Um voluntariado a serviço das famílias
Escola de Pais do Brasil
Seccionais da Serra Gaúcha Revista Nº 37
A obesidade infantil e o papel dos pais Há uma tragédia silenciosa em nossas casas Casa de mãe depois que os filhos se vão
Chocolate Caseiro de Gramado
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Editorial
Para nossa revista 2019/2020, escolhemos o tema da Revisão Regional Sul da Escola de Pais: “Tempo de reflexão e reestruturação para provocar mudanças e desenvolvimento nas nossas famílias e na sociedade.” Reunimos nesta edição, assuntos relacionados ao tema e que proporcionem aos nossos leitores, uma reflexão sobre a grandeza de educar. Já não dá para sermos pais como antigamente, onde o mesmo jeito servia sempre e tudo ia acontecendo da mesma maneira como fomos educados, perpetuando métodos de autoritarismo. Sem esta possibilidade, é necessário buscar sempre mais, clarear ideias, acompanhar as descobertas da ciência, nos atualizar para acertar. Salientamos que, atualização dos pais não significa facilitar as coisas, criando filhos na permissividade. Muito ao contrário, significa muito trabalho, onde a paciência e diálogo serão essenciais. Nosso conteúdo aponta para uma educação permeada de muito amor e limites, desde a primeiríssima infância, até a adolescência. Amor verdadeiro, apesar de não ser repleto de cobranças, é exigente. É exigente porque sabe que o caminho da felicidade passa por escolhas sábias e fundamentais, onde os valores essenciais (respeito, verdade, honestidade, empatia, capacidade de discernir e outros, são sempre atuais, passam pelo tempo e perpetuam-se nas gerações. O método de dureza do passado muda, mas o objetivo continua o mesmo. Outro assunto que consideramos importante e urgente são as diferenças entre amar e mimar na educação de nossas crianças, nossos bebês. Tudo começa bem cedinho. É urgente também que estejamos atentos à tragédia que a tecnologia mal aproveitada pode gerar em nossas casas, resultando em crianças, adolescentes e adultos, frágeis, sem metas, sem resiliência. Como conseqüência, dessas e outras situações, a desorientação infanto-juvenil pode levar à depressão que deixa de ser apenas doenças de adultos, passando a existir na infância e, de modo bem avançado na adolescência, dado que se expressa em jovens silenciosos e tristes ou agressivos. Assim a idade linda da juventude, pode se transformar em angústias pessoais, familiares e sociais.
Queridos pais, desejamos que, no aconchego de cada lar, aconteçam, gestos de amor verdadeiro vividos na ternura, na fé, no diálogo, nos limites. E nesse gastar-se no dia-dia, cada pai e cada mãe, estará sendo feliz, cumprindo sua missão e construindo a felicidade daqueles a quem mais amam: Seus filhos. Uma ótima leitura! Nossos agradecimentos aos valorosos apoiadores, simpatizantes da Escola de Pais. Vocês tornaram possível mais esta edição de nosso trabalho voluntário. Que Deus os abençoe.
Um abraço a todos e ótima leitura. Mari e Luiz Carlos Muraro – Casal Presidente da Seccional de Gramado Roque Reginatto – Diretor Comercial Therezinha e Luiz Mazzurana – Casal Diretor Regional da EPB
Escola de Pais O menor caminho entre pais e filhos Histórico
Como funciona
A Escola de Pais do Brasil é de origem cristã, iniciada em São Paulo, em 1963, por inspiração de Madre Inês de Jesus, cônega de Santo Agostinho. A apresentação à família brasileira foi feita pelo padre Leonel Corbeil e em seu início presidida pelo casal Alzira e Antônio Fernando Lopes. É filiada à Fédération intemacionak pour l’Éducation des Parents, com sede em Paris e faz parte da Federação Latino-Americana de Escola de Pais. A sede nacional localiza-se em São Paulo, na Rua Bartira, 1.094 - Perdizes. CEP 05009-000. Telefax (11) 3679-7511. Internet: www.escotadepais.org.br; e-mail: epbescoiadepais.com.br.
A Escola de Pais do Brasil é uma instituição que atua na área de educação e atualização dos pais, futuros pais e agentes educadores, no sentido de melhor conduzirem seus filhos e educandos, a partir de reflexões e da conscientização do seu papel de educadores. O trabalho da Escola de Pais do Brasil é voluntário e gratuito sendo desenvolvido por casais que, tendo participado do Círculo de Debates e posteriormente do CAC - Curso de Aperfeiçoamento e Capacitação -ingressaram na instituição. Os casais coordenadores de Círculos são devidamente preparados para atuarem onde forem solicitados. Funciona através de círculos de debates, uma vez por semana, com duração de uma hora e meia, nos quais os participantes, a partir de suas experiências, discutem e compartilham dúvidas, preocupações, dificuldades de educar e possíveis caminhos a serem buscados. Os assuntos são conduzidos por um casal coordenador da Escola de Pais, devidamente preparado para atuar como facilitador. Seu trabalho tem um caráter preventivo e permite, através de sua metodologia, manter o nível de interes-se dos pais, pois enfoca a real problemática educativa de cada grupo.
Missão Ajudar pais, futuros pais e agentes educadores a formar verdadeiros cidadãos. Linha psicopedagógica É definida, entre outros, por pedagogos, médicos, psicólogos e sociólogos que compõem o Conselho de Educadores da Escola de Pais do Brasil, com sede em São Paulo. Objetivos Conscientizar os pais de sua responsabilidade e de seu papel na educação dos filhos; Atualizar pais e educadores em práticas e princípios psicopedagógicos; Promover maior aproximação família/escola na perspectiva de uma educação integral do ser humano. Público alvo Pais e Educadores
CONTATO DAS SECCIONAIS DA SERRA GAÚCHA REPRESENTANTE NACIONAL Valéska e Everson Walber Fone: 54 99995 7788 | 54 99626 9038 e-mail: cezardetoni@via-rs.net DELEGADOS REGIONAIS Claire e Ivo Pioner Fone: 54 99175 8507 | 54 3229 4614 e-mail: ivopioner42@gmail.com Therezinha e Luiz Mazzurana Fone: 54 99692.7675 e-mail: theremazzurana@hotmail.com PRESIDENTES Canela: Tanara Spall e Elton Andrade Fone: (54) 3282.1382 e-mail: tanaraspall@ibest.com.br; adm@stport.com.br
Onde funciona Escolas, empresas, associações de classe, centros comunitários, condomínios. Como solicitar a Escola de Pais Entrar em contato com a escola de seu filho ou entidade da qual você faz parte, solicitando um ciclo de debates ou contatar diretamente a Escola de Pais do Brasil, de sua cidade.
Caxias do Sul: Clair Inês Bortolini Cunico e Sidnei Raimundo Cunico Fone: 54 3537.9160 | e-mail: sidneicunico@outlook.com Casal responsável pela parceria com o Projeto Pescar : Claire e Ivo Pioner Telefone: 054 32294614 54 991758507 E-mail: ivopioner@terra.com.br Gramado: Mari e Luiz Carlos Muraro Fone: (54) 3286.2623 e-mail: lc.muraro@via-rs.net São Marcos: Liéte e Marcílio de Araújo Fone: (54) 3291.1798 e-mail: araujo@nsol.com.br
CÍRCULOS DE DEBATE Temário ► Educar é um desafio ► Valores e limites na educação ► Pai, mãe e agentes educadores ► A educação do nascimento à puberdade ► Adolescência: o segundo nascimento ► A sexualidade no ciclo de vida da família ► Cidadania e cultura da paz
Benefícios esperados ► Melhoria na comunicação, no diálogo e na convivência entre pais e filhos. ► Definição de limites de forma mais adequada. ► Melhor orientação para uma sexualidade sadia. ► Prevenir o uso de drogas. ► Atender melhor às necessidades dos filhos e prepará-los para o mundo.
Compromisso com a Escola de Pais Instituições ou Comunidades que desejam o Círculo de Debates devem assumir alguns compromissos com a Escola de Pais do Brasil:
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Escolher um local favorável para as reuniões e que seja amplo, arejado, bem iluminado e com cadeiras soltas;
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Convocar os pais e demais participantes através de circulares, de motivação feita com os alunos, telefonemas na véspera da reunião e inscrição dos participantes, constituindo um grupo de no mínimo trinta pessoas;
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Terminado o trabalho, a instituição solicitante deverá fornecer atestado em papel timbrado no qual conste o nome do coordenador que realizou o Círculo, o número de pessoas que frequentaram e o período de duração;
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Na medida do possível, oferecer cafezinho e biscoitos para o momento de integração dos participantes;
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Designar uma pessoa da instituição solicitante para acompanhar os trabalhos e dar ao Coordenador do Círculo; Se você quiser que a Escola de Pais do Brasil atue no colégio de seu filho ou na sua comunidade, fale com o responsável, peça que entre em contato conosco e então procuraremos atende-lo o mais breve possível. Através deste trabalho, os pais poderão encontrar o menor e melhor caminho para a educação do seus filhos.
Sumário www.escoladepais.org.br
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Já era tempo...
REVISTA “ORIENTAÇÃO FAMILIAR” Circulação Nacional
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Educar uma criança de zero a três anos...primeiríssima infância
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A obesidade infantil e o papel dos pais
Utilidade Pública Federal Decreto 72.220, de 11.05.73 Registro no CNSS MEC 262-234-76 Utilidade Pública Municipal, Lei 3.229 CNPJ: 88.890.298/0001-01 Tiragem: 1.200 exemplares
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A diferença de amar e mimar
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Qual foi a última coisa que seu filho aprendeu com você?
Revista N° 37
Órgão de divulgação da Escola de Pais do Brasil da Serra Gaúcha, seccionais de Caxias do Sul, Canela, Gramado e São Marcos.
EDITORES Casais da Região Editores Responsáveis Therezinha e Luiz Mazzurana Fone: 54 99692-7675 e-mail: theremazzurana@hotmail.com Casal DR de Canela e Gramado
DIAGRAMAÇÃO Evandro Luís Böhm Rua Albino Fiss, 1021 Cidade Alta / Venâncio Aires/RS Fone: (51) 99204-4175 E-mail: evandrolb@hotmail.com Site: evandrolb.wixsite.com/elbdesigner
IMPRESSÃO
Mazzurana Artes Gráficas Gramadense Ltda. Rua Augusto Bordin, 208 / Floresta - Gramado/RS Fone: (54) 3286 2869 / (54) 3286 2947 www.graficamazzurana.com.br
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Repensando a aprendizagem
20 6ª Revisão da Escola de Pais do Brasil – Região Sul – PR, SC e RS 22
Instituto Social Florybal incentiva a arte e a cidadania
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Há uma tragédia silenciosa em nossas casas
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Geração silênciosa
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Depressão na adolescência
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Pais e filhos: educação sem estresse
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Rotinas e estruturação da vida emocional das crianças
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Tempos diferentes
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Educar para o discernimento
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Bons pais dão presentes, pais brilhantes dão seu próprio ser
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Estamos tão distantes
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Na teia do aconchego
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Casa de mãe depois que os filhos se vão
Escola de Pais do Brasil
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Já era tempo...
Já era tempo de ouvir novamente os risos infantis E você chegou Trazendo a certeza da continuidade Alegria em dobro, ternura de sobra, espaços preenchidos por puro amor. Já era tempo de novos embalos carinhosos, De meus braços envolvendo uma doçura. Na maciez das mantinhas, aquele serzinho, presente divino! Que dias benditos, plenos da perfeição da obra criada. E você foi crescendo Já era tempo de sentir novamente a pureza dos sorrisos infantis O primeiro, tão esperado e lindo E todos os demais que nos trouxeram a leveza da alma
Em inúmeras contemplações ternas,que fazem o tempo parar. Hoje seu riso ecoa pela casa, com as pequenas correrias. E nestas brincadeiras você vai vivendo a essência do amor! Temos tempo, sim. Vem conosco, doce menino! Queremos reaprender a brincar! Queremos entender sua alma infantil, seus sonhos, seus encantamentos. Penetrar um pouquinho só, no seu mundo! Fazer eco na sua vida, com as nossas crenças e certezas de felicidade! Assim perpetuar nosso amor, nossos valores, na sua história! Homenagem da seccional de Gramado, ao querido casal Mari e Luiz Carlos Muraro, pela graça de serem avós.
