01 | Dezembro.2016
QUE MARCA VOCÊ QUER DEIXAR NO PLANETA? vida transformação
FUMAÇA
biodiversidade sustentabilidade
futuro
atitude
INSPIRE[-se], INOVE[-se], TRANSFORME[-se] O SEU PLANETA Uma rede colaborativa de soluções sustentáveis que conecta ideias, produtos, serviços, ações, iniciativas governamentais e sociedade para o fomento de novos modelos de negócios disruptivos. Se o mundo muda a gente, a gente pode mudar o mundo.
comercial@uplanet.wiki
uplanet.wiki
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EDITORIAL
EDITORIAL
QUE MARCA A NOSSA GERAÇÃO VAI DEIXAR NA TERRA?
A
A vida é um ciclo que deixa marcas na memória física do nosso Planeta e na imaginação abstrata da humanidade. Há marcas tangíveis, naturais, como os fósseis milenares dos antigos seres vivos. Há marcas artificiais, como objetos, artes e construções seculares da humanidade. Há marcas vivas, como a teia da biodiversidade que resis-
te e se sustenta há milhões de anos. Há marcas intangíveis, que se perpetuam nas mentes humanas, inspirando atitudes e influenciando gerações do presente e do futuro. Há marcas positivas, agregadoras e construtivas; marcas negativas, trágicas, destrutivas. Há marcas que nos orgulham e nos motivam. E marcas, de ontem e de hoje, que nos envergonham e entristecem. Enfim, há marcas visíveis e invisíveis, perenes ou fugazes, que nos elevam e nos movem no sentido da evolução civilizatória ou que nos apequenam e nos atrasam coletivamente. Cada um de nós, por mais simples e anônimos que sejamos, vamos deixar nossas marcas individuais nesse Planeta. Vamos deixar legados para a nossa civilização, referências e exemplos, bons ou ruins, para gerações de hoje e de amanhã. Querendo ou não, consciente ou inconsciente, vamos deixar nossa pegada única, original, assim como é a nossa impressão digital. E será a soma e as interligações de todas essas pegadas, por mais insignificantes que pareçam, que vão desenhar o amanhã imediato e o futuro longínquo da presença humana no Universo. Você já pensou sobre isso?
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EDITORIAL
O Movimento uPlanet tem o objetivo de fazer essa reflexão. Provocar pensamentos críticos inéditos sobre as nossas relações com nós mesmos, com outras pessoas, com outros seres vivos, com o Planeta e com o futuro. Fazer pensar enquanto indivíduo e como espécie inteligente que habita a Terra. O uPlanet deseja transformar crises em reinvenções sustentáveis, integrando conhecimento, arte, políticas públicas e atitude. Queremos contribuir com a criação de uma nova economia ecológica e colaborativa que possa impulsionar um novo modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável. O uPlanet é
um novo salto, com expansão internacional,
do movimento “Pernambuco no Clima”, que criamos há 5 anos visando construir soluções
para evitar o aquecimento glo-
bal e as mudanças climáticas. Considerando que Pernambuco está numa das regiões mais vulneráveis aos efeitos do aumento da temperatura. Agora, ampliando a rede de parceiros criativos: dos setores público, privado, artístico, acadêmico e não governamental, o Movimento uPlanet quer despertar, informar e inspirar gente de empresas, governos e organizações da sociedade sobre a importância da inovação sustentável como novo paradigma de desenvolvimento socioeconômico local e global. O uPlanet nasce para incentivar a criação de arranjos inovadores, promovendo uma nova economia interconectada de baixo Carbono, ajudando a articular, implantar e testar modelos de negócios disruptivos. Portanto, vai muito além de uma revista ou da realização de eventos. Busca interligar empreendedores, gestores públicos, pesquisadores, ativistas, inovadores e a sociedade para, de forma sistêmica, formular uma
economia mais justa e com menos impacto am-
biental. Modelos do passado já não servem para nos levar ao futuro. Diante de uma disrupção climática cientificamente anunciada, é preciso construir
urgentemente processos eco-
nômicos sustentáveis, interligando múltiplos parceiros dispostos a inovar. O uPlanet é isso.
EDITORIAL
As marcas que deixamos na Terra, na sociedade e na vida dos outros, depende das escolhas que fazemos. Depende dos valores e ideias que seguimos e praticamos. Depende do que consumimos. E depende, acima de tudo, do que cultivamos no dia a dia e do que decidimos oferecer, entre as contraditórias possibilidades que temos dentro de nós. Para o bem ou para o mal, nossas marcas dependem do que decidimos fazer com a nossa inteligência, a nossa sensibilidade, o nosso tempo divino. Em síntese, depende do que fazemos com a nossa própria vida, que é única e não tem ensaio nem replay. Mas que nos dá flexibilidade de mudar, permitindo evoluir, aprimorar e corrigir o rumo, sempre que desejarmos. Substituir marcas negativas do passado por marcas positivas e vivas de futuro é o desafio deste século, para evitar que a pegada de Carbono da humanidade eleve a temperatura da Terra acima de 1,5°C e provoque grandes tragédias climáticas. Ou seja, precisamos substituir nossa marca poluidora de alto Carbono por uma marca sustentável de baixo Carbono e reequalizar os processos econômicos, reduzindo o PIB poluidor e elevando o PIB sustentável, migrando empregos de processos degradadores para processos limpos. A marca da humanidade na Terra é o balanço das marcas individuais positivas e negativas de cada um de nós. Neste momento, o saldo da sustentabilidade está negativo, indicando um colapso iminente, mas podemos reverter. Ainda há tempo para decidirmos se nossa marca na Terra será a marca da evolução da vida ou se vai virar apenas fumaça...
Luciana Nunes e Sérgio Xavier Coidealizadores do Movimento uPlanet
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EXPEDIENTE
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A uPlanet é uma publicação da VIVA Comunicação e Promoção Ltda ME. CNPJ 09.257.568/0001-67 COIDEALIZADORES
DESIGNERS
MÍDIAS SOCIAIS
ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO
1. Maria Luciana Nunes
6. Ana Elisa Ribeiro
Nilton Leal
Morgana Costa
Sérgio Xavier
Jonas Sobreira 7. Juliana Delgado
ILUSTRAÇÃO
COLABORADORES
Taíssa Mirella
Aline Vieira
Andrea Leal
Andréa Correia
Linda Murasawa
EDITORA DE CONTEÚDO 2. Juliana Pessoa REPÓRTERES 3. Allan Nascimento
ARTICULAÇÃO Patrícia Ferraz
Marina Grossi CATÁLOGO
Sâmar Razzak
Erivan Pereira
Silvio Meira
Roberta Caldas
Tatiana Botelho
4. Amanda Claudino
FOTÓGRAFOS
5. Gilberto Tenório
Alcione Ferreira
Priscila D’arc
Thais Lima PRODUÇÃO
IMPRESSÃO Gráfica Provisual
REVISOR
PLANEJAMENTO EXECUTIVO
Amanda Rodrigues
TIRAGEM 10.000 exemplares
Juliana Pessoa
8. Gabriela Pires
Camila Vieira
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
SUMÁRIO
10 ATITUDE Você deixaria de comer carne?
12 DISRUPÇÃO CESAR além da tecnologia
18 DESAFIO Pernambuco avança na economia de baixo carbono
30 CONHECIMENTO
52 ECONOMIA Empresas que pensam na causa verde
58 CIDADANIA A oportunidade no empreendedorismo social
O que a biomimética pode oferecer?
34 CONEXÃO
62 COLABORAÇÃO PARIS Rede colaborativa entre vizinhos
O mundo digital já é real
40 POLÍTICAS PÚBLICAS Preservar a natureza é um bom negócio
48 INOVAÇÃO Tecnologias: desde sempre, para sempre
66 ARTE E CULTURA Deborah Colker, o Rio Capibaribe e o Museu do Amanhã
68 DIÁLOGOS
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ATITUDE
E SE VOCÊ DEIXASSE DE COMER CARNE? A ONU defende a dieta vegana como um dos principais meios para combater o aquecimento global. Para quem tem dúvidas de como a pecuária é prejudicial para a sustentabilidade do planeta, o documentário Cowspiracy, disponível no Netflix, apresenta alguns motivos para você abrir mão do filé mignon. Reunimos aqui alguns dados para você ficar em alerta.
4.000
Um dia sem carne gera uma economia de 4 mil litros de água, 20KG DE GRÃOS E 3M² DE FLORESTA.
LITROS
USO DOMÉSTICO
5%
X55% CRIAÇÃO DE ANIMAIS
Nos Estados Unidos,
2,5
ML
O alto consumo de água potável está diretamente ligado aos grãos que servem de alimentação para os animais. Além disso, são necessários 2,5 millitros do líquido para a produção de 114 GRAMAS DE UM HAMBÚRGUER.
5% DO CONSUMO DA ÁGUA É DOMÉSTICO CONTRA 55% UTILIZADO PARA A CRIAÇÃO DE ANIMAIS, e esse recurso, apesar
de ser finito, sempre é despejado na natureza poluído. “A contaminação da água enfraquece ou destrói os ecossistemas naturais que sustentam a saúde humana, a produção alimentar e a biodiversidade. (…) A maioria da água doce poluída acaba nos oceanos, prejudicando áreas costeiras e a pesca”, declarou a ONU em conferência em 2010.
ATITUDE
65%
A criação de animais produz 65% de ÓXIDO NITROSO DO MUNDO, um gás com potencial de aquecimento de 296 vezes maior do que a do CO².
130
Uma vaca produz 130 VEZES MAIS LIXO que o ser humano.
A pecuária libera mais gases na atmosfera do que o setor automotivo. São os mesmos gases que provocam o efeito estufa. Se você deixar de comer carne, então, vai ajudar a evitar que as GELEIRAS
91%
A agricultura animal é responsável por 51% das mudanças climáticas causadas pelo homem, a criação de animais ocupa até 45% das terras do planeta e ainda é responsável por até 91% da DESTRUIÇÃO DA AMAZÔNIA.
DA GROELÂNDIA
derretam;
28
82%
BILHÕES
Cientistas preveem oceanos com peixes até 2048. Só para se ter uma ideia, mais de 28 BILHÕES de animais foram retirados do mar em 2013.
82% DAS CRIANÇAS FAMINTAS no mundo
vivem em países onde os alimentos são dados aos animais no sistema pecuário.
VEZES MAIS
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Nos países tropicais, cerca de 100 ESPÉCIES DE ANIMAIS E PLANTAS se perdem por causa da destruição das florestas.
FOTO: THAIS LIMA
12 DISRUPÇÃO
DISRUPÇÃO
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ALÉM DA TECNOLOGIA
CESAR completa 20 anos como um dos propulsores do desenvolvimento tecnológico no Recife
Q
Quem vê o bairro do Recife – ou Recife Antigo, para os íntimos – com seus prédios antigos, suas pontes imponentes e suas ruas históricas, não consegue prever, de imediato, o que realmente está entocado em muitas daquelas estruturas. Conhecido, especialmente, por ter sido o local pioneiro para o desenvolvimento da capital pernambucana, a ilha abriga, hoje, muitos outros pioneiros – agora, mais tecnológicos. Não à toa, o bairro do Recife se tornou famoso por ser um dos espaços mais inovadores e criativos do País.
No Cais do Apolo, mais precisamente na rua Bione, é o edifício do CESAR (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife) quem impera. Criado há exatos 20 anos por um conjunto de professores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) que queriam gerar empregos para jovens e recém-formados em tecnologia na cidade, o espaço pioneiro evoluiu e se tornou, também, um centro de referência quando o assunto é educação – com cursos de mestrado e até atuação no ensino médio. O próximo passo do centro, aliás, é ofertar, a partir de 2018, cursos de graduação. Ciências da Computação e Design serão os primeiros a serem oferecidos. Juntos, os alunos trabalharam para propor soluções criativas para problemas da sociedade. “O mercado hoje exige mais do que apenas as habilidades téc-
nicas; exige as habilidades intra e interpessoais, também conhecidas como as habilidades do século XXI da Unesco. Essas habilidades integradas a problemas reais com base de tecnologia e design é o que as academias deveriam oferecer”, opina o superintendente da instituição, Sérgio Cavalcante (confira entrevista na página ao lado). É também no Recife Antigo que está o Porto Digital: um parque tecnológico que abriga 250 empresas e instituições focadas em Tecnologia da Informação e Comunicação e de Economia Criativa. Somam-se a isso duas incubadoras de empresas, duas aceleradoras de negócios e dois institutos de pesquisas e o resultado será um complexo que reúne mais de sete mil profissionais e que cujas empresas faturaram, nos últimos três anos, mais de R$ 1 bilhão. Fruto de uma parceria entre o governo, a iniciativa privada e as universidades, o Porto Digital contou, no início da sua operação, em 2001, com um aporte de R$ 33 milhões dos cofres do Governo Estadual. Para o futuro, a previsão é de gerar, até 2022, mais de 20 mil empregos, além de se expandir para outras zonas do Recife. O Porto Digital nasceu, também pioneiro, com a proposta de inserir Pernambuco no cenário tecnológico mundial. E continua a cumprir seu papel.
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DISRUPÇÃO
ENTREVISTA Pioneiro na história entre o Recife e a tecnologia, o CESAR já acumula 20 anos de trajetória.
Em
entrevista
à
uPlanet,
Sérgio
Cavalcante, superintendente da instituição, faz uma previsão sobre o desenvolvimento que Pernambuco vai alcançar nos próximos 15 anos – com a preocupação com a vida das pessoas e o desenvolvimento das cidades ganhando cada vez mais espaço na pauta do centro. “O Recife como uma cidade de tecnologia virou uma grife conhecida no mundo inteiro”, explica o gestor na conversa a seguir:
uP | Há 11 anos na superintendêcia, como você vê a evolução do CESAR nessas duas décadas? Sérgio | O que marca mais o CESAR nesses 20 anos é sua capacidade de mudança. O CESAR tinha como objetivo inicial criar empregos para jovens da tecnologia do Recife. A gente tinha um problema muito sério naquela época, os profissionais de informática e alta tecnologia se formavam e iam embora trabalhar em São Paulo, no Rio de Janeiro ou no exterior. Se criou uma incubadora de empresas na universidade, dentro de Centro de Informática da UFPE (CIn-UFPE), e essa incubadora criou várias empresas, foi bem interessante, mas essas empresas não tinham uma marca forte para vender os seus produtos fora do Recife. Inovação não se vendia no Recife. O CESAR foi criado para que se formasse um brand. Hoje, o centro não é o único responsável por criar em empresas nesse se-
tor. Atualmente têm muitos espaços para as pessoas procurarem seus empregos, são mais de 260 empresas de tecnologia, não existe só o CESAR - que também não opera só no Recife, já temos filiais em Curitiba, Sorocaba, Manaus, um escritório de negócios em São Paulo, além de um projeto no Rio de Janeiro e parcerias com várias multinacionais. Trabalhamos com três empresas do Recife e outras 55 de fora do Nordeste. Agora, o propósito muda. Não estamos focados apenas em tecnologias de informação e cultura (TIC): já temos projetos em robótica e cidades inteligentes. O Playtown, por exemplo, é um projeto de design focado nas pessoas e na cidade - nós, CESAR, não vamos pegar nenhuma linha de código, pode ser que as pessoas que participem façam, mas não nós.
