DIRETOR Fábio Sernadas
DIRETOR DE IMAGEM Pedro Afonso
COORDENADOR DE MODA Fábio Sernadas COORDENADORA DE CULTURA E LIFESTYLE Patricia Silva MODA Rafael Moreira Cristiano Teodoro Ana Patricio Patrícia Dias Rita Castro Mara Craveiro Luis Assunção Pedro Rocha Sofia Craveiro REDAÇÃO Ivânia Cardoso, Cátia Pimenta, Solange Rodrigues, Márcia Mendonça, Letícia Carvalho, Rita Luz COORDENADOR DE PAGINAÇÃO Fernando Leitão EDIÇÃO E PAGINÇÃO Luis Carlos Patricia Meinedo Daniela Faria Bruna Pires INFORMÁTICA Pedro Rocha CONSELHO EDITORIAL Fábio Sernadas, Pedro Afonso, Ana Magalhães e Fernando Leitão A FAIRE é uma revista mensal, direcionada para o público curioso, também com uma plataforma online. A FAIRE foca-se em moda, mas abrange temas como beleza, cultura e lifestyle. A FAIRE compromete-se a apoiar editorialmente a moda e projetos inovadores. A FAIRE nunca se deixará condicionar por interesses partidários ou por qualquer lógica de grupo, assumindo responsabilidade apenas perante os que pode desempenhar um papel importante ao nível da sensibilização social, promovendo uma sociedade mais informada e igualitária. A FAIRE dirige-se a um público de todos os meios sociais e de todas as profissões. A FAIRE estará sempre atenta à inovação, promovendo a interação com os seus leitores.
UMA LUTA DE 2 ANOS Uma edição que valoriza dois anos de muito trabalho. Dia 20 de Abril de 2017, viria à ribalta, a revista que muito rápido se tornará, com toda a certeza, uma das, senão a única revista de moda portuguesa. Tudo começou na capital espanhola, a poucos dias do Natal, quando um dia, sonho com ela… com a FAIRE. É claro que inicialmente chamou-se tudo menos o nome que hoje marca os designers portugueses. Uma revista que inicialmente começou para ajudar os mais jovens, aqueles que não tinham força e voz suficiente para chegar além… pouco a pouco, percebemos que vários designers, gostavam e apoiavam a nossa demanda. Fomos caminhando, fazendo, lutando e conseguindo! É claro que enquanto Diretor desta revista há muita coisa que gostava de dizer, mas apenas posso dizer que foram 2 anos de muita garra, disso, eu tenho a certeza. Sempre que conto a nossa história… conto como nos chamamos… FAIRE, significa FAZER em francês… Eu, enquanto jornalista e apaixonado por moda, queria fazer, queria fazer a diferença. Queria mostrar que Portugal é muito mais que um país de fábricas. Quis provar que conseguimos fazer moda igual ou melhor que lá fora, e depois de 2 anos… tenho e temos conseguido provar isso. Com uma equipa excepcional e com muita vontade de fazer e aprender mais, posso garantir que 2019 será o nosso ano e o ano que nos iremos afirmar pouco a pouco. Começamos este ano com uma capa que chocaria todos, fizemos uma fusão entre várias marcas e designers. Em março, protegemos… Em abril, valorizamos… O trabalho que fizemos nesta edição é a prova que fazer moda, está para além das passerelles. Nesta edição quisemos enaltecer o trabalho de todos os designers portugueses. Mantendo o nosso ADN e apoiando que em todas as edições, mostramos o que de bom se faz em Portugal. Às marcas, aos designers, aos parceiros, à minha equipa… um grande obrigado por todo o apoio e por se juntarem nesta luta! o Diretor,
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CARTA DO DIRETOR EVOLUÇÃO OU REVOLUÇÃO? EDUARDA ABBONDANZA UM DESASTRE CHAMADO BREXIT SHOPPING
FASHION ALERT CARLOS GIL
HAPPY BIRTHDAY TO US PART I
DAVID FERRERIA LUIS CARVALHO MARCA SUSTENTÁVEL DOS OCENAOS PARA AS PASSERELLES COMÉRCIO TRADICIONAL AGENDA
24 54 58 62 64 66 68
80
HAPPY BIRTHDAY TO US PART II
100 JUST.O, O NOVO DENIM 102 MODA E RACISMO 104 MIGUEL FLOR
STREETWEAR E MARCAS DE LUXO
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MAKE MEN UP
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MAQUILHAGEM E DIVERSIDADE
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THE BIRKINBOY HAPPY BIRTHDAY TO US PART III
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ESTÁ A MODA EM
EVOLUÇÃO OU REV por Ana Patrício
As opiniões divergem entre os designers. Há quem defenda que a moda está sempre em evolução, através de um sistema efémero de tendências. Há quem argumente que a moda é como um ciclo, que se repete incessantemente e que propicia um sistema eterno. Surgem constantemente novos designers no mercado nacional, que dão continuidade ao trabalho realizado anteriormente, ou tentam revolucionar o já concretizado.
des de expor o nosso trabalho, no entanto é muito difícil conseguir conquistar o consumidor para ter o retorno do nosso investimento.” João Sousa que apresenta a primeira coleção no BLOOM no Portugal Fashion, também partilha da mesma opinião que a colega da plataforma. No entanto, considera que a moda está em evolução principalmente devido a “jovens criadores que estão a trazer uma nova abordagem no mundo da moda para o mercado”.
A plataforma BLOOM é exemplo disso. Nas edições do Portugal Fashion, o BLOOM funciona como um espaço para os jovens emergentes no mundo da moda darem os primeiros passos na área.
A criadora portuguesa Maria Gambina, reconhecida na área do streetwear, não partilha da mesma perspetiva. A igualdade, a repetição e a verosimilhança entre coleções leva-a à negação do desenvolvimento nesta área. Com convicção, a sua resposta é “Revolução”. Apela à diversidade. “Calças são calças, saias são saias, casacos são casacos, mas podem ser sempre novos.” Evidencia a importância do aparecimento de novos designers com vontade de criar marcas personalizadas, que tentem re-
Rita Sá ainda com uma carreira muito jovem, mas premiada diversas vezes ao longo do seu percurso profissional, demonstra uma certa ambiguidade face a esta contenda. Afirma que é “um paradoxo muito grande, porque temos mais oportunida-
volucionar o já existente. Anteriormente caracterizado como um país a preto e branco no estado de espírito e até na roupa. Sobcarregado de limites rigorosos. Atualmente, Portugal é marcado pelo espírito fresco e positivista. Se hoje a moda consegue ser o espelho de uma sociedade, que reflete a sua imaginação e criatividade, é expectável que no lançamento de coleções impere a novidade, através da variedade de cores, tecidos, temas e padrões. Seja a resposta “revolução” ou “evolução” os jovens nacionais aliam a diferença, desejam trazer algo novo e adquirir experiência. Afinal têm uma carreira promissora pela frente e prometem surpreender.
O VOLUÇÃO?
por Cristiano Teodoro
“A MÃE DA MODA”
Eduarda Abbondanza Marion C. Garrety escreveu que “o amor de mãe é o combustível que capacita o ser humano comum a fazer o impossível”. Traduzindo, o amor que Eduarda Abbondanza tem pela moda fez com que nascesse a Associação ModaLisboa e, consequentemente, um marco nos meses de março e outubro. Estivemos à conversa com a mãe da moda portuguesa sobre o que era, o que é, e o que vai ser a moda portuguesa.
Primeiros passos Eduarda Abbondanza é a grande pensadora e criadora dos melhores fins de semana do terceiro e do décimo mês de cada ano. A Associação ModaLisboa é uma associação sem fins lucrativos cujo principal projeto é a Lisboa Fashion Week que vive em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa. Nasceu há praticamente três décadas e desde então é um pilar fundamental na moda portuguesa. Apoia grandes nomes e os que agora estão a criar as primeiras peças. Os primeiros desfiles foram em 1991, numa altura em Portugal tinha uma democracia ainda jovem. Estagnado, o país vivia uma situação difícil “tanto a nível industrial como criativo”, conta Eduarda à FAIRE. Logo, os desafios eram grandes e passavam pela “estruturação do evento e profissionalização das equipas” sem nunca esquecer que era necessário pensar “na definição da
estratégia de internacionalização da moda e dos criadores nacionais”, assume. Ou seja, era necessário criar uma rotina de apresentação de coleções num espaço temporal definido à priori, algo que até então não existia. Abbondanza considera que hoje “a ModaLisboa é um projeto centrado na disciplina da moda, mas que também trabalha com todas as disciplinas criativas, como a fotografia, a street art, a música, o multimédia, a performance, a ilustração, a arquitetura, o design e o design de produto”. É o seu menino que tem hoje três décadas de muito trabalho. Desenvolveu-se, e passou de criar uma rotina na moda nacional para um desafio constante onde se reflete sobre a forma como a ModaLisboa se relaciona com o público que quer manter fiel e o novo que quer conquistar.
Como é feita em terras lusas, a sociedade portuguesa esteve sempre lado a lado com este projeto. Eduarda Abbondanza reflete e conclui que “o desenvolvimento da moda portuguesa obedece ao desenvolvimento da sociedade portuguesa. Ela cresce de acordo com o crescimento da sociedade”, acrescentando que “neste momento, acho que é necessário que a moda portuguesa crie a sua identidade e afirme as suas marcas que irão concorrer com as marcas internacionais que já existem há muitas décadas”.
