EM CURITIBA #9

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EM CURITIbA EDIÇÃO 09 AGO 2016

MODA |CULTURA |COMPORTAMENTO

SUSTENTA


EDITORIAL

Consciência O discurso em torno da sustentabilidade hoje é inevitável. Tão inevitável quanto exaustivo. Muito se diz, mas bem pouco se aproveita de um tema como este. Uma indústria como a da moda, que se baseia em práticas totalmente insustentáveis hoje, precisa de cada vez mais responsabilidade não só na produção como na difusão de práticas mais favoráveis para o mundo. Não basta promover condutas sem pensar sobre elas, ou sem alguma reflexão. Consumir consciente diz muito mais do que comprar uma roupa num brechó, ou consumir de um produtor local. Diz respeito a entender e estar ciente de como suas práticas podem afetar uma cadeia inteira, a vida de outras pessoas. O mundo conectado não nos permite mais um discurso de falta de conhecimento. E, por isso, fomos a fundo buscar de quais formas conseguiríamos abarcar um tema como este dentro da nossa cidade. Para isso, seguimos atrás de três pilar fundamentais: eco friendly, fair trade e made local. Com esses três itens em consonância podemos, com nossa edição 09, começar a ampliar nosso olhar para um futuro consciente de verdade. Em que cada um terá plena capacidade de medir seus atos enquanto consumidor individual ou produtor, e sua importância dentro da corrente da Moda. Abrir o pensamento sobre algumas práticas, mas nunca esgotar a reflexão dentro destas páginas.



EXPEDI E N T E

#09 Nicolle Impinnisi (Forum Model) fotografada por Renata Wajdowicz Beleza Cristina Maciel

Diretora de Redação: CARMELA SCARPI (carmela@evenmore.com.br) Projeto Gráfico e Diagramação: Lizi Sue (lizi@evenmore.com.br) Redação: ALÉXIA SARAIVA; CARMELA SCARPI; MONIQUE BENOSKI; MONIQUE PORTELA. Colaboradores: CRISTINA MACIEL, RENATA WAJDOWICZ; HARRIETE SCARPI. Revisão: CARMELA SCARPI A revista digital EM Curitiba é uma publicação produzida pela equipe do grupo Even More. Todos os direitos são reservados. É proibida a reprodução de qualquer tipo de conteúdo sem a autorização prévia e por escrito. Todas as informações técnicas, bem como anúncios e opiniões expressados, são de responsabilidade dos autores que estes assinam. Serviço de atendimento ao consumidor: contato@evenmore.com.br Anúncio e Publicidade: comercial@evenmore.com.br


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Agenda Para consumir melhor

Verde, para que te quero

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[in]Sustentável

Além do Eco Urbana

Colaboração é base da casa


agenda EM 06 e 07 de agosto Yoga no Parque em novo local As reuniões gratuitas para prática de yoga, que já são características de Curitiba, ganham um novo local: a praça do Atlético. Nos dias 06 e 07 de agosto, atividades marcam o início do segundo semestre de 2016 do Yoga no Parque. Desde 2013 promovendo a interação entre a cidade e as pessoas, o projeto ganha cada vez mais espaço no cenário urbano. Leve seu tapete, água e aproveite! 06/8 SÁBADO 10H Parque Barigui: Marca 700 da Pista de Corrida saindo da casa amarela. Jardim Botânico: Ao lado esquerdo da estufa, olhando de frente. Praça do Altético: Encontro no centro da praça 07/8 DOMINGO Mundo em Movimento - Rádio Mundo Livre FM Ruínas de São Francisco 10H

11 a 13 de agosto Curso de TR Cutting com Shingo Sato Pela primeira vez em Curitiba, o workshop de modelagem que propõe a técnica desenvolvida pelo japonês Shingo Sato acontecerá entre os dias 11 e 13 de agosto na Casa Base (R. Dr. Gulin, 1055), sede do Atelier Teresa Zanco. Shingo ministrará as aulas pessoalmente. “Ao tentar descobrir novas combinações ou alterando seus pontos de vista, você pode por acaso chegar a soluções imprevistas, ou caminhos mais ousados que antes você não imaginava”, comenta Shingo sobre a técnica Para inscrições: (41) 9955-5155 (vagas limitadas)


