EDIÇÃO 03 OUTUBRO 2014
MODA CULTURA NOIVAS
depois
A BELEZA DE SER E X ATA M E N T E O QUE VOCÊ É.
V I M A X B E A U T Y. C O M . B R
R . Gonç alvez D i a s, 5 3 2, Bate l, Cur itib a (41) 3342.128 6
S ho p p i ng Vi l a O l ímp i a , Rua Olimpíadas, 3 60 l o ja 6 0 1, 5 andar, São Paulo (11) 30 45 .697 9
L O V E
A L L
EDITORIAL
UM NOVO OLHAR O futuro sempre se revela algo incerto, mas carregado de esperança. Depois do êxtase do sonho a pergunta que fica é: e agora? É preciso replanejar (do zero, talvez?). Mas também é preciso refletir, é preciso questionar, é preciso reformular, e tantos outros verbos. Há quase um ano em atividade, a revista eletrônica, EM Curitiba, chega a sua terceira edição. Cada matéria, editorial, cor e abordagem foram aprimoradas ao longo deste tempo e não poderíamos abordar outro assunto se não o DEPOIS. Afinal, nossa vida também gira em torno disto, por que não? A crescente onda de consciência que parece, enfim, ter aberto os olhos de um mundo fashion anestesiado pela velocidade da tendência. Ou talvez, o sentimento de vazio que preenche a posteridade de um grande acontecimento que, neste ano, teve exemplos consideráveis, como a Copa do Mundo e as Eleições. Não precisamos ser tão específicos, que tal relembrar a sensação de terminar um livro, um filme? Sempre somos confrontados, no dia a dia, com decisões de “seguir em frente”, pois quando algo termina é porque outro deve começar. E assim caminhamos pela vida, abrindo e fechando ciclos. Temos que treinar os olhos à mudança. Saber distinguir, naquilo que parece findado, uma nova oportunidade. O editorial “metamorfose” é isto, o novo, o belo que surge daquilo que ninguém mais olharia, como um barranco na beira de uma estrada. Nesta edição é isto que você encontrará. Você será inundado pela dúvida, para então descobrir novos caminhos. Seja o fim de um desfile, um livro, um vestido de casamento; a possibilidade é sempre infinita para quem estiver disposto a ver além. E, para citar aquele que inspirou o início de todo esse processo que hoje conhecemos como Even More, terminamos com Paul Arden, pois “isto não é o fim. É um novo começo”.
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Monyque Araujo, fotografada por Estúdio Sossella Produção e Styling: Even More Beauty: Vimax Art Hair Beauty
EX PE DI EN TE
Diretora de Redação: CARMELA SCARPI (carmela@evenmore.com.br) Diretora de Criação: MARI KAMINSKI (mari@evenmore.com.br) Projeto gráfico: CARMELA SCARPI E MARI KAMINSKI Redação: Editora de moda, noivas e cultura CARMELA SCARPI; Repórteres de cultura BEATRIZ MATTEI, RENATA ORTEGA Colaboradores: ANDERSON MIRANDA, CRISTINA MACIEL, HANNAH GIORDANO, HARRIETE SCARPI, ESTÚDIO SOSSELLA, VALMIR ROSSARI, VIMAX HAIR BEAUTY. Revisão: CARMELA SCARPI Ilustrações: MARI KAMINSKI A revista digital EM Curitiba é uma publicação produzida pela equipe do grupo Even More. Todos os direitos são reservados. É proibida a reprodução de qualquer tipo de conteúdo sem a autorização prévia e por escrito. Todas as informações técnicas, bem como anúncios e opiniões expressados, são de responsabilidade dos autores que estes assinam. Serviço de atendimento ao consumidor: contato@evenmore.com.br Anúncio e Publicidade: www.evenmore.com.br
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[ Meu querido diário, hoje foi dia de passar a tarde...]
Novo, de novo
O outro lado da tendência
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EDITORIAL: Metamorfose
Pós-produção, a arte das escolhas
Depois de tanto pedir, enfim atendidos
Um contentar descontente
Foi assim que aconteceu...
Casei, e agora?
EDITORIAL: chega ao fim, a festa
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ENTREVISTA: Anderson Miranda
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[Meu querido diรกrio, hoje foi dia de passar a tarde...] por CARMELA SCARPI
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oje eu fui almoçar cedo, afinal o brechó abre às 12hrs e quero estar por lá pelo menos às 13. É uma sexta, num anúncio nada animador de um final de semana que promete chuva [no fim das contas fez um super Sol]. Cheguei e a Cá [uma das sócias] já estava me esperando quase desacreditada da minha presença pelo temporal que rolava até então.
Não me aguento, entrei e já fui olhando as coisas quase me esquecendo de que aquele era um dia de observar, e não comprar. Até quase umas 15h fomos apenas nós duas. Demos uma volta ao mundo (fashion, claro) nas conversas despretensiosas, quando aproveito para saber qual o maior estigma que as pessoas relatam sobre a compra em brechós. “Roupa de defunto” é o pensamento que ganha disparado. Rimos muito até que o interfone toca. O primeiro cliente a entrar na loja naquele dia preguiçoso, na realidade é um casal. Cariocas, estavam há 10 dias em Curitiba e ~ CLARO ~ a conversa acaba tomando o rumo: tempo! Apesar dos seguidos dias de Sol, a sexta de chuva e “frio” [que de gelado não tinha lá essas coisas] chamaram a atenção do casal. De resto, eles amaram a cidade, e se surpreenderam positivamente com a galera daqui. [Nota mental: só somos antipáticos quando queremos haha]. Indicamos roupas e bairros, afinal eles estavam em um flat e por lá ficariam por alguns meses até decidirem onde morar. Ela ama as roupas, elogia o trabalho e diz que fez uma busca por [brechós Curitiba] e achou o endereço. Eles tinham o costume de frequentar bazares no Rio, substituíram de cara por brechós em Cwb. Saem de sacola na mão e com a promessa de voltar em breve.
