sua vida e sua felicidade, fazendo com que cada filho se sinta e seja único e importante.
Ilham é Integrante do Conselho de Educadores da EPB. Psicóloga. Doutora e Mestre em Ciências- FMUSP; Especialização em Psicologia Clínica e em Saúde Pública. Conselheira na Rede Brasileira de Redução de Danos, REDUC. Conselheira suplente no Conselho Municipal dos Direitos Humanos da Criança e do Adolescente de São Vicente-SP. Responsável pelo Departamento DST/AIDS do município de São Vicente-SP. Artigo publicado na Revista do 52º Congresso Nacional da Escola de Pais.
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O pai Pai, missão grandiosa poder ter com o filho, todos os dias, uma boa prosa. Isto sim tem valor, nunca, jamais deixe de cultivar este amor. Atenção ao filho não pode faltar, porque se não o mundo, seu filho vai adotar. Neste mundo corrompido, aonde há tanto mal, o amor de pai é fundamental.
Adenir Lourenço Escola de Pais- Seccional de Canela/RS
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Dê uma chance à gentileza
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este mundo de maravilhas, as pessoas não se dão mais conta dos valores que têm.
Hoje em dia, a intolerância tomou conta, pois andando pelas ruas as pessoas se xingam por quase nada, se olham com um olhar de rejeição, como seres inimigos. Temos que parar com isso. A humanidade não precisa ser tão arrogante, é preciso exercer a paciência, a gentileza no trato com os outros e, se assim agíssemos, seríamos muito mais felizes. Nós, seres humanos,temos que cuidar uns dos outros e de nosso lar, ter mais amor e respeito.Não podemos rejeitar as pessoas só porque pensam diferente, usam roupas diferentes, agem de modo diferente, cada um é de um jeito e temos que respeitar isso. Se não respeitarmos as diferenças, instalaremos o caos social e cultural.
Dyulia de Brito de Souza 16 anos, Aluna do 9º ano E.E.E.F. Carlos Wortmann Canela/RS texto cedido por Tanara Spall, professora e junto ao Elton, presidente da Escola de Pais em Canela.
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TDA Transtorno do Déficit de Atenção
Perante a visão da Escola de Pais, por que hoje em dia temos cada vez mais crianças fazendo uso da Ritalina? A EPB coloca em primeiro lugar, como causa: Diagnósticos indiscriminados Apesar das diferenças individuais de cada criança, algumas características são inerentes à maioria delas. Tem muita criança inquieta e distraída por questões emocionais, familiares, temperamento ou até de gostar ou não de algum conteúdo ou trabalho escolar. Os maiores problemas relacionados ao uso de ritalina, estão no uso incorreto e no descuido no diagnóstico.Alguns médicos e professores partem de uma análise errada baseada no senso comum: se é inquieto, tem TDAH; se é distraído, também. Muitos não utilizam o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais para diagnosticar o transtorno. Aí está o erro. Quando as análises são feitas erroneamente, a criança passa a ser medicada erroneamente. TDAH é doença psíquica e não uma simples resultante de problemas emocionais. Estes poderão apenas agravar a doença, mas nunca serão a sua causa. A EPB também em seu grupo de estudos, orienta como deve ser feito o diagnóstico O diagnóstico do TDAH é feito por médico especializado, por informações da rotina do paciente. Se são crianças, colhem esses dados com os pais e com os professores nas escolas. Baseado nessas informa-
ções, junto com o questionário feito em consultório, descobrem e afirmam com profissionalismo e com muita seriedade se existe ou não o transtorno. No questionário, é preciso que os pacientes se encaixem em seis ou mais situações de desatenção ou sintomas de hiperatividade descritos, não apenas em alguns como se falou acima. Não existe um marcador biológico, um exame de laboratório que identifique a doença, apenas é possível fazer o diagnóstico clínico, baseado em análise do cotidiano. E um dado chama atenção para os possíveis diagnósticos errados: a explosão de vendas do medicamento. Em oito anos (de 2000 até 2008), a comercialização anual de caixas de ritalina passou de 71 mil para 1,147 milhões no País Em síntese, e dessa forma que médicos, professores, pais e Escola de Pais devem tratar deste assunto, sem atitudes precipitadas e sem se arriscar afirmar levianamente, doenças psíquicas em crianças e adolescentes. Fonte de pesquisa: 49º Congresso Nacional, da Escola de Pais, em um de seus grupos de estudo.