A moda mulher Com o caminhar do tempo, novos projetos foram criados para além da Lisboa Fashion Week. Associados a este que é o evento central, temos outros com dimensões mais pequenas e com diferentes objetivos, sempre em redor da moda. Sem esquecer o Sangue Novo, os primeiros desfiles da Semana de Moda de Lisboa onde os protagonistas são os novos designers, a ModaLisboa é feita com as Fast Talks, conferências onde se debate a moda nas mais diversas perspetivas; a Wonder Room, um espaço onde se comunicam novas marcas e produtos; ou a Workstation, apostando numa visão de divulgação de trabalhos de designers, fotógrafos ou ilustradores: “em suma, a ModaLisboa é uma plataforma de apresentação para novos artistas de áreas diferentes”, conclui Eduarda. Todos estes novos projetos são o resultado das novas semanas de moda, onde o trabalho é continuado, porém os dois picos de visibilidade de março e outubro. A presidente da Associação ModaLisboa declara que “o futuro de todas as Fashion Weeks passa pela criação de ações e momentos que vão para além de desfiles de moda. Apesar do trabalho da ModaLisboa ter picos de
visibilidade de seis em seis meses na semana, ele é continuado o ano inteiro com ações de formação, sessões de mentoring e aconselhamento aos projetos empresariais, procurando novas oportunidades para maximizar o seu crescimento e amadurecimento. Formamos muitas pessoas na área da moda, somos uma masterclasse em permanência”. São os passos para o futuro já em construção. Se a moda portuguesa está em processo de afirmação e de crescimento da competição (saudável, porque todas se inspiram umas às outras) com outras de maiores dimensões, a criatividade e a tecnologia alimentam este panorama. A moda é, para além de uma expressão artística, uma indústria. Eduarda define-a como “uma disciplina que trabalha com a ambiguidade da sociedade e como tal, estação após estação, nega o que já foi feito e reinventa-se para novas propostas” sem esquecer que acaba por refletir os problemas da(s) sociedade(s): “a moda vai sempre refletir as grandes questões da agenda internacional como sejam: as questões de género, o empowerment feminino, o fenómeno da migração e a sustentabilidade”.
Os avanços tecnológicos vieram alterar a forma como a moda tem sido produzida nos últimos anos. Portugal, que é um país de produção, tem um papel reflexivo importante nesta perspetiva: “A tecnologia e os seus desenvolvimentos contribuíram não só para a evolução da produção e comercialização, que são neste momento grandes preocupações nesta área, como também para a criação de novas marcas e na forma como estas se relacionam, de forma mais direta, com o público”, explica-nos Eduarda. Estes relacionamentos mais próximos com o público estão fortemente relacionados com a comunicação através da Internet. As redes sociais e os influenciadores digitais são peças fundamentais para a comunicação das marcas, onde se chega a uma geração mais jovem e a possíveis novos compradores. Assim, “com as redes sociais o público acaba por consumir mais moda de forma imediata e gratuita, criar relações com as marcas e claro que isso tem as suas consequências na sua perceção em relação a esta indústria”, remata Abbondanza.
Uma senhora aberta ao futuro A bebé de Eduardo Abbondanza está já uma senhora. A senhora ModaLisboa vai continuar a crescer e a competir com as modas de Paris, Londres ou Milão. Um dos passos pelo crescimento da moda portuguesa passa pelo recente acordo assinado entre a Associação ModaLisboa e o Portugal Fashion, no Porto. Desta forma, os desafios para a moda nacional são maiores e mais ambiciosos. A internacionalização de designers já começou. Orgulhosa, a presidente da ModaLisboa diz que “a importância do MOU (memorandum of understating) assinado por estas duas orga-
nizações é definitivamente um marco simbólico na vontade de em conjunto fazer mais e melhor na área da moda”. Da mesma forma, há uma aposta maior na internacionalização da própria Lisboa Fashion Week, convidando imprensa e designer internacionais, como Nadir Tati, Glória Coelho, Reinaldo Lourenço, e sem nunca esquecer os castings feitos no exterior. O caminho ainda é longo e não está perto de chegar ao fim. Mas aquilo que já foi feito, já foi motivo de distinção. Em 2018, Eduarda Abbondanza foi distinguida com a Medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal
de Lisboa: “foi uma honra! É o reconhecimento de uma estratégia e trabalho de continuidade. É um reconhecimento da cidade que eu escolhi para viver e trabalhar, e como tal é extremamente emocional”. É a mãe da moda portuguesa e nós, portugueses, estamos do seu trabalho. Marion C. Garrety escreveu que “o amor de mãe é o combustível que capacita o ser humano comum a fazer o impossível”. Estamos só a começar!
MODA PREPARA-SE PARA UM DESASTRE CHAMADO BREXIT
por Rita Castro
Tal como outros setores da economia britânica, também a moda teme a saída do Reino Unido da União Europeia
Na sequência da possível saída do Reino Unido da União Europeia, antes da abertura da Semana da Moda em Londres, Katharine Hamnett, designer britânica e também ativista política, criou camisolas, à venda na internet, com os slogans “Cancelem o Brexit” e “A moda odeia o Brexit”. De acordo com a designer, o Brexit será um desastre para a economia, a cultura, a educação, assim como relativamente a questões de empregabilidade, da sociedade, da segurança e da defesa. Na perspetiva de Katharine e da maioria dos profissionais deste setor, o Reino Unido deveria manter-se no bloco europeu.
A Semana da Moda de Londres, que decorreu entre 15 a 19 de Fevereiro, fica marcada este ano – para além das roupas, dos desfiles e do habitual misto de emoções – como aquela que poderá ser a última temporada. O principal fator
que leva a moda a temer o Brexit, diz respeito, principalmente, à submissão das relações económicas entre a União Europeia e o Reino Unido às regras estipuladas pela Organização Mundial do Comércio. Esta condição prejudicaria o dispositivo atual que permite a livre circulação de bens - os estilistas e criadores de moda, no geral, estariam limitados à falta de flexibilidade em trabalhar com países como Paris e Milão. Riccardo Tisci, diretor criativo da marca Burberry, apresentou a sua coleção num desfile onde expôs uma evidente crítica ao
Brexit. Assim como todos os desfiles que reconhecem a marca, este representa também o significado de ser britânico. Pela possível transição para o Brexit e com o Reino Unido como alvo de discussão mundial, Riccardo Tisci aproveita a temática e cria um desfile extremamente importante, focado na moda que procura questionar o contexto atual, e que valoriza também a moda que alcança o objetivo e marca o público. A entrada livre no museu Tate Modern onde decorreu o desfile, as roupas com pormenores da bandeira nacional do Reino
Unido e o cenário inteligentemente pensado, construído com grades metálicas em que jovens de várias etnias tentam escalá-las, constituíam uma possível crítica ao encerramento de fronteiras e à xenofobia contra refugiados. O diretor criativo da Burberry, acredita que os jovens têm cada vez mais dificuldade em expressar-se, principalmente, no contexto britânico atual. Numa perspetiva geral, a comunidade da moda defende que todos os intervenientes devem manter uma postura favorável relativamente a um novo referendo, para que seja possível impedir a rutura do Reino Unido com a União Europeia.
FASHION ALERT REFLEXÃO
365 dias para se destacarem em 3 a 4 dias de 6 em 6 meses, dando um total de 6 a 8 dias num ano… Mas o que está por de trás das semanas de moda? O que está por de trás coleções dos nossos designers? De que forma tentam eles comunicar connosco? Realmente são várias as perguntas que se pode fazer para além do que se vê. Fazer moda é um ato de coragem e, quiçá, um pouco de rebeldia. A Moda reflete uma mudança e isso pode inspirar a criação de uns como condicionar a expressão de outros. Moda não é só ver os desfiles e as propostas dos nossos designers, por exemplo a ModaLisboa que nos habituou desde sempre as suas performances e
as suas atividades para além da passerelle principal. É o caso das Fashion Talks, o lugar onde a moda é falada como ela mesmo é. “A moda é uma experiência per si, seja como apresentação ou como experiência do produto vestido ou da apresentação social que apresenta” assim se lê na apresentação desta edição da ModaLisboa. Não há muito mais a acrescentar neste primeiro dia de pura Moda, aqui pretende-se levar várias perspectivas de diversos campos disciplinares que juntos, desenvolvem a experiência de moda em várias plataformas ou contextos. SANGUE NOVO e BLOOM, aqueles nomes que qualquer um entende como força, garra de moda em várias plataformas
ou contextos. SANGUE NOVO e BLOOM, aqueles nomes que qualquer um entende como força, garra e determinação. Aqui… aqui é onde os nossos jovens designers podem brilhar e sonhar… navegar num oceano só deles, um lugar onde o que importa é provar que são bons no que fazem. Hoje em dia a moda chega a todos, mas o mais complicado é o desafio que estes designers enfrentam edição para edição. Trabalhar a assinatura individual, a sua própria marca, criar um percurso de uma carreira… É este o papel das plataformas “de divulgação de novos talentos e valores emergentes.” A moda, assim como a arte em geral, sempre foram usadas como uma eficaz arma de
N reação, em que, através de determinadas opções estéticas se podem fazer manifestações ideológicas. Um mundo em constante agitação, numa indústria saturada… São várias a notícias que nos invadem as redes sociais, são várias as polémicas que assistimos durante as várias horas que consumimos os nossos dados móveis ou mesmo o wi-fi de casa, cafés ou mesmo do trabalho. Podemos dizer que estamos diante de uma nova maneira de pensar e criar. Temos visto as revoltas contra a utilização de peles, do excesso de plástico nos oceanos e agora, mais do que nunca falamos sobre a sustentabilidade, de modo a aumentar a consciencialização e abraçando o público pouco a pouco.
