Revista Víbora 1o Edição

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UMA REVISTA OUE PHOMOVE A DUVIDA ANAROUISMO SEGUNDO KROPOTKIN, Benjamin Cano Ruiz - NTETZSCHE CON TRA O CRISTIANISMO, Frederich Nietzsche * MARINETTI E O FUTURISMO, F. T. Marine. di " TNES CRONICAS AGUDAS, EZ|O FIdViO BAZZO * TRISTES TRANSGRESSORES, JOrdi Arenas * UM NOVO "Saber", UMA TOTAL RUPTURA, Rotilde Caciano de Almeida (entrevis16) * ECOLOGIA, SOCIEDADE, ANAROUISMO, Luiz Racionero ' O AMOR ENTRE AS PESSOAS LIVRES. EMMA GOIdMAN * UMA SOCIEDADE DE OTARIOS SOB A SOMBRA DO DOUTOR FREUD, Martin, L. Gross '"*

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Psicologia F

iloso{ia

Surreal isrrro An tropologra

Ciganologia Soc iologia

Arte

MAR9O/MA|O DE 1981 Ano lnternacional dos Ciganos


TENHO CERTEZA. . .

de que meus leitores serSo belos e encantadores como os 0ltimos dias de primavera! J5 os conhego pelo olhar, pelo passo e pela infinidade de estrelas que trazem acesas nas

mdos... Todos loucos perdidos, gig6los incurdveis, abutres sedutores, afeminados, semitas e antisemitas, doutores Lacanianos, artistas Futuristas, ladr6es de perus natalinos, religiosos transviados, soldados de guarda, alimentadores de girafas e, inclusive, algumas adolescentes daquela escola particular, onde fazer 'Pipi'6 quase um pecado mortal!

Tenhocerteza... de que passarei pelas mSos da Elite deste mundo hip6crita! Os outros, os milhares de individuos que ndo me conhecer5o, estarao sempre e sempre condenados a uma vida (l6gica), (coerente), (realista) e (produtiva)!!! E serSo sepultados ali, sob a sombra ing6nua de um eucalipto solit6rio.

Ndo, n5o se iludam com o progresso humano! Ainda n5o se fez nada aqui, ndo somos mais l0cidos que o peixe obsessi'ro fechado em seu aqudrio que golpeia com a cabega o vidro invisivel, sem lograr avango algum. Nosso conhecimento ain'da d tao insignificante e teo infantil que acabarS por matarnos de vergonha.

Por favor, em meu nome, abram as janelas de vossas consci6ncias

!

ViBORA.


"Esvaziado por sua fecundidade, fantasma que gastou sua sombra, o homem de letras dinrinui com cada palavra que escreve. 56 sua vaidade 6 inesgot6vel, se fosse psicol6gica teria limites, os do Ego. por6m 6 c6smica ou demoniaca e o submerge,,. E.M.CIORAN

Se ainda acreditdssemos na "ciâ‚Źncia" diriamos cheios de orgulho que esta 6 uma revista "cientffica". Como jii n5o participamos desta ingdnua e medieval crenga, afirmamos apenas, que 6 uma revista "nova", "ca6tica', ,,,triste,, e ,,venenosa,,. Uma revista que n5o se alimenta de an0ncios para sobreviver e que tampouco necessita de aplausos para existir. Somos um punhado de c6pticos e estamos cheios de ndusea!

creio que somos "emergentes" deste grande complexo de massas dompstie infelizes. A misdria social nos d6 Asco... a misdria intelectual nos abomina. . . a marcha servil e o sildncio de nossa gente nos enche de f0ria, uma f6ria teo in0til e tdo desesperada como todas as f0rias tardias, como todas as f0rias que levam em si a "virtude" de uma religiSo. Somos um grupo de furiosos acabados! cadas, incultas

Suspeitamos que tudo ainda estii por ser feito no mundo, neste mundo que produziu um Nietzsche e um Hegel mas que ainda estd regido por uma ideologia e por uma visSo de tribo. Suspeitamos de que nenhum passo foi dado em direg6o d "civilizagao" e temos certeza de que o homem est6 enfermo, muito enfermo, morren-

do d mingua pelos caminhos falsos da utopia e do misticismo. Copdrnico, Marx e Freud sairam um pouco da rota, desmistificaram alguns postulados, sobrevoaram a "ilha dos vermes". . mas acabaram por eleger outros mitos e outras lendas, as quais tambdm merecem nossa incredulidade e nosso desprezo. Estamos loucos!

Somos o resultado de uma sociedade paran6ica e irracional, e o louco que existe em n6s d quem nos obriga a esta aventura. Sem ele, seriamos medfocres vulgares


e, como todos, necessitariamos uma religido, um partido, uma bandeira e um Deus para cada primavera. Sem as ordens do louco que levamos, ndo saberiamos respirar, defecar e nem mesmo bocejar. E ele quem ordena que nosso pulmdo funcione e que nosso sangue passeie por nossas veias. Acreditamos que n5o d possivel ser normal e vivo ao mesmo tempo. As ruas, os consult6rios, os escrit6rios.. ah, temos a freqtiente impress6o de estar passeando por entre mausol6us! Viver aqui 6 a morte, em outro lugar o suicidio! (Cioran).

Lukasiewicz, ("Mem6rias da Academia de Cidncias de Nova Yorque, Vol. 34, '1972, pp. 373-391) calcula que anualmente se publicam mais ou menos um milhdo de contribuig6es cientificas e mais ou menos 85 mil revistas especializadas. Para que? Vossos intestinos funcionam melhor agora que antes? A familia deixou de ser patriarcal repressora e anti-sexual? A morte, o nascimento, a velhice sao agora espectros diferentes do que foram a sdculos passados? E vossos coragdes, carregam menos 6dio que carregavam ontem? O trabalho deixou de ser um castigo do qual ningu6m foge? A arquitetura deu mais espago ao homem, a sociologia foi titil, a psicologia fez alguma coisa? Ah, turlo ndo passa de vds ilus6es! Tudo ndo passa de um conhecimento fragmentado, hipot6tico, nada cientifico, idealizado e in0til. Um conhecimento que ndo tem a minima infludncia sobre a r.oda da existâ‚Źncia e sobre o Eterno Retorno. Ndo, n5o se assustem os senhores que esteo cheios de medo de perder o emprego; o niilismo d nosso e n6'o de vossos chefezinhos. Os senhores sempre terao trabalho, papdis, n0meros, cafezinhos, conferdncias, entrevistas, ordens, promog6es, cirurgias, aventuras, missas, matrimbnios, carnavais, novelas, e dinheiro para encher o tanque de vosso carro' Ningudm jamais alterard vossa paz nem vossa mediocridade.

revista "science Journal" (1970) uma das mais prestigiadas revistas da lnglaterra, comentando sobre o simp6sio "A Ciencia para a Humanidade", diziai "Os cientistas, ao tratar de justificar a maior parte daquilo que fazem, como fazem, e porque o fazem, o realizaram de .'naneira assombrosamente est0pida. O que expressaram foi um emaranhado de concei' tos il6gicos e ret6ricos, como.jamais havia surgido de uma comunidade de homens de ci6ncia. A cidncia necessita pois, um novo enfoque. tsto 6, um enfoque que n5o se conforme com transmitir ret6rica tradicional e arrogante, que no melhor dos casos nada tern a ver com o problema que se trata e que no pior, ndo 6 mais que um irracional e falso jogo de mentiras."

A

Cidncia

l

Mientistas

!I!

Trabalho realizado fora do cfrculo vital. Labuta descabida, realizada a portas fechadas em um gabinete escuro, onde, sem d0vidas, a vida ndo est5. . . motivo de ironia para as Leis Naturais. Fora com esses ratos de bibliotecas! Fora com esses ratos de laborat6rio, tra-

tando de encontrar um "micr6bio" aqui, uma "bact6ria" acol6, um "pr6ton", um "zincon", um "nadun". . um microsc6pio que revelar6 ao homem "que espera" a inc6gnita bdsica e causadora de toda dor: Nascer e Morrer! Mediocres que utilizam

l j j 1

l

:


a palavra "Ci6ncia", "Cientffico", etc., determinando com isso o que para eles 6 "Ci6ncia" e "Cientffico" e o que ndo 6, desde uma valoragSo arbitrdria e estabelecida sob o simbolo da import6ncia, do fracasso e da esterilidade. Vidas estdreis! Reis que repartem como aves de rapina a fortuna de Nobeliun! Polemistas extremados que se perdem em discuss6es bizantinas e em tragos de cachaga, ressuscitando freqrientemente Asnos mortos para autopsiar as cinzas negras do ventriculo esquerdo. Francis Picabia no dia 27 de margo de 1920, no teatro principal de Paris indignou os parisienses com esta afirmagSo, em relagSo a Dada: /"Dada 6 como vossas esperangas: nada. Como vossos idolos: nada. Como vossos politicos: nada. Como vossos her6is: nada. Como vossos artistas: nada. Como vossos cultos religiosos: nada."l E n6s acrescentamos:/Como vossa Cidncia: Nada!

/

e

ragas submetidas se apresentam sempre recobertos por uma mdscara sorridente ou s6bria. Multid6es an6nimas que sonharam sempre com um "Cosmos", ainda quando ndo sentiram outra coisa que ndo fosse o grito do "Caos". Escravos, servos

Esta revista ndo foi feita somente para "eruditos", muito menos para "chefezinhos" ou "professorzinhos". N5o ainda ndo perdemos a vergonhal Escrevemos para todos os (poucos) que sabem ler, inclusive para aqueles indivfduos despresiveis que s6 v6em no v6o de uma ave a possibilidade de cag6-la e assim baixS-la ao nivel pobre e mediocre do cagador que, nem voa, nem deseja voar e nem entende de v6os; por6m, que fala do espaco com arrogancia e pedanteria. Odiamos o consumismo!

Da mesma forma que odiamos a autoritarismo, a arbitrariedade, a ignor6ncia e a irracionalidade do mundo. Suspeitamos com Pasolini: /"H6 uma ideologia real e inconsciente que unifica a todos e que 6 a ideologia do consumo. Uns tomam uma posigSo ideol6gica Fascista, outros adotam uma posigfio ideol6gica Antifascista, por6m ambos, antes de suas ideologias possuem um terreno comum que 6 a ideologia do consumismo"./

Enfim, nossa revista procurar5 apenas levar um pouco de veneno atd os subterfrigios mais esquecidos dos leitores. Ndo, ndo temos nenhuma ilus6o e muito menos somos ortodoxos. Como dizia Plinio: - noiso amor dorme em outra placenta! N5o somos tdo ing6nuos para querer iluminar-vos. Sabemos de quSo obscuras sdo vossas vidas e qudo bloqueada estd uma parte de vossos c6rebros. lnclusive, o 0nico que queremos 6 o "pais de nossos filhos", o inexplorado no mais distante dos

mares...esse6opaisquesempreesempreordenamosbuscarebuscaranossobarco. O EDITOR


O T I(ROPOTI(IT{ "Minha liberdade 6 a liberdade

de todos, porque eu ndo sou realmente liwe, (liwe neo somente em id6ias mas tamb6m em a95es) a n5o ser quando minha

liberdade e meus direito estejam em harmonia com a liberdade e oom os direitos dos demais: Oue-

ro ser livre e nf,o posso, porque i minha volta todos os outnos homens n6o querem ser liwes, e ndo querendo, oonrrertem-se para mim em instrumento de repressdo e de opresâ‚Źo".

Miguel Bakunin

Kropotkin. que nasceu em dezembro de 1842 e morreu em fevereiro de 1g21 , foi uma das figuras mais destacadas do pensamento Anarquista de todos os tempos, define o Anarquismo como segue:'

Anarquismo: Nome que se d6 a um princfpio ou a uma teoria de vida e de conduta, segundo as quais a sociedade 6 concebida sem governo (do grego

AN e ARCHE; sem autoridade). A

harmonia

em uma sociedade como esta, se consegue ndo pela submissSo i lei ou pela obedidncia a qual-

quer autoridade, senSo por livres acordos de-

J

terminados entre os numerosos e variados grupos, em base territorial ou profissionais, cons_ titufdos livremente para as necessidades da produgdo e do consumo, tanto como para satisfazer a infinita variedade de necessidades e aspirag6es de um ser civilizado. Em uma sociedade deste tipo, as associag6es volunt6rias, que comegam por cobrir todos os campos da ativida-

de

humana, tomariam uma extensdo ainda maior atd chegar a substituir o ESTADO em

todas as suas fung6es.

Representariam uma rede feehada, composta de uma infinita variedade de grupos e de


federaQ6es de todas as medidas e graus, locais,

regionais, nacionais e internacionais - temporSrios ou mais ou menos permanentes - para todos os fins possfveis: produgdo, consumo e

intercimbios, organizaq6es sanit6rias, educagSo,

protegeo mOtua, defesa de territ6rio, etc'; e, por outro lado, para satisfazer um n0mero sem pre.

crescente de necessidades cientlTicas, ar'

tfsticas, literSrias e sociais' Por outra parte, uma sociedade como esta, neo teria nada de imutSvel. Pelo contr6rio - como se v6 na vida o196nica - a harmonia seria a resultante do ajuste e do reaiuste, sempre modificados, do equilfbrio entre a multiplicidade de forgas e de influ6ncias, e este ajuste seria mais fiicil de obter, j6 que nenhuma destas forgas gozaria de uma protegao especial por parte do Estado. Se a sociedade f6sse organizada segundo estes princfpios, o homem n6o estaria limitado no exercfcio de sua forqa de trabalho por um monop6lio capitalista, mantido pelo Estado;

ndo estaria tamb6m limitado no exercfcio de sua vontade pelo temor de um castigo, ou pela obedi6ncia a entidades individuais e metaf fsicas, ambas conduzindo d destruigSo da iniciativa e i serviddo espiritual. Seria guiado em suas ag6es, por seu pr6prio jufzo, de quem receberia, est6 claro, a infludncia da agSo e da reaqSo livres entre ele mesmo e as concepg6es dticas do meio

ambiente. O homem seria assim; capaz de obter o desenvolvimento completo de todas suas faculdades intelectuais, artfsticas e morais, sem ver-se impedido pelo excesso de trabalho que lhe impSem os monop6lios capitalistas, pela serviddo e a in6rcia de espfrito da maioria; po-

deria assim alcangar sua total individualizagSo, o que 6 impossfvel, tanto no sistema moderno do individualismo como n5o importa em que sistema do socialismo de Estado ou suposto Vol kstaat (Estado PoPular).

Os autores Anarquistas consideram, ainque sua concepgSo ndo 6 uma utopia consda, trufda sobre um m6todo a priori, depois de haver-se tomado alguns desejos como postulados' O progresso das tdcnicas modernas, o qual simplifica consideravelmente a produgSo de todos os bens necess6rios i vida; o espfrito crescente de independ6ncia e a progressSo

rdpida da livre iniciativa e do livre jufzo em todos os ramos da atividade humana - inclusive as que antigamente eram consideradas como de

e do Estado - reforgam tenddncia de supressSo dos a consideravelmente domfnio da lgreja

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"governos". Os Anarquistas e o Estado: Ouanto is concepg6es econ6micas, os Anarquistas, em comum com todas as escolas socialistas das quais constituem a ala da esquerda, sustentam que o sistema atual da propriedade privada da terra, e da produgSo capitalista orientada para o lucro, constituem um monop6lio que vai contra os princfpios da justiga e das regras da utilidade; sdo os principais oostS' culos que impedem que o â‚Źxito das t6cnicas modernas seiam postos ao servigo de todos, para aumentar o bem estar geral.

Os anarquistas consideram o sistema de

trabalho assalariado

ea

produgSo capitalista

como obstdculos ao progresso. Tambdm observam que o Estado foi e continua sendo o

principal instrumento que permite a alguns monopolizar a terra e aos capitalistas de apropriar-se de uma parte excessivamente desproporcional do excesso da produgSo acumulada durante o ano. Assim, ao mesmo tempo que combatem o monop6lio da terra e o capitalismo, os Anarquistas combatem com a mesma energia ao Estado, porque 6 o suporte principal

deste sistema; ndo esta ou aquela forma de Estado, senSo a nogdo mesma de Estado, seia uma Monarquia ou inclusive uma rep0blica governada por meio de "referendum".

A organizagSo Estatal havendo sido sem' pre, o mesmo na hist6ria antiga que na hist6ria moderna (o lmpdrio Maced6nico, o lmpdrio Rdmano, os Estados europeus modernos surgidos das rufnas das cidades aut6nomas), o instrumento para estabelecer monop6lios a favor das

minorias que esteo no poder, 6 impossfvel us6-la para a destruigSo destes monop6lios. Os anarquistas consideram, pois, que entregar ao Estado todas as principais fontes da vida econ6mica - a terra, as minas, os transportes, as reservas banc6rias, os seguros etc. - assim como a diregSo de todos os ramos principais da indrlstria, al6m de todas as fung6es i6 reunidas entre suas mSos (educagSo, religi6es reconhecidas pelo Estado, defesa do territ6rio, etc.) seria o mesmo que criar um novo instrumento de tirania. O capitalismo de Estado aumentaria somente os poderes da burocracia e do capitalismo. O verdadeiro progresso se encontra no sentido da descentralizagdo, ao mesmo tempo territ6rial e funcional, no desenvol'

vimento do espfrito de iniciativa local e pes'


ESTA AGONIA E NOSSO TRIUNFO.

Bartolom6 Vanzetti soal, na livre federagSo, do simples ao composto, em lugar da hierarquia atual que vai do centro para a periferia.

por uma atitude epicureana com relagSo d vida das massas.

da sociedade 6 seguida de tempo em tempo por perfodos de evolugSo acelerada chamados "revoluq6es"; e pensam que o tempo das "revolu-

O melhor expoente da filosofia Anarquista na antiga Gr6cia foi Zen6n (342-267 ou 27O A.C), de Creta, o fundador da filosofia est6ica, o qual aplicou sua concepgdo de uma comunidade livre, sem governo, i utopia de Estado de Plat5o. Zen6n repudiava a onipotdncia do Estado, sua intervengSo e regulamentagdo e

g6es" ndo terminou ainda. Aos perfodos

proclamava a soberania da lei moral assim como

Em comum com a maioria das socialistas,

os Anarquistas

escolas

reconhecem que,

como toda evolugSo natural, a lenta

evolugSo

de

mudangas r6pidas seguirSo os perfodos de evoluqSo lenta, e ser6 preciso saber tirar proveito destes perfodos, n5o para acrescentar ou ampliar os poderes do Estado. mas sim para reduzi-los, atravds da organizagSo, em cada cidade e em cada comuna, de grupos locais de produtores e consumidores, assim como de federag6es

regionais e, eventualmente, internacionais destes grupos.

Em virtude destes princfpios, os Anarquistas recusam formar parte da atual organizag5o estatal e de sustentS-la com transfus6es de sangue novo. Ndo buscam constituir partidos pol fticos nos parlamentos e convidam aos tra-

balhadores a n5o faz6-lo tambdm. Em conseqii6ncia, desde a primeira ASSOCIAQAO lNTERNACIONAL DE TRABALHADORES, em 1864, se esforgaram para expandir suas id6ias diretamente contra o capital, desconfiando da legislagSo parlament5ria.

Desenrrclvimento

H

ist6rioo do Anarquismo:

A concepgSo da sociedade que descrevemos, existiu sempre na humanidade, em oposig5o ao conceito de governo hierarquizado e d sua tenddncia.

Como foi dito por Georg Adler em seu "Geschichte des Sozialismus un Kommunismus", Aristipo (ao redor do ano 430 AC), um dos fundadores da escola Cirinaica, j5 pensava que o s6bio n5o deve entregar sua liberdade ao Estado, e em resposta a uma pergunta de 56crates, disse que ele n5o desejava pertencer nem d classe governante nem d classe governada. Semelhante atitude parece mais haver sido tomada

a

do indivfduo.

Nos tempos medievais encontramos mesmas apreciag6es sobre

as

o

Estado expressas pelo ilustrado bispo de Alba, Marco Gir6lamo Vida, em seu primeiro diSlogo De Dignitate Reipublicae. Rabelais e Fenelon, em suas utopias, tamb6m expressaram ideais similares e

as mesmas eram freqiientes no sdculo XVlll entre os enciclopedistas franceses como Rbusseau, o pr6logo de Diderot 'el Voyage de Bougainville', etc. . . Por6m, o mais prov5vel 6 que estas iddias n5o puderam desenvolver-se devido a censura rigorosa da lgreja Cat6lica Romana. As mesmas id6ias encontraram express6o mais tarde, durante a Revolug6o Francesa.

Foi Willian Godwin, em seu "Enquiry Concerning Political Justice (2 vol. l7g3) quem formulou pela primeira vez, os conceitos politicos e econ6micos do Anarquismo. As leis, - escreve - n5o s5o o produto da pruddncia

dos nossos antepassados, sdo o produto de suas paix6es, sua timidez, seus ci0mes e sua ambiq5o. O remddio que prop6em 6 pior que o mal que pretendem curar. Ouanto ao Estado, Godwin exigia sua abolig6o. Uma sociedade - escreve - pode perfeitamente viver e existir sem nenhum governo.