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Passa mais um tempo do nosso bate-papo sobre parcerias, expectativas de vida e o estoque da loja quando chega outra cliente, dessa vez conhecida. Segundo ela: “o casaco ficou perfeito, mas hoje só passei para dar um olá”. Em outra ocasião virá para compras. Voltamos a conversar e o Sol resolve dar as caras numa tentativa um pouco frustrada, porém, deixa o dia menos ‘cama com filme’ e mais ‘volta na quadra com o cachorro’. A calmaria não dura muito, e logo o interfone toca para iniciar o que seria uma leva de clientes. A começar por duas amigas, na casa dos 40 e tantos, que nos divertiram por algum tempo. Uma delas já veio, a outra foi por indicação da amiga. As duas parecem uns furacões. Olham, pegam, perguntam e provam numa velocidade que desafiava as leis da física. O motivo: a empregada da que já havia consumido anteriormente tinha que ir embora e ela PRE-CI-SA-VA voltar para ficar com o filho pequeno. “Deus me livre perder mais uma empregada”, e com esta declaração partimos para o momento em que o provador é mero enfeite. Dá pra trocar de roupa no
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meio da loja tranquilo, a pressa é muita. A que veio a primeira vez recebe uma ligação do marido e resolve o problema, ele ficará com o filho da amiga - e provável vizinha. A cota extra de tempo faz com que a busca por uma roupa de coquetel para um lançamento vire uma coletânea de outras roupas e sapatos e acessórios... A sacola segue enchendo. Quase no final das compras das amigas, toca novamente o interfone e, desta vez, uma mulher mais recatada entra e pergunta se pode dar uma olhada nas roupas. “Claro, pode sim, fique a vontade”. Ela carrega uma sacola já. Nisso, a atenção volta-se novamente para as amigas que entram num papo sobre chegar em casa com compras escondidas. “Você já fez isso?”. Todo mundo ri. A mais tímida se arrisca na conversa e o frenesi continua. Entre convites, sugestões e elogios as duas encerram suas atividades naquele recinto e partem para acudir maridos e filhos abandonados em prol da boa tarde de compras. Com tudo reestabelecido, a mulher da sacola continua a olhar as araras e diz que trouxe algumas roupas para serem avaliadas pelo brechó. Descobrimos
o que estava guardado no pacote, enfim. Ela diz que uma calça comprada da última visita deu certo para sua filha; prova uma saia e leva aquilo. Mais um tempinho só nós duas e o som da clientela chegando volta a soar. Desta vez, uma consumidora fiel e amiga já. Ela trabalha ali perto e, sempre que pode, dá um pulinho para comprar uma peça ou outra. Prova um shorts de couro, uma camisa, um vestido, tudo num estilo bem mais descolado. Mas acaba ficando com o shorts. “Eu não me aguento com o couro”. Com a promessa de voltar na semana de pagamento e levar algumas outras coisas, ela diz que tem que ser rápida, afinal, “tudo sai bem rápido aqui”. Se despede e vai. Já é quase hora de ir. A Cá me
pergunta se tudo deu certo, se consegui material, afinal tinha sido um dia mais tranquilo pela questão do clima. Brinco e digo que se eu tivesse mais personagens talvez pudesse fazer um livro. Toca o interfone novamente. Entra uma mulher na idade das duas amigas que agitaram a tarde. Ela diz que teve dificuldade de achar o local. [o brechó não fica virado para a rua, e sim num corredor térreo de um prédio, e a indicação de entrada é um cavalete na calçada]. Mas conta que achou o endereço pela internet e que acompanha a pagina do Facebook. Hoje ela passou só para olhar, mas saí distribuindo elogios. “Não tem aquele jeito de brechó, parece uma loja”. Contente com o resultado do dia, me despeço. Nas ultimas ano-
tações do meu caderno coloco uma observação: qualquer coisa que eu poderia ter imaginado aconteceu. Não há estereótipo. Eram mulheres mais velhas, novas, casadas, com filhos ou sem. Que foram comprar roupas de festa, dia-a-dia, vender ou “dar uma olhadinha”. O consumo de segunda mão tem adentrado a vida de forma habitual nos últimos tempos, ao menos para mim. Para quem está no ramo, não há do que reclamar, existe mercado e há gente querendo encontrar aquele par de chinelos, contanto que não sejam tão velhos assim. Eu, como não sou de ferro, fechei minha própria compra, peguei a sacola e parti para casa.
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PRODUÇÃO E STYLING: EVEN MORE FOTOGRAFIA: EVEN MORE ACESSÓRIOS, ROUPAS E SAPATOS: LAVÔ TÁ NOVO BRECHÓ BEAUTY: HANNAH GIORDANO MODELO: ADRIANA BASSO
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DE NOVO A reciclagem e o reuso viram técnica e moeda de troca numa moda cada vez mais consciente. por CARMELA SCARPI
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m um movimento crescente, as alternativas de reutilização de peças prontas, ou até mesmo de materiais, têm se evidenciado no mundo fashion. O produto retornável já não é sinônimo de desvalorização, pelo contrário. Ser sustentável, hoje, é um diferencial muito positivo no mercado. Quisera um dia que ele fosse um pressuposto. Afinal, quando uma roupa é adquirida no fervor do desejo e da tendência, pouco se pensa sobre o que acontecerá depois, quando a moda passar. Numa percepção sobre as roupas de seus clientes, o estilista Roberto Arad começou a praticar uma ideia simples. “Como eu achava que as roupas usadas e gastas, algumas vezes, ficavam melhores do que o modelo novo eu propus de trocar a peça por desconto na coleção nova”, conta.
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Roberto sempre teve uma preocupação em criar roupas com identidade e história. Não apenas o tecido, a moda. No ritmo do slow fashion de sua produção, ele decidiu confrontar também as épocas de liquidação. “As pessoas não percebem que elas estão comprando um excedente, não param para pensar nisso, que a peça na realidade não tem valor”, diz. Nesta contramão, durante as semanas típicas de histeria dos descontos em shoppings centers, ele convida seus clientes a trocarem suas peças antigas por porcentagens de desconto em novas. Arad ainda está fazendo o acervo, mas a intenção é reciclar as peças, transformar algumas, e criar um corner da loja destinada à venda das peças sob o nome de Relabel. Alexandre Linhares, estilista da Heroína – Alexandre Linhares, também procura transmitir esta consciência para seus clientes, mas o faz através de todo o seu processo de criação e confecção. Com características muito bem definidas, a marca segue seus princípios em detrimento à abordagem comercial mais difundida. Assim como Arad, a Heroína é uma história que se compra e que se veste. Neste ritmo, as peças são confeccionadas com pedaços de tecidos que seriam descartados por ateliers e a própria indústria. As “sobras” tornam-se material de trabalho para as coleções. Outros recursos, como tintas, também são aproveitados em totalidade. “A água
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“A água em que diluímos as tintas também é usada para criar texturas em outras peças”, ALEXANDRE LINHARES.
em que diluímos as tintas também é usada para criar texturas em outras peças”, conta Alexandre. O tecido é mergulhado na água com tinta e lá fica até a total secagem. “Dessa forma não jogamos a água suja pelo ralo também”, termina. A política é basicamente a de que tudo que entra deve ser transformado, o mínimo é descartado como lixo. Além da preocupação ambiental na confecção das novas coleções, a Heroína também faz, para alguns clientes, processos de customização de roupas, para que elas não sejam jogados fora. “Nós já transformamos peças comuns em coisas lindas e únicas”, conta. Seja de sua marca ou não, a intenção é não fazer com que um furo ou rasgo encurte a vida da peça. “Nós damos uma sobrevida para ela, de outra forma”. O interessante de perceber é que tais iniciativas são sempre muito bem aceitas pelos clientes, o que gratifica e estimula a produção de projetos que promovam uma transformação no ato de consumir. Afinal, pense sempre que, em um mundo cheio de descartes, você também será descartável.
