Cronen berg
Enquanto orbitamos o Sol, aos 21 dias do mês de outubro de 2014, a Terra passou pelos destroços do cometa Halley.
Nesse ínterim o zine CRONENBERG chega a sua terceira edição patrulhando as ruas sem sua mais nem mais neural pletora e intra-corpórea, ele dentre todos os dentes do núcleo da diarréia, no fígado, pela fincada no pâncreas com consistência remissiva/projetiva, intertextual (vocal-evo--se) com crédito financiado pelo minha caixa minha vida não é uma experiência aos olhares videntes e datados de uma arte com ascendente em puma e águia, e até mesmo quando o cobrão devorador de punhos cerrados com toda a força no nariz de traumas sobrevive espicômico volta e meia e nas triplas ascendências-EX-straight edges, enquanto ele não emborca as garrafa de vód-ka. Ser visto e enxergar rolando feito uma porca.
Esse Corpo Histérico é formado por Everton Luiz Cidade, Fabiano Gummo, Carlos Ferreira, Diego Gerlach, João Pinheiro, Doutor Insekto, Sergio Rodriguez, Eduardo Taborda, Vinícius Martins Luiz 'Tridente' Vargas e Ethon Fonseca Em nome de Cristo! Oremos!
:: EDIÇÃO :: Fabiano Gummo Canoas / São Leopoldo / Porto Alegre / São Paulo / Outubro / 2014 OSSO Livros & RUÍDO Publicações
GORILA/SANDUICHE Everton Luiz Cidade Me sinto gorila Dando Uma no chuveiro Me sinto gorila Pelanca Tetas Pança Me sinto gorila E o sexo É o terço É a romaria O sexo é apo O sexo é o holo - calipse - causto. Nunca serei Tão saudável E produtivo Quanto: ( ) Hitler ( ) Jesus ( ) Nenhuma alternativa Acima Nenhuma luz Oh, câncer, câncer. Transfer, transfer. Fenafoda, fenafim. Resposta afirmativa: Me sinto gorila Fodendo em fila Fodido em fila O esco O escolhido Sigla: Judas Jó-Pó joiotrigojóia Judas Jó-Pó joiotrigojóia.
Monstra teu nome: Monstra teu nome: Cápsula. Fissura Madre Burra: Tome. O expo Exposto Dispositivo De gosto. O amor trampo O amor santo. O amor quando. Ela/eu diz: “Tô cansado de tomar Remédios que fazem engordar Tô cansado de explicar A todo mundo Nem os cravos de Cristo Foram tão fundo” De falta Amor de falta Amor Casta Enguia Arrastadia Arrediça De falta Amor de falta Amor Ria. O músculo série O músculo ínfimo O músculo cárcere O músculo íntimo. Anéis de ânus Cheiros de pés São brutos nossos eunucos Com o maquinário contrário
A que Engulapaumataseencuiaasal Cocaína,urina. Húmus HQ. Orixás deixas graças Argamassa de salinas Gargantas Bodes gárgulas Santas (arrulhas Praga de meu amor) Pombaredo Um cento venéreo Arremedo de tempo Expandido, expatriado Um cento venal Lustrado osso alado Não se arruma o mundo Num amor curto (às tantas Do mundo.) Às tantas (arrulhas Praga de mau humor. Desolado) Imundo. Muco humus Gargantas Secas Catre Lâmpadas Acesas. Tocha de luz Desandaria Um amor Num choro miúdo Depois A experiência Fixides. Do recuo Saliência A tática Esparro Da reclusão Tépida estertor Amargura Caso Comissura Retesasse Espessura. Espessado Saloba Saciado Desdenha (Decifra como Deus se diverte)
MEDULA Fabiano Gummo