DISRUPÇÃO
uP | Qual o cenário que o CESAR encontrou em 1996 e o que encontramos em 2016? Sérgio | Em 1996, o Brasil estava vivendo o início da globalização. Um grande número de empresas pernambucanas estava sendo vendida, era também o tempo das privatizações no Estado e em todo o País. E Recife é um lugar excelente para comprar empresas. A cidade ocupa uma posição central entre as metrópoles do Nordeste. Muitas empresas daqui foram vendidas, passaram a ser empresas do Sul, Sudeste e do exterior. Essas empresas são vendidas e você perde a capacidade de inovar a partir do Recife, porque os centros de inovação não ficam aqui. A gente tinha que criar a capacidade de inovar em outras frentes. O segundo fato é que Recife não era conhecida do ponto de vista de informática. As empresas iam para São Paulo vender seus produtos e chegavam lá e a pergunta era: Quem é você? Você vem do Recife? O que se produz por lá? Não havia credibilidade. Hoje, se você pega uma empresa de tecnologia do Recife e ela vai para qualquer lugar do País ela é respeitada. O Recife como uma cidade de tecnologia virou uma grife conhecida no mundo. Eu tenho certeza que em 1996 a gente não conseguiria atrair o Centro de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) para cá. A Microsoft hoje tem escritório aqui, e o CESAR tem projetos com a Motorola, Samsung, HP, entre outras - muitas atraídas pelo CESAR a partir de 1999, com a chegada da Lei de Informática ao País. Em 1996, Recife era completamente fechada ao mercado externo. Todas as empresas de informática que existiam aqui estavam conectadas a projetos governamentais. Hoje, a cidade recebe empresas com interesse de abrir uma
unidade aqui porque sabem que há um diferencial não apenas do ponto de vista do ecossistema, mas também do capital humano produzido aqui. uP | Qual o cenário que há 10 anos vocês imaginavam encontrar hoje? Esperavam que estivéssemos mais avançados ou a expectativa foi superada? Sérgio | O CESAR, há 10 anos, imaginava que hoje estaríamos em outro caminho. Criávamos muitas empresas na época, e ainda fazemos isso, mas naquele tempo imaginava-se que hoje estaríamos recebendo dividendos dessas empresas. Nosso pensamento era: vamos criar um conjunto de empresas, algumas dessas empresas iriam se tornar grandes, e o CESAR estaria recebendo dividendos dessas empresas para poder realizar mais projetos. Não funcionou. Nasceram grandes empresas, várias muito interessantes e atuantes no mercado, como a Neurotech, a Tempest Security Intelligence, entre outras, mas muitas foram compradas por terceiros integralmente. O CESAR ficou sem participação nelas, não houve nenhuma empresa nossa que foi para IPO (Initial Public Offering), o mais natural era outras empresas comprarem a tecnologia ou a empresa que estava criando. A motivação principal disso é que o Brasil tem uma dificuldade muito grande para incentivar empresas no meio do caminho. Se você tem R$ 20 mi ou R$ 30 mi, é muito improvável que você vá investir em uma empresa sem ter o controle acionário dela, pelos riscos de que se tem no Brasil ao fazer isso.
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DISRUPÇÃO
“
Acredito que os próximos 15 anos sejam marcados pela chegada de centros de inovação, centros de tecnologias, centros de desenvolvimento de coisas novas. Há uma diferença grande entre chegada de empresas e chegada de futuro
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uP | O CESAR acaba de mudar a missão do centro, entra, agora, o lema “Identificar, potencializar e concretizar oportunidades de transformação das organizações e da vida das pessoas”. Essa mudança está alinhada a uma perspectiva do cenário atual? Sérgio | Alinhada ao que prevemos aos próximos 15 anos, fizemos um planejamento para 2030. Nossa missão anterior mencionava tecnologia da informação e comunicação (TIC), o que não foi citado na nova, que é mais abrangente. Falamos de transformar organizações de vida das pessoas por meio da inovação. Inovação é o foco, transformação é o foco, mas não é necessariamente uma tecnologia específica, não necessariamente tecnologia em si. A gente pode alterar as coisas através de um novo modelo de negócios, por exemplo, a gente pode mudar as coisas através “apenas” do design, sem precisar desenvolver a tecnologia. Quando o CESAR participa do Playtown, por exemplo, a gente não está desenvolvendo tecnologia, mas a gente acredita que isso vai transformar a vida das pessoas, das organizações e da cidade de alguma forma, não tem tecnologia no meio. A nova missão é mais abrangente, por um lado, ao mesmo tempo ela é muito mais clara no sentido do que temos que fazer.
uP | Vocês chegaram ao novo posicionamento identificando alguma ou tendência ou foi a necessidade de reinvenção? Sérgio | Os dois. O CESAR já vinha fazendo outras coisas que não eram só tecnologia da informação e comunicação. Em 2014, participamos de uma competição de biologia sintética com pesquisadores do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). No ano passado desenvolvemos várias ações focadas em design, sem utilizar TIC. Estávamos, de certa forma, descumprindo a nossa missão, só que estamos vendo a tendência futura de novas tecnologias que estão chegando por aí. A nanotecnologia e a biologia sintética, por exemplo, são coisas que envolvem TIC, mas não são o foco final do que está sendo desenvolvido.
uP | Seguindo o planejamento que vocês desenvolveram e o atual cenário, como vocês imaginam o estágio que Pernambuco vai alcançar no setor de desenvolvimento tecnológico em 2030? Sérgio | Pernambuco é um Estado muito inte-
não só com as empresas que estão chegando,
ressante, idealista. Sempre fomos lutadores,
forma diferente. Depois da FCA, provavelmen-
e esse movimento que vem acontecendo - e não
te, vão chegar o de seus fornecedores. Com
é só a partir de 1996, mas desde 1985, quan-
a chegada dos seus fornecedores, se a gente
do o Centro de Informática começou a mudar
conseguir fazer o trabalho que a gente tem
na UFPE - mostrou as pessoas que é possível
que fazer, com formação de mão de obra, ou-
fazer. Eu tenho certeza que ninguém acre-
tros chegarão. Acredito que os próximos 15
ditava que era possível criar um CESAR, um
anos sejam marcados pela chegada de centros
Porto Digital ou um Centro de Informática de
de inovação, centros de tecnologia, centros
classe mundial quando se começou a fazer. Eu
de desenvolvimento de coisas novas. Há uma
acredito que esse movimento está ganhando
diferença grande entre chegada de empresas e
cada vez mais adeptos. Isso a gente percebe
a chegada de futuro.
mas também com as pessoas que estão aqui, trabalhando cada vez mais com economia criativa. A chegada do Centro de Inovação da FCA, para mim, foi fundamental para mostrar que outros centros enxergam Recife de uma
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DESAFIO
POR UMA NOVA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO O alerta global foi emitido com o Acordo de Paris e agora cabe ao poder público e à população buscar soluções para uma nova economia. Nesse cenário, Pernambuco já mostra caminhos para a mudança
DESAFIO
A
A preocupação em lidar e evitar as mudanças climáticas há muito tempo é tema nos eventos e rodas de especialistas. Na COP 21, em 2015 , em Paris, o assunto extrapolou
os
círculos de especialistas e se tornou acordo internacional, entrando na pauta de governos e populações mais preocupados com o futuro. O Acordo de Paris, já ratificado por mais de 100 países, é o primeiro de extensão global, com metas para frear as emissões de gases do efeito estufa. Tem a participação de 195 países signatários que se comprometem a agir de forma a impedir a elevação média da temperatura da Terra. A intenção é que o crescimento fique abaixo de 2°C, mas com esforços focados para limitar o aumento de temperatura a 1,5°C. Embora o acordo tenha pecado por não estabelecer um prazo para a diminuição da emissão dos GEE, todos os países, desenvolvidos ou em desenvolvimento, se comprometeram a estabelecer metas nacionais de acordo com as prioridades e possibilidades de cada um. O Brasil é visto com bons olhos pela comunidade internacional devido, principalmente, ao uso de fontes renováveis de energia. No acordo, o País se compromete a expandir o uso de energia renovável, além da hídrica, e a reflorestar e restaurar 12 milhões de hectares de florestas. O desafio é grande. Mesmo com a diminuição das emissões em setores como energia e indústria, o Brasil registrou em 2015 um crescimento de 3,5% na emissão de gases do efeito estufa, devido ao aumento do desmatamento, de acordo com o Sistema de Estimativas de Gases do Efeito Estufa (Seeg), do Observatório do Clima. Diante de dados científicos que apontam Pernambuco como uma das regiões
mais vulneráveis às mudanças climáti-
cas, o Estado vem ampliando sua proteção ambiental. Criou
FOTO: GOLDENCOW IMAGES
mais de 126 mil hectares de unidades de conservação nos últimos 4 anos e está implementando políticas públicas inovadoras. Já desponta no cenário nacional como berço de iniciativas e fomento de negócios sintonizados com a economia de baixo carbono, com incentivos à energia solar e a implantação do primeiro sistema de compartilhamento de veículos elétricos do Brasil (parceria da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco - Semas, Serttel e Porto Digital).
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FOTO: OSVALDO SANTOS
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DESAFIO
AÇÕES DESENVOLVIDAS PARA O COMBATE E ADEQUAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM PERNAMBUCO Litoral (avanço do mar e erosão marinha) _Elaboração dos projetos básico e executivo de engorda das praias de Jaboatão, Recife, Olinda e Paulista para conter o avanço do mar e a erosão; _Execução da engorda da praia de Jaboatão dos Guararapes; _Definição da linha Preamar para ordenar o limite de construção no litoral; _Mapeamento das áreas vulneráveis do litoral; _Coordenação estadual do Projeto Orla, em parceria com os municípios para ordenamento do uso e ocupação do solo de maneira a assegurar os acessos às praias, proteger os recursos naturais e garantir a implantação de atividades produtivas de forma sustentável;
“Para enfrentar esse quadro de forma consistente é preciso atuar em três frentes: proteção e recuperação ambiental, aumento da resiliência social, evitando tragédias climáticas em áreas densamente povoadas e, sobretudo, fomentar a uma nova economia inclusiva e sustentável, que possibilite aumentar PIB e empregos com atividades de baixa emissão de gases-estufa”, destaca Sérgio Xavier, secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco. “Hoje temos que pensar numa lógica inversa do que foi feito até agora, a economia e os negócios devem fortalecer
o meio ambiente, incluir todas as
pessoas e garantir equilíbrio e melhor qua-
_Proposta de implantação das novas unidades de conservação marinha no litoral;
lidade de vida no futuro. A antiga economia,
_Criação da Política Pública de Pesca Artesanal.
poluição e degradação ecológica, não está
Zona da Mata (chuvas e inundações) _Implantação de barragens para controle de enchentes (a fim de evitar desastres climáticos como os ocorridos em 2010 nos municípios de Palmares, Barreiros, entre outros); _Recuperação de 1.100 hectares de Mata Atlântica na Zona de Proteção Ecológica de Suape; _Criação de novas unidades de conservação na Mata Atlântica.
baseada na queima de combustíveis fósseis, viabilizando isso”. Estudos mostram relação direta entre o aumento da temperatura global e as três grandes vulnerabilidades do território pernambucano: o prolongamento da seca e a desertificação da Caatinga; a intensificação das chuvas e dos ventos fortes na Zona Mata; e o avanço do mar e da erosão marinha em diversos pontos do litoral. Estas
vulnerabilidades estão sendo
combatidas com
políticas públicas interco-
Semiárido (secas extremas) _Zoneamento das áreas vulneráveis à desertificação;
nectadas e como
o estímulo ao desenvolvimen-
_Criação de novas unidades de conservação na Caatinga;
ticas foca nas providências para minimizar os
_Implantação de projeto dos módulos de manejo da agrobiodiversidade para gerar economia e renda no semiárido. (Pernambuco possui, pelos critérios de índice de aridez, 135 municípios em áreas suscetíveis a desertificação, essa área corresponde a cerca de 90% do território do estado).
dedica atenção especial às oportunidades da
to da economia de baixo carbono no Estado. “O nosso Plano Estadual
de Mudanças Climá-
impactos do aquecimento global, mas também nova economia de baixo carbono. Entendemos que é preciso
conciliar as ações de proteção
às áreas vulneráveis com a criação de um novo modelo econômico sustentável e socialmente inclusivo”, destaca Sérgio Xavier.
DESAFIO
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Meio Ambiente e Sustentabilidade - SEMAS e a Agência Estadual de Meio Ambiente - CPRH contabilizam a ampliação de 127 mil hectares protegidos na Caatinga, com destaque para o Refúgio de Vida Silvestre Tatu-bola, criado em 2015, com mais de 110 mil hectares na região do Sertão do São Francisco. O mesmo aconteceu na região de Mata Atlântica. Nos últimos cinco anos, a área de proteção amSérgio Xavier, Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade
biental cresceu 122% em Pernambuco, totalizando 17 mil hectares de proteção integral nesse bioma. Para 2017, estão previstas novas unidades na Caatinga e Mata Atlântica e a criação da primeira Unidade Estadual de
Pernambuco foi o primeiro estado do País a
Conservação Marinha, em Serrambi.
criar um plano focado nas mudanças climáti-
No litoral, onde o avanço do mar preocupa,
cas, em 2011. Atualmente, o documento cons-
medidas de prevenção estão em andamento, como
truído com participação da sociedade, com
a engorda das praias urbanas de Recife, Olin-
metas para os diversos segmentos do setor
da, Paulista e Jaboatão, onde a primeira obra
público e privado, está passando por uma re-
já foi realizada. Em 2015, o governador Paulo
visão e atualização.
Câmara assinou decreto com a definição da linha Preamar, que permite ordenar o limite de cons-
AÇÕES CONCRETAS
trução no litoral. Ainda esse ano será lançado o Atlas da Vulnerabilidade Costeira de Pernam-
Entre as ações desenvolvidas pelo Governo
buco, elaborado em parceria com a Universidade
para evitar e enfretar as mudanças climá-
Federal de Pernambuco e com apoio do Fundo Cli-
ticas e suas consequências para o Estado,
ma, do Ministério do Meio Ambiente, contendo os
estão a criação de novas unidades de conser-
principais indicadores de vulnerabilidade da
vação. Desde
costa pernambucana.
2011, a Secretaria Estadual de
VULNERABILIDADE COSTEIRA Atualmente, a região com maior vulnerabilidade com relação às mudanças climáticas em Pernambuco é o Núcleo Metropolitano, formado pelos municípios de Olinda, Recife e Jaboatão dos Guararapes. O índice é um dos resultados do projeto que culminou com a publicação do Atlas da Vulnerabilidade, desenvolvido com a coordenação do professor Pedro Pereira, do departamento de oceanografia da UFPE, em parceria com a Semas. Para a construção do mapa foram levados em conta o Índice de Vulnerabilidade Costeira (IVC ou ICV, em inglês), que apontam, entre outros indicadores, critérios físicos e sociais, como: aumento médio
do nível do mar, altura das ondas, densidade populacional, recursos econômicos e aspectos culturais. A partir do levantamento de dados de campo, foram comparados os dados dinâmicos (como nível do mar, ângulo de exposição às ondas, altura das ondas). Com o somatório dessas variáveis foi possível relacioná-los com os dados sociais dos habitantes da costa, como densidade populacional e recursos econômicos. Os dados foram então tabulados transformando índices que pudessem ser visualizados no mapa com indicadores, elaborado para cada município costeiro.