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Imagem acervo pessoal
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O OUTRO de concretizado o desfile e passada a temporada, é LADO DA preciso continuar a girar TENDÊNCIA a máquina fashion. Depois de lançada a coleção,
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ivemos em um mundo em que a ansiedade é o maior catalisador de problemas emocionais. Somos antecipados, em tudo. A última tendência, o próximo desfile, o desejo pelo sapato it que mal saiu das passarelas. Mas e depois disso? Como movimentar a ânsia pelo novo e, ao mesmo tempo, administrar os terríveis excedentes? Prever o “dia depois de amanhã” deve fazer parte do planejamento fashion, em qualquer uma de suas ramificações. Afinal, o encerramento de uma temporada é apenas o impulso para criar novamente. O depois também é antecipado para que não surpreenda e nem traga desvantagens. Viver no frenesi da moda faz parte da vida do produtor Paulo Martins. Um dos criadores do Prêmio João Turin e produtor do Paraná Business Collection até 2012; ele também traz em sua vasta experiência a realização do Crystal Fashion e Curitiba Fashion Art. “Eu tive experiências tanto em produções bem comerciais, como em outras que procuravam mostrar o lado mais artístico do estado”, conta Paulo. Mas, para ele, independente do motivo pelo qual o desfile ou
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evento seria realizado; a preocupação com a perfeição é sempre a mesma. “Eu me cobro muito, então acredito que nada menos do que o melhor deve ser apresentado. E, claro, sempre conto com uma equipe muito profissional”. Contudo, no mundo da moda não basta fazer bem feito uma vez, é preciso se superar a cada dia. “A cada fim de desfile ou evento acredito que o primeiro sentimento seja de insatisfação. Mas no bom sentido, e é isso que me motiva a
sempre melhorar. Porque quando você está satisfeito com o resultado, você não tem mais o que aperfeiçoar”, revela. E não só a vontade de fazer ainda melhor, como também o planejamento das próximas temporadas. Afinal, nem bem um evento destes termina e o próximo já está pronto na cabeça de quem sabe que, depois de fechar as cortinas e agradecer à equipe é hora de voltar ao trabalho e preparar o futuro.
O EXCEDENTE Porém, não é apenas no universo de eventos que o planejamento e a antecipação são fundamentais. Para quem confecciona e vende a moda, esse papel de garantir o “depois” é tão essencial quanto. Para Heloísa Strobel, estilista e criadora da marca curitibana Reptilia, a produção planejada é um dos cernes do seu trabalho. “Fazemos uma moda muito artesanal, com materiais muito caros e difíceis de trabalhar. Por estes motivos as coleções são menores”, conta. Além de garantir que as peças não sejam pulverizadas no mercado, como ocorrem com marcas mais populares, a identidade fica preservada com a unicidade da roupa. Heloísa procura garantir que cada coleção seja especial, desta forma as quantidade menores e o máximo aproveitamento do seu material são os maiores fatores que a fazem planejar coleções com números reduzidos, o que evitará excedentes de coleções. “E também temos peças coringas que servem para qualquer coleção e podem ser reapresentadas”, diz. O fato reforça ainda mais a premissa sustentável que também é fator diferencial da Reptilia. Mas não apenas quem produz, como quem comercializa, precisa traçar o destino das ditas “coleções
passadas”. Camila Andreoli, que enfrenta hoje os primeiros desafios das trocas de coleções em sua nova loja de lingerie, a Appassionata, conta que as promoções são sempre a saída. “Compramos os produtos da moda e, quando passada a temporada, guardamos para sempre oferecer promoção.”, conta. Para Camila isso traz um diferencial para a loja, além de solucionar a questão das peças estocadas. “Têm pessoas que são movidas a promoções, por isso sempre oferecemos algumas com o excedente das coleções anteriores”, revela. Para ela, o fato de a loja vender lingerie ajuda um pouco, afinal, mesmo existindo as modas mais pontuais, a maioria dos produtos tem uma permanência boa. E, mesmo assim, Camila já prevê uma saída para as peças mais encalhadas. A Appassionata já tem alguns planos de promover grandes bazares (um atrativo maior que as promoções da loja) e mesmo movimentar algumas campanhas de doação, para fazer girar o estoque. Com estratégias inteligentes as marcas e lojas podem reciclar suas coleções, afinal com um consumo tão desenfreado, o troca-troca de tendências é mais um desafio a mais para quem entra no mercado.
