revista MUTANTE n.15

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15 /CONTRASTE

/FEVEREIRO/MARÇO 2013

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ANKA ZHURAVLEVA

Delightfull Bordallo Pinheiro Herdade da Cortesia Fernanda Lamelas Six Senses Spa ttt


EDITORIAL /DIRETOR JoĂŁo Pedro Rato joaopedrorato@mutante.pt /EDIĂ‡ĂƒO PatrĂ­cia Serrado patriciaserrado@mutante.pt Sara Quaresma CapitĂŁo saraqcapitao@mutante.pt /DIREĂ‡ĂƒO DE ARTE JoĂŁo Pedro Rato /DIREĂ‡ĂƒO COMERCIAL comercial@mutante.pt /COLABORADORES NESTA EDIĂ‡ĂƒO Hernâni Duarte Maria Karin Andersson Maria Pratas Susana Carvalho /ILUSTRAĂ‡ĂƒO Sara Quaresma CapitĂŁo /FOTO CAPA Anka Zhuravleva por Alexander Zhuravlev /TIPOGRAFIA -FJUVSB t XXX ETUZQF DPN /REDAĂ‡ĂƒO rua Manuela Porto 4, 3Âş esq. 1500-422 Lisboa info@mutante.pt XXX NVUBOUF QU XXX NVUBOUFNBHB[JOF CMPHTQPU QU XXX GBDFCPPL .VUBOUF.BH .VUBOUF Ă? VNB NBSDB SFHJTUBEB

ApĂłs o regresso da cidade que nunca dorme, embarcamos em mais uma viagem pela histĂłria, em Sintra. E jĂĄ que estamos por cĂĄ, porque nĂŁo falarmos sobre uma arte muito nossa, o mosaico hidrĂĄulico; e dar a conhecer a mestria de um exĂ­mio artista portuguĂŞs, Rafael Bordallo Pinheiro, nascido hĂĄ 167 anos. No palco sobe o pano. As luzes acendem-se com o jazz e o blues rendidos Ă portuguesa Delightfull. Conhece? Da RĂşssia, Anka Zhuravleva traz fotografia com arte na arte de fotografar um conto de fadas que nos rouba o fĂ´lego‌ Depois hĂĄ um poema e uma ilustração do virtuoso artista viseense LuĂ­s Belo. Vamos ao “Cinema de contrastesâ€?. E Ă mĂşsica. Sobre os acordes e a sonoridade de uma expressividade superlativa: Sigur RĂłs. Damos a conhecer o chef Nuno Mendes, do elegantĂ­ssimo Viajante, em Londres, e a arquiteta Fernanda Lamelas, que fala sobre o seu ofĂ­cio e as suas viagens. E terminamos numa herdade aos pĂŠs do MaranhĂŁo e uma surpresa‌


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Quer ser ator. Pisa o Teatro Garret (1860) e entra na Escola Dramática. Sobe o pano. Em cena nasce o riso num tom jocoso. Mas o desenho, a caricatura, continuam vivos. Expõe na Sociedade Promotora (1868 - 1874), vê reproduções da sua autoria no El Mundo Cómico e colabora em publicações periódicas de Espanha (anos 70 de 1800). O humor na gravura. Primeiro ligeiro, depois agressivo. Satírico. Publica o álbum de caricaturas O calcanhar de Aquiles (1871), está n’ A Berlinda, mete a ridículo

acontecimentos e ilustres n’ O Binóculo e vence com A lanterna mágica (1875), onde apresenta o não menos célebre Zé Povinho. Nasce o jornalista, o comentador político e social, inspirado pelo seu trabalho na Câmara dos Pares. O Brasil. Atravessa o Atlântico para o jornal O Mosquito, no Rio de Janeiro (1876). Cria e recria personagens, desenha a política, aprimora a técnica. Faz nascer o Psit!!! e O Besouro.