13 a 21 de agosto Subtropikal - Festival de Criatividade Urbana A partir do dia 13 de agosto Curitiba recebe a primeira edição do Festival de Criatividade Urbana, Subtropikal. Idealizado para conectar as pessoas aos movimentos da cidade, a programação divide-se em três vertentes: EXPLORE, REFLITA E CURTA. Pelo site, você confere todos os workshops e oficinas paralelas, que vão de estamparia básica a cursos sobre inovação. Além das atividades ao redor da cidade e painéis; para fechar, a festa na Ópera é programa garantido do sábado 20 de agosto. O festival acontece até o dia 21. O ingressos variam de R$15,00 à R$130,00 dependendo do pacote e programação que você escolher. Confira no site.

22 a 24 de agosto 1o Seminário Internacional Cidades e Bem-Estar Humano Serão três dias de exposições e trocas de conhecimento sobre urbanismo, política, economia, desenvolvimento social e outros temas, todos ligados à sustentabilidade. O evento acontece no campus da UTFPR. As inscrições são no valor de R$ 50,00 para estudantes e R$ 100,00 para professores e profissionais. Saiba mais pelo site neste link.

19 a 25 de setembro 1o Congresso Online de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa Palestras e discussões com profissionais renomados e convidados internacionais, feitos por streaming online. Totalmente gratuitas, as inscrições podem ser feitas pelo site. Confira no link os palestrantes convidados.


monique portela


para CONSUMIR melhor Otimizados e minimalistas, guarda-roupas mais conscientes sĂŁo sinĂ´nimos de praticidade e sustentabilidade Foto: Atelier Reptilia


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guarda-roupas abarrotado parece nunca responder à pergunta: o que vestir? Na década de 1930, as mulheres norte-americanas de classe média tinham apenas 9 outfits para encontrar a resposta. Hoje, estima-se que um guarda-roupa feminino abrigue cerca de 103 peças, das quais 21% não são usadas¹. O tecido é ruim, a costura se desfez — e o acabamento, cadê? Estamos comprando muito mais e pagando muito menos por peças de qualidade inferior, feitas às custas de pessoas que trabalham em condições precárias. No final das contas, isso não nos deixa mais felizes nem como pessoas, nem como consumidores de moda, o que deve servir de incentivo para promovermos mudanças e consumirmos melhor.

Mais que uma peça Encorajadas pela ideia de que é possível ter um armário minimalista e sustentável sem pecar no quesito beleza, Cara Bartlett e Vanessa van Zyl criaram em 2016 a marca norte-americana Vetta. A primeira coleção possui apenas 5 peças, com as quais é possível compor 30 looks diferentes. São todas multiuso, feitas com materiais ecologicamente responsáveis em um atelier nos Estados Unidos. Mas não é preciso olhar tão longe para encontrar soluções: em Curitiba, a marca Reptilia lançou uma coleção que, além de multiuso, possui peças sem gênero. “A gente vê que existe uma necessidade de praticidade, uma necessidade grande de criatividade.

As pessoas gostam do styling a sua maneira”, comenta Heloísa Strobel, designer da marca. O domínio de todo o processo de produção das peças da Reptilia permite que Heloísa consiga fazer o reaproveitamento dos resíduos — que já são pequenos por conta da escala de produção, feita sob demanda —, certificar-se da qualidade das marcas fornecedoras e valorizar a mão de obra. É só chegar e tocar a campainha do atelier, localizado no bairro Batel, para constatar que a produção é responsável — o contato com o produtor é apenas uma das vantagens de consumir localmente.