É necessário mostrar a quem produz e a quem consome, que a moda está a evoluir ou até mesmo a autocriticar-se… e isso, alguns dos nossos designers conseguiram provar nas suas propostas de Outono/Inverno... Vivemos num fashion alert constante. Um “movimento” que vem no “seguimento da preocupação que a indústria da moda tem revelado relativamente à sustentabilidade das suas atividades e produtos, com resultados substantivos na redução do respetivo impacto ambiental” como podemos ler no comunicado de imprensa da 44º edição do Portugal Fashion. Uma era de ambiguidades e de “salve-se quem puder”, de que forma podem os designers
salvar o nosso planeta? Serão eles os super-hérois? Ou seremos nós, consumidores? Fazer e vestir moda de autor é a prova que uma luta é possível. Como conseguem os nossos designers combater as marcas de fast fashion? Como conseguimos nós, consumidores, combater as marcas de fast fashion? Sendo a moda, um ato de coragem, que reflete uma mudança. Está na hora de consumir... mais cultura e perceber o que estamos a fazer... e como estamos a criar? De verdade que vale tudo? Este é um texto sem respostas, um artigo para pudermos debater o presente e o futuro...
CARLOS GIL “sempre fui acolhido não só com carinho, mas também com amor porque é assim que eu gosto que me tratem”
por Mara Craveiro
Carlos Gil nasceu em Nampula no final da década de 60, formou-se em design de moda em Portugal e em 1998 inaugura o seu primeiro atelier no Fundão. Poucos anos depois surge a sua primeira loja em nome próprio – CARLOS GIL. As suas criações procuram capturar a beleza em diferentes formas com peças impactantes e de grande qualidade, a distinção e a elegância
são os adjetivos que marcam as coleções deste criador. Em 2009 a marca Carlos Gil apresenta-se pela primeira vez no Portugal Fashion, e capta de imediato a atenção da indústria da moda. A sua representação em eventos de moda nacionais é ampliada em 2014 com a participação na MODALISBOA Legacy onde apresenta a sua primeira linha.
O designer começa por confessar que a sua última coleção tem como inspiração a pintura, “eu sou uma pessoa muito ligada às artes e gosto”. Considera a coleção profunda, pois descreve-a como “uma pincelada com movimentos um pouco até confusos, mas que depois se tornam muito harmoniosos. “Harmoniosos através da sensibilidade dos sentimentos”. As pinceladas
existentes no “print” começaram com o estudo que vai do cubismo ao abstrato, e têm cor e formas que se unem, acrescenta Carlos Gil, enfatizando a importância que dá aos pequenos pormenores. Confidencia que vê a mulher muito simples, mas sempre muito requintada e confortável, “é uma imagem que eu já estou habituado que é o requinte associado à elegância, mas nunca me dissocio do conforto”. Admite que para um longo percurso na moda é necessário mudar. “Tudo muda constantemente e não é só a moda que muda, todos nós mudamos e às vezes é preciso ter algum jogo de cintura”, considera também
que é necessário “algum sentido no saber dizer sim e saber dizer não na hora certa para que as coisas possam acontecer com harmonia e com bastante sensatez”. Carlos Gil afirma ser muito bem-recebido na MODALISBOA, “sempre fui acolhido não só com carinho, mas também com amor porque é assim que eu gosto que me tratem”. Acredita que havia razões para estar novamente presente na MODALISBOA, quando o seu pedido para participar foi aceite, pelo Portugal Fashion, ficou bastante contente e orgulhoso por satisfazer as suas clientes de lisboa com um desfile já tanto esperado.
Em resposta ao que falta ao público para interpretar o trabalho de um designer termina por admitir que “ser se responsável daquilo que se fala e daquilo que se faz é muito complicado”, a cautela e a forma como queremos atuar tem de ser pensada, isto porque vivemos numa liberdade que só tem sentido se existir responsabilidade.
HAPPY BIR P R O D U Ç Ã O : FÁBIO SERNADAS, ANA MAGALHÃES F O T O G R A F I A : PEDRO AFONSO H A I R S T Y L E : PEDRO NETO M A K E - U P : MARIA SERRANO M O D E L O S : SYLWIA PLOCHOCKA - WE ARE MODELS XIAO D I Z H AO - K AR AC TE R AGE NC Y FR ANC I SCO FAR I A - K AR AC TE R AGE NC Y MA R L ON N I COL AU - E L I TE M OD E L S D E S I G N E R S : CARLOS GIL, MIGUEL VIEIRA, LUIS ONOFRE, NUNO BALTAZAR, GONÇALO PEIXOTO M A R C A S : MARCIANO, GUESS, ZARA JÓIAS: MONSEO E DIOGO DALOOZ OBRIGADO SHOWPRESS E UM ESPECIAL OBRIGADO À FÁTIMA SANTOS, SECRETÁRIA-GERAL DA AORP, POR NOS TER CEDIDO O ESPAÇO PARA FESTEJAR O NOSSO ANIVERSÁRIO
R THDAY TO US
DAVID FERREIRA
O designer em ascensão formou-se na universidade de Westminster em 2015. Foi neste seguimento que nasceu a sua marca homónima em Lisboa. David, no seu percurso, manteve contacto com Iris van Herpen, Giles Deacon e Meadham Kirchhoff, que ainda hoje são inspirações da marca. Caracteriza-se pelas suas propostas de “couture”, na criação de novas silhuetas femininas e pela simbiose do tradicional e moderno. Apenas com 4 anos, a marca já foi premiada pelo “VFILES Made Fashion”, em Nova Iorque, a setembro de 2015. Um ano depois, David Ferrei-
ra foi galardoado com o Merit Award atribuído pelo Fashion Scout em Londres e ainda arrecadou o prémio Les Etoiles Mercedes-Benz, em Paris. O jovem designer confessou à FAIRE que a estética desta coleção foi a fusão de todos os mundos que criam a marca “desde o fit ao oversized, do super volumoso ao no wearable”. Primeiramente, o processo de idealização da coleção “passa por começar a imaginar qual é o tema que eu quero e depois de ter muitos musos, muitos temas que eu queria representar”. Daí a abertura do desfile, David confessa que La Faieth foi a sua
musa e inspiração desta coleção e que por isso mesmo fez todo sentido a sua participação na passerelle. Quando questionado sobre a autodefinição da marca não hesita em explicar que é “Como revisitar todas as inspirações. Desde a arte, naquele tecido verde metalizado, que remete a pinturas que eu gosto... aos materiais mais inovadores, como por exemplo, o que eu já tinha trabalhado – cetim de metal e até um acrílico especial com que eu já tinha feito head pieces para a Vmagazine”. Acrescenta ainda que já tinha feito outros trabalhos com o mesmo mate-
rial, mas que não se limitou, pois, “em Portugal é too wearable”. É este o motivo pelo qual David se demonstra desanimado no mercado português. Sente que é preciso primeiro vingar no estrangeiro para se ser valorizado em Portugal. Partilhou as suas primeiras experiências enquanto jovem designer e confessa “tive designers que me criticaram a coleção por ter vestidos de lã e mais tarde as mesmas pessoas disseram “adoro, super génio”.
Porém, admite que a opinião de outros designers não o influenciaram. Argumenta que “nas minhas primeiras coleções não havia pulls em Portugal e depois quando começaram a existir em marcas internacionais, de repente a indústria portuguesa, aceita e parabeniza”.
Relativamente ao facto de as coleções terem sentido a apetência de diferentes mercados, David Ferreira explica de forma sucinta que “o meu mercado são pessoas bastante extravagantes, pessoas que não se auto rotulam com nada. Tenho clientes que me vêm buscar os chamados básicos, como tenho clientes que procuram peças que não são tão ‘wearable’. Acho que são pessoas que não se limitam ao que as outras peçam.” O atelier, em Lisboa, é o espaço
onde mostra as suas “skills” - a arte numa coleção que acha ser a sua estética - de muitas peças que cria são o produto final, e David apenas as reproduz, confessou à FAIRE. Quando questionado sobre os dogmas que ainda existem no público refere a dificuldade deste em filtrar opinião pessoal, de opinião estética sob uma coleção. Realça também a importância, enquanto designer, em acreditar nele próprio, bem como do público alvo da sua marca. David remata, revelando o que o move “se as pessoas vêm um desfile é para serem surpreendidas e para sonharem”.
“SE AS PESSOAS VÊM UM DESFILE É PARA SEREM SURPREENDIDAS E PARA SONHAREM”
Vizela, distrito de Braga, decorre o ano de 1987 e nasce Luís Carvalho. Hoje é já uma referência na moda nacional, vestindo personalidades dos mais diversos quadrantes. O seu percurso é curto, mas intenso. Vejamos, nasceu no Minho onde assume que o sonho da moda era difícil por duas razões: não vivia numa grande cidade como Lisboa ou Porto e a informação era pouca. O designer conta à FAIRE que o Minho “se torna mais desafiante e obriga-nos a fazer um esforço redobrado para alcançar os nossos sonhos, pois no meu tempo não tínhamos tanta informação e cultura ao nosso alcance”.
LUIS CARVALHO do Minho para o Mundo por Cristiano Teodoro
Formou-se em Design de Moda e Têxtil em 2009 no Instituto Politécnico de Castelo Branco. Desde então, parar é uma palavra que não entra no vocabulário do designer. Trabalhou na ModaLisboa e nos ateliês de Filipe Faísca e Ricardo Preto. Foi ainda designer na Salsa Jeans, até que em 2013 dá o grande passo. Nasce em nome próprio e desde então é presença nos desfiles da capital. Saltamos para 2014 onde abre na sua terra natal, Vizela, o primeiro espaço físico da marca. No mesmo espaço é loja e ateliê. Porque não em Lisboa? Por causa das origens. Diz-nos que escolheu “Vizela por vários motivos, porque é a minha cidade natal, porque estou na zona da indústria têxtil o que facilita no acesso a fornecedores e porque questões económicas, visto ser menos dispendioso, pois a mão de obra e o arrendamento é mais económico”. Mais um ano de sucesso foi 2017, onde recebeu o Globo de Ouro de Melhor Estilista e em 2018 apresentou a coleção “Eagle Eye”, em Paris, iniciando assim a internacionalização da marca.
