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A vez dos emergentes empresas de tubos direcionam foco para mercado interno e de países em desenvolvimento POR Fábio Caldeira Ferraz | redacao7@cipanet.com.br fotos Stock.XCHNG
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A participação do Brasil no comércio internacional de tubos apresentou crescimento ininterrupto nos últimos cinco anos. Em 2003, a exportação desse produto chegou a US$ 228,9 milhões. Já, em 2007, foram US$ 525,6 milhões exportados, ampliação de 130%. Observando a corrente de comércio (somatória das exportações com as importações) verifica-se que a trajetória de crescimento contínuo também remete a 2003. Naquele ano, foram transacionados US$ 336,9 milhões, contra US$ 856,4 milhões de 2007, um salto de 154% (veja tabela abaixo). O período em questão trata exatamente dos anos cujo Produto Interno Bruto (PIB) mundial (estimado, hoje, em US$ 48 trilhões) apresentou forte expansão, com bom desempenho por parte de países emergentes. O Brasil também se beneficiou desse cenário, vide o resultado de seu balanço de pagamentos no período, que permitiu a constituição de reservas (cerca de US$ 200 bilhões) e saldo positivo na balança comercial. A bem-sucedida ação empresarial do setor de tubos no mercado internacional pode ser medida a partir da própria balança comercial, em sua fração dedicada a esses produtos (códigos 73.04.00.00 a 73.06.90.20 da Nomenclatura Comum do Mer-
cosul – NCM – veja pág. 32). São nove anos consecutivos de superávit, cujo pico foi alcançado em 2006 (US$ 380,9 milhões), portanto, um ano antes de os primeiros sintomas da crise virem à tona. Em 2007, houve um modesto aumento da corrente comercial. Mesmo assim, o superá-
A bemsucedida ação empresarial do setor de tubos no mercado internacional pode ser medida pela balança comercial vit do setor, sentindo a desaceleração nos países ricos, foi a US$ 194,8 milhões. Essa tendência pode ser verificada mesmo em âmbito geral. Ao se considerar o todo da balança comercial brasileira, de janeiro até 1º dezembro de 2008, o resultado mostra um recuo do superávit de 38,6% (US$ 22,4 bilhões), no comparativo
a igual período de 2007, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre 2003 e 2006, o ritmo médio de expansão das exportações de tubos foi de 39%. No entanto, quando se considera 2007 no intervalo, esta medida vai a 26%. Já uma projeção que compreenda informações parciais do ano passado (janeiro a outubro) aponta para 18%, em média. No acumulado de 2008, o Brasil registrava até setembro déficit de US$ 13 milhões, o que não acontecia desde 1998. No mês seguinte, houve uma discreta inversão: superávit de US$ 19,1 milhões. Os dados de 2008, disponíveis até o fechamento desta edição, apontavam para uma queda, em divisas, do montante exportado (US$ 486,3 milhões) e um aumento do importado (US$ 467,2 milhões), em relação a 2007. Ainda assim, e mesmo desconsiderando os resultados de novembro e dezembro, a corrente de comércio será de US$ 953,6 milhões, a maior da série histórica.