Proudhon emprega o nome de Anarquia:

Proudhon foi o primeiro a usar, em 1840 (Ou'est-ce quq la Propi6t6) o nome de Anar-

quia, aplicando-o a um estado da sociedade no qual ndo existe nenhum governo. O nome de "anarquistas" havia sido amplamente aplicado


durante a RevolucS'o Francesa pelos Girondinos dqueles revolucion5rios que n5o consideravam terminada a tarefa da Revoluc5o apenas com a derrota de Luiz XVI e que insistiam para que uma s6rie de medidas econ6micas fossem tomadas (aboligdo dos direitos feudais sem indenizacSo, restituiceo dos direitos comunais desde 1660 is comunidades dos 'villorios', limitagdo da propriedade dos bens 'rafzes'a 12 hectares, imposto progressivo sobre a,renda, organizacEo nacional dos 'cambios'tomando como ponto de partida um justo valor de base, o qual recebeu um principio de realizagSo pr6tica, etc.). Proudhon propunha pois, uma sociedade sem governo, e utilizava a palavra Anarquia, para descrev6-la. Proudhon desaprovava, como se sabe. todos os esquemas de comunismo, segundo os quais a humanidade seria conduzida aos

mosteiros ou quart6is comunistas, assim como os planos do Socialismo de Estado ou ajuda estatal divulgados por Louis Blanc e os coletivistas. Ouando afirmava em sua primeira mem6ria sobre a propriedade que "a propriedade d o rou-

bo", falava unicamente da propriedade no

sen-

tido jurfdico romano de "direito de usar e abu_ sar"; via por outra parte nos direitos de proprie-

dade, compreendidos no sentido limitado de pospessdo, a melhor protecSo contra os abusos do Estado. Em uma sociedade deste tipo, o Es_ tado seria inritil. As principais relag6es entre daddos estariam baseadas no livre acordo e

ci_ re_

guladas por um simples acerto de contas. Os conflitos poderiam ser solucionados de maneira mais fdcil. Uma critica penetrante do Estado e de todas as formas possfveis de governo e um conhecimento profundo de todos os problemas econ6micos foram as caracteristicas bem co_ nhecidas do trabalho de proudhon.

Por outra parte, o Anarqu ismo

indivi_

dualista encontrava na Alemanha, sua mais grande expressdo em Max Stirner. V. Basch em uma introdugSo muito competente a seu livro (L'lndividualisme Anarchiste - 1904)*mostrou como o desenvolvimento da filosofia Alemd de Kant a Hegel e "O Absoluto,. de Schelling e Geist de Hegel necessariamente provocaram,

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--'--.--.-'


quando a revolta antihegeliana comecou, a pregageo de um "absoluto" parecido no campo dos rebeldes. Assim fez Stirner, quem invocava, ndo somente uma revolta total contra o Estado e contra a servidSo que o comunismo autorit6rio queria impor aos homens, seneo. mais ainda, a libertagSo completa do indivfduo de todas ataduras sociais e morais.

Anarquismo e Viol€ncia: As federac6es (juraciana. espanhola e italiana) e as v6rias partes da Associagdo lnternacional dos Trabalhadores, assim como os grupos anarqu istas f ranceses, alemdes e americanos, foram durante os anos seguintes os principais centros do pensamento e da propaganda Anarquista. Evitavam qualquer tipo de participaqdo na pol ftica parlament6ria e mantinham sempre

um estreito contato com as organizagdes do trabalho. Pordm, depois de 1885 e at6 1890, quando a infludncia dos Anarquistas comegou a fazer-se notar nas greves. nas demonstrag6es se desenvolveram a id6ia de uma greve geral para obter a jornada de 8 horas, e na propaganda anti-militarista no ex6rcito, foram violentamente perseguidos, principalmente nos pafses latinos e nos Estados Unidos (a execuqSo de 4 Anarquistas em Chicago em 1887). Os Anarquistas responderam a essas perseguic6es com atos de viol€ncia, aos quais seguiram mais execug6es desde cima, e novos atos de desquite por parte dos de baixo. lsto

de 19 de Maio, onde

criou no p0blico a impressdo de que a violdncia 6 o essencial do Anarquismo, um ponto de vista repudiado por seus partid6rios, os quais afirmam que, na realidade, a viol€ncia 6 utili_zada por todo grupo na proporgdo em que sua ageo seja obstaculizada pela repressdo ao mesmo tempo que leis de excessdo os declare foia da lei.

A grande maioria dos trabalhadores Anarquistas preferiu as id6ias Anarquistas-comunistas que foram evolucionando, pouco a pouco,

do coletivismo Anarquista da Associagdo lnternacional dos Trabalhadores. A esta tenddncia pertenciam - para citar apenas os mais conhecidos - Eliseu Reclus. Juan Grave, Sebastidn Faure e Emilio Pouget na Franga; Errico Malatesta E. Covelli na ltalia; Ricardo Mella, Anselmo Lorenzo e a maioria dos muitas vezes desconhecidos autores excelentes manifestos na Espanha; Johan Most entre os alemdes; August Spies, Albert Parsons e seus discipulos nos EEUU, etc. Domela Nieuwenhuis ocupou uma posigSo intermediSria nos Pafses Baixos. Os principais jornais Anarquistas que se publicaram desde 1880 pertencem tambdm a esta tend€ncia; entretanto. numerosos Anarquistas desta corrente se uniram ao chamado movimento sindicalista (o nome francds para designar o movimento oper6rio ndo polftico. dedicado d luta direta contra o capitalismo) teo importante na Europa.(*

I

(*) Texto traduzido quase na fntegra do livro de

Benjamin Cano Ruiz "William Godwin,' (Su vida y su obra) Editorial ldeas - 1977, M6xico DF.

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F. T. Marinetti

1',


1.lIETZ$CtlE

c0l,tTRA 0 cH$TlAl'il$tII0 "Os que compreendem meu Zaratustra ser5o os rinicos que poderSo ler-me. Oue condigdes devem reunir os que desejam entender-me?

Ser fntegro nas

coisas do espirito, fntegro at6 a

dureza, para poder suportar, nada mais que suportar, minha austeridade e minha paixio; estar acostumado a viver no alto das montanhas e a ver muito por

debaixo

a

"Morreu por seus pecados", e ndo existe razSo alguma para pretender, como se tem pretendido, dizer que morueu para redimir aos ou1;q5{1). Aquele mundo raro e enfermo no qual nos introduzem os Evangelhos, mundo que parece tomado de uma novela russa e em que os excrementos da sociedade, as enfermidades nervosas e a imbecilidade pueril parecem haver-se encontrado, esse mundo neo teve mais rem6dio sendo linchar essa figura. esse tipo, o Salvadep(2 ).

desprezfvel charlata-

neria da politica e o egoismo dos

povos; ter-se tornado indiferen-

te.

Para esses, escrevi. Oue importam os outros? Os demais n6'o s5o mais que humanidade. Temos que ser superiores d humanidade em espfrito, em

energia e em desd6m." Frederich Nietzsche.

Aquele santo anarquista que excitava is multid6es, aos r6probos e aos pecadores, aos pdrias do judafsmo, a resistir contra a ordem estabelecida, com uma linguagem que na atualidade o conduziria a uma pris6o, aquele anarquista era um delinqliente polftico (supondo que pudesse

Depois da crucificagSo de Jesus comeqou necessidade de interpretar o simbolismo primitivo de sua doutrina e de suas palavras, interpretag6es cada vez mais falsas e mais grosseiras. A medida

a se desenvolver uma intensa

que o Cristianismo se infiltrava entre as massas mais compactas e mais incultas que iam compreendendo cada vez menos as primitivas condig6es de seu nascimento, se fazia mais e mais

necess6rio "vulgarizar" o Cristianismo, e "barbariz6-1o". Assim, absorveu os dogmas e os ritos de todos os cultos subterrdneos do lmp6rio Romano, e a insensatez de toda classe de enfermidades mentais. A precisSo de que aquela crenga se tornasse tdo enferma, tdo baixa e

dade t5o absurdamente apolftica). lsso o condu-

tdo vulgar quanto enfermos, baixos e vulgares eram os misteres que tinha gue satisfazer, eis o que determina a necessidade do Cristia-

ziu

ni5111e{3}.

existir delinqtientes polfticos ndquela

i

socie-

cruz; a inscrig5o posta na cruz o prova:

t3


Na religiSo de Cristo, figuram em primei-

da lgreja. O

Cristianismo nega

a

lgrej6(5).

ra mdo os instintos dos subjugados e dos oprimidos; as castas mais baixas seo as que buscam nele sua salvagdo. Pratica-se o Cristianismo como ocupageo, como remddio contra o desdni-

mo, a casufstica do pecado, a crftica de si mesmo, a inquisigSo da consci6ncia. Mantdm-se por meio da oragSo, o Gxtase ante um poderoso chamado Deus; o mais alto 6 considerado inacessfvel, algo anormal, como um dom, como uma graga. Falta tamMm a publicidade; as portas fechadas, o lugar escuro s5o coisas cristds. Repudia-se a carne (o corpo) e repudia-se a higiene a tftulo de Sensual; a igreja d inimiga declarada da limpeza (a primeira medida cristd depois da expulsdo dos Mouros de Espanha foi o fechamento dos banhos prlblicos; s6 em Cordoba havia duzentos e setental. TamHm d essencialmente criste certa predisposigdo d crueldade para consigo mesmo e para com os demais; o 6dio aos incr6dulos e aos dissidentes, a mania de perseguir. CristSo 6 o 6dio mortal contra os Senhores da Terra. contra os Nobres, e ao mesmo tempo se lhes desenvolvia uma competdncia oculta e secreta: se lhes deixa o corpo, s6 se quer sua alma. Cristianismo C sin6nimo de 6dio d intelig6ncia, ao orgulho, ao valor, i liberdade, A "libertinaje"

de espfrito. Ao dizer Crist6o,

subentende-se

Antes de Nietzsche, um dissidente da igreja cat6lica chamado Jean Meslier, padre de Etripigni e de But, escrevia sobre o Cristianismo: A religido de Cristo, tem por regra de doutrina e de moral o que se chama "fd", isto 6, uma crenga cega e, ao mesmo tempo firnne e segura, em algumas leis ou em algumas revelag6es divinas d em algumas divindades. Todos os Cristicolas possuem por m6xima que a "f6" 6 o comego e o fundamento da salvagSo e que 6 ao mesmo tempo a raiz de toda justiga e de toda santificag5o, como foi afirmado no Concilio de Trento. Crer cegamente quando se nos ensinam em nome de Deus e fingindo-se investidos de sua autoridade, d um princfpio de erros e de enganos, todos os impostores j5 pregaram sua religiSo em nome de Deus. E esta "f6" ndo 6 s6 um fundamento err6neo, al6m disso, tem si-

do fonte de discdrdia e de separag6es entrd os homens, irritados uns contra outros para defender suas respectivas crengas. Ndo existe maldade que ndo se tenha praticado com tais pretextos. Nao d possfvel que um Deus Todo Poderoso, infinitamente bondoso e sdbio, se sirva de tais meios e de estratdgia tdo falsa para dar a conhecer seus desfgnios aos homens. Bem sei que os Cristfcolas defenderdo seus pretendidos

e

que se pretende expressar 6dio aos sentidos e

motivos de credulidade

ao prazer em geral.(41

que sua "f6" e suas crengas sejam cegas em um sentido, ndo deixam entretanto, de estar apoiadas em testemunhos verdadeiros e teo claros e tdo convincentes, que 6 ndo s6 impruddncia, se ndo at6 enfermidade e loucura desconhecâ‚Źlos. Pordm, os argumentos que os Crjstfcolas usam para dar valor a suas pretendidas verdades, ndo deixam de ser os mesmos argumentos usados por outros para defender outras religi6es completamente contr6rias a esta e por mais falsas que sejam. O Talmud, por exemplo, considerado pelos judeus como um livro Santo e Sagrado e que cont6m todas as leis divinas, mais as sentengas e os pensamentos not6veis dos rabinos, 6 considerado pelos cristSos como um livro repleto de f5bulas, mentiras, impostr.rras e impiedades. No ano de 1559 a inquisigdo queimou em Roma 1.200 destes livros, encontrados na cidade de Cremona. Os fariseds, que eram entre o povo judeu uma famosa seita, ndo admitiam mais que os cinco livros de MoisCs e repudiavam os dos profetas. Dos cristdos, Marci6n e seus adeptos repudiavam todo o Antigo Testamento e afirmavam que Jesus Cristotra um homem como os outros. Os Ebionistas s6

A

religido Cristd se desenvolveu em um

terreno falso, em que toda natureza, todo valor natural, toda realidade tinham contra si os

mais profundos instintos das classes diretoras, i realidade e de ini-

em forma de hostilidade

mizade d morte, que ainda n5o foi superada, at6 agora. O povo eleito(* ), o predileto do Criador, que ndo tinha para as coisas mais que valores de sacerdote e palavras de sacerdote, e que apartou de si com implac6vel l6gica, a tftulo

de "fmpio", "mundo", "pecado", tudo o que sobrava de poder na terra, esse povo, guiado por seus instintos, criou a riltima f6rmula con-

seqiiente atd chegar i negagSo de si mesmo. Os ensinamentos que deste caso se desprendem

ndo t6m desperdicio: aquele reduzido movimento insurrecional, batizado com o nome de Jes0s de Nazareth, 6 uma repetiCso do instinto judeu, isto 6, do instinto sacerdotal, que ndo

suporta jd nem a realidade do sacerdote; a invengSo de uma forma de existdncia ainda mais retirada, de uma visSo do mundo ainda mais fant6stica que a que estabelece a organizag5o

14

dirSo que, ainda


l4n4yLM,

NAO EXTSTE MA|S OUE UMA RESPOSTA A ESCOLASTTCA:

o cEPTtCISMO.

James Joyce

o Evangelho de Sdo Mateus, por acreditar que os outros eram ap6crifos. Os Maniqueus escreviam um evangelho a seu modo e repudiavam os escritos dos profetas e dos Ap6stolos. Todos estes livros ,,Santos', e "sigrados'i, todas essas narrag6es possuem o mesmo aspecto e sabor das f6bulas atribuidas a Prometeu, a da Caixa de pandorra ou a das guerras dos gigantes contra os deuses, e outras an6logas que os poetas inventaram para divertir os homens de seu tempo(6). admitiam

No Novo Testamento s6 existe uma figura

inocente, o refinamento por exceldncia, a maestria na corrupgSo psicol6gica. No Cristianismo,

a arte de mentir santamente, que 6 todo o judafsmo, que 6 um dos aprendizados mais diffceis e exige um aperfeigoamento tdcnico de muitos sdculos, chegou ao mais alto grau de perfeig5o. O crist5o, essa 0ltima (ratio) da mentira, 6 o judeu, sempre judeu, mais que judeu, triplamente judeu. A humanidade em massa e atd os melhores cdrebros das melhores dpocas (com excegao de um s6, que talvez era um monstro), se deixaram enganar. O Evangelho foi lido, s6culo ap6s s6culo como o livro da inoc6ncia, sem que se tenha visto o menor sinal que indique

de honra: Pilatos/, o governador romano. Ndo podia determinar-se a tomar a sdrio uma disputa de judeus. Um judeu a mais ou a menos, que importava? A dupla ironia de um romano

com quanta maestria se representa a comd_ dia.(9) Ouando o centro de gravidade da vida

diante do qual se fez um descarado abuso da palavra "verdade", enriqueceu o Novo Testamento com a tnica frase que tem um valor estrito e bem delimitado, que d sua crftica e atd seu aniquilamento: que d a verdade?(7) Disto se deduz que 6 necess5rio usar luvas para ler o Novo Tes_ tamento. 56 assim nos livraremos de contagiar-nos ao revirar tanto lixo. Fugirfamos dos

gravidade. A grande mentira da imoralidade pessoal despoja de toda razdo e toda naturalidade ao instinto. Tudo o que nos instintos 6 bendfico e vital, quando promete algum porvir, se olha com desconfianga. Viver de maneira que ndo haja razdo para viver d na sucessao a raz6o da vida. O Cristianismo 6 um insulto que os que sâ‚Ź arrastam pela lama dirigem contra o elevado. O Evangelho dos pequenos empequenegs.(10)

"primeiros cristSos" como dos judeus pola-

cos, ainda que n5o houvesse nada que atirar_lhes na cara. Uns e outros cheiram mal. Tenho bus-

cado inutilmente no Evangelho um s6

rasgo

simp5tico. N5o existe nada ali que seja livre, bom. franco, leal. A humanidade ainda ndo deu seu primeiro passo. . faltam os instintos de limpeza. N5o existe no Novo Testamento mais que maus instintos, nem sequer o valor destes maus instintos. Tudo i covardia, olhos fechados, engano voluntiirio. Oualquer livro se torna honesto depois de se ler o Novo Testamento,

por exemplo, lf com delfcia

imediatamente

depois de Sdo Paulo a esse encantador e jnsolente gozador gue se chama petronio.(8) Para ler os Evangelhos, todas as precau_ g6es s5o poucas;

atrjs de

cada palavra se escon-

de uma dificuldade. Confesso que por isso mesmo, oferecem ao psic6logo um prazer de pri-

meira ordem, o contraste de toda corrupglo

ndo se coloca na vida, sendo aldm da vida, no

nada, se arrebata

da vida o seu centro

de

Ludwig Feuerbach viria aqui em auxflio

ao jovem Nieusche e declararia: O tom do ,,alto

mundo social", o tom neutro. sem paixdo, cheio de ilus6es e mentiras convencionais, 6. pois, o tom reinante, o tom normal do tempo moderno. tom no qual ndo somente as quest6es polfticas - coisa que se compreende - sendo tambdm os assuntos religiosos e cientificos, vale dizer. os males de nosso tempo devem ser tratados. A simulagSo 6 nossa polftica. A simulagdo 6 a essdncia do nosso tempo, simulagdo 6 nossa rnoral, simulacSo nossa religi5o e nossa ci6ncia. Aquele que diz a verdade 6 um impertinente, um imoral; pelo contrSrio, aquele que em reali_ dade atua lmoralmente, passa por ser moral; a verdade, em nosso tempo, 6 imoralidade. Em uma palavra: moral d somente a mentira, porque ela esquiva e esconde o mal da verdade ou, o que 6 o mesmo, a verdade flq rn6l.(11) tr

t5


religido, pelo menos a crist6, consiste no comportamento do homem para consigo mesmo ou, melhor dito, para com sua essdncia, por6m considerando essa essencia como se fosse de outro. O homem religioso repudia portanto a nulidade da atividade humana fazendo de suas inteng6es e ag6es um objeto de Deus e convertendo o homem em uma finalidads fls !su5.(12) Mas, e que definigdo receberia esse Deus de Feuerbach na concepgSo de outro pensador jii mais contemporAneo que os citados atd aqui? A existdncia de um Deus pessoal, a imortalidade da alma, sdo duas fic96es insepar6veis, s5o

os dois p6los do mesmo absurdo absoluto, o primeiro provoca o segundo e este busca inutilmente sua explicagdo e sua razSo de ser no outro. Assim, para a contradigdo evidente que existe entre a infinidade suposta de cada homem e o fato real da existdncia de muitos hoI

ii

mens, por conseguinte uma quantidade de seres infinitos que se encontram, fora um do outro, limitando-se necessariamente; entre sua imortalidade e sua mortalidade; entre sua depend6ncia natural e sua independâ‚Źncia absoluta recfprocas, os idealistas n5o t6m nada mais que uma s6 resposta: Deus; e se essa resposta ndo explica nada, e n5o vos satisfaz, pior para voc6s. N5o

A moral divina encontrou sua perfeita expressSo nesta mdxima cristS: "Amards a Deus mais que a ti mesmo e podem dar-lhes eu116.(13)

amar6s ao teu pr6ximo tanto como a

ti

mes-

mo"(* ), o que implica no sacriffcio de si mesmo e do pr6ximo a Deus. Passar pelo sacrif fcio de si mesmo, pode ser qualificado de loucura; por6m o sacrif fcio do pr6ximo 6, desde o ponto de vista humano, absolutamente imoral. E por-

que estou forgado a um sacriffcio desumano? Pela salvagdo de minha alma/ Esta 6 a riltima palavra do Cristianismo. Por conseguinte, para satisfazer a Deus e para salvar a minha alma devo sacrificar a meu pr6ximo. Este d o egofsmo absoluto. Este egofsmo, n5o diminuido, nem destrufdo, sen60 somente mascarado no catolicismo, pela coletividade forgada e pela unidade autorit6ria, hierdrquica e desp6tica da igreja, aparece-em toda sua franqueza cfnica no pro-

testantismo, que

i

uma esp6cie de

"salvese

quien pueda/" religioso.(1 4)

Ouando se elimina do mundo a causalidade natural, por meio da recompensa e o castigo, faz lalta uma causalidade contra-natureza, que tr5s consigo tudo o que 6 contrSrio a natureza, um Deus que exige, em vez de um Deus conse-

16

lheiro, e que d a expresseo de toda inspiragSo feliz do valor e da confianca em si mesmo. A moral j5 n6o 6 a expressSo das condig6es de vida e de desenvolvimento de um povo, jd ndo 6 seu instinto primordial de vida, senSo uma

coisa imaterial contr6ria a vida; 6 essa moral uma perverseo sistem6tica da imaginagSo, que faz (mal de olho) a todas as coisas. â‚Ź. o azar que perdeu sua inocdncia, a desgraga contaminada pela id6ia do pecado, o bem estar convertido em perigo e em uma tentagSo. . o inal

estar fisiol6gico intoxicado pelo verme que corr6i a consci6ncia.(15) A religiSo de Buda 6

muito mais fria. mais objetiva. N5o necessita estimular sua dor, sua faculdade de sofrer por meio da interpretagSo do pecado; diz simplesmente o que pensa: sofro. Para o b6rbaro, pelo contr5rio, sofrer n5o tem nada de conveniente: necessita, em primeiro lugar, uma explicagdo para confessar que sofre (seu instinto o inclina a negar sua dor, a suport6-la em sil6ncio). A palavra Diabo foi um "achado". Ao diabo se atribui a qualidade de inimigo preponderante e temfvel : ndo teria que envergonhar-se o homem de que lhe fizera sofrer inimigo tdo poderoso. No Cristianismo, existe um sedimento de delicadezas copiadas das religi6es orientais. Sabe, em primeiro lugar, que d indiferente que uma coisa seja verdadeira em si, mas que tem uma grande importdncia o fato de que se a tenha como verdadeira. A verdade e a f6 s5o dois mundos de interesses muito distantes um do outro, dois mundos de oposig6es; se chega a cada um deles poi caminhos completamente opostos. No Cristianismo, o amor s6 d possfvel com um Deus pessoal. e parecido totalmente ao homem; para que os mais baixos instintos possam intervir, d necessSrio que Deus seja jovem. Ao fervor das mulheres se lhes oferece, em primeiro termo, um lindo santo; ao dos homens. uma Virgem enfeitada com todas as qualidades de uma mulher bela. lsso supde que o Cristianismo quer fazer-se dono do terreno em que o culto de Afrodite e o de Adonis haviam determinado o conceito religioso. A imposig5o da castidade aumenta a veemencia e a intimidade do instinto religioso e faz a culto mais ardoroso, mais entusiasta, mais intenso.(16) Ouando Nietzsche usa comparativamente ao Budismo para ressaltar suas crfticas ao Cristianismo, o faz simplesmente para que o leitor tenha um

ponto de comparacSo mais sugestivo, de maneira nenhuma porque tivesse simpatia por esta seita, inclusive escrevia: tanto vale urna como a outra, enquanto religi6es niilistas - ambas s5o


religi6es de Decadâ‚Źncia. Pordm, via no Budismo caracterfsticas que o tornavam superior ao Cristianismo.