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ESTĂšDIO SOSSELLA www.estudiosossella.blogspot.com.br/ sossella@sossella.com.br (41) 3362.8787
Rua Sete de Abril, 196 Alto da XV - Curitiba
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A BELEZA DO NOVO NOS FINS DOS CAMINHOS
PRODUÇÃO E STYLING: EVEN MORE BEAUTY: VIMAX ART HAIR BEUTY FOTOGRAFIA: ESTÚDIO SOSSELLA MODELO: MONYQUE ARAUJO - CASABLANCA
ACESSÓRIOS: RODRIGO ALARCÓN BODY: RARHA BEACH COUTURE
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ACESSÓRIOS: SALMA NASSER BLUSA: REPTILIA
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ACESSÓRIOS: SALMA NASSER BLUSA: HEROÍNA - ALEXANDRE LINHARES
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ACESSÓRIOS: RODRIGO ALARCÓN VESTIDO: REPTILIA
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ACESSÓRIOS: RODRIGO ALARCÓN VESTIDO: HEROÍNA - ALEXANDRE LINHARES
ACESSÓRIOS: RODRIGO ALARCÓN VESTIDO: HEROÍNA - ALEXANDRE LINHARES SAPATO: ACERVO PESSOAL
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CULTURA
CULTURA
PÓS-PRODUÇÃO, A ARTE DAS ESCOLHAS Depois das gravações feitas, o mundo da edição cinematográfica e publicitária entra em cena para finalizar o processo de construção do filme. por CARMELA SCARPI
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o mundo do cinema os atores e atrizes brilham. Os diretores são temidos. Os roteiristas aplaudidos. E, volta e meia, naqueles clássicos que dependem quase exclusivamente de uma mente perspicaz e paciente, os efeitos especiais ganham seus trunfos. Contudo, a pós-produção envolve muito mais do que o pequeno mundo dos efeitos especiais. Grandes e dispendiosas produções hollywoodianas nos servem de exemplo, porém nunca de parâmetro. A produção independente também depende e muito daqueles que são os responsáveis pela finalização de todo um trabalho conjunto. De dar vida à imaginação de um diretor e de arrumar um erro ou outro que o pessoal do set deixou escapar. Depois de gravado, o filme está longe de ficar pronto. E para descobrir, afinal, o que é esse mundo da pós-produção nada melhor do saber direto daqueles que vivem de filmes. André Albuquerque e Bernardo Tomsons são sócios na produtora curitibana Trunkshot Studios. Com foco em campanhas publicitárias e vídeos institucionais, eles avaliam a pós-produção como uma consequência do que tenha sido o trabalho antes das gravações. “Quanto mais você planeja, quanto mais você fecha a decupagem do roteiro antes de abrir a câmera, mais rápido será o trabalho de edição”, conta Bernardo. Isso inclui definir com precisão todos os detalhes, estar atento no set de filmagens e anotar previamente os takes
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que ficaram melhores em cada cena. “Filme publicitário com roteiro, storyboard, decupagem e, no dia da filmagem, com anotações de um boletim de câmera você edita com muita facilidade”, disse André que faz as vezes de editor quando necessário. Os sócios confirmam: o trabalho mais pesado fica por conta de efeitos de finalização mais elaborados (como animações, lettering); ou quando a captação se dá em cobertura de evento, que não tem um roteiro fechado. “Produções mais abertas demoram muito mais, porque você tem que assistir e montar todo o material depois. Já chegamos a uma semana e meia só de montagem.”, fala André. Mas, evidentemente, que, quanto mais elaborado o trabalho de finalização, maior o diálogo e necessidade de sintonia entre editor e diretor. Em casos de animação ou inserções 3D eles recomendam que o responsável pela pós-produção atue no set como um
PARA LEIGOS
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co-diretor. Assim, quando as cenas forem gravadas já é possível que ele dê seu “ok” para os espaços e interações que serão aplicados posteriormente. E este constante diálogo entre direção e edição é ainda mais intenso dentro do mundo do cinema, pelo menos para Angélica Rodrigues. A publicitária está finalizando seu curso de cinema e tem experiência na produção audiovisual desde os tempos do início da faculdade. “A edição é outra etapa criativa, tão importante quanto à produção do roteiro”, conta Angélica. Por isso, se os responsáveis não estiverem em sintonia a mensagem será resignificada. Afinal, para ela, a pós-produção não compreende apenas a montagem das cenas como foram descritas no roteiro. Na área do cinema há muito trabalho artístico por parte dos editores em terem a sensibilidade na construção do clima da cena, seja com cor, sonoplastia, fragmentação e reconstrução de cenas.
Decupagem
Takes
É a divisão das cenas em seus planos junto com indicação de cortes e montagens.
Em português “tomada”, significa cada uma das capturas de câmera feitas de determinados planos do roteiro.
“Existe um mesmo princípio que governa todas as formas de edição; mas, no caso do cinema, que tem uma história, um significado e um sentimento a ser transmitido em cada cena, se o editor não estiver por dentro daquilo, se ele não conhecer o roteiro intimamente, ele poderá resignificar tudo”, diz. É por isso que muitos diretores consagrados fazem a própria pós-produção, ou, ao menos, acompanham de perto todo o trabalho de finalização do filme, como no caso de Hitchcock, conta Angélica, que acompanhava o trabalho nas “ilhas de edição”. Em suas produções, como diretora,
ela também fez questão de editar, para obter o resultado conforme concebido na pré-produção, com definição do roteiro. Em relação ao tempo dedicado à pós-produção no cinema, Angélica confirma a incerteza que existe na produção de filmes publicitários. Para ela, o básico é a ordenação das imagens e trabalho de som, equalização, uma vez que a captação de falas é feita em gravador à parte. “O que vem depois é como lapidar o diamante”, define. Em linhas gerais, contudo, ela acredita que a pós-produção demande um tempo superior à própria produção por ser um momento mais intenso de
se fazer escolhas. “Por isso, às vezes, você grava um filme e demora um tempão para ele ficar pronto, é um trabalho de refinamento do seu material total”. E, por mais que o olhar e a mensagem sejam direcionados pelo diretor do filme, fazer a dinâmica da montagem funcionar de acordo com a decupagem, revela, para a futura cineasta que sim, o editor é “um poeta das imagens”. E, como todo trabalho artístico, o reconhecimento de seu valor e a demanda do seu tempo, é fundamental para que o resultado final fique perfeito, seja para o cliente da agência, seja para o espectador do cinema.
Storyboard
Boletim de Câmera
Lettering
É uma sequência concebida de forma gráfica para pré-visualizar o filme.
Indicação dos melhores takes, feito no momento da captação das imagens.
Inserções de elementos escritos dentro da cena.