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Educar uma criança de zero a três anos... primeiríssima infância Suzana Macedo Soares*
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estes tempos de aceleração, onde a ansiedade está cada vez mais presente no mundo dos adultos e, consequentemente, atropelando de frente o ritmo orgânico da criança pequena, é preciso refletir sobre o que fazer para modificar este quadro. Afinal, esta fase dos três primeiros anos, conhecida como primeiríssima infância, é fundamental para o desenvolvimento global harmonioso do ser humano. O contato com a criança pequena precisa ser delicado e ao mesmo tempo atencioso. Por meio de uma observação cuidadosa, é possível perceber algumas reações aos cuidados, mesmo em bebês muito pequenos. São sinais sutis perceptíveis por meio de movimentos corporais, crispações da pele, expressões do rosto, expressões sonoras, que trazem informações de como o bebê está recebendo os cuidados e, mais do que isso, de que forma ele consegue participar
destes momentos. Além de muita calma é preciso fazer pausas na ação de cuidar, para que estas reações apareçam. Segundo a médica húngara Emmi Pikler, que desenvolveu uma abordagem específica para a educação de crianças de 0 a 3 anos, os momentos de cuidar são excelentes oportunidades para a construção do vínculo afetivo. Para que isso ocorra, as tarefas de cuidar não podem ser realizadas de maneira rápida e mecânica, ao contrário do que acontece em muitos espaços coletivos de bebês. A constância nos cuidados, assim como a regularidade de tempo e espaço criam o clima de confiança necessário para que a criança sinta segurança e possa participar desta relação e aproveitar a experiência. Os estímulos táteis são acompanhados de falas com voz suave, explicando de forma clara e simples o que está se pas-
sando e antecipando o que vai acontecer a seguir. Quando o adulto educador fala sobre a parte do corpo que está sendo tocada, ajuda o bebê a construir seu esquema corporal, que é a experiência imediata da unidade dos segmentos do corpo e a posição que se ocupa no espaço. O esquema corporal é resultado da organização cognitiva e afetiva de cada pessoa e é construído e reconstruído pelas contínuas alterações da posição do corpo no espaço. Emmi Pikler e sua equipe ensinam, também, a importância de realizar gestos delicados, não interromper uma atividade de cuidado, considerar as necessidades individuais e reagir a cada manifestação das crianças. As diferentes sequências de cada atividade de atenção pessoal se realizam sempre de forma igual, como uma “coreografia dos cuidados”, mas o fato do adulto se manter sempre presente na atividade
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impede que o ato se torne mecânico.
OLHAR AO REDOR
ESTUDAR OBJETOS
Uma criança cuidada desta forma se sente segura e confiante no adulto e pode se aventurar a brincar de forma livre, explorando objetos com diferentes qualidades táteis e exercendo os movimentos necessários para seu desenvolvimento neuropsicomotor.
O bebê explora visualmente o ambiente ao seu redor. Com isso, fortalece a musculatura do pescoço e organiza os movimentos da cabeça, em função dos estímulos visuais e auditivos que o entorno oferece.
A criança toca o brinquedo, empurra, balança e observa o efeito que é produzido. Os brinquedos podem escorregar, bater, tremer, rolar, fazer barulhos etc.
FASES DO BRINCAR Segundo a Abordagem Pikler, as crianças pequenas que brincam de forma espontânea passam por fases distintas. Ainda no berço, a criança brinca com o próprio corpo: mãos, pés e a própria voz. Ao armazenar sensações e informações colhidas na exploração do espaço e dos brinquedos, a criança constrói as bases necessárias para o desenvolvimento da capacidade de pensar. E assim, ela aprende a aprender. A abordagem Pikler recomenda que o bebê seja colocado sempre de barriga para cima, em uma superfície firme, posição que favorece os movimentos corporais.
BRINCAR COM DOIS BRINQUEDOS SIMULTANEAMENTE
EXPLORAR AS PRÓPRIAS MÃOS No início, as mãos se movimentam sem controle, desaparecem e voltam a ser visíveis novamente. O fato do bebê perceber que elas podem ser controladas gera interesse e satisfação. Ele passa a pegar um objeto, mas ainda não é capaz de largá-lo. O acaso ainda predomina. ALCANÇAR O BRINQUEDO DESEJADO, PEGAR NAS MÃOS E MOVÊ-LO Nesta fase o bebê já pode exercer a iniciativa de escolher com que objeto brincar. USAR AS DUAS MÃOS A criança passa o brinquedo de uma mão a outra, com simetria e sincronicidade.
Coloca dois objetos em relação. Observa diferenças, proporção, características, formatos, etc. Entre 9 e 12 meses a criança tem o impulso de colocar objetos menores dentro dos maiores e perceber o que cabe dentro do que. Ela experimenta e percebe as posições no espaço, tendo as primeiras noções de dentro / fora; em cima / embaixo / ao lado; junto / separado. Nesta fase ela começa a colecionar objetos com uma atitude “científica”, seguindo o resultado das suas ações, comparando com o resultado imaginado e modificando, se necessário, para encontrar gestos mais efetivos. *Suzana Soares é consultora da área de bebês da Escola Arte de Ser. Especialista em Educação Infantil pelo Instituto Vera Cruz e faz parte da Rede Pikler Brasil É Co-autora de livros sobre Educação Infantil, entre os quais: A Primeira Infância na Cultura de Paz (Copipaz) – 2004
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A obesidade infantil e o papel dos PAIS Édler C. B. Terracciano
O sono tem papel fundamental no controle do balanço energético, é responsável pela restauração mental e fisiológica durante a vigília. O indivíduo que dorme abaixo do determinado para a sua faixa etária, secreta menos leptina pelo tecido adiposo, que é secretada na fase de sono profundo, sendo assim, tem maior sensação de fome durante o dia. Além de que, o indivíduo que dorme pouco ou mal tende a realizar menos atividades físicas durante o dia, reduzindo o gasto calórico.
O
aumento exponencial no número de obesos em todo o mundo elevou a preocupação da Organização Mundial da Saúde (OMS), comunidade científica e profissional da área de saúde. Em 2018 a OMS divulgou que teremos em 2025, cerca de 2,3 bilhões de pessoas com excesso de peso, sendo mais de 700 milhões com obesidade. Hoje já temos um dado alarmante: um em cada oito adultos no mundo é obeso. Apenas em quatro décadas o número de crianças e adolescentes obesos saltou de 11 milhões para 124 milhões. MAS AFINAL, O QUE É OBESIDADE? “Podemos definir obesidade como uma enfermidade multifatorial, que pode ser consequência de diversos fatores: genéticos, fisiológicos, ambientais e psicológicos, proporcionando o acúmulo excessivo de energia sob a forma de gordura no organismo.” As alterações genéticas que são raras são defeitos no gene que promove a expressão de leptina, hormônio secretado principalmente pelo tecido adiposo, conhecido como hormônio
da saciedade. Sua função é atuar no hipotálamo e ativar neuropeptídeos que são responsáveis pela sensação de saciedade, além de inibir outros neuropeptídeos que são responsáveis pela sensação de fome. Quando o indivíduo tem um defeito genético e não produz quantidades suficientes de leptina, este terá hiperfagia, sensação de fome o tempo todo. Desde a gestação,os hábitos da mãe têm fator importante, pois a ingestão calórica materna, o fumo da mãe e o diabetes da mesma na gravidez influenciam o tamanho, formato e a composição corpórea do feto.
Um estudo da UNIFESP mostrou que quase 50% dos anúncios da categoria de alimentos em programas para crianças ou adolescentes são a respeito de guloseimas, sendo que a soma de propagandas de alimentos e boa qualidade não chegam a 10% do total. Mas sabemos também que a alimentação das crianças é reflexo da alimentação dos adultos que estão a sua volta, ou seja, em casa e na escola. O mundo agitado e voraz dos adultos nesta evolução tecnológica e virtual em que vivemos, reflete diretamente na alimentação das crianças, que muitas vezes acabam recebendo alimentos altamente processados, gordurosos, sem
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nutrientes e vitaminas necessárias; ocasionando crianças obesas, com baixa imunidade e enfermas. Oferte frutas ao invés de sucos industrializados com alto teor de açúcar. Crie o hábito de introduzir legumes e saladas coloridas nas refeições, evitando fast– food, bolachas recheadas, salgadinhos e frituras. Uma dieta equilibrada conjuntamente com atividades físicas é o melhor recurso para criarmos crianças sadias e saudáveis. O sedentarismo favorece de modo direto o baixo gasto calórico acentuando o balanço energético positivo. As atividades de lazer das crianças se modificaram sobremaneira nos últimos 20,30 anos; onde brincar de pega-pega, esconde-esconde, paralítico, stop, amarelinha, caça – caçador, subir em árvores, corridas de bicicletas, carrinho de lomba, jogos com bola que geravam um grande gasto calórico, foram substituídos por vídeo game, televisão, celular e computadores. Dados recentes publicados na revista Internacional Journal of Cancer mostram que crianças que nascem com peso abaixo de 2,5kg tem probabili-
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crianças, para poder inspirar nelas o hábito das atividades físicas e lúdicas. Ao invés de dizer para elas ficarem correndo em volta de uma quadra poliesportiva, que elas não veem nenhuma graça, estimular nelas brincadeiras em que elas tenham que correr para salvar o herói dos vilões, para encontrar o tesouro escondido e outras tantas. dade grande de ter um IMC acima de 25 kg/m2, favorecendo a lipogênese, pois durante a gestação ocorreu uma oferta calórica e nutricional pobre da mãe para o feto. Crianças que nascem com peso acima de 4,5 kg tendem a ter IMC de sobrepeso quando adultos. No Brasil 9,4% das meninas e 12,4% dos meninos são considerados obesos, de acordo com dados da OMS. Como o sobrepeso infantil está intimamente ligado a fatores externos, é de extrema importância o papel de um profissional de educação física que auxilie tanto no processo de emagrecimento, quanto na orientação a atividade física tirando a criança da frente de aparelhos eletrônicos e promovendo nela a vontade de praticar atividades físicas. Devemos entrar no universo mágico e divertido das
O futuro das crianças depende diretamente do meio em que vivem e dos hábitos que adquirem neste meio, portanto papais, prestem atenção nos seus filhos e lhes dêem toda atenção necessária, no futuro, eles lhe serão gratos.
Édler C.B. Terracciano é Educador Físico CREF2/6419-G. Atende a domicílio e no Espaço de Reabilitação. Especialização em Fisiologia do Exercício Especialização em Administração e Marketing Esportivo Especialização em Obesidade e Emagrecimento Personal Trainer Certificação em eletroestimulação muscular – EMS Formação em HIIT. Espaço de Reabilitação – Fisioterapia e Pilates - Rua Madre Verônica, 311, sala 507 Centro Clínico São Miguel, Gramado (RS).
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Diferença de AMAR e MIMAR Andréa Camargos (Deia) PIXABAY
O
medo de mimar demais um filho deixa muitos pais sem saber o que fazer e passíveis de cometer certos erros. Recordo-me de uma situação vivenciada em nossa casa, quando nosso primeiro filho ainda era bebê. Certo dia, pedi a meu esposo que largasse um pouco o menino, pois já estava com ele a certo tempo no colo. Na minha inexperiência e tendência de simplesmente
repetir o que havia acontecido na minha educação, eu temia que nosso filho ficasse mimado. Então, meu esposo, com a sabedoria e segurança de filho criado com todo apego de uma família mineira bem “grudenta”, disse-me: “Fica tranquila! Colo não deixa criança mimada!”. Não entendi muito na hora, mas acolhi e, então, fui aprendendo com a vida, com leituras e estudos, que meu esposo tinha toda
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razão. Afeto, colo e carinho não mimam criança. O QUE É MIMAR Afinal, o que é, então, mimar? No dicionário on-line encontrei: “Tratar com carinho excessivo, satisfazendo todos os caprichos e vontades”. Aí está uma palavrinha chave: “excessivo”.
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Nada pode ser em excesso na nossa vida! A virtude está no equilíbrio, portanto, os pais devem sempre buscar essa têmpera na hora de educar. Existem escolhas da criança que, a partir de uma idade, é importante que saibamos respeitar. É saudável que o filho, a partir de uma idade, como os três anos por exemplo, já possa escolher a camiseta que vai vestir; e você não estará mimando seu filho se deixar ele vestir a azul, mesmo que você queira que ele use a verde para combinar com a bermuda; ao contrário, você o está ajudando a ser uma pessoa capaz de fazer escolhas futuramente.
vontades. Isso estraga um ser humano. Por outro lado, dizer ‘não’, criar regras e explicar o porquê de certas proibições vai gerando entendimento (mesmo com algumas birras) e gerando disciplina. Isso é educar com responsabilidade e amor, porque não penso somente no agora, mas nos comportamentos futuros do meu filho e no ser humano que espero que ele se torne, não para me agradar, mas para ser um bom homem, uma boa mulher, para ser feliz e contribuir com o bem-estar da sociedade.
Por outro lado, existem situações onde a vontade dos pais precisa imperar, não por uma questão de autoritarismo, mas por autoridade de quem sabe o que é o melhor a ser feito naquele momento. Por exemplo: seu filho insiste em comer um segundo chocolate após vocês terem combinado que seria apenas um. Nessa hora, é preciso da firmeza dos pais em manter o combinado, ou seu filho saberá que bastará insistir um pouco e sempre conseguirá o que quer. Isso é mimar!
“Os pais não querem mimar o filho, mas é verdade que muitos, querendo acertar, acabam errando.”