A religiSo de Buda - dizia Nietzsche est6 mais saturada de realismo que a religi5o crist6. Tem, como heranga recebida, a faculdade de saber objetivamente e expor friamente os problemas. Ndo diz "luta contra o pecado", senSo que reconhecendo os direitos da diz: "luta contra o

sofrimento", Al6m do Bem e do esta religieo est6 colocada Mal. Na religido de Buda, o egofsmo se converte em um dever, d (o rinico necess6rio). A maneira de desfazer-se do sofrimento regula e limita toda a dieta espiritual (recorde-se daquerealidade.

le

atenense que declarou igualmente guerra d ciencia pura, a S6crates, que no plano dos problemas elevou

o

egoismo pessoal

i

altura

de uma yirluds).(17)

povo uma crise religiosa, se distingue por uma epidemia de enfermidades nervosas. O mundo interior do homem religioso se assemelha, atd o ponto de confundir-se, com o mundo interior de um homem acabado, cansado. Os estados superiores que o Cristianismo p6s por sobre a humanidade, como o valor dos valores, sdo estados de verdadeira epilepsia, A igreja canonizou a dementes e a grandes impositores. Ningudm 6 livre para tornar-se cristSo; ningudm se converte ao Cristianismo. Se necessita estar muito enfermo para isto. N6s, que possufmos o valor da sarlde e do desprezo, quanta razSo temos para desprezar uma religiSo que ensina a enganar com relageo ao corpo, que nao quer livrar-se da superstig5o da alma, que est6 convencida de que pode albergar uma alma perfeita em um corpo agonizante e que necessitou criar uma nova id6ia de perfeigSo: um ser piilido, enfermo, estupidamente fanStico que se chama

A VELHICE NAO NOS TORNA INFANTIS _ COMO DIZEM _, NOS ENCONTRA ATNDA COMO VERDADEIRAS CRIAN9AS. Goethe

Ouando jii n5o sei o que detestar, abro as Epfstolas e em seguida me tranqtiilizo/ Uma civilizagSo podre pacta com seu mal, ama o vfrus que a r6i, ndo se respeita a si mesma, deixa a um S5o Paulo ir e vir. . Por isso mesmo, se confessa vencida, carcomida, acabada. O cheiro da carniga atrai e excita aos ap6stolos, sepulteiros Svidos e cfnicos///(18) Outorgar a aurdola de santidade a Pedro e a Paulo foi o atentado mais monstruoso e perverso contra a parte nobre da humanidade. lsso sem desprezar a fatalidade que do Cristianismo passou para a polftica. Ningu6m tem hoje a ousadia dos privildgios, dos direitos de dominagSo, do sentimento de respeito a si mesmo e ao pr6ximo. Nossa polf-

tica est5 doente em conseqii6ncia desta falta de valor: O Cristianismo 6 um insulto contra o homem natural. O Cristianismo necessita da enfermidade, como a antigtiidade grega necessitava de um excesso de safde; tornar o indivfduo em doente 6 o verdadeiro pensamento secreto de todo o sistema redentor da lgreja. O homem religioso, como o quer a lgreja,6 um decadente tfpico; cada 6poca em que se apodera de um

A Santidade/ A Santidade, que ndo 6 mais do que o sintoma de um corpo empobrecido, enervado, incuravel mente corrompido, 1..-

E

necess5rio n5o deixar-se enganar: To-

dos grandes espfritos sdo c6pticos por natureza, Taratustra d cdptico. A forga e a liberdade safdas do vigor e da plenitude do espfrito se demonstram atrav6s do cepticismo. As convicg6es sao pris6es. Ndo v6em longe, ndo v6em por debaixo delas. Todo espfrito que anseia algo grande e que quer tambdm possuir os meios para alcangd-lo, 6 necessariamente cipitoc. A independ6ncia de toda classe de convicgdes forma parte de sua forqa; 6 necessSrio saber olhar livremente; a grande paixSo do c6ptico, o fundo e a potdncia de seu ser, pde toda sua intelig6ncia a seu servigo, afasta toda vacilagSo, d6 o valor dos meios fmpios, permite convica6es em determinadas circunst6ncias. A convicgSo 6 um

meio; existe muitas coisas que ndo se alcancam mais que i forga de convicgSo. Essa grande paixeo tem necessidade de convic96es e as utiliza, por6m ndo se submete a elas; j5 que 6 soberana.

17


Ao contr6rio, a necessidade de uma fd, de algo que n5o dependa de (sim e do ndol, d uma necessidade dos d6beis. O homem de fd, o crente, de qualquer dogma que seja, d forgosamente um homem mediatizado, alguim que ndo se considera como um fim, que ndo pode fixar fins. O crente n5o se pertence, ndo pode ser mais que meio; t6m que ser consumido, necessita de algudm que o consuma. Seu instinto de_ dica as maiores honras i moral do sacrifrtio, tu-

(1i

QI

Nietzsche. F. "El Anticristo,, Editorial Libros

Economicos, M6xico 1975. p6gina 5b.

lb., PP. 60-61

do o persuade desta moral: sua prudâ‚Źncia, experi6ncia, sua vaidade. Todo gdnero de em uma coisa determinada d em si mesma maneira de sacriffcio, de afastamento de si. O crente n5o disp6e da liberdade de ter consci6n-

cia nas quest6es do Verdadeiro e do Falso. A depend6ncia patol6gica de sua 6ptica faz do

fanStico um convencido

- Savonarola, Lutero, Rousseau, Robespierre, Saint Sim6n _, o tipo contr6rio dos espfritos livres e ;qr1gs.{t 9)

n2t (131

(3)

t4l

(*l

(5) (6)

lb.. p. zt lb., P. 40

(")

sividade humana

(8) (e)

(10)

zAvel; tamanha inflagdo de amor ndo pode mais nenhu. ma maneira conseguird remediar o mat. (f reuJ,

em O Malestar da Cultura, p. 3066, vof. f fi, Obras Completas).

(14)

Bakunin. M. lb., pp. 75-76.

(1sl

Nietzsche. F. lb., p. 49

(16)

lb., pp. 43-44

1171

lb., pp. 36-37-38

(111

(181

lb., pp. 84-85 Feuerbach. L. "La Esencia del Cristianismo,, Juan Pablo Editor. Mdxico, 1971. pdgs. ,11-12.

e constitui ,-

que menoscabar seu valor, mas, de

Meslier. Jean. Citado

Nietzsche. F. lb.. p. 95 lb., p. 93 lb., p. 86-87

O mandamento: ,.Amariis ao pr6ximo como a tJ mesmo" 6 o repudio mais intenso O" .grarl

exemplo da atitude antipsicot6gica qu.";;;;n;; Joiu o buper-Ego cultural. Esse mandamento 6 irreali_

p. 15 (7t

Bakunin. M. ',Dios y el Estado,, Editorial p.75

Yunke. S.A., M6xico. 1974.

Ouando as igrejas forem abandonadas para sempre, os judeos voltard'o a elas ou construirdo outras, ou, o que 6 mais provdvel, colocardo a cruz sobre as Sinagogas, (Cioran). Mois6s, para melhor dominar a nagdo, instituiu novos rituais, contrSrios aos de todos os outros mortais. Ne_ les, tudo o que n6s reverenciamos 6 negado; e tudo aquilo que d impuro nos 6 ali aamitijo, (TScito). Nietzsche. F. lb., pp. 53-54.

por Voltaire em: Crftica Religiosa. Editorial Grijalbo, M6xico, 1971.

lb-, pp.2641

Cioran. E.M. ,,La Tentaci6n de Existir,, Ed

Taurus, 1979 - Madrid. p. 1SE (19)

lb., pp. 85>104-105-t

1

1-1

1

2-1 13


I|IARII{ETTI

E

FIJTtlRI$]ll0 ".

Ma noi non saremo ld.

.,,

Antes de uma vida vacilante, cortada por

Ol6/ Grandes poetas incendiSrios, irmdos

agonias l0gubres, por sonhos temerosos e pavorosos pesadelos, preferimos a morte violenta, e

futuristas/. . . Old, Paolo Buzzi, Gian Pietro Lucini, Go-

a glorificamos como a 0nica digna do animal que se chama homem. Queremos que nossos

Turbilh6es de poeira agressiva, cegadora fusdo de azofre, de potdssio e de silicatos para a janelas do ideal.

filhos sigam alegremente suas inclinag6es, que acabm de uma vez com todas idiotices que o tempo consagrou. lsto os indigna?. Protestais?. . . Gritai mais fortei. . . N5o ouvi a injuria. . . Mais forte/.. . Ou6?Ambicioso?... Sim,

Covardes, covardes./. . . - gritei virandome para os habitantes de Paralisia, que se amon-

somos ambiciosos porque n5o queremos acotovelar-nos com vossa 15 suja, rebanho mal cheiroso e de cor escura que "ramonea" pelos ca-

voni, Altomare, Russolo, Carrieri, Frontini/

toavam

15

embaixo como um montao de arden-

tes balas para nossos canhdes futuros.

Covardes, covardes., Oue vos sucede para

gritar assim. como desolados ratos vivos?

Temeis que possamos p6r fogo a vossas casas?. . . Ainda n5o; no pr6ximo inverno o faremos para

nos esquentarmos. Entretanto, faremos saltar todas as tradig6es como pontes carcomidas. . . Se amamos a guerra?. . . E nossa 6nica esperan-

ga, o m6vel de nossa vida e nosso desejo mais ardente. . . Sim; a guerra contra voces. que morrem lentamente, e contra todos os mortos que obstruem o caminho/

minhos velhos da terra!. Apesar de que "ambicioso" ndo d bem a palavra exata. Somos bem mais jovens artilheiros revoltados. . .

podem ir acostumando vossos t(mpanos ao rui do de nossos canhdes. Queremos cantar o amor ao perigo, o h6bito da energia e da temeridade. Os elementos essenciais de nossa poesia o Valor, a Aud6cia e a Forga. Como a literatura tem glorificado atd hoje a imobilidade pensativa, o extase e o sonho, n6s pretendeserSo

mos exaltar o movimento agressivo, a ins6nia febril, o passo ginSstico. o salto perigoso, o golpe e a bofetada. J6 n5o existe beleza que n5o seja na luta nem obras mestras que ndo tenham


agressivo. A poesia deve ser um violento assalto contra as forgas desconhecidas para obrig6-las a render-se ao homem. O tempo e o espago morreram ontem. Vivemos j6 no absoluto, uma vez que criamos a eterna velocidade onipresente. Oueremos glorificar a guerra, 0nica higiene do mundo. A ag6o destrutiva dos anarquistas, as lindas id6ias que matam. Desejamos destruir os museus e as bibliotecas, combater a moralidade e todas as covardias oportunistas e utilit6rias. Cantaremos as grandes multiddes agitadas pelo trabalho, o prazer ou a

um car6ter

rebeldia; as ressacas multicoloridas e polif6nicas das revolug6es nas capitais modernas; a vibragSo

noturna do9 arsenais e as minas sob suas violentas luas el6tricas, as glutonas estag6es que comem serpentes fumadoras. .

.

Oueremos livrar nosso pais de uma gangrena de professores, de arque6logos, de cicerones e de antiqudrios. Museus, cemitdrio/. . . ld6nticos verdadeiramente em sua sinistra promiscuidade de corpos que n5o se conhecem. Dormit6rios ptiblicos onde se dorme para sempre junto a outros seres odiados. Avante os melhores incendiSrios de dedos queimados/ Aqui/ Aqui/ Oueimai com o fogo de vossos raios as bibliotecas/ Desviai o curso dos rios para inundar os por6es dos museus./ Oue nadem aqui e ali as obras gloriosas/ M5o is picaretas e aos martelos/ Derrubai os cimentos das cidades veneradas///

Admirar um quadro antigo d verter

de esparramar-se, grande regadeira de heroismos que inunda ao mundo. Os micr6bios ndo o es-

-

quegais - sdo necess6rios para a saride do est6mago e do intestino. Tamhr6m existe uma esp6cie de micr6bios necess5rios para a vitalidade da

Arte, PRoLoNGAgAo DA sELVA DE NosSAS VEIAS, que se esparce, fora do corpo, no infinito do espago e do tempo. Poetas Futuristas/ Eu os ensinei a odiar as bibliotecas e os museus, para preparar-vos para ODIAR A lN-

TELIGENCIA, despertando em voc6s a divina intuigSo, dom caracterfstico das ragas latinas. Por meio da intuigSo venceremos a hostilidade aparentemente irredutfvel que separa nossa carne humana do metal dos motores. Depois do Reino Animal, comega o Reino Mec6nico. Com o conhecimento e a amizade da mat6ria, da qual os cientistas somente podem conhecer as reag6es f fsico-qufmicas, n6s preparamos a criagSo dO HOMEM MECANICO COM PARTES SUBS. TITUIVEIS. N6s o livraremos da iddia de morte, e por conseguinte da morte mesma, suprema definicSo da inteli96ncia l6gica.

nossa

sensibilidade em uma urna funer6ria, em lugar

de langd-la adiante com impulso violento de criaqSo e aq5o. Ouereis gastar vossas maiores energias em uma admiragSo in0til ao passado, da qual saireis forgosamente esgotados, diminufdos e rendidos? .Lucrecia Gargollo Nos moribundos, nos inviilidos e nos presos arnda passa. Para eles a admiracSo do passado d um bdlsamo para suas feridas, desde o momento em que esteo limitados para o porvir. . . Pordm, ndo para n6s, os jovens. os fortes

e os vivos Futuristas/// O mais velho de n6s tem trinta anos; temos pois, dez anos pelo menos para levar a cabo nossa tarefa. Ouando chegarmos aos quarenta anos. que nos joguem os mais iovens e valorosos ao cesto do lixo como manuscritos inriteis. . .

A Arte 6 uma

20

necessidade de destruir-se e

E est0pido representar no cendrio uma briga ordenada, l6gica e clara entre dois personagens, quando em nossa experi6ncia de vida somente encontramos "pedagos de brigas,, a que nossa atividade de homens modernos nos fez assistir por um momento em um trem, em um caf6. em uma estagdo, e que ficaram cinematogravadas em nosso espfrito corno din6micas sinfonias fragmentadas de gestos, palavras, rul'dos e luzes.


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U

ffi NAO SERA O MEDO DA LOUCURA O OUE NOS OBRIGARA A BAIXAR A BANDETRA DA TMAGTNAQAO. Andr6 Breton

21


F' E ,

E esttpido submeter-se is imposigdes do "crescendo" da preparagSo e do mdximo efeito final. E est0pido deixar-se impor a pr6pria genialidade ao peso de uma tdcnica que todos (inclusive os imbecis) podem adquirir i forga de estudos, de pr5tica e de pacidncia. E est0pido satisfazer o primitivismo das massas, que ao final querem ver exaltado o personagem simpiitico e derrotado o antip6tico. â‚Ź estripido querer explicar com l6gica minuciosa tudo aquilo que se representa, quando nem sequer na vida real conseguimos captar integralmente um acontecimento, com todas suas causas e conseqii6ncias.

E est(pido escrever cem pdginas quando uma seria suficiente, s6 porque o prlblico, por costume e infantil instinto, quer ver o car6ter de um personagem como resultado de uma s6rie de fatos, e necessita ter a ilusdo de que o personagem existe realmente para admirar seu valor

artistico. E estrlpido n5o rebelar-se contra

os

preconceitos da teatralidade, quando, a vida mesma (que estd constitufda por AQOES ttttFINITAMENTE MAIS EMBARAqOSAS, MAIS REGULADAS E MAIS PREVISIVEIS, das que se desenvolvem no campo da arte) 6 em sua maior parte antateatral e oferece inclusive nesta faceta, inumerdveis possibilidades c6nicas.

TUDO E TTRTNRL OUANDO TEM VA. LOR/// O teatro futurista goza de Schakespeare mas leva em conta uma piada dos atores,

dorme durante uma obra de lbsen mas se entusiasma diante dos reflexos vermelhos das poltronas. Nossa consciâ‚Źncia renovada nos impede de considerar o homem como o centro da vida

universal. O sofrimento de um homem d tdo inter;ssante a nossos olhos como o sofrimento de uma l6mpada el6trica que sofre com sobressaltos espasm6dicos e grita com as mais desgarradoras express6es de cor. Para pintar uma figura humana ndo 6 preciso reproduzi-la; basta reproduzir o ambiente

que a rodeia.

Diz-se

por toda parte que somos uns

loucos. lsto ndo nos preocupa, pois da mesma forma se disse que Bach era louco. Bach o fez com relacdo i Beethoven, Beethoven d Wagner. . Rossini dizia humoristicamente que, por fim, havia entendido uma pdgina da mfsica Wagneriana lendo-a de baixo para cima; e depois de uma audigdo da "overtura de Tannhauser", Verdi escrevia a um amigo que Wagner era um pobre alienado. . . Assim, pois, desde a janela de um glorioso manic6mio, nos proclamamos como um princfpio essencial de nossa revolugao futurista que o oontraponto e a fuga, ndsciamente considerados como um dos ramos mais importantes do ensinamento musical, ndo s5o mais a nossos olhos que as rufnas dessa velha cidncia da polifonia que se estende desde os flamengos at1 Bach!!! Apressemo-nos, irmdos meus./ para que as feras nao se adiantem. . . Devemos manter-nos na primeira fila, apesar de nosso passo tardio. . . Oh, nossas mSos miserdveis e nossos p6s que arrastam rafzes/. . . Ndo somos mais que pobres 6rvores vagabundas/. . . e nos faz falta ter asas/., De p6 em cima do mundo, langamos uma vez mais nosso desafio is estrelas.(*)

Apanhado de "Manifiestos y Textos Futuristas" F.T. Marinetti Ediciones del Cotat S.A. - lg7g. Barcelona, Espaffa.