Por Therezinha e Luiz Mazzurana Casal Diretor Regional de Gramado
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Laços familiares podem ser fortalecidos durante as refeições ► Içami Tiba
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s mães e pais responsabilizam-se por alimentar seus filhos. Sem estes cuidados os filhos não conseguiriam sobreviver. Os mamíferos aproveitam as horas da amamentação para cuidarem das suas crias. Bebês humanos que não receberem carinho junto com o leite materno ou substituto entram em depressão e podem morrer com menos de um ano de idade. Numa família tradicional existia uma divisão de tarefas, sendo o pai o provedor e a mãe a “rainha do lar”, isto é, cuidar da casa e da educação dos filhos. Este esquema sofreu alterações com a emancipação da mulher, mas basicamente as ligações afetivas permanecem muito semelhantes. A vida dos humanos melhorou quando se consagrou os horários para as refeições, pois é uma das poucas atividades obrigatórias do dia a dia feita com toda a família unida. Na vida pós-moderna, com o pai e a mãe trabalhando fora, tornou-se difícil o “almoçar juntos”, o que piora quando os filhos frequentam escolas em períodos diferentes, ou estudam longe de casa. Mesmo o jantar durante a semana está bastante comprometido pelas dificuldades dos familiares de não estarem fisicamente juntos e, mesmo quando juntos, por um ou outro familiar, por diversos motivos, não poder jantar exatamente no horário estabelecido. Com um grande número de pais separados e recasados, e cada um dos cônjuges trazendo, constante ou esporadicamente, os filhos do(s) antigo(s) casamento(s), a reunião de todos em torno de uma refeição fica praticamente impossibilitada. Atualmente existe um descaso sobre as refeições com a participação de todos os familiares. Grande parte dos “internetados”, telespectadores, “videogamistas”, principalmente jovens, interessa-se mais pelas suas atividades individuais do que pela reunião da família, por não ter o hábito de tomarem as refeições juntos. A falta de conhecimento da importância da reunião familiar faz com que não se use este costume desde que a criança nasce. Uma refeição não é somente um nutrir o corpo, mas também um alimentar o relacionamento familiar, a integração dos seus membros, de modo a formar fortes vínculos afetivos entre si, tornando um colaborador de outro, tornando a família uma fonte de prazer e ajuda e não de uma obrigação desagradável numa convivência horrível de cobranças e acusações
mutuas. A reunião familiar em torno do agradável momento de comer, que também alimenta a alma, está fazendo falta nesta sociedade. Algumas famílias sentiram esta falta e decidiram marcar noites para jantar em frequências que atendessem as necessidades sem saturar. Há famílias que escolhem um determinado dia do mês e todos se organizam para nesta noite jantarem juntos, geralmente em casa, quase um jantar festivo, enquanto outras marcam semanalmente. Recomendações minhas para estes jantares festivos: ■ Não é hora para broncas, mal humores, advertências, ameaças, ofensas, agressões e cobranças ou quaisquer outros pensamentos, sentimentos e/ou ações negativos; ■ É hora de olharem-se nos olhos uns dos outros e posicionarem-se em atitudes de ajudas mútuas; ■ Fazer da comida os temperos das conversas, para que cada familiar sinta o seu gosto preferido em toda a refeição; ■ Que as conversas sejam muito mais lembradas que as comidas e que estes jantares festivos sejam os temperos da vida familiar.
Içami Tiba, psiquiatra e educador. Escreveu “Pais e Educadores de Alta Performance”, “Quem Ama, Educa!” e mais 28 livros. Falecido em 2015.