MENOS É MAIS E ainda é possível ir além da peça multiuso: que tal otimizar seu guarda-roupas inteiro? No final de 2015, a consultora de moda Bel Nejur retirou 70% das peças do seu armário. “Me senti pelada nos primeiros 5 minutos, mas quando arrumei as peças em uma arara e visualizei, me senti ótima e muito atual”. O conceito de armário-cápsula surgiu em 2014 e já é tendência. A ideia é desapegar, selecionar e dinamizar o guarda-roupas, mantendo apenas aquelas peças que você realmente usa e que permitem combinações entre si. Mas por onde começar? 1. DESCUbRA SEU ESTILO: Pegue uma revista, faça recortes de peças e cores que você gosta e cole-os em um caderno — este será seu painel semântico. Depois,

escreva palavras, sensações e sentimentos que aquelas peças/cores provocam em você. 2. fAçA UMA PALETA DE CORES: Com base no primeiro exercício, você já pode montar sua paleta de cores. Ela será seu guia para selecionar as roupas que ficam ou saem do guarda-roupas, além de servir como um roteiro para as próximas compras (ver imagem abaixo). 3. ANALISE SEU gUARDA-ROUPAS: Você realmente precisa desta peça? Ela está de acordo com seu estilo? Qual foi a última vez que usou aquela blusa? Se foi há mais de 6 meses, admita, ela não é parte essencial do seu guarda-roupas. “Desapegue, desapegue, desapegue!”, recomenda Bel Nejur. 1- Dados retirados do Daily Mail e Fobes

CORES PRINCIPAIS: representam a essência do seu estilo; CORES OU ESTAMPAS AUXILIARES: servem para criar variações, estarão presentes principalmente nos seus acessórios; CORES NEUTRAS: darão equilíbrio à composição. Vale lembrar que o básico preto&branco não é obrigatório: você pode brincar com o cinza, marrom ou azul marinho, como sugere a consultora.



verde, pra que te quero alĂŠxia saraiva

Telhados verdes, jardins verticais: entenda como os ambientes vivos podem ajudar a renovar a cidade

Foto: Prima Plantarum


Construções sustentáveis e lixo podem ter mais em comum do que uma primeira impressão sugere, na verdade um é uma grande solução para o outro. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, é estimado que metade de todo o lixo produzido por humanos seja entulho. Dentro deste contexto, já há alguns anos que construções voltadas a ideias de sustentabilidade vêm ganhando força para reduzir o impacto ambiental, tanto na escolha de materiais que não agridem o meio ambiente, quanto trazendo o paisagismo para colorir o concreto no meio da cidade. Foi com esse intuito que a paisagista Heloiza Rodrigues, da Prima Plantare, elaborou o projeto do novo prédio da FAE Business School, localizado no centro de Curitiba. Além de floreiras suspensas no exterior da fachada, um telhado verde no terceiro andar também faz parte do plano de sustentabilidade. Segundo a Heloiza, uma das vantagens do telhado verde é que ele consegue diminuir em até 13ºC a temperatura da laje na qual é instalado, e de ajudar a resolver o impacto das ilhas de calor. “Nós temos um problema de permeabilidade, que está cada vez menor em ambientes urbanos. É concreto e asfalto para tudo quanto é lado! Pra aumentar a permeabilidade, é fundamental ter um pouco mais de área verde”, explica. Os telhados verdes são uma solução arquitetônica simples que ajudam a resolver vários problemas de uma vez só. Eles foram inspirados nos Jardins Suspensos da Babilônia, e reapareceram no paisagismo no século 19. Mesmo assim, foi só com a preocupação ambiental na arquitetura que ele virou tendência, sendo mais visto nas cidades europeias a partir da década de 1970. “É um benefício enorme que estamos fazendo para a cidade. Os telhados verdes e os jardins verticais são fundamentais pra trazer mais verde para o convívio com as pessoas”, completa a paisagista.

Além de vistosas, as instalções no prédio da FAE não dão quase nenhum trabalho: a única manutenção necessária é o sistema de irrigação, pois as plantas já têm tudo o que precisam no substrato utilizado no projeto.

A conscientização cria a tendência ou a tendência gera conscientização? Também demonstrando preocupação com a construção sustentável, a Casa Cor Paraná de 2016, que encerrou no último dia de julho, mostrou que a tendência de trazer a natureza para dentro de casa é forte. O jardim do ambiente foi projetado pelos paisagistas Nadia Bentz, Vanderlan Farias e Beto Lemos, com o objetivo de suavizar o concreto que toma con-


ta da construção. “Ali é uma área muito árida, porque tem uma arquitetura modernista já ultrapassada que não se preocupava muito com a qualidade paisagística”, explica Beto Lemos. “O que a gente quis fazer era justamente trazer um projeto com linhas mais orgânicas pra aumentar o espaço do jardim e pra dar uma suavizada nessa sensação árida ali nessa parte”. Tanto Beto Lemos como Heloiza Rodrigues concordam que essa tendência é um resultado da conscientização pela qual tanto a engenharia, quanto a arquitetura estão passando. “Acaba virando uma tendência porque tem uma busca cada vez maior. As pessoas têm dado mais importância para o projeto paisagístico, porque estão tomando consciência que isso afeta diretamente a qualidade de vida da pessoa”, explica Beto.