22


TRE$ CN0]I|ICA$ "Aprendam de mim que

do

passei

nada d mis6ria mais absoluta,,

O Mito e a Farsa do Cdncer

A palavra "cancer" est6 profundamente comprometida com os tres nfveis, talvez, mais importantes da vida cotidiana. Ouero dizer, que o cdncer, este mito est(pido d, antes de tudo, uma questeo polftica, f ilos6fica e religiosa e que sobrevive e sobreviver6 d pr6pria vida, gracas d estupidez e i ignor6ncia humana. Ouando digo "uma questao pol ftica" guero dizer que a medi_

cina sintomStica ocidental e oriental tiveram que inventar este mito para justificar sua inefi_ ci6ncia

e inutilidade como ci6ncia, diante

de

centenas de enfermidades degenerativas da saride. Nada mais justificdvel para os mddicos, que denominar "c6ncer" a todas aquelas doengas que, ironicamente, seguem sua marcha e que le_ vam, sem d(vidas, seus personagens para a co_ va. . . C6ncer 6 uma palavra equivalente a ignor6ncia midica e a todas aquelas enfermidades que n5o diminuem seus ataques mediante pastilhas coloridas e m5gicas. Entdo, nenhurna mentira d mais asquerosa e mais desprezivel que esta. Ouando digo que 6 uma questdo filos6fica, senhores, quero dizer que a pr6pria medicina, sem desejd-lo, ao inventar este monstro,

esta "enfermidade incurdvel e assustadora.,, criou nas massas uma nova posigdo existdncial, uma nova maneira de relacionar-se com a vida e com a morte, (claro que muito mais abjeta e nauseabunda). A lgreja, 6rgdo ocioso e sempre

AGIJDA$! de ouvidos abertos para as modernas tdcnicas masoquistas e para a debilidade do homem, se associou imediatamente i medicina, lhe roubou a nova descoberta macabra e fala dela a seus dis-

cfpulos (quase como ameaga), enchendo

o

mundo, inclusive das criangas, com esta patologia psfquica, (n5o biol6gica), para oferecer de-

pois. o "bdlsamo" divino, a oracSo, a submissao, a abstinâ‚Źncia, a servilidade mais humilhante, tudo isso como Esperanga. Enfim, a igreja faz desta mentira polftico-filos6fica, uma men-

tira

pol itico-filos6fica-religiosa.

. . e at6 os mais

eruditos e farsantes que a inventaram sofrem e morrem dela. Oue 6timo/ Ouem cria serpentes deve ser envenenado por elas. Se os homens ndo fossem tao servis e teo domesticados, esta men-

tira, em primeiro lugar, ndo haveria nascido e em segundo, n5o haveria sobrevivido. Ouando ningu6rn se sente l0cido o suf iciente para questionar a mitologia contemporanea do cotidiano, d f6cil, muito fdcil e tentador criar todos os dias novos dem6nios e novos deuses para justificar a desgraga de si mesmo e daque-

les que se entregaram docilmente em nossas m5os. Se amanhd eu morrer de uma diarr6ia, inesperadamente, ningudm acreditar6 que foi apenas uma diarr6ia, falarao uns aos outros em voz baixa: deve ter morrido daquela doenga/ Nem o nome 6 pronunciado, tdo grande o pavor 23


que se inculcou nas massas. Na minha adolescdncia tive quatro vizinhos que morreram quase ao mesmo tempo, todos eles, para a populagSo

da cidade onde viviam, morreram de Clincer. . . C6ncer. . . Cdncer/// Apesar de cada um deles haver apresentado uma sintomatologia completamente diferente da do outro e a morte

de cada um haver tido caracterfsticas radicalmente opostas e contrSrias a do outro. Alguns anos depois, meu avo 6 submetido a uma cirurgia e o diagn6stico n6o poderia ser outro: C6ncer.

O

mddico chamou-me

mentos. Sim, a vida de Augusto esteve povoada de tormentos. lmagin6rios, claro, sempre tormentos.,

Cafd de Regence, Hotel Orfilia, obsessSo pela qufmica, "tipos" dentro da bot6nica e da zoologia/ dama inglesa, a cr6merie e o Phanteon de

Saint Louiz. . . sua

parnasse.

". . . Morto

a um quarto

para o mundo ao

nunciar ds tolas alegrias de permanego em meu bairro qual visito todas as manhiis

especial, e, com aquela tristeza que se aprende nas universidades, confessou-me: Teu avo tem

nome para dissimular a malignidade inventada pelos mesmos protagonistas. Meu avo morreu

mortos do cemit6rio de parnasse, descendo depois ao dim de Luxemburgo para

trinta anos mais tarde brincando como

as minhas f

um tumor maligno. Tumor maligno/ Outro uma

crianga, quando o cirurgiSo me havia assegurado que n5o passaria dos 60 dias (por favor, n5o digam que foi milagre/). A ignor6ncia, e n5o o Cdncer, 6 quem destruir5 a vida neste planeta de porcos. E necess6rio curar o G6ncer que come vossas almas, oh miseriiveis masoquistas, primos de Masoch, e n5o seguir amassados baixo esta mentira est(pida que faz da medicina uma cloaca menos desgastada. Curar o C6ncer que

queima

o

vosso espfrito, esta

6 a questSo,

pobres desgragados que fizestes deste mundo um inferno pior que o de Aliguieri.

lores".

Ah, Strindberg/ Um simples papel pelo do vento tinha para ti um significado b6lico, uma revelaqeo, uma ameaga. Tuas foram sempre noites de ins6nia, ins6nia da de dem6nios, de raios e de ratos que queri

comer-te a carne dos pds. Oue fome naqueles ratos oh, Strindberg??? Claro, mu de tuas noites foram protegidas por m6os mi riosas de anjos que viam-te com paixSo. Te agora, 68 anos depois de tua morte, e estSs rogante, naquela cantina que tu mesmo ch "Porquinho Negro". e est6s com

te de

Temps aberto diante dos teus olhos. . . E exatamente no mesmo cafd onde Heine tumava embriagar-se. Estive tdo fascinado

Strindberg, Al6m do lnferno Desde ontem estive metido "com corpo e

alma" na "dramdtica" vida de August Strindberg. PerdSo, n5o quero usar a palavra "dramiiseu. conteudo d quase sempre confundido com a forma e o valor que os religiosos

tica", pois

lhe deram. Prefiro dizer. melhor, "atormenta-

da". Dramdtica. como todos

percebem, tem suas rafzes no drama, na trag6dia. . . enquanto que "atormentada", est5 claro, se refere a tor-

tu, com relagSo i transmutagSo das rugas. uma casa que vivi havia um pequeno cip6 subia pelo lado direito da porta principal. E um cip6 que nunca perdia as folhas e onde pardais, todos os anos, construfam seus ni nele e que, no princfpio da primavera se com florzinhas brancas, brancas e que um cheiro de mel. Dezenas de "casulos" se talavam misteriosamente, exatamente ali, os ramos. Tinham uma cor cinza e, d aumentavam de tamanho. ati que, por quase sempre pelas manhds, o cip6 cheio de mariposas ainda d6beis, criangas,

CONHECER VERDADEIRAMENTE E CONHECER O ESSENCIAL, INTERNALIZAR-SE NELE, PENETRA-LO COM O OLHAR E NAO OU PELAS PALAVRAS.

24


lhotes que esperavam o sol para dar-lhes as 0ltimas formas da transmutaqeo e voar' ' voar' ' ' quem poderia saber para onde voa uma maripousa? Realmente eu me sentia enlouquecido diante dessa demonstragSo m6gica da natureza' Sinto uma grande satisfaqSo em saber que tu tambdm passavas teus dias fascinado com esses fenOmenos.

". . . No es un milagro, Pero la transformaci6n de la oruga dentro del caPullo si es un verdadero milagro que equivale a la resurrecci6n de los muertos"' Percebes como

tu,

sempre que podias' ca-

o lado da metaffsica ou

minhavas para

ainda'

Ouase que acabavas teus dias adormecido nos bracos da madame Blavatsky'

do ocultismo? ndo 6 verdade?

n5o me-

quar' tuas experi6ncias qu(micas, realizadas em ilusSo Oue tos apertados de pens6es macabras' te manteve tanto tempo acreditando que um

dia fabricarias Ouro? E se houvesses conseguido. pensas que ainda teria algum valor esse metal amarelo? Muitas vezes tamb6m, escutei o pranto de tua querida Beatriz. Beatriz, a mulher que foi trocada pelo amor i qufmica' Por mais talentoso gue seja um homem, sempre cometerd atos estfpidos e desprezfveis' Sim, Beatriz encheu de l6grimas o silGncio das noites mais escuras is margens do Danribio' ' '

o

mas, 6 uma hon.ra ser considerado louco em um mundo de dignissimas mediocridades/ E uma

honra estar louco para essa manada de "normais", estar na mesma lista negra onde est6 Kleist, Holderin, N ietzsche, Baudelai re, Fernando Pessoa, Artaud, Van Gogh, Rimbaut, Poe, Pavese etc., inclusive est6s perdoado por haver caminhado sempre e sempre pelo "front" Ateu-Religioso. Tenho a mais profunda certeza que o "religioso" que em ti se manifesta ti uma de tuas partes abandonadas que quer ironizar-te. Outra coisa que n5o me parece clara, ti o medo que tu tinhas de ser considerado um mendigo/// Oue se passava contigo? As vezes suspeito que no inferno tiveste que mendigar; pois uma velhinha cega sempre me dizia que os dem6nios nos p6em a lazer exatamente aquilo

eu l6 estiver, serei transformado em

tem nada de Berlim, nem de Paris, muito nos de tua querida Su6cia, eu sigo teus passos (atravds de tua pena) de hotel a hotel. de mis6ria a mis6ria. . e inclusive, sinto o cheiro de

enquanto

de outra maneira Augusto' Principalmente depois que tu declaraste que "O DESPERTAR" de Schumman era o pren0ncio de tua morte' ' '

que em vida detest6vamos. Se for assim. quando

Ah, comPanheiro Strindberg/

Aqui onde vivo, neste bairro que

acusar-te de louco. O mundo ndo te podia ver

mundo se ocupava s6mente

em

padre,

burocrata ou macho domdstico/

Ouero despedir-me, Augusto, com as mesmas palavras que

tu mesmo

escreveste naquele

dia em que estavas decidido a matar'te' Sao palavras mais bonitas de teu livro:

".

as

Adeus cor\ros, habitantes

do c6u fechados em uma laula de barro; adeus bizon, behemoth, diabo acorrentado; adeus le6es marinhos, unido casal ao que o amor coniugal consola da Perda do oceano e dos grandes horizontes. . . Adeus Pedras, Plantas, flores, Srvores, mariPosas, Passaros, serpentes, criados todos pelas mSos de um Deus bom.

E


voc6s, homens ilustres, Bernar' din de Saint Pierre, GeoffroY Sain-Hilaire, vocâ‚Źs cuios nomes esteo escritos com letras de ouro na frente do temPlo; adeus, ou melhor, at6 a vista/

andorinhas vermelhas na encosta da m nha? Havia tambdm outra imagem: um enlouquecido que, em uma cabana caminh de um lado para outro com uma bandeira

Adeus terra, Pobre ierra/

Adeus/"

Sobre a Rebeldia Gn6stica

Toda a terra 6 terra, neo importa onde se plante/ A promiscuidade dos homens e das mulheres 6 a verdadeira comunhdo/ (Simdo)

j i l

i

jl

l

Era uma voz que dancava por meus momentos e que me levava pelos mesmos caminhos que o discurso criava. Ah, noite de lua com um raio de sol/ Um raio que descia de 16. de lri dos espagos at6 meu coragao, meu coragSo que golpeava como um alambique no meu peito. . .

peito cada vez mais confuso e sedento por uma compreensSo anarquista do Cosmos. . . do Caos. . do ser que planeia sem solugdo pelos

caminhos da fumaga/ Mulher que caminha por uma rua que se mexe e.na porta de uma casa inquieta, uma mde sem leite vai dar de mamar porque abre os bracos a mescalina elaborada em sua filha, bragos apertados, seio com seio, uma fantasia infantil, vagina com vagina, uma fantasia adulta. . . Fruto infecundo de onde nasceu toda a mitologia e toda simbologia. Uma mde que se faz homem para dar de beber a sua filha grrivida. . . Ah, que fracasso n5o saber a

origem dessa ausGncia/ Como poder penetrar por detr5s destes astros sem nome que ilustram

a "gestalt" dos seres? Como meter-se

nas veias

desta visdo perene, onde ,a loucura sorri e os corpos olham sem pressa para uma centena de

ESCUTA, MEU FILHO

cABE9A.

26

saudades nas m5os, se mexra como uma serpente pelas t6buas do assoalho e depois, levan-

tou as chamas de uma fogueira com folhas que queimavam e que perfumavam as ruas vizinhas. lntengdo de purificar as paredes, poderia dizer um psicanalista rec6m safdo das n5degas de al-

_ DISSE O DEMONIO

PONDO SUA MAO SOBRE MINHA Edgar A. Poe


gum instituto. lntengSo de lucidez, diria aquela mulher de m6os vazias, apenas com os p6los do p0bis que lhes escapavam por entre os dedos molhados/// Sim, era a lucidez que o "6cido" implanta nos loucos. . . a mesma lucidez daque-

la mulher que, no oitavo mds de gestagSo sonhava que ndo parava de arrancar pregos da parede para depois pintii-la de branco. . . O feto exigia de sua mee quatro paredes brancas, sem

nenhum quadro de Orozco/ O mundo circundante neo 6 mais que uma tela de barro quando o bebd se mexe no ventre confort6vel de uma mde sonhadora. Haviam como sempre, comido Peyote no Deserto dos Le6es e. em um momento ela olha para o abismo e grita: Pronto, j5 sei qual 6 a safda/ A safda estaria no abismo? 6 o que vos pergunto. Tudo isso n5o foi mais que um pren0ncio para escrever sobre a Gnosis, porque estas mulheres chegaram em minha casa exatamente quando eu pensava alegremente: N5o existe coisas mais encantadora que, no fundo de uma prateleira (em uma livraria) um livro. Bem velho, editado em 1907, com letras estranhas, coberto de poeira e esquecido, que nos fala daqueles homens l0cidos que, faz 18 sdculos, atormentaram as comunidades do Egito

e da Gr6cia com o Niilismo mais

ir6nico/

Jamais baixaram a voz ao falar da hipocrisia dos deuses e da rigidez cristS. . . sem falar

da inutilidade de todos os processos sociais e pol ftico-comunit6rios de todos os tempos. A diferenqa fundamental que separa os gn6sticos de seus contemporaneos. 6 que, para eles

se Jacques Lacarriere

-

-

dis-

sua terra natal nao

era a terra, seneo o c6u do qual haviam conservado a mem6ria. Ouem poder6 opor-se a tal

pensamento, quando ele afirma que todas as instituig6es, as leis, as religi6es, as igrejas e poderes ndo seo mais que brincadeiras, armadilhas,

e a perpetuaqSo de uma chantagem milenSria? Ouem de n6s ndo bateria palmas para SimSo (o ap6stolo bruxo), quando este sugere que se faga o amor cada dia mais, para lutar contra a desordem do mundo, para restabelecer com o

desejo seus direitos primordiais, para manter o

fogo gerador que tambdm 6 sangue, leite, s6mem? E necess6rio fazer ressurgir a lucidez gn6stica. Ndo em forma ordenada ou comunit5ria mas simplesmente uma Gnosis individual, liberadora e rebelde. . . Estou s6 nesta madrugada, uma noite escura ressalta a expldndida provocag5o das estrelas. . . eu, lhes respondo com as palavras dos carpocracianos: O homem para

poder salvar-se, deve cometer todas as infAmias possfveis/// Ezio Fl6vio Bazzo

27



TRI$TE$ TRA]I|$. ORE$$ORE$ ". . lamento que a inteligGncia n5o tenha a sensibilidade dolorosa dos dentes," George Bataille

A morte mortif ica, ndo faz nada mais.

e a morte (desordem) impregnadas em todo o corpo, "regressava" ao mundo da "ordem" com uma mancha que devia ser lavada mediante uma s6rie de prSticas asc6pticas muito variadas: a ordem (mundo do trabalho e da utilidade) devia p{oteger-se do contdgio que esse indivfduo po-

dia, com sua presenga, disseminar entre a coleMostra a fragilidade daquele que sucumbe ante ela e provoca no espectador um terror ante a corrupgSo presente, a viol6ncia i m5o, pr6xima, eminente. Frente d morte me tapo os olhos; bloqueio. assim com um intenso piscar de pdlpebras, a presenqa "Disso" que est6 estendido,

vitima de uma violdncia que

se me escapa das mSos e que n5o consigo compreender. lsso d o

resultado de uma mudanga radical. algo aconteceu ali. O corpo que respondia. o corpo m6vel, o corpo que falava j6 nao diz nada: est6 quieto, violentamente quieto.(1) A morte, no seu n5o dizer nada, revela minha pr6pria fragilidade: por que haveria de dispensar-me de seu ataque este "algo" que acomete ao homem e faz dele um caddver? O cadiiver 6 o espetSculo de minha morte e trato de evit6-lo sepultan-

do-o:proibo.

A morte s6 mortifica. isto d, me angustia a causa de sua violdncia que vejo como mudanga violenta, mas em outro sentido (em um anal6gico) me contagia. Frente ao corpo estendido estou morrendo, descubro que essa enfermidade me pode alcanqar ali onde estou parado. Entretanto. o cont5gio n5o foi sempre anal6gico, senao que - afirma Mircea Eliade(21 - nas coletividades primitivas, o cont6gio era considerado como ffsico, j5 que geralmente se liga com a corrupqSo futura, com a decomposigSo que n5o tardar6 em suceder. O morto 6 um perigo para os que ficam: sebevemos fugir dele, n5o 6 tanto para estar a salvos dele, e sim para protegermo"cont6gio"(3 ). Aquele que havendo estado em contato com a morte (caqador, criminoso ou sacerdote) trazia a viol€ncia

nos deste

tividade 1n1s1y6.(4) Assim, os ritos purificadores a resposta que a coletividade ordenada anuncia ante a desordem. Sdo a via que possibilita o regresso do que havia estado frente ao totalmente outro para o universo cotidiano, para o espaqo e o tempo sociais que n5o sdo sendo o espago e o tempo do trabalho. onde os meios (gastos) se ordenam i perfeigSo rumo ao fim perseguido: ali, nada sobra e nada falta, 6 o reino da utilidade e do razodvel e, portanto, o

s6o

governo da medida.

No mundo do trabalho a medida reina. legisla e, dessa maneira, se preserva da viol€ncia que ameaga romper os diques, contrapor d atividade produtora

o

movimento precipitado

e

contagioso, o movimento transbordante que a pde em perigo. Por sua lei, a medida tende a proibir a transgressSo ou a lavar a mancha que deixa. Assim, pois, para que transgredir, por que romper os limites propostos pela proibig5o? Como consequ€ncia do trabalho, aparece no homem a descontinuidade, e ele pode assim captar a transcend€ncia das coisas na consci€ncia ou a transcedencia da conscidncia em relacSo com as coisas; pelo trabalho o homem se t\f,rna dono do mundo e perde a "iman€ncia" com respeito a ele, se reconhece contradistinto. v6 esfumar-se sua intimidade. E uma fratura

i natureza, festa da corrupgdo e da geragdo, perfeitamente contfnua, com uma multidSo de seres consumidores de energia e frente

que n5o param de reproduzir-se e aniquilar-se

violentamente; 6 um grande caldo onde a explosSo das borbulhas se sucede e onde n5o importa a individualizagSo dela porque todas


participam do grande fogo que as produz. Com homem institui para si e para sua coletividade o desejo de durar, desejo totalmente oposto ao dos seres ,,natu/' rais"; 6, portanto, descontinuo em relagdo.eom eles: o desejo de produzir a baixo....fusto 6

o trabalho (e a finalidade) o

Pobremente humano.(51

O cad6ver passou a ser uma coisa, entre outras coisas, presa da viol6ncia que comun_ ga quem o v6: a traiisgressdo 6 violdncia que violenta.

rnâ‚Źnte aos espectadores e que, por

via sido isolado da tela. NEo me interessa crsar se com este ato houve uma da intimidade (penso que sim), o que me

ressa 6 destacar que os espectadores mentaram um sentimento de violdncia tilhada ("Vamos, agarra uma tesoura

e

tra-te!"| que p6s em perigo sua inteqri

pordm que, ao dar-se isoladamente, que esta se salvaguardasse.

A transgressdo 6 viol6ncia que v porCm, que ndo suprime a proibig5o, aniquila, passa por cima dela, evita

!,t

Eu gostaria de mencionar aqui o caso de violdncia comungada. No filme de Bertolucci,

A 0hima Mulher, na cena final, o protagonista toma uma faca eldtrica e se castra. para mim, o espet6culo n5o conclufa com a palavra Fim, senSo que continuava i saida da sala, pois foi bastante not6rio que todos os espectadores de

sexo masculino (eu entre eles) caminhavam com

uma ligeira inclinagdo do tronco para frente, com as pernas mais juntas que de costume e as m5os nos bolsos, verificando a posigSo correta

dos genitais ou protegendo,os. Todos saiam en-

xugando a cara, todos haviam encolhido as fernas diante desse absurdo consumo de energia - n5o precisamente eldtrica _ referido Oireia_ 30

"N5o" que a medida imp6s, ,,Ndo,,

que

sa todas as estruturas da coletividade.

direito, educagdo, famflia etc., participam

proibigSo reguladora do mundo do trabal

da reta razdo, ao obrar com economia.