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Neurociência: o que pode nos ajudar como pais e educadores ► Cezar Augusto Detoni
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s estudos e descobertas levam a novos conhecimentos sobre o desenvolvimento do cérebro humano e nos fazem acreditar que o cuidado e a criação têm muito a ver com a capacidade de aprender e com a habilidade de regular as emoções. Quem são os personagens dos primeiros contatos dos nossos bebês? O aprendizado começa muito cedo e se concretiza através de habilidades desenvolvidas. As respostas dadas às crianças pelos pais e cuidadores e a forma como as crianças estabelecem contatos com o meio ambiente, levam a construção de caminhos neurais que muito tem a ver com as experiências biológicas prévias. Muito cedo o indivíduo interage com o meio, reage a estímulos, recebe, processa e guarda informações, tudo de uma forma muita acelerada até os três anos de idade. Assim, nos reportamos a dois fatores importantes que formam um elo saudável:
pais e agentes educadores afetivos e seguros são presença no desenvolvimento das crianças que também serão afetivas e seguras. Precisamos considerar que o desenvolvimento cerebral de uma criança, além de
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levar a um bom desempenho escolar, tem a ver com a sua saúde e o seu bem estar. As experiências precoces, até mesmo antes do nascimento, podem interferir no desenvolvimento das áreas subcortical e límbica do cérebro, provocando ansiedade, depressão, incapacidades de estabelecer ligações saudáveis com os outros. Em relação ao desenvolvimento na vida intrauterina, os estudos recentes tem nos mostrado, que há influências significativas do meio ambiente da mãe e do meio ambiente do feto, o que tem a ver com as condições gestacionais. Ambientes externos influenciam a mãe e o seu concepto, causando alterações genéticas com mudanças na expressão gênica, cujas consequências são alterações na esfera emocional e também na esfera física. Primeiro, a neurociência, e agora, mais recentemente a epigenética, - que é o estudo de como são feitas as ligações químicas de longa duração que são reguladoras dos genes - nos levam, pais, educadores e autoridades da saúde e da educação, a pensar urgentemente em políticas que favoreçam o melhor exercício da parentalidade, oportunizando cada vez mais, uma melhor atenção às necessidades das nossas crianças. Os pais precisam de mais informações sobre o tipo de cuidado que leva a um melhor desenvolvimento do cérebro e das conexões cerebrais do seu filho. Mesmo diante de traumas e estresse, se o atendimento oferecido for oportuno e intenso, muitos problemas no desenvolvimento da criança poderão ser evitados. Os neurocientistas tem nos mostrado que no processo de desenvolvimento do ser humano, que começa antes do nascimento, o cérebro é influenciado por condições ambientais, incluindo o tipo de criação, o cuidado, o ambiente e a estimulação recebida. Para quem leu Freud, Anna Freud, John Browlby,
Roberttsons, Selma Fraiberg, Brazelton, Sally Provence, seguramente deve ter ficado impressionado com seus julgamnetos clínicos e suas precisas conclusões colocadas em suas obras, sobre a importância da infância “confiando apenas em seus olhos, sem o benefício das novas e sofisticadas tecnologias de imagem”. Havia na época pouquíssima evidência neurológica para comprovar suas teorias. A neurociência permitiu a documentação biológica de tudo o que se pensava, ampliando ainda mais os nossos conceitos e reafirmando a importância dos períodos iniciais da vida humana para o seu desenvolvimento. “As visões dos neurocientistas sugerem que os anos iniciais estão cheios de oportunidades – e armadilhas. Espero que este relatório, e as discussões que acende, ajudem os pais, educadores, trabalhadores do serviço social e políticos, em diversos campos, a aproveitar as oportunidades e fugir das armadilhas” Irving Harris – Fundação Harris no livro Repensando o Cérebro. Precisamos estar atentos e abertos para estes novos conhecimentos. “O segredo fundamental do cérebro será descoberto um dia. Mas mesmo quando isto acontecer, a maravilha continuará.” (No filme: Palavras e Imagens)
Cezar Augusto Detoni Médico, gastroenterologista e endoscopista, com formação em terapia de família e casal, associado da Escola de Pais do Brasil há 29 anos.