Sustentabilidade certificada A principal certificação usada para reconhecer o projeto sustentável de um edifício é o selo Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), desenvolvido pelo USGBC (United States Green Building Council). Ele leva em consideração a sustentabilidade do local, o uso eficiente de água, energia e impactos para a atmosfera, materiais e recursos empregados, qualidade dos ambientes internos e inovações. Em 10 anos, o Brasil já teve mais de mil prédios certificados. Segundo o Instituto de Pesquisa Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), o Paraná ocupa o terceiro lugar no ranking nacional de registros. Curitiba tem atualmente nove edificações certificadas e há outras 25 em processo de certificação. Alguns dos prédios certificados com o Selo Leed Ouro são o Centro Empresarial Antonio Peretti, da Construtora Hugo Peretti, localizado no bairro Rebouças, e o Colégio Positivo Internacional, a única escola brasileira que conta com essa certificação atualmente. Para o Ippuc, “os projetos com certificação Leed refletem o jeito de ser de Curitiba. Uma cidade notória e reconhecidamente engajada em suas ações ambientais, que tem em seu alicerce de planejamento urbano o tripé ‘uso do solo / transporte público / sistema viário’, além da preocupação com o desenvolvimento urbano sustentável e a conservação de seu patrimônio ambiental e cultural”.

Foto: Nenad Radovanovic


Preocupação de longa data Mesmo que a tendência da sustentabilidade seja relativamente mais recente, Curitiba sempre teve um pé na preocupação ambiental. Um dos marcos da cidade, o Passeio Público, foi inaugurado em 1886. “Projetado como medida preventiva aos problemas de saúde pública e saneamento, a obra consistia na transformação de uma área de charcos em espaço de lagos e lazer, medida esta que, no futuro, iria incentivar a criação de inúmeros outros parques na cidade para a prevenção de enchentes”, explica Maria Celeste Corrêa, assessora de comunicação do Ippuc. Outros projetos que ao longo do tempo fizeram parte do Plano Diretor da cidade e aju-

daram a criar a imagem de uma cidade verde foram a valorizar o espaço para pedestres com o Calçadão da Rua XV, a criação do BRT (Bus Rapid Transit), tornando-se modelo internacional como solução para o transporte coletivo e, mais recentemente, a implementação de mais infraestrutura para ciclistas. Curitiba atualmente conta com cerca 65 m² de áreas verdes por habitante, segundo o Ippuc. “Com 1.098 unidades de conservação, entre parques, bosques, praças e reservas naturais, a cidade ainda apresenta projetos e incentivos para o controle e preservação de nascentes, córregos e a recuperação de rios das bacias hidrográficas pertencentes ao município”, finaliza Maria Celeste.

Foto: IPPUC



[IN]Sustentรกvel Monique Benoski


Na busca por mudanças em uma indústria tão insustentável, marcas de Curitiba adotam novas técnicas de produção que auxiliam o meio ambiente Foto reprodução: Ye Os países asiáticos são os maiores exportadores de vestuário (com 55% de mercado) e têxteis (totalizando 3/4 da produção mundial)¹. O Brasil, por sua vez, ocupa o sexto lugar como maior produtor mundial e, de acordo com dados do IEMI - Instituto de Estudos e Marketing Industrial; o Sudeste é a principal região produtora de têxteis no país, concentrando os principais centros de distribuição de varejo e atacado, além dos maiores mercados consumidores. Entre 2010 e 2014, o Sudeste perdeu parcelas de sua participação para as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sul do país. Tal representatividade soma ainda mais à responsabilidade com a produção sustentável. Afinal, o uso dos recursos naturais pela geração presente não pode mais negligenciar - quanto mais prejudicar - gerações futuras. Pensando nisso, em Curitiba, empresas de moda de cunho autoral já adotam alguns valores sustentáveis que estão circulando pelo mundo, para contribuir localmente com uma sociedade mais integrada e consciente.