O caso é que eu conheci o pixador “Louin” durante uma fração de segundos. O (LOU)cura (IN)curável tagueou todo edifício Solânges no centro com a bomb FILHO. Ele havia sido içado até lá não sei como. Dizem que surtou e caiu. Catorze andares direto de cara na calçada. Um mergulho olímpico. Único. Extravagante. Morreu na hora. Natureza morta. Múltiplas lesões severas no crânio em função da precipitação acidental. Ninguém gosta de falar desse tipo de merda. De morrer assim, se agarrando em parapeito e caindo como um saco de batatas. Louin. Esse Louin. Aquela criança Louin. Sempre foi o Banana e passou boa parte da infância em cima das árvores ou escondido no mato sendo um banana. Qualquer coisa era melhor do que ficar naquela casa. Com a sebosa e branca família Louin. Sua mãe o colocava sentado à força na cozinha enorme e pobre e infestada de ratos e insetos. Era úmida escura e caudalosa. Entupida de detritos de comida acumulados por entre as rachaduras, brechas e frestas. A mediocridade não era mascarada. O devir criança de Louin acompanhava o movimento de sua mãe enorme enquanto ela fumava como o grande Kilauea. Ele se escondia embaixo da cadeira onde sua mãe estacionava escutando e investigando o entorno insondável do mundo adulto. Às vezes Louin sentava em cima dos enigmáticos e gordos pés de 'mamãe' como se estivesse em cima de dois botes infláveis. Sua mãe era cabalística e tinha a mania de sempre contorcer o lábio inferior numa carranca sincera. O pixador lembrou do sabor e do cheiro de si mesmo. Dormir e acordar. Suas primeiras reflexões sobre os ventos prosaicos da vida. No que me diz respeito, Louin nunca existiu. Nem ele nem vários outros pixadores como ele. Mesmo assim, fico surpreso quando reconheço pessoas do passado colapsando no trem. Este específico cara, que não lembro o nome, que não era o Louin, iniciou seu surfe esquizofrênico escolhendo uma específica pessoa, uma mulher, já na plataforma de embarque e desembarque. A menina estava comendo um risolis de frango de pé, enquanto segurava uma lata de coca e não dizia nem-que-sim-nem-que-não enquanto ele falava sem parar todo um aglomerado estelar de significados esotéricos sobre existir e morrer. Quando o trem chegou ele continuou falando e seguindo a mulher. Estava dominado por algum tipo de força
sobrenatural. À medida que o trem avançava as coisas pioraram. Ela ficou de costas para ele voluntariamente, mas não adiantou, era impossível evitar a imposição da torrente sincrética que saia da boca do homem. “Do que quer que sejam feitas nossas almas, a sua e a minha são iguais...”. Era isso alternado com: “No sonho da noite sou perseguido por cães”. Seis minutos depois um circuito dentro da cabeça do homem pegou fogo e ele começou a gritar. Grunhiu descontroladamente. Explicou-nos que seu plano era destruir as estátuas e imagens religiosas do mundo. O homem era como um Tom Cruise desfigurado e cabeludo. Seu rosto parecia ter sido restaurado por um bando de crianças impacientes. Ele era um cara alto. Parecia forte e difícil de conter, caso o dique neuro-cerebral rompesse. Enquanto falava seus olhos jamais descansavam. Pareciam controlados por alguma entidade não-linear e insolente. Dava a impressão de que o homem estava descascando a realidade usando apenas seu aparato zombeteiro de visão. Um rosto desmontado. Retalhado. Dez mil peças. Uma última e definitiva versão de si mesmo. Uma única que faça sentido. Louin. A imortalidade, o desmoronamento. Eu o vi. Eu moro no terceiro andar. O pixador passou pela minha janela da sala enquanto eu doutrinava outro cigarro. Ele caiu do 14º andar conforme prega a lei de Newton. Antes que ele quebrasse a cara na calçada eu vi. Seu corpo de pixador marcando o céu. Renunciando. Vi quando ele caiu. Vi sua boca se mexendo numa fração infinitesimal de segundos. Não escutei, mas vi quando ele disse, cognoscente: “hoje meu filho tem um ano”.