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verdades para fazer seu cérebro trabalhar melhor para você
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Ninguém nasce burro ou inteligente. O cérebro é maleável e tem um potencial de 100 bilhões de neurônios. Ou seja: TODO MUNDO É CAPAZ DE APRENDER, se tiver os estímulos certos e, claro, se não for acometido por doenças.
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PARA APRENDER É PRECISO QUERER APRENDER. isto é, acreditar em sua capacidade e ter determinação. ESTABELECER OBJETIVOS É EFICAZ para compreender que vale a pena investir nos estudos no presente.
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O PENSAMENTO POSITIVO TEM PODER. E também o negativo. Quem acredita que vai falhar precisa vencer o desafio e sua própria negatividade.
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É PRECISO EQUILÍBRIO EMOCIONAL E CRIATIVIDADE PARA LIDAR COM AS FRUSTRAÇÕES. Só assim se vence as situações de conflito ou as perdas.
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ERRO FAZ PARTE DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM. Não significa fracasso ou incapacidade.
O ESTRESSE CONSTANTE PODE REDUZIR O NÚMERO DE CONEXÕES NEURONAIS e prejudicar o seu desenvolvimento.
Fonte: Educar para Crescer www.educarparacrescer.com.br
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Se filhos fossem violetas, pais não chorariam ► Cleusa Thewes
“O filho sábio é a alegria de seu pai, mas o filho sem juízo é a tristeza de sua mãe.” (Prov.10,1)
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ilhos e violetas, reinos diferentes. Manifestações peculiares, ambos carentes de cuidado, ora aprendizes, ora ensinando. Filhos adolescem. Violetas florescem. Filhos desafiam. Violetas silenciam. A mãe atravessa a varanda com o coração dolorido, lágrimas passeiam no seu rosto, incertezas bailam na sua mente preocupada com as experiências e negligencias dos filhos adolescentes. Seu olhar paralisa frente às violetas, as quais lhe inspiram: “Se filhos fossem violetas, os pais não chorariam.” Por instantes anseia. Se os filhos se tornassem violetas coloridos, serenos, sem adolescência, na casa haveria ausência de encrencas, revoltas, confrontos. Filhos sem preguiça, maduros. Filhos menos impulsivos, mais sensatos, sem festas, sem maconha nem álcool, sem transgressão, filhos somente. A mãe desperta: filhos não são violetas, são pessoas. Filhos adolescentes, mudanças à vista - Falando em filhos adolescentes, pontuamos acima alguns aspectos não generalizando características adolescentes, e sim alguns matizes do adolescer. A adolescência é um ciclo vital imprescindível ao adultecer. Conhecemos pessoas “tão regradas” na juventude, adolescendo aos 40 anos, enquanto outros não se permitirão adolescer. Na adolescência o corpo manifesta alterações. É importante elaborar a perda do corpo infantil. Alguns o escondem transformando largas roupas em escudo, proteção. Os adolescentes demonstram novos estilos. A mãe libera-se das ofertas da loja vizinha. Filhos crescidos, gostos estremecidos.
E as emoções dos adolescentes? A produção hormonal, além do corpo, atinge também as emoções. Adolescentes revelam-se sensíveis, irritadiços, sonolentos, desligados. Ora são alegres, ora tristes, ora expansivos, ora encapsulados. E o quarto? Torna-se o universo do adolescente. Porta fechada sinaliza o limite da individualidade. Pais pensando: Dizia-me a mãe estressada: “Não suporto ver a porta do quarto do meu filho fechada, vou lá, abro, entro”. Então perguntei-lhe: -Por quê não bate na porta e pede licença para entrar? Respondeu-me furiosa: “A casa é minha”. Perguntei-lhe: “A casa não é dos filhos?”