Upcycling Foto: Gu Berg

O termo, utilizado pela primeira vez em 1994 por Reine Pliz, significa dar um novo destino para materiais que, na teoria, estão no fim da vida útil, fazendo com que eles se tornem algo melhor e, principalmente, com maior valor agregado do que inicialmente. Por aqui, Kamila Olstan, proprietária da marca Farrapo, trabalha com a técnica do


Upcycling na confecção de roupas. Para ela, a reciclagem é chamada de downcycling, porque a matéria é destruída e transformada em um produto de menor valor, já no upcycling é utilizada a mesma matéria, no estado em que foi encontrada, para transformar num produto de maior valor. A marca de bolsas e acessórios Yë Upcycling Wear, que mesmo com pouca idade já esteve em 2015 no desfile de Ronaldo Fraga no SPFW, desenvolve seus produtos dentro desta vertente. Juliana Erig, uma das sócias, explica que os materiais (couro e madeira) precisam ser tratados e bem trabalhados antes da utilização, para adquirirem o aspecto desejado. Mas a impressão de Juliana é que a partir do momento em que as pessoas descobrem que os produtos são feitos com a técnica do Upcycling, isso se torna um fator definitivo para serem fiéis à marca.

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

Vegan A moda Vegan surge em diferentes frentes do mundo fashion como produtos confeccionados sem qualquer utilização de produto animal ou derivados. A Apuê, marca de sapatos curitibana, elaborou neste ano um modelo totalmente livre de materiais animais. Com couro como matéria-prima principal, Sheila Hiromoto sentiu necessidade de atender também a esta parcela de mercado. Responsável pela parte de design e desenvolvimento da Apuê, na criação do sapato ela utilizou um sintético de poliuretano para o cabedal (parte de cima do sapato), para o forro e para a palmilha. O material, que permite transpirabilidade e tem tratamento antibactericida, foi comprado direto da fábrica para garantir a validade, visto que produtos estocados por anos podem descascar e até esfarelar. No sapato é utilizada uma sola laqueada (um composto de borracha e resina) e na planta um material feito de sobras de corte de outras solas (que são triturados e prensados com a massa de borracha). O salto e taco são de outros compostos polímeros, ou seja, plástico.


Foto: Renata Wajdowicz

Zero Waste

Tecnologia 3D São três os tipos de impressão 3D: a Impressão por Sinterização a Laser Seletivo (SLS), que utiliza como matéria prima o pó do material; a Fusão por Deposição de Material (FDM), que é a mais rudimentar, tem um fio que vai depositando os materiais camada a camada, sem fazer peças muito complexas e com velocidade bem reduzida; e a Estéreo Litografia Aparente (SLA), que pode construir qualquer objeto tridimensional com estruturas complexas graças a utilização de resina líquida. Na Noiga Brasil, empresa que imprime acessórios de moda em 3D, é pelo método SLS que se moldam os três pilares principais da marca: moda, design e tecnologia. O pó do Nylon é hoje a matéria-prima principal e, segundo Renata Trevisan, uma das sócias, ainda é muito difícil encontrar máquinas de impressão 3D aqui no Brasil. Mas, como, a proposta é ser uma produção completa, com toda a parte de design e desenvolvimento que estimulem uma produção local; a Noiga conseguiu, no início de 2015, nacionalizar as máquinas, e agora imprime com um parceiro em Joinville. Além do incentivo ao local, o método permite produzir por demanda e diminui o desperdício de material.

Para além de ser uma vertente original do mundo da moda, o Zero Waste começou como um movimento preocupado com a geração de lixo no mundo. Adaptado à realidade fashion, hoje, ele significa no dicionário do nicho uma produção com desperdício zero. Diferente do upcycling, que garante uma destinação a materiais descartados, aqui não há sobras desde a confecção. Em Curitiba, Daniela Borges e Eduarda Camargo, da Textilaria, fazem suas experimentações na superfície de tecido e embalam essa preocupação ambiental na forma de modelagem dos Quiquis, quimonos desenvolvidos e estampados por elas. Mesmo no início da marca, algo que embasará todas as coleções futuras será a constante preocupação em transformar um sistema tão insustentável quando o têxtil. “ A nossa busca pela sustentabilidade é ainda uma das coisas mais importantes da marca”, comenta Daniela.