Fator dólar Outro aspecto que salta do perfil da balança comercial brasileira é que, em 2008, embora estivesse próxima a um saldo equilibrado no
Participação brasileira no comércio internacional de tubos* 2008**
2007
2006
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1999
1998
Exportações***
486,39
525,63
589,39
424,45
338,48
228,97
356,99
258,57
156,87
141,17
202,44
Importações
467,22
330,80
208,40
181,29
107,74
107,97
124,02
98,78
63,19
111,22
235,48
Corrente Comercial
953,61
856,43
797,79
605,74
446,22
336,94
481,01
357,35
220,06
252,39
437,92
* Códigos 73.04.00.00 a 73.06.90.20 da NCM ** Entre janeiro e outubro *** Em milhões de US$/FOB Fonte: Secex/MDIC
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quesito divisas, quando se observa a variável “peso líquido”, ainda segundo dados da Secex, verifica-se um superávit de 79,9 mil toneladas. São 266,4 mil toneladas de tubos vendidos contra 186,4 mil toneladas compradas. Ou seja, exportamos mais produtos por menos divisas no comparativo com o conjunto dos países que o Brasil importa. Ainda que se considere a possibilidade da compra de produtos de valor agregado superior àqueles vendidos pelo Brasil, haveria aí apenas uma parte da explicação. Conforme apontou editorial da edição 21 de Tubo & Companhia, “este efeito em larga medida ocorreu em função da desvalorização gradativa do dólar frente ao real que, em agosto de 2008, chegou a menos de R$ 1,60”. E aí acrescenta-se outro efeito da crise sobre a economia brasileira. Neste momento, em várias frentes há uma tendência de revalorização da moeda americana, o que influi no câmbio nacional. Entre agosto e início de dezembro do ano anterior, o dólar comercial pulou de R$ 1,60
fotos DIVULGAÇÃO
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Nicolau Marcelo Bernardo, diretor da Confab Industrial
“...o governo federal deveria acelerar a reforma tributária para aliviar a incidência de impostos” a R$ 2,50, e sem dar sinais de estar próximo a um ponto de estabilização (veja gráfico abaixo). Este aumento, que a princípio poderia ser interessante ao exportador e prejudicial ao importador brasileiro, em verdade, tem se mostrado o inverso. Com o dólar em disparada, o exportador tem mais dificuldade em estabelecer o preço de seus produtos. Mesmo quando o cliente se propõe importar, a vola-
Desde agosto dólar sobe sem apontar estabilidade
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Relação de tubos 7304.10.90
OUTS. TUBOS DE FERRO/ACO, S/COSTURA, P/OLEODUTOS/GASODUTOS
7304.59.11
TUBOS DE OUT. LIGA AÇO, S/COST. SEC.CIRC.D<=229MM,C>=0,98%
7304.11.00
TUBOS OCOS AÇO INOX P/ OLEODUTOS/GASODUTOS
7304.59.19
OUTROS TUBOS DE OUTRAS LIGAS ACOS, S/COST. SEC.CIRC.D<=229MM
7304.19.00
OUTROS TUBOS OCOS FER/AÇO P/ OLEODUTO/GASODUTO
7304.59.90
OUTROS TUBOS DE OUTRAS LIGAS ACOS, S/ COST. SEC.CIRC.
7304.21.10
TUBOS DE ACOS N/LIG. S/ COST. P/ PERFUR. EXTRAC. PETRÓLEO/GAS
7304.90.11
OUTROS TUBOS/PERFIS OCOS, DE ACOS INOX. S/ COST. D<=229MM
7304.21.90
OUTROS TUBOS DE FERRO/ACO, S/ COST. P/ PERF. EXTR. PETRÓLEO/GAS
7304.90.90
OUTROS TUBOS/PERFIS OCOS, DE FERRO/ACO, S/COST.
7304.22.00
TUBOS D/ PERF. D/AÇOS INOX ESTR. D/ PETRÓLEO/GÁS
7305.11.00
TUBOS FERRO/ACO, SOLD. LONG ARCO, SEC. CIRC. D>406MM, P/OLEOD
7304.23.10
TUBOS D/PERFURAÇÃO S/COST. D/AÇOS NÃO LIGADOS
7305.12.00
OUTROS TUBOS FERRO/ACO SOLD. LONG. SEC. CIRC.D>406MM,P/OLEOD
7304.23.90
OUTROS TUBOS D/PERFURAÇÃO S/COST. D/FERRO, AÇO
7305.19.00
OUTROS TUBOS FERRO/ACO, SOLD. ETC.SEC. CIRC.D>406MM,P/OLEOD.
7304.29.10
TUBOS DE ACOS N/LIG. S/COST. P/REVESTIM. DE POCOS, ETC.
7305.20.00
TUBOS FERRO/ACO, SOLD. ETC. SEC. CIRC. D>406MM,P/REV.POCOS
7304.29.20
TUBOS DE ACOS INOX. S/COST. P/REVESTIM. DE POCOS, ETC.