A criança quer comer a sobremesa antes do almoço, e começa a fazer birra; então, para não desapontar seu filhinho nem piorar a manha e a choradeira, você deixa ele comer o tal doce e acabar com o apetite do almoço. Isso é mimar! A criança vê um brinquedo numa vitrine e começa a pedir, chorar e espernear, mas vocês, naquele momento, não têm condições financeiras nenhuma de comprar o brinquedo, mas, para agradar, vai lá e faz uma dívida, realiza a vontade de seu filho. Isso é mimar! MIMAR ESTRAGA O SEU HUMANO O mimo é a bajulação, a tentativa, muitas vezes, frustrada dos pais, de darem ao filho até o que não podem e fazerem todas as suas
Ninguém cresce e amadurece quando todo os seus caprichos e vontades são satisfeitos. Ninguém pode ser educado assim. Todos precisam passar por frustrações, pela experiência do ‘não’ para adquirir equilíbrio, limite e maturidade. Para mim, como mãe, existem dois pontos que não podem faltar na educação dos filhos: afeto e disciplina. Nos primeiros meses de vida, diria os dois primeiros anos, muito afeto, muito colo, beijo e abraço, pois isso estabelece vínculo entre os filhos e os pais, e essa conexão é importantíssima no desenvolvimento da criança. Filho precisa conhecer o cheiro da mãe e vice-versa. Nossos filhos reproduzem nossas atitudes, portanto, se o que damos a eles são atitudes de amor e carinho, é isso que reproduzirão
com a família, os parentes, os amiguinhos e colegas da escola. À medida que os pequenos vão crescendo, precisam aprender a ter disciplina, sem deixar de lado o afeto. Filho precisa e tem necessidade de saber até onde pode ir, qual é o seu limite, e quem estabelece e ensina isso são os pais. Afeto e disciplina trazem segurança emocional e afetiva. O filho que sabe que pode contar com o pai, que pode correr para o colo da mãe, que os tem por perto para quando precisar, cresce seguro de si e de seus sentimentos. Já aquele que nem sempre tem o afeto dos pais, mas foi “comprado” afetivamente por pais que sempre cederam às suas vontades, crescerá com uma lacuna enorme e com a constante necessidade de ser amado e aprovado, de ter sua vontade e opinião aceita a qualquer custo. MIMAR É AMAR DO JEITO ERRADO Mimar é também um jeito de amar. Nenhum pai mima o filho por maldade, mas é verdade que muitos, ao querer acertar, acabam errando. Mimar é aquele cuidado sem medida, o agrado excessivo, que priva o filho da possibilidade de lidar com a decepção e gera nele o egocentrismo. Já o amor inclui frustração e limites, e é nesse amor que a criança aprende que ela não é a única no mundo, que existem outras pessoas em casa, na família e na sociedade, que também são importantes, ensina a criança a retribuir amor, a ser grata e saber até onde pode ir para não se machucar nem machucar os outros ao seu redor. Andréa Camargos, mãe de três meninos e de uma menina que chagará em breve. Formada em Artes Cênicas, é autora do livro ‘Rasgando o Verbo’ pela Editora Canção Nova, é missionária e também youtuber no canal ‘Déia e Tiba’.
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Qual foi a última coisa que o seu filho aprendeu com VOCÊ? FOTOS: REPRODUÇÃO
Prof. Marcelo Nakagawa
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a última reunião da escola da minha filha de que eu e minha esposa participamos, a professora explicou o papel e a importância dos pais na educação dos filhos. E mostrou uma ação do Banco Itaú em vídeo, deixando bem claro que não era para ser entendido como propaganda da empresa, em que vários casais foram convidados para falar da dificuldade em lidar com a falta de tempo na criação dos seus filhos. Logo na primeira frase, um desconforto nos pais presentes. A mãe no
vídeo diz: eu me sinto culpada por não ter tanto tempo para ficar com eles como eu gostaria… Em poucos segundos, alguns olhos já ficaram marejados. Depois aparece a pergunta: qual foi a última coisa que você ensinou ao seu filho? O silêncio, a dúvida dos pais no vídeo sãocortados pelo choro de culpa escondido de alguns pais presentes na reunião. Mas quando os filhos dos pais no vídeo aparecem contando quantas coisas aprenderam com seus pais, o choro dos pais dos dois lados se funde em
uma relação de alívio por se verem livres da culpa auto imposta e de orgulho de serem valorizados, apesar de todas as limitações. Depois a professora explica que pediu para os nossos filhos desenharem o que tinham aprendido conosco. Mas antes, pediu para que pensássemos o que eles tinham desenhado. Eu não tinha a menor dúvida. Helen, minha filha de sete anos, desenharia a estante de livros que tínhamos montado em quase quatro dias de
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trabalho. A estante era enorme, ia até o teto, e as prateleiras formavam o seu nome. Todas as suas centenas de livros, antes amontoadas, agora estavam organizadas por assunto e formavam um colorido onde ainda era possível notar as letras H-E-L-E-N. Neste momento lembrei de que o melhor presente que podemos dar aos nossos filhos é estar presente. E vários filhos reconhecem isso. “Eu fui um menino de muita sorte. Como meu pai tinha um horário flexível, ele podia passar muito tempo me ensinando”. Steve Jobs, da Apple, também sempre reconheceu a importância dos seus pais (adotivos) na sua formação e no seu sucesso. “Ele amava fazer as coisas do jeito certo. Ele se preocupava mesmo com as partes que não se poderia enxergar”, explicou Jobs. E dessa influência paterna veio sua obsessão pelos detalhes e pela mais alta qualidade possível. Entretanto, seu maior aprendizado com Paul Jobs, seu pai, foi acreditar que poderia criar tudo o que desejasse. “Eu tive muita sorte porque quando era uma criança meu pai me fez acreditar que eu poderia construir qualquer coisa…”, relembra no depoimento para sua biografia. E mesmo o recatado Bill Gates abre seu coração para agradecer e engrandecer seu pai. “Meu pai é o homem que eu aspiro ser. Eu admiro especialmente sua integridade. É uma das pessoas mais sábias e calmas que conheço. E me ensinou muito como pensar”, diz. Mas nenhum outro empreendedor deixa tão claro o que aprendeu com a presença do seu pai quanto Richard Branson, o mais excêntrico (e feliz) bilionário do mundo. “A frase favorita do meu pai sempre estará comigo. São poucas palavras que resumem sua visão de mundo: A vida não é maravilhosa?”, explica. E finaliza: “Sem o seu amor e apoio incondicional, eu
não seria nem a metade do que sou hoje. E ainda espero ser pelo menos a metade do que meu pai foi…”. Por conhecer histórias assim, sempre entendi que estar presente na vida dos nossos filhos não se limita ao estar fisicamente presente, mas estar presente na construção dos pilares que serão as bases para a
sua felicidade futura. E então recebo o desenho da minha filha. A estante estava lá. Mas ela explicava que tinha aprendido outra coisa comigo: a ler (e gostar de livros). Eu, que tinha segurado o choro até aquele momento, me juntei aos outros, também emocionados, por descobrirem-se tão bons pais.
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Opinião “Tem-se a plena consciência que a tecnologia deva avançar, mas que não sirva para danificar a consciência moral, principalmente de nossas crianças” Marí e Luiz Carlos Muraro
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té os anos 90, em que muitos de nós vivemos nossa infância, a tecnologia começava a despontar, só tínhamos a televisão e não éramos tão vidrados assim nela, nem em computadores e videogames. Assistíamos geralmente aos finais de semana na casa de alguém que desfrutasse dessa novidade. Poucas famílias poderiam ter. Lá tínhamos as regras dos donos da casa, tudo de forma ordeira, sem bagunças e algazarras, porque corríamos o risco do próximo fim de semana não poder ir assistir. Sim, só assistíamos aos finais de semana. Ficávamos algumas horas e depois todo mundo ia brincar na rua, este era o trato e todo mundo sempre respeitava. E assim fomos crescendo em nossa infância, aprendendo respeito, convívio social, amizade e solidarizar-se com os amigos que conviviam conosco. Amigos de verdade, onde nós realizávamos atividades sadias como brincar, pular, jogar bola na rua (não havia muitos carros), correr, pular, ir à casa dos amigos, fazer uma casa na árvore brincando de heróis, em nossos sonhos de crianças, que combatiam os vilões que de alguma forma sempre queriam prejudicar alguém, enfim muitas possibilidades de brincadeiras e muito intensas e muito simples que se transformavam em verdadeira diversão, realizadas de forma coletiva.
As programações da televisão eram geralmente programas infantis, e os videogames não eram tão violentos como os de hoje, que além dos gráficos serem simples não tinha sangue ou outras cenas marcadas com extrema violência como os de hoje. Nós crianças éramos mais intensos e ingênuos, e nossa única preocupação era brincar, estudar e quase sempre alheio aos problemas dos adultos. Pequenas tarefas da casa ainda nos eram atribuídas ajudando os pais. Nada que nos tenha deixado alguma seqüela emocional. Ali nos preparávamos para a vida, para o voluntariado, mesmo que no nosso bairro, como ser solidário com as famílias que ali precisassem, nos despertando para uma consciência de valores de responsabilidade, honestidade, respeito e humildade. Sem egoísmo. O que será que aconteceu? Hoje as crianças navegam na Internet ainda na mais tenra idade, usam iphones, celulares melhor que nós adultos. Jogam sem parar videogames e entrando no mundo adulto muito precocemente. Totalmente ao oposto na geração anterior, e não tão distante assim. O sedentarismo e a obesidade tomaram conta dessas novas crianças, pois passam mais tempo na frente de um computador, videogame ou televisão do que brincando. Mas um novo perigo já entrou na
intimidade das crianças: as redes sociais. Com isso as crianças descobriram um novo mundo e que não deveriam conhecer sem a orientação de um adulto, aqui ressalvo que o adulto devam ser seus pais. Não o professor, o cuidador, o vizinho, e sim os pais que tem o poder de confrontar os seus valores com que queiram que seus filhos tenham, e assim direcionar o que assistir ou ler na Internet e redes sociais. Por tudo isso, vemos crianças caírem em redes de pedófilos e pessoas mal intencionadas ao usarem as redes sociais, sem a supervisão dos pais, cujo reflexo propõe atitudes violentas, devido a conteúdos de jogos totalmente impróprios para as suas idades, e que os tornam viciados, deixando de fazer as lições de casa, de brincar, e muitas vezes ignorando os próprios pais e com total desrespeito e birras confrontam, e até mesmo aos professores. Como serão na sociedade onde terão que se submeter a um código de ética, valores e conduta? Como serão estes nossos filhos se não olharmos para dentro deles agora impondo limites e achando que está tudo bem e achar que vivem num mundo tecnológico e que precisam aprender tudo? Para o aprendizado existem várias fases e não podem ser puladas, simplesmente porque o mundo anda muito rápido. Antigamente os grupos musicais infantis transmitiam uma linguagem que encantavam as crianças com músicas alegres e que não deturpava a inocência das
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crianças, totalmente sadias para a sua idade. Hoje vemos as crianças desde cedo cantando músicas estilo Funk, com letras sensuais e inapropriadas, palavrões e coreografias um tanto indecente, levando a crianças a conhecerem mais cedo o mundo do sexo e das drogas. Isso trouxe crianças mais espertas para a vida, e ao mesmo tempo com valores totalmente depredados. Crianças que se preocupavam com os estudos, hoje não valoriza mais isso e crescem adultos analfabetos, podendo até se envolver no mundo da criminalidade e da vida fácil, corrompido por um sistema que apenas oferece e não pede nada em troca, tornando os dependentes de que alguém sempre fará alguma coisa por eles. Crianças que ontem mal sabiam de onde vinham os bebês, e que hoje crianças com 12 anos já são pais e mães, sem estarem preparados para isso. Realmente o mundo mudou, e que apesar de termos crescidos
muito tecnologicamente, decrescemos nos valores humanos. Não é uma generalização e existem, pessoas boas, conscientes e preocupadas ao nosso redor e que ainda existem crianças ingênuas e que não possuem nenhum contato com este mundo tecnológico que os rodeiam, mas este número está diminuindo cada vez mais, na medida em que a Internet e as redes sociais se aproximam de seus mundos, e este processo é muito rápido. Temos que nos entregar a tecnologia que aproxima, que nos salva, mas não podemos deixá-la que torne o mundo muito pior. As novidades são sempre bem vindas, mas não quer dizer que é a última palavra em nossas vidas e de nossos filhos. Devemos com consciência ser os bons valores que nossos pais nos deixaram e que nos querem dar a liberdade, pessoas que querem realmente o nosso bem. Sabemos que muitas crianças não podem contar com seus pais em tempo integral, sabemos também que muitas crianças vivem em lares desregrados, irresponsáveis. Talvez tenha lhes faltado experiências vividas em suas infâncias
para direcionar os seus papéis na futura sociedade, esqueceram-se dos perigos do mundo e os negligenciaram, achando que a pureza da infância nunca seria perdida. Não podemos nos deixar enganar. Temos que ensinar a importância dos valores, tanto éticos como os morais, e mostrar através de nossas atitudes, quais são eles. Ter os valores muito presentes entre nossa escala de participação numa sociedade e que possa crescer com mais justiça apenas fazendo o que aprendeu. As leis deveriam ser apenas para regular e estabelecer um limite e não ultrapassá-la, criando condições sociais de desigualdades. Tem-se a plena consciência de que a tecnologia deva avançar, mas que não sirva para danificar a consciência moral, principalmente de nossas crianças.