Assim pois, a crueldade e o erotismo se ordenam no espirito que est6 resolvido a aldm da proibigdo(6), seo transgress6es. E

ambas h6 um consumo excessivo, absurdo n5o ordenado de energia, h6 ausGncia de vidualidade. Tambdm o sdo a rebeldia eo

rorismo, o crime e o sacrificio, e pelo contr acontece o mesmo com a revol g5o(7). Esta pretende ndo s6 passar por

rio, n5o


Fi:l

\

do "N5o", seneo que deseja aniquild-lo e obter a legalidade, isto C, quer legislar a partir

de

-, sendo que tem tambdm um sentido de isolamento. A pintura de tema isola no a"rnf,o. no espago; nela o pintor procede a uma fixigdo dentros dos limites de uma superf icie e um ins_ tante. Assirn, pois, nesta representageo da gruta de Lascaux a viol6ncia 6 separada ,

de si

mesma e instituir suas pr6prias proibig6es. A isso alude a frase de Stirner (El Onico y pro_

Su revolugdo francesa terminou em uma reagdo, e isso prova na realidade o que era

piedadl:

"A

a rerclugdo,,. Recorda_se a 6poca do Terror,

morto estd totalmente deformado "",Uii., e com

e

a Marat realizando desaforados r."onro, iu,

fac96es que havia que aniquilar, em nome da vontade popular jii institufda e legislando(8); mdo fCrrea para conservar a nova legalidade (proibicdo) da viol6ncia transgressora ior"-g

I

necess5rio isolar a todo custo).

g

dor. Vitima e

a

como caga_

agressor sdo separado,

contra no fundo de u rve I descer r r."o ; ;;,T.r"T"::T

luz impede observar o trabalho.

jam)

lsolar a transgressdo(101, encaixar os transgressores, reduzir ao mfnimo (em espago

De acordo com o anterior, Bataille dii uma explicagdo dos murais que revestem as

paredes da caverna de Lascaux(9). O" toOu, u,

representagdes

que ali

aparecem,

uma

em

especial atrai sua atet apa rece morto (ex pi aruiltlr"lil, j',:r*:'. vftima; um biz6n. Esta ndo porrui uni"rruni" um sentido migico _ onde o sfmbolo possui por inteiro as propriedades do ato real: matar

s

e tempo) a

homossexualidade,

:::

reOetOia,'o

ordena os meios para os fins.

o

lu,

rn.rninrr'"-io

tem porque preocupar_se, j6 que

,.u

T:

Lacaux que fard possfvel ,r, "hrg.ra Oarr.n$-*iu .,-.1 quilo que Saint Just chamava: ,,e festa Ol

o

Jordi Arenas

(1)

Visto assim, o cad6ver 6 o irracional.

lzt

Mir^cea lliade,-Lo Sagrado y lo profano, Ed uuadarrama, Madrid 1973, pp. 25-Sg.

{31

Georges Bataille, El Erotismo, Ed Sur Buenos Aires. 1960, p.44.

(41

A

Raz5o".

l7l A

Paul Bicoeur afirma: .,estes sdo os dois rasgos arcaicos (objetivo *Oi"iJ"f aI

impure'a (mancha): um.algo

" ini"i".-"JJ qr. d;r;;;;; da colera vingadora Oo vedaUo,,. " Finitul y Culpabilidad, Taurus, Espaf,a. tg6g, p.2ii. e um terror qre intre

(5t

Georges Bataille, El Erotismo.

(61

Georges Bataille, Te6ria de la Religido, Taurus, Espafia. 1975. pp. E6-5g.

militancia cons(t-" a estrutura proibitiva'

uma vez ou"

"," coerentedemeios"rir'["."f posigdo sat6nica oo ,.munoo.,:[X,"j::;"",r"1

-il-'.;;;fi;;.

(81

esse respeito

:ontagia. meltg

a

;"rrT:,

erotismo, o anormal esquizo e o ndo atienaOo, criar para eles outro Lascaux baixo a ;;_ s5o de hospital psiquiatrico ou terapia convulsiva, tal 6 a ,,labuta,, da "fit_intelig6n"i.,

animal nesta figuragdo seria matd-lo na realida_

I t

,"Olrit

representagdo. Seria conveniente recordar aqui que a'pintura a que alude Bataille se en-

lsolar a transgressio, encaixd_la e redu_ zi-la ao minimo, entdo _ afirma Batailte _, ie introduz leis, passos estritos pa.a desencadea.

a violdncia, passos que (por mais rfgidos qr" ,.se v6em desbordados pela violGlcia ;,;mento mesmo em gue esta aparece, rebaixados pelo arrebatamento e a embribguez

"

o

sexo ereto (identificagdo da viol6ncia do impulso sexual com a viol6ncia da mortef , p"rti_ cipa do ato que ele mesmo realizou

O__0ltimo dos recontos que fez 27s,o00 pessoas que tinh" qu" Marat foi de i;;;il";,

;,:

quilar.

(9)

Georges Bataille, signos, c6rdob.,'r

(10)

L

sit. l,r":l'ru:

Michel Foucault disse: ,.. .. repugniincia singular -

d"d";;

;;ffi :i

se

de

'

Eros, Ed

experimenta uma

il:, i';':?i,lJ# -;X. a forma tranquilizante ff do id6n;ic;queotogia ff

det Saber, eo. Sigio r979, pp. 19_20.

ii,

,r?r,il,

DISSE LEONARDO OUE O DESTINO DOS HOMENS DE GENIO E ESTAR AUSENTE EM TODAS AS PARiLC. - Jos6 lngenieros

31


(,

t ''{

/

32


um novo saber uma total

RlJPTllRA

sunto puseram-se a pr6ticar os exercfcios recomendados para possibilitar a safda da mat6ria, um deles 6 o professor Rotilde Caciano de Al_ meida, graduado em Filosofia, pedagogia e His_

t6ria e autor de vdrios livros, a quem entrevistamos aqui.

Em 1978 aparece num programa da televisSo brasileira um casal que dizia haver sido seqUestrado por um "Disco Voador", estado vd-

rios dias com os "Extraterrestres" e recebido deles vdrios e revolucion6rios ensinamentos. Ensinamentos que se referem d alimentagSo, sa0de. saber. vida e, por riltimo, o mais fantdstico: i afirmagSo de que a morte ndo existe, de que o ser humano apenas troca de matdria (o corpo) para retomar outra em seguida e assim seguir eternamente"/ Segundo os "Extraterrestres" o ser humano vive neste estado de mis6ria, ignorancia e sofrimento devido a uma catSstrofe que ocorreu com nosso Planeta hd milhares de anos, quando a terra foi exposta a uma temperatura excessiva, havendo esta, deteriorado parte do

cdrebro dos homens que viviam naquela 6poca. Desde entdo. o homem s6 usa uma insignificante parte de seu potencial cerebral. Um dos ensinamentos mais importantes que o casal sequestrado recebeu. foi com relagSo is tdcnicas para reativar esta parte do cerebro paralizada, o que, possibilitar6 ao homem, sair conscientemente da matdria, controlar conscientemente o espfrito fora do corpo e levar os conhecimentos de uma "existdncia" para outra "existâ‚Źncia". o que n5o 6 possfvel ainda, exatamente por todos os homens estarem COM parte do cdrebro sem fung5o. O casal foi motivo de curiosidade, de publicidade e de ironia. Alguns

indivfduos interessados cientificamente no

as-

Revista:

Rotilde, n6s jii conhecemos voc6 hd mui_ tempo, ndo s6 por teus livros como tambdm por uma amizade pessoal. Conheciamos teu ceticismo com rclagdo ds ci6n_ cias em geral, com relagdo ds potencialidades

to

humanas e com os valores sob os quais a sociedade morre aos poucos. Hoje nos surpreende

muito encontrar-te profundamente

entusias_

mado e cheio de convic7do com respeito aos

conhecimentos que recebestes e que sdo atri_ bufdos aos "Extraterrestres',; que nos pode dizer sobre isso? O que te levou a essa nova

2ventura"?

Rotilde: Bem, o que levou a esta ,,aventura,,, por assim dizer, foi um grupo de estudos que n6s tinhamos sobre parapsicologia, discos voadores, esses fen6menos que andam por af, Nos reunimos e comegamos a estudar estes fen6menos em 6mbito particular. Entre os estu-

dos que est6vamos fazendo, entramos em con_ tacto com um casal que ,,dizia,' ter sido se_ questrado por um disco voador. Um casal que

muita gente conhece, jd esteve na televisdo, no programa de (. . .) em 1978. O casal dizia haver sido sequestrado por um disco perto de Santos Dumont, no municfpio de Matias Barbosa, estado de Minas Gerais, em 12 de Janeiro de


1976. Neste sequestro, eles ndo s6 mantiveram contacto com os extraterrenos, mas trouxeram muitas coisas que, para mim, esteo provando que o "caso" deles nio 6 uma mentira, porque eles possuem dados, que nos forneceram, e n6s podemos fazer certas experidncias que, a partir das quais minha vida e a vida do grupo mudou, e eu senti que as coisas comeqaram a caminhar de outra maneira. Revista: VocE poderia nos dizer quais foram os co-

nhecimentos principais que beu dos extrafPrrcnos?

o casal rece'

Como desatrofiar?

Rotilde: Existem glindulas no nosso corpo que est5o atrofiadas por falta de uso. Com esta t6cnica n6s comeqamos - por dizer assim -, a recusar essas partes, ou melhor, r-eativar estas partes que estavam paradas. uma vez desatrofiadas, a safda da matdria 6 autdm5tica. Revista:

E

essas

gtflndulas, que glfindulas seriam?

Rotilde: Eles n5o gostam de citar nomes usando

Rotilde: Bem, as coisas principais. a coisa principal mesmo, foi a t6cnica para a "safda da matdria". Tamb6m a tdcnica de como alimentar-se, como trabalhar com a agricultura, como curar certas doenqas, como cuidar do pr6prio corpo, e assim por diante. eles ndo me disseram tudo, creio que tefn muita coisa que eu

nio

Revista:

sei.

em 6 de opinido minha mas fisiologia, nossa que as duas gl6ndulas mais atrofiadas e sobre as

quais deve ser mais intenso o trabalho, sao

Sobre a saida da mat6ria, o que vocd nos pode dizer?

Rotilde: Bem, a safda da materia, quando eles falaram a primeira vezr eu n5o acreditei, como a equiPe toda que estava 15 ndo acreditou, porque a coisa 6 t6o fantdstica, que est6 al6m de nossas possibilidades de acreditar, muito al6m. Ouando eles falaram que a gente pode sair do corpo consciente, sem dormir e sem estar hipnotizado, apenas aplicando uma t6cnica, que eles haviam aprendido com extraterrenos, eu duvidei e desafiei, e neste mesmo dia eu chamei o casal de charlatdes, para eles

mesmos. Por6m, como eu queria desmasca16-los cientificamente, comecei a prSticar a t6cnica no outro dia, com um grupo de 30 pessoas.

Revista:

Derculpe, eu ndo deixei voc6 falar-me

nlda

da matdria.

Rotilde:

Ah, sim: a finalidade de dominar a safda da mat6ria 6 adquirir o controle sobre a morte. Com o domfnio da safda da mat6ria o individuo deixa de morrer e passa a trocar de matdria, isto 6: quando a matdria ndo serve mais por velhice, doenga etc., esta matdria i deixada conscientemente e o indivfduo passa a ocupar outra mat6ria, tambdm conscientemente, levando para esta nova vida biol6gica todos os conhecimentos e a conscidncia total da mat6ria anterior. Revista:

as tdcnicas usadas para desatrofiar o corpo, s6o tdcnicas que i6 eram conhecidas ou sto tAcnicas absolutamente novas?

E

Rotilde:

S5o tdcnicas novas em grande parte, digamos que 8O% sdo t6cnicas novas, e 2O% sdo tdcnicas, eu ndo digo conhecidas,

Revista: Oual i o obietivo da tdcnica e da saida da matdria?

Rotilde: Bem. o objetivo da tdcnica d desatrofiar o corpo para que voc6 possa sair da mat6ria, sair do seu corPo' .

34

a

gldndula Pineal e a HiP6fisis.

sobrc o obietivo da Revista:

a

terminologia que n6s conhecemos

.

diz o extraterreno a eles, que i6 ensinou estas tdcnicas h5 mildnios aqui na nossa terra. mas que as pessoas deturparam a tdcnica, inseriram outras coisas no meio da tdcnica e assim ela nao funcionou e neo funciona' Ent5o, podemos repetir que 8O% das t6cnicas sdo novas, novas mesmo. Claro que com pequenas semelhanqas


com algumas que j6 se usam aqui. Revista: Mas entdo, qual seria a utilidade e as uantagens gue tudo isso traria para a humanidade?

Rotilde: Bem, traria, todas as vantagens possfveis e imagin5veis. Por exemplo: voc6 pode curar as suas pr6prias doenqas, ndo necessita

mais de mddico para voc6; voc€ pode resolver todos os problemas de sua matdria se voc6 sair da sua mat6ria, porque voc6 pode detectar as doengas antes que elas lhe ataquem. . mas, o objetivo mais fant6stico de todos estes, 6 que vocd passa de af para diante, a ndo morrer mais, vocd ndo vai morrer mais, como ali6s, ningudm morre, n6s estamos enganados, pensamos que

morremos. Daf para diante voc€ vai aprender trocar sua mat6ria, em lugar de perd€-la, como

a

vem acontecendo. Revista: Mas Rotilde, vocd sabe muito bem que isso gue vocd acaba de me afirmar, de uma

maneira ou de outra, vdrias religides, seitas, filosofias etc., afirmam tambCm. Como vocd explica essa coincidfincia ou essa (convercdo)

Rotilde: Bem, a troca de matdria se d5, atrav6s, nade um novo nascimento.

turalmente,

Ouando a matdria ndo serve mais para uso, enteo essa matdria d deixada conscientemente e ocupaise outra numa crianga que nasce. Agora, essa nova matdria i preparada especialmente j6 sabendo que vai ser para fulano que estd aguardando ou que jri encomendou essa matdria. Eles (os extraterrenos) tratam do cor_ po l5 (onde vivem), como a uma simples roupagem ou pegas materiais, ao passo que n6s mistificamos o nosso corpo, o qual tem para n6s um sentido muito mais mfstico do que para eles. Se eles tiverem que trocar um brago, eles dizem: eu vou trocar uma pega do meu corpo. N6s aqui falamos de outra maneira. Ndo sei se

fui claro. Revista:

Sim. Entdo se pode dizer que as pessoas seo ercrnas (referindo-se ao espirito) e que podem dar uma seqildncia a seus conhecimentos e que cada nova matdria adquirida estil relacionada com toda a gama de experi6ncias espirituais das outras existlncias? Rotilde: Sim.

sua?

Rotilde: Ndo seria uma explicagSo, seria mais bem uma demonstragao; porque as religides realmente dizem isso que eu disse, mas apenas "dizem", agora a tdcnica "faz,,, a diferenga esta af, simplesmente ai. Enquanto a religiSo prega que isso vai acontecer no futuro (se

o individuo hcreditar em certas coisas, fizer isso mais aquilo etc.), a t6cnica lhe mostra agora, antes que voc6 morra. Se voc6 fizer a tdcnica voc6 vai ver com os pr6prios olhos que voc6 pode trocar sua matdria e que ndo tem que acreditar em nada, e simplesmente com uma tdcnica que vocd aplica. Entdo, a diferenga da t6cnica e das religi6es, est6 em que as religi6es pregam uma coisa que vai acontecer e a tdcnica te d6 em meos agora, uma coisa que voc6 realiza, digamos uma expressdo latina ,,hic te nunc,,, aqui e agora. Essa 6 a diferenga. Revista:

Vocd ndo quer falar um pouco sobrc a "troca de Matdria'? Como eria?

Revista:

Mas e por que isso ndo ocorre agora? Por que a ignor1ncia e a mis6ria do homem parecem uma grande nave parada? Por que e$tamos atolados, d6beis, enfermos e gastando-nos em uma luta inItil? Rotilde:

lsso ocorre. 56 que como as matdrias que n6s usamos agora esteo bloqueadas, voc€ n5o consegue transmitir de uma mat6ria para outra os conhecimentos que voc6 jii tem do passado. E tanto isso d real, que na tdcnica n6s temos "um passo" do trabalho, que d justamente a busca dos conhecimentos passados para esta mat6ria. Entao, esses conhecimentos de que voc€ estd falando af, essa seq06ncia, jd existe, estamos parados como uma nave exatamente por estarmos todos bloqueados. Ouando estivermos 100% desbloqueados, traremos todos os conhecimentos do passado. Revista:

A

definigdo de "Espfrito" dentro de teu

i

i,


vencionice, neo tem prova nenhuma. .

discurso, tem o mesmo sentido e as mes' mas conotagiles que esta palavra tem quando usada por misticos ou religiosos?

Revista:

Entdo podemos dizer que a'partir do momento que o homem passe a nir da mat6' ria naturalmente, todos os valores atuais tanto da ci6ncia, como da religido, etc., tudo is-

Rotilde:

Eu, na verdade, n5o saberia dizer como os mfsticos e os religiosos definem "Es-

pfrito". Eu i5 fui criado no cristianisfio, i5 defini o "espfrito", mas nunca entendi na-

I,

i r

so cairia por terra?

da, essa 6 a verdade. Agora, o que eu entendo por espfrito hoie 6 bem diferente: o espfrito somos n6s mesmos, n6s somos o espfrito' Porque eu ndo poderia estar dando esta entrevista se n5o fosse "Eu Espirito" falando. A minha matâ‚Źria quando est6 sem espfrito est6 iogada como esta poltrona, como este carpete e nao se mexe para nada. Ouando estamos fora da matdria {corpo) notamos que o espfrito tam-

d mat6ria, n5o mat6ria "bruta" como a matdria do corpo, ou dessa poltrona, 6 uma brdm

mat6ria sutil que ndo ocupa espaQo e na qual tamb6m n5o hd tempo. (Ouando voc6 sair da

matdria vocd vai ver tudo isso. n5o preciso pregar porque isso n5o 6 religiSo). Ouando estamos fora da mat6ria, podemos assumir a forma de um Stomo ou de um edif fcio, voar, caminhar, ir ao fundo do mar sem aparelhos' ' ' como 6 que voc6 entende uma mat6ria deste jeito. voc6 entende? Revista:

No principio da entrevista voc6 afirmou que o corpo humano est6 atrofiado, que algumx gtdndulas estdo ffm funcionamenta, que o cdrebro estd bloqueado etc' Nos perguntamos: qual foi a cauffi desta atrofia ou deste bloqueio? Rotilde:

Bem, o extraterreno explicou ao casal. que o nosso cdrebro est5 bloqueado desde a 6poca em que a terra teve um desvio

do seu eixo, influenciado este desvio por radiag6es solares, e essas radiag6es solares atingiram

6 c6rebro humano destruindo parte do mesmo da geragSo que vivia entao. Tal gerag5o, ndo s6 esqueceu todos os conhecimentos que possufa, senSo que, al6m disso ndo conseguiu transmitir nenhum conhecimento is gerag6es posteriores,

e

desde enteo. toda

"primitivismo",

a humanidade voltou

e dai 6 que o homem

ao

Rotilde: Digamos que a verdade ndo morre/ Para

mim isso sempre foi positivo. A

verdade

nunca desaparecerd da face de qualquer planeta. O que existe de verdade, n5o s6 n5o vai morrer, como vai ser reafirmado. reafirmado tudo. O que 6 verdade ficarS, agora, tudo o que 6 falso, o que ndo 6 verdade, cair6 por terra na hora, isso 6 certo. Para mim i6caiu!!!Para mim n5o tem mais condigdes/// Revista: Vocâ‚Ź poderia relatar tua experiancia com relagdo d saida da mat6riaZ

Rotilde: Posso sim, Eu comecei alazer estas t6cnicas no dia 24 de novembro de 1979. hoje j5 est6 fazendo um ano e alguns dias. Estas t6cnicas devem ser feitas todos os dias, duas horas por dia. Desde essa data eu tenho feito to-

dos os dias, nunca falhei um dia. O que eu jd consegui entSo? Depois de 4 meses, para minha surpresa, porque eu n5o acreditava na coisa, eu saf da minha mat6ria pela primeira vez. Pela primeira vez eu tive a oportunidade de ver meu corpo longe de mim, numa distdncia de 3 metros e observar bem que isso n5o era nenhum engano, nenhuma imaginagdo, nenhum sonho. Bem, depois dessa primeira vez, eu saf muitas outras vezes desse modo. Agora, atualmente, eu saio com muito mais seguranga e certeza que naqueles dias. Cada dia eu

adquiro mais domfnio e mais seguranqa porque o meu trabalho agora este sendo de domfnio da t6cnica, domfnio total da safda. Por exemplo, de deitar aqui e sair dentro de cinco

minutos (se eu quizer). Todos que fazem o

curso adquirem o domfnio de sair do corpo i hora em que bem entendem. Estou nessa fase atualmente.

supSe

que a origem da humanidade 6 do macaco, 6 n5o sei de qu6, de uma c6lula e tal. . . essa parte de suposigSo cientffica iria, iria n5o, vai j6 toda para as "cucuias"/ lsso ai tudo nao passa de in'

36

.