DESAFIO
NA COP22,EM MARRAKECH, PERNAMBUCO ARTICULA PARCERIAS INOVADORAS Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, Sérgio Xavier apresentou na COP22 programa de atração de soluções sustentáveis para compor arranjos de negócios inovadores no Estado. Várias empresas globais de veículos elétricos, energia solar, internet das coisas, aplicativos de compartilhamento e armazenamento de energia já confirmaram participação
Após o Acordo de Paris (COP21), já ratifi-
ças climáticas e redução das desigualdades.
cado por mais de 100 países, que formali-
Transformar a Ilha de Fernando de Noronha
zou metas de redução de emissões de gases
em modelo de gestão sustentável e novos ne-
de efeito estufa, a Conferência do Clima da
gócios colaborativos, interconectados e com
ONU - COP22, em Marrakech, realizada em no-
baixa emissão de carbono, é um dos objetivos
vembro, discutiu mecanismos para viabilizar
da parceria.
ações práticas. Desenvolver rapidamente uma
A ação faz parte do Global Leadership Me-
nova economia de baixa emissão de carbono é
morandum of Understanding - memorando de en-
o grande desafio.
tendimentos assinado em 2015 pelo governador
Em sintonia com as oportunidades deste ce-
de Pernambuco, Paulo Câmara, e o governador da
nário, o Governo de Pernambuco, representado
Califórnia, Jerry Brown, e mais de 170 gover-
pelo secretário de Meio Ambiente e Sustenta-
nos subnacionais, que compõem uma grande rede
bilidade, Sérgio Xavier, apresentou na COP22
de governos comprometidos com a construção de
um programa de atração de soluções sustentá-
uma nova economia de baixa emissão de carbono.
veis para compor arranjos de negócios inova-
“Estamos formulando arranjos inovadores que
dores. O programa está integrado à parceria
sirvam de modelo de desenvolvimento sustentá-
firmada entre o governo do Estado, Gover-
vel para Fernando de Noronha, mas que possam
no da Califórnia e o Consulado Geral dos
ser replicados em outros lugares e em larga
Estados Unidos no Recife, para desenvolver
escala, considerando os desafios globais de
ações de cooperação técnica e prospecção de
reduzir as emissões de gases que poluem nossa
negócios disruptivos que estejam alinhados
atmosfera e provocam as mudanças climáticas”,
aos objetivos globais de combate às mudan-
destaca o secretário Sérgio Xavier.
FOTO: EKATERINA POKROVSKY
22
24
DESAFIO
“
Estamos formulando arranjos inovadores que possam servir de modelo de desenvolvimento sustentável para Fernando de Noronha, mas que possam ser replicados em outros lugares e em larga escala Sérgio Xavier, secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco
O Programa busca promover ações de cooperação internacional para atrair as melhores práticas, negócios e tecnologias sustentáveis para Pernambuco e, em especial, para a Ilha de Fernando de Noronha, transformando o local no primeiro território de Carbono neutro do Brasil. A ideia é prospectar empresas para
construção: Mobilidade (elétrica e compar-
desenvolverem produtos e serviços inovadores
tilhada), Água, Reciclagem (coleta seletiva
alinhados com a economia de baixo carbono
e economia circular), Retrofit (arquitetura
para os eixos de mobilidade, energia, resí-
verde), Energia Renovável (incluindo biocom-
duos, água, gestão sistêmica, educação, solo,
bustíveis) e Gestão Sistêmica (novas ferra-
arquitetura e urbanismo. O foco é transformar
mentas de gestão pública integrada em Rede).
Noronha em um laboratório vivo de soluções
Cada plataforma está desenvolvendo inovações
sustentáveis, que possa ser replicado em ou-
práticas na sua cadeia produtiva e tem um Con-
tros lugares do Brasil e do mundo. O projeto
selho de Inovação, formado por todos os par-
também será ampliado para o Recife e muni-
ceiros (empresas, governos, ONGs, setor aca-
cípios do semiárido, região que mais sofrerá
dêmico) e convidados (inovadores) para ligar
impactos com o aquecimento global.
e consolidar as ideias a serem implantadas. O governo incentiva os arranjos, mas a
CADEIAS PRODUTIVAS INTERCONECTADAS
ideia é viabilizar parcerias e investimentos privados, criando soluções sustentáveis de
“O programa incentiva a criação de arranjos
mercado, sem a necessidade de aplicação de
inovadores, promovendo uma nova economia in-
recursos públicos.
terconectada de baixo carbono, implantando e
Após implantação em Fernando de Noronha, o
testando modelos de negócios inéditos. Es-
passo seguinte é replicar o modelo em larga
tamos integrando empresas, governos, como o
escala no Recife e em outras cidades. Também
da Califórnia, institutos de pesquisa, ONGs
está prevista a aplicação em outras ilhas e
e a sociedade para, juntos, criarmos modelos
locais de grande relevância ambiental e tu-
disruptivos para uma economia com menos im-
rística. A participação de empresas de pre-
pacto ambiental”, explica Sérgio Xavier.
sença global facilitará a exportação dos mo-
Seis
plataformas
integradoras
estão
em
delos ‘made in Pernambuco-Califórnia’.
FOTO: SANDRA MORAES
DESAFIO
MOBILIDADE ELÉTRICA E COMPARTILHADA A plataforma de mobilidade é a mais avançada.
a novos conhecimentos e mudanças de atitudes
Já está integrando: fabricantes de veículos
individuais e coletivas. Portanto, o plano
elétricos, fornecedores de internet das coi-
considera fundamental o envolvimento da co-
sas, empresas geradoras de energia solar, fa-
munidade e conta com ações de educação am-
bricantes de baterias, aplicativos de compar-
biental e oficinas colaborativas-criativas”,
tilhamento, bancos financiadores, locadoras e
ressalta Sérgio Xavier.
uma rede de parceiros que estarão conectados, oferecendo serviços interligados. As empre-
BIOCOMBUSTÍVEIS
sas integrantes da plataforma de mobilidade serão anunciadas
Na área de bioenergia, entre outras ações pre-
ainda em 2016. serão
vistas, está a busca de apoio de investidores
construídos de forma colaborativa com a po-
e companhias aéreas para a implantação de uma
pulação de Noronha, Recife e de outros locais
plataforma pernambucana para a produção de
onde o programa será implantado. “Após a in-
bioquerosene de aviação. Com a produção em
tegração das empresas e parceiros interessa-
larga escala, necessária para atender um cres-
dos e antes de estabelecer as ações, faremos
cente mercado internacional, todos os voos
reuniões com diversos setores representantes
para a Ilha poderão usar o combustível “verde”
da população de Noronha para um debate pro-
e assim reduzir as emissões de CO2 (dióxido
positivo, visando aprimorar e implementar as
de carbono), responsável atualmente por 54%
ideias, considerando que o sucesso dos novos
do total emitido pelas atividades econômicas
modelos dependem diretamente do envolvimen-
do arquipélago. Outras ações previstas para a
to das pessoas. Eficiência energética, uso
redução das emissões preveem investimentos e
racional de água, reciclagem de lixo, mobi-
pesquisas para o aumento da matriz de energias
lidade compartilhada, utilização de aplica-
renováveis, circulação de carros elétricos,
tivos, novas metodologias de uso do solo e
produção de aplicativos e tecnologias susten-
retrofit de estruturas antigas exigem acesso
táveis e o uso da internet das coisas.
Os
próximos
passos
da
cooperação
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26
DESAFIO
NOVOS CAMINHOS PARA A ENERGIA LIMPA A energia está no centro das respostas para a nova economia de baixo carbono. Com o apoio do poder público e o investimento da iniciativa privada, novas possibilidades de energia e microgeração começam a se tornar uma realidade
Pernambuco já é considerado um estado de van-
instalação de painéis fotovoltaicos, o PE So-
guarda
no campo do desenvolvimento da cadeia
lar estima atrair até 150 novos usuários, o
produtiva das energias renováveis. Em 2013,
que representaria um incremento de 30% na base
foi pioneiro ao lançar o primeiro leilão de
de usuários. “Nosso Estado conquistou uma po-
energia solar do país, incentivando uma ca-
sição relevante no setor elétrico nacional nos
deia de equipamentos, tecnologia e conheci-
últimos anos, sobretudo no que diz respeito à
mento voltados para as energias renováveis.
energia limpa. Hoje possuímos uma cadeia con-
Atualmente, se posicionou no ainda pouco ex-
solidada, que vai desde a produção de equipa-
plorado campo da microgeração e avança para
mentos até a geração propriamente dita”, afir-
se consolidar no posto de Estado gerador de
ma o secretário de Desenvolvimento Econômico,
energia limpa.
Thiago Norões.
Uma das ferramentas nessa caminhada é o Pro-
A iniciativa colocou Pernambuco em alinha-
grama PE Solar. Lançado em 2015, o projeto
mento com o cenário nacional. De acordo com
estimula a micro e minigeração de energia so-
dados da Aneel – Agência Nacional de Energia
lar para consumo próprio por micro, pequenas e
Elétrica - de setembro deste ano o Brasil já
médias empresas, transformando os empreendi-
ultrapassou a marca das cinco mil conexões
mentos mais sustentáveis e competitivos. Com
de micro e minigeração de energia. O número
investimento do Banco do Nordeste (BNB) para
pode parecer pequeno diante dos milhões de
uma linha de financiamento específica para a
consumidores que o país possui, mas repre-
PE SUSTENTÁVEL O Governo de Pernambuco deu um grande passo na instalação de uma matriz de geração de energias limpas ao lançar, em 2013, o primeiro leilão de energia solar do País, incentivando uma cadeia de equipamentos, tecnologia e conhecimento voltados para as energias renováveis. O empreendimento Fontes Solar I e II da Enel Green Power, inaugurado em Tacaratu, Sertão de Itaparica, possui uma potência instalada de 11 MW. O parque destinado à geração fotovoltaica está ligado à planta eólica de 80 MW. Juntos,
constituem o primeiro parque híbrido eólico e solar brasileiro, sendo capazes de gerar 340 GWh por ano, volume suficiente para abastecer 250 mil residências. A energia gerada pelo parque fotovoltaico evitará a emissão de mais de 5.000 toneladas de CO2 na atmosfera a cada ano. Já o Parque Fonte dos Ventos é composto por 34 turbinas e um investimento de € 130 milhões. O parque foi o primeiro investimento em energia eólica da Enel Green Power no Brasil e reduz em 126.318 toneladas as emissões de CO2. Em agosto de 2015, foram assinados mais dois contratos para a entrega de 50 MW pelas empresas Kroma Energia e Cone. Os parques solares representam um investimento de R$ 200 milhões e serão instalados na cidade de Flores, Sertão do Pajeú.
FOTO: MAJECZKA
DESAFIO
senta um grande avanço em comparação ao mesmo período do ano passado, quando o número era de pouco mais de mil ligações. A utilização da energia vinda do sol para propósitos específicos já pode ser vista de forma prática na Complexo Viário de Suape, nas vias pedagiadas PE-009 e VPE-052. Administradas pela Concessionária Rota do Atlântico, a fonte é usada para garantir o funcionamento ininterrupto das câmeras de segurança do tráfego nas vias. Os sistemas fotovoltaicos off-grid – autônomos, sem conexão com a rede local – são responsáveis pela geração de cerca de 1,3kWh por dia; no entanto, as câmeras consomem em média 0,3kWh por dia. A energia gerada que não é consumida fica armazenada no banco de baterias para assegurar a autonomia do sistemas em dias sem insolação. De acordo com a concessionária, o retorno do investimento feito é de 10 anos. Uma vez que, em média, os painéis fotovoltaicos são usados por até 25 anos, a empresa prevê uma economia de 15 anos nas contas de energia. “Especialmente no Nordeste, com alta incidência de raios solares, temos uma fonte de energia que precisa ser potencializada”, afirma o presidente da Rota do Atlântico, Elias Lages.
A FORÇA QUE VEM DOS VENTOS Segundo levantamento da Aneel, Agência Nacional de Energia Elétrica, operam em Pernambuco 29 parques eólicos localizados nos municípios de Paranatama, Araripina, Poção, Macaparana, Venturosa e Caetés, com geração de 595,3 MW. Outros 10 devem iniciar a construção, com expectativas 272 MW de produção. A participação da energia eólica na matriz energética do estado atingiu 15%, com o início da operação do Complexo Ventos de São Clemente, localizado entre os municípios de Caetés, Venturosa, Pedra e Capoeiras. Considerado um dos maiores projetos do setor no Brasil, o complexo teve investimento de R$ 1,2 bilhão da empresa Casa dos Ventos. É formado por oito parques eólicos e 126 aerogeradores. O complexo é capaz de abastecer 550 mil casas, o correspondente a 8% de todo o consumo pernambucano. O Complexo Eólico Ventos de Santa Brígida, localizado entre os municípios de Caetés, Paranatama e Pedra, no Agreste do estado é formado por sete parques, com potência instalada de 181,9 MW. A energia gerada consegue abastecer 350 mil unidades habitacionais por ano. Seu funcionamento evitará a emissão anual de 300 mil toneladas de dióxido de carbono na atmosfera. Os empreendimentos de eólicas em Pernambuco atraíram ainda dois centros de serviço da GE Wind, subsidiária de energia eólica da multinacional General Electric (GE).
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DESAFIO
“
Nosso Estado conquistou uma posição relevante no setor elétrico nacional nos últimos anos, sobretudo no que diz respeito à energia limpa. Hoje, possuímos uma cadeia consolidada, que vai desde a produção de equipamentos até a geração propriamente dita Thiago Norões, secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco
Para Leonardo Leão, diretor presidente da Bluesun Brasil e presidente do conselho fiscal da APESOLAR - Associação Pernambucana de Ener-
Ainda mais desafiador, mas com igual for-
gia Solar, a microgeração é uma alternativa
ça na atuação positiva para a diminuição de
viável para, num futuro próximo, garantir a
emissões e combate às mudanças do clima, a
energia elétrica em regiões como o sertão per-
microgeração de energia eólica enfrenta obs-
nambucano. “No Estado, a pior área de produção
táculos que vão desde a falta de conhecimen-
é o dobro da melhor área na Europa. Acredita-
to pelo consumidor. A empresa pernambucana
mos que o sertão nordestino pode se tornar uma
Windservice firmou parceria com a americana
matriz energética importante no País com o au-
XZERES para desenvolver o mercado brasilei-
xílio do sol”, afirma.
Entretanto, embora as
ro da geração eólica. “Infelizmente fala-se
expectativas sejam as melhores, Leão destaca
muito pouco da microgeração eólica, estamos
que o acesso a linhas de crédito atrativas e a
trabalhando no intuito de desenvolver esse
divulgação dos benefícios sociais, econômicos
mercado tanto no Nordeste como no País todo”,
e ambientais são o grande desafio para a ex-
afirma Alexandre Almeida, CEO da empresa,
pansão desse tipo de geração. Para vencer esse
única no País dealer de tecnologia america-
obstáculo, a empresa criou uma linha de finan-
na. O executivo explica que o Nordeste é uma
ciamento própria para chegar até o consumidor
região muito rica para o setor, com possibi-
final e garantir a expansão do negócio.
lidade de bons ventos de linha do horizonte,
Para driblar essa problemática, o Governo
com até 50 metros de altura e até 9m/s. “A
de Pernambuco, através do PE Solar, assegurou
região possui um potencial de mercado muito
investimentos de R$5 milhões do Banco do Nor-
grande. Acreditamos que a curto e médio prazo
deste – BNB – para uma linha de financiamento
será uma realidade em todo o Brasil.”
específica para instalação de painéis foto-
A empresa já possui turbinas de 2.4kW insta-
voltaicos, além de uma estrutura de rede de
ladas na Praia do Cupe, em Porto de Galinhas,
fornecedores de produtos e serviços.
e na Ilha de Fernando de Noronha. Agora, pretende implantar um centro de distribuição em Pernambuco com investimentos de R$ 24 milhões, para atender o mercado da região Nordeste e, em seguida, importar para a América do Sul turbinas de 2.4, 10 e 50kW.