Marí e Luiz Carlos Muraro Casal Presidente da Escola de Pais do Brasil – Seccional Gramado
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REPENSANDO a aprendizagem Sirlei Fontana Kautzmann
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oda a criança tem potencial para aprender, mesmo que apresente algum transtorno para a aprendizagem. Hoje a alfabetização começa um ano antes, ainda que a criança não esteja preparada emocional ou fisiologicamente para tal desafio. Alfabetizar não é uma tarefa fácil e requer que o alfabetizador tenha doses grandes de afeto e carinho entre seus educando. É preciso que a relação de ambos se estabeleça de modo que a criança desenvolva um vínculo fantástico com o seu professor, mas para
que esse vínculo se fortaleça a família deve cumprir um papel extremamente importante nesta relação. Sabemos que a vida do professor dos anos iniciais é corrida, pois muitos deles trabalham em escolas diferentes, em bairros diferentes e até em cidades distantes; devido a carga horária e a emocional dos nossos mestres alguns ficam cansados, porém precisam dar conta da demanda. Alguns têm que assumir o papel da família para muitos dos seus alunos. Sem contar que temos a lei da inclusão, onde temos nas salas de aula crianças com transtornos
severos e que não estão preparadas para a aprendizagem no momento. Destas, cada uma tem seu próprio ritmo. Muitas vezes esse professor precisa fazer vários planos de aula para dar conta dos diferentes níveis de aprendizagem de seus alunos. Como a família pode e deve ajudar nesse processo? A família deve ajudar no sentido de estimular os seus pequenos em casa, proporcionando um ambiente tranquilo e saudável na hora de realizar os deveres escolares, mas também é
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preciso que se estabeleçam limites nos filhos, ensinando-os a desenvolver a empatia, que é se colocar no lugar do outro, e a ter carinho, afeto e respeito pelo seu professor. Sendo assim a aprendizagem se concretiza com maior facilidade. Como a família pode fazer se a vida dos pais também é corrida? Os pais, primeiramente, devem ser o exemplo para os seus filhos. Tudo o que eles enxergam em casa eles reproduzem na escola, e vice versa. Mas alguém só consegue ensinar empatia por alguém se tiver empatia também. Quando um filho chega em casa com uma reclamação da escola os pais não devem o vitimar, sem antes ouvir o professor ou a equipe escolar. Agindo assim os pais não só ajudarão os seus filhos na alfabetização, como ajudarão a crescerem e se transformarem em adultos saudáveis e resolvidos emocionalmente.
Precisamos criar crianças fortes emocionalmente. Crianças que aprendem a tolerar frustrações, mas para que desenvolvam essas habilidades é preciso que eles se relacionem com crianças de sua idade, porque é através das relações que nós nos tornamos melhores. Nunca podemos esquecer que para uma criança crescer saudável precisa de limites.
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gar do outro. E lembre-se, a superproteção é tão ou mais prejudicial que maus tratos.
Sirlei Fontana Kautzmann - Psicopedagoga Clínica Psicopedagoga Institucional Neuropsicopedagoga Clínica Neuropsicopedagoga Institucional e Educação Especial Inclusiva Especialista em Educação Profissional e Tecnológica
Precisa aprender a respeitar regras, a esperar a sua vez, a se colocar no lu-
Curiosidade Esta é a primeira imagem de ressonância magnética do mundo que mostra o laço de uma mãe e seu filho, graças à NH Neuro Training. A imagem é da neurocientista Rebecca Saxe a beijar o seu filho de dois meses. O beijo dela causou uma reação química no cérebro do seu filho o que gera uma explosão de ocitocina - um hormônio que gera sentimentos de apego e carinho - incrível ou o quê? O toque ilumina o cérebro! Segure-os, beije-os, responda às suas necessidades, ame-as, tal como os seus instintos sugerem!
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6ª Revisão da Escola de Pais do Brasil – Região Sul – PR, SC e RS Período: entre 27 e 29 de setembro de 2019 Tema: “Tempo de reflexão e reestruturação para provocar mudanças e desenvolvimento.” FOTOS: DIVULGAÇÃO
Mais um momento único de reunião dos membros da nossa querida EPB, Região Sul do Brasil, ocorreu no litoral do Paraná, na linda praia de Caiobá. Local: SESC Caiobá – Matinhos – PR Presentes: 280 pessoas O primeiro trabalho apresentado foi da Mestra em Educação Jane Patrícia Haddad de MG, formada em psicopedagogia e psicanálise. Ela discorreu sobre o tema: Família – Quem Está no Controle? Ela iniciou questionando a todos: Eu quero que os filhos sejam felizes? Porém a felicidade é uma conquista diária, não é dada pelos pais. E é de “dentro para fora”. Para alcançar a felicidade nossos filhos terão que retirar do seu interior as virtudes para sua vida adulta e a autoridade dos pais tem a ver com relação de con-
fiança. Portanto não dá para ser feliz o tempo inteiro, é preciso ter regras para ter disciplina. A bússola da criança é o olhar do adulto, por isso a palavra chave é “acolher”. Na época atual, estamos migrando de um mundo sólido para um mundo líquido. No mundo líquido não temos mais modelos definidos, tudo é muito virtual, informal etc. Estamos no mundo NBIC: nanotecnologia, biotecnologia, tecnologia da informação, e ciências cognitivas. Ela questiona também: porque nossos jovens não param para nos ouvir? Será que não temos nada para falar a eles? No mundo deles, tudo é urgente (celular) menos a relação humana. Lidar com o mundo contemporâneo é entender as incertezas e a inovação.
Atualmente temos a seguinte relação: Verdade Inteligência Q.I. Treinamento
=> Certezas temporárias => Inteligência Espiritual => Experiências
A vida é uma constante negociação entre o desejado e o possível. Porém, para nossos jovens é difícil adiar o prazer. O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Ela finalizou sua apresentação com uma frase retumbante: “Quando a gente pensa que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas”. Afinal onde está o controle? O controle está em prestar atenção, assim a grande busca no seio familiar é encontrar o equilíbrio.
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Depois Bruna Detoni, psicóloga e mestra em psicologia social. apresentou a palestra: O Exercício da Parentalidade em Participantes dos Círculos da EPB Ela apresentou o seu brilhante trabalho de mestrado realizando uma pesquisa com os participantes dos nossos círculos, em Florianópolis-SC, em parceria com a UDESC. Foram entrevistadas 386 pessoas entre janeiro e abril de 2019, a pesquisa apresenta grau de confiança de 95%. Valéska Machado da Silva Walber, psicóloga e Representante Nacional da EPB no RS. Apresentou o tema: Famílias Disfuncionais com Filhos na Adolescência Ela nos colocou que tudo o que somos traz a marca das gerações anteriores, de pais, avós e bisas. A família é um sistema composto por subsistemas, tais como: o casal, os pais e filhos, os tios e primos, etc. Sobre adolescência, comentou que adolescer é crescer, e que os adolescentes possuem duas tarefas importantes: 1) Estabelecimento de autonomia em relação aos seus pais; 2) Manutenção de um vínculo com os mesmos pais. Portanto um processo difícil por ser contraditório, aí ela questiona pertinentemente: Nós pais conseguimos “autorizá-los” nesse processo? A adolescência traz uma nova definição dos filhos dentro da família. Ela nos mostra dois tipos de famílias, as funcionais, que funcionam “bem” e as disfuncionais que são famílias tóxicas, com comportamentos prejudiciais, que não respeitam a individualidade. Nessas famílias disfuncionais os mitos são rigidificados. Essas famílias disfuncionais podem ser moderadas, onde por exemplo,
há pouca ou nenhuma satisfação sexual, há crises rotineiras, porém a família ainda é importante e há senso de coletividade. Já nas disfuncionais crônicas há um padrão dominante e controlador (algum membro). O casal não possui intimidade e o membro submisso coliga emocionalmente com pessoas de fora, parentes, amigos etc. Nessas famílias a decisão não é compartilhada e não há senso de coletividade. Para finalizar a Jane Haddad retornou com o tema Educar no Século XXI: Um convite em Aberto. Nesse tema ela nos chama para “preparar nossos filhos para a incompletude: a vida será sempre insatisfatória, o que há são satisfações parciais. E citou um exemplo real
onde uma mãe levou uma filha de 19 anos para tratamento terapêutico por apresentar mais agressividade, talvez pela separação recente do casal. Quando conversou em separado com a mãe, percebeu (até na roupa provocativa) o comportamento de uma jovem ainda adolescente. Já quando atendeu a jovem, percebeu um comportamento maduro, de mulher, dizia ela: “Eu até entendo minha mãe querer ter experiências novas, já que se separou de meu pai, mas... no meu churrasco ela ficar com meu colega de aula! Aí é de mais né??”. Daqui tiramos nossas próprias conclusões.
Resumo elaborado pelos casais: Clair e Sidnei Cunico - Seccional Caxias do Sul Liete e Marcílio Araújo - Seccional São Marcos
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Instituto Social Florybal incentiva a arte e a cidadania
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o primeiro ano, em 2017, foram 50 crianças e adolescentes atendidos. Em 2019 já são mais de 160. Estes números demonstram a receptividade que o Projeto Vida Mágica Florybal obteve na comunidade de Canela. Implantado pelo Instituto Social Florybal, que é presidido pela empresária Janete Mayer, nasceu com o propósito de ser mais um aliado da educação e da formação de crianças e jovens. “O projeto se apresenta como uma medida preventiva e construtiva buscando atender crianças e adolescentes que muitas vezes estão expostos a riscos sociais e pessoais por muitos não terem uma ocupação saudável no turno inverso ao da escola”, afirma Janete. O projeto funciona em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Canela, que cedeu o espa-
ço (parte da antiga sede do Senai) e também fornece o transporte dos alunos entre a escola e a sede do
projeto, no Distrito Industrial. “Essa parceria com a Prefeitura e Secretaria de Educação e o envolvimento
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de professores e voluntários têm garantido o sucesso deste projeto”, afirma a assistente social Cristiane Drumm Müller, coordenadora do projeto. Atualmente são atendidas crianças e adolescentes de seis escolas e entidades assistências do município.O projeto é executado através de encontros diários no turno inverso ao da escola, sendo vinculado à frequência escolar. Além do aprendizado, é fornecido gratuitamente lanche em cada turno, além do transporte de ida e volta. No início do ano letivo, os pais inscrevem os filhos que optam pela modalidade de curso de acordo com o seu interesse. Os alunos podem optar por até duas atividades.
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CURSOS OFERECIDOS No projeto são disponibilizadas gratuitamente cursos e oficinas teóricas e práticas de artes, musicalização e instrumentos. A novidade deste ano foi o iníciodo desenvolvimento da horta saudável, com o plantio de hortaliças e verduras orgânicas. A montagem da horta contou com o apoio de voluntários e a participação efetiva das crianças e adolescentes. Os cursos e oficinas oferecidas são as seguintes: Musicalização: canto-coral; Instrumentos: flauta-doce, violão, teclado, violino, guitarra, ukulele, bateria, e percussão; Dança Livre; Ballet; Acrobacia em tecido; Artesanato; Culinária; Horta.
OS OBJETIVOS DO PROJETO Atender a crianças e adolescentes no turno inverso ao da escola com atividades de musicalização e aprendizado de instrumentos. Além das atividades artísticas, o projeto se propõe a incentivar a preparação para o trabalho e o exercício da cidadania.
Através do desenvolvimento dos cursos e oficinas, propiciar o convívio social e harmonioso.
Disponibilizar gratuitamente cursos e oficinas a crianças e adolescentes;
Oferecer atividades que possibilitem
Oportunizar a execução de atividades que visem o desenvolvimento de habilidades respeitando as potencialidades individuais, expectativas e interesses.
a valorização do meio ambiente e qualidade de vida Oportunizar apresentações artísticas na comunidade, como meio de valorização do aprendizado. Capacitar através do aprendizado artístico e educativo os adolescentes para o mercado de trabalho.
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Há uma tragédia silenciosa em NOSSAS CASAS Luis Rojas Marcos
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á uma tragédia silenciosa que está se desenvolvendo hoje em nossas casas e diz respeito às nossas jóias mais preciosas: nossos filhos. Nossos filhos estão em um estado emocional devastador! Nos últimos 15 anos, os pesquisadores nos deram estatísticas cada vez mais alarmantes sobre um aumento agudo e constante da doença mental da infância que agora está atingindo proporções epidêmicas:
AS ESTATÍSTICAS Foram observados: um em cada 5 crianças tem problemas de saúde mental; um aumento de 43% no TDAH( Transtorno do Deficit de Aprendizagem ) um aumento de 37% na depressão adolescente. um aumento de 200% na taxa de suicídio em crianças de 10 a 14 anos.
O que está acontecendo e o que estamos fazendo de errado? As crianças de hoje estão sendo estimuladas e superdimensionadas com objetos materiais, mas são privadas dos conceitos básicos de uma infância saudável, tais como:
pais emocionalmente disponíveis; limites claramente definidos; responsabilidades; nutrição equilibrada e sono adequado; movimento em geral, mas especialmente ao ar livre; jogo criativo, interação social, oportunidades de jogo não estruturadas e espaços para o tédio. Em contraste, nos últimos anos as crianças foram preenchidas com: pais digitalmente distraídos; pais indulgentes e permissivos que deixam as crianças “governarem o mundo” e sem quem estabeleça as regras; um sentido de direito, de obter tudo sem merecê-lo ou ser responsável por obtê-lo; sono inadequado e nutrição desequilibrada; um estilo de vida sedentário; estimulação sem fim, armas tecnológicas, gratificação instantânea e ausência de momentos chatos. O QUE FAZER? Se quisermos que nossos filhos sejam indivíduos felizes e saudáveis, temos que acordar e voltar ao básico. Ainda é possível!