ESPIRALAPUNHAL Ethon Fonseca Pois houve época em que olhares bastariam para fazer as coisas cantarem: mesmo quando a voz tropeçava, e no próprio silêncio, tais tempos perduravam e se desdobravam. O rolojogo tramático de estalos e badalos tensionará campos oligofrenicamente binários no pulsar estrelante de larva solitário galactus kactus terríficus e tcheca transversal ponteando pranchas do tablado e fósforos biográficos, lampadinhas e turminhas para Coffin Joe algum botar defeito do lugar nos peitos de vozes e ícones dos ramos seculares: o que mais haveria de tão fenomenal nesta rua +++++ bonita do mundo? Certa tragédia proporcional às formações ancestral mais arcaicas, clássicas, medievais, digo, romanas e constatinas, renascentistas, burguesas, modernas, industriais, neoguerreiras, civis, contemporâneas? Calma... que o orgulho tomará parte sim, nas clivagens dos níveis de leituras ou partenons de panteons literários se pá fazendo poses de grotescos e arabescos. Os céus crepusculosos e nuvens da memória no deserto ao redor de um minarete, farol de humanismo, olho divino voltado simultaneamente para dentro como para fora. Nele um cálice e um punhal - ou uma pena, um ovo, e um tabuleiro de xadrez? Uma lamparina, uma jaguatirica dá ares de caverna: o videogame, este sampler de animação interativa, gráfico ainda simplório, dá surras espetaculares em galeras e robôs, quando operado pelo miúdo achando que passa com louvor em cada exame que pode ser maior ou menor simplesmente conforme escolaridades. Na Gazeta da aldeia, um olheiro político esgrime com armas da literatura, através das formas de personagem que só ela construiria: tão inacreditáveis quanto reveladoras de assombros, critérios e disposições pós-carteiraço, onde tudo vale, pós-ironia, pós-perplexidade, pós-paradoxos, afinal arrastados pela ironia. O escritor é antena da raça: questão de sintonizar. Mediúnico? Qual recordação atenta: intérprete dos registros do absurdo cotidiano, casando imagens e declarações do diabo, forjando a cena no discurso, o repertório, quando você esqueceu a ideia de peso que tinha lhe ocorrido e precisa ficar valorizando os pensamentos próximos para tentar chegar a ela e conseguir celebrar de alguma forma esta satisfação humana, partilhável, com prazer ou lazer nalgum mundo possível. Tão fácil se enterrar na porquice, e tão fácil passar trabalho para tentar se
desenterrar, que deixar rolar é só risco... ...das elasticidades: Falar do trabalho é júbilo de arvorar-se, a ter curso de vida, a ter currículo, a ter autoridade, moral. Entabular dedos de prosa consequentemente retomados ou continuados, rolo de estar aí demonstrando ser pensante, demonstrando estilo. Estilo é o Curso, impera: quem tem estilo pode negar o imperativo à vontade, mas ele não será menos real por isso talvez o estilo é que seja, e isso cause pena a seus jovens portadores, degladiando-se entre vozes e porta-vozes em busca de uma clareira para articularem seus postos e tentarem escapar da assombração labiríntica dos desejos mais fantasistas, ou seguir enfrentando-a em bloco, com a dignidade no corpo a corpo dos pensamentos semoventes, terrenos, tradicionais e astrais. Quem articula argumentação, da narrativa, tematicamente pautada, se põe em meio a uma pluralidade e elabora, produzindo ainda algo que registra tal destino de complexidade e/ou força de expressão: se vou laborar sobre um cânone, um conhecimento subestimado ou escondido, por exemplo, posso encontrá-lo hoje digitado, ou esmurrugar a tijolada manualmente, digo, datilografando. Importa é que elabore-se a apreensão, a articulação das compreensões, o debate, a contemporização, no que um ficheiro, hoje mapa conceitual, ou um diário de ideias, se apresentam como os grandes canais, as correntes sanguíneas de um possível sistema de procedimentos passível de dar satisfações, inclusive, a algum orientador. Satisfações não são apenas relativas, tem prazos de validade raramente dilatáveis, que pode ser necessário explorar, dando um tempo devido ax ajuizadorx, somando vivência, altos e baixos. O amor ao livro é modelo de altos riscos - nos iluminamos na entrada, mas seguimos rumo num embalo, passando inicialmente por cima de algo, apenas notando que está acontecendo: uma guinada mais ou menos sutil do discurso ou sua qualidade, da temática ou do seu momento. E a coisa é assim mesmo: os conhecimentos verbais e os dispositivos retóricos não podem se distanciar muito rumo a uma desconexão. O livro guarda seu desenvolvimento, apontou umas pistas, se fez presente, podendo ser aproveitado, reaproveitado, inclusive evocado academicamente, e através de correntes de opinião ou por tabela, por aquela citação a uma citação, recurso como que metanarrativo.