Programa Compesa Conexão Cidadã Projeto Casa Verde Compesa
Projeto Florestar – Viveiros Educadores
Sustentabilidade. Faz parte do nosso DNA. Para uma empresa que tem a água como matéria-prima, cuidar do meio ambiente não é só obrigação: é parte do seu próprio negócio. A Compesa desenvolve ações e projetos com foco em desenvolvimento sustentável e socialmente responsável.
Projeto Florestar – Viveiros Educadores Capacitação de alunos de escolas públicas e privadas como viveiristas florestais para arborização de espaços públicos. Um milhão de mudas de árvores serão plantadas até 2018. Projeto Casa Verde Compesa Cursos, oficinas e palestras com foco na educação socioambiental. Sensibilização através de um processo educativo transformador. Programa De Bem Com a Rede Melhoria na prestação dos serviços e redução dos índices de desperdício por meio do fortalecimento do relacionamento da Compesa com os públicos atendidos. Programa Compesa Conexão Cidadã Inclusão social por meio de ações culturais, esportivas e de responsabilidade socioambiental.
30 CONHECIMENTO
ALÉM DA MATÉRIA-PRIMA O ambiente natural oferece muito mais que elementos para nossos artefatos. É o que estuda a biomimética, área que analisa a natureza para identificar elementos que possam ser incorporados ao desenvolvimento de inúmeros sistemas - aprimorando desde a aviação até a roupa que você usa
V
Você sabia que um oitizeiro é capaz de gerar um microclima até 8°C menor que o ambiente que o cerca? Na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Programa de Pós-Graduação em Design, a arquiteta e mestranda Natália Queiroz estudou essa relação. O objetivo era identificar como utilizar o mesmo princípio da árvore para reduzir a temperatura de ambientes isolados. Essa pesquisa se encaixa no campo da biomimética, área que procura inspiração na natureza para desenvolver artefatos funcionais e que tem a pesquisadora americana Janine Benyus como uma das principais referências do assunto. Foi ela que lançou, em 1997, a obra Biomimicry - Innovation Inspired by Nature, uma das primeiras publicações sobre o tema, e que, desde então, vem ganhando inúmeros seguidores pelo mundo.
FOTO: ALCIONE FERREIRA
CONHECIMENTO
Voltando ao oitizeiro, é Ney Dantas, professor do programa da UFPE e orientador de Natália, quem apresenta a tese. “Essa arquiteta, especialista em conforto, descobriu que o microclima, no caso do oitizeiro, é gerado parte a partir da forma das folhas, parte em função da seiva que circula e faz a troca de calor, e parte por uns microfilamentos que existem na superfície da folha”, diz ele. “Ela desenvolveu um protótipo feito de fibra de coco, um material natural, que recebe um nanogel e esse nanogel alimenta musgos”, explica. “O musgo, além de tornar esse composto vivo, ajuda na redução de temperatura e na criação desse microclima”. Esse material, ainda em desenvolvimento, poderia ser utilizado no revestimento dos edifícios que recebem bastante luz solar. “No Recife, no bairro de Boa Viagem, por exemplo, existem 6°C de diferença entre a beira-mar e a Avenida Domingos Ferreira por conta de um fenômeno chamado ilhas de calor. O sol bate nos prédios e o calor fica aprisionado dentro do concreto. Durante a noite, que é mais frio, o calor sai, mas não sai todo. Então a cada dia os prédios acumulam calor. Com o uso desse material você pode ter irradiação zero.”
31
32 CONHECIMENTO
BIOMIMÉTICA O design pode encontrar na natureza conhecimentos que podem ser aplicados para trazer melhorias para o nosso cotidiano. O professor Ney Dantas elencou exemplos de trabalhos utilizando a biomimética: _ A partir da superfície da flor de lótus, pesquisadores desenvolveram uma película para vidros que impede a aderência de outros elementos, ou seja, à prova de sujeira;
bioscode.com fb.com/codebios instagram.com/bios_code
No Recife, a equipe que forma a BI/OS Code, primeira startup de arquitetura e design do Porto Digital (embarcaram lá em abril), também utiliza os princípios da biomimética. A
_ O macacão que o nadador australiano Michael Phelps utiliza nas competições foi construído simulando a textura da pele do tubarão, melhorando o desempenho dele na realização das provas;
empresa foi gerada após a junção de três profissionais que,
_ No MIT (Massachusetts Institute of Technology), estuda-se o voo dos pássaros e abelhas para aplicar a mesma técnica em aviões não-tripulados e evitar choques;
dimento: biologia, tecnologia e a definição de metas para
_ Em vários países, instituições pesquisam como acumular líquidos em um recipiente que reproduza a lógica do favo de mel, que ocupa menos espaço físico, mas acomoda melhor os componentes que os tradicionais potes cúbicos.
em poucos meses, começaram a mostrar a que vieram. O designer Rafael Rattes e os arquitetos Isac Filho e Paulo Carvalho se juntaram no segundo semestre de 2015 para desenhar o DNA da empresa, que utiliza o design paramétrico em seus projetos. Na receita que traçaram, três pilares dão forma ao empreenconquistar o resultado. Nesses meses de trabalho conjunto, já montaram um portfólio interessante. A SlinBox, uma bacia sanitária com uma textura antiaderente, é um dos projetos de destaque. Simulando a superfí-
CONHECIMENTO
33
cie das folhas dos vegetais, poderia dispensar o uso de água. A luminária Bulbo, que, como o grupo descreve, tem como inspiração a “beleza natural de vegetais em fase de crescimento”, já é comercializada. Para Isac, a startup para eles se revelou uma ambição possível. “Gerar facilidades a partir de artefatos que usam soluções que a natureza já tinha oferecido é algo que se aproxima muito do que tem se discutido em várias partes do mundo”, explica o designer. “Com a BI/OS, a gente colapsou ideias em um plano de possibilidades e elas aconteceram. Nosso sonho, agora que estamos no Porto Digital, é transformá-lo, quem sabe um dia, em um Porto Biodigital”, finaliza Paulo.
Todos os dias, os ventos nos trazem a energia para criarmos um mundo melhor A Eólica Serra das Vacas acredita que sempre é possível gerar mais impactando menos. Por isso, focamos nossos investimentos em tecnologias que utilizam todo o potencial da natureza para manter o desenvolvimento da sociedade, respeitar o meio ambiente e contribuir para minimizar as mudanças climáticas. Complexo Eólico Serra das Vacas » Localizado em Paranatama, no interior do Estado; » Potência instalada de 91 MW; » Cerca de R$ 500 milhões em investimentos; » Operações iniciadas em novembro de 2015.
Projeto realizado com a iniciativa das empresas
eolicaserradasvacas.com.br
34
CONEXÃO
A QUARTA REVOLUÇÃO Não há mais dúvidas, a internet das coisas em pouco tempo estará presente no cotidiano de toda a sociedade. Soluções criativas, práticas e eficientes que vão eliminar a distância entre o mundo físico e o digital. São conexões que vão além do cotidiano, já chegam a novos modelos de gestão que redirecionarão o futuro
O
O mundo em que vivemos está passando por uma revolução. Dia após dia, novas tecnologias diretamente relacionadas com oportunidades criativas chegam para deixar sua marca na nossa sociedade. E elas vão muito além do entretenimento: hoje, fazem parte das nossas vidas e, cada vez mais, dos modelos de gestão que redirecionam o futuro do planeta. Como não poderia deixar de ser, a internet é o motor dessa revolução – e as engrenagens que proporcionarão soluções para os complexos problemas da nossa era já estão se movimentando.
CONEXÃO
35
Há pouco mais de 20 anos, a internet começou a fazer parte das vidas das pessoas. Até então, ela poderia ser acessada apenas pelos computadores e, de certa forma, nem era possível imaginar qual era seu verdadeiro potencial. É também nessa época que o conceito de Internet das Coisas começa a surgir nas universidades, já com uma nova maneira de pensar o uso dessa tecnologia: porque não dotar de conectividade, inteligência e autonomia objetos que, até então, não haviam sido pensados para serem conectados, como carros, geladeiras e afins? Mas a evolução não parou por aí. “A Internet das Coisas é um ecossistema que já está se expandindo para a Internet de Tudo. Se a Internet das Coisas é uma rede entre objetos que não eram conectados, na Internet de Tudo temos esses mesmos objetos interagindo com sistema de análises de dados e outros sistemas conectados a pessoas e plantas, por exemplo”, explica o consultor de Tendências do Porto Digital, Jacques Barcia. “Em Israel, por exemplo, algumas fazendas já estão completamente conectadas e é possível saber, em tempo real, o que está ocorrendo nas plantações e, consequentemente, fazer previsões de como será aquela safra e de como é possível obter ainda mais desempenho”, reforça. FOTO: JAMESTEOHART
A empresa de pesquisa Gartner estima que, em 2020, aproximadamente 200 bilhões de objetos estarão conectados à internet – exclua dessa conta celulares e computadores. Se a previsão é de que nas próximas décadas a Internet das Coisas se torne o maior mercado de dispositivos do planeta, hoje ela já faz parte de muitas realidades. O primeiro setor a conseguir se inserir nesse conceito foi a indústria, avançando nos seus processos de manufatura e dando origem à Indústria 4.0. “Esse conceito se refere a um conjunto de novas tecnologias que estão agregadas ao maquinário industrial, entre elas a fabricação digital, com as impressoras 3D, mas, principalmente, se refere à automação, à robótica, à conectividade e à inteligência”, explica Barcia. Exemplo: imagine um torno mecânico que, além de desempenhar sua função primeira, é dotado de inteligência via software que não controla somente a velocidade e a direção do torno, mas também monitora o desempenho energético e quando ele necessitará de manutenção. Essa é a indústria do futuro.
36
CONEXÃO
CIDADES Nas nossas vidas, a internet e as novas tec-
Segundo dados da própria empresa, em Paris,
nologias também estão propiciando mudanças que
por exemplo, cerca de 65% das viagens que são
vão muito além do que imaginamos. Itens como
feitas pelo aplicativo começam ou terminam em
os smartwatches e as smartbands já estão fa-
até 200 metros de distância de estações de
zendo parte do nosso cotidiano e modificando
metrô. Em Frankfurt, esse índice chega a 49%.
nossa forma de nos mantermos conectados. Por
“Nós vemos que, em todos os lugares, temos de-
trás da nossa rotina, no entanto, ela também
safios de mobilidade. As pessoas têm pensado
está possibilitando transformações importantes
em outros jeitos, com outros meios, para andar
e significativas nas cidades do mundo inteiro,
pela cidade. E vemos, na verdade, a Uber como
alterando a nossa forma de convivência com e
uma alternativa para o carro pessoal. Isso é
em sociedade, modificando o tradicional modelo
o principal”, explica o diretor de Comunicação
de relacionamento entre o poder público e os
da Uber no Brasil, Fábio Sabba.
cidadãos e, em alguns casos, até influenciando no próprio modelo de gestão das cidades.
Criada em 2013, a Epitrack utiliza as novas tecnologias para conseguir identificar áreas
A infraestrutura é o primeiro item da lista
com risco de ocorrência de epidemias – um ver-
a sofrer grandes impactos com a hiperconec-
dadeiro avanço para a saúde. Os dados obtidos
tividade. Considerada modelo de cidade inte-
são repassados para os governos, para que eles
ligente, em Nova York, por exemplo, cabines
possam agilizar a tomada de decisões. Nos Es-
telefônicas foram substituídas por totens de
tados Unidos, por exemplo, a plataforma con-
acesso à internet que irradiam WiFi gratui-
segue identificar surtos de influenza com até
tamente, em conexões de 125 gigabytes por
duas semanas de antecedência. “A gente enxerga
segundo. Em Pernambuco, o bairro do Recife
essa interação entre novas tecnologias e a
Antigo, casa do Porto Digital, conta com ini-
sociedade de uma maneira que depende muito do
ciativas como um sistema de monitoramento por
quão madura está a sociedade para recebê-la e
áudio que reconhece sons de tiros, câmeras
fazer uso, incorporá-la na rotina. Quando são
conectadas à rede de segurança pública da
tecnologias que resolvem problemas relevantes
cidade e semáforos inteligentes, além de co-
da sociedade, elas conseguem resolver esses
nectividade em todo o bairro.
problemas de maneira mais ágil do que tecnolo-
A inserção das novas tecnologias na forma como vivenciamos as cidades não é somente
gias mais tradicionais”, pondera o fundador da Epitrack, Onício Leal.
função da gestão pública – longe disso, é a
“A tecnologia é o principal pilar da nova
iniciativa privada que, muitas vezes, come-
economia”, concorda o co-fundador da plata-
ça a ser proponente desses novos modelos de
forma Colab.re, Gustavo Maia, rede em que o
vivência em sociedade. Fundada em 2009, nos
cidadão pode expor problemas da cidade, propor
Estados Unidos, a Uber é uma empresa que che-
soluções e avaliar a gestão pública a par-
gou para revolucionar a forma como o mundo
tir de um aplicativo que leva o mesmo nome.
se locomove. Em pouco tempo, a companhia se
“Iremos observar o aumento de iniciativas nas
expandiu para mais de 300 cidades e já co-
quais a tecnologia é o grande motor para tra-
meçou a impactar positivamente nas redes de
zer mais colaboração entre as pessoas - atra-
transporte público.
vés da redução da distância e da fluidez das
FOTO: JAMESTEOHART
CONEXÃO
comunicações; permitir que as trocas aconteçam enquanto as pessoas estão em movimento; fazer com que o social seja parte importante nas relações”, detalha o administrador. A esfera política, então, passa a ser uma das principais atingidas pelo novo estágio de desenvolvimento tecnológico e econômico que vive o mundo. “Antigamente, o máximo de acesso que tínhamos para uma administração colaborativa eram as reuniões de condomínio”, analisa Carla Link, do Coletivo Ocupe & Abrace, que estuda soluções urbanas e culturais para melhorar a vida no bairro da Pompeia, na cidade de São Paulo. “O que estamos passando agora é um momento de remodelagem dos sistemas políticos, mas principalmente da participação política”, define. E no futuro? Para Gustavo Maia, do Colab. re, as relações entre instituições serão mais próximas e modificarão toda a cadeia de organização social. “A tecnologia permite maior transparência, proximidade e fluidez das comu-
Belfort. “Tudo isso impactou a economia glo-
nicações. Deixam de existir certas assimetrias
bal e indústrias inteiras foram reformuladas,
de informação que anteriormente guiavam muitas
e continuam sendo, com base nessas evoluções.
das relações entre empresas, pessoas e gover-
Mas atualmente, o que é mais relevante é en-
nos. As lideranças passam a ser mais efêmeras
tender que todo indivíduo é um ser tecnologi-
e mais frágeis, criando modelos de organização
camente habilitado. E por isso, ele, indivi-
mais horizontais, com muita autonomia e inde-
dualmente, pode impactar o mundo de uma forma
pendência para seus integrantes”, opina.
muito mais contundente.”