7305.31.00
OUTROS TUBOS FERRO/ACO, SOLD. LONGIT. SEC. CIRC.D>406MM
7304.29.31
TUBOS DE LIGAS ACOS, S/COST. P/REVEST. POÇOS, ETC. D<=229MM
7305.39.00
OUTROS TUBOS FERRO/ACO, SOLD. SEC. CIRC. D>406MM
7304.29.39
OUTROS TUBOS LIGAS ACOS, N/REV. S/COST. P/REVEST. POCOS,ETC
7305.90.00
OUTROS TUBOS FERRO/ACO, REBITADOS, SEC. CIRC. D>406MM
7304.29.90
OUTROS TUBOS FERRO FUND/FERRO/ACO, S/COST.P/REV.POCOS,ETC.
7306.10.00
TUBOS FERRO/ACO, SOLD/REBITAD/AGRAFAD. P/OLEODUTO/GASOD.
7304.31.10
TUBOS DE FERRO/ACO N/LIG.S/COST.SEC.CIRC.LAM.FRIO, N/VER
7306.11.00
TUBOS FERRO/AÇO UTILIZADOS P/OLEODUTOS/GASODUTOS
7304.31.90
OUTROS TUBOS DE FERRO/ACO N/LIG. S/COST. SEC.CIRC.LAM.FRIO
7306.19.00
OUTROS TUBOS D/TIPOS UTILIZADOS EM OLEODUTOS/GASODUTOS
7304.39.10
TUBOS DE FERRO/ACO N/LIG. S/COST. SEC. CIRC. N/REV.D<=229MM
7306.20.00
TUBOS FERRO/ACO, SOLD/REBITAD/AGRAFAD. P/REVEST.POCOS,ETC
7304.39.20
TUBOS DE FERRO/ACO N/LIG. S/COST. SEC. CIRC. REV.D<=229MM
7306.30.00
OUTROS TUBOS DE FERRO/ACO N/LIG. SOLD. SEC. CIRC.
7304.39.90
OUTROS TUBOS DE FERRO/ACO N/LIG. S/COST. SEC. CIRC.
7306.40.00
OUTROS TUBOS DE ACOS INOX. SOLD. SEC. CIRC.
7304.41.00
TUBOS DE ACOS INOX S/ COST. SEC. CIRC. LAMIN.A FRIO
7306.50.00
OUTROS TUBOS DE OUTRAS LIGAS ACOS, SOLD. ETC.SEC.CIRC.
7304.49.00
OUTROS TUBOS DE ACOS INOX. S/ COST. SEC. CIRC.
7306.60.00
OUTROS TUBOS DE FERRO/ACO, SOLD. SEC.N/CIRC.
7304.51.10
TUBOS OUTROS LIGAS AÇOS, S/ COST. SEC.CIRC.LAM.FRIO,D<=229MM
7306.61.00
OUTROS TUBOS SOLD. D/SEÇÃO QUADRADA/RETANGULAR
7304.90.19
OUTROS TUBOS/PERFIS OCOS, DE FERRO/ACO, S/ COST .D<=229MM
7306.69.00
OUTROS TUBOS SOLD. DE SEÇÃO NÃO CIRCULAR
7304.51.90
OUTROS TUBOS DE OUTRAS LIGAS ACOS, S/ COST. SEC.CIRC.LAM.FRIO
7306.90.10
OUTROS TUBOS E PERFIS OCOS, DE FERRO/ACO N/LIG.SOLD.ETC.