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Compreendemos porque alguns adolescentes vão embora... Pais equivocados - Há pais impacientes, invasivos, briguentos também. Aí a disfarçada desculpa: trabalham, tem preocupações. Adolescentes, igualmente, tem suas dificuldades e crises existenciais. Ouvindo adolescentes percebe-se que nem sempre são eles os responsáveis pelas brigas em casa, mas pais estressados. Novamente compreendemos os pais, embora eles possuam três vezes a idade dos filhos. Quando tiverem autocontrole e maturidade, tornarse-ão ingredientes da adultez? Aceitemos, sim, que pai e mãe não são violetas.Pena! Medos na adolescência - Quando o adolescente sai do ciclo infantil começa a abdicar de proteção. Torna-se alvo da expectativa dois pais, avôs, tios, amigos. Espera-se que assuma responsabilidades, enfrente desafios, que dê conta dos estudos, das atividades extra-classe, do quarto, de suas roupas, da louça suja na pia, da toalha molhada após o banho, da bagunça na sala de tevê e computador. O foco é organização, o que supõem limites estabelecidos. Ele precisa aprender a organizar-se. O desempenho das tarefas o auxiliará no ordenamento das emoções e pensamentos, no pertencimento familiar, ou seja, a casa onde mora é dele. O espaço familiar possibilitalhe uma caminhada confiante e autônoma rumo à adultez. Um dia será adulto. A autonomia, experienciada, se tornará ferramenta que lhe possibilitará, lá bem diante, um envelhecimento igualmente saudável. Encontramos jovens de 17 anos na faculdade, tenros e vulneráveis à pressão da sociedade consumista, a qual lhes aponta profissões promissoras num país onde se torna mais fácil passar no vestibular do que ter a carteira profissional assinada. Superando medos, experimentará suas habilidades. Medos tornam-se obstáculos e possibilidades para prosseguir.
Erros e acertos se entrelaçam e constituem plataformas emocionais de autoestima. Medos e dúvidas são aprendizados. Pais: erros e acertos - Uma jovem, 17 anos, acadêmica de psicologia, era parabenizada. Sentia-se, porém, triste. Na metade do curso, nova opção: letras! Formou-se apoiada pelos pais. Feliz! Pais cansados, levantem! Um pai descobriu que seu filho estava fumando maconha. Chorou. Ficou arrasado. Impotente. Culpado. Perguntou-se: “Onde errei?” Teve longa conversa com o filho, o qual foi receptivo. Após escutar o pai, o filho argumentou: “Meu pai, eu sou muito mais que essa maconha, eu não sou só isto”. O pai o abraçou. Entendeu que a maconha fora o meio torto que o adolescente encontrara para ser valorizado pelo pai. Pais, transformem seus filhos em soluções e não em problemas. Pais, transformem sua casa no lar de seus filhos. Pais, cuidem da saúde corporal, emocional, mental e espiritual de seus filhos. Pais, rezem com e por seus filhos. Pais, valorizem seus filhos e possibilitem-lhes opções e autonomia. Pais, descansem e retomem a jornada. Pais, a vida é uma constante opção para a felicidade e para a realização. Violetas não fazem escolhas; filhos sim. Maria, mãe de todos os homens e das violetas, olhe por nós. Amém!