Muitas famílias vêem melhorias imediatas após semanas de implementar as seguintes recomendações: Defina limites e lembre-se de que você é o capitão do navio. Seus filhos se sentirão mais seguros sabendo que você está no controle do leme. Ofereça às crianças um estilo de vida equilibrado, cheio do que elas PRECISAM, não apenas o que QUEREM. Não tenha medo de dizer “não” aos seus filhos se o que eles querem não é o que eles precisam. Forneça alimentos nutritivos e limite a comida lixo. Passe pelo menos uma hora por dia ao ar livre fazendo atividades como: ciclismo, caminhadas, pesca, observação de aves/insetos. Desfrute de um jantar familiar diário sem smartphones ou tecnologia para distraí-lo. Jogue jogos de tabuleiro como uma família ou, se as crianças são muito jovens para os jogos de tabuleiro, deixe-se guiar pelos seus interesses. Envolva seus filhos em trabalhos de casa
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ou tarefas de acordo com sua idade (dobrar a roupa, arrumar brinquedos, dependurar roupas, colocar a mesa, alimentação do cachorro etc.)
Torne-se um regulador ou treinador emocional de seus filhos. Ensine-os a reconhecer e gerenciar suas próprias frustrações e raiva.
Implemente uma rotina de sono consistente para garantir que seu filho durma o suficiente. Os horários serão ainda mais importantes para crianças em idade escolar.
Ensine-os a dizer “olá”, a se revezar, a compartilhar sem se esgotar de nada, a agradecer e agradecer, reconhecer o erro e pedir desculpas (não forçar), ser um modelo de todos esses valores.
Ensine responsabilidade e independência. Não os proteja excessivamente contra qualquer frustração ou erro. Errar os ajudará a desenvolver a resiliência e a aprender a superar os desafios da vida.
Conecte-se emocionalmente – sorria, abrace, beije, faça cócegas, leia, dance, pule, brinque ou rasteje com elas. E compartilhe se você percebeu a importância desse texto!
Não carregue a mochila dos seus filhos, não lhes leve a tarefa que esqueceram, não descasque as bananas ou descasque as laranjas se puderem fazê-lo por conta própria (4-5 anos). Em vez de dar-lhes o peixe, ensine-os a pescar.
Luis Rojas Marcos O autor é médico psiquiatra.
Forneça oportunidades para o “tédio”, uma vez que o tédio é o momento em que a criatividade desperta. Não se sinta responsável por sempre manter as crianças entretidas. Não use a tecnologia como uma cura para o tédio ou ofereça-a no primeiro segundo de inatividade. Evite usar tecnologia durante as refeições, em carros, restaurantes, shopping centers. Use esses momentos como oportunidades para socializar e treinar cérebros para saber como funcionar quando no modo “tédio”. Esteja emocionalmente disponível para se conectar com as crianças e ensinar-lhes auto-regulação e habilidades sociais. Desligue os telefones à noite quando as crianças têm que ir para a cama para evitar a distração digital.
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Geração SILENCIOSA A educação de crianças e jovens hiperconectados se torna uma tarefa desafiadora para pais e mães e cobra atenção extra para o avanço de doenças como a depressão e automutilação.
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ão 6h20min e o celular desperta. Depois de desligar o som estridente do alarme, o dedo desliza até o aplicativo do Facebook para conferir as notificações perdidas na madrugada. Chega a hora de abandonar o calor confortável da cama, trocar de roupa, pentear os cabelos. Na mesa do café da manhã, mais uma espiada: é a vez de checar o WhatsApp e o Snapchat. Na escola, entre um descuido do professor e outro, dá para atualizar a conversa no aplicativo ou jogar algum game no celular. Se a tática dá errado, o aparelho pode ser confiscado e ir parar na coordenação. Uma dura punição. Mas o smart¬phone não é só para brincadeira. Rola, às vezes, fazer
uma pesquisa no Google para um trabalho de sala de aula. Na volta para casa, depois do almoço, é a vez do notebook. Ela brinca com o gato de estimação enquanto o monitor exibe um episódio de alguma série do Netflix. Amigas do jardim de infância estão mais presentes nas mensagens do WhatsApp do que no dia a dia, já que não estudam mais na mesma escola. E o Facebook acabou se tornando a principal fonte de informação: as notícias surgem na linha do tempo, compartilhadas pelos contatos. Há tempo para tirar um cochilo, olhar para o teto e pensar na vida. Porém, no barulho dos múltiplos canais, na luz de todas as telas, nas trocas de mensagem instantâneas, sobra espaço para a solidão.
A rotina de consumo de informação é de uma menina de 13 anos, mas não fica muito distante de um jovem adulto qualquer. Em um curto espaço de tempo, o número de crianças entre nove e 17 anos que acessa a internet várias vezes ao dia triplicou. O smartphone já foi eleito o símbolo dessa geração silenciosa que digita rápido e tem olhos atentos às telas, porém escuta e fala pouco. Desde muito cedo, meninos e meninas têm acesso a grandes quantidades de informação. Muita coisa interessante, sem dúvida, mas inapropriada também. Violência, consumo, sexo e preconceito estão expostos na rede. Mas não é por estar expostas a esses temas que as crianças se tor-
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nam adultas mais cedo. A maturidade vem com o tempo e resulta da interação dos processos biológicos com aspectos emocionais e as vivências na relação com os pais. – A rapidez com que as informações chegam aos jovens pela internet, sem mediação, os leva a ficar confusos e muitas vezes empaticamente distantes da realidade da qual fazem parte. Eles sabem, por exemplo, o que está acontecendo agora do outro lado do mundo, mas não sabem o nome de vários colegas que encontram todos os dias, não vêem e sequer percebem como eles se sentem, ou pensam ou o que desejam – comenta Maria Inês, que é uma das responsáveis pelo site Educando Nossos Filhos. Por outro lado, diz a psicoterapeuta, essa era digital permitiu avanços importantes em todas as áreas. Por que, então, tanta depressão, tanta perversão, tanta solidão? Maria Inês é taxativa: – O essencial é simples, mas não substituível. Eu não responsabilizo a internet por todos os males da nossa sociedade. O essencial é ter os pais presentes na vida. Primeiro, em relação a eles mesmos, para que plenos, tenham condições de nutrir seus filhos. Filhos ouvidos, vistos, respeitados, orientados, com certeza não se matam por indução de um meio de comunicação. Famílias que criam espaço de diálogo, pensam, perguntam querendo saber, cuidam, limitam, acolhem e acreditam que os filhos têm condições de assumir as consequências das escolhas, não acobertam nem acusam – afirma. O isolamento e o acesso irrestrito ao conteúdo online não são responsáveis pelo adoecimento dos adolescentes. Mas fazem parte de um quadro mais amplo que cresce e aflige. Um novo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) revela que a depressão é a principal causa de doença entre jovens de 10 a 19 anos. O problema é que grande parte das vezes essa rede de informações não é supervisionada, monitorada ou ve-
rificada, ou seja, há falta da família. Quanto às mídias eletrônicas, um dos problemas está na dificuldade de separar o que é verídico do que é fictício, o que é útil do que é descartável, o que pode ser considerado censura e o que pode expressar uma manifestação de cidadania. O conteúdo não é controlado e nem analisado, tornando os adolescentes vulneráveis a todos os tipos de mensagens. Em 2014, a taxa de suicídio entre jovens de 10 a 18 anos aumentou 30%, segundo a OMS. Ressalta-se que os núcleos familiares mudaram muito, com pais separados, sobrecarregados pelas obrigações do trabalho e que acabam muitas vezes não dando atenção de qualidade aos filhos, o que é um grande problema. Além disso, vem ocorrendo com frequência um processo de terceirização da educação, dando à escola a
incumbência de educar, o que seria uma função da família. Em um ambiente de avalanche de informação e múltiplas telas, os pais sofrem com o impacto da revolução digital. Passam o dia no trabalho e chegam à noite com a sensação de que não conseguiram terminar as tarefas. Assim, vão para casa e continuam conectados em gadgets. Como as crianças e adolescentes aprendem pelos exemplos, então ao chegar em casa e ficar olhando o e-mail ou o WhatsApp, os pais estão ensinando os filhos a passar mais tempo usando essas tecnologias também. Sem conexão real, é difícil conquistar confiança. Publicado no Caderno Mais do Diário Catarinense de 10 e 11 de junho de 2017 Disponível também em: http://www.clicrbs. com.br/sites/swf/dc_nos_85/ viviane.bevilacqua@diariocatarinense.com.br Texto cedido por Brani, Seccional deFlorianópolis.
A Escola de Pais salienta Mais uma vez é preciso falar de diálogo entre pais e filhos. Começar lá na primeira infância, ou melhor, antes do nascimento. A conversa afetiva faz criar laços de confiança e fortalece os vínculos, vai passando valores. Dando continuidade pela pré adolescência, aprofundando cada dia mais os vínculos dessa relação pais e filhos, será possível fazer deles pessoas com senso crítico, capacidade de discernir entre certo e errado, abertos ao diálogo familiar, resilientes e amorosos. Assim sendo, cada pai e cada mãe estará cumprindo sua missão principal: proporcionar aos filhos, a capacidade de construir sua própria felicidade.
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Depressão na adolescência
Marcus Vinicius Keche Weber Lidia Natalia Dobrianskyj Weber
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ariana, 16 anos, passa horas e horas deitada em seu quarto; luzes apagadas, incenso queimando e músicas tristes dominam o ambiente. Este poderia ser um simples comportamento desta “fase adolescente”, mas quando observamos mais atentamente, percebemos que este seu comportamento é muito frequente. Além do mais, ela não aceita os poucos convites para sair com os amigos, está tirando notas muito baixas na escola, tem brigas constantes com todos os membros de sua família e dificuldade para dormir. Ela mesma não consegue entender o que se passa e se pergunta: “Será que isso é só uma fase?” “Eu me sinto doente mas não sei o que fazer nem com quem falar”. Seus pais recriminam o seu comportamento e fazem comentários que em nada ajudam, e ao contrário, abalam ainda mais a sua auto-estima e autoconfiança: “Sai desse quarto, menina e vá respirar ar puro!”; “Com a sua idade eu já trabalhava e você não faz nada e ainda vai mal na escola”; “Você não gosta de nada nem de ninguém mesmo. Nem
sei quem você puxou!”; “Você está uma ‘aborrecente’, levante esse ânimo, você nem tem idade para ficar triste”.
so um tratamento de qualidade, pois tende a se agravar com o tempo se não for tratada.
A depressão não é somente uma tristeza. A tristeza é comum e passa. Quem está com depressão sente tristeza e desespero extremos por, no mínimo, algumas semanas. Depressão é o nome que é dado a certos estados de sofrimento psíquico que podem causar transtornos no comportamento, na afetividade e nos relacionamentos sociais e familiares. Pessoas com depressão podem sentir falta de prazer e de interesse nas atividades diárias, ganhar ou perder peso rapidamente, ter insônia ou dormir excessivamente, falta de energia e de concentração, sentimento de culpa e pensamentos sobre morte. A depressão é uma combinação de fatores genéticos, químicos, biológicos, sociais e ambientais que contribuem para este transtorno. A boa notícia é que ela pode ser tratada com sucesso por profissionais especializados em saúde mental, como psiquiatras e psicólogos. Não basta apenas ter “força de vontade”, é preci-
A depressão é sempre um problema difícil para se enfrentar e pode tornar-se ainda mais assustador quando ocorre na adolescência, uma fase da vida por si só repleta de mudanças e de estresse. Na maioria das vezes, os adolescentes não conseguem entender o turbilhão de sentimentos que afloram e nem mesmo conversar sobre a sua depressão por não encontrarem um interlocutor que os compreenda. Diferentemente dos adultos que podem procurar ajuda por si mesmos, os adolescentes dependem de seus pais, professores ou outros cuidadores para reconhecer que estão em sofrimento e precisam de ajuda. Existe ainda um subtipo da depressão chamada “distimia” (do grego, significa mau humor), a qual caracteriza-se por uma irritabilidade crônica, ou seja, a pessoa passa a maior parte do tempo todo fazendo comentários hostis e mal
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humorados. É uma depressão mais moderada e crônica que geralmente tem o seu início na adolescência. As dificuldades nas atividades da escola, problemas de relacionamento com colegas, aumento da irritabilidade e agressão, comportamento descuidado, verbalizações sobre morte e tentativas de suicídio podem estar associadas com a depressão em adolescentes. Depressão em adolescentes é o maior fator de risco para suicídio, sendo considerada a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil. Os chamados transtornos de humor, nos quais está incluída a depressão, fazem parte de um dos grupos de doenças com menor chance de serem diagnosticadas em crianças e adolescentes: eles têm dificuldades para expressar o que sentem, os sintomas são diferentes em adultos e jovens e a maioria das pessoas, e muitos profissionais, pensam que a depressão é uma doença de adultos. Os dados mostram que 7 a 14% das crianças experienciaram um episódio depressivo sério antes de 15 anos e 20 a 30% de pacientes adultos relataram que seu primeiro episódio depressivo aconteceu antes dos 20 anos. A depressão afeta mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo e ter tido um episódio depressivo na adolescência aumenta o risco de transtornos na saúde mental na idade adulta. Precisamos intervenções preventivas fortes. Capacitar famílias para que sejam mais envolvidas e participativas, para que utilizem estratégias educativas onde haja equilíbrio entre afeto e limites, autocontrole, ausência de práticas coercitivas, e assim, propiciem regulação emocional e resiliência aos filhos. Capacitar escolas e professores para promover habilidades sócio-emocionais também no ambiente educacional, como já ocorre em alguns países do primeiro mundo que investem em inúmeros programas de prevenção às adversidades precoces na família.