Para Rui Belfort, diretor de novos negócios
A expectativa de Jacques Barcia, aliás, é
da Bemind, startup instalada no Porto Digi-
de que, nos próximos dez anos, um novo tipo
tal, nenhum momento do nosso cotidiano vai ser
de cidadão também se torne responsável pelas
off-line. “A tecnologia está e estará, cada
mudanças nas cidades: o maker. “Ele será um
vez mais, disponível desde o início até o fim
nativo digital, que gosta da cidade onde vive
de nossas vidas, interferindo em praticamente
e que irá utilizar ferramentas digitais e de
tudo que nos rodeia. Vai ficar cada vez mais
fabricação digitais para tornar a cidade mais
fácil se utilizar desses instrumentos”, aponta
conectada”, opina.
37
38
CONEXÃO
MAIS FACILIDADES PARA A SUA ROTINA O uso de apps mudou nossa forma de se relacionar com o mundo a partir de circunstâncias diversas. Especialistas já apontam que, nos próximos anos, todas as nossas experiências terão passado, de algum modo, pelo universo digital. Se hoje muitas vezes não sabemos como reduzir nossos danos ao meio ambiente, saibam que existe uma série de aplicativos que podem nos orientar para caminharmos corretamente. A seguir, nossas indicações:
DE OLHO NO PRATO
SEM CARRO
Na justificativa do
Quer
deixar
o
aplicativo Mapa de Feiras Or-
carro em carro e
gânicas, o Instituto Brasileiro
não sabe qual a
de Defesa do Consumidor é bem
AINDA DE OLHO NO PRATO
melhor forma de
direto: o Brasil é o país que
Ainda na pauta de alimentos orgâ-
se locomover? O
mais
Ao
nicos, vale conferir o FarmSquare,
Sem Carro (disponível, por enquan-
mesmo tempo, as pessoas que que-
uma rede social que é complemen-
to, apenas na cidade de São Pau-
riam uma alternativa para fugir
tar ao Mapa de Feiras Orgânicas.
lo) te ajuda. A partir da rota que
deles só encontravam, facilmen-
Essa tem um objetivo mais espe-
você quer fazer, ele determina qual
te, opções muito caras. Pensan-
cífico. Se você tem uma horta em
o melhor modal para chegar ao seu
do nisso, o Idec desenvolveu um
casa ou se no seu jardim tem fru-
destino, seja ele a pé, de bicicle-
mapa para conectar, com ajuda da
tas, por exemplo, ela pode te co-
ta, ônibus ou Uber - inclusive, as
geolocalização,
consome
agrotóxicos.
consumidores,
nectar a pessoas interessadas em
rotas também podem mesclar os trans-
feiras orgâncias, agricultores
receber esse alimentos ou trocar
portes. O app também já se conecta
e outras pessoas da cadeia pro-
por outros. É um escambo do bem,
com aplicativos como Bike Sampa e
dutiva para, assim, facilitar a
e todas as comidas são livres de
o próprio Uber (neste caso, avalia
vida dos compradores.
agrotóxicos. E é gratuito.
disponibilidade da frota e faz es-
feirasorganicas.idec.org.br
farmsquare.com.br
timativas dos custos de locomação).
BIOMOB
SAÚDE EM CASA
A gente se acostumou a avaliar páginas de
Quem precisa de um médi-
estabelecimentos comerciais. O recurso é
co e quer ser atendido em
útil. Dá para prever se os serviços ofe-
casa, o Docway é o aplicativo ideal. Já chamado de
recidos são bons e se encaixam nas nos-
Uber das consultas médicas, ele está disponível, por
sas preferências. Pensando nisso, o BioMob
enquanto, em Curitiba, Belo Horizonte e São Paulo, e
surgiu para ajudar portadores de necessidades espe-
as consultas têm preços fixos: R$ 200 para atendi-
ciais. Com notas de 0 a 5, o usuário pode avaliar qual
mentos em horário comercial, R$ 300 para atendimen-
o grau de acessibilidade de espaços públicos e privados
tos após as 18h e finais de semana e feriados. Além
em todo o País. O uso, além da utilidade de alertar
de poder agendar especialistas, pelo app é possível
quem vai sair de casa, também força os responsáveis por
marcar vacinas e coletas de exames, tudo isso dis-
esses espaços de promover melhorias nos locais.
pensando filas e sem perder tempo com deslocamento.
biomob.com.br
docway.co
CONEXÃO
39
OS APLICATIVOS DE TRANSPORTE INDIVIDUAL CONTRIBUEM PARA CIDADES MAIS SUSTENTÁVEIS por Andrea Leal
O
O desenvolvimento de cidades com mais qualidade
a dirigir menos. No Brasil, 80% dos usuários do
de vida e menos impacto ambiental depende de uma
Uber têm ao menos um carro na garagem.
transformação nos padrões de mobilidade urbana,
Estudos apontam que os carros particulares ficam
com incentivos para a opção pela mobilidade ati-
parados 95% do tempo! Quando os proprietários de
va e medidas que visem a aumentar a ocupação dos
veículos particulares começam a colocar no papel
veículos particulares. Parte da solução está em
os custos com impostos, seguro, estacionamento e
estimular o uso mais inteligente do automóvel, e
depreciação do veículo, percebem que podem econo-
a tecnologia para fazer isso já existe.
mizar trocando o automóvel por viagens de Uber. O
Aplicativos como o Uber — plataforma de tec-
efeito dessa decisão é extremamente positivo para
nologia que conecta prestadores de serviço de
as cidades: reduz a demanda por estacionamento.
transporte
passageiros,
O gestor público pode, então, traçar políticas
usando smart phones — permitem dar mais eficiên-
para uma cidade voltada, não aos carros, mas às
cia ao uso de recursos ociosos, colocando mais
pessoas. Uma faixa no sistema viário que servia
pessoas em menos carros. Um estudo da Univer-
para estacionamento de carros passa a abrigar um
sidade de Berkeley, na Califórnia, sobre Uber,
corredor de ônibus ou uma ciclovia.
privado
individual
e
Lyft e Sidecar mostrou que 40% dos usuários des-
Um estudo da Associação Americana de Transpor-
ses aplicativos que possuem automóvel passaram
te Público, que agrega agências de transporte dos Estados Unidos e Canadá, destaca que alternativas como a Uber complementam o transporte coletivo e recomenda que o poder público busque maior integração de serviços, informações e métodos de pagamento com essas plataformas, com o objetivo de melhorar a mobilidade urbana. Nos Estados Unidos, agências de transporte de cidades como Dallas e Miami já têm feito esse tipo de parceria. No Brasil, essa ainda é uma oportunidade a ser explorada na busca do desenvolvimento de cidades sustentáveis.
Andrea Leal é diretora de políticas institucionais do Uber.
SOLUÇÃO QUE CAI DO CÉU Falta de políticas públicas impede os avanços do País na captação e uso da água da chuva
POLÍTICAS PÚBLICAS
O
41
O termo crise hídrica entrou na pauta global.
que não é atingida por longos períodos de
No mundo inteiro, alternativas começam a sur-
seca, viveu um colapso no seu abastecimento
gir para suprir as deficiências e o alto cus-
que poderia ter sido evitado se houvessem es-
to do abastecimento de água no planeta, mas a
tratégias de retenção e acúmulo de água - o
solução mais eficiente para reduzir o prob-
que só comprova que desenvolver técnicas para
lema ainda é encontrar melhores meios de ar-
reduzir esse problema é uma demanda urgente
mazenamento de água da chuva. Eficaz e viável
em todo o território.
para a indústria, agricultura e residências,
Uma das iniciativas com resultados mais
o Brasil encara o problema de modo desordena-
expressivos é o Programa Um Milhão de Cis-
do. Para um país de contrastes, atingido por
ternas (P1MC), com atuação em quase todo o
enchentes e estiagens, e que concentra 12% da
Nordeste e ações isoladas em Minas Gerais,
água doce superficial do mundo, aproveitar
onde a estiagem se mostra mais severa. Criado
esse recurso parece um investimento óbvio,
em 1999, junto com a Articulação do Semiári-
só que, ao contrário do que aparenta, recebe
do Brasileiro (ASA), o P1MC consiste na con-
pouca atenção do poder público - sobretudo
strução de cisternas de fácil replicação.
no que se refere a criação de uma legislação
De acordo com o coordenador do programa,
que oriente Estados e munícipios na criação
Rafael dos Santos Neves, já foram construí-
de suas próprias leis.
das mais de 580 mil em 55.960 comunidades de
No País, o governo federal, por exemplo, não
1.140 municípios de todo o semiárido bra-
possui políticas públicas de alcance nacion-
sileiro. “Isso significa um total de aprox-
al. As ações, basicamente, estão direcionadas
imadamente 2.348.776 pessoas atendidas pelo
para as regiões marcadas pelas poucas precip-
programa até hoje”, calcula. Atualmente, o
itações. Mas, se observamos, recentemente a
P1MC está incorporado ao Água para Todos, do
cidade de São Paulo, localizada em uma região
Ministério da Integração Nacional.
avaliadas pela pesquisa, 17,2% possui legislação municipal relacionada ao assunto. É notável que o número de novos projetos é crescente, mas ainda não há nenhuma regulamentação de caráter nacional.
apenas 19% do número total de estados possui lei específica para sistemas de captação de água da chuva. Entre as cidades
POLÍTICAS PÚBLICAS
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) indica que
42
“A
perspectiva
é
que
se
universalize
o
acesso à água a toda área rural, priorizando casas com crianças de 0 a 5 anos, idosos, pessoas com deficiência e lares chefiados por mulheres”, afirma. Depois de selecionadas, as famílias participam do Curso de Gerenciamento de Recursos Hídricos (GRH), que aborda questões relacionadas à seca e aos cuidados com as cisternas. “Além de conquistarem a tecnologia social, elas têm acesso a materiais educativos que dão apoio aos debates e construção coletiva de conhecimento”, conclui Rafael dos Santos. Já em áreas urbanas, o aproveitamento da água da chuva pode ser um método aliado na contenção e gestão dos alagamentos. Muitas empresas, indústrias e condomínios já perceberam que é possível reduzir os impactos das inundações, utilizar o recurso natural e ainda tirar proveitos financeiros no fim do mês. Foi pensando nessas vantagens que o engenheiro Victor Hugo Batista desenvolveu um sistema de captação e tratamento de água da chuva. O local escolhido foi o prédio onde ele trabalhava, em Jaboatão dos Guararapes, município pernambucano que possui um dos maiores índices pluviométricos no estado. O método funciona assim: a água da chuva fica armazenada no telhado do galpão e depois desce por meio de calhas de PVC. A água é direcionada por tubos para a cisterna e, de lá, é bombeada através do sistema de tratamento para a caixa-d’água, onde estará pronta para ser utilizada. “O equipamento ocupa menos de 0,5m² e 1m de altura. É formado por um pré-filtro, ultrafiltro, um filtro de
POLÍTICAS PÚBLICAS
carvão ativado e um clorador de linha, e tem tecnologia que retém vírus e bactérias, tornando a água potável”, afirma Victor Hugo. Ele acrescenta que a menor demanda é capaz de atender cerca de 500m³ de água ao mês, gerando uma diminuição significativo em custos operacionais. Ao contrário do que pode parecer, o sistema não é complexo, nem requer altos custos. “Qualquer pessoa ou estabelecimento comercial tem condições de ter e manter”, diz o engenheiro. Segundo ele, o investimento total foi retornado em cerca de um ano. “Acredito que a importância não está só na redução dos valores nas contas de energia, de água e gás, mas sobretudo pela minimização dos impactos ao meio ambiente”, destaca Victor, que se considera um propagador da economia dos recursos naturais.
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44
POLÍTICAS PÚBLICAS
O VALOR DO VERDE
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) desponta no Brasil e no mundo como estímulo à preservação. Pernambuco já aderiu à prática
Q
Quanto vale uma floresta preservada? A pergunta - sejamos sinceros - é difícil de responder. Quando se tenta imprimir certo valor à natureza, normalmente levamos em conta aquilo que ela pode nos oferecer diretamente, como a madeira que pode ser extraída ou a utilização de áreas para atividades agropecuárias. Contudo, essa lógica vem mudando com a adesão de diversos países e estados ao chamado Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Dentro dessa nova perspectiva, a nossa floresta preservada do início do texto significa muito mais do que a simples madeira que pode ser extraída e vendida. Nela, está a fonte do oxigênio que respiramos, a manutenção da biodiversidade e da qualidade solo e da água que consumimos. Os “serviços prestados” pela natureza precisam ser levados em consideração pelos proprietários de terras, antes de desmatar áreas que precisam ser preservadas. Mas, para isso, é necessário transformar a preservação dessas áreas em algo financeiramente mais atrativo do que sua exploração.
POLÍTICAS PÚBLICAS
É aí que entra o PSA - iniciativa que ganha
entram os Pagamentos por Serviços Ambientais.
cada vez mais adeptos no mundo e no Brasil.
A proposta atua também como uma forma de evi-
Em Pernambuco, por exemplo, o governo esta-
tar a pressão da agricultura nas florestas”,
dual, por meio da Secretaria de Meio Ambiente
explica o secretário de Meio Ambiente e Susten-
e Sustentabilidade (Semas) e da Agência Esta-
tabilidade de Pernambuco, Sérgio Xavier.
dual de Meio Ambiente (CPRH), criou a Lei nº 15.809/16, sancionada pelo governador Paulo
PERNAMBUCO AVANÇA NA PROTEÇÃO
Câmara, que instituiu a Política Estadual de
DA MATA ATLÂNTICA
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). O
Além da Política de Pagamento por Serviços
projeto, concebido pela Semas, visa incen-
Ambientais (PSA), o Estado de Pernambuco tem
tivar uma nova economia de serviços ambien-
avançado cada vez mais em projetos para con-
tais, possibilitando benefícios financeiros
versação dos seus recursos naturais. Nos úl-
para proprietários que criarem Reservas Par-
timos cinco anos, com a criação da Secretaria
ticulares do Patrimônio Natural (RPPNs) ou
de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) e
desenvolverem projetos que ampliem a prote-
do fortalecimento da Agência Estadual de Meio
ção ecossistêmica. Para a implantação da nova
Ambiente (CPRH), houve o crescimento de 122%
política será aplicado o Fundo Estadual de
da área de proteção integral da Mata Atlântica
Pagamento por Serviços Ambientais, que terá
pernambucana. Contribuíram para o expressivo
aporte inicial de R$ 5 milhões.
aumento a criação de novas Unidades de Conser-
No meio rural onde, geralmente, a manuten-
vação - UCs (Bita e Utinga, em Suape e Matas
ção de áreas preservadas é encarada como pre-
de Sirigi e Matas de Água Azul nos municípios
juízo por alguns produtores, projetos como o
de São Vicente Ferrer, Timbaúba, Vicência e
PSA geram certa apreensão. Entretanto, para
Macaparana) e a ampliação de antigas UCs, como
muitos especialistas o pagamento por serviços
o Parque de Dois Irmãos, que teve sua área
ambientais é uma das formas mais eficientes de
de mata praticamente triplicada (de 384 para
incentivar a preservação ambiental, pois inova
1.158 hectares) e a mata do Engenho Uchoa, no
ao conciliar preservação com geração de renda.