Revista: Quando estd fora da matCria, um espirito pode agir sobre o corpo de outras pessous,


Rotilde:

Exatamente. Transcendem

o Bem e o

Mal porque o Bem e o Mal s5o conceitos de nossa matdria, bloqueada. Revista: Sabemos que vocd estd vinculado a v6rias instituigdes "tradicionais", Universidades, etc., como estas instituigdes e os profissionais de tua iirea v6em essa tua nova concepgdo do mundo e da existâ‚Źncia?

Rotilde: Bom, eu realmente ndo tenho falado disso para muitas pessoas. As poucas que falei

ndo acreditam, levam na gozagSo e

ou melhor provocar nelas o bem ou

o

mal?

Rotilde: Ndo. N5o d possfvel porque fora da mat6ria a realidade 6 outra. O problema do bem e do mal d mais uma caracterfstica de matdrias bloqueadas, agora uma pessoa que est6 fora da matdria pode "jogar uma iddia sobre voc6 e vocâ‚Ź aceitar ou negar-se a aceitar essa iddia ou esta 'intuigSo', 6 a isso que chamamos

intuigdo. Dizer que os espfritos podem fazer mal 6 puro misticismo. Revista:

Entdo se pode dizer - como Nietzrche gue os espiritos fora da matdria transcen-

eu

tambdm levo, porque n5o estou interessado em convencer ninguem disso. Agora as poucas pessoas de minha Srea que possuem um pouco de interesse por isso e que possuem interesse cientffico, j6 estSo fazendo a tdcnica para ver se 6 verdade, como eu tamb6m fiz no inicio. atitude que eu acho l6gica. Fievista:

Para terminar, Rotilde, como vac6 sintetizaria esta pequena entrevista?

Rotilde: Dizendo que tudo 6 uma questSo de vida ou morte. Dominar a tdcnica 6 deixar de morrer. desprezar a tdcnica 6 preferir a morte em lugar da vida. Dois tiranos determi. narSo o destino de cada pessoa: A Ci6ncia, apesar da covardia, dar-lhe-d a vida. . . A Covardia, apesar da ci6ncia, dar-lhe-6 a morte///

demoBemeoMal?

A DIALECTICA E A TENTATIVA DE VER O NOVO NO ANTIGO. EM LUGAR DE VER SOMENTE O ANTIGO DO NOVO. T.W. Adorno

37



E

c 0 CIEDADE L

0 G

lA-1'l

AR0ul$tUI0

"O grande mal do homem nio 6 a pobreza nem a exploragdo, senf,o a perda da singularidade

.

humana sob o lmp6rio do Consumismo. Sob o fascismo se podia, pelo menos ir a cadeia. por6m hoje, at6 isso 6 est6ril. O fascismo apoiava seu poder na igreja e no ex6rcito, que ndo sdo nada comparados com a televi_ sdo". P.P. Pasolini

Hoje em dia, tanto no onsumismo como

no comunismo. existe uma tend6ncia anti-hu_ mana que ameaga a liberdade: tal tenddncia anula a individualidade, e se manifesta em todos

os nfveis. Em urbanismo e arquitetura como perda da "escala humana" e gigantismo das cidades; em economia como desaparecimento das

oficinas e gigantismo das f6bricas e empresas; em polftica como desaparecimento da autonomia local, concentraqSo de poder e gigantismo dos Estados e burocracias.

O homem possui umas dimens6es e faculdades corporais que definem sua ,,escala huma-

na". Ouando uma sociedade estd construfda

dentro da "escala humana", esta sociedade d co_ mo uma concha que protege e fomenta o desenvolvimento do individuo. As conchas sdo sem_ pre a escala do ser vivente que as habita. Ouan-

do uma sociedade se constr6i fora da

,,escala

humana", a individualidade desaparece ou pereo indivfduo d como um verme Kafkiano, arrastando-se pelas carcacas imensas dos Minist6rios e burocracias que ndo entende nem co_ nhece. O verme Kafkiano estd se proliferando hoje por todos os paises industrializados, tanto capitalistas como comunistas, e isso se deve a que tanto o utilitarismo liberal (que d a ideo_ logia que est6 por detrds do capitalismo). como o materialismo marxista (que 6 a ideologia que est6 por detrds do comunismo), sdo filosofias racionalistas, isto d, fora da ,,escala humana,, anti-individualistas, generalizadoras. desenvolvimentistas e tecnocrdticas. O marxismo, por

ce;

ser um socialismo cientffico, cai na mesma for_

ma do pensamento utilitarista: o mesmo cienti_ ficismo racionalista que acaba levando i mediocrizagSo do homem, i concentragdo industrial. ao gigantismo burocr6tico e ao sacriffcio da in_ dividualidade humana sob formas racionalistas

e nomes (mSgicos) como As

Massas,

no

mar_

xismo e a Utilidade no capitalismo.

39


:t r#-

W

--

DE MODO OUE PODEM ALEM DISSO LHES CONCEDI O DOM DA LIBERDADE' VOLTAR AO NADA.


Willian Blake, o primeiro pensador europeu que reagiu contra a Revoluglo lndus_ trial, denunciou o uso desumano que se dava d ind0stria e i mdquina, e buscou, ndo suas causas materiais que sao evidentes, mas sim as raf_ zes mentais deste uso desumano da m6quina. Blake encontrou estas rafzes no pensamento de her6is do racionalismo tais como: Newton, Descartes e Locke. Para Blake, a visdo cientifica do mundo 6 0til quando se aplica d tdcnica. pordm nefasta quando se aplica i sociedade. O entusiasmo abstrato e generalizador da ciencia Cartesiana vai contra o individualismo, a peculiaridade e a diferenga. A mentalidadedeterminista e medidora da cidncia vai contra a mentalidade expontdnea e improvisadora do individualismo. Como as partfculas em um g5s, cujos movimentos se promediam expressando-os em uma tem_ peratura global, assim mesmo. em uma socieda_

de regida por

mentalidades cientfficas, os indivfduos se despersonalizam e se englobam em massits, partidos, nag6es, que sdo conceitos abstratos, caros i mentalidade cientffica e equivalentes ds noc6es mddias da f fsica: tempe_ ratura, pressSo, entropia. No racionalismo, o indivfduo se perde em uma nuvem de abstragdo. A imaginagSo, intuigeo, improvisag5o e emocdo s5o faculdades humanas reprimidas pela sociedade. porque s5o elas que diferenciam o homem

de uma partfcula de g6s e que portanto impos_ sibilitam a aplicagdo do modelo cientffico A so_ ciedade humana. E nesta reinvindicagd'o do indivfduo - e n5o como escape lirico que se deve reionsiderar o movimento rom6ntico, desacreditado pelos racional istas. Proudhon tambdm denunciou este car6ter amorfo da organizacSo racionalista da sociedade ao falar do sufrdgio universal: ,,o sufr6gio universal 6 r,tma espdcie de atomismo pelo qual o legislador, (como n5o pretende deixar as pes_ soas se expressarem individualmente) convida aos cidadSos a expressal suas opinides como midia de todas as opini6es, da mesma forma

que os fil6sofos racionalistas explicam o

a

pen-

vontade e o entendimento por combinacdes de 5tomos. para que o sufr6gio samento,

universal tenha "efic6cia,,, d necessdria a retencSo dos grupos naturais. Sem eles ndo

existe originalidade, franqueza, nem significatJo claro e inequfvoco nas vozes. A base amorfa

nacional das eleiq6es'procura abolir a vida ftica em cidades, comarcas e municfpios e,

pol

gio. Em tais circunst6ncias, o corpo da nagdo

d

como uma aglomeragdo de mol6culas,

um monte de p6, animado de fora por uma iddia central ista su bordinadora,,.

Tanto proudhon como Blake consideram individualismo e a descentralizageo como princfpios bdsicos da liberdade, contrapostos

o

a

ideologia generalizadora e centralista do racio-

nalismo cientffico.

O paradoxal impasse em que se encontram tanto o utilitarismo capitalista como o marxismo comunista, d que ambos passaram

por cima da individualidade e sempre pensaram em termos de massas. Ouando se pensa em conceitos abstratos e gerais, em vez de em pessoas e situag6es concretas, o indivfduo desaparece, a peculiaridade cultural d ignorada, o consumo se .massifica, os artigos se estandartizam, a pequena fdbrica se transforma em uma imensa fdbrica e a colaboragdo se transforma em discfpli_ na de partidos. O socialismo cientffico, precisamente porque 6 cientifico, morde o mesmo anzol anti-individualista do utilitarismo. O utilitarismo pretende respeitar o indivfduo e assegu_ rar sua liberdade, mas esquece a dimensdo social e cooperativa do homem, propondo-lhe suas

re_

lagdes em termos de concorrdncia ou de execu_ tivo agressivo. O rnarxismo pretende solucionar

este defeito enfatizando a dimensdo social do homem, mas esquece sua dimensdo diferencial e individualista, submetendo a vontade individual a "entelequias,. abstratas como o parti_ do, o Estado, ou as massas, Parece que o desej6vel seria um socialismo que reunisse ambas as dimensdes da pessoa

humana:

a

peculiaridade individualista

e

a

associagdo cooperativa. Esse socialismo iit existe: 6 o Socialismo Libertdrio que, faz cem anos os marxistas o qualificaram d9 ut6pico. Hoje em dia, i o marxismo o que parece um

socialismo ut6pico, porque as crises ecol6gicas e energ6ticas, a concentragdo de poder, o crescente autoritarismo e a massificagdo do indivfduo, indicam bem claramente. a necessidade de p6r o

indivfduo como fim em si mesmo. E ut6pico querer liberar ao homem seguindo a linha de despe rson al izaglo, m ass if icagdo e concentragdo que implicam as teorias do utilitarismo e do social ismo

cientff ico.

atravds desta destruigSo da autonomia municipal e regional. conservar a eficdcia de tal sufr5_

41

,


REf LE-XqFS-'-P-89-V.F.M MTNHA FORMA DE PENSAR E O FRUrO DE MINHAS NAo EsrA EM MINHAS onGANlzAQAo. rvrirrrHlr DE MTNHA EXIsTENCiA; PE FARIA' o NAo ESrlvESsE, si MirttA-tA; MAos o P9DER Di Fernando Savater

atuais, por6m a auto-realizagSo dos trabalhadores d bem maior. As tecnologias intermedi5rias

Ecologia e Tecnologia

ndo s6 sao uma solugdo para descentralizar

O problema atual consiste na perda da

para desenvolver industrialmente os pafses do Terceiro Mundo. Hoje em dia i6 est6 demonstrado que a id6ia (gaudiniana) da f5brica artesanal d mais viSvel, em um pafs pobre, que as f5bricas com tecnologia ocidental, porque estas s5o intensivas em capital, criam poucos empregos e n5o criam ligag6es (no sentido de Hirshman) com as ind0strias locais, o que as transforma em meros centros industriais coloniais'

Urbaniz45o e Escala Humana Em urbanismo, as id6ias anarquistas do s6culo passado demonstraram ser mais acertadas

cidem com os programas de descentralizagSo t6cnica, urbana e polftica que propunham os Anarquistas do sdculo passado' Essas solug6es

que as do utilitarismo e do marxismo.

Estes

dois sistemas, com seu cientificismo racionalista prosseguiram numa linha de aplicagSo indiscriminada e entusiasta da tecnologia, o que provocou a concentragSo urbana atual' A concentrageo nas cidades n5o 6 mais que a conseqii6ncia espacial do gigantismo industrial' Ouando se quer produzir o mdximo e com o m6ximo de eficidncia, entSo o mais acertado 6

descentralizadoras vdo contra os programas concentradores tanto dos liberais como dos marxistas. Ouando Lenin proclamava planifi' : SOCIALISMO, estava cagSo + eletrificagSo de Centraig El6tricas' polftica propondo uma o nome indica -, cencomo E as "Centrais"

tralizam.

a

indristria poluidora e alienante dos pafses desenvolvidos, como tamb6m sdo adequadas

"escala humana". em todos os niveis em que se que desenvolve a vida do indivfduo; a tend6ncia ConcentraconcentracSo' perda 6 a produz essa qdo na cidade, no trai"ralho e na pol itica' A concentraQeo se soluciona com a descentralizagSo' Essa ideologia descentralizadora n5o foi nunca a ideologia do socialismo cientffico ou marxista, que 6 centralista e abstrato, seneo que tem sido, desde mais de cem anos, a do Socialismo Libert6rio, descentralizador e particularista' As iddias supostamente ut6picas (segundo os marxistas), do Socialismo Libert5rio, sdo reivindicadas hoie pelas conclus6es da Ecologia' do Urbanismo e da Psicologia' Nestes trds campos' as soluqdes que hoie em dia se propdem coin-

O que estava coerente com suas

id6ias. pois Lenin havia escrito: "Os bolcheviques s5o centralistas por convicaSo, pela natureza de seu programa e por todas as t6ticas do partido" (nem mesmo Trotsky soube superar a tendâ‚Źncia centralista do poder e enviou as tro-

localizar as indristrias nas grandes cidades' Alguns urbanistas afirmam que s6 a partir de

pas que massacraram o levantamento anarqulsta de Kronstaad). Hoje em dia, em ecologia se descartam as centrais eldtricas em favor da energia

camente ser5.

solar, gerada em cada casa; os tecnocratas capitalistas querem centralizar igualmente quando

prop6em centrais at6micas. Para corrigir a poluigSo causada pela tecnologia industrial, os ec6logos prop6em a utilizaqSo de energias intermedi6rias' Essas tecnolo-

gias s5o mais intensivas em m5o de obra que capital, mais simples em seus mecanismos

e e

fabricam s6ries menores. Tais m6quinas sao menos rentdveis para o empres5rio que as 42

seis milh6es de habitantes as cidades comegam a

ser menos eficientes; outros pretendem que quanto maior a cidade, mais eficiente economi-

O utilitarismo capitalista e o marxismo comunista coincidem em que ambos fomentam a grande cidade, porque p6em a evid6ncia econ6mica e a concentrageo como valores priorit5rios. O Socialismo Libert6rio, pelo contr6rio, toma como prioritdrios os valores descentralizadores de trabalho em pequenas cidades, e constr6i um sistema econ6mico coerente com os valores individuais e locais. E evidente que usando tecnologia intermedi6ria em f6bricas a "escala humana", os postos de trabalho podem localizar-se em cidades e povoados de todos oe


tamanhos, com

o que as pessoas poderiam encontrar trabalho e viver em lugares i "escala

poder. Os centralistas se opdem sempre a perder, poder por problemas psicol6gicos que sdo

humana", fora da congesteo e poluiqdo das me-

de psiquiatria mais que de economia.

t16poles.

t

Pol ftica e Descentralizac5o Para recuperar a "escala humana", tanto a descentralizageo tecnol6gica, como a urbana,

tropegam com um obst6culo enorme: ambas exigem uma fragmentagSo do poder pol itico e econ6mico, porim. os que possuem o poder

Psicologia e Cidade Se tanto a Ecologia como o Urbanismo reivindicam a relev6ncia atual dos ideais do Socialismo Libertdrio, a Psicologra, com sua

reivindicagSo da necessidade de auto- realiza. c5o indivfdual (ver Maslow, Fromm ou Rogers), coincide tambdm com o anarquismo em colo.

car

o indivfduo como

valor prdvio e priorit6_ sociedade. O individualismo, em pol ftica quer dizer descentralizac6o, reducdo do ambito

rio

i

do poder, isto d, poder local, atomizado, e

muito distribufdo. Se trata de que o individuo tenha a sensaqSo e a possibilidade de influir nas decisdes que afetam a sua vida cotidiana. lsto se consegue na cidade com (El Agora), onde todos os cidadSos se conhecem e discutent as quest6es polfticas (como seu nome indica) cara a cara; na cidade pequena. na comuna, oncle os cidadSos ndo t6m que delegar constantemente responsabilidades como na nag6o, mas assumem

pessoalmente as decis6es pol fticas, ou se as delegam, o fazem a representantes imediata_ mente escolhidos por uma assembl6ia de todos os cidadSos. Os problemas de "escaia regional,, se resolvem por uma hierarquia de

ou nacional

confederag6es

a

escala comarcal, regionai,

nacional e mundial.

nas empresas e nag6es, neo querem solt5-lo, nAo querem ceder autonomias nem ver reduzidas as dimens6es deste poder. Ouando uma in-

o produto pode ser fabricado em muitos lugares. lsto ndo interessa ao poder. O interessante para o empresdrio capitalista ou para o tecnocrata centralista, que quer controlar esse artigo, d eliminar f5bricas pequenas integrando-as em uma grande empresa, seja privada ou estatal. O problema ndo estd em ser privada ou estatal, e sim em serem grandes. Desta grande empresa, os tecnocratas controladores possuem o mdximo d0stria se descentraliza,

Os conceitos anarquistas de comunidade equilibrada. democracia cara a cara, tecnologia humanista e sociedade descentralizada ndo sio hoje somente desejados, sendo necessdrios. Nio pertencem a uma visSo ut6pica do- futuro humano, senSo que constituem prd-condic6es para a sobreviv6ncia humana, ameaqada pela concen_ tracdo urbana, econ6mica e pol itica. O agrava_ mento das crises ecol6gicas. urbanas e psicol6_ gicas dos rlltimos anos as retiraram do seu 6m_

bito dtico e subjetivo para introduzi-las

em

uma dimensSo pr5tica objetiva. O que antes se taxava de ndo ser prdtico e sim visiondrio, se transformou em eminentemente pragmdtico. E o que antes se considerava como realista e obje-

tivo

se tornou "n5o pr5tico,, para o desenvolvi-

mento do homem atd uma existâ‚Źncia mais cheia e livre. Se a alienante concentrageo de nossos dias tem que contrarrestar-se com comunidades de base, democracia cara a cara, tecnologia humanista e liberadora, e descentralizagdo, entdo, se pode propor de modo obletivo o pragmatis-


mo do socialismo libert5rio. Esta reaqSo do indivfduo contra a tend6ncia anti-humana da concentraQeo, explica o crescimento explosivo de um anarquismo intuitivo entre a juventude

industrial alimentada pelo escrit6rio ou

pela

atual. Sua volta i natureza d uma reaqdo contra as qualidades sintdticas, pl5stico e metal do am' biente urbano e seus produtos artificiais' Sua in-

universidade. Seu intenso individualismo 6, a seu modo, elementar, uma descentralizac5o de fato da vida social, unra abdicaqdo das exig6ncias da sociedade de nfsas. A iuventude atual, com seus h6bitos, sua m0sica, suas ideologias e sua forma de vida, estS dizendo que o

e do realismo socialista. Sua tenddncia i aqSo direta 6 uma reaqSo contra a burocratizagSo e centralizagdo da sociedade. Sua terrd6ncia a

peculiaridade regional e a individualidade' E que o ut6pico 6 pretender resolve-lo corn um individualismo competitivo ou com um socia'

formalidade em comportar-se 6 uma reaqeo contra a estanda.rtizagSo do executivo agressivo

perigo mdximo de nossos dias 6 a concentragSo, a massificagSo, a perda da "escala humana", a

marginalizar-se, a evitar entrar na carreira de ra' tos da concorrencia crrlprgsari?l e na sociedade de consumo, reflete um repridio d cega rotina

lismo anti-individual ista.

44

Luis Racionero


deparamos hoje, e que sem drividas se resolverd em um futuro pr6ximo, 6 o de como ser "Eu Mesmo" e estar ao mesmo tempo unido aos demais, como sentir-se profundamente ligado a todos os seres humanos e seguir mantendo, assim mesmo, as caracterfsticas pessoas. E este me parece o terreno comum no qual a massa e o indivfduo, o democrata autdntico e o ser original, o homem e a mulher, podem encontrar-se sem antagonismos e sem oposigSo. A divisa n5o deve ser: Perdoemo-nos uns aos outros, e sim, entendamo-nos mutuamente. Entender tudo n5o significa perdoar tudo, como af irmava Madame de Stael.

A emancipag5o deveria permitir i mulher converter-se em um ser humano no sentido mais pr6prio do termo. Tudo o que dentro dela pugna por afirmar-se e por atuar, deveria alcangar sua mais plena expressSo; haveria que romper todas as barreiras artificiais e eliminar todos os vestfgios dos s6culos de submissdo e de escravidSo que obstaculizam o caminho para

uma maior liberdade. A emancipacdo exclusivamente exterior fez da mulher moderna um ser artificial. Na atualidade a mulher depara com a necessidade de emancipar-se da emancipag5o. se d que na realidade quer ser livre.