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CULTURA
Curiosidades sobre pós-produção 1. O macaco usado para o filme King Kong, em 1933, parecia ser gigantesco certo?! Mas, na realidade, o modelo tinha somente 40 centímetros de altura. Além das câmeras concederem o ângulo certo de aumento do modelo, as sombras e efeitos visuais foram essenciais para darem vida ao mais famoso macaco do cinema. 2. No mesmo sentido do item acima, em “Casablanca”, na sequência em que o major Strasser desembarca no aeroporto, os oficiais vistos de cima, na verdade, foram interpretados por anões para que a pista parecesse maior. O truque da filmagem poupou tempo e dinheiro na pós produção! Realmente, a figura do produtor como co-diretor faz toda a diferença! 3. E quando o ódio entre os atores vai para além das câmeras, a equipe de edição faz milagres! Os atores Peter Sellers e Orson Welles que fizeram uma cena juntos em “Casino Royale”, de 1967, em que um era adversário do outro num jogo de cartas, não chegaram nem a se cruzar no set de filmagem. Ocorre que eles se detestavam tanto que a cena teve que ser filmada em diferentes dias e, claro, a edição fez a magia de ambos estarem no mesmo local e horário dando sequência lógica ao longa. 4. Para aqueles que achavam que Avatar ou Titanic ocupavam o posto de filme mais caro do cinema, sinto em informar que, na realidade, a versão russa de Guerra e Paz dirigida por Sergei Bondarchuck, em 1968, acabou gastando mais. Mesmo sem grandes efeitos visuais ou especiais, o filme precisou de um investimento, incluindo o custo da inflação, de 560
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milhões de euros. Agora, levanta a mão quem já viu esta obra?! 5. Devido à falta de tecnologia de reprodução de imagem, o filme Gandhi, de 1982, de Richard Attenborough ficou marcado na história do cinema por ter usado o maior número de figurantes: foram mais de 300.000. Imagina o trabalho para organizar todos eles?! 6. No quesito duração, a produção mais longa foi do épico francês “Napoleón”, de 1927, de Abel Gance, que consumiu três anos. O longa além de ter exigido locações em seis cidades, 150 cenários, 200 técnicos, quatro mil armas de fogo, seis mil atores extras, oito mil figurinos e teve dois mortos e 42 feridos em cenas perigosas, passou boa parte do tempo na mão dos editores, que trabalhavam enquanto as filmagens ainda estavam em curso. Um trabalhão só! 7. O primeiro filme inteiramente rodado a cores foi “Becky Sharp”, de Rouben Mamoulian, produzido pela RKO em 1935. Os técnicos utilizaram o sistema Technicolor, testado por vários estúdios desde a década de 1920. Curiosamente a supremacia no uso da cor caberia por muitas décadas à 20th Century Fox, que rapidamente desenvolveu e aperfeiçoou o processo. Ocorre que à maioria das pessoas não faz ideia da importância dos avanços produzidos pelos estúdios Fox, lembrando-se apenas da música marcante de cada início de sessão. 8. Os produtores que querem concorrer ao Oscar de Melhor Filme precisam cumprir com algumas exi-
por BEATRIZ MATTEI
gências, dentre elas é necessário que a projeção tenha resolução de 2048x1080 pixels, ter sido exibida por pelo menos uma semana em Los Angeles e ter mais de 40 minutos de duração. Um tanto bizarro né?! 9. Vale lembrar que a diferença significativa entre efeitos especiais e efeitos visuais. Enquanto aquele se refere a qualquer alteração técnica de uma cena que não pode ser reproduzida ao vivo, este se preocupa na qualidade óptica e na manipulação fotográfica especificamente e que hoje é massivamente produzida pela computação gráfica. 10. Dessa forma, os efeitos especiais podem ser categorizados em três tipos, sendo eles: efeitos sonoros, que são produzidos digitalmente ou com auxílio de mixagem de som; efeitos visuais, produzidos digitalmente com auxílio da computação gráfica e os efeitos físicos, que são práticas ao vivo de alteração de ambiente, provinda do auxílio de maquiagens, sets, pirotecnia e cenários.
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CULTURA
DEPOIS DE TANTO PEDIR, ENFIM ATENDIDOS Os t達o criticados cavaletes de propaganda eleitoral enfim ter達o o destino tra巽ado, mas n達o agora. por CARMELA SCARPI
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s eleições do ano de 2014 vieram com uma certeza: é o marco final de uma conduta que há tempos vem sendo criticada pelos eleitores, e enfim foi ouvida. Depois de tantas mobilizações populares e artísticas, de intervenção e insistência; pode-se dizer que passada a campanha deste ano, será proibida, definitivamente, a utilização de cavaletes de propaganda eleitoral pelas ruas. Desde 2010 nas redes sociais, ou até mesmo antes no mundo offline, podia-se notar a desaprovação popular acerca do método de divulgação de nomes, números e slogans que muitos candidatos se valiam.
Os cavaletes; que significavam para alguns desde a produção de lixo pós-eleitoral até o perigo para motoristas e pedestres; serão tirados de circulação pra a alegria de muitos manifestantes virtuais e/ou reais. Mas, para que isto fosse possível houve uma pressão social grande com atitudes que poderiam ser consideradas como no limiar da irregularidade, a fim de demonstrar, período a período, o descontentamento em relação a esta forma de propaganda eleitoral. Dentre protestos mais ou menos radicais, explicamos um pouco sobre como se deram as mobilizações contra os cavaletes, e em que momento a lei mudou.
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CULTURA
OS MOVIMENTOS Ter acesso à internet e realizar uma busca rápida e despreocupada sobre “movimentos contra cavaletes” significa vislumbrar diferentes formas de combate popular aos objetos. Existem aqueles que estimulam a arte, como o Cavalete Parede que, desde as eleições passadas – 2012, transforma a propaganda em material para criação de intervenções artísticas. A campanha estimulava as pessoas a se apropriarem de um cavalete, transformá-lo em alguma peça de arte, descaracterizando por completo a publicidade eleitoral; e exibi-los em um dia e horário marcados em praças/ ruas de diferentes cidades, como forma de protesto. Neste ano, divulgada como a última edição do evento, foram 15 cidades participantes ao redor do país, com um total superior a 22 mil seguidores na página “nacional” do Facebook. Infelizmente, tentamos contato com a organização do evento e não obtivemos resposta. Mas a intervenção marcada para o dia 27 de setembro, uma semana antes do primeiro turno, foi noticiada pela rede online. Outros tantos movimentos também demonstraram a insatisfação, às vezes de forma muito mais direta e “vingativa”. A página de Facebook “Sujo sua Cara”,
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por exemplo, incita cidadãos a pintarem os rostos de políticos nos cavaletes, registrarem a obra e enviarem para serem exibidos na rede como forma de protesto. Mesmo tendo surgido na cidade de Porto Alegre – RS, durante as eleições de 2010, a internet possibilitou que a ideia se alastrasse pelo Brasil com destaque hoje para cidades como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. O principal objetivo da campanha é divulgar a insatisfação para tentar coibir a poluição visual causada pelo uso exagerado de cavaletes e cartazes. Além de que, “muitas vezes [os cavaletes] obstruem a passagem de pedestres, dificultam a visão de condutores quando colocados em canteiros e rotatórias, entopem bocas de lobo e poluem os rios em dias de chuva, sem contar com o perigo de atingir uma pessoa em dias de vento”, comentam os administradores da página. Para manter a regularidade do protesto, contudo, eles julgam alvo de “intervenções artísticas” somente os materiais irregulares: panfletos jogados ao chão ou cavaletes dispostos em locais e horários proibidos pela lei que regulamenta a Propaganda Eleitoral (Lei nº 9.504/1997).