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Regressa ao Chiado. A caricatura de rigorosa perversão desdenha ideais, atravessa a política de fio a pavio, trespassa o social e diz cobras e lagartos da igreja. N’ O António Maria (1879) configura os palcos e a arte de representar. Tudo em nome da liberdade. A comédia rivaliza com o parlamento e a farsa emboca os intocáveis da alta sociedade. Sobre o grande palco, carregado pela farsa, cai o pano. Desiludido, o jornalismo é cingido a pausas. A cerâmica é a nova paixão. Amor ardente que dita o desejo artístico em Caldas da Rainha. Na troca da tinta pela massa sem, de resto, abandonar a sátira social e política. A cerâmica portuguesa. Rafael Bordallo Pinheiro entrega o corpo e a alma à produção

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fabril, tal como o fez no papel com a tinta preta a escorrer-lhe pelos dedos. Em 1884, funda a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Transforma os objetos rústicos em peças arrojadas, cravadas de um naturalismo concreto. Obras de arte escultóricas, que despontam no papel pelos traços do artista, e do papel para o barro, pelas mãos dos mestres da olaria. E das goelas dos fornos, o fogo expele bichos, peças utilitárias e decorativas, e dá vida a um Zé Povinho em manifesto gesto de protesto. Faz as pazes com o jornalismo. A sátira desbrava caminho. Faz nascer A paródia, diz que é para o filho. Profana a política com metáforas, como A grande porca, mas ao virar a esquina do novo milénio fica Tudo às avessas. O êxito. À parte das ironias incisivas, as faianças Bordallo Pinheiro acolhem o reconhecimento merecido na primeira mostra pública (1886), em Lisboa, no Porto (1888) e na Exposição Universal de Paris (1889), com um Pavilhão de Portugal “forrado” de peças decorativas da fábrica das Caldas da Rainha.


Arte de um reportório audaz, que lhe valeu o grau de cavaleiro da Legião de Honra da República Francesa. Do outro lado do mundo. No Brasil (1899). Rafael Bordallo Pinheiro tenta a sorte. Na bagagem leva, em engenhoso equilíbrio, a famosa jarra Beethoven, encimada por anjos a erguer batutas. O sucesso está a olhos vistos, mas a estimada peça não se desgruda do criador. Num ato generoso, oferece tão vistoso objeto de arte ao Presidente da República de então, Campos Sales, o qual ocupa lugar vitalício no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. De regresso. O retratista soma

vitórias e conquista os notáveis. Os anos passam devagar e, dentro em breve, sai de cena em fulgente destaque a 23 de janeiro de 1905. A 21 de março de 2013 celebram-se 167 anos do seu nascimento. Para lá dos 100 anos. A Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro testemunha um património imaterial inigualável, com um percurso sinuoso ao longo do século XX. Sempre com a mão na massa. E dos moldes antigos, identificados com o suporte da sabedoria de modeladores, recuperam-se novos modelos. Corpos ocos que dão vida a novos corpos perpetuados no tempo infinito.

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Um artista. Uma peça. O legado reinterpretado, no presente, pelos Bordallianos do Brasil. O repto lançado a 20 artistas plásticos brasileiros – Tunga, Vik Muniz, Saint Clair Cemin, Regina Silveira, Efrain Almeida, Barrão, Tónico Lemos Auad, Martha Medeiros, Laerte Ramos, Maria Lynch, Isabela Capeto, Fábio Carvalho, Erika Verzutti, Marcos Chaves, Tiago Carneiro da Cunha, Sérgio Romagnolo, Caetano de Almeida, Frida Baranek, Adriana Barreto e Estela Sokol.

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O diálogo poético luso brasileiro composto por 20 peças, limitadas a 250 exemplares cada uma, e apresentadas, em meados de Maio de 2013, na Oi Futuro, o espaço cultural do Ipanema, no Rio de Janeiro, Brasil. Um trabalho de mestria antecedido pelos virtuosos Bordallianos Portugueses – Joana Vasconcelos, Fernando Brízio, Henrique Cayatte, Elsa Rebelo, Bela Silva, Susanne Themltz e Catarina Pestana – numa celebração conjunta dos 125 anos da Fábrica Bordallo Pinheiro. d


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AtĂŠ breve! www.mutante.pt www.mutantemagazine.blogspot.pt www.facebook.com/MutanteMag


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