Cleusa Thewes Texto publicado na Revista Família Cristã, Paulinas Editora, São Paulo, em setembro de 2010
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Família, o chão do ser humano ► Maria Luiza Pain Paganella
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humano difere dos animais por ter espírito superior, inteligência, capacidade de pensar, entender, agir, imaginar, criar, refletir, agradecer, amar, perdoar. A nós cabe respeitá-los. Crianças, quem não lembra, são engraçadas, dizem cada coisa... sem medo, sem preconceito ou entravos. Lembro aqui de minha pequenina prima Marli. Numa viagem à capital gaúcha, ao retornar, passando por uma cidadela do interior, à noite, olhando pela janela do carro e vendo as luzes a correr em disparada pelos postes de iluminação elétrica e ficando encantada com a paisagem noturna, fez o seguinte comentário: “Olha, parece um parreiral de uva.” Isso porque ligou os postes de iluminação ao parreiral de nossos avós, Firmino e Luiza. Foste feliz em tua criativa ideia. A medida que o tempo vai passando, não nos dando conta de nossos atos, vamos podando esta liberdade de expressão com nossos filhos. Impedir uma criança de expor seus anseios, desejos, ideias, tristezas e alegrias através da livre expressão do pensamento e palavra levam-na com a passagem do tempo a entrecortá-las e a sentiremse menor. Tal situação vem se arrastando de geração para geração e muitas vezes é tão gritante chegando a coibir até mesmo a escrita. Como resultado, privamos nossos pequenos da engrenagem da fala, bloqueando-a, enferrujando-a e por fim trancando-a. Na adolescência muitas conseguem se libertar destas duras provações, mas há outras mais sensíveis e menos avisadas que sem forças para reagir e por faltar-lhes o exercício contínuo da expressão oral, por medo, timidez ou vergonha guardam no mais recôndito íntimo o que de melhor possuem. Adultos, preferem guardar-se aparentemente, à
punição de todos que a rodeiam, expondo-se cada vez mais ao ridículo, caindo oprimidos. É tão forte muitas vezes esta ausência que, pensando ter se expressado claramente acaba por não se fazer entender, gerando contratempos, mal-entendidos, desassossegos, infelicidades e por aí vai... Reescrever seus caminhos por novas jornadas, escolher, sentir, aplainar, preparar o terreno se faz necessário para o bom plantio das novas videiras, culminando em robustos frutos. Família, base, meio, refúgio, amparo, força, oficina de arte onde se moldam e povoam de ternura e afeto o sagrado templo humano.
Maria Luiza Pain Paganella Professora, São Marcos RS
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Para modificar, no professor, terá que investir
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contemporaneidade nos desfia a (re) pensar o estar no mundo, o nosso fazer,talvez, a nossa missão. Enfim, é preciso refletir, pois a sociedade está definhando, não há mais lugar para acomodações. Basta que eduquemos o olhar para percebermos que os problemas não são assintomáticos. Falta segurança, sáude, trabalho,lazer , educação, faltam seres pensantes. Os últimos resultados da educação em nosso país são asustadores aos desavisados ou, como dizia o poeta “ o pior cego é aquele que não quer ver”, pois aos educadores essa é uma trajédia que vem sendo anunciada desde quando o professor deixou de ser respeitado pelos governos, pela sociedade, pelos prórios alunos. O que esperar de um país que ignora seus mestres? Monteiro Lobato já dizia que um país se faz com homens e livros, mas essa verdade não ecoou entre os homens e mulheres que se dizem representantes do nosso povo .
Ao longo da nossa existência somos levados a pensar que a educação é a solução para todos os problemas que assolam a sociedade, no entanto , esqueceram de dizer que para que a educação seja o elemento transformador dessa realidade cruel e desigual, é necessário políticas públicas comprometidas com as necessidades educacionais do nosso povo, é preciso professores bem qualificados, desejosos do fazer pedagógico, respeitados e com salários dignos de um mestre. É comum ouvirmos críticas e críticas sobre o contexto social , sobre a economia, a política, sobre os mais diversos aspectos da conjuntura atual, porém não é comum ouvirmos propostas, alternativas, possíveis soluções para esse caos em que estamos inseridos. Notoriamente, a intenção dos representantes políticos, em qualquer uma das esferas, não é propor soluções que agreguem valores à vida dos trabalhadores e trabalhadoras da nossa pátria amada, o Brasil. O maior investimento que um governante pode fazer para oferecer dignidade e liberdade aos seus representados é na educação, todavia, se esse governo não pensar no cidadão que servirá de instrumento para a realização desse feito, não haverá realização nenhuma capaz de transformar. Para modificar esses resultados que envergonham e escravizam o nosso povo, é urgente devolver ao professor a sua capacidade de sonhar, de acreditar na sua força, no seu trabalho, de lutar por um ideal, de ter esperança de que a escola possa ser entendida como lugar de formação, possa ser de fato sinônimo de educação.