Recife, que teve sua área expandida de 20 para
A FAO (Organização das Nações Unidas para Agri-
171 hectares.
cultura e Alimentação) publicou um relatório
Para avançar ainda mais nos indicadores po-
no qual defende o PSA como principal maneira
sitivos, o secretário estadual Sérgio Xavier
de evitar a pressão da agricultura, que tende
assinou termo de parceria com a Fundação SOS
a aumentar, cada vez mais, sobre as áreas de
Mata Atlântica para viabilizar a elaboração
florestas. “É necessário transformar a preser-
dos Planos Municipais de Proteção e Recupe-
vação de áreas nativas em algo financeiramente
ração da Mata Atlântica, em consonância com a
mais atrativo do que sua exploração. É aí que
Lei Federal 11.428/2006 (Lei da Mata Atlânti-
45
46
POLÍTICAS PÚBLICAS
ca). Em Pernambuco, mais de 50 municípios estão em áreas onde ocorre este Bioma. “Estamos articulando a elaboração destes Planos por Bacias Hidrográficas, buscando integrar a proteção das matas e dos nossos rios, simultaneamente. Só há água, onde existe mata”, enfatiza Xavier. Com os novos planos, matas nativas situadas próximas a bacias hidrográficas podem ser transformadas em
PSA pelo mundo
Unidades de Conservação. A assinatura do acordo
Costa Rica O governo criou um mecanismo de financiamento baseado em um fundo - o FONAFIFO - alimentado por uma taxa nos combustíveis fósseis, para remunerar os proprietários rurais que conservam e restauram a floresta nativa.
Mata Atlântica, no Rio de Janeiro, e que reuniu
México O projeto SCOLEL TE utiliza a venda de créditos de carbono na bolsa voluntária de Chicago (CCX - Chicago Climate Exchange) para financiar esforços agroflorestais que reduzem as emissões de gases do efeito estufa. O projeto esta sendo gerido em conjunto pelo Edinburgh Centre for Carbon Management; (ECCM) e pela cooperativa méxicana AMBIO.
ocorreu no evento promovido pela Fundação SOS os representantes de 17 estados e do ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho. Além dos Planos Municipais de Proteção e Recuperação da Mata Atlântica (PMMA), novos projetos já estão em curso para aumentar a proteção da Mata Atlântica nos municípios pernambucanos onde há registro do bioma, mangue ou restinga. A Semas vai lançar o programa estadual voltado para a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) - unidades de conservação de domínio privado, onde o proprietário assume o compromisso da conservação mediante reconhecimento público. Atualmente existem 12 RPPN´s estaduais
França O objeto é o pagamento a proprietários de florestas, a melhora de práticas agrícolas e o reflorestamento de áreas de recarga de aquífero em fazendas de vacas leiteiras, localizadas na parte alta da bacia e proprietários de floresta. Foram pagos cerca de $230 dólares por hectare por ano, durante sete anos. O grupo descobriu que seria mais barato investir na conservação da terra ao redor de seus aqüíferos, do que construir uma planta de filtração para abordar questões de qualidade da água.
na Mata Atlântica, reconhecidas pela Agência Es-
Estados Unidos A prefeitura de Nova York faz investimentos em propriedades agrícolas a 200 quilômetros de distância, para garantir a qualidade da água consumida na cidade. Para o cidadão novaiorquino, é vantajoso pagar os fazendeiros pelos serviços ambientais que eles prestam, fornecendo água pura e limpa. Nova York ainda não tem estação de tratamento, só de filtragem. Pra cada dólar investido na preservação do ambiente, Nova York economizou sete no tratamento convencional da água. Já faz 19 anos que a população da cidade paga pelos serviços ambientais de agricultores.
homenagem a Eduardo Campos. Também foram plan-
tadual de Meio Ambiente CPRH. No Complexo de Suape, o Viveiro Florestal conta com mais de 1,6 milhões de mudas plantadas no território. O local - onde o ex-governador Eduardo Campos, em junho de 2012, deu início ao Programa de Recuperação da Mata Atlântica - recebeu no último mês de junho a visita do governador Paulo Câmara e do secretário Sérgio Xavier para a inauguração de uma placa comemorativa em tadas as primeiras mudas do milésimo primeiro hectare de reflorestamento do complexo.
> Pagamento por Serviços Ambientais
(PSA)
desponta no Brasil e no mundo como estímulo à preservação. Pernambuco já aderiu à prática
POLÍTICAS PÚBLICAS
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INOVAÇÃO
INOVAÇÃO
TECNOLOGIAS: DESDE SEMPRE, PARA SEMPRE POR SILVIO MEIRA1
A
A miríade de tecnologias que nossa espécie usa nos caracteriza, como humanidade, há muitas dezenas de milhares de anos. De múltiplas formas, conceitos como humanidade e tecnologia são inseparáveis, como se as palavras fossem sinônimas. Até porque foram elas que nos deram uma vantagem competitiva sustentável e definitiva sobre todos os outros candidatos a liderar a vida no planeta - por bem ou por mal (em boa parte, especialmente nos últimos 200 anos, por mal). Esse mal se deve, principalmente, ao rastro de destruição causado pelo uso intenso de tecnologias primárias em larga escala e com efeitos colaterais dramáticos. Agora, uma coisa parece líquida e certa: para haver um “lá no futuro” para se discutir erros, acertos e aprendizados daqui do passado, é preciso, e urgente, cuidar para que haja um desenvolvimento verdadeiro, equilibrado e sustentável. A favor disto estão as
FOTO: ALCIONE FERREIRA
TICs, tecnologias de informação e de comunicação, no momento entrando na década das coisas, a quinta onda de inovação (que é altamente compacta). Agora, estão por toda parte os chips, que trazem consigo o potencial de informatizar e cosilvio@meira.com boletim.de/silvio; twitter @srlm
Professor Emérito do Centro de Informática da UFPE, Professor Associado da FGV DIREITO RIO, Presidente do Conselho do PORTO DIGITAL e Chief Imagination Officer da IKEWAI.com.
[1]
nectar cada objeto existente no planeta, de camisas e óculos a geladeiras e portas. Tais objetos, conectados e medindo seu universo, vão gerar uma imensidão de dados sobre seu comportamento e contexto e, por outro lado, poderão receber pequenas missões a cumprir (os comandos), como determinar a uma lâmpada que entre no modo descanso porque nin-
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50
INOVAÇÃO
guém necessita dela acesa. Uma cidade como Re-
sistemas depende de metais pesados e terras
cife tem mais de 120 mil postes de iluminação
raras, mas o uso, reuso, descarte e reciclagem
pública, muitos deles com múltiplas lâmpadas.
apresentam sérios desafios. Boa parte dos sis-
Quanta energia economizaríamos se as lâmpadas
temas atuais, de uso global por bilhões de pes-
tivessem sensores de presença e, em conjunto,
soas e milhões de organizações, são serviços
a iluminação seguisse quem precisa dela?
que dependem da data centers, parte essencial
Outro exemplo: a agricultura de precisão
da capacidade global de computação e comunica-
é um dos próximos sistemas onde TICs serão
ção, que têm uma dependência significativa de
tão - ou mais - importantes do que a terra e
energia gerada a partir carvão. Estima-se que
as sementes. Dos satélites e o processamen-
tais centros, onde são armazenados e processa-
to de suas imagens (cujo nível de detalhe e
dos os dados que todos nós e todas as nossas
diversidade aumenta radicalmente ao tempo em
coisas usam, tenham consumido nada menos de
que o custo cai no mesmo ritmo) à previsão
415 TWh em 2015, cerca de 40% a mais do que a
do tempo, cada vez mais instrumentada por um
Inglaterra, a quinta maior economia do mundo.
número maior e mais diverso de sensores, tudo
Isso é 3% da economia utilizada no planeta em
tem cada vez mais TICs, usadas de forma cada
2015 e 2% de todos os gases de efeito estufa.
vez mais eficaz e eficiente. A nova revolu-
E a previsão é de um consumo duas a três vezes
ção verde é digital e terá um impacto ainda
maior até o fim da próxima década2.
maior do que a primeira, porque vai afetar
Desde sempre e para sempre, tecnologias
todo o ciclo de vida dos alimentos, desde bem
e humanidade são e serão sinônimos. O grande
antes de plantar até bem depois de consumir -
desafio, daqui para a frente, é fazer com que
criando novas cadeias de valores globais em
o uso de muito mais informação, informatiza-
cada centímetro quadrado da Terra.
ção e automação, gere muito mais resultados
Mas existem problemas: de longe, têm-se
desejados e muito menos efeitos colaterais
a impressão de que o digital é ambientalmente
indesejados do que qualquer outro tipo de
limpo, mas este decididamente não é caso. Não
tecnologia gerou até aqui, nessa nossa ao
só a produção de componentes, equipamentos e
mesmo tempo longa e curta história.
“
Quanta energia economizaríamos se as lâmpadas tivessem sensores de presença?
Global warming: Data centres, The Independent, edição de 23/01/2016, ind.pn/1pHY0gq.
[2]
PRECISANDO RELAXAR? CURTIR COM A FAMÍLIA? APROVEITAR COM OS AMIGOS? VIVA A NATUREZA, O VENTO NO ROSTO, O VERÃO O TEMPO TODO. MERGULHE DE CABEÇA EM UM CENÁRIO INCRÍVEL PARA SEUS PLANOS DE DESCANSO E LAZER, ONDE CADA MOMENTO É INESQUECÍVEL E TEM CARA DE FÉRIAS O ANO INTEIRO.
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ECONOMIA
A ESPERANÇA VEM DO SOL por Linda Murasawa
N
Nenhuma nação está segura se deixar de apro-
Nosso país tem a segunda maior energia solar
veitar ao máximo seu potencial para a pro-
incidente. Um recurso que, diferentemente da
dução de energia. O Brasil é a prova disso:
água e do vento, é abundante em qualquer parte
inigualável em disponibilidade de recursos,
do território nacional, durante todo o ano. O
convive com uma ameaça crescente de escassez
astro-rei precisa ser considerado nessa busca
de energia.
por saídas para a crise.
A escassez hídrica é a face mais visível
Alguns dos maiores especialistas do mundo em
da crise que se avizinha. Em São Paulo, já é
energias renováveis — os brasileiros Luiz Pin-
real a falta de água para as indústrias e até
guelli Rosa,Emilio La Rovere, Ladislau Dowbor
mesmo para a produção agrícola. Trata-se de
e o francês Ignacy Sachs — avaliaram o quanto
uma ameaça à economia e à segurança alimentar
a luz natural pode acrescentar à nossa matriz
no Estado que responde por 30% da produção
energética. Em um exercício teórico, eles cal-
nacional de riquezas. E o drama se repete em
cularam o que aconteceria se instalássemos
escala nacional. Enchentes no Norte contras-
painéis fotovoltaicos em uma área equivalente
tam com agonia dos reservatórios das hidrelé-
à que seria inundada caso aproveitássemos todo
tricas do Sul/Sudeste.
o potencial hidrelétrico do país. Os 142 mil
A água, de solução, parece ter virado pro-
quilômetros quadrados de painéis gerariam 15
blema — com origem no desmatamento flores-
trilhões de kWh/ano, o equivalente a 20 vezes
tal, que afeta o clima e nos obriga a utili-
o potencial hidrelétrico estimado.
zar fontes de energia poluentes, fechando o círculo vicioso.
Os painéis fotovoltaicos de silício produzem, em vez de calor, energia elétrica. Seja
O único caminho é a diversificação de nossas
no conceito de geração centralizada (na forma
fontes de energia. Temos iniciativas louváveis
de fazendas solares) ou em microgeração (re-
em busca de mais autonomia e segurança, mas
sidências e empresas), podem inclusive devol-
nenhuma solução se sustenta em uma só modali-
ver a energia excedente para a rede elétrica
dade de geração. A boa notícia é que o Brasil
convencional. É o que ocorre, por exemplo, na
dá sinais de ter encontrado, na luz do sol, uma
Dinamarca, na Espanha e na Alemanha. Somen-
alternativa viável para sua matriz energética.
te neste último país, a energia fotovoltaica
ECONOMIA
está presente em 2,5 milhões de casas,com uma
O primeiro leilão de energia reserva de 2015,
capacidade próxima de três usinas de Itaipu,
marcado para 14 de agosto, irá contratar exclu-
com 38 milMW por ano.
sivamente fontes fotovoltaicas. O pregão pode
Com as políticas corretas, o prazo para tor-
estimular o desembarque de grandes fornecedo-
nar viável a alternativa solar no Brasil não
res, mas a energia contratada só será entregue
deveria ser um problema. Tomemos o exemplo
em 2017. Podemos, e devemos, desejar os benefí-
americano. Um dos poucos países com mais de
cios da geração fotovoltaica em um futuro mais
10 mil MW de potencial de geração fotovoltai-
próximo.
ca, os Estados Unidos instalaram 83% desta
A depender do modelo de comercialização de
capacidade nos últimos três anos e meio. Com
equipamentos e venda da energia excedente, é
o ganho de escala, o custo médio caiu de US$
possível pensar nas placas fotovoltaicas como
6 para US$ 4,25, nos projetos residenciais, e
uma garantia de abastecimento em todos os rin-
para apenas US$ 3 na indústria. Foi criado um
cões do país,principalmente nas áreas rurais.
pool de empresas instaladoras, e garantiu-se
O Brasil, com seu imenso potencial agrário, tem
que o custo dos equipamentos poderá ser dedu-
na geração solar uma via para novos níveis de
zido do Imposto de Renda até 2016.
produtividade.
Por aqui, somos fartos nas principais maté-
Devemos aperfeiçoar modelos de financiamento
rias-primas da energia fotovoltaica — sol e
que, combinados com boas políticas de incen-
sílica —, mas a tecnologia ainda não existe em
tivo,permitam que a própria economia na conta
território nacional. Como resultado, o custo
de luz pague as parcelas do empréstimo, viabi-
médio de instalação de placas fotovoltaicas
lizando o uso residencial em larga escala. As
em uma residência ainda é alto. Em geral, su-
linhas de crédito para instalação de sistemas
pera os R$ 40 mil.
fotovoltaicos, disponíveis desde o fim de 2013,
A legislação brasileira já permite a “de-
podem permitir a amortização completa do in-
volução” de energia para a rede elétrica e a
vestimento a partir do oitavo ano,conforme o
utilização de créditos pelo excedente gerado
projeto.
desde dezembro de 2012, quando foi publicada
O papel do setor financeiro vai além. Pode ser
a Resolução 482 da Agência Nacional de Ener-
decisivo para estimular a atração de grandes
gia Elétrica. Apesar disso, a infraestrutura
fabricantes de equipamentos para o Brasil. Além
na maioria das cidades ainda está longe dos
do crédito de médio e longo prazo, o setor tem
sistemas inteligentes implantados em outros
acesso aos diversos mecanismos de mercado de
continentes — um bom exemplo do chamado smart
capitais.
grid é a Plataforma Sevilha, na Espanha, que atende a 180 mil residências.
A lista de tarefas e alianças parece extensa, mas é viável. Dados os passos iniciais, a
Nosso desafio consiste em trazer para cá o
conjunção da necessidade de alternativas ener-
know-how necessário para a produção local de
géticas com os benefícios da energia solar se
painéis,capacitar mão de obra para a fabrica-
encarregará de iluminar esse novo caminho para
ção e instalação das placas nas residências e
o futuro.
desenvolver a cadeia necessária de estímulos iniciais para dar escala e viabilidade comercial à modalidade.