Vale a pena entender o adolescente e prestar atenção em seu comportamento, além de lembrar que a orien-
tação, supervisão, diálogo e afeto são essenciais.
Mitos e Realidade acerca da depressão em jovens MITO: Adolescentes não têm depressão de verdade. REALIDADE: A depressão pode afetar pessoas de qualquer idade, raça ou classe socioeconômica. MITO: Adolescentes que alegam estar deprimidos são fracos e precisam apenas de força de vontade. REALIDADE: A depressão não é uma fraqueza e sim um grave problema de saúde. MITO: Falar sobre depressão apenas piora o problema. REALIDADE: Falar sobre o que sente pode ajudar um amigo a reconhecer a necessidade de ajuda profissional. MITO: Pessoas, inclusive adolescentes, que falam sobre suicídio não se suicidam. REALIDADE: Muitas pessoas que se suicidaram já haviam dado “avisos” a esse respeito para amigos e família. MITO: Contar para um adulto que o amigo pode estar deprimido é trair sua confiança. Se ele quisesse ajuda, ele procuraria. REALIDADE: A depressão destrói a auto-estima e interfere na capacidade ou vontade da pessoa pedir ajuda.
Identifique os Sintomas da Depressão na Adolescência Tristeza ou sensação de vazio Pessimismo ou culpa, falta de esperança Desamparo ou inutilidade Incapacidade de tomar decisões Concentração e memorização reduzidas Falta de interesse ou prazer por atividades normais como esportes, música ou conversa pelo telefone Problemas na escola e com a família Perda de energia e motivação Dificuldade para pegar no sono, dormir bem ou se levantar de manhã Problemas de apetite: emagrecimento ou ganho de peso Dor de cabeça, dor de estômago ou dor nas costas Inquietação e irritabilidade Desejo de ficar sozinho a maior parte do tempo Falta às aulas ou abandono de hobbies e outras atividades Abuso de bebidas alcoólicas ou drogas Conversas sobre morte Conversas sobre suicídio (ou tentativas) Se você identificar vários desses itens em seu filho, em um amigo ou em você mesmo, pode ser um quadro depressivo. Antes de qualquer decisão, procure ajuda profissional (psiquiatra, psicólogo ou médico da família), pois a avaliação e o diagnóstico são essenciais para o tratamento e a recuperação. Estar perto e cuidar daqueles a quem amamos é primordial.
Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccional da Grande Florianópolis nr 7 – out 2017, p. 26. Pesquisa por Brani em 2018. Marcus Vinicius Keche Weber – Médico (CRM-PR 10226), Especialista em Psiquiatria e
Psicoterapia pela USP – marcusw@uol.com.br Lidia Natalia Dobrianskyj Weber – Psicóloga (CRP 08/0774), Professora e pesquisadora da UFPR, Doutora em Psicologia pela USP – lidiaw@uol.com.br
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PAIS E FILHOS: educação sem estresse
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roteção e cobranças fazem parte do papel dos pais. Mas, em excesso, ambas podem prejudicar o crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes. Saiba como orientá-los com equilíbrio e sem proibições. Bala, refrigerante ou bebidas alcoólicas não pode. Assistir filme até tarde, de jeito nenhum. Dar um rolê com os amigos depois da aula só se for acompanhado de um adulto. Por quê? É a pergunta favorita dos filhos, mas a resposta raramente os esclarece alguma coisa. Normalmente é “porque não e ponto final”. Para protegerem os filhos, ter controle ou exigir obediência, muitos pais optam por atitudes extremas que envolvem proibições ou excesso de cobranças. Porém, tudo que é proibido vai gerar mais interesse na criança e no adolescente, alertam especialistas da Associação Brasileira de Psico-
pedagogia (ABP). Segundo eles, nos estudos, alimentação, diversão, compromissos, saúde é importante estabelecer regras, mas o ideal é que as normas e limites não sejam simplesmente impostos e, sim, esclarecidos com uma boa conversa. Seja você filha, filho, pai ou mãe: não abra mão do diálogo. Esse é o principal recado da ABP. É só por meio da conversa que podemos gerar um pensamento mais crítico sobre nossas atitudes e entender que toda ação tem conseqüências positivas, ou negativas. Para ajudar a aprofundar esse assunto, fizemos uma seleção com orientações de especialistas da ABP e com base no livro “Família: urgências e turbulências”, do filósofo e escritor Mario Sergio Cortella. Acompanhe e saiba que sim, é possível educar sem estresse!
APROXIME-SE E CONVERSE De acordo com pesquisas da SBP, as crianças desenvolvem o entendi-
mento do que faz bem ou não, do que é prazeroso ou lhe causam dor, ainda com poucos meses de vida. Quando bebês, esses ensinamentos são apreendidos pelo tom de voz e pela expressão facial dos pais. Por esse motivo é fundamental se aproximar, criar intimidade e sempre conversar com a criança desde bem novinhas. Outro ponto essencial é a convivência diária, é isso que abre portas para a criação de um canal aberto de comunicação, momento em que vocês possam dialogar sobre todo tipo de assunto.
MENOS CONTROLE, MAIS DIÁLOGO Cabe aos pais orientar as crianças e adolescentes, com uma conversa respeitosa e que estimule um pensamento crítico sobre as consequências de suas ações, pois eles precisam ter autonomia para interpretar e fazer as próprias escolhas. Esse é um passo importante para as crianças e adolescentes se sentirem
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seguros e autoconfiantes. Por outro lado, a proteção em excesso coloca a criança dentro de uma bolha invisível podendo fazer com que ela se sinta frágil na ausência dos pais e se sinta insegura na hora de fazer escolhas.
SIM, AS REGRAS SÃO IMPORTANTES Uma conversa franca e esclarecedora explicando o porquê das regras é fundamental. Segundo especialistas, é preciso ainda ter paciência, pois essa mensagem precisará ser repetida várias vezes, já que as crianças e adolescentes também internalizam as normas e limites pela repetição. Outro ponto importante: o respeito nunca deve ser deixado de lado.
DÊ O EXEMPLO Como você quer que seus filhos se alimentem de forma mais saudável, se ela ou ele nunca vêem legumes
no seu prato? A mesma coisa com a TV, a divisão de tarefas domésticas, a importância dos estudos, o respeito ao outro. As crianças e adolescentes sempre estão atentos às atitudes dos pais, portanto comece revendo seus próprios comportamentos.
BEBIDAS ALCOÓLICAS: PROIBIR NÃO É O CAMINHO A melhor maneira de evitar o consumo inadequado de bebidas alcoólicas é o diálogo. Ao invés de simplesmente proibir, explique de forma franca e esclarecedora os problemas que esse comportamento pode causar, principalmente se eles questionarem o motivo de não poderem beber antes dos 18 anos. Além de não ser permitido por lei, de acordo com pesquisas científicas, adolescentes que ainda não completaram a maioridade metabolizam o álcool de maneira mais intensa, o que pode causar sérios danos à saúde.
E mesmo depois de completarem 18 anos, é importante eles entenderem que em excesso as bebidas alcoólicas podem trazer prejuízos graves. Como tudo na vida, equilíbrio é fundamental.
ELOGIE
Estamos tão acostumados e preocupados em corrigir os erros, que muitas vezes esquecemos de valorizar as qualidades do outro. Não são só as boas notas do colégio ou medalhas em campeonatos que merecem elogios. O esforço diário, a dedicação, as atitudes gentis e o respeito ao próximo são atitudes que merecem ser sempre parabenizadas.
Fonte: revista Crescer, Associação Brasileira de Psicopedagogia Sociedade Brasileira de Pediatria. Em seu site.
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Rotinas e estruturação da vida emocional das CRIANÇAS Repensar Infância
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função da rotina no desenvolvimento infantil é gerar segurança e previsibilidade. Estabelecer rotinas auxilia a organização da vida cotidiana, antecipando as atividades que virão ao longo do dia e exercendo uma espécie de moldura organizadora para o desenvolvimento físico, psíquico e social do ser humano.
Para bebês e crianças pequenas, isso é ainda mais importante. Coisas simples, como o horário das refeições, de dormir, de tomar banho, auxiliam sua constituição psíquica e são construídas desde que elas são muito pequenas. As rotinas estabelecem um ritmo, ajudam na preparação para o que vai acontecer, a tolerarem a espera, a terem noção de passagem do tempo, além de serem úteis aos pais no estabelecimento de limites. A partir da adoção de uma rotina diária, as crianças se tornam mais seguras de si, o que pode proporcionar que desenvolvam uma sólida autoestima e fortaleçam a autoconfiança. Prazos, horários, espaço físico e cuidadores de referência que participam do dia a dia das crianças trazem tranquilidade e confiança, contribuindo para menos ansiedade, maior autonomia e melhor capacidade de organização. Manter uma rotina nem sempre é uma tarefa fácil. Ela precisa ser organizada de acordo com as necessidades de cada faixa etária e com os momentos da família. Sempre que houver alterações, deve haver
Bruna Detoni e equipe de psicólogas
a comunicação prévia à criança, fazendo-a perceber que uma rotina é flexível e pode ser recombinada a cada situação. Quando as crianças ainda são pequenas, a organização da rotina é feita pelos pais. Com o passar do tempo, elas vão se adaptando e ad-
quirindo autonomia para que se organizem sozinhas. Como é a organização da rotina na sua casa?
Repensar Infância Psicólogas Bruna Detoni, Daniela Raskin, De Nardi Trois e Gabriela Filipouski
Escola de Pais do Brasil
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Tempos diferentes Adriana Krauss PIXABAY
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ia desses, da sacada do prédio, vi uma cena que me fez parar. Neto, pai e avô em frente à casa conversando. A criança era o centro das atenções e queria do vô _ um velhinho que sempre me pareceu carrancudo - alguns minutos de atenção, entrar no carro e aproveitar a curta viagem do portão até a garagem. As gerações tagarelavam e eu ria sozinha. Sorri porque me dei conta que hoje demonstrar amor é bonito e é permitido, mas não foi sempre assim. Cresci com avós bem diferentes desses que vejo hoje. Beijos no rosto e abraços pareciam contra lei e o máximo que eu me aproximava deles era na chegada e na partida do sítio. Podíamos e devíamos dizer: bênção, vó, bênção, vô, já era texto decorado. Tive uma infância feliz, mas meus pais - criados com esse distanciamento afetivo - fizerem o mesmo com os três filhos. Nada de falar de emoções! Dizer eu te amo era só para os casais apaixonados e nos momentos de intimidade. Lembro que quando dávamos aqueles sustos típicos de criança, como quebrar ou cortar o braço, os cuidados se restringiam à parte física, nunca à emocional, os curativos não vinham acompanhados de carinho e palavras de conforto. Era o sermão que tinha vez, sempre ele. Meus pais certamente me amavam e tenho convicção que
acreditavam que eu sabia disso. Mas hoje, olhando para trás, percebo que eu não me sentia amada. Não os culpo por nada, apenas uso meu caso como exemplo porque vejo adultos insistindo num padrão que pode ser revisto. No entanto, essa transformação só é possível quando isso nos incomoda, nos deixa inquietos e sedentos por relações mais profundas. Repito uma frase que falei em outro artigo: recebemos o que damos e sentimentos rasos resultam em migalhas de felicidade, nunca em abundância. Quando cresci, escolhi mudar e não esperei por ninguém.
Passei a dar abraços apertados e beijar meus avós. Até hoje os olhos da vó Maria ficam marejados quando nossos braços se encontram depois de meses de distância. Também comecei a dizer eu te amo para meus pais no fim de cada ligação e a reduzir aquela distância afetiva que tanto me incomodava. Minha conclusão? O amor é contagioso, ainda bem! Dia desses minha mãe ligou e na despedida disse eu te amo, sem que eu me declarasse primeiro. Quando desligamos, era minha vez de ficar com os olhos cheios d’água. Adriana Krauss Apresentadora do RBS TV
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Educar para o DISCERNIMENTO Frei Almir Ribeiro Guimarães
“Sem pessoas com espírito crítico, a sociedade não avança e vai se instalando na rotina e na vulgaridade. Sem pessoas críticas, conformamo-nos com muito pouco e dormimos na indolência” (Joan Bestard).