Além do

Eco Ter consciência para consumir consciente aléxia saraiva Quem fez minhas roupas? De onde elas vieram? Quanto recebe a pessoa que costurou minha blusa que custou R$19,90? Essas são algumas das perguntas que levaram a dois movimentos crescentes: a moda consciente e o comércio justo, ou fair trade. Alguns dos princípios que permeiam esses dois conceitos são a igualdade comercial, a garantia de direitos aos trabalhadores e a preocupação com o meio ambiente. E se você pensa que essa preocupação só diz respeito aos fashionistas, se engana: ao comprar uma roupa de uma loja que não respeita seus funcionários, o consumidor está indiretamente apoiando a prática. É por ser algo que está literalmente tão próximo do ser humano, que a moda consciente tem ganhado mais visibilidade na mídia. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, dados do Sebrae mostram que o Brasil produz 170 mil toneladas de retalhos de roupa por ano. Disso, 80% vão direto para os lixões em todo o país. Uma das iniciativas que tem buscado dar visibilidade ao problema e engajar pessoas pela causa é o Fashion Revolution. Uma vez por ano, o site promove em mais de 90 países o Fashion Revolution Day, uma semana em que os consumidores se mobilizam para perguntar às marcas de onde vêm suas roupas através da hashtag #whomademyclothes.

A coordenadora do movimento no Brasil, Fernanda Simon, explica que tudo foi criado por um conselho global de líderes da indústria da moda sustentável, ativistas, imprensa e acadêmicos. “Eles se uniram depois do desabamento do edifício Rana Plaza em Bangladesh, que aconteceu no dia 24 de abril de 2013, deixando mais de 1.133 mortos e 2.500 feridos. A campanha surgiu com os objetivos de aumentar a conscientização sobre o verdadeiro custo da moda e seu impacto em todas as fases do processo de produção e consumo”, ela conta à EM Curitiba. Fernanda também ressalta que o consumidor precisa agir com mais discernimento e entender que deve exigir transparência e processos mais éticos para se tornar um agente da mudança. “A indústria da moda é a segunda que mais polui no mundo, casos de trabalho análogo à escravidão são frequentemente reportados em diversas partes do mundo”. Orsola de Castro, uma das fundadoras do movimento, conclui: “Esperamos que o Fashion Revolution Day inicie um processo de descoberta, aumentando a conscientização sobre o fato de que a compra é apenas o último passo de uma longa jornada que envolve centenas de pessoas, realçando a força de trabalho invisível por trás das roupas que vestimos”. Mas não só por meio de iniciativas como estas que podemos nos guiar. Como dissemos, o movimento é crescente e, hoje, vários sites que falam sobre moda têm essa preocupação de auxiliar o consumidor - do mais antenado ao menos. Separamos alguns dos lugares que você pode seguir, anote e comece a mudança por você.


A plataforma EcoEra tem como objetivo divulgar práticas sustentáveis nas áreas de moda e beleza. A equipe, além do site e das redes sociais, também trabalha com outras quatro frentes voltadas à visibilidade do tema. Eles fornecem consultoria para empresas da área com interesse na sustentabilidade e capacitação para centros de artesanato, promovem eventos, e também anualmente fazem o Prêmio EcoEra. http://www.ecoera.com.br/


A ANGRYmag foi pensada pela estudante de publicidade Karine Bravo depois de desenvolver sua própria marca, Ängry, para o curso de Design de Moda do Centro Europeu, em Curitiba. Unindo os dois cursos, Karine resolveu se engajar no tema da moda sustentável trazendo destaques da cena autoral de moda e de cultura da região. “A ideia é explorar a criação autoral e independente, que não tem espaço nas grandes mídias. Falar sobre marcas que não seguem os calendários de moda e investem na qualidade dos tecidos”, explica. http://angrymag.com.br/