Linda Murasawa é superintendente-executiva de desenvolvimento sustentável do Santander
53
54
ECONOMIA
CAÇANDO INVESTIDORES Conseguir recursos para realizar seu projeto nunca foi tão simples
M
Muitas ideias, poucos recursos e, consequente-
dos. Na lista de primeiros projetos financia-
mente, vários projetos já deixaram de aconte-
dos, está o Cidades para pessoas, idealizado
cer. Isso nunca foi tão coisa do passado como
pela jornalista Natália Garcia. A ideia nasceu
é hoje. O crowndfunding ganha cada vez mais
para ser uma expedição por 12 cidades planeja-
força e se torna, atualmente, o caminho natu-
das pelo arquiteto dinamarquês Jan Ghel – ou
ral para quem quer botar no mundo (ou na rede,
que tiveram sua consultoria ou foram conside-
como preferir) suas propostas. Isso vale desde
radas importantes por ele, por serem pensadas,
para financiar a produção de um filme até para
em primeiro lugar, para pessoas. No roteiro,
quem quer abrir uma startup. A versão moderna
países da Europa e da América.
das “vaquinhas” veio e pegou, só precisa ter o insight certo ou um bom propósito.
Projeto pronto, Natália fez duas campanhas. A primeira, com meta de R$ 25 mil, ar-
Sites de financiamento coletivo funcio-
recadou R$ 25,7 mil, através do apoio de 276
nam de modo muito parecido. Em resumo, pre-
pessoas, e financiou a parte inicial da via-
cisa que você monte o seu projeto e defina
gem, em 2011. Já a segunda, financiou a parte
o período de arrecadação. Como pagamento,
seguinte da jornada, em 2012, e arrecadou R$
os sites ficam com uma porcentagem do valor
17,3 mil, com doações de 286 pessoas. A meta
arrecadado. E essa prática tem atraído mui-
era R$ 15 mil. “O financiamento coletivo é o
ta gente. O mercado global do setor cresceu
espaço mais democrático de viabilizar proje-
167% entre 2013 e 2014, atingindo uma mo-
tos sustentáveis para as cidades. É a rede
vimentação de US$ 16,2 bilhões, segundo o
quem decide o que é importante”, lembra.
Crowdfunding Industry Report 2015.
Com o conhecimento adquirido, Natália
No Brasil, a ferramenta surgiu em 2011, com
realizou palestras País afora. “Conheci ca-
o Catarse – hoje, com mais de 2,3 mil projetos
ses brasileiros de como as cidades se or-
realizados e mais de R$ 39 milhões arrecada-
ganizam e trouxe isso para a prática. Após
ECONOMIA
55
“
O financiamento coletivo é o espaço mais democrático de viabilizar projetos sustentáveis para as cidades. É a rede quem decide o que é importante. uma oficina, nasceu o ‘Passanela’, também
dings estimulou outros projetos. É o caso
através de financiamento coletivo”, explica.
do Mil Orquídeas Marginais, do orquidófilo
Com a intervenção, a passarela da avenida
Alessandro Marconi e da produtora Carolina
Rebouças, em São Paulo, ganhou estruturas
Sciotti. Marconi teve a ideia de devolver as
como bancos, sombras e sinalização. “O crow-
plantas para as margens dos rios Pinheiros e
dfunding é uma possibilidade de fazer trans-
Tietê, em São Paulo, de onde foram extintas.
formações profundas, ainda que em pequena
Com a ajuda de Carolina e dicas de Natália, o
escala”, avalia.
projeto entrou no Catarse em setembro de 2014
A experiência de Natália com crowdfun-
e conseguiu 80% do valor para a execução.
OUTRAS POSSIBILIDADES Muitos sites de financiamento coletivo trabalham recompensando seus apoiadores. Mas quem quer abrir uma startup já conta com ferramentas eficientes para identificar investidores que, nestes casos, não ganham brindes: viram sócios do negócio.
Uma
plataforma
conecta
online
empreendedores
que
Com
investimentos
a
partir
Simples e direta, a ferramen-
em
de mil reais é possível que
ta permite que você invista
busca de capital e pessoas
qualquer pessoa ou institui-
a quantidade que deseja, vire
dispostas a investir em pro-
ção vire acionista de uma das
um dos sócios e participe dos
jetos inovadores.
startups hospedadas no portal.
lucros do empreendimento.
fb.com/brootabr
fb.com/eqseed
fb.com/StartMeUpBr
broota.com.br
eqseed.com/br
startmeup.com.br
56
ECONOMIA
REINVENÇÃO QUE DEU CERTO Como a necessidade de uma matéria-prima resultou em um projeto ambiental de alcance surpreendente
Q
www.asanet.com.br
Quando em 2008 a borra de soja (um resíduo
doado a empresa também faria uma doação, em
da produção de óleo alimentício) passou a
dinheiro, para o Instituto de Medicina In-
ser utilizada nos testes para geração de
tegral Professor Fernando Figueira (IMIP),
biodiesel, o composto ficou escasso e re-
no Recife. Aí surgiu outra dificuldade. “O
presentou um problema para o grupo ASA. O
nosso passo seguinte foi entender como pode-
resíduo servia de matéria-prima para o sabão
ríamos conseguir fazer essa arrecadação. Na
em barra Bem-te-vi, um produto com história
época, ninguém falava sobre isso, então fo-
e grande aceitação no mercado, e era preci-
mos atrás de descobrir como chegar às empre-
so achar um substituto rápido, de modo que
sas e às pessoas e sensibilizá-las”, explica
isso não atrapalhasse na chegada do item aos
a química industrial Flávia Moura, gerente
consumidores. Encontraram no óleo de cozinha
de Qualidade, Desenvolvimento e Responsabi-
a fonte para o que precisavam, e essa desco-
lidade Socioambiental da ASA.
berta deu origem ao que viria a ser um dos
A primeira atitude que tomaram foi che-
programas de sustentabilidade, desenvolvido
gar às escolas, entendendo que a melhor ma-
pela iniciativa privada em Pernambuco, com
neira de educar os adultos seria levando
maior reconhecimento no estado.
essa instrução para os filhos deles. Através
Como o hábito de despejar o óleo de co-
de parcerias com a rede de ensino pública e
zinha no ralo da pia é um problema, tanto
privada do Recife, a empresa começou a dis-
por ser altamente poluente como por também
cutir a importância ambiental de evitar o
entupir as redes de esgoto, a empresa re-
descarte do óleo com alunos, em sua maioria,
solveu juntar dois propósitos: recolher óleo
do ensino fundamental. “E todas as escolas
já utilizado e, como incentivo, a cada litro
com quem conversávamos se interessavam pelo
ECONOMIA
57
“
A aceitação pela população foi tão grande, as pessoas estavam tão interessadas em doar o óleo, que virou uma prestação de serviço. Tivemos que criar condições para a participação de todos Flávia Moura, gerente de Qualidade e Sustentabilidade do Grupo Asa comemora que o projeto já evitou que mais 5,5 milhões de litros de óleo fossem descartados na natureza mundolimpovidamelhor@asanet.com.br
81 3073 5066
tema e começavam a recolher óleo para o
neamento (Compesa). Um dos principais in-
projeto. Os alunos e professores ficavam
teressados em evitar entupimentos e polui-
muito entusiasmados com a possibilidade de
ção das águas, o órgão instalou coletores
ajudar a evitar um dano ambiental”, relem-
de óleo na maioria de suas lojas.
bra Flávia. “Como alguns professores tra-
“Nossa ideia inicial era arrecadar o
balham em mais de uma escola, a iniciativa
óleo apenas de grandes doadores. Seria mais
começou a chegar a outros lugares, sem que
fácil, pela logística. Mas a aceitação pela
nós os procurássemos, e isso gerou um mo-
população foi tão grande, as pessoas estavam
vimento espontâneo que continua até hoje.”
tão interessadas em doar o óleo, que virou
Agora, com inúmeras parcerias - que
uma prestação de serviço. Tivemos que criar
vão desde restaurantes a empresas de gran-
condições para a participação de todos”,
de porte e órgãos públicos, a ASA conse-
justifica. Por conta disso, até já existe um
guiu resolver um problema interno e ainda
número de telefone para quem quer saber onde
atender a uma demanda socioambiental. Sem
fica o PEV - ponto de entrega voluntária,
grandes investimentos, o projeto, que foi
mais próximo de casa (e não para de tocar).
batizado de ‘Mundo Limpo, Vida Melhor’,
O ‘Mundo Limpo, Vida Melhor’, hoje, já
tem a Baterias Moura, em Belo Jardim, e o
chega a 47 municípios de Pernambuco e tam-
Governo de Pernambuco como dois dos seus
bém em Fernando de Noronha. São mais de 500
principais parceiros. “O Governo não só
pontos de coleta e 2700 parceiros (destes,
através da Secretaria de Educação, que nos
mais de 350 são escolas). Em 2008, a média
abriu muitas portas, mas também através
de arrecadação era 1,5 mil litros de óleo
de Secretarias como a de Meio Ambiente
por mês. Em 2016, são 80 mil. Mais de 5,5
e de Ciência e Tecnologia, que começou a
milhões de litros deixaram de ser descar-
nos incluir na programação de seus even-
tados na natureza e 85 mil pessoas foram
tos para apresentar nosso case”, detalha
treinadas nas oficinas de capacitação. “A
Flávia. Outro parceiro importante para o
grande construção desse trabalho é a for-
projeto é a Companhia Pernambucana de Sa-
mação de uma rede”, finaliza Flávia.
58
CIDADANIA
emausrecife.org
CIDADANIA
CICLO COOPERATIVO
O
Trapeiros Emaús Recife dá vida ao lixo eletrônico Texto e fotos: Alcione Ferreira
O Trapeiros Emaús, que vocês vão conhecer a seguir, é uma entidade que reúne atores dispostos a mudar uma realidade social e econômica de um grupo marginalizado do Recife. Maria Clara Dias, gestora regional da Yunus Negócios Sociais, consegue enxergar bem a importância de iniciativas como esta. “A gente na Yunus acredita muito na ideia de que por trás de cada problema ou desafio que a gente encontra pode existir uma grande oportunidade. E é nessa perspectiva que os negócios sociais atuam e o empreendedorismo social também. A gente acredita que, de fato, pode-se mobilizar as pessoas para se empoderarem e resolverem os problemas que estão no nosso bairro, na nossa comunidade, na nossa cidade, enfim, no nosso País, a partir dessa lógica de transformação”, esclarece.
O rapaz que aprendeu o sentido do verbo resignificar tem voz mansa e uma calmaria peculiar nos passos. Wanderson Silva tinha 19 anos quando conheceu o projeto Trapeiros Emaús Recife, sediado na comunidade de Dois Unidos, Zona Norte do Recife. Viu uma placa anunciando que a entidade estava oferecendo um curso gratuito de refrigeração. Hoje com 25 anos, o jovem se qualificou profissionalmente e retornou para a instituição - desta vez para atuar como diretor secretário. “São duas formas de resignificar: o objeto, com a preocupação em relação ao meio ambiente, que é uma diretriz do Emaús internacional, e a recuperação da vida, oferecendo cursos profissionalizantes que permitem abrir uma porta, uma chance para os jovens que estão na comunidade”, explica. Por ano, a instituição consegue formar em torno de 200 alunos, entre moradores da própria localidade quanto de outros bairros. O movimento mundial sem fins lucrativos começou na França após a Segunda Guerra Mundial através do Padre Abbé Pierre, que enxergou na crise do pós-guerra a possibilidade de ajudar famílias por meio da coleta, classificação e venda de materiais recicláveis, em um movimento circular e contínuo. Aos poucos, foi adquirindo contornos de uma verdadeira rede e se espalhando pelo mundo. No Recife, a filosofia dos Emaús começou suas atividades em 1996 atra-
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60
CIDADANIA
vés do italiano Luigi Tenderini e Don Hélder Câmara, à época Arcebispo de Olinda e Recife. Os dois, inclusive, já trabalhavam juntos na Comissão de Justiça e Paz em Pernambuco. Hoje, o Emaús Recife se mantém através da doação dos materiais, como roupas, TVs e móveis que são reciclados e vendidos em bazares
estar respondendo a uma pauta de soluções para
realizados duas vezes por semana no galpão da
os desafios do século XXI, criando uma lógica
instituição a preços módicos, que variam de 5%
de mundo mais inteligente e sustentável.
a 10% do valor do produto novo comercializado em lojas. “Nós não temos nenhum tipo de
Segundo Wanderson, os bazares populares atin-
apoio
gem em torno de 10 mil famílias por mês, permi-
governamental ou insenção de impostos. A gente
tindo a manutenção da instituição e o poder de
se sustenta unicamente com nosso trabalho”,
compra das pessoas, com teto de compra máximo
comenta Silva. A associação ainda mantém, além
de R$ 150. Há uma circulação de pessoas não só
do galpão-sede, uma escola onde são realizados
da comunidade como de toda Região Metropoli-
os cursos e uma casa de apoio.
tana do Recife formando uma rede paralela de
Dos itens coletados, reciclados e oferecidos
consumidores a partir da mais antiga forma de
no bazar, um chama atenção: os computadores.
promoção de eventos: o boca a boca; até porque
O mundo convive há mais de quinze anos com a
o Emaús possui poucos meios de divulgação de
problemática do lixo tecnológico, que já se
seus serviços e projetos.
tornou um problema de ordem mundial. Itens com
No vai e vem dos trabalhadores voluntários
esse padrão perdem seu potencial de uso, não
da associação, uma voz entoando um português
raro, em menos de seis meses, atendendo a um
dissonante ajuda a entender o sentido de rede
pressuposto alimentado pela indústria voraz da
que o Emáus internacional defende: é o italia-
tecnologia, que pensa e trabalha constante-
no Matteo Riva. Ele descobriu a fiolosofia dos
mente em aperfeiçoamento técnico e competição
Emaús e quis conhecer vivenciando na prática,
comercial, na lógica da economia digital, mas
atuando como voluntário no galpão, trabalhando
não em políticas de descarte e reutilização dos
com coleta, reciclagem e classificação dos ma-
materiais. Segundo a UIT ( União Internacional
teriais que chegam aos montes. Está há um mês
de Tecnologia), em 2000 o percentual de pessoas
aprendendo, além da lingua portuguesa, novos
conectadas era de 6,5% da população mundial.
conhecimentos que o ajudem a ser um ser uma
Em 2015, disparou para 43%. O acesso a bens
pessoa melhor. “Estou aqui para ter uma ex-
tecnológicos deve ser levado em consideração
periência de vida, está sendo muito profunda,
na construção desses gráficos. E na contramão
diversa. Para mim, tem sido um aprendizado”.
dessa lógica estão se formando toneladas e mais
Com 33 anos, é esse veronense, que estudou
toneladas de detritos advindos desses bens. Em
economia internacional, política e marketing
parte, muitos desses montantes são literalmente
e
despejados por países europeus na África, como
cidade, que percebeu ser totalmente plausível
acontece em Gana, onde foi criado um cenário
extender ainda mais a conexão dos Emaús pelo
futuro apocalíptico denunciado através das fo-
mundo: “Estou vendo que se pode, observando
tografias de Pieter Hugo, mostrando verdadei-
essa crise na Europa, exportar esse modo de
ros lixões a céu aberto. Reciclar computadores
trabalhar, de se reciclar e colocar os bens de
e colocá-los a venda com preços acessíveis é
volta para a sociedade”.