É um sonho de todas as cores, traços e padrões. É atencioso ao detalhe e à elegância, mas sem esquecer os contrastes. A “Cherry” era o o ADN da marca, aos olhos do criador, mas a “Surface”, apresentada da ModaLisboa no passado mês de março, é a explosão aos argumentos apresentados. Baseada no trabalho do artista Matthieu Bourel, a mais recente coleção de Luís Carvalho é um misto de folhos, formas sobrepostas e com linhas orgânicas, com silhuetas oversize de linhas retas. As cores e padrões são os reis: xadrez, laranja, azul noite, roxo, rosa; em lã, seda e algodão.
Sair do canto de terra plantado junto ao mar sempre foi um dos objetivos da marca. O mercado português é pequeno e difícil de se sobreviver apenas aqui. O processo para o salto já está a ser dado e está a ser cada vez mais facilitado. Não só graças ao desfile de Paris, mas também a outras iniciativas que vai alimentando o que Luís chama de sonho: “uma pequena parte desse sonho já se concretizou, com a pequena apresentação no Showcase ModaPortugal, e agora com a presença no Showroom de vendas onde estou presente. Mas sem dúvida que o sonho mantém-se”.
Luís soma prémios internacionais. Diz-se assustado por perceber a dimensão da sua marca, porém orgulhoso: “encaro todos esses prémios com muito orgulho e como prova de que estou no bom caminho e a fazer um bom trabalho. Acabo por usar isso como incentivo para não desistir”, desabafa à FAIRE. Veste estrelas para espetáculos e para passadeiras. Quem não se lembra do vestido verde de Inês Castel-Branco nos Globos de Ouro 2018? Todos nos lembramos! Mas não sabíamos que foi desenhado em dez minutos. Depois de uma conversa entre ambos e de breves minutos, Inês teve a proposta. Mas nem
todas as ideias são criadas em dez minutos. A abertura e a relação entre ambos ajudou para que aquela obra prima da moda nacional fosse feita à velocidade da luz. Luís adianta “ela aprovou de imediato. Portanto posso dizer que foi um vestido à primeira, mas que muito raramente acontece, mas com a Inês acontece sempre, temos uma sintonia, não sei bem explicar”. O mesmo aconteceu com Conan Osiris no Festival da Canção em 2019: “Vestir o Conan, foi entusiasmante [...] foi mais simples porque ele já é um amigo de longa data. Vesti-o com muito orgulho, pois acredito muito no projeto dele e aquilo que ele representa”. Ainda sobre o meio artístico assume que ter vestido Ana Moura, Daniela Ruah e Silvia Alberto na Eurovisão foi fundamental para o crescimento da marca.
A moda atual é feita de desafios e Luís Carvalho está ciente dos desafios que a moda enfrenta. Encara a roupa “para todos” como um dos panoramas mais felizes da moda atual e um meio para mudar aspetos culturais e sociais da aldeia global. Aplica a teoria nas suas criações assumindo um papel ativo mudanças mas humilde pois sente que ainda não tem legado nos meios artístico e cultural portugueses: “acho que ainda sou muito novo para pensar nisso, mas para já diria que todos devemos sonhar e seguir os nosso sonhos”. SE O SONHO COMANDA A VIDA, LUÍS CARVALHO É O CAPITÃO. DO MINHO PARA O MUNDO.
SUSTENTÁVEL por Patrícia Dias
O que é a moda sustentável? Como criar uma marca sustentável? A crescente preocupação para com um planeta sustentável está a incentivar as marcas de moda a estarem tentas à pegada ecológica. Nazareth Collection e Cuscuz são duas marcas que se lançaram na low fashion e marcam a diferença pelo vestuário e acessórios eco- friendly.
A fast fashion tem vindo a ser alertada pelos inúmeros efeitos negativos da produção em massa para o planeta. Cada etapa de produção é altamente agressiva para com os recursos naturais. Atualmente, o consumidor procura cada vez mais produtos que sigam uma ideologia de consciência ecológica. E as marcas estão a dar conta disso mesmo.
A Cuscuz revelou à FAIRE que o segredo para a criação de uma marca sustentável passa, não só por pensar no produto, mas também na produção. Tudo o que englobe uma marca deverá ter em consideração os problemas ambientes, até mesmo o packaging.
Uma marca eco-friendly deverá estar pensada também à luz da sociedade e também da economia. Isto, pois, os produtos devem ser vendidos a um preço justo. De paletes desperdiçadas no lixo, a material doado por entidades do mobiliário, os óculos da Cuscuz são trabalhados através do processo de upcycling. Um método de produção que consiste na utilização de um objeto que está em fim de vida e mais tarde reutiliza-lo de forma criativa. Ainda havendo dúvidas sobre a produção dos acessórios, a marca esclareceu que “as pessoas acham que fazemos reciclagem, mas não. Na reciclagem acabam por ser utilizados produtos químicos e nós não usamos isso.” A marca surgiu com o desenvolvimento de um projeto na universidade, que posteriormente ,através da página de Facebook ,começou a crescer e surgiram colaborações com designers de moda. No ramo do vestuário, a Nazareth Collection é um caso de progressão sustentável. Primeiramente a marca não tinha uma produção sustentável, a marca revelou “que houve um caminho do poliéster para o algodão, do algodão à viscose e da viscose ao lyocel”- material que ainda hoje é utilizado nas peças.
DESTINA-SE A HOMENS E MULHERES E INCLUI VÁRIOS TIPOS DE PEÇAS DE VESTUÁRIO.
O lyocel, utilizado nas peças com caracter fotográfico, é uma fibra regenerada e feita de desperdícios da madeira. Para Nazareth a sua “qualidade é irrepreensível, uma malha muito boa e eco-friendly”. Recentemente, a empresa americana Guess lançou também uma nova coleção amiga do ambiente - “eco denim”. O objetivo da iniciativa é reduzir a pegada de carbono, através da redução de emissão de CO2 e poupança da água e energia, produzindo apenas com material 100% orgânico.
DOS OCEANOS PARA AS PASSERELLES por Ana Patrício
O plástico reciclado pode revolucionar o papel da moda e contribuir para a diminuição da poluição. NÃO HÁ DÚVIDAS, ESTE MATERIAL VEIO PARA FICAR! Não é apelado apenas no mundo ecológico, mas também no mundo da moda. O plástico destaca-se na passerelle, seja vinil, pvc, látex e é reconhecido como o futuro desta indústria. Se moda é sinónimo de identidade, o mote transforma-se. Este mundo é associado a ciclos, a recomeços, mas também à frescura e à felicidade. Por vezes ligado à futilidade e a um espaço recheado de bana-
lidades. Porém, a indústria da moda também assume um papel social. Expressa a realidade e serve como ferramenta para identificar necessidades subjacentes. Passa a aliar causas e ações socias. Reciclar, reduzir e reutilizar são as palavras de ordem, que estão na ribalta para algumas marcas nacionais e que optam por se focar em questões que aliam o luxo a um impacto positivo. Afinal a política dos 3 r’s também pode estar presente no mundo da moda.
O alerta é lançado. 8 milhões de toneladas de plástico presentes, anualmente, nos oceanos. Em 2050 estima-se que haja mais plástico do que peixes na água. Zouri, Pé de chumbo, Ircycle e Panareha são apenas exemplos de quem está com os olhos postos no futuro e procura seguir valores de sustentabilidade. Apostam nesta ideologia e apresentam a consciência ambiental como desafio. Apelam a ameaças do futuro e arrastam influências futuristas que agregam valores movidos pela consciencialização dos problemas patentes no planeta.
“ESCOLHAS CORRETAS, CONSEQUÊNCIAS FELIZES” Desde roupa ao calçado e acessórios, o plástico reciclado é o ponto em comum entre elas. Este material conseguiu entrar no hit das tendências nas últimas temporadas, e pode originar linhas eco. Sapatilhas e sandálias produzidos pelo plástico do fundo do mar reaproveitado, pode utilizar até 6 garrafas de plásticos. A designer Alexandra Oliveira, ao apresentar a coleção no Portugal Fashion deu especial enfoque ao plástico tornando
este material numa inspiração. Desfilaram casacos com fios reaproveitados, a partir de plástico no mar. Estar em moda é uma coisa, juntar-lhe a proteção ambiental é outra. Entre na tendência e ajude a reduzir a poluição do planeta. Escolhas corretas, consequências felizes.
COMÉRCIO TRADICIONAL O COMÉRCIO TRADICIONAL PORTUGUÊS DÁ VIDA ÀS CIDADES E MERECE SER VALORIZADO
PORTO GUITARRA | DESDE 2013
MENTES BRILHANTES | DESDE 2007
Ao explorar os muitos feitos da nossa cultura, apercebemo-nos que, entre eventos e ideologias, também se vai propagando um talento que não figura nos livros de história de forma tão proeminente. E para valorizar este talento, não basta lembrá-lo ou cantar as suas virtudes. É necessário resgatá-lo do esquecimento e perpetuar o seu conhecimento e técnicas através de um comércio de proximidade que imortaliza, com as novas gerações, as lições do passado.
Claro que também é essencial não descurar o futuro. Em São João da Madeira, a academia Mentes Brilhantes prepara os seus jovens para as novas realidades de ensino. Os óptimos resultados no apoio escolar e o entusiasmo com que os alunos frequentam esta academia validam perfeitamente a máxima de que as crianças são o futuro. Mas apesar da inovação em métodos de estudo, nem alunos, nem professores abdicam de papel e caneta.