A página Moda Ética é usada pela sua criadora Luciana Duarte para compartilhar pesquisas sobre como a moda pode ser ética, além da outras novidades das áreas do design e da engenharia de produção, sempre pensando nas questões sustentáveis. Por lá também se dá visibilidade aos projetos sociais que Luciana participa. Um deles é o The Street Store, um evento que disponibiliza roupas, calçados e acessórios para que pessoas carentes e em situação de rua possuam liberdade de escolha sobre quantos e quais produtos adquirir. As roupas são todas vindas de doação. “São projetos sociais que têm como um dos objetos a ressocialização das pessoas e a valorização das relações humanizadas”, explica. https://www.facebook.com/ modaetica/?fref=ts


O aplicativo Moda Livre é o jeito mais fácil de saber se a roupa que você usa é de uma marca “do bem” ou se as condições de trabalho de quem produz são precárias e não respeitam os direitos humanos. Na última atualização, de abril deste ano, foram incluídas mais 25 marcas, totalizando hoje 77 grifes e varejistas de moda e suas condutas de produção. De interface totalmente intuitiva, cada marca é sinalizada com avaliações em cores verde, amarelo e vermelho, com detalhes e justificativas em cada item. O app foi criado pela ONG Repórter Brasil e está disponível gratuitamente na App Store e no Google Play.


O Blog Moda Verde, produzido pela jornalista Litza Mattos, tem como principal objetivo servir de guia de produtos e serviços sustentáveis para quem quer começar a consumir com mais consciência, mas não sabe muito bem por onde começar. Como ela afirma na apresentação do site, “mais legal do que comprar uma roupa nova, um cosmético ou ir a um restaurante e fazer uma viagem é saber que por trás de cada atitude dessas pode ter uma ação de responsabilidade social e sustentabilidade, ou seja, um consumo que faz bem para você e para o planeta”. http://www.blogmodaverde.com/


Formada em design de moda, Marina Colerato sempre viu que faltava espaço na mídia de moda para falar sobre novos criadores. Por isso, em 2014 o Modefica foi criado para justamente dar visibilidade a novos criadores e, ao mesmo tempo, falar sobre melhores práticas de produção e consumo de moda, “consumir valores”.“Como acredito que os assuntos precisam ser interseccionalizados para o debate ser realmente coerente, falamos sobre alimentação, questões sociais como racismo e feminismo, e etc. No geral, melhores práticas de vida. Nossa missão maior é inspirar as pessoas e fazer a diferença enquanto a gente estiver na ativa e além”, explica a fundadora. http://www.modefica.com.br/


E, claro, não esquecendo da prata da casa! A Revista que você está lendo, junto com o site Even More, surgiu em 2013 com o intuito de promover a conscientização de compra e o hábito de consumo local. O foco é incentivar as economias regionais para estimular pequenas marcas a se profissionalizarem, além dar visibilidade a produções que não têm espaço em grandes mídias, conectados com movimentos culturais da cidade. http://www.evenmore.com.br/


Fotografia: Renata Wajdowicz | Beleza: Ciristina Maciel | Modelo: Nicolle Impissini | Styling: Carmela Scarpi | Direção de Arte: Lizi Sue | Produção: Even More

URBANA




Camisa: Stitch Bota: Novo Louvre Acessรณrios: Zavvadinack Acessรณrios de Luxo



Casaco: Stitch Wear Acessรณrios: Zavvadinack Acessรณrios de Luxo



Casaco: Stitch Wear Saia: Con Base Acessรณrios: Zavvadinack Acessรณrios de Luxo Sapato: Acervo Pessoal


Vestido renda: Con Base Vestido preto: Intimissimi


Bota: Novo Louvre Acessรณrios: Zavvadinack Acessรณrios de Luxo


Blusa: Con Base Saia: Con Base Acessรณrios: Zavvadinack Acessรณrios de Luxo Bota: Novo Louvre



Blusa: Con Base Saia: Novo Louvre Acessรณrios: Zavvadinack Acessรณrios de Luxo Sapato: Acervo Pessoal




POR RENATA WAJDOWICZ

www.rwfotograямБa.com @renatawaj



COLABORAÇÃO é base da casa carmela scarpi

A primeira casa de coseworking daqui segue, no segundo semestre, com novidades no ramo da inovação e moda