trabalha numa indústria de queijos da sua
CIDADANIA
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62
COLABORAÇÃO PARIS
REDE COLABORATIVA ENTRE VIZINHOS FAZ SUCESSO NA FRANÇA por Sâmar Razzak
Q
Quando o francês Davi Rouxel resolveu criar
mais ou regar plantas - e tem a possibilidade
uma rede de colaboração entre vizinhos, há
de descobrir uma série de serviços e comparti-
dois anos, ele tinha duas coisas na cabe-
lhamentos existentes dentro do grupo em que ele
ça: recriar o clima de cidade do interior,
está inserido. Carona solidária, espaço para
onde as pessoas se conheciam e se ajudavam,
depósito (bastante útil em cidades como Paris,
e reunir num único lugar todos os serviços
em que os apartamentos são bem pequenos), em-
colaborativos disponíveis próximos de cada
préstimo de objetos ou anúncios de serviços ou
usuário. Em poucos meses, mais de quatro mil
eventos que podem interessar a todos.
pessoas estavam inscritas no Mon P’tit Voisi-
Para participar, basta se inscrever no
nage (Minha Pequena Vizinhança, em tradução
site, colocar os dados pessoais, o endereço
livre) e logo a rede ganhou toda a França.
e logo descobrir se existe uma rede estabe-
Atualmente, são cerca de nove mil uti-
lecida nas proximidades de onde você mora.
lizadores, 2,5 mil embaixadores voluntários
Como se trata de uma rede sem fins lucrativos
e 8,2 mil redes espalhadas pelo país. Só em
e baseada na troca espontânea, a segurança é
Paris, são cerca de 500 grupos de vizinhos,
essencial. Por isso, o site se ocupa de re-
com 17 mil inscritos. Para 2017, o objeti-
colher o máximo de informações possíveis de
vo é lançar o conceito no exterior, princi-
cada usuário de modo a garantir que só parti-
palmente em países francofónos, como Suíça,
cipem da rede quem realmente tem interesse em
Bélgica e Canadá (Quebec). Em maio deste ano,
participar do conceito proposto.
foi lançado um aplicativo para celular para facilitar a vida dos usuários. monptivoisinage.com
ECONOMIA FINANCEIRA E AMBIENTAL
A ideia é simples: reunir num só lugar
A ideia de base é a colaboração e o consumo
todas as possibilidades de trocas, serviços e
consciente. Dar carona a um vizinho ou pro-
oportunidades de colaboração entre pessoas que
mover compras coletivas (de frutas e legu-
vivem perto de você. O objetivo é oferecer so-
mes, por exemplo), além de representar eco-
luções concretas para facilitar o dia a dia das
nomia no final do mês, reduz as emissões de
pessoas através do compartilhamento. Cada ins-
gases tóxicos na atmosfera. Para o fundador
crito oferece o que quiser - doações de objetos
do site, o sistema colaborativo é a “energia
ou roupas, disponibilidade para cuidar de ani-
verde do amanhã”.
COLABORAÇÃO PARIS
O site disponibiliza uma calculadora virtual para simular a economia que uma pessoa morando sozinha ou uma família economizaria ao fazer parte de uma economia colaborativa. Desde a carona solidéria até compras em grupo: a estimativa é que, aderindo ao sistema colaborativo, cada pessoa pode economizar até 500 euros por mês. Além da economia em dinheiro, o participante fica sabendo a quantidade de CO2 que deixará de ser lançada na atmosfera com uma postura mais consciente. Aderindo à carona solidária, às compras coletivas e a ajuda mútua, um grupo de 100 vizinho consegue reduzir em até 500 quilos por ano as emissões de CO2. EMBAIXADORES TRABALHAM PARA ATRAIR USUÁRIOS A coordenadora de comunicação Veronique Bahuet é o que a rede P’tit Voisinage chama de embaixadora - usuários bastante ativos que têm como objetivo atrair participantes para a rede. Ela mora em Paris e é uma das integrantes mais antigas do grupo - ela aderiu ao serviço poucos meses após a criação. Veronique conta que sempre se questionou sobre a possibilidade de estabelecer uma rede de cooperação entre vizinhos. “Moro num condomínio que tem mais de 250 apartamentos e sempre imaginava que seria interessante aproveitar o grande número de pessoas reunidas num lugar só para colocar em funcionamento uma rede”, conta. No começo, ela pensou em criar um site e tentar começar uma rede do zero. Mas o excesso de trabalho a desanimou, uma vez que ela já tem uma rotina bastante intensa. No entanto, Veronique não deixou a ideia de lado e seguiu fazendo pesquisas, ate achar o Mon P’tit Voisinage. “Achei a rede simples, clara e correspondia ao que eu estava procurando”, relembra. Mas para que o sistema funcionasse, ela precisava angariar interessados ao seu redor. Veronique, com auxílio do site, começou a espalhar folhetos e convidar os vizinhos a medida que os encontrava pelos corredores. A persistência e determinação deram certo : hoje a rede criada por Veronique é uma das maiores e mais ativas do site, com 108 inscritos. Ela conta que já foi solicitada para regar plantas, alimentar animais, entre outras coisas. “Cada um propõe aquilo que pode fazer ou escreve expondo uma necessidade. A ideia é facilitar a vida das pessoas e descobrir que, bem próximo de nós, pode estar a solução para um problema momentâneo”, explica. Além da troca de ajudas e serviços, a rede estabelecida por Veronique conseguiu convencer o condomínio a disponibilizar uma sala onde o grupo realiza reuniões constantes, festas e também estabeleceu uma biblioteca. “O melhor de tudo é que, além de ajudar as pessoas e receber ajuda, consegui fazer verdadeiros amigos através do grupo”, conta.
63
ARTE E CULTURA FOTO: FLAVIO COLKER
64
PASSOS DO CAPIBARIBE Deborah Colker e Cláudio Assis assinam parceria que tem o rio pernambucano como elemento de inspiração
ARTE E CULTURA
65
D
Deborah Colker é, ainda em plena atividade, um capítulo da dança contemporânea mundial, uma marca ímpar. Ela e a companhia a que dá nome já desfilaram seu repertório de movimentos por importantes palcos das artes mundo afora. Depois de acumular parcerias com a FIFA, com o Cirque du Soleil e até mesmo, mais recentemente, coreografar a cerimônia de
ca morei fora, enfim, minhas referências são
abertura dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, a
Brasil, com suas misturas, seu jeito, sou
bailarina carioca de ascendência russa apor-
de família judia da Rússia, com toda esta
tou em Pernambuco para uma residência ar-
miscelânea e sopa cultural, mas nunca tinha
tística que percorreu quatro municípios do
me debruçado sobre uma geografia específica,
estado - cidades estas que, entre outras pai-
sobre um lugar específico, minhas inspirações
sagens em comum, fazem parte do curso do rio
eram universais, então vem este homem [João
Capibaribe. A experiência, feita em parceria
Cabral] e me deixa em nocaute com seu poema e
com o cineasta pernambucano Cláudio Assis,
suas certezas. Fazer o que? Dar a ver”, ex-
vai unir o universo da dupla aos cenários tão
plica. E como surgiu a parceria entre a bai-
característicos da obra do poeta João Cabral
larina e o cineasta pernambucano? “O Cláudio
de Melo Neto, culminando com uma performance
é um querido amigo, acho uma inteligência,
no Marco Zero, no Bairro do Recife, na data em
um vulcão criativo, então nada mais lógico
que se comemora o dia do rio, 24 de novembro.
do que chamá-lo para nadar neste rio, beber
Há três anos, presa em um engarrafamento
junto a água deste rio”, justifica a carioca.
no trânsito caótico do Rio de Janeiro, a bai-
“Há 6 anos fomos chamados por Cláudio
larina iniciou uma despretensiosa leitura da
Assis para comemorar o dia do rio Capibari-
famosa obra “O Cão Sem Plumas”, do mesmo autor
be, um projeto em conjunto com o Governo do
de “Morte e Vida Severina”. “Foi emocionante,
Estado. Na época, não podemos fazer por con-
foi um choque, estávamos aos prantos, e ali
ta de agenda, mas como legado (hoje em dia
tivemos a certeza que João Cabral seria o nos-
tudo é legado), nos aprofundamos na obra de
so universo durante os próximos quatro anos.
João Cabral. Nessa época, já tinha menciona-
Gosto muito da expressão de João ‘Dar a ver’,
do a possibilidade de me aproximar da poesia
então eu quero dar a ver a João”, conta Deborah
pernambucana, não tenho certeza se mencionei
Colker. Essa vivência representa mais um acú-
O Cão Sem Plumas, que na verdade ouvi pela
mulo de elementos para a companhia, trazendo
primeira vez no meu casamento com o fotógrafo
novas cores e texturas ao trabalho do grupo.
pernambucano Cafi, que já falava do Cão Sem
“Esse momento me traz de volta ao Bra-
Plumas pra mim nos anos 1980. Daí muita vida
sil, tudo o que faço é Brasil, toda a minha
rolou debaixo de muitas pontes e agora esta-
temática é Brasil, pois sou brasileira, nun-
mos aqui”, finaliza.
ARTE E CULTURA FOTO: BERNARD LESSA
66
UM FUTURO DE POSSIBILIDADES Museu do Amanhã projeta o planeta do futuro com as alterações causadas pela intervenção humana
U
Um depositório de horizontes, com previsões, alarmes e questionamentos. O futuro e sua capacidade de ser pretérito dão substância ao que está exposto no Museu do Amanhã, novo espaço para visitação da Praça Mauá, no Centro do Rio de Janeiro. Em funcionamento desde dezembro, quem visita o novo equipamento cultural encontra um painel que desperta enigmas, com as mudanças climáticas compondo a paisagem. “O museu examina o passado, apresenta tendências do presente e explora cenários possíveis para os próximos 50 anos a partir das perspectivas da sustentabilidade e da convivência. O Museu pretende provocar a reflexão de que o amanhã é hoje. E hoje é o lugar da ação”, explica Juliana Tinoco, gerente de Comunicação do museu.
ARTE E CULTURA
“
O amanhã não é uma data no calendário, não é um destino final; ele é uma construção que começa hoje, agora
Para a concretização dessa ideia, toda a arquitetura do espaço foi elaborada pensando em reduzir os danos ao meio ambiente. Toda a refrigeração é feita utilizando a água da Baía de Guanabara que, durante o processo, é purificada e, depois, é devolvida à natureza despoluída. “A cobertura do edifício, com cerca de 5 mil painéis solares divididos em 24 conjuntos de asas móveis, movimenta-se de acordo com a trajetória do Sol, o que potencializa a captação de energia”, reforça. Todo esse aparato pode produzir até 9% da energia elétrica que é consumida pelo edifício. A sustentabilidade também está em seu interior. A exposição principal, criação do designer norte-americano Ralph Appelbaum com direção artística de Andres Clerici, se divide em cinco áreas: Cosmos, Terra, Antropoceno, Amanhãs e Nós. Em cada uma delas, o público conhece um perspectiva ampliada sobre cada abordagem, que pode ser aprofundada por meio de totens interativos. As experiências são interligadas com o Laboratório de Atividades do Amanhã, área de experimentação que realiza atividades relacionadas à arte, ciência e tecnologia, e com o Observatório do Amanhã, que expõe e repercute informações sobre estudos científicos e tecnológicos a partir de temas relacionados ao museu.
FOTOS: CESAR BARRETO
Juliana Tinoco, gerente de Comunicação do Museu do Amanhã
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DIÁLOGOS
SUSTENTABILIDADE, ECONOMIA CRIATIVA E NOVAS TECNOLOGIAS ESTÃO NA PAUTA DOS EVENTOS QUE ACONTECEM NOS PRÓXIMOS MESES. CONFIRA:
15 a 18 de dezembro de 2016 FITIC Brasil - Feira de Tecnologia
Sobre: A Feira Internacional de Tecnologias de Informação e Comunicação reúne empresas de tecnologia para demonstrar as novidades do mercado. O evento também vai premiar os melhores protótipos desenvolvidos por startups. Local: São Paulo fitic.com.br
DIÁLOGOS
69
junho de 2017 Connected Smart Cities 2017
Sobre: Fórum que vai debater, entre outras pautas urgentes, o urbanismo sustentável nas cidades; mobilidade e acessibilidade; e como as cidades podem ser mais conectadas, empreendedoras e inclusivas. Local: São Paulo
connectedsmartcities.com.br
24 a 26 de abril de 2017 Biocom 2017
Sobre: O 10º Simpósio Nacional de Biocombustíveis busca a integração entre estudantes, pesquisadores e agentes governamentais acerca do tema que dá nome ao evento. Local: Recife
abq.org.br/biocom
31/01 a 5/02 de 2017 Campus Party Brasil 2017
Sobre: Serão 600 horas de atividades entre palestras, oficinas, workshops e atividades especiais para os participantes, além de diversas atrações gratuitas abertas ao público. Local: São Paulo
brasil.campus-party.org
70
DIÁLOGOS
PE Sustentável Uma iniciativa de Pernambuco que faz bem a todo o Planeta.
Criado pelo Governo de Pernambuco, o PE Sustentável é um programa que tem por objetivo consolidar o estado como polo gerador
de
energia
limpa
e
produtor
de
equipamentos,
tecnologia e con hecimento para o setor energético. Em menos de
três
anos,
já
viabilizou
empreendimentos
e
ações
impor tantes, do Ser tão ao litoral. Incentivar a produção de e ne r g i a re nováve l é promove r a q u a l id ade de v id a n a Te r ra . E , a cada iniciat iva nesse sent ido, o f ut u ro do Pla neta ag radece.
www.sdec.pe.gov.br
DIÁLOGOS
1º parque híbrido do Brasil (eólico e solar) » Capacidade para a geração de 340GWh por ano. » Redução de mais de 131 mil toneladas anuais de CO2 na atmosfera.
Novos parques solares » Contratos assinados para a instalação de dois novos parques solares. » Capacidade para a geração de mais 78 mil MWh por ano.
Atlas Solar e Eólico de Pernambuco » Potencial bruto para a geração de 1.000GW de energia eólica e 5.195GW de energia solar no estado. » Subsídio para a expansão planejada, sustentável e inclusiva de energias renováveis.
Incentivos fiscais » Redução no ICMS de máquinas e equipamentos para os parques energéticos (eólicos ou solares) e as indústrias do setor. » Estímulo à diversificação da matriz energética e ao fortalecimento da cadeia produtiva local.
Programa PE Solar » Incentivo à geração de energia solar por micro, pequenas e médias empresas pernambucanas. » Empresas mais competitivas e sustentáveis, com a redução de custos e a utilização de energia limpa.
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DIÁLOGOS
2017 2016 2015
A maior desenvolvedora eólica do Brasil é também a maior de Pernambuco
A Casa dos Ventos investe para transformar os bons ventos pernambucanos em energia.
Os resultados somam:
Entrega do complexo
Ventos de Santa Brígida
Ventos de São Clemente,
o maior parque eólico de Pernambuco, entra em operação comercial
Operação comercial de
Ventos do Araripe III
(esperado)
2,7
bilhões de reais em investimentos
10 MILHÕES
de reais investidos em programas sociais
Energia suficiente para mais de
www.casadosventos.com.br casadosventosenergiasrenovaveis Casa dos Ventos Energias Renováveis @acasadosventos
1.000.000
2.500
empregos diretos e indiretos gerados em Pernambuco
2,530,400 MWh
de geração anual de energia
de residências