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ducar, extrair dos jovens o melhor que trazem em seu interior, no mais profundo de seu ser, na viagem da vida. Educar, tarefa de adultos que já fizeram uma parte da viagem, que trazem estampada no rosto a alegria de viver, de conviver, de partilhar e desejam que as novas gerações possam crescer em plenitude e dar sua colaboração efetiva para que o mundo se torne espaço humano, terra de justiça, de compreensão, de solidariedade. Educar é fazer com que as pessoas encontrem um sentido para sua vida e para sua passagem, mais ou menos longa pelos caminhos da terra dos homens.
Precisamos de seres despertos e pessoas acordadas, gente que pensa, que tem senso crítico, que se exercita sempre de novo na arte do discernimento. Como educar? Educar significa despertar e desenvolver a essência espiritual do ser humano. Fazer com que o homem compreenda que neste mundo ele se destaca por sua capacidade de amor, compaixão, solidariedade. Fazer com que atinja um alto nível de sabedoria humana, que o faz transcender e superar a lógica perversa do egocentrismo que esteriliza, da ambição e da competição que acabam com sua dignidade. Não é aqui o espaço para elencar os desafios do mundo que impedem uma educação autêntica. Há valores tidos por uns e outros que, na verdade, não constroem. Aproveitar a vida, ganhar, lucrar, competir, buscar as melhores performances em todos os campos, sempre o que é interessante para
mim, eliminar aquilo que “incomoda”, exige. Um mundo fechado na pessoa, mundo estéril. Por isso, se faz necessária umaeducação para o discernimento. Vivemos um tempo de lusco-fusco, de densa neblina. As nuvens demoram a ser sopradas por ventos. Não vemos claro. Precisamos apertar os olhos e distinguir o que está se desenhando no fim da estrada. Um animal que atravessa o caminho? Um outro carro que vem em nossa direção? Apenas um reflexo ou sombra projetada no caminho? O que está na frente? Discernir e tentar ver claro. Exige trabalho, reflexão, silêncio, conversa e diálogo com outros, busca de parâmetros que me façam viver em plenitude e não empurrar minha vida e a história para frente sem mais. Buscar aquilo que constrói nosso eu mais profundo e ajudar a criar uma terra vivível e habitável.
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Educar para o discernimento quer dizer levar as novas gerações a pensar. FrancescTorralba, discorrendo sobre o valor de pensar: “Quando tudo é nebuloso e não enxergamos qualquer possibilidade, caímos no desespero; sentimento, todos sabemos, difícil de suportar. Só mesmo com muito barulho e distrações de toda ordem, para nos esquecermos dele e seguirmos adiante em nossa existência” (O valor de ter valores, Vozes, p. 160). Nada está feito. Ou muita coisa deve ser refeita. O novo está despontando. Mas precisa ser um novo que se apoie nos valores de uma legítima tradição: respeito, tolerância, hospitalidade, aceitação do diferente, solidariedade, convivência profunda. Um novo que seja novo de verdade, para construir o ser humano sem peias. A educação para o discernimento visa a abrir os olhos e arreganhar a mente. Discernir e pensar. “Pensar é enfrentar a existência, assumir a incerteza, ter coragem e tentar pôr um pouco de ordem no mundo, por mais caótico e dialético que ele seja. A ideia é exatamente essa: tentar trazer
alguma ordem, organizar, dividir, separar, priorizar, distinguir tudo isso para transformar algo confuso em harmônico” (ut supra, p. 162). Tentando enxergar no nevoeiro do tempo presente: optar pela vida em todas as suas manifestações, desde o ventre materno até o final da caminhada, respeitar a vida, a vida das pessoas, vida da natureza, vida interior. Não aceitar, nesse campo, qualquer forma de destruição. Respeitar os pais e os filhos. Respeitar as autoridades, sobretudo aquelas que dão testemunho de autenticidade e de doação. Discernir, quanto possível, claramente, na hora de optar pelo casamento. Quem é ele? Quem é ela? Quais os seus valores? O que eles querem de fato da vida? Eu e o outro. Não entrar na aventura conjugal bobamente. Discernir o momento e a razão de colocar um filho no mundo, preparar seu nascimento, antes que o filho se instale no seio da mulher. Fazer convergir para ele e para eles um sonho sonhado de verdade. Discernir e não entrar em esquemas de fuga, de busca de sensações exóticas, que podem anestesiar, por momentos,o
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vazio do coração dos filhos. Ter uma visão sadia de uma sexualidade humana, prazenteira e responsável por uma serena alegria de viver. Ter calma e sabedoria nos momentos de tremores: filhos de pais irresponsáveis e violentos, perda dos filhos. Não responder dente por dente. Discernir que tudo passa e que não temos o direito de condenar nosso futuro com a loucura de um momento impensado. Discernir as razões para continuar um casamento, para optar por uma vida mais despojada e menos competitiva. Educar para o discernimento é tentar fazer com que as novas gerações sejam apresentadas ao Mistério que mora dentro delas. Que, para além dos alaridos e ruídos interiores, as novas gerações compreendam que vieram do Mistério e para o Mistério se encaminham.
Frei Almir Ribeiro Guimarães Membro do Conselho de Educadores da EPB
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Bons PAIS dão presentes, pais brilhantes dão seu próprio SER Augusto Cury
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ste hábito dos pais brilhantes contribui para desenvolver em seus filhos: auto-estima, proteção da emoção, capacidade de trabalhar perdas e frustrações, de filtrar estímulos estressantes, de dialogar, de ouvir. Bons pais atendem, dentro das suas condições, os desejos dos seus filhos. Fazem festas de aniversário, compram tênis, roupas, produtos eletrônicos, proporcionam viagens. Pais brilhantes dão algo incomparavelmente mais valioso aos filhos. Algo que todo o dinheiro do mundo não pode comprar: o seu ser, a sua história, as suas experiências, as suas lágrimas, o seu tempo. Pais brilhantes, quando têm condições, dão presentes materiais para seus filhos, mas não os estimulam a ser consumistas, pois sabem que o consumismo pode esmagar a estabilidade emocional, gerar tensão e prazeres superficiais. Os pais que vivem em função de dar presentes para seus filhos são lembrados por um momento. Os pais que se preocupam em dar a sua história aos filhos se tornam inesquecíveis. Você quer ser um pai ou uma mãe brilhante? Tenha coragem de falar sobre os dias mais tristes da sua vida com seus filhos. Tenha ousadia de contar sobre suas dificuldades do passado. Fale das suas aventuras, dos seus sonhos e dos momentos mais alegres de sua existência. Humanize-se.
Transforme a relação com seus filhos numa aventura. Tenha consciência de que educar é penetrar um no mundo do outro. Muitos pais trabalham para dar o mundo aos filhos, mas se esquecem de abrir o livro da sua vida para eles. Infelizmente, seus filhos só vão admirá-los no dia em que eles morrerem. Por que é fundamental para a formação da personalidade dos filhos que os pais se deixem conhecer? Porque esta é a única maneira de educar a emoção e criar vínculos sólidos e profundos. Quanto mais inferior é a vida de um animal, menos dependente ele é dos seus progenitores. Nos mamíferos há uma dependência grande dos filhos em relação aos pais, pois eles necessitam não apenas do instinto, mas de aprender experiências com seus pais para poderem sobreviver. Na nossa espécie essa dependência é intensa. Por quê? Porque as experiências aprendidas são mais importantes do que as instintivas. Uma criança de sete anos é muito imatura e dependente dos seus pais, enquanto muitos animais com a mesma idade já são idosos. COMO OCORRE ESSE APRENDIZADO? Eu poderia escrever centenas de páginas sobre o assunto, mas comentarei apenas alguns fenômenos envolvidos no processo. O aprendizado depende do registro diário de milhares de estímulos externos (visuais, auditivos, táteis) e internos (pensamentos e reações emocionais) nas matrizes da memória. Anualmente arquivamos milhões de experiências. Diferentemente dos compu-
tadores, o registro em nossa memória é involuntário, produzido pelo fenômeno RAM (registro automático da memória). Nos computadores, decidimos o que registrar; na memória humana, o registro não depende da vontade humana. Todas as imagens que captamos são registradas automaticamente. Todos os pensamentos e emoções — negativos ou saudáveis — são registrados involuntariamente pelo fenômeno RAM. Os vínculos definem a qualidade da relação. O que seus filhos registram de você? As imagens negativas ou positivas? Seus filhos registram todas. Eles arquivam diariamente os seus comportamentos, sejam eles inteligentes ou estúpidos. Você não percebe, mas eles o estão fotografando a cada instante. O que gera os vínculos inconscientes não é só o que você diz a eles, mas também o que eles vêem em você. Muitos pais falam coisas maravilhosas para suas crianças, mas têm péssimas reações na frente delas: são intolerantes, agressivos, parciais, dissimulados. Com o tempo, cria-se um abismo emocional entre pais e filhos. Pouco afeto, mas muitos atritos e críticas. Tudo que é registrado não pode mais ser deletado, apenas reeditado através de novas experiências sobre experiências antigas. Reeditar é um processo possível, mas complicado. A imagem que seu filho construiu de você não pode mais ser apagada, só reescrita. Construir uma excelente imagem estabelece a riqueza da relação que você terá com seus filhos. Outro papel importante da memória é que a emoção define a qualidade do registro. Todas as experiências que possuem um alto volume emocional provocam um registro privilegiado. O amor e o ódio, a alegria e angústia provocam um registro intenso. A mídia descobriu, sem ter conhecimentos científicos, que anunciar as misérias hu-
manas fisga a emoção e gera concentração. De fato, acidentes, mortes, doenças, seqüestros, geram alto volume de tensão, conduzindo a um arquivamento privilegiado dessas imagens. Nossa memória tornou-se assim uma lata de lixo. Não é à toa que o homem moderno é um ser intranquilo, que sofre por antecipação e tem medo do amanhã. FICA MAIS BARATO PERDOAR Se você tem um inimigo, fica mais barato perdoá-lo. Faça isso por você. Caso contrário, o fenômeno RAM o arquivará privilegiadamente. O inimigo dormirá com você e perturbará seu sono. Compreenda as suas fragilidades e perdoe-o, pois só assim você ficará livre dele. Ensine seus filhos a fazer do palco da sua mente um teatro de alegria, e não um palco de terror. Leve-os a perdoar as pessoas que os decepcionam. Explique a eles este mecanismo. Nossas agressividades, rejeições e atitudes impensadas podem criar um alto volume de tensão emocional em nossos filhos, gerando cicatrizes para sempre. Precisamos entender como se organizam as características doentias da personalidade. O mecanismo psíquico é o seguinte: uma experiência dolorosa é registrada automaticamente no centro da memória. A partir daí ela é lida continuamente, gerando milhares de outros pensamentos. Estes pensamentos são novamente registrados, gerando as chamadas zonas de conflitos no inconsciente. Se você errou com seu filho, é insuficiente apenas ser dócil com ele num segundo momento. Pior ainda, não tente compensar sua agressividade comprando-o, dando-lhe coisas. Deste modo, ele o manipulará e não o amará. Você só reparará sua atitude e reeditará o filme do inconsciente se penetrar no mundo dele, se reconhecer seu exagero, se falar com ele sobre sua atitude. Declare a seus filhos que eles não estão no rodapé da sua vida, mas nas páginas centrais da sua história. Nos divórcios é comum o pai prometer aos filhos que jamais os abandonará. Mas quando diminui a temperatura da culpa, alguns pais também se divorciam dos
seus filhos. Os filhos perdem a sua presença, às vezes não física, mas emocional. Os pais deixam de curtir, sorrir, elogiar e ter momentos agradáveis com os filhos. Quando isso acontece, o divórcio gera grandes sequelas psíquicas. Se a ponte for bem feita, se a relação continuar a ser poética e afetiva, os filhos sobreviverão à turbulência da separação dos seus pais e poderão amadurecer. SEUS FILHOS NÃO PRECISAM DE GIGANTES A individualidade deve existir, pois ela é o alicerce da identidade da personalidade. Mas o individualismo é prejudicial. Uma pessoa individualista quer que o mundo gire em torno de sua órbita, sua satisfação está em primeiro lugar, mesmo se isso implicar o sofrimento dos outros. Uma das causas do individualismo entre os jovens é que os pais não cruzam a sua história com a de seus filhos. Mesmo que você trabalhe muito, faça do pouco tempo disponível, grandes momentos de convívio com seus filhos. Role no tapete. Faça poesias. Brinque, sorria, solte-se. Perturbe-os prazerosamente. Certa vez, um filho de nove anos perguntou a um pai, que era médico, quanto ele cobrava por consulta. O pai disse-lhe o valor. Passado um mês, o filho aproximou-se do pai, tirou algumas notas do bolso, esvaziou seu cofre de moedas e disse-lhe com os olhos cheio de lágrimas: “Pai, faz tempo que eu quero conversar com você, mas você não tem tempo. Consegui juntar o valor de uma consulta. Você pode conversar comigo?” SEUS FILHOS NÃO PRECISAM DE GIGANTES, PRECISAM DE SERES HUMANOS Não precisam de executivos, médicos, empresários, administradores de empresa, mas de você, do jeito que você é. Adquira o hábito de abrir seu coração para os filhos e deixá-los registrar uma imagem excelente da sua personalidade. Sabe o que acontecerá? Eles se apaixonarão por você. Terão prazer em procurá-lo, em estar
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perto de você. Quer coisa mais gostosa do que isto? A crise financeira, as perdas ou as dificuldades poderão arremeter-se sobre a relação de vocês, mas, se ela tem alicerces, nada a destruirá. De vez em quando, chame um dos seus filhos sozinho e almoce ou faça programas diferentes com ele. Diga o quanto ele é importante para você. Pergunte como está a vida dele. Fale sobre seu trabalho e seus desafios. Deixe seus filhos participarem da sua vida. Nenhuma técnica psicológica funcionará se o amor não funcionar. Se você passar por uma guerra no trabalho, mas tiver paz quando chegar em casa, será um ser humano feliz. Mas, se você tiver alegria fora de casa e viver uma guerra na sua família, a infelicidade será sua amiga. Muitos filhos reconhecem o valor dos seus pais, mas não o suficiente para admirá-los, respeitá-los, tê-los como mestres da vida. Os pais que estão tendo dificuldades com os filhos não devem sentir-se culpados. A culpa engessa a alma. Na personalidade humana nada é definitivo. Você pode e deve reverter esse quadro. Você tem experiências riquíssimas que transformam sua história num filme mais interessante do que os de Hollywood. Se você duvida disso é porque talvez nem se conheça e, pior ainda, nem mesmo se admire. Liberte a criança feliz que está em você. Liberte o jovem alegre que vive na sua emoção, mesmo que seus cabelos já tenham embranquecido. É possível recuperar os anos. Deixe seus filhos descobrirem seu mundo. Abra-se, chore e abrace-os. Chorar e abraçar são mais importantes do que dar-lhes fortunas ou fazer-lhes montanhas de críticas.