A francesinha é talvez um dos pratos portuenses mais famosos. Nuno Moreira e Nuno Ricardo, clientes do Lado B no Porto, não resistiram a levar o conceito da marca para a sua cidade - Braga - após uma conversa com o proprietário da casa, Artur Ribeiro. A cidade dos bispos rapidamente aprendeu a valorizar o molho suave do Lado B, comprovado pela sala sempre cheia de apreciadores e entusiastas da famosa sandwich. Em Aveiro, se quisermos beber do saudosismo da beira-mar, não há como escapar ao licor de alguidar. Esta bebida, oferecida aos homens que partiam para a guerra, foi a inspiração para a marca Licor de Aveiro, que já goza de fama internacional, graças à conquista do primeiro e segundo lugar no XVIII Tasting Contest (concurso de provas) PRODEXPO, em Mos-
CASA MACÁRIO | DESDE 1913;
covo. A receita foi aprimorada com muita experimentação e é, sem dúvida, uma homenagem que valoriza as tradições enraizadas na cultura da beira-mar. A guitarra é talvez o instrumento musical com que Portugal mantém a relação mais intimista. Sempre presente nos nossos fados, dedilhada com ardor e emoção, é um símbolo incontornável da música portuguesa. Na Invicta, a sua apreciação é bem visível na loja Porto Guitarra, pousio de compositores, músicos e até de rostos famosos. O estabelecimento apresenta uma panóplia de escolhas para estas obras de arte com cordas e assegura sempre a personalização de acordo com as preferências de cada cliente.
LADO B BRAGA | DESDE 2917
Numa Lisboa de 1913, abria as portas na baixa a Casa Macário, uma loja que viria a tornar-se um verdadeiro baú dos tesouros para produtos portugueses de qualidade. O seu fundador, Macário Morais Ferreira, começou por produzir e comercializar café. Ao longo dos anos e de novos proprietários o estabelecimento foi adicionando outros produtos à sua oferta, tais como conservas, azeite e reservas vintage dos melhores vinhos do Porto. A preservação da Casa Macário representa não só uma valorização do próprio estabelecimento, como também dos produtos portugueses que povoam as prateleiras.
Qualquer negócio tem como objetivo o crescimento e o lucro. Alguns, porém, possuem algo mais, algo imensurável que se vislumbra no carinho com que se fala de uma receita ancestral, na história de um bisavô distante que com incansável dedicação conseguiu montar um negócio, ou simplesmente na simpatia com que se abrem diariamente as portas de um estabelecimento. No fundo são casas que valorizam algo e devem, por isso mesmo, também elas ser valorizadas. Se a cultura e costumes de um povo podem ser assimilados na sua história, então os negócios tradicionais são as páginas onde grande parte dessa história é escrita. É com certeza uma bela obra.
LICORES DE AVEIRO | DESDE 2015
AGENDA
CINEMA
LUGARES SAGRADOS Título original: Holy Lands Direção: Amanda Sthers Género: Drama Estreia: 11 de abril
AFTER Direção: Jenny Gage Género: Drama, Romance Estreia: 11 de abril
BESTA Título original: Beast Direção: Michael Pearce Género: Crime, Drama, Mistério Estreia: 4 de abril Uma problemática mulher que vive numa comunidade isolada vê-se dividida entre o controlo opressivo da sua família e o fascínio por um estranho suspeito de uma série de assassinatos brutais.
Baseado no romance de Anna Todd, o filme retrata a jornada de Tessa Young (Josephine Langford), uma jovem estudante com uma vida perfeita: ótimas notas, muitos amigos e um namorado doce. Com grandes ambições para o futuro, o seu mundo entra em colapso quando esta se apaixona pelo misterioso Hardin Scott (Hero Tiffin), um rebelde carismático com segredos sombrios que mudam o rumo da sua vida.
Harry Rosenmerck, um cardiologista reformado e judeu não praticante, larga toda a sua vida para se tornar criador de porcos em Nazaré, Israel. Enquanto isso, a sua ex-mulher e os filhos tentam prosseguir com as suas vidas em Nova Iorque.
GRETA - VIÚVA SOLITÁRIA Título original: Greta Direção: Neil Jordan Género: Drama e Mistério Frances (Chloë Grace Moretz), uma jovem cuja mãe morreu recentemente, um dia encontra uma mala perdida no metro e decide devolvê-la à dona, uma misteriosa e solitária viúva. O gesto cria uma improvável amizade entre ambas, até ao dia em que Frances descobre que a viúva poderá não ser o que aparente e acaba por trazer elementos sinistros à sua vida.
A MALDIÇÃO DA MULHER QUE CHORA Título original: The Curse of La Llorona Direção: Michael Chaves Género: Terror e Mistério Estreia: 18 de abril Após ignorar o misterioso aviso de uma mãe perturbada e suspeita do desaparecimento de duas crianças, uma assistente social e os seus próprios filhos são levados para um reino sobrenatural e assustador.
A QUEDA DO IMPÉRIO AMERICANO Título original: La Chute de l´empire Américain Direção: Denys Arcand Género: Comédia Estreia: 25 de abril Pierre-Paul Daoust (Alexandre Landry) é um homem de 36 anos, tímido e inseguro, doutorado em Filosofia, que se vê forçado a trabalhar como estafeta para conseguir viver decentemente. Um dia, acidentalmente, dá de caras com um assalto que corre terrivelmente mal e Pierre Paul é confrontado com um dilema: perante dois mortos e milhões em duas malas de dinheiro, que deve Paul fazer? Partir de mãos a abanar, ou agarrar no dinheiro e fugir?
AGENDA
EXPOSIÇÕES DE 1 A 28 DE ABRIL - EXPOSIÇÃO: ALBANO SANTOS| LIVRARIA LER DE DEVAGAR NA RUA RODRIGUES FARIA 103, LISBOA “Este projeto pretende ser uma reflexão sobre as frases de ordem dos murais e das manifestações de rua da Revolução de Abril. Sugere uma reinterpretação e atualização dessas frases de ordem, combinadas com frases de outras revoluções, de outras manifestações.” DE 2 A 26 DE ABRIL – PAUL MATHIEU| MAC MOVIMENTO DE ARTE CONTEMPORÂNEA NA RUA DO SUL AO RATO, 9C LISBOA “A pintura de Paul Mathieu adquire uma extraordinária dimensão para a consciência emocional, criando um mundo de expressão, movimento e visualidade, onde traços e cores se encontram numa suave harmonia. A cor é tratada como um jogo de acordes, em sucessões de ritmos intensos e tenazes que ecoam no olhar e na memória dum inconsciente esquecido, mas latente em todos nós.” DE 4 A 18 DE ABRIL - BIENNIAL OF CONTEMPORARY ARTS| TEATRO NACIONAL D. MARIA II, PRAÇA D. PEDRO IV – LISBOA “Na edição de 2019, a BoCA – Biennial of Contemporary Arts decorre simultaneamente nas cidades de Lisboa, Porto e Braga. A Bienal aposta numa sinergia entre territórios artísticos (artes performativas, artes visuais, performance e música), instituições culturais (teatros, museus, galerias e contemplando o espaço público) e respetivos públicos. Pelo segundo ano consecutivo, o D. Maria II volta a receber a bienal, depois de ter apresentado, em 2018, espetáculos de Romeo Castellucci e de Filipa Francisco e Pedro Tudela, a exposição Avantesma Fantasma e o projeto Videoteca BoCA.”
A 13 DE ABRIL - INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO STUDIOLO XXI - DESENHO E AFINIDADES |CENTRO DE ARTE E CULTURA DA FUNDAÇÃO EUGÉNIO DE ALMEIDA LARGO DO CONDE DE VILA FLOR – ÉVORA “Em ‘Studiolo XXI – desenho e afinidades’, os artistas conduzem-nos num exercício feliz. Uma caminhada estética é empreendida; traçam-se percursos quietos, onde a contemplação levite e a ação crítica se desencadeie. As obras expostas proporcionam intervalos para fruir a lentidão ou fugacidade, duração ou sofreguidão. Recupera-se o direito de se ver rodeado daquelas imagensdesenho-ideias que enchem o ânimo de lucidez.”
DE 7 A 8 ABRIL – PUNTO DE FUGA| MAAT - MUSEU DE ARTE ARQUITETURA E TECNOLOGIA, AV. BRASÍLIA Uma ação interdisciplinar, que consiste na realização de três performances em espaços abertos: na comunidade artística chilena Cidade Aberta (Valparaíso), no Estreito de Magalhães (entre os Oceanos Atlântico e Pacífico) e MAAT (Lisboa). Este projeto, que reequaciona questões sobre corpo-território, arquitetura, espaço público, história ou habitação, tem vindo a ser desenvolvido num entendimento alargado da noção de tempo – começou há dois anos – e da noção de espaço – começou no Chile e culmina no “transladar” para a sala oval do MAAT de uma série de performances e elementos visuais que unem os três territórios. O convite é experimentar o espaço público rompendo com os limites políticos ou físicos para entendê-lo como uma extensão que inclui a deslocação e a viagem como elementos integradores de realidades, que embora sejam fisicamente distantes, são corporalizados nele. O espaço público é então o lugar e o seu trânsito: passado e futuro. Um projeto artístico que celebra os 500 anos da viagem de circunavegação de Fernão de Magalhães.