A LEGISLAÇÃO A dita Lei previa, até dezembro do ano passado (2013), a possibilidade de colocação de cavaletes em vias públicas desde que não atrapalhassem a circulação de pedestres e veículos e fossem móveis, uma vez que deveriam ser retiradas no período entre às 22 horas até às 6 horas do dia seguinte (art. 37 e parágrafos da Lei nº 9.504/1997). Ou seja, não poderiam permanecer nas ruas durante a noite. Porém, mesmo com todas as regulamentações que restringiam, inclusive, o tamanho limite em que os objetos poderiam ser confeccionados, havia apreensões em quantidades significativas. E não apenas em horários proibidos, uma vez que no dia 20 de setembro uma operação realizada pelo TRE-PR durante o dia confiscou mais 800 cavaletes e cartazes em situações diversas de irregularidade, como fixados a postes, arbustos e obstruindo visão de motoristas. Fato que demonstra o descaso tanto quanto à segurança quanto com a poluição visual da cidade. E, falando nisso, para aqueles que pesquisaram e encontram di-
versas leis municipais que regulamentam a poluição visual urbana, o analista de controle do Tribunal de Contas, Harry Avon, explica: “mesmo havendo essas restrições e preocupações locais, o momento da eleição é extraordinário. A lei da propaganda eleitoral é mais específica do que a lei geral municipal, por isso prevalece, além de que, como tem âmbito federal, também se sobrepõe ao interesse local”. Para Harry, os movimentos contra os cavaletes têm sua razão de existir, contudo, é preciso ter cuidado com manifestações que se empoderam de atribuições destinadas aos órgãos públicos. “Se você tira da rua, ou vandaliza um cavalete supostamente regular, você é quem está praticando a irregularidade, é preciso tomar cuidados com estas atitudes”. Para ele, antes de intervir particularmente, é preciso, antes de tudo, ter a consciência de também denunciar junto ao órgão competente da justiça eleitoral, para que o número seja registrado e a insatisfação seja monitorada dentro da burocracia pública. Porém, tais atitudes não serão
mais necessárias, uma vez que no dia 11 de dezembro de 2013, foi aprovada uma nova lei que modifica, em parte, a posterior regulamentação, dentre outras diversas leis acerca de eleições. Batizada de “Minirreforma Eleitoral”, a Lei 12.891/2013 retira o verbete cavaletes (e também bonecos e cartazes) do parágrafo que delimita as condições para utilização. Ou seja, a partir de 2016, não serão mais permitidos estes tipos de publicidde. A não restrição nestas eleições se explica pelo fato de que, conforme prevê a Constituição, no art. 16: “a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorre até um ano da data da sua vigência”. Por este motivo, as eleições 2014 deixarão um gosto de vitória na posteridade. Um movimento popular contínuo que, mesmo depois de perder algumas levas de eleições, chega aos seus últimos dias com a sensação de que o fim, na verdade é um novo começo. Com o encerramento deste primeiro turno já dá até para começar a contagem regressiva.
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CULTURA
Um Contenta r Desconte nte
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Já com nostalgia, ela folheia suas páginas lentamente. Fecha-o, então, com a brevidade característica dos desalentados. “Acabou!”, sussurra a si mesma tentando ser convincente. Segundos depois, sente seu cheiro como se pela última vez. Afaga-o próximo ao coração, sem a convicção necessária à separação. Hesita em olhá-lo novamente. Por fim, admira sua capa. Abre-o, mais uma vez, em uma página qualquer. Lê com avidez as palavras ali grafadas, na busca minuciosa de um detalhe que possa ter escapado. Então, para! E respira fundo. Um bom livro, quando chega ao fim, deixa sempre um contentar descontente. Se satisfaz-nos com a surpresa do desfecho, com a conclusão de uma bela história, ao mesmo tempo, entristece-nos com o fim da leitura prazerosa. Abandoná-lo se transforma em uma instigante desventura – há até quem postergue o parágrafo final, a frase derradeira. Pois, quem lê sabe ser impossível concluir uma grande obra sem lamentar o ‘adeus’ de sua companhia. É como se as últimas páginas marcassem também o inexplicável encontro da euforia com a desolação. Mais que de repente, aquele mundo repleto de cenários e personagens já familiares, que há pouco se descortinou tão sedutor, despede-se. E abre espaço para novas descobertas, que começarão assim que abrirmos um novo livro. por RENATA ORTEGA
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III
NOIVAS
NOIVAS
FOI ASSIM QUE ACONTECEU Depois da festa, o encontro e desencontro da maquiadora Neusa Almeida com sua cliente, no outro extremo do Brasil.
“P
roduzi uma noiva numa sexta-feira, e no domingo ela ia viajar, de lua de mel, para Fortaleza – CE. Eu ia com meu marido para Fortaleza naquela data também, mas não comentei nada com ela porque achei que não convinha falar: ‘ah, você vai fazer um roteiro que eu’.
Cheguei no sábado em Fortaleza e ela chegou no domingo. Quando foi na segunda-feira coincidiu que nós fomos fazer o mesmo passeio - peguei aqueles pacotes turísticos de passeios. Entrei na van no meu hotel, na verdade não era uma van, era um micro ônibus, que cabia muita gente. Entrei e meu banco era o primeiro, eu e meu marido éramos os primeiros. No próximo hotel, quem eu vejo saindo? A noiva de sexta. Daí eu falei: ‘puxa vida, que terrível coincidência né? Mas tudo bem, vou fazer uma brincadeirinha, vai descontrair e tudo certo’.
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Quando abriu a porta do ônibus, que eles entraram, ela, na hora, não me percebeu, mas o noivo percebeu e a cutucou. Ela olhou e falou: - Oi Neusa, tudo bem? E eu: - Ahh tudo bem, você viu eu estou por aqui, surpresa, tua mãe me contratou para eu cuidar do teu visual aqui.
Você não faz ideia do que era a plateia de turistas dentro do ônibus, todo mundo olhando e ninguém entendia o que estava acontecendo. Eles entraram, ele puxou ela lá para o fundo, sentaram lá no fundão e ficou aquele ar pesaaado, aquele climão dentro micro ônibus e eu não sabia o que fazer, né?