Augusto Jorge Cury é um psicanalista, professor, escritor e psiquiatra brasileiro. Doutor em Psicanálise.
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Estamos tão distantes! André Luis Kawahala e Rita Massarico Kawahala
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ouve um tempo em que Adam voltava correndo para casa, após o dia de trabalho. Evelyn não via a hora de estar com o esposo e juntos fazerem algo. Nos primeiros meses de casamento, todo dia era assim. Era só namoro e descobertas. Tudo era bom. O cotidiano não era perfeito, mas não importava. A prioridade era estarem juntos e viver cada um o seu ideal de matrimônio. Agora, passados alguns
anos, tudo é bem diferente: cada um procura o seu espaço, o seu tempo e suas próprias prioridades e objetivos. É frio o que antes era febre. Talvez você pense: vai acabar esse casamento! Talvez sim. Talvez não. O que acontece com tantos outros casais? Acabou a novidade? – É a primeira
coisa que muita gente pensa. Essa é uma meia verdade, no sentido de que a novidade não é um ser autônomo que entra e sai da vida das pessoas quando bem deseja. O novo está em quem deseja se renovar todos os dias. Rotina é indispensável, mas é possível e importante que seja revista e alterada de tempos em tempos. Além disso, mudanças de hábi-
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tos, comportamentos e ideias são essenciais para o casal. É preciso traçar novas metas e revisar e realinhar as que já estão em andamento. Ter sempre objetivos a curto, médio e longo prazos: da viagem dos sonhos a uma mudança de estilo de vida, passando por tantas outras coisas triviais. Isso tem poder para renovar o casamento.
quanto ao cônjuge. Assim como cremos em Deus, precisamos manter a fé na pessoa a quem escolhemos para caminhar conosco. Ter esperança de que o cônjuge possa ter atitudes positivas, novos comportamentos e, realmente, surpreender no casamento.
Acomodação – Sem a novidade, os cônjuges vivem um dia após o outro, sem sentir o sabor da relação conjugal.
O matrimônio não é uma competição onde sempre deve haver um vencedor; então, não há motivos para viver em pé de guerra. Quando alguém decide construir uma vida com outra pessoa, o faz, em geral, de maneira livre. Portanto, não há motivo para não ser gentil, cordial e manter o equilíbrio na forma de agir, ainda que seja mais carinhoso que o outro. Isso é normal. Claro que não estamos falando aqui das situações-limite de abuso e violência. Referimo-nos a casais que estão dentro do padrão de relacionamento.
As qualidades que tanto atraíram um ao outro vão sendo trocadas pelos defeitos, que acabam muito evidentes. E aí começam a acontecer as “pisadas na bola”, comum em todo relacionamento, que desqualificam a esposa ou o esposo. Acabam não se dando conta de que aquela pessoa ainda é sua melhor opção para conviverem. É necessário ter em conta que os defeitos precisam ser superados e as qualidades precisam ser cultivadas. Ninguém é perfeito! Quando se exercita mutuamente o entendimento, a compaixão e o perdão, gera entre o casal a reciprocidade. É evangélico; não se deve julgar a outra pessoa pelos seus erros, deve-se sempre oferecer o melhor de si, e procurar fazer à outra pessoa tudo o que se gostaria de receber como tratamento (cf. Mt 7,1-12). É o que Jesus pede que seja praticado na vida em comunidade, mas também para os esposos, primeira comunidade de amor da família. No casamento, quem nunca se acomoda tem mais chances de chegar aonde deseja ir. Lenha na fogueira – Na vida dos casados, nem sempre se sabe definir o amor, mas é preciso entendê-lo como uma opção exclusiva por outra pessoa, que nunca deveria acabar. Já a paixão arrefece mesmo e se esvai depois de um tempo. É preciso colocar lenha na fogueira da paixão, e a origem desse combustível está no desejo de continuar amando. 1 - MANTENHA A FÉ E A ESPERANÇA Uma prática dirigida tanto a Deus
2 - GENTILEZA E CARINHO
3 - BUSCAR O DESPERTAR DA PAIXÃO Não é preciso gastar muito para fazer um dia ou uma noite diferente. Em nossas palestras sobre conjugalidade, costumamos falar dos momentos inesquecíveis que o casal pode criar em casa mesmo. Uma boa bebida, alguns petiscos, uma comida diferente, e a casa pode se transformar num restaurante ou naquele barzinho. Os esposos podem - e devem! – se arru-
mar e se vestir como se fossem passear para ficar em casa e, assim, agradar um ao outro. Perfumes, aromas, sabores, aparência... Tudo ajuda a mudar o clima. Isso é bom. Demonstra cuidado, atenção e um desejo de seduzir, que é legítimo entre marido e mulher unidos pelo amor. Mas atenção: o recurso à sedução não deve ser, no entanto, banalizado. 4 - FALAR DE SI COM O CORAÇÃO A sedução não substitui o bom diálogo, que é essencial. Cada um deve expor-se de coração e falar sobre os medos, as vontades, os desejos, os planos e projetos. Isso também é lenha que incendeia o casamento e reacende a paixão. Nada é mais sedutor que conhecer a outra pessoa por inteiro. A vida a dois não é fácil; é arte, como estamos tentando demonstrar nessa série de artigos. Por isso é que convidamos a exercitar essas e outras dicas que estamos oferecendo para criar a novidade entre o casal. Porque, se o casal for renovado, toda a família será revigorada. *André Luis Kawahala e Rita Massarico Kawahala, casados há 25 anos, trabalham com casais e famílias há mais de 20 anos e são membros da Pastoral Familiar. Texto publicado na revista Família Cristã, setembro de 2019.
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“Na teia do aconchego” Belíssima reflexão de Maria Teresa Maldonado REPRODUÇÃO/INTERNET
Maria Teresa Maldonado
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presente do presente: descortinei o amor maduro na curva dos 60, e agradeço cada dia aproveitado da melhor forma possível, pelo tempo que ainda tiver pela frente. Bom demais curtir o prazer de estar junto com meu companheiro na simples curva do cotidiano, começar o dia nadando no mar, as notícias compartilhadas, as ideias que surgem, as criações musicais e literárias, os planos de trabalho, as perspectivas que se abrem, os obstáculos a enfrentar, as conversas tecidas na cozinha enquanto preparamos as refeições que de-
pois levamos em pratos coloridos para a mesa da sala, iluminada por uma grande vela redonda. E, em dias privilegiados, contemplar a lua cheia dourando o mar no conforto do silêncio além das palavras, na comunicação profunda que se revela no mergulho do olhar. Bom encontrar, no interior desse homem maduro, o menino terno e eterno que nele habita e que, sorridente, estende a mão para a menina alegre que habita em mim. Encontro lúdico, pleno de encantamento, que nos permite passear pela linha do tempo, vivendo o melhor de todas as idades que
percorremos, saboreando a novidade desse encontro com o desejo da adolescência e a ternura da maturidade. É muito bom sentir o aconchego dos braços que nos oferecemos, o toque sensível e sensual por onde flui a energia amorosa, constatando que rugas e a pele flácida não impedem a atração porque não mascaram a beleza essencial que conseguimos ver em nós. Bom perceber que as dores que marcam o término de amores passados não se cristalizaram em amargura ou descrença, mas, ao contrário, cuidaram da delicada
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teia da esperança que mostra que é possível começar de novo em qualquer idade, aprendendo com os tropeços e os equívocos anteriores. Quando revejo a minha vida de muitas décadas lembro-me de Simone Beauvoir dizendo que, quando envelhecemos, o futuro torna-se cada vez mais curto e o passado cada vez mais longo. Penso em quanto aprendi, no tanto que ainda há para aprender e em tudo o que mais não terei tempo para começar, nem mesmo esboçando as primeiras letras. Não importa o que faltou, falta ou faltará. Melhor é apreciar o que veio, está e ainda virá.
Bom encontrar, no interior desse homem maduro, o menino terno e eterno que nele habita e que, sorridente, estende a mão para a menina alegre que habita em mim.
Por isso gosto de caminhar com ele de mãos dadas, entrelaçadas na teia do aconchego que nos acolhe com carinho neste outono da vida.
Editado por Revista Pazes dezembro 11, 2018 Extraído do livro “Teias”, página 170, Editora Lafonte, de Maria Teresa Maldonado. Maria Tereza Maldonado, psicóloga, (CRP 1296/05) mora no Rio de Janeiro e trabalha no Brasil, como palestrante e consultora.
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Casa de MÃE depois que os filhos se vão Miryan Lucy Rezende
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asa de mãe depois que os filhos se vão é um oratório. Amanhece e anoitece prece. Já não temos acesso àquelas coisinhas básicas do dia a dia, as recomendações e perguntas que tanto a eles desagradavam e enfureciam: com quem vai, onde é, a que horas começa, a que horas termina, a que horas você chega, vem cá menina, pega a blusa de frio, cadê os documentos, filho. Impossibilitados os avisos e recomendações, só nos resta a oração, daí tropeçamos todos os dias em nossos santos e santas de preferência, e nossa devoção levanta as mãos já no café da manhã e se deita conosco. Casa de mãe depois que os filhos se vão é lugar de silêncio, falta nela a conversa, a risada, a implicância, a displicência, a desorganização. Falta panela suja, copos nos quartos, luzes acesas sem necessidade…aliás, casa de mãe depois que os filhos se vão vive acesa. É um iluminado protesto a tanta ausência. Casa de mãe depois que os filhos se vão tem sempre o mesmo cheiro. Falta-lhe o perfume que eles passam e deixam antes da balada, falta cheiro de shampoo derramado no banheiro, falta a embriaguez de alho fritando para refogar arroz, falta aroma da cebola que a gente pica escondido porque um deles não gosta (mas como fazer aquele prato sem colocá-la?), falta a cara boa raspando o prato, o “isso tá bão, mãe”. O melhor agradecimento é um prato vazio, quando os filhos ainda estão. Agora falta cozinha cheia de desejos atendidos. Casa de mãe depois que os filhos se
vão é um recorte no tempo, é um rasgo na alma. É quarto demais, e gente de menos. É retrato de um tempo em que a gente vivia distraída da alegria abundante deles. Um tempo de maturar frutos, para dá-los a colher ao mundo. Até que esse dia chega, e lá se vai seu fruto ganhar estrada, descobrir seus rumos, navegar por conta própria com as mãos no leme que você, um dia, lhe mostrou como manejar. Aí fica a casa, e nela, as coisas que eles não levam de jeito nenhum para a nova vida, mas também não as dispensam: o caminhão da infância, a boneca na porta do quarto, os livros, discos, papéis, desenhos e fotografias – todas te olhando em estranha provocação. Casa de mãe depois que os filhos se vão não é mais casa de mãe. É a casa da mãe. Para onde eles voltam num feriado, em um final de semana, num pedaço de férias.
Casa de mãe depois que os filhos se vão é um grande portão esperando ser aberto. É corredor solitário aguardando que eles o atravessem rumo aos quartos. É área de serviço sem serviço. Casa de mãe depois que os filhos se vão tem sempre alguém rezando, um cachorrinho esperando, e muitos dias, todos enfileirados, obedientes e esperançosos da certeza de qualquer dia eles chegam e você vai agradecer por todas as suas preces terem sido atendidas. Porque, vamos combinar, não é que você fez direitinho seu trabalho, e estava certo quem disse que quem sai aos seus não degenera e aqueles frutos não caíram longe do pé? E saudade, afinal, não é mesmo uma casa que se chama mãe? Miryan Lucy Rezende, professora e escritora