DE 17 A 18 DE ABRIL – A VIAGEM INVERTIDA | TEATRO NACIONAL D. MARIA II PRAÇA D. PEDROIV - LISBOA A Viagem Invertida é a obra performativa mais complexa que Pedro Barateiro concebeu até à data. Pensada para o palco e construída a partir do texto, esculturas e um vídeo, que dão continuidade a algumas das questões levantadas anteriormente, a obra revela uma interpretação do próprio Pedro Barateiro, de Lula Pena, do bailarino Luís Guerra, e composição musical e interpretação de Raw Forest (Margarida Magalhães). DE 27 DE ABRIL A 19 DE MAIO - WORLD PRESS PHOTO- MUHNAC - MUSEU NACIONAL DE HISTÓRIA, NATURAL E DA CIÊNCIA RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA, 54-60 - LISBOA “O melhor do fotojornalismo mundial está de regresso a Lisboa, mais uma vez pela mão da revista Visão. De 27 de abril a 19 de maio, o antigo picadeiro do Colégio dos Nobres recebe a 62a edição do World Press Photo, que reúne as melhores imagens do jornalismo visual do ano passado. Os nomeados para os prémios nas várias categorias já foram anunciados e, este ano, a competição conta com uma nova categoria, que vai distinguir “As Histórias do Ano”. Mário Cruz, o fotógrafo português que conquistou o primeiro lugar do World Press Photo na categoria “Temas Contemporâneos” em 2016, volta a estar nomeado este ano. As imagens a concurso foram selecionadas por um júri independente, constituído por número igual de homens e mulheres e diferentes origens. Este ano, o júri avaliou 78.801 imagens captadas por 4.738 fotógrafos que concorreram ao prémio.”
A 6 DE ABRIL - UM OLHAR PARA A ARTE CONTEMPORÂNEA: TACITA DEAN | SERRALVES RUA D. JOÃO CASTRO 210 - PORTO “Versões e translações. Diálogo sobre o filme Antígona de Tacita Dean: repercussões dos clássicos na elaboração das memórias e respetivos eclipses.”
AGENDA
MÚSICA
JAMES 03 de abril no Coliseu do Porto e 04 de abril no Coliseu dos Recreios Com uma longa e bem-sucedida relação com os fãs portugueses, os James regressam ao Coliseu dos Recreios e do Porto este mês. Nome incontornável da cena musical britânica dos anos 90, o grupo fez parte do movimento britpop, que surgiu como resposta às bandas de inspiração grunge americanas.
DIOGO PIÇARRA 12 de abril no Capitólio, Lisboa Diogo Piçarra decidiu fazer uma pausa dos maiores palcos do País, os quais tem percorrido nos últimos 3 anos. Em 2019 vai apresentar-se ao vivo exclusivamente em auditórios, com a Tour Abrigo. O mote para esta tour exclusiva foi dado com o lançamento de “Abrigo”, um EP com 3 músicas inéditas que Diogo Piçarra lançou de surpresa, digitalmente, de onde foi extraído o single “Paraíso”, o qual, rapidamente, se tornou num dos seus maiores sucessos.
DINO D’SANTIAGO 20 de abril no Teatro das Figuras, Faro Dino D’Santiago lançou em 2018 o álbum Mundu Nôbu. Nascido em Portugal, criado em Quarteira, Dino D’Santiago encontrou a sua voz em Cabo Verde, criando uma sonoridade entre o funaná ao afro-house. O hino “Nova Lisboa” e “Nós Funaná” fazem parte do Mundu Nôbu do artista, que a crítica do PÚBLICO deu 4 estrelas ao disco. 2018 foi o ano de estreia do deste novo álbum de Dino D’Santiago, passando pela EuroVisão (edição realizada em Lisboa) cruzando as inspirações entre as várias culturas que o artista sempre admirou.
MUMFORD & SONS 25 de abril no Altice Arena Mumford & Sons anunciam a digressão mundial, Delta Tour, com passagem confirmada por Portugal na Altice Arena, num espetáculo inovador, com um palco no centro da sala. A digressão mundial de apresentação do novo álbum “Delta”, com lançamento dia 16 de novembro, conta com sessenta datas que passarão por treze países. Esta tour assinala ainda os dez anos desde a formação dos Mumford & Sons, formada por Ben Lovett, Marcus Mumford, Ted Dwane e Winston Marshall.
MIGUEL ARAÚJO 26 de abril no Theatro Circo, Braga “‘Casca de No’ serei eu sozinho no palco, à deriva por entre guitarras, ukeleles, um piano e as minhas canções, sujeitas à fragilidade e à força de poderem existir como quando nasceram. Ando sempre a sonhar com aquelas canções que, de tão imensas, possam caber dentro duma casca de noz.” São as palavras de Miguel Araújo sobre o espetáculo que chega dia 26 ao Theatro Circo, em Braga.
AGENDA
ARTE “HUMANO | A MÁQUINA” - 11 DE ABRIL, LEIRIA É no Teatro Miguel Franco o local onde aqueles que se interessarem poderão assistir a performance que mistura ilusionismo, psicologia e humor. O tema abordado tem como foco o próprio corpo humano e a maneira como o mesmo, por vezes, age sem que nós percebamos, assim como as máquinas.
“FESTIVAL ABRIL DANÇA EM COIMBRA” Desde 2016, Coimbra tem sido um dos grandes palcos da dança nacional desde a criação do Festival Abril Dança. Este ano iniciará no dia 4 e promete envolver toda a cidade e país através de diversos espetáculos como o A Perna Esquerda de Tchaikovski, apresentada pela Companhia Nacional de Bailado a Délicatesse, além de criações de Teresa Fabião e Francisco Campos.
“MARÉS – ESPETÁCULO DE RUA” - 6 E 7 DE ABRIL, AVEIRO As ruas de Aveiro prometem ficar cheias de cores e formas neste mês de abril. O Teatro e Marionetes de Mandrágoras convida a comunidade a juntar-se para o grande espetáculo, no qual desafiam a que sejam trabalhadas diferentes formas, cores e objectos. Serão realizadas oficinas e promete ser um espetáculo, literalmente, em comunidade.
“SOMBRA” – 3 E 4 DE ABRIL, FARO O espetáculo tem como tema principal a silhueta de objectos e pessoas formada a partir da sombra. Para além disso, a sombra pode também ser entendida como uma forma de proteção do nosso interior e um espaço de interpretação de sentimentos. Dirigido por Miguel Moreira com a colaboração de Maria Fonseca e produção ArQuente.
BIENAL BOCA – ATÉ 30 DE ABRIL, LISBOA, PORTO E BRAGA Este ano a Biennial of Contemporary Arts estará presente na capital portuguesa, assim como na cidade do Porto e Braga. A grande aposta é na junção e coexistência da arte performativa, com as artes visuais, música, performance, teatro, museus e galerias. Marina Abramovic é um dos grandes nomes que aparecem na programação da bienal uma vez que a sua instalação “Spirit House” será apresentada em Lisboa.
“FESTIVAL MOVIMENTE-SE” – 10,12 E 14 DE ABRIL, LISBOA O projeto de arte performativa Coletivo Movimente, estará presente no BUS e no Anjos 70 e reflete sobre a perspectiva de que, mesmo antes de a vida começar ou do ser humano ter a consciência da mesma, todos já estão a ser movimentar. A programação do primeiro dia de festival conta com a exposição fotográfica e vídeo dança de João Nunes e Luana Pedroso, no dia 12, Erich Santana e Luana Pedroso são os autores da performance DiaLugar e, no último dia de festival, Luana Pedroso e Sabrinne Cordeiro estarão com a sua performance Efeito Borboleta.
AGENDA
LITERATURA A HISTÓRIA DE UMA SERVA Margaret Atwood
Uma visão marcante da nossa sociedade radicalmente transformada por uma revolução teocrática. “A História de Uma Serva” tornou-se um dos livros mais influentes e mais lidos do nosso tempo. Extremistas religiosos de direita derrubaram o governo norteamericano e queimaram a Constituição. A América é agora Gileade, um estado policial e fundamentalista onde as mulheres férteis, conhecidas como Servas, são obrigadas a conceber filhos para a elite estéril. Defred é uma Serva na República de Gileade e acaba de ser transferida para a casa do enigmático Comandante e da sua ciumenta mulher. Pode ir uma vez por dia aos mercados, cujas tabuletas agora são imagens, porque as mulheres estão proibidas de ler. Tem de rezar para que o Comandante a engravide, já que, numa época de grande decréscimo do número de nascimentos, o valor de Defred reside na sua fertilidade, e o fracasso significa o exílio nas Colónias, perigosamente poluídas. Defred lembra-se de um tempo em que vivia com o marido e a filha e tinha um emprego, antes de perder tudo, incluindo o nome. Essas memórias misturam-se agora com ideias perigosas de rebelião e amor.
A MORTE DO COMENDADOR - LIVRO 2 Haruki Murakami
No fim do primeiro volume, a abertura secreta que conduz à câmara de pedra na floresta afigura-se um nadinha diferente, enquanto o artista, obrigado a pintar as famílias dos alemães nazis, dá mostras de evidente transtorno.E agora, pergunta o leitor? Pois bem, neste segundo volume, as personagens estreitam laços, mergulhando de cabeça na insondável trama engendrada por Murakami, e as Metáforas Duplas pedem meças às Ideias.Do alto (leia-se, superioridade) dos seus setenta e pouco centímetros, o Comendador faz alarde da proverbial sabedoria e prossegue com as suas diatribes.
A OUTRA MULHER Daniel Silva
Num lugarejo isolado da Andaluzia vive uma misteriosa mulher de nacionalidade francesa que começou a escrever umas memórias mais do que perigosas. É a história de um homem que em tempos amou em Beirute, e de um filho que lhe foi arrebatado em nome da traição. A mulher é a guardiã do segredo mais bem guardado pelo Kremlin: há décadas o KGB infiltrou um agente duplo em pleno coração do ocidente, um traidor que hoje se encontra à beira do poder absoluto. Só uma pessoa é capaz de pôr esta conspiração a nu: Gabriel Allon, o já lendário restaurador de arte e assassino que na atualidade exerce o cargo de diretor dos eficacíssimos serviços secretos israelitas.