7304.59.10
OUTROS TUBOS DE OUTRAS. LIGAS ACOS, S/COST. SEC.CIRC.D<=229MM
Fonte: Secex /MDIC
Mudança já era prevista em países ricos Em 2008, o dia 15 de setembro marcou o princípio do estágio “catastrofista” desta crise financeira. Naquela segundafeira, o centenário banco americano Lehman Brothers foi à bancarrota, com o consentimento do governo dos Estados Unidos, golpeado pelos créditos chamados subprime. O impacto da queda do gigante financeiro foi tamanho que imediatamente as bolsas de valores ao redor do mundo refletiram suas consequências. E foram péssimas. Nos dias seguintes, os índices relativos aos ativos financeiros, termômetros de primeira ordem das alterações de cenário,
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apresentaram perdas expressivas onde quer que se observasse. Algo comparável aos dias subsequentes aos atentados terroristas de 2001, em Nova York. Desde aquela “segunda-feira negra”, o pânico ganhou corpo entre os agentes financeiros. Outros grandes bancos e seguradoras americanas recorrerem ao governo – que agora estava disposto a agir – para impedir suas respectivas quebras. Em um desdobramento, bancos europeus sinalizam que também estão “intoxicados” com papéis compostos pelo subprime. Desde então, frases como “crise de confiança”, “derretimento do sistema”
– para ficar somente nas menos técnicas – passaram a ser ditas até pelo mais moderado dos analistas. Em uma ação anticíclica radical, em outubro, pacotes econômicos foram anunciados nas duas pontas do Atlântico. Aquele desenhado pelo governo britânico (injeção direta de recursos por parte dos governos no caixa de empresas, seja como empréstimo, seja como compra direta de capital acionário) se mostra mais eficaz. Rapidamente, outros países, inclusive os EUA, passam a aplicar medidas semelhantes. A manobra, de fato, tirou da boca dos
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eventual defasagem do câmbio – e ao Programa de Financiamento às Exportações (Proex), mantido pelo governo federal que reúne uma série de alternativas de financiamento para o exportador. Tanto um quanto outro receberam nos últimos meses recursos adicionais por parte do governo federal. Esse tipo de expediente oferecido aos exportadores, embora im-
prescindível, funciona mais como um mantenedor do nível de competitividade no mercado internacional do que necessariamente como algo capaz de elevá-lo. Em um quadro de estabilidade macroeconômica, o aumento do grau de competitividade do exportador depende em uma maior medida, de seu desempenho individual, com ganhos de escala, ampliação da produtividade, investimentos, etc. Neste momento adverso, a tendência tem sido outra: maior interferência do estado junto aos seus exportadores, com incentivos, isenções, reduções de tributos, aumento de gastos públicos, entre outros. A ordem é garantir a entrada de divisas e, ao mesmo tempo, fomentar o mercado interno. Com os outros países protegendo seus mercados e impulsionando suas empresas, por aqui as medidas ainda são consideradas tímidas. “Adicionalmente ao que tem sido feito, o governo federal deveria acelerar a reforma tributária para aliviar a incidência de impostos na cadeia produtiva, melhorar a infra-estrutura logística, etc.”, sugere Bernardo.
analistas as previsões apocalípticas. O estágio atual da crise, segundo eles, é outro. Trata-se agora de um longo período de retração econômica: encarecimento das linhas de crédito, declínio de vendas, aumento do desemprego, entre outras tantas consequências. Ainda antes dos dois estágios citados houve um outro, de influência decisiva sobre o momento atual, e que para as empresas de tubos e conexões instaladas no Brasil, notadamente as exportadoras, teve particular importância. A pré-crise despontou no início do segundo semestre de 2007. Seus primeiros sinais ocorreram em junho quando grandes bancos dos EUA e da Europa, com operação no mercado de créditos