Menina, o cara subiu nas tamancas. Ele falou:
Daí bom, o que é que aconteceu? A guia não falou nada, paramos no primeiro passeio, e quando voltou todo o grupo para dentro do micro ônibus guia disse:
- Eu não acredito que minha sogra chegou a esse ponto! Como que a senhora, uma profissional, se propõe a um trabalho tão nojento deste. Vocês estão invadindo nossa privacidade.
- Bom, então agora que está todo mundo mais descontraído, já passou o susto, vamos às apresentações. Eu gostaria que cada um fosse se levantando e se apresente.
Ele começou a brigar comigo, eu quis dizer que era uma brincadeira, mas o cara desatou a falar e não me dava tempo de explicar.
Eu tava sentada nos primeiros bancos, sentada do lado direito e a guia deu liberdade para as pessoas que estavam do lado esquerdo, todo mundo se apresentando então, um era de Minas, outro de Belém, e assim foi. Da quando chegou neles, o noivo falou assim:
- Isso é um absurdo, você acha que ela precisa estar a toda hora se retocando? A senhora pode pegar o vôo em que veio e voltar para Curitiba. Eu pago o dobro para a senhora ir para longe daqui. E meu marido do lado simplesmente se encolheu no banco e ria para caramba. E eu queria contar que não era nada daquilo, que era uma brincadeira. Bom ele falou pra mim tudo que ele queria, quando ele terminou eu olhei pra ele e falei assim: - Desculpe era uma brincadeira, é só uma coincidência. Daí ele pegou e me deu outra bronca: - Onde já se viu, a senhora brincando com coisa séria, você conhece muito bem a minha sogra, você sabe que ela seria capaz.
- Bom pessoal, primeiro eu acho que eu devo uma explicação. Aquela senhora ali com quem eu briguei lá na frente, ela é produtora de noivas, ela arrumou minha mulher no casamento. Agora vocês imaginam a sogra que eu tenho, ela fez uma brincadeira e eu acreditei que ela tinha vindo aqui para retocar e ficar cuidando do visual da minha mulher. E daÍ que virou só zueira, né? Foi uma situação muito constrangedora. Depois eu tive o cuidado de conversar com os guias turísticos para inverter os dias dos meus passeios para eu não encontrá-los mais. Mas foi muito engraçado.”
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NOIVAS NOIVAS
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CASEI, E AGORA? Soluções mais práticas como vender ou reformar o vestido de noiva após o casamento têm feito parte do ideal das noivas modernas. por CARMELA SCARPI
U
ma festa de casamento não poderia nunca ser resumir a apenas um dia. Por mais especial que ele seja, a aura e toda a preparação que o cerca requerem, pelo menos, alguns meses da vida do casal voltados ao planejamento – e pagamento – do sonho. Para as noivas, ainda, não apenas o buffet, a decoração, a papelaria e todo o resto de um lista extensa, estão em pauta; como também o almejado vestido de noiva. Talvez o ponto alto para algumas, a escolha do vestido (seja ele comprado ou feito sob medida) é uma determinante que requer tomada de decisões constantes. Esse tecido sim; este bordado não. Provas, ajustes, dietas. Tudo para que se esteja perfeita para o grande dia. Sonho realizado, casamento concluído. Todos estão felizes e a lua de mel acabou. Mas e agora: O que fazer com o vestido? Muito dos novos lares não têm espaço suficiente para o que passa ser um verdadeiro elefante branco no armário. Alguns se destinam às
casas de mães; outros são empacotados e colocados em algum conto extremo do guarda-roupa, como que na esperança de que fossem parar em Nárnia deixando mais espaço para alguns sapatos novos. Não interprete a atitude como descaso. As noivas continuam a adorá-lo. Na realidade, a adorar a ideia, a lembrança que ele carrega consigo e, por isso, não conseguem se desfazer. Algumas acreditam que possam passar o legado para uma próxima geração, quem sabe? Mas com as facilidades de obter e difundir informações hoje é muito raro que algo se mantenha atual, ou até mesmo que atenda ao gosto daqueles que estão por vir. As mulheres que guardavam seus vestidos durante anos na esperança de vesti-los mais uma vez, ou doa-los a um ente querido; hoje assumem cada vez mais algumas soluções alternativas. Não que o apego, ou o carinho por aquela roupa mais do que especial tenha se dissipado, mas muitas mulheres estão coordenando suas vidas com um pouco mais de praticidade.
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NOIVAS NOIVAS
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“No fundo, a minha vontade é de ficar com ele para sempre.” KELLY KLOSOWSKI BITTENCOURT
VENDER A facilidade de obter informações – e produtos – cada vez mais distantes pode ser uma vantagem para mulheres que; após o casamento prefiram vender e passar seu vestido para realizar o sonho de outra pessoa. Mas elas garantem que mesmo pensado de forma racional a emoção leva um tempo para se diluir. Foi assim com Kelly Klosowski Bittencourt, que apenas dois anos após a cerimônia decidiu colocá-lo no mercado. “Percebi que o vestido estava só tomando espaço no meu armário e, no mais, por que não deixar outra noiva se sentir linda com ele?”, conta. Antes de casar-se ela nem pensava em se destituir da peça, contudo, o apego passou e, hoje, ela diz se sentir bem confortável com a ideia da venda. “No fundo, a minha vontade é de ficar com ele para sempre. Mas, pensando racionalmente o melhor a se fazer é aproveitá-lo enquanto ainda não foi superado pela moda. Vi os vestidos de noiva das minhas avós, ambos amarelados e jogados
num canto da casa.”, diz Kelly. Aproveitar a onda da moda é algo que também impulsionou a psicóloga Luciana Akel a vender o seu vestido de casamento. “Quando cogitei sobre vender o vestido, pensei que teria que ser logo, porque era da coleção nova”, conta. Carregado com um valor muito maior do que só o do casamento, o vestido de Luciana foi trazido de viagem pelo seu pai, quando realizou o Caminho de Santiago de Compostela. Casada a pouco mais de um ano, ela diz que o vestido está para venda e, mesmo que no fundo queira mantê-lo, hoje não mais se importaria caso alguma noiva o comprasse. Ambas as noivas até se dispuseram a guardar suas relíquias, mas em relação a transformá-los, elas foram categóricas em dizer que não conseguiriam descaracterizar a peça. “Para mim, vestido de noiva é vestido de noiva, tem um significado todo especial e eu não conseguiria usá-lo para outra finalidade.”, disse Kelly. Mas não são todas as noivas que pensam assim.