(CONTINUA)
A MALDIÇÃO DO BARALHO PORNÔ Diego Gerlach (1985) Geralmente citado como o primeiro filme de Patrique Gonçalo (Garrafau Arkestra, de 1979, é um curta-metragem), Maldição ("Uma viagem áspera rumo ao nada", segundo o cartaz oficial) causou furor desde seus primeiros segundos de projeção, onde é sugerido ao espectador o uso de algum tipo de substância ilícita ("Preferencialmente maconha") para sua melhor compreensão. Rodado em locação nas cidades gaúchas de Porto Alegre e São Leopoldo, a película conta a história de um estudante de Geografia chamado Lucas (Cláudio Adamczewski) que apaixona-se por uma jovem médium leopoldense, Regina (Marlene Haas), ligada a um grupo de poetas locais que cometem pequenos furtos para manter seu vício em maconha. O que supostamente impediu seu lançamento numa primeira ocasião (o filme foi majoritariamente filmado em 1982, com o enxerto de 25 minutos extras rodados em 1984 e 1985, pouco antes de seu lançamento definitivo), ainda durante os 'anos de chumbo', foi sua cena final. Um longo plano-seqüência (de 12 minutos) onde Lucas, deitado em uma cama, enrola e fuma um cigarro de maconha e escuta na íntegra a música "Vitamin C" do grupo de rock alemão Can. A câmera é operada o tempo inteiro sem tripés ou gruas, e o efeito nervoso do enquadramento e da letargia do personagem central acumulam-se até um pico quase insuportável muito antes dos 12 minutos trancorrerem. Nos 15 segundos finais da música, os créditos começam a subir e têm seu efeito tranqüilizador subvertido de maneira contundente por uma das cenas de assassinato mais realistas e desconcertantes do cinema nacional. Lucas levanta-se e, seguido pela
câmera, agarra uma faca localizada no topo de um criado-mudo ao lado da cama, sai do quarto onde se encontrava e, encontrando uma mulher não identificada no corredor, mata-a com uma série de facadas em cenas de indiscriminada violência gráfica. Ao fim da música, ouve-se apenas os gritos e gemidos da vítima, que desliza lentamente contra uma parede enquanto é submetida a violentas punhaladas no rosto e no peito. Em seguida, os créditos acabam e a imagem evanesce em uma tela negra ao som da respiração ofegante de Lucas -- e então o filme de fato acaba. O fato da mulher não ser um personagem integrante da trama nos momentos anteriores à cena, e da seqüencia parece incongruente e completamente desnecessára à trama rendeu ao filme acusações de niilismo, e a estréia de Gonçalo foi condenada por um furor crítico que destacava o fato do diretor ter se valido de um recurso deus ex machina reverso com intento tão nitidamente sádico. Gonçalo foi ainda mais rechassado devido ao fato de ter se aproveitado da histórica Greve dos Censores de 1985, achando enfim uma brecha para lançar seu filme em vesão integral. Na primeira semana de divulgação posterior ao lançamento do filme, Gonçalo fez várias inferências, em geral em tom de piada, de que a ultrajante seqüência final tratava-se de um 'snuff movie' (lendários filmes clandestinos onde os 'atores' são realmente assassinados). Tomada quase unanimemente como uma atitude desesperada e algo infantil para atrair publicidade para seu filme, a insinuação virou manchete policial quando o diretor recusou-se a revelar o nome da atriz que tornou-se conhecida como 'a vítima dos créditos' (ironicamente, não constante dos créditos finais) e quando Cláudio Adamczewski, ator intérprete de Lucas, desapareceu sem vestígios da república de estudantes em que morava em março de 1985, data em que as
gravações das últimas cenas adicionais havia se encerrado. Pressionado pela Polícia Federal, Gonçalo certamente contava com o delicado período de reavaliação do caráter militarista nacional quando utilizou a Constituição como defesa para não revelar o nome da atriz intérprete da 'vítima dos créditos finais'. Quanto a Adamczewski, Gonçalo declarou meramente não fazer idéia de onde o ator gaúcho (em seu primeiro trabalho em artes cênicas) poderia estar. Fornecendo declarações nebulosas mas aparentemente amparados por profunda pesquisa legal, Gonçalo conseguiu contornar o coro histérico das autoridades que pareciam clamar por algo não menor que seu linchamento em praça pública. Mesmo sob grande pressão política e midiática, a Procuradoria leopoldense fracassou em encontrar quaisquer evidências quanto à culpabilidade de Gonçalo. A surreal série de desdobramentos tornou o cineasta uma das figuras públicas mais discutidas nos três meses finais do imprecedente ano de 1985. Graças a um misto de confusão e medo de reincidência em um tortuoso mosaico de restrições pouco sutis à liberdade de expressão, o diretor livrou-se de multas e de uma possível temporada sob custódia ao declarar publicamente que a recomendação do uso de substâncias estupefaciantes como parte da experiência cinematográfica não passavam de mero chiste ("Para testar o real teor disso tudo que está acontecendo", disse, em uma entrevista de 1986 ao jornal Zero Hora), e que ele mesmo jamais havia utilizado substâncias ilícitas e que tampouco gostaria que seus filhos algum dia se envolvessem com tais.
(CONCLUI DA PRÓXIMA EDIÇÃO)
JOÃO PINHEIRO
EVERTON LUIZ CIDADE
DOUTOR INSEKTO
FABIANO GUMMO
LUIZ ‘TRIDENTE’ VARGAS
ETHON FONSECA
EDUARDO TABORDA
CARLOS FERREIRA & VINÍCIUS MARTINS
SERGIO RODRIGUEZ
DIEGO GERLACH
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