imobiliários, passaram a anunciar perdas de porte e/ou fazer projeções bastante pessimistas sobre seus balanços. O núcleo do problema estava no sistema financeiro norte-americano, mais especificamente no braço dedicado aos financiamentos imobiliários. Graças a anos de juros baixos e critérios de concessão pra lá de relaxados, foram registradas seguidas taxas de expansão. Em uma estratégia de diluição de riscos, as instituições negociavam no mercado de capitais as dívidas imobiliárias, já transformadas em produtos financeiros (títulos e derivativos, por exemplo). Contudo, em 2004, quando o Federal Reserve (FED), banco central americano, começou a subir a taxa de juros referencial,
e o índice de inadimplência cresceu, tornou-se impossível rastrear para fins de resgate esses papéis, uma vez que foram misturados a outros papéis na composição dos produtos. Daí que o plano inicial de salvamento do governo americano não obteve êxito, pois previa exatamente pagar uma determinada quantia por esses papéis – que até agora ninguém sabe dizer quanto valem e exatamente onde estão em sua totalidade. Em um movimento, como a inadimplência assumiu trajetória de alta e a disposição dos consumidores em adquirir imóveis o sentido contrário, o valor tem caído a patamares inferiores aos negociados à época da concessão do “crédito ninja”. Isso impede os bancos de cobrir partes de suas
fotos Mathias Cramer/temporeal.com
tilidade dos preços por vezes o inibe, pois trata-se, sobretudo, de uma aposta nos rumos do mercado cambial. Ainda que as partes adotem salvaguardas cambiais (hedge) para assegurar alguma previsibilidade, em um contexto de incertezas na macroeconomia mundial é possível que alguém obtenha resultados insatisfatórios. Mas há alternativas. “A alta volatilidade cambial afeta a composição dos custos em reais, que flutuam muito em função deste efeito. O que se procura fazer é fixar o custo da maior quantidade possível de insumos na mesma moeda que será utilizada na operação de venda, fazendose um hedge cambial do restante dos custos”, explica Nicolau Marcelo Bernardo, diretor de exportação da Confab Industrial. Para minimizar o impacto do dólar sobre seu faturamento as exportadoras têm recorrido às antecipações de contrato de câmbio (ACCs) – adiantamento de divisas, já convertidas, para o exportador. Com o recurso à disposição a empresa pode aplicá-lo para conter uma
Marco Pólo de Mello Lopes da IBS
“ Protecionismo nos EUA e Europa pode agravar ainda mais o nível de penetração do aço... ”
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perdas com a venda direta. O termo “ninja” faz referência ao perfil dos tomadores desses créditos e forma-se a partir das iniciais de “no incomes”, “no job” e “no assets”. Algo como clientes sem comprovação de renda, emprego ou patrimônio. Em suma, uma crise financeira oriunda da bolha imobiliária americana era tida como possível ao menos um ano antes, considerando esses elementos. Com uma perspectiva negativa pela frente, houve uma contínua reestruturação das posições dos agentes financeiros nos meses que antecederam a “segunda-feira negra”, o que atingiu primeiramente o setor de construção civil naqueles países. Em 2006, os EUA importaram de empresas instaladas no Brasil 203,4 mil de toneladas
de tubos (códigos 73.04.00.00 a 73.06.90.20 da Nomenclatura Comum do Mercosul – NCM – veja pág. 32), que equivalem a US$ 239,3 milhões. No ano seguinte, foram 129,3 mil toneladas (US$ 153 milhões), um decréscimo de 57%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), órgão pertencente à estrutura do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Entre janeiro e outubro do ano passado, foram apenas 54,3 mil toneladas (US$ 100,5 milhões) importadas. Essa tendência ocorre também quando se mira o G7, “grupo das sete mais importantes potências econômicas” (Alemanha, Japão, Itália, França, GrãBretanha, Canadá e Estados Unidos).
Em 2006, as vendas atingiram 224,9 mil toneladas (US$ 268,3 milhões) ao conjunto dessas economias contra 137,6 mil toneladas (US$ 168,7 milhões), em 2007, uma queda de 63%. Assim, neste momento em que a crise migra para a economia real nos países centrais, e em uma dinâmica semelhante nos periféricos, atingindo de modo agudo setores mais dependentes do crédito, outros setores, como o de tubos, registram perdas há mais tempo, por estarem ligados diretamente ao desempenho da construção civil naqueles países. Essas perdas são, antes, fruto da mudança na expectativa nos mercados estrangeiros. A essas perdas se somam agora as pertencentes a este estágio da crise.