Com recém completado um ano de existência, o primeiro coseworking de Curitiba tem vários planos para unir cidade, inovação e moda. A Casa Base, que abriu suas portas, mesas de corte e máquinas para a cidade no dia 18 de julho de 2015, acaba de consolidar alianças com outros modelos de negócio semelhantes em São Paulo e Santa Catarina para promover trocas entre as Incubadoras de Negócios de Moda do Brasil. O ponto de partida será o primeiro Congresso de Moda, Criatividade e Inovação, promovido em conjunto com o Festival Subtropikal, neste próximo dia 13 de agosto. O dia, que terá painéis de manhã até à noite, já tem presença confirmada do designer Shingo Sato para discutir modelos de negócios de moda ao redor do mundo e promover uma reflexão sobre “o que acontece em termos de inovação no mundo e que aqui no Brasil ainda está incipiente”, comenta Henrique Cabral, um dos fundadores da Casa Base e também cocriador do Subtropikal. O evento será aberto para estudantes, profissionais e, principalmente, acadêmicos. “A gente quer bastante gente da área acadêmica participando, exatamente pra eles poderem ter esse choque de realidade”, finaliza Henrique.

Incubadora de Negócios de Moda Toda a ideia foi uma grande coincidência, providencial, para usar as palavras de Henrique. Acontece que, ano passado, logo depois da abertura da Casa, eles acabaram tomando conhecimento de outras empresas que tinham o mesmo modelo de gestão - de ser uma fomentadora, coworking de produção voltado para a área da moda. Todos esses outros negócios surgiram em uma época próxima e, para estreitar laços, começaram a se falar, para que juntos pudessem se posicionar como movimento, com mais força. “A gente começou a ter conversas mais assíduas a respeito das possibilidades que nós tínhamos enquanto movimento e daí decidimos que tínhamos que fazer nossos valores circularem”, conta Henrique. Foi quando surgiram as primeiras ideias para reunir recursos e esforços que trarão um intercâmbio de experiências entre estes espaços, hoje em São Paulo (Lab Fashion), Curitiba (Casa Base) e Santa Catarina (Fashion LAb, A Oca e Natália Veiga).


Mas calma, como tudo isso começou? Tudo começou com a vontade de Teresa Zanco de ter seu próprio espaço. Ela procurava por um novo local onde pudesse ministrar suas aulas, principalmente sobre TR Cutting, técnica desenvolvida pelo seu antigo professor, Shingo Sato. Junto com Henrique e a arquiteta Denise Moura, eles decidiram abrir a Casa Base. Além dos fins das empresas, a Casa recebe pessoas que buscam na moda uma oportunidade, mas querem antes testar suas habilidades. “Abrir o espaço para outras pessoas também, não apenas para ter um local de trabalho, ou fazer uso dos equipamentos, mas a gente dá uma assessoria de modelagem, de costura de outras coisas que a pessoa possa precisar”, comenta Teresa. Num espaço de criatividade funciona a dinâmica dos dias na Rua Dr. Gulin, 1055. Com algumas empresas físicas no espaço de coworking, um café e muitas ideias circulando, é que a Casa Base segue construindo um verdadeiro sentido de sustentabilidade urbana, onde a inovação é a ferramenta para solucionar os pequenos/grandes problemas modernos.

Banco de tecidos O Banco de tecidos, como o próprio nome sugere, busca correntistas que, ao invés de dinheiro, queiram guardar, trocar, investir aqueles retalhos, peças ou quilômetros de tecido que tenham estocados num canto de casa. Com uma sede lá pela Casa Base, a ideia na verdade foi importada de São Paulo, onde a Lu Bueno, figurinista, desenvolveu o projeto para se desfazer dos quilos de tecido que possuía. Aqui em Curitiba, sob os cuidados do Henrique, o banco funciona de forma bem simples. 20% da venda fica para o local. Você pode vender, trocar, ou apenas comprar; tudo sempre por quilo. E outra, todos os tecidos têm o mesmo valor: R$ 35,00/kg. Caso você tenha um tecido e não queira retirar outro na hora é só fazer um cadastro de correntista e voltar quando precisar. A vantagem é ter um preço muito mais baixo do que o de mercado, além de poder encontrar algumas relíquias.


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