Tânia de Fátima Maciel de Souza Lourenço Pedagoga e Especialista em Informática na educação Professora na Escola E.E.F. Carlos Wortmann/ Canela - 4ª CRE/ Caxias do Sul/ RS Escola de Pais- Seccional de Canela/RS
MATO GROSSO DO SUL Campo Grande Bonito
MATO GROSSO Primavera do Leste
CEARÁ Fortaleza
BAHIA Alagoinhas Muritiba Salvador Santo Antonio de Jesus
MINAS GERAIS Belo Horizonte Governador Valadares João Monlevade Poços de Caldas Varginha
GOIÁS Anápolis Goianésia Goiânia Mineiros Rio Verde Piracanjuba
SÃO PAULO Americana Bauru Dracena Garça Limeira Mogi das Cruzes Salto de Pirapora (Núcleo) Osasco Piracicaba Praia Grande Santa Bárbara D´Oeste Santo André São João São Paulo-Centro Sorocaba
PARAÍBA Campina Grande Areal Esperança João Pessoa
PARANÁ Curitiba Guarapuava São Miguel do Iguaçu
SANTA CATARINA Blumenau Chapecó Curitibanos Grande Florianópolis Joaçaba/ Herval D´Oeste Lages Maravilha São Bento do Sul São Joaquim Timbó Urussanga Videira Xanxerê
DISTRITO FEDERAL Brasília PERNAMBUCO Caruaru Garanhuns Recife
RIO GRANDE DO SUL Canela Carazinho Caxias do Sul Erechim Getúlio Vargas Gramado Marau Não-Me-Toque Sananduva Santa Maria São Marcos Tapera
ALAGOAS Arapiraca Teotônio Vilela Junqueiro
ENDEREÇOS DAS ESCOLAS DE PAIS DO BRASIL - SECCIONAIS DO CENTRO E NORDESTE DO RIO GRANDE DO SUL REPRESENTANTE NACIONAL Maria Inês e César Augusto Detoni - Rua Ulderico Franklin da Silva, 85 - Bairro José Bonifácio - Erechim - RS Fone: (54) 3321.1735 | 3321.2794 e-mail: cezardetoni@via-rs.net DELEGADOS REGIONAIS Carla e Wagner Marçal - Rua Carlos Vergani, 331 - Bairro São Leopoldo - Caxias do Sul - RS CEP 95080-360 (54) 3027.6420 | 8133.6110 | 99903.8802 e-mail: karla.marcal@yahoo.com.br Therezinha e Luiz Mazzurana - Rua Maria Virgínia de Oliveira, 50 - Bairro Centro - Gramado - RS CEP: 95670-000 Fone: (54) 3286.2278 | 99142.8077 e-mail: theremazzurana@hotmail.com PRESIDENTES Canela: Tanara Spall e Elton Andrade - Rua Assis Brasil, 1063 - Bairro Leodoro Azevedo Canela - RS CEP: 95680-000 Fone: (54) 3282.1382 e-mail: tanaraspall@ibest.com.br; adm@stport.com.br Caxias do Sul: Teresinha e Ermilo Guizzo - Rua Sarmento Leite, 3354 - Bairro Rio Branco - Caxias do Sul - RS CEP: 95084-000 Fone: (54) 3226.1253 e-mail: ermilo.guizzo@superig.com.br; ermilo.guizzo@hotmail.com.br Gramado: Mari e Luiz Carlos Muraro - Rua Pará, 74 - Bairro Dutra Gramado - Gramado - RS CEP: 95670-000 Fone: (54) 3286.2623 e-mail: lc.muraro@via-rs.net Ivoti: Marfisa e Jeferson Luiz Barbieri - Rua Aloysio Gabriel Linck, 804 - Bairro Jardim do Alto - Ivoti -RS CEP: 93900-000 Fone: (54) 3563.7332 e-mail: marfisabarbieri@sino.net; jefersonbarbieri@sinos.net São Marcos: Liéte e Marcílio de Araújo - Rua Luiz Trevisan, 531 - Bairro Centro - São Marcos -RS CEP: 95190-000 Fone: (54) 3291.1798 e-mail: araujo@nsol.com.br