fotos Agência Brasil/Ricardo Stuckert
“Se vemos aumento do protecionismo nos EUA e Europa, à medida em que seus mercados se enfraquecem, isso pode agravar ainda mais o nível de penetração de aço e produtos da cadeia metal-mecânica em nosso mercado”, observou
em entrevista recente Marco Pólo de Mello Lopes, vice-presidente executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). Lopes refere-se à possibilidade de aumento das importações de produtos no mercado nacional. Com o mercado do G7 contendo suas demandas e o dólar mais caro (e volátil) para as empresas brasileiras, um
desdobramento possível é o redirecionamento do excedente produzido por países emergentes do leste europeu ou ainda da China. Quanto a este último, essa tendência já se insinua na balança comercial entre os dois países. O Brasil saiu de um volume de importações de 7,3 mil toneladas (US$ 10,2 milhões), em 2005, para 51 mil toneladas (US$ 79,9 milhões), nos dez primeiros meses de 2007, cerca de sete vezes mais. Por outro lado, de janeiro a outubro de 2008, exportadores brasileiros embarcaram para o gigante asiático pouco mais de 300 toneladas de tubos. O governo chinês em sua estratégia para enfrentar a crise combinou investimento público, estímulo ao mercado interno, financiamento e redução de juros, taxa de redesconto e carga tributária. Isso tem proporcionado a reformulação das políticas de preço chinês, tornando seus produtos ainda mais competitivos. Acrescente a isso, regime cambial baseado em bandas fixas, o que proporciona maior estabilidade para o yuan e baixos custos trabalhistas.
Batismo da P-52: Petrobras insiste na manutenção do plano de investimentos
Demanda interna como saída
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fotos Divulgação
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José Adolfo Siqueira
“ demanda pode colocar o País na rota do mercado internacional... ”
fotos SXC.HU
Particularmente para a cadeia do aço nacional, as notícias vindas de Beijing são preocupantes. Desde 1º de dezembro, as tarifas de exportação de produtos siderúrgicos fabricados na China, inclusive de chapas grossas, utilizadas na fabricação de tubos e acessórios, foram eliminadas. Para as companhias com atuação no setor de tubos, tanto exportado-
ras quanto importadoras, completa o cenário desta crise os reiterados pronunciamentos de representantes de governos estaduais e federal e de empresas estatais sobre a manutenção dos investimentos públicos. E, para além deles, é fato que o Brasil aprovou recentemente os marcos legais para as áreas de saneamento básico (Lei 11.445/2007) e gás (a espera de sanção presidencial), o que deve servir de estímulo para os negócios. Além disso, os setores de construção civil e automobilístico, mais sensíveis à retração do crédito, também têm recebido especial atenção do estado, disposto a garantir-lhes a necessária expansão. Por fim, a Petrobras insiste na manutenção de seus projetos de extração e logística em novos campos de combustíveis fósseis. Dado o seu perfil, “a demanda brasileira realmente pode colocar o País na rota dos players do mercado internacional de tubos”, analisa José Adolfo Siqueira, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Tubos e Acessórios de Metais (Abitam).
Tudo por fazer: com novo marco legal e recursos públicos, saneamento atrai empresas
Com quase todos os membros do G7 já adentrados em uma recessão, o Brasil, na contramão, apresentou taxa de expansão do PIB de 6,8% entre janeiro e setembro de 2008. Anualizada, ela atingiu 7,5%, conforme divulgou o IBGE. Mais: o indicador que puxou o índice foi o de formação bruta de capital fixo (FBCF), composto por bens de capital e construção civil, que alcançou em igual período 19,7%. Tamanho dinamismo torna-se um atrativo para o mercado internacional. Diante disso, “o governo brasileiro, em conjunto com as entidades representativas dos diversos segmentos industriais afetados por uma potencial política agressiva de exportação da China, está atento ao tema e tem implementado medidas visando inibir a concorrência desleal e a evasão fiscal que se dá por importações a preços aviltados”, conta Bernardo. Entre as medidas ele cita as de “valoração aduaneira, que estabelece preços mínimos conforme indicadores do mercado internacional para efeitos de cálculo dos impostos incidentes na importação, e o licenciamento não automático para importação de produtos de determinadas origens, dentre elas a China”. Por sua vez, empresas brasileiras têm mirado outros países emergentes como potenciais compradores de seus excedentes. Brastubos, Apolo Tubulars e a própria Confab Industrial, além de outras, já manifestaram interesse em abrir ou expandir frentes de negócios em países da Ásia Central e do oeste da África, ricos em combustíveis fósseis. Estratégia semelhante aos concorrentes chineses e do leste T europeu, não?
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