Sudários

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MACUNAร MA

P R O J E TO

Fรกbio Carvalho


Sudários impressão à jato de tinta de imagem digital sobre papel capa: n° 1/01 - 90 x 124 cm - 1997 acima: n° 1/04 - 90 x 123 cm - 1997


Dia da Semana

Enganei-me ao deduzir apressadamente que o trabalho estético de Fábio Carvalho fosse principalmente uma questão de imagem. Foi ele quem mostrou-me a diferença. Seu trabalho é mais conceitual e performático. Sudários, registros de marcas de suor sobre a roupa impressos sobre papel, faz o gesto artístico recuar a uma simples escolha; registrada digitalmente e montada visualmente segundo um processo consistente e eficaz O trabalho de Fábio fez-me pensar no subjetivo, no subjetivo isolado. Uma concentração e um congelamento de tempo, no entanto, tempo tornado imagem. Um instante longe, um outro aproximado... Um abismo visto num relance. Fluxos, inúmeros fluxos, todos convergindo e divergindo em um tempo isolado, abstrato e congelado. Como interromper o fluxo do tempo? Dois trabalhos em especial falam disto: os desenhos orgânicos e Espelho. Imagens digeridas ou a serem digeridas pelas cartografias e pelo invisível na fotografia, até atingirem o fim da imagem, nos sudários, que já são pintura "à la Duchamp'; imagens prontas escolhidas e não produzidas. Ao ter notado que estava enganado, passei a considerar os aspectos mais conceituais, performáticos e contextuais. Há um desejo de ausência de tipo bastante filosófico, não tanto nas imagens, mas principalmente nos momentos de contexto e performance. Falei da escolha, dos sudários como uma pintura escolhida, uma pintura possível por simples escolha de uma pintura num universo histórico e espacial completamente tomado pintura. Um acontecimento pintura. Mas, também, um acontecimento técnico, o sudário fechou o ciclo dos trabalhos que realizou nos últimos cinco anos. "O invisível na fotografia", fotos superpostas criando figuras fantasmas, por exemplo, também pode ser visto como um trabalho cromático dentro de uma performance quase ambiental. Com relação aos dados conceituais tomo para observação questões de imagem. A busca muda e cega de uma imagem... ? Os trabalhos aqui expostos são de 98 e seria difícil não comentar a sedução das imagens quando se depara com elas e o quão veloz é o efeito de desaparição dessas imagens, daí o artista poder dizer que não são tanto as imagens, mas muito mais os dados conceituais e sua cristalização na performance, que orientam sua atividade. Sugiro que o outro pé do tripé seja: - Não vou dizer desenho... ou contexto... Uma imagem numa performance quase ambienta!? Pensemos na série Fluxos, um navio que fica enquanto a paisagem passa, como o próprio artista declara, uma questão bem mais contextual, senão escultórica ou paisagística em sentidos amplos: "Para deixar de ser e vir a ser". Metaforicamente, - é só um sentimento - as imagens-sudário são como dias da semana. Estou tentando definir o tempo que se manifesta nas imagens de Fábio... O contexto é uma simples possibilidade. Digo, então, dia da semana e não dia de semana. Dia de semana, que idéia engraçada. Marco Veloso junho 99.


n째 2/01 - 90 x 124 cm - 1998


n째 2/26 - 90 x 141 cm - 1998


n째 2/23 - 90 x 124 cm - 1998


Sudários – Fábio Carvalho O interesse em fazer este trabalho surgiu quando observei o desenho formado pelas marcas de suor em minha roupa, após realizar atividades físicas. Comecei a pensar nestas marcas como um processo semelhante à gravura, onde o corpo era a matriz, e a roupa o suporte da gravura. Entretanto, era uma gravura volátil, uma vez que o suor poderia secar rapidamente, mesmo antes da roupa ser lavada, o que também “apagaria” a gravura. Pensei então em perpetuar esta “gravura”, digitalizando as manchas de suor que mais me interessavam como imagem, para em seguida realizar uma impressão digital das mesmas. Mas não poderia ser um processo 1:1, ou seja, uma reprodução em escala da mancha. Eu queria que o espectador do trabalho tivesse uma leitura inicial ambígua, dúbia, que ele se sentisse diante de uma “OBRA” de arte, criando um deslocamento de sentido. Então, decidi pela ampliação da escala original para algo muito maior, que tivesse uma certa “monumentalidade” ou uma “grandeza” de pintura. As manchas foram então ampliadas em até mais de 15 vezes seu tamanho original. Estas imagens são como auto-retratos, não no sentido convencional da história da arte, mas um retrato de um instante particular do corpo de um indivíduo. Uma imagem efêmera, de um resíduo normalmente encarado como desagradável, originalmente condenado ao esquecimento e desaparecimento, que agora irá superar no tempo até mesmo ao corpo que as produziu. Na escala e forma em que são apresentadas, estas gravuras corporais ganham um novo tempo, um eterno presente.

Shrouds – Fábio Carvalho The interest in making this work came out when I observed the drawings formed by the stains of perspiration on my clothes, after physical activities. I began to think of these stains as a process similar to print making (or engraving), where the body would be the matrix, and the cloth the support of the print. However, it would be a volatile print, since the stains of perspiration could dry quickly, even before the clothes have had been washed, what would erase the “drawings” or the “prints” anyway. Then I thought about perpetuating these “engravings”, digitizing the stains of perspiration that interested me as an image, and then making a digital print of them. But it could not be a 1:1 process, a reproduction in the same scale of the original stain. I wanted that the spectator of the work would have at first an ambiguous reading of it, that he would feel himself ahead of an “WORK” of art, creating thus a meaning shift. I have decided that the magnifying of the stains had to be more than 15 times bigger than the original scale, so it would have a certain monumentality, like a large painting. These images are like self-portraits, not in the conventional way in the history of art, but a picture of an particular instant of the body of an individual. An ephemeral image, of a residue that is normally faced as unpleasant, originally doomend to the oblivion and disappearance, that will now last for a long time, even longer than the body that produced it. In the scale and form that these pictures are presented, the corporal prints gain a new time, am eternal now.


IMPRESSO

Ministério da Cultura e Fundação Nacional de Artes - Funarte convidam para a exposição de

sudários de

Fábio Carvalho INAUGURAÇÃO 13 de julho de 1999 de 18 às 21h EXPOSIÇÃO até 22 de agosto de 1999 de segunda a sexta-feira de 11 às 19h sábados e domingos de 12 às 18h PALÁCIO GUSTAVO CAPANEMA Galeria Macunaíma Rua da Imprensda, 16 Centro Rio de Janeiro/RJ CEP 20030-120

Presidente da República Fernando Henrique Cardoso Ministro da Cultura Francisco Weffort Presidente da Fundação Nacional de Artes Márcio Souza Diretora do Departamento de Artes Eliane Pszczol Coordenador de Artes Visuais Reinaldo Benjamin Ferreira

Núcleo de Apoio às Exposições Ivan Pascarelli Marcelo Camargo Sônia Salcedo Apoio à Montagem Carlos Alberto Goulart da Silva José Roberto da Silva Agradecimentos Eduardo Costa Efrain Almeida Vitor Saleh

Área de Artes Plásticas Leila Teles Luiz Carlos del Castillo Curadoria Marco Veloso Divisão de Edições Luiz Falcão Projeto Gráfico Alexis Lobo

MINISTÉRIO DA CULTURA

FUNARTE


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