NOBRE E PODEROSO
Madeline Hunter
Suspeito do assassinato do irmão, Lancelot (Lance) Hemingford, duque de Aylesbury, não vê outra solução senão o anonimato. Desgostoso, o jovem troca a vida rebelde de Londres pela quietude do campo. Mas assim que surge uma oportunidade de limpar o seu nome, ele não hesita. A única coisa que tem a fazer é propor casamento à sobrinha de um vizinho... Tarefa fácil e potencialmente interessante, pois Lance não resiste ao desafio de seduzir uma donzela relutante.Marianne Radley, que depende do tio para sobreviver, vê-se agora encurralada. A jovem não tem outra alternativa que não a de aceitar a mão de Lance. Mas Marianne tem um plano: tenciona descobrir os segredos mais sórdidos do futuro marido e expô-los ao mundo. Este seria, de facto, um plano infalível. Mas para o levar a bom termo, ela terá de ser totalmente imune aos encantos de um duque devasso... e encantador.
II
JUST.O O NOVO DENIM QUE VEIO PARA MARCAR A DIFERENÇA por Mara Craveiro
SÃO CALÇAS DE GANGA, SÃO PORTUGUESAS E TEM O NOME JUST. O, A PENSAR NO PÚBLICO QUE PROCURA O LUXO NO DENIM.
Pedro Tavares é o administrador da Just Fashion, empresa de distribuição de marcas internacionais de luxo e é neste seguimento que cria a sua própria marca juntamente com Paulo Santos, a pensar no mercado nacional e internacional. Apesar dos fornecedores serem internacionais, a produção é nacional, feita no Vale do Ave. “As pessoas têm condições de trabalho justas”, salvaguarda Pedro Tavares. “Queremos dar valor às pessoas que estão a fazer este produto por isso as etiquetas dizem people matters”, acrescenta Paulo Santos, justificando assim por que razão os modelos das calças têm nomes de pessoas. Há ainda uma outra preocupação com a igualdade de género, daí ter sido colocado um pequeno símbolo de igual (=), a vermelho, num dos bolsos das calças. “É uma marca de pessoas para pessoas”, sintetiza Pedro Tavares.
Uma outra mais valia desta marca são os materiais. O algodão Candiani com a certificação BCI (Better Cotton Initiative), o uso de peles exclusivamente provenientes da cadeia alimentar e a utilização de acessórios vindos de parceiros que partilham da mesma filosofia de trabalho, fazem parte da confeção de cada peça. Todos os elementos contribuem para a consolidação de uma marca portuguesa com uma identidade única. Os modelos propostos pela marca Just.O têm nomes próprios como Laura, Bonnie, Catarina e Cris para o público feminino e Mike, Peter e Rod para o masculino. Variam entre os mais justos aos mais largos, de cintura subida ou com dobras nos tornozelos em diversas cores como azul, cinzento, preto e caqui. A primeira coleção da marca criada pelo grupo Just Fashion inclui calças de ganga para homem as “JUST.O”, tal como a marca e para mulher as
“My Fair by JUST.O”. As calças para mulher custam 150 euros e para homem variam entre os 180 e os 200 euros. A JUST.O é um projeto desenvlvido pelo Grupo JUST Fashion. Com sede no Porto, a JUST Fashion fundada em 2004 é a empresa líder de mercado na distribuição e agenciamento de marcas de vestuário e acessórios de senhora, homem e criança de segmento premium. Elisabetta Franchi, Liu Jo, Iceberg, Ice Play, Daniele Alessandrini (homem) e Monnalisa (criança) são algumas das marcas de referência representadas pela JUST Fashion em Portugal. Com presença no mercado desde 2009, a JUST Fashion conta já com várias lojas físicas a nível nacional, nomeadamente JUST Ceuta no Porto, duas lojas Elisabetta Franchi em Lisboa e Porto, VYP no Porto, JUST Fashion Outlet no Porto
e Elisabetta Franchi Outlet no Freeport, com a abertura do showroom de Lisboa tiveram a oportunidade de expandir ainda mais o negócio. A Just.O é uma marca em ascensão que procura a autenticidade numa simples peça de roupa que são as calças de ganga.
por Mara Craveiro
O racismo na moda é um tema bastante explorado pelos mais atentos na matéria. É necessária uma prevenção por parte de cada marca de modo a não ofender outras culturas e uma maior participação do público para combater estes feitos racistas.
RACISMO
COMO ABORDAR O PROBLEMA DO RACISMO NA MODA?
A moda é imprevisível e podemos comprovar essa teoria com as diferentes atitudes que certas marcas tomam. É importante para o consumidor entender a mensagem que cada marca tenta transmitir, o que nem sempre se pode considerar positivo. Há cerca de um ano, surgiu uma das maiores polémicas no mundo da moda com a marca H&M que foi forçada a pedir desculpas publicamente depois de ter divulgado uma imagem promocional de uma criança negra vestida com uma camisola que dizia “o macaco mais fixe da selva”. No momento o erro foi inacreditável para o público o que fez com que a maioria acusasse a grande marca de roupa sueca de racista. Nas redes sociais, vários utilizadores partilharam a imagem da marca de roupa acompanhada de comentários negativos e de desaprovação. Nos últimos meses, são vários os exemplos de marcas de moda que ofendem a comunidade ne-
gra com roupas que favorecem imagens ofensivas e racistas. Não sendo a H&M a única culpada numa situação deste género, temos presente histórias como a Gucci que teve de cancelar a venda de camisola de lã que se parecia com uma “balaclava”, um gorro justo de
malha que cobre a cabeça até ao pescoço e deixa apenas à mostra os olhos e, por vezes, a boca e o nariz. O seu design foi criticado por se assemelhar ao “blackface” - uma forma de maquilhagem usada antigamente em teatros por atores que queriam representar pessoas afroamericanas. Numa carta aos fun-
cionários da Gucci, o designer Alessandro Michele expressou a dor de que um de seus projetos criativos era visto como “um insulto intolerável”. Este feito que não passou despercebido nas redes sociais levou a conta de instagram “Diet Prada” a fazer uma critica à marca em questão afirmando que “a moda não aprende com os seus erros”. Após o sucedido a cantora Katy Perry foi também persuadida a pedir desculpas publicamente depois de um par de sapatos da sua mais recente coleção atrair comparações semelhantes. “Fiquei triste quando percebi que estava a ser comparado a imagens dolorosas que lembram o ‘blackface’. A nossa intenção nunca foi infligir nenhuma
dor”, afirma Katy Perry. As criticas relativas ao racismo não param e mais um caso ocorreu, desta vez, a advogada Chinyere Ezie viu estatuetas e porta-chaves na montra da loja Prada em Soho, Nova York, que se assemelhavam a representações racistas de pessoas negras, com grandes lábios vermelhos e pele escura e expressou o seu desgosto pelas redes sociais, desde então, a marca Prada pediu desculpas a todo o público pelo sucedido. Contudo, não podemos dizer que não houve qualquer tipo de progresso no caso do racismo na moda. Por um lado, temos a Fenty Beauty, Virgil Abloh e Edward Enninful, que quebram status para consumidores e car-
gos de chefia na moda, mas por outro lado ainda temos uma história que é construída sob desrespeito. Uma das soluções para evitar este tipo de constrangimentos é existir um estudo de mercado por parte de cada empresa, de modo a refletirem melhor o tipo de clientes que têm para evitar imagens e slogans racistas. A indignação no mundo digital é, obviamente, um passo a ser dado, mas é preciso fazer mais para garantir uma representação cultural adequada no processo de design. É a representação, mas também a participação do público que irá criar mudanças duradouras dentro da indústria da moda.
MIGUEL FLOR Presidente do JĂşri Sangue Novo O mote dos jovens designers ĂŠ a vontade de aprender e experienciar.
A plataforma “Sangue Novo” é apenas um exemplo. Incorpora um espaço na MODALISBOA e dá a oportunidade a jovens designers mostrarem o seu trabalho e desempenho. A 51ª edição do MODALISBOA é marcada pela alteração das regras neste concurso. Acrescenta-se uma fase. Na primeira selecionam-se os dez designers portugueses e internacionais, dos quais são elegidos seis concorrentes para a fase seguinte. O presidente do Júri, Miguel Flor, em conversa com à FAIRE destaca de forma positiva o novo formato do concurso, pela possibilidade de observar o gradual crescimento por parte dos recrutados. Justifica que “evoluíram, porque tiveram tempo de maturar as ideias, que tinham no passado. Essa maturação, esse transporte e essa viagem, mostram o que transportam na bagagem de seis meses atrás fez com que também trouxessem algo mais interessante”. Na fase final competiram Archie Dickens, Carolina Raquel, Frederico Protto, Opiar, Rita Carvalho e The Co.Re com a apresentação das suas coleções Outono/Inverno 19/20. Os critérios para a seleção do vencedor, não se regem apenas no que é apresentado. Miguel Flor enfatiza que “qualidade, individualidade, conceptualidade, obviamente, todos estes fatores são importantes num concurso de design de moda”, no entanto distingue outros parâmetros que são tidos em conta. “Interessou-nos não só as coleções, mas também conversarmos com eles, percebermos
o que eles pretendiam a seguir a isto, quando ganhassem o prémio.” Desta forma, defende que as respostas também tinham um peso na validação do percurso dos jovens designers. Quando se fala em arriscar, o presidente do júri prefere não evocar esta expressão. Defende que “é mais uma questão de experimentar, de trazer algo novo, de brincar com a moda em si ou não. Por exemplo, o caso do Frederico é um acaso muito particular, porque ele foge literalmente do sistema, e por isso destaca-se nesse sentido. Há várias linguagens, várias for-
mas de estar, várias formas de expressão.” Carolina Raquel foi o nome eleito para receber o título de melhor designer nacional no concurso Sangue Novo. Recebe a oportunidade de frequentar um Master Fashion Design, em Florença com uma bolsa de 5000 euros. Emergente no mundo da moda, Miguel Flor evidencia a importância desta jovem neste patamar pela expressão “plástica” e “contemporânea” que apresenta.