E]Ul]llA

GOLD]llAII O Amor entre as pessoas livres(*

a)

A emancipacSo trouxe i mulher a igualdade econ6mica com o homem, isto 6, a possibilidade de eleger uma profissdo; pordm, com a formacSo ffsica que recebeu no passado e na

)

A trag6dia da emancipagdo da mulher

feito

atualidade n5o possui a forga suficiente para competir com o homem, se vd com freqti6ncia obrigada a esgotar suas energias, a gastar sua vitalidade e a destruir seu sistema nervoso para poder alcangar valor no mercado. Existem poucas que triunfam, j6 que nem as profes_

'4-paz e a harmonia entre os sexos e os indivfduos n6o depende necessariamente da

soras, doutoras, arquitetas, etc.. gozam da mesma confianga que seus colegas masculinos, nem recebem saldrios iguais. E as que conseguem a desejada igualdade, a conseguem geralmente ir custa de seu bem estar f fsico e psiquico. Ouan-

O antagonismo social generalizado que se apoderou, na atualidade, de todos os aspectos

de nossa vida p0blica, gerado pela forga interesses opostos

e

contradit6rios,

de

salta16

pedagos, quando se faga realidade a reorganizagSo de nossa vida social, fundamentada nqs princfpios da justiga econ6mica.

igualdade superficial dos seres humanos, nem exige a eliminagSo das caracterfsticas e peculiaridades pessoais. O problema com o qual nos

(*)

Sfntese de um escrito de Emma Goldman (publicado em "Los Anarquistas" de lrving Louis Horowitz, p. 310 - Alianza Editorial Madrid). Emma Goldman (1869 - 19401 foi uma das grandes defensoras dos direitos da mulher e lutou com Margaret Sanger pela introdug6'o dos m6todos anticoncepcionais no mundo.

to d grande massa de mogas e mulheres trabalhadoras, que tipo de independencia conseguem se substituem a limitagdo e a falta de liberdade do lar, pela limitagdo e falta de liberdade da f6brica, da loja. do armazem ou do escrit6rio? Muitas mulheres t6m que ocuparse aldm do lar, "doce lar", (frio, desordenado.

triste, nada acolhedor) com um trabalho

de

fSbrica semelhante. Maravilhosa independ6ncia/ N5o 6 de se estranhar, que centenas de mocas estejam dispostas a aceitar a primeira



oferta de matrimanio, fartas e cansadas de sua "independdncia", detrds do mostrador, ou sentadas frente i uma m6quina de escrever ou de costurar. EstSo t5o dispostas a casar-se, como as mogas de classe m6dia, que desejam livrar-se

da tirania paterna. Uma pretendida

indepen-

ddncia que s6 permite ganhar o suficiente para sobreviver n5o d t5o atrativa nem ideal para que se pense que a mulher sacrif ique tudo por ela.

na teoria, sdo partidSrios das iddias mais radicais, mas que, entretanto, na prdtica didria sdo filisteus que fingem respeito e que necessitam

que seus advers6rios tenham boa opinido deles. Existe por exemplo, socialistas e anarquistas que defendem a id6ia de que a propriedade 6 um roubo e que, entretanto, se indignariam se algudm lhes devesse cinco centavos.

O

grande movimento

da

"verdadeira"

interiormente estarem vazias e mortas.

emancipagao n5o encontrou ainda uma grande raga de mulheres capazes de olhar a liberdade cara-a-cara. Sua visSo estreita e puritana fez que dependessem do homem em sua vida emocional, como de um personagem suspeito e perturbador. A liberdade da mulher est6 profundamente ligada d liberdade do homem. e muitas de minhas irmSs pretendidamente emancipa-

A limitacSo da concepgSo atual da independ6ncia e da emancipagSo da mulher, o medo de amar a um homem que n5o pertenga a sua classe social; o medo de que o amor lhe roube a liberdade e sua independdncia; o horror de que

das, parecem esquecer o fato de que uma crianqa nascida em liberdade necessita o amor e os cuidados de toda pessoa que lhe rodeia, seja homem ou mulher. Por desgraga, se deve a esta concepc5o estreita das relac6es humanas, a tragddia das vidas dos homens e das mulheres

o

modernas.

Apesar de tudo,

a

situagSo das moqas

d muito

mais natural e humana que a situacSo da mulher culta e profissional (professoras, ffsicas, advogadas, etc.), i priassalariadas

meira vista mais afortunadas, que devem aparentar uma atitude digna e decorosa, apesar de

amor ou a alegria da maternidade

sirvam

somente para entorpecer o pleno exercfcio de sua profissSo, tudo isso faz da mulher emancipada atual, uma virgem reprimida ante a qual flui a vida, com suas grandes penas esclarecedoras e suas profundas e fascinantes alegrias, sem tocar nem comover sua alma.

A

emancipacdo, tal como a entendem a maioria dos seus partiddrios e ddfensores, ndo d suf icientemente ampla para comportar o amor e o dxtase ilimitados, contidos na emogSo profunda da mulher. amante ou m5e verdadeiramente livre.

A

dio, com sua auto-suficidncia, seu ridfculo ar de superioridade e seu paternalismo com relag5o ao sexo feminino, n5o pode servir ao tipo de mulher descrito por Laura Marholm, em Character Study. Muito menos pode servir-lhe. o homem que n5o vd mais que sua mentalidade e seu talento e que n5o consegue despertar sua natureza feminina.

devido

mais avangadas e perfeitas tem seguidores que,

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pada de hoie leva vantagens em relagSo is

Todo movimento que pretenda destruir as atuais instituig6es e substituf-las por outras

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desenvolvimento mental da mulher, menos possibilidades ter6 de encontrar um companheiro adequado que busque nela n5o somente o sexo, mas tambdm o ser humano, o amigo, o camarada. O homem md-

gerag6es anteriores, tanto em termos de conhe-

automatizadas.

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for o

Apesar de tudo. encontramos muitas mulheres emancipadas que preferem o matrim6nio, com todos seus defeitos, antes de seguir sua vida limitada de solteira, limitada e insuportdvel

cimentos do mundo como da natureza humana. mas, precisamente por isso, sente a falta de uma "essdncia vital", a rinica que pode enriquecer a alma humana e sem a qual a maioria das mulheres se converteram em simples profissionais

l

lr

Ouanto maior

tragddia da mulher economicamente

emancipada n5o se fundamenta no fato de que ela tenha muitas experidncias, e sim, de que tenha muito poucas. Claro que a mulher anteci-

j

is

cadeias dos preconceitos morais e sociais que afogam e reprimem sua natureza. Esta inconseqiiâ‚Źncia de muitas mulheres avangadas se deve a que nunca entenderam realmente o significado da emancipagdo. Acreditaram que era suficiente livrar-se das tiranias externas; deixaram vivos aos tiranos internos, muito mais perniciosos para a vida e o desenvolvirnento (a dtica e as conveng6es sociais) e estes atuaram silenciosamente e parecem dominar os corag6es e as cabegas inclusive das mais ativas re-

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da mulher, o nossas av6s' de nos que dominavam mesmo

presentantes

da

emancipagSo

Estes tiranos internos podem apresentar-se em de m6do i opiniSo p0blica, ou ao que

forma qualquer diga a mde, o irm6o, o pai, a tia ou outro parente ou o que dirdo a senhora X' o

pais e edusenhor Y, o chefe da Associagdo de cadores. Oue poderSo dizer estes entrometidos' detetives morais e carcereiros do espfrito humano? At6 que a mulher ndo tenha aprendido

a desafiar a todos, a manter-se firme em seu posto e a insistir em sua liberdade sem restri' g6es, a escutar a voz da natureza quando esta peqa o que de mais lindo que pode dar a vida' o amor por um homem, ou seu mais excelente privildgio, o direito a ter um filho, ndo poder5 considerar-se emanciPada'

mento em prol da emancipagSo da mulhqr ndo deu at6 agora mais que o primeiro passo nesta direg5o. O direito ao voto ou a igualdade de direitos civis sdo reivindicag6es iustas, mas a verdadeira emancipagdo neo come9a nem nas urnas nem nos tribunais, e sim, na alma da mulher. E preciso que a mulher se conve nga, de que a liberdade chegar5 atd onde chegue sua ca' pacidade de alcang6{a. Portanto, 6 muito mais importante que comeqe a regenerar-se interiormbnte e que abandone a bandeira dos precon' cditos, das tradiq6es e dos costumes. As exig6n' cias de direitos iguais em todos os aspectos da vida profissional 6 muito justa, mas, acima de tudo, o direito mais importante 6 o direito de amar e ser amada' Conseqiientemente, se a emancipaQso parcial se converter6 em emancipagSo total, completa e aut6ntica da mulher, dever6 acabar-se com a ridfcula id6ia de que ser amada, converter-se em namorada e mde, 6 sindnimo de ser escrava ou subordinada. Ter6que terminar com a ridicula id6ia do-dualismo sexual, ou de que o homem e a mulher representam mundos antag6nicos.

b)

Matrim6nio e Amor

A frase que Dante p6s na entrada do lnferno pode aplicar-se tambdm ao matrim6nio: "Aquele que aqui entra, pode abandonar todas as esperangas."

56 os terrivelmente estipidos

discfpulas da emancipagSo pura e simples pensaram que eu era uma hereje digna da fogueira. Sua cegueira ndo as deixou ver que minha comparaqdo entre o novo e o velho

As

era simplesmente para demonstrar que um grande nrimero de nossas av6s tinham mais sangue nas veias, mais humor e mais inteligOncia que a maioria de nossas mulheres profissionais

emancipadas que enchem os col6gios, salas universitdrias e escrit6rios. Necessitamos desprender-nos das velhas

tradiq5es

48

e dos

velhos costumes,

eo

movi-

negaram

que o matrim6nio 6 um fracasso' O matrim6nio C, antes de tudo, um acordo economico, um seguro que s6 se diferencia dos seguros de vida correntes porque 6 mais vinculante e mais rigoroso. Os benef (cios que se obt6m dele s5o insignificantes em relagao ao que se deve pagar por eles. Pode haver algo mais humilhante e degradante que toda uma vida de intimidade entre estranhos? Uma mulher n5o necessita saber nada de um homem a ndo ser seu rendimento.

i

Ouanto mulher, que outra coisa se necessita saber, al6m de que tem uma boa apardncia?

.

Mas, como se protegeria aos filhos se ndo

fosse pelo matrim6nio? Depois de tudo, ndo 6 esta a considerag6o mais importante? Oue gran' de imposigSo e hipocrisia/ O matrim6nio protege ds crianqas e, entretanto, existem milhares de criangas abandonadas e sem um lar. O matrim6nio protege is criangas,e, entretanto, os orfa-

natos, os hospfcios,

e

reformat6rios

estSo


cheios e a Sociedade para a Preven@ da Crueldade com as Criangas n5o faz mais que ocuparse das pequenas vftimas dos "amantes" pais e colocS-las em m6os mais cuidadosas, nas mSos da FundagSo Gerry. Oue farsa/

forqa todo-poderosa ser sindnima deste pobre "engendro" do Estado, e da lgreja que d o matrim6nio?

Amor liwe? Por acaso o amor pode

ser

coisa mais que livre?

Quanto d protegdo da mulher, af esta precisamente a maldigSo do matrim6nio, e ndo porque n5o proteja a mulher, mas porque a simples id6ia d t5o repugmante e teo degradante para a dignidade humana que 6 suficiente para condenar de uma vez para sempre essa instituigSo parasitdria. A instituigSo do matrim6nio converte a rnulher num parasita

Enquanto o amor 6 quem gera filhos, n5o haverd criangas abandonadas, famintas ou carentes de afeto. Sei gue isso d verdade. Conhego mulheres que foram mdes em liberdade com o homem que amavam. Poucos filhos jii desfrutaram dentro do matrim6nio, do cuidado, protegSo e devogdo que a maternidade

e a obriga a depender completamente de outra pessoa. A incapacita para a luta pela vida, aniquila sua conscidncia social, paraliza

livre 6 capaz de oferecer.

sua imaginaqao e lhe imp6e depois, graciosamente, sua protegSo, que d em'realidade uma armadilha, uma par6dia do cardter. humano. Se a maternidade 6 a maior realizagdo da rnulher, o matrim6nio profana, ultraje e corrompe essa realizagdo. O amor, o elemento mais

produtora de uma raga de seres humanos enfermos, d6beis e miser6veis, que n5o tem a

forte e profundo de toda vida, press6gio

de

esperanga, de alegria, de 6xtases; o amor, que desafia a todas as leis, a todas as conveng6es; o amor, o mais livre, o mais poderbso modelador do destino humano, como pode essa

A

mulher n5o quer seguir sendo a

forca nem

o

re-

valor moral para derrubar o e de sua escraviddo.

verdugo de sua pobreza

As mulheres realmente emancipadas repudiam o matrim6nio como uma imposicdo, como uma farsa vazia e superficial. Sabem que o amor (n5o importa se dura um momer.lto ou uma eternidade) constitui a 0nica forca criadora, inspiradora e exaltadora de uma ft)va raga e de um novo mundo.

.o_o-qtg,_4 M_oFTE F tllt-JugrtgA coNDUztRA pots, sE NAo PELO MENOS A EPOIOCIA DO TUEI E DO ASSASSINATO.

Ao ExERctcro, Albert Camus

49


,,PROCURAR A PAZ PARA OS POVOS, NAO E TRABALHAR PARA O PORVIR, SENAO SIMPLESMENTE CASTRAR AS RAqAS E CULTIVAR INTENSIVAMENTE A COVARDIA" Marinetti

-

50


UtUlA $OCIEDADE

DE OIIRIO$

$OB A $O]IIBRA DO DOUTOR

{REUD)"

a andlise tende a atrair pessoas com personalii' dades similares A de Freud: homens passivos ei muIheres agressivas".

". . . depois do periodo

f6lico, o

periodo de latâ‚Źncia. . . Lat6ncia? em absoluto. Ou se se prefere, latdncia para o olservador que ndo vd por debaixe dn5 6us66s",(1 )

"Creio que Sigmund Freud sofreu,

ele

mesmo, conflitos sexuais que ndo resolveu. Sua

crenga na bissexualidade constitucional, por exemplo, ndo foi sendo uma desculpa para justificar certos rasgos pessoais. Creio que muitos analistas sfio pessoas brilhantes e dedicadas, mas

(*)

Traduzido do livro "La Falacia de Freud" de

Martin L. Gross. O autor 6 educador e crftico social nos EEUU. Seus dos livros anteriores a este "The Brain Watchers" e "The doctors", provocaram grande pol6mica no mundo. Gross 6 membro da Faculdade de The New School For Social Research e professor adjunto de Histo.ria Social na Universidade de Nova lorque. (1

)

Ritzen, Debray. "La escoliistica Freudiana" p. 84 - Ed. Guadarrama - Madrid.

Esta suspeita acerca do profeta,

ousada_

mente exposta, normalmente havia sido relega_ da, com as demais piadas, ao banheiro dos ho_ mens nas conferdncias Neofreudianas. por6m

foi feita durante uma entrevista com o

Dr.

Harold M. Voth, psiquiatra docente na Funda_ cdo Menninger e Membro da American psychoanalytic Association. O Dr. Voth estd con_ vencido de que Freud levava em sua personalidade urn grau consider6vel de feminilidade, rasgo que coloriu toda a sua profissdo, ao Iazet um modelo de quem, ele chama, o ,,neuroticamente transtornado" Dr. Freud.

A personalidade de Sigmund Freud, morto hd quarenta anos, continua viva nas discipli_ nas da psicoterapia, a psicandlise e grande par-

te da psiquiatria moderna. As conflitos

necessidades

e

de Freud se tornaram quase insepar6veis de toda a armaca-o da sociedade pessoais

psicol69ica que ele criou.

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DEPOIS DO REINO ANIMAL, SE INICIA O REINO MECANICO. COM O CONHECIMENTO E A AMIZADE DA MATERIA, DA OUAL OS CIENTISTAS SO PODEM CONHECER AS REAqOES F|S|CO-OUtMICAS, NOS pREPARAMOS A CRIACAO DO HOMEM MECANICO DE PARTES SUBSTITUIVEIS. NOS O LIVRAREMOS DA IDEIA DA MORTE, E POR CONSEGUINTE, DA MORTE MESMA, SUpREMA DtFINICAO DA tNTELtcENCtA LOGtCA. F. T. Marinetti

52


ndfico. O retrato que emerge da investigaqio, d o de um homem impulsionado pela friria da hostilidade e da inveja, oprimido pela depress5o, com desejos de morte, fobias e neuroses ciebilitantes e severas. Prof issionalmente. foi distorcido por sua superstigSo e sua credulidade extremas, caracterfsticas da antftese do homem de ci6ncia. Freud homem, 6 mais o fil6sofo infeliz que o investigador intr6pido de

quem a sociedade esperaria que abrisse as portas de nossa confusa conduta.

Essas necessidades tambdm se infiltraram na psique de milhares de indivfduos. recriando

i

sua imagem muitas de nossas personalidades. oferecer seu cat6logo de fraquezas como sfmbolos de "normalidade", Freud alcangou a imortalidade. Projetou com 6xito sua personalidade e seu estilo de pensamento em uma grande porcSo da humanidade. especialmente na impressionante psique americana. Todos n6s alguns sem sab6-lo, outros sem quer6-lo nos

Ao

convertemos nas criaturas de Sigmund.

N5o faz falta outra Biografia formal de Freud. porque a obra em tr6s volumes, do Dr. Ernest Jones 6 cl6ssica. Tampouco 6 necessdpsicobiografia do ihconsciente de Freud: seus pensamentos cons-

rio criar uma duvidosa

cientes se encontram facilmente disponfveis para n6s em seus escritos, em suas cartas a Wilhelm Fliess, i sua noiva Martha Bernays e a muitos outros; dispomos inclusive das mem6rias de seu m6dico pessoal, o Dr. Max Schur.

fracasso da psicoterapia

6 agora

evi-

mento que liga esse fracasso

ds

falacias pessoais

do profeta mesmo. Como te6rico e cientffico,

6 necess5rio rebuscar nessas variadas fones para construir um retrato da personalidade do Dr. Freud que ilumine quanto, e de que mileira, sua neurose e seu cardter conforMas

maram dfvidas

O

dente. O que neo d t5o evidente 6 o estreita-

tiltoc

tfu

elementos intangfveis,

e

sem

penetrantes, como existe em nossa

sociedade de ho!e.

Apesar do impacto da personalidade de Freud hawr sido vasto, geralmente ndo foi be-

S. Freud era impulsivo. Sua obra esteve marca-

da por um inconfundivel estilo de entusiasmo excessivo que, freqiientemente, leva ao erro.

Era um "tazedor" de teorias direito e atd brilhante, mas seu desejo de que algo fosse

verdade se impunha a todas as objeg6es. Freud definiu a si mesmo como um pensador impetuoso, um "conquistador" da mente. O resultado foi que tanto sua carreira como as disciplinas da psicoterapia e a psicoan6lises que ele engendrou estSo generosamente semeadas de erros,

53


que Freud apresentou ao mundo com absoluta confianga e at6.com arrogancia.

foi

O primeiro erro monstruoso de Freud sua teoria da seduc6o. Em 1896, estava

convencido de que todos seus pacientes de histeria haviam sido seduzidos na infdncia por pessoas adultas. Ele tem a mesma verossimilitude que todos os restantes conceitos freudianos: um montSo de argumentos detalhados que fazem com que o falso se parega com o real, Foi seu desafio aos franceses (que acreditavam que a histeria era uma enfermidade heredit6ria). Por algum tempo descansou nesta teoria, a qual

exaltou como "revelagao transcedental", a (caput Nili "fonte do Nilo" da neuropatologia).

mentido, ou ele havia posto tal iddia em suas mentes impression6veis, confessou. Sem a teoria, se lamentava, perdia suas esperangas de fama eterna e sua riqueza assegurada, completa independ6ncia, viagem, etc.

A personalidade de Freud o impedia constantemente ser objetivo. Era um grande autohipnotizador. e um homem de crengas apaixonadas d incontidas. Acreditava .profundamente e evangelicamente, em uma teoria, atd o momento que a repudiava. Entao, com o mesmo

fervor. transferia sua f6 a

i

teoria que substitufa

anterior.

Da descartada teoria da sedugSo. que o Dr, E, Jones chamou "este erro de largo alcance". o novo conceito de Freud sobre as psiconeuroses se levantou como uma ave f6nix. Se

tratava da sexualidade infantil, a

engenhosa

transformagdo da falsa teoria da sedugdo, desde a realidade d fantasia e logo. novamente, a realidade.

Durante sua auto-anSlises Freud descobriu que sentia paixSo por sua m6e e cirjmes contra seu pai. De adulto tinha uma visSo freqiiente, na qual visualizava a sua "linda e esbelmde, Amalie. A julgar por sua crenga no

ta"

trauma da "cena primordial" (ver os pais praticando o ato sexual), quando crianga. Freud deve ter visto a sua atraente mde entregue ao sexo. O que uma crianqa menos veemente talvez houvesse passado por alto, pareceu dominar a Freud.