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Konrahd Fotografia
TRANS FOR MAR
Para Daniela Marques o vestido de noiva, feito sob medida, foi confeccionado com a exigência de uma posterior transformação. “Não conseguia pensar em comprar um vestido pra usar uma única vez!”, conta a médica. Por este motivo, todos os detalhes e o próprio modelo foram planejados junto à estilista para que depois do casamento ele se transformasse facilmente em um modelo de festa. O vestido era tão especial que ela usou diversas vezes depois, fato que nunca fez com que passasse pela sua cabeça a venda, por exemplo. E Daniela nem se importa em dizer de onde vinha aquele modelo. “Todas as vezes [ que usava o vestido] me sentia super feliz e fazia questão de contar a todos que aquele tinha sido o meu vestido de noiva!”, diz. A designer de joias Maria Dolores Gasparin, por sua vez, não previu com antecedência a transformação, o que não impossibilitou o desejo de mudança. “Após três anos do casamento queria poder
usar aquela criação tão maravilhosa que me fez tão feliz no dia do meu casamento”, conta. Depois de transformá-lo, sem perder as características do vestido original, ela diz se sentir como revivendo aquele momento único a cada uso. Maria Dolores quer guardá-lo quando não puder mais usar, de certa forma ela conferiu uma sobrevida a um vestido especial, mas quando inquirida sobre a possibilidade de vendê-lo ela foi direta. “Não venderia por nada nesse mundo. Faz parte da minha vida e o quero, mesmo que reformado, sempre perto de mim, pois nele há uma história linda que quero manter perto de mim.”, diz. Seja qual for o destino que se dê ao objeto, o que se revela é que as lembranças que ficam ao final são eternas. Com o vestido no guarda-roupa, eBay, ou na foto como madrinha de uma amiga; não importa. O sentimento é sempre o mesmo por uma peça mergulhada em significados póstumos, de uma ocasião tão mística.
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Chega ao fim, a festa PRODUÇÃO E STYLING: EVEN MORE BEAUTY: CRISTINA MACIEL FOTOGRAFIA: ANDERSON MIRANDA DECORAÇÃO: VALMIR ROSSARI MODELO: BARBARA SEMANN
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NOIVAS
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ENTREVISTA
TRASH THE DRESS Uma conversa sobre o editorial p贸s-casamento mais ex贸tico com um dos precursores do formato no Brasil, Anderson Miranda.
ENTREVISTA
Even More: quando você entrou em contato pela primeira vez com este tipo de ensaio? Anderson Miranda: Eu acompanhava – e continuo acompanhando – bastantes fotógrafos, principalmente americanos. Em 2007 vi um vídeo de um estúdio chamado Del Sol Photografy, do Mac Adock, sobre um ensaio que ele fez, com cenas de bastidores, na Riviera Maya, no México, e ele chamou isso de thash the dress. Então, com o nome específico, esse foi o primeiro contato. Eu alucinei na ideia com os milhares de possibilidades, porque ele fez em caverna, fez em rio. E eu falei “nossa, eu quero fazer isso aqui”. Eu morava em Florianópolis, onde tem muita praia, natureza, então tinha tudo a ver.
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EM: Como foi o primeiro ensaio? A.M.: Eu fiz uma proposta para uma noiva, em 2008, e ela aceitou. Acabou sendo minha primeira cobaia. Eu cheguei para ela e contei da possibilidade, nem mostrei nada, apenas falei: vamos fazer um ensaio depois do casamento na cachoeira, ou numa praia? E ela curtiu muito a ideia. E tinha que ser uma noiva mais ousada, mais maluca para aceitar no começo. EM: Houve uma adesão fácil? A.M.: Foi muito bem aceito, apesar do choque inicial. É um perfil de ensaio que tem muita noiva que tem medo de fazer, mas passei a fazer minha publicidade a partir
dos meus ensaios de trash, então eu fiquei meio marcado por esse estilo. Fiz anúncios de revista com esse tipo de ensaio, por isso marcou e as noivas, automaticamente, começaram a procurar por isso. Então das que eu atendia uns 50%, metade das noivas, topavam, outras não. Mesmo assim acho que foi uma boa adesão. EM: Existem características específicas para realização desse tipo de ensaio, ou é bastante aberto e vai de acordo com a criatividade? A.M.: A proposta é ir a lugares inusitados, em que a noiva não iria com seu vestido de casamento. Os exemplos vão de deitar num gramado, até
ir a um ferro-velho cheio de poeira. Acho que é muito mais a questão do impacto, o contraste, entre o branco da pureza e a sujeira. Mas, para mim, tem que ser algo com contexto, tem que ter a ver com a história do casal. Se o casal não gosta de praia, vão fazer lá só porque é legal? Então, dá pra fazer em qualquer lugar, mas a pegada da foto tem que ser mais ousada. EM: A água é elemento fundamental para a sessão, ou dá pra fazer “no seco”? A.M.: A água com certeza é muito impactante, é mais fácil atingir o resultado, mas não é necessária. Fiz um em Roma, que foi quase um editorial na cidade, só que a noiva deitou no chão, fomos pros arre-
dores em um campo de trigo, ela entrou; até queria fazer com que ela entrasse na Fontana (di Trevi) – risos - mas tinha tanta gente também que a polícia interviria, com certeza. Eu particularmente gosto quando tem água, mas não precisa. EM: Você acha que existe um prazo para as noivas buscarem esse ensaio? Como um tempo para desapegar do vestido? A.M.: Depende muito, tem noiva que volta da lua-de-mel e faz. Tem quem faça na própria lua-de-mel. Ou depois de um ano. Eu acredito que a data está mais relacionada com o tempo prático da vida do casal do que com a questão de desapego. Mais uma questão de agenda.
EM: E você acredita que o modelo de trash chegou ao seu limite, ou ainda há espaço para inovação? A.M.: O trash na realidade é apenas uma das modalidades dos ensaios pós-casamento. Então, a inovação está em outros tipos de ensaio. Existem vários outros, até com a proposta oposta (cherish the dress), que procuram ambientes mais luxuosos. Mas acho que a grande questão em fazer qualquer um desses tipos de ensaio é a possibilidade de reviver aquele sentimento do casamento. Tantos noivos reclamam que passa tudo tão rápido, que o ensaio acaba sendo uma oportunidade de se vestir novamente, se maquiar novamente, realmente aproveitar um pouco mais.
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PARA MAIS ESTILO DE VIDA