Por6m, vimos que se retratou um ano depois. No dia 21 de setembro de 1897, em uma carta ao Dr. Fliess, seu confidente berlin6s, anunciava que j5 n5o acreditava que a histeria fosse causada pela sedugSo do paciente, por um dos pais ou por outra pessoa adulta, com tdo pouca idade como um ano. Os pacientes haviam

Evidentemente, F reud experimentou concupiscâ‚Źncia edfpica. uma perturbagSo que os ndo freudianos, como a psiquiatra de criangas Dra. Stella Chess, da Universidade de Nova lorque, crâ‚Ź que afeta somente a um pequeno n0mero de criangas. Depois, sofreu o engano de que sua anormalidade era normal e universal. "Nos 'muchachitos', o desejo de engendrar um

filho com suas mdes nunca estd ausente", escreveu. E. Jones chamou a esta obsesseo de uma s6 id6ia, que levou Freud a extrapolar seus

PENSAR E DEIXAR DE VENERAR, E REBELAR-SE CONTRA O MISTERIO E PROCLAMAR SUA RUPTURA. E. M. Cioran

il


pr6prios sentimentos para

tda

a humanidade,

n5o s6 a grande forga de Freud, sendo

sua

debilitante fr4ilidade. No caso da teoria edfpica, Freud deixou a questeo de sua pr6pria inf6ncia patol6gica na sociedade moderna como

uma situagEo edipica, criando assim um caos ps r'qu

ico na Sociedade Psicol 6gica.

I

i d

Em uma carta a Fliess, escreveu: ,,mas pode ndo haver substituto para o contato estreito com um amigo, que uma parte de mim (quase feminina) me exige". Anos depois Freud falou a Sandor Ferenczi da l,catexis homossexual" involucrada em sua relagio com Fliess.

Ouando E. Jones encontrou pela primeira vez a

A rcl4do de Freud com sua m6e foi duradotrra e satisfat6ria, quintess6ncia do renornado amor entre mde e filho judeus.

J

'

Freud, em 1908, comentou: percebi de uma forma vaga certo aspecto levemente feminino em seus modos e movimentos.

Ela viveu atd os 9b anos e morreu quando Freud tinha 74. Freud sugeriu repetidamente a forga do amor dela e, mais de uma vez, afirmou que "se um homem foi o amado indiscutfvel de sua mde, conserva por toda sua vida o sentimento triunfante e a confianga no 6xito, ou at6 muitas vezes, traz consigo o 6xito real,'. Freud foi o favorito de Amalia. ,,A 0nica coisa que enche a uma mde de satisfagdo com_ pleta 6 sua relagSo com seu filho; 6 a mais completa relagSo entre seres humanos,,, escre_

7- \-

?r,

veu ele.

Freud foi vftima de uma pluralidade

de

neuroses, muitas das quais se revelaram durante sua r'ntima relagSo de 20 anos com o Dr. Fliess.

Esta fntima amizade tambdm contribuiu para que fossem introduzidas vdrias iddias extranhas na psicologia moderna. Freud e Fliess concorda-

ram que suas cartas deveriam ser destrufdas, por6m, mais tarde, Fliess ndo cumpriu sua parte no compromisso. As cartas cairam nas mdos de Marie Bonaparte, muito amiga de Freud,

e,

eventualmente, forain publicadas em parte com o tftulo: As origens da Psican6lise.

As cartas publicadas comegam em 1g97. Os conselheiros de Freud omitiram os quatro primeiros anos e suprimiram outras cartas deli. cadas. O mddico de Freud, Dr. Max Schur. pu_ Hicou depois algumas da cartas previamente su-

primilas, em sua pr6pria obra: Freud, Living

ad

DtinS.

As cana de Freud a Fliess revelam um

compahdrivno brno, e parecido ao

amor. anos, at6 que definitivamente se quebrur, euido a uma mrjtua hostilidade. Foi

que

drrcr l5

esta fntirne

rtl4eo

pa95o de Frrud

a que estimulou a preocu_

pda homossexualidade latente.

O mesmo Fmud qudificaya de ,,feminina,, sua necessida& & Fliess e dc encontros (Congressos)

freqfrer:s:al Berlin, Viena e Munich.

Freud exibia esta vertente feminina de v5rias maneiras, disse o Dr. Harold Voth. ,,Ao largo de toda sua vida Freud esteve inclinado para as mulheres masculinas de grande inteli_ g6ncia. Se referia ao nariz e a boca de Martha, como quase masculinas e impr6prias de uma donzela, por seu decisivo ar autoritdrio. Mar_ tha possufa um cardter firme. que ndo se deixava influ6nciar com facilidade. euando entre eles se manifestavam diferencas ela, regularmente se

impunha e, em todos os assuntos importantes. disse E. Jones. demonstrou ser a mais forte,,.

Ao Dr. Voth lhe preocupa que os senti_ e passivos de Freud hajarr influido nos modernos analistas e, atravds de_

mentos femininos

les. em seus pacientes e na sociedade. ,,Uma das dificuldades com esse tipo de analistas 6 que eles vdem a afirmaqdo e a agressdo masculina como manifestagAo neur6ticas. T6m tend6n_ cia a projetar sobre seus pacientes seus pr6prios valores e conflitos a respeito. Como re-

sultado. podem provocar muito dano ao

pa_


ciente e. a outras pessoas na vida do pacien-

te"

disse.

pria preocupagSo pela homossexualidade

Pouco se conhece sobre a heterossexua' lidade de Freud, por6m se suspeita que ndo

foi essencial em sua vida. "Freud afirmou uma vez que o homem civilizado ndo podia alcangar uma plena satisfagSo sexual - disse o Dr. Voth. Creio que pensava isso porque ele mesmo ndo p6de obt6'1a".

Esta suspeita est6 confirmada por uma das cartas de Freud que inicialmente n5o fo-

ram publicadas. Nei-,..lizia pat6ticamente

similares, com poucas semanas de diferenqa (por um fur0nculo no saco), Freud conside-

rou esta coincidâ‚Źncia "uma simpatia biol6gica secreta" entre eles.

O vfnculo que os unia inspirava a Freud, aproximando-o da Poesia.

".

. Vino aqui mal humorado e taciturno at6 que venhas tu. Me liwarei de todas as queixas' reavivarei minha vacilante luz em tua firme chama, outra vez me sentirei bem, e, dePois de tua Partida, novamente terei olhos Para ver e o que verei serS lindo e bom". (Escrito Para seu amigo de Berlin)

Freud falou uma vez a E' Jones do persistente poder de Fliess em sua vida, ainda de' pois que os dois j5 estavam separados. A raiz de um epis6dio emocional que desmaiou no Park Hotel de Munich, Freud explica: "Vim a Munich pela primeira vez quando visitei a Fliess durante sua enfermidade e esta cidade parece haver adquirido uma forte conexSo com minha relaqSo com esse homem. Na raiz do assunto, existe algo de incontrol6vel sentimento homos'

".

Em vez de limitar-se d sua pr6pria e pri' vada preocupacao, as necessidades de Freud se converteram em parte integrante de nossa mi'

56

em

uma ansiedade desnecessAria para milhares de

e mulheres normais e heterossexuais' Como resultado, milhares de terapeutas hdo buscado obedientemente desde enteo na psi'

homens

que dos pacientes um impulso sexual distor' cionado, similar ao de Freud. Como disse o Dr. Max Schur, "uma das tarefas mais diffceis da an5lises regular 6 demonstrar ao analizando a exist6ncia de homossexualidade latente e suas possibi I idades de adaptaqSo"'

a

Fliess: "Como bem sabes, em minha vida, uma mulher nunca foi um substituto de um camarada, de um amigo". Durante seu perfodo de isolamento, em 1896, escreveu a Fliess sobre seu "amor" pelo "amigo e meu inico correspondente". Ouando ambos correspondentes necessitaram submeter-se a cirurgias

sexual

tologia moderna. Seu conceito de homoscexua' lidade latente, por exemplo, converteu sua pr6'

Freud e Fliess eram sumamente compatf' veis, nao somente em suas emo96es, sendo. tam' bEm, em suas idiossincrasias, cujos muitos aspectos tem sido transmitidos a n6s. Os dois estavam intrigados com o metaffsico, o mSgico

eo

mfstico. Foi durante esta larga relagSo quando Freud revelou sua natureza cr6dula e supersticiosa. Estas duas caracterfsticas de Freud tdm inundado grande parte da psicologia e da psiquiatria modernas com o improv6vel e com o n5o comprovado. O Dr- Fliess. especialista em nariz, desenvolveu uma teoria de um reflexo nasal sexual. Acreditava que existia uma conex5o entre as membranas mucosas do nariz e os genitais femininos. Era parte do seu concei-

mais amplo da periodicidade, uma teoria similar d astrologia, que relacionava os aconteci-

to

mentos a periodos. Fliess consioerava que 28 dias constitufam o perfodo feminino e 23 dias o perfodo masculino. Combinag6es dos nrimeros podiam predizer. como o Zodiaco, os perfodos crfticos, e os dias crfticos da existdncia; podiam prognosticar perfodos de felicidades e perfodos de desespero. At6 mesmo a morte


podia ser adivinhada atravds de permutagdes destas cifras misteriosas.

Freud era um entusiasta crente nos nfmeros mSgicos de Fliess. Para ele, seu colega

de Berlin era o "Kepler da biologia". No dia 25 de maio de 1889, Freud escreveu: ',Meu humor se mantdm com valentia. Te farei saber a data de meu pr6ximo transtorno para teus c6lculos".

substitufdo a Fliess como confidente) que os n0meros apareceram de uma maneira ,,pavorosa" durante uma viagem d Grecia. Em 1g36, com a idade de oitenta anos, estava preocupado com o n0mero 81 e meio. Na realidade morreu durante o sonho, aos oitenta e tr6s anos, havendo sobrevivido a todos os seus nfmeros m69icos.

Como m6dico e como neur6logo Freud buscou ocasionalmente uma explicagdo l6gica para suas superstig6es. Em uma carta a Jung,

em 1909, explicou porque acreditava morreria aos setenta

que

e um ou

setenta e dois anos. SuperstigSo, misticismo e candidez eram somente uma parte de sua retorcida persondlidade neur6tica. Para os analistas hoje, 6 comum dizer que Freud era demasiado neur6tico para

ser adm itido em um lnstituto psicoanal ftico moderno. lsto pode ser verdade, por6m Freud assaltou os portais dessas instituig6es, atravds de

uma projegSo de sua personalidade sobre

as

personalidades dos psicoanalistas modernos, de

todos os candidatos analiticos, de muitos e, por rlltimo, dos pacientes e tambdm do prlblico. O car.dter negativo da psiquiatras

teoria psicodin6mica. com seu acento sobre as anormalidades em individuos funcionantes, 6 um legado magnifico da pr6pria neurose de F

Freud convertia a teoria de Fliess em complicadas equag6es matem6ticas.,,Martin (filho de Freud) deitou com um severo acesso de enfermidade no dia 14 de janeiro ,5X2g2 _ 10X233), entre as duas e as tr6s da tarde,', comunicava a Fliess no dia 1g de fevereiro de 1900. lrritado com a comunidade mddica vie_ nense, que repudiava a mfstica de Fliess, Freud Cisse Schur lhe perguntou uma vez: ,,Ouan_

-

-

bs

anos necessitarj o mundo da medicina para reconhecer a import6ncia das s6ries 2g e 23?,,.

A influ6ncia de Fliess sobre Freud foi poderosa- Na redidade Freud virtualmente conce-

deu a Fliess o mdrito de haver concebido os termos: zublim+Eo, lat6ncia e bissexualidade.

A

visSo que tinha Frzud de sua pr6pria

morte estava dominada por uma m5gica

ob_

sessSo num6rica. Estava conyencido que mor_ reria aos cinqiienta e um anos, soma dos perfo_

dos feminino/masculino, 28 e ZJ. Depois, sua obeesseo pela

morte girou em torno dos nf-

meros 61 e 62. lnformou a Jung (quem havia

reud.

Em sua inf6ncia, o jovem Sigmund exibiu

uma conduta esquisita. Aos sete anos entrava no dormit6rio de seus pais e urinava intencionalmente no piso. Descreve a si mesmo como uma vftima da neurastenia. Freud dizia haver sofrido quando jovem "uma forma de tifoidea,, e um "leve caso de variola". por parte de pai, Freud herdou o que ele mesmo denominava uma possfvel "mdcula neuropatol69ica,,. De quatro primos irmSos e um tio, dois eram de-

mentes. Outro primo morreu de epilepsia. Freud acreditava que a rinica eviddncia da "m5cula" em sua famflia imediata era a pro-

nunciada tend6ncia i neurastenia', dele mesmo Rosa. A tenddncia se revelou assim mesmo em indigest6es durante toda sua

e de sua irmd

vida; freqlientemente com prisfo de ventre, c6lon irritado, fobia aos trens e severos acessos de mau humor, que tendiam mais A depressdo

i exaltagdo. Seus arranques neur6ticos o deixavam cansado e, freqiientemente, irritado. No dia 12 de margo de 1885 escrevia d Martha: "Nunca em minha vida me senti teo sauddvel,'. No dia 21 de margo (9 dias depois) escrevia: que

57


ryll

:ill ii

"N5o poderei suportar muito tempo". :iii

' Em 1896 Freud escreveu a Fliess: "o bom humor e o desejo de viver estSo ausentes em mim. Entretanto, estou aproveitando diligentemente a oportunidade para ocupar-me da situagSo de meus assuntos depois de minha morte". Al6m dos problemas de sa0de, sofria de preocupacdo pelo dinheiro e de um medo da morte que o carcomia. "Meu estado de 6nimo depende tambdm de meus lucros. Uma vez conheci a pobreza e tenho um medo constante dela". Sua obsessSo pela morte o torturou durante anos. Em uma carta a Fliess, inicialmente n5o publicada, escreveu que "pereceria. linda e repentinamente, de ruptura do corac5o", entre os quarenta e os cinquenta

,i

anos.

Em 1900, trâ‚Źs anos depois de haver iniciado seu "auto-andlises" ainda seguia desconsolado. "Ningudm pode ajudar-me no mais mfnimo contra o que me oprime;6 minha cruz, devo suportS-la; e o cdu sabe que, no processo de adaptagSo, minhas costas se dobraram notavelmente", escreveu.

Um sintoma neur6tico de Freud era

lr rl

i

a

tendâ‚Źncia a desmaiar. Se sabe de umas quatro ou cinco vezes em que desmaiou. Uma, foi ao ver o sangue de uma hemorragia, por6m, habitualmente os desmaios ocorriam quando algo tocava seu Ego extravagante. Em 1909, pouco antes de sua partida para a Am6rica. Freud e Jung se encontraram em Bremen. Freud informou a seu discipulo que este. Jung, ocultava inconscientes desejos de morte contra ele; Jung

protestou com vigor. Durante

a

discussSo,

Freud desmaiou de repente. Em 1912, Freud e Jung voltaram a disputar sobre um artigo, no

qual Jung havia omitido mencionar a Freud. Durante a discussao Freud rolou desmaiado pelo chdo. Jung o levou para uma poltrona e ao despertar as primeiras palavras de Freud foram: "que doce deve ser morrer/",

Esta personalidade hist6rica e neur6tica causou um impacto profundo em nossa cultura. Enxertou as piores indisposig6es de Freud em nossa linguagem, nossos h6bitos mentais e nossa psicologia. Tal como a caracteristica psfquica de Jesus se converteu no projetado ideal, jd que n5o na prdtica, do cristianismo do mesmo modo muitos dos defeitos neur6ticos de Freud foram incorporados i psican5lises como dogmas. Em realidade se converteram em heranga de toda a Sociedade Psicol6gica.

Freud pensava o pior dos impulsos humanos. E sua obsessSo por uma s6 iddia o fez crer que suas debilidades eram as de toda humanidade. Buscava 6dios inconscientes, at6 mesmo onde n5o existiam. A agressividade estava dentro deste homem quase timido e em certo modo feminino, encerrada como um felino em uma jaula. Sua alma era coldrica e odiava at6 quando amava, rasgo que passou a n6s como "ambival6ncia". Sabemos que com Freud, o amor e o 6dio intensos costumavam dar-se as

m5os, comenta E. Jones. Suas distorcidas emoc6es de amor e de 6dio cobraram uma pri. meira vftima em Breuer, a quem seguiram Fliess, Jung, Adler, Stekel e qualquer que inicialmente avangasse, e depois, se interpusesse no seu caminho, no seu grande sonho de alcangar a imortalidade.

A confusao de Freud entre o amor e o 6dio se tornou nossa. Estava tdo consumido pela iddia de 6dio inconsciente, que, para ele, 6dio se converteu em sin6nimo de amor. "Temos que dizer que devemos as flores mais lindas de nossa vida i reagSo contra os impulsos hostfs que advinhamos escondidos em nossos peitos", escreveu o infeliz fil6sofo.

As

pessoas tomavam equivocadamente

por debilidade sua mdscara de timidez, explicou Freud uma vez. Se orgulhava de ser, na realidade, "intrdpido e sem medo". O ego de

Ludwig

Freud era enorme e estava repleto de sonhos de imortalidade que chegaram a converter-se penosamente em realidade.

Binswanger, Freud revelou que antes havia tido dois ataques sim ilares.

Freud relatou uma anedota que d uma re-

Pouco depois, em uma carta

a

O HOMEM E UMA PAIXAO INUTIL POROUE E UM MENTIROSO SEM REMEDIO, OUE SE ENGANA SOBRE SUA VERDADEIRA CONDI9AO. J. P. Sartre

58


'velageo de sua impetuosa ambigdo. A idade de 50 anos, seus simpatizantes vienenses lhe presentearam um medalhdo. Na frente estava seu retrato. Na parte reversa, havia uma ilustragdo grega de Edipo respondendo ao enigma da Esfinge. A inscrigSo tomada da trag6dia de Edipo Rei, de Sofocles, dizia: ,,Adivinhou famoso enigma e

foi o

o

mais poderoso dos

ho_

mens". Freud se p6s piilido. Com voz agitada

perguntou quem havia pensado nisso e, depois, revelou o motivo de sua excitagdo. Ouando jovem, freqtientemente havia caminhado pelo p5tio da universidade olhando os bustos dos eruditos professores. Havia sonhado gue o dele estaria um dia entre eles. Neste sonhar acordado, havia imaginado exatamente esta inscri-

qeo.

A

psican6lises moderna, muito da psiquia-

tria e a maior parte das psicoterapias, sdo espe_ lhos perfeitos de todas estas neuroses. Sdo os lares que alimentam os assassinos desejos de

morte de Freud, suas calamitosas rivalidades entre irmSos, sua inimizade inconsciente con_ tra os pais, sua bissexualidade, seus impulsos incestuosos,

su

mau humor, prisdo de ventre, medo de viajar, medo da morte, irregularidades cardfacas,

ao dinheiro, sinusitis,

desmaios

e

fotia

impulsos agressivos de 6dio e assassinato? Seria mais oti_ mista a teoria moderna da mente? Oue haveria acontecido se Freud ndo houvesse sido vftima da superstigio, dos nrjmeros m5gicos e de uma

credulidade infantil? Refletiriam a psiquiatria

e a psicoterapia de hoje a influ6ncia de um en_ foque mais cientffico e razo6vel da mente humana?

A

neurose freudiana se infiltrou em nos_ e em nossa cultura mais profundamente ainda do que percebemos. Se reconhesas mentes

cemos que muito do que nos rodeia 6 um reflexo do pr6prio Freud, e se conhecemos as

distorg6es de sua personalidade talvez isso nos , possa ajudar a liberar-nos de sua penetrante in-

flu6ncia. Poderia ser, enteo, que jd ndo tiv6ssemos que seguir vivendo i sombra do Freud.

Dr.

a h om ossexual idade latente, suas

relag6es invertidas de amor e 6dio, suas supers_ ti96es dogmatizadas e seus 6dios invisfveis com

qualquer denominagdo.

E uma vit6ria singular/

E a transfusdo do fel de um homem sobre

toda uma cultura. As criangas ndo

necessaria_

mente, e nem sequer regularmente, odeiam aos novos filhos na famflia. Nem a maioria das pessoas sdo homossexuais latentes ou bissexuais in_ conscientes. Tampouco a maioria dos adoles_ centes desejam a morte de seus pais, como fez

Freud. Nem a experiGncia sexual infantil 6o que determina nosso cardter. Nem o amor e 6dio ambivalentes seo a regra da maioria das

emog6es.

Sem drivida, pode ser verdade, especialmente para os duplicados psfquicos de Freud

que podem estar se multiplicando

di, . ;;:

Como sua tiltima conquista, Freud poderia ver a seus (duplicados iddnticos) florescer como

produto inevitdvel de uma sociedade psicol6gica impressionante e anti-intelectual.

Oue teria passado se Freud ndo houvesse sofrido de c6lon esp6stico, depressdo quase con_ tfnua, neurastenia, tend6ncias homossexuais,

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