O STREETWEAR
NAS MARCAS DE LUXO É oficial, as marcas de luxo assumem o estilo streetwear nas suas coleções. 2018 foi o ano de transformar a moda contemporânea e refletir os gostos dos mais jovens. por Rita Castro Streetwear é um estilo casual que surge entre os anos 80 e 90 através da cultura do surf e do skate e tornou-se uma grande influência pelas peças de roupa desportivas, ligadas ao hip-hop e ao punk. Adidas e Nike são exemplos de marcas que reconhecem o estilo, assim como Champion, Carhartt e Timberland que, na altura, estavam associadas, particularmente, a grupos musicais de hip-hop. Atualmente, as marcas de luxo tradicionais demonstram estar a
par dos novos hábitos de consumo, e procuram, através da originalidade e identidade do street style, criar roupas e calçado que revelem mais personalidade.
marcas luxuosas admitem ter adotado o streetwear nas suas coleções com o objetivo de assumir uma postura mais jovem e ousada, dando especial destaque ao conforto.
Louis Vuitton, Balenciaga, Hermès, Armani, Prada e também Comme des Garçons, Chanel e Saint Laurent são algumas das marcas de referência que revelam a possibilidade de gostos antigos se refletirem no futuro. Muitos dos designers destas
As marcas sentiram a urgência de alterar o registo da moda contemporânea pela necessidade de seduzir o público mais jovem. As gerações Z e Millennial terão impulsionado esta transformação pela distinção no mercado da moda. Estas gera-
ções representam uma comunidade de novos consumidores que procuram, acima de tudo, autenticidade e irreverência. Neste sentido, a relação entre as marcas de luxo e o streetwear possibilitou parcerias, coleções cápsula e uma renovação do próprio estilo das marcas tradicionais. Muitas destas marcas mencionadas terão colaborado com outras que têm o street style como “imagem de marca”.
Ultimamente, as transformações no mundo da moda pela ascensão do streetwear permitem confirmar que as roupas são pensadas num estilo mais casual, inclusive em circunstâncias profissionais e mais influentes. O sexo feminino opta agora pelos sneakers - desta vez mais do que nunca – e as marcas inspiram-se no desporto e nas qualidades do estilo urbano, de modo a unir o conforto com a tecnologia.
Este estilo tem feito sucesso no mundo da moda, acabando por ser ele próprio uma tendência. Mas, ainda que as tendências sejam breves e temporárias, o streetwear permanecerá firme e íntegro como desde o seu surgimento.
B ELE Z A M A S CU LI N A
MAKE MAKE UP
UP
por Cristiano Teodoro
MAQUILHAGEM: todo um universo de sombras, lighters, bases, eyeliners, adorado por grande parte das senhoras deste mundo. Acontece que estamos em pleno século XXI e o paradigma está a mudar. Se pararmos para pensar, será que estamos a mudar para uma realidade em que os homens começam a usar os produtos, até aqui pertencentes ao quotidiano feminino? Ou será que está a mudar para um regresso ao passado? Quem não se lembra dos faraós egípcios e dos contornos no rosto? São (só) cerca de 10 mil anos de história. Certo é que a maquilhagem sempre foi utilizada por homens no meio artístico. Os atores nas novelas, nas peças de teatro, os artistas de palco. Bowie, Prince ou Keith Richards são exemplos de como a arte facial
é usada pelos homens no meio artístico. Recuando alguns séculos, nas cortes europeias dos séculos XVII e XVIII, a maquilhagem era sinónimo de estatuto socioeconómico. A grande mudança de paradigma está no consumo das massas. Apesar de ainda existir quem crê que a utilização de produtos de maquilhagem é uma ameaça à masculinidade, cada vez mais homens têm cuidados com o rosto. Pele limpa com produtos de limpeza específico, contorno de olhos para aliviar as olheiras e o cansaço, creme hidratante adaptado às peles de cada um, são dos cuidados básicos.
MAS PODEMOS SEMPRE IR MAIS LONGE. As marcas apostam nos produtos para o público masculino. Há, cada vez mais, marcas cujo target é o homem. A Makeup for Men UK é um desses casos e apontam três aspetos para a evolução dos cuidados masculinos: o crescimento da importância desses cuidados, o encaixe nos padrões de beleza estabelecidos pelos media e uma maior aceitação da maquilhagem. Em 2018, a Chanel lançou BOY, a primeira coleção da marca com produtos de beleza masculinos. As marcas mais tradicionais, isto é, que criavam maquilhagem para mulheres, têm assumido vários desafios na desconstrução de algumas ideias pré-concebidas.
Para além de assumirem que a maquilhagem é benéfica para alguns problemas de pele, o desafio de marketing e packaging é maior. As marcas apostam em cores neutras como o negro ou o azul para as embalagens e fazem algumas alterações no naming dos produtos: o eyeliner é guyliner, e a manscara é o substituto da máscara. Tudo para desmitificar o mito de que os homens não usam maquilhagem. Outro fator para a aceitação deste paradigma são as redes sociais. Youtubers, instagrammers, blogs, são aos milhares. O boom deu-se em 2013 quando a Cover Girl convidou James Charles para ser o rosto da marca. Manny Gutierrez foi cara da Maybelline.
Por terras lusas temos Paulo Morais. Não deu cara, mas já venceu um concurso da Yves Saint Laurent e é maquilhador de profissão. Pelo meio faz publicações no Youtube e Instagram. Para além de considerar as redes sociais “a” ferramenta que ajuda a uma maior divulgação deste fenómeno, Paulo tem as suas ideias bem vincadas sobre o assunto.
A MAQUILHAGEM É MITO? Não, “a maquilhagem já não é um bicho de sete cabeças para muitos homens. A maior parte do género masculino nas grandes cidades, usam maquilhagem”, conta à FAIRE. O maquilhador diz ainda que os homens podem usar a maquilhagem que
quiserem e que “pode ser muito mais de que dois produtos (corretor de olheiras e pó matificante) e que não deixamos de ser mais homens por isso”. Termina com “a maquilhagem é para nos fazer sentir melhor, não há regras na maquilhagem e cada pessoa é livre de se maquilhar como quiser” assumindo que não há nenhum padrão. Tal como na moda, estamos a passar por transformações e processos de ambiguidade na maquilhagem. Cada vez mais, a ideia de “isto é para todos” é maior. Porque no fundo, somos todos iguais, até maquilhados.
A beauty routine de Paulo Morais Para além da esfoliação uma a duas vezes por semana e da aplicação de máscara consoante o estado da pele, Paulo tem um ritual diário de manhã e ao final do dia. Siga os passos: DE MANHÃ:
1. Lavar o rosto
com água e gel de limpeza e passar o tónico para neutralizar o PH da pele;
2. Colocar o
creme de contorno de olhos;
3. Passar creme
anti-aging e creme hidratante;
4. Finalizar
com um produto que tenha filtro solar;
5. Na maqui-
lhagem, aplicar um primer para uniformizar a textura da pele, um corretor de olheiras e pó compacto.
DE NOITE:
6. Lavar o rosto com
água e gel de limpeza e passar o tónico para neutralizar o PH da pele;
7. Colocar o cre-
me de contorno de olhos;
8. Passar creme
anti-aging e creme de rosto noturno.
B E LE Z A
COMO É QUE AS MARCAS DE MAQUILHAGEM ABORDAM A DIVERSIDADE? por Patrícia Dias
Os estereótipos de beleza estão em constante mutação. Caminha-se para a evolução e diversidade. Diferentes fisionomias, feições e etnias. A indústria da beleza, tal como o conhecemos hoje, tem demonstrado que está a par e passo para com as reali-
dades e afirmações do hoje. A diversidade está presente na aposta em modelos com rostos distintos, sem exclusão de etnias, género, e tons de pele. Quer tenham cabelo afro, trançado, curto ou quer sejam carecas, há espaço para as distintas
as características. Os padrões de beleza estão a desaparecer e as marcas aceitam e recrutam as/os mais diferentes modelos. É neste panorama que as indústrias têm respondido com produtos inclusivos e adequados a diferentes tons de pele, tipos de
corpo e de cabelo. Prova disso é o sucesso de Adut Akech no atual mundo da moda ,um dos rostos mais requisitados para desfilar nas passerelles. A modelo sudanesa, que outrora foi refugiada, iniciou-se com a marca Saint Laurent, e hoje é exemplo de que que a cor de pele nesta indústria já não é uma barreira. Na última estação, Outono-Inverno 2018/2019, foi até o rosto da marca Chanel. No campo da estética, a artista de make-up, Kay Montano, revelou que noutros tempos era necessário ir a lojas de renome como a Charles Fox e a Scre-
enface para obter uma maquiagem profissional para cada tom de pele. Mas os factos apontam para que este panorama tenha mudado. As celebres marcas de make-up - MAC, a Make up Forever são exemplo da afirmação da diversidade nos produtos de beleza. Marcam a irreverência através do alargado espetro de tons de base, corretor, bronzer e blush. A mais recente empresa a afirmar-se do mesmo modo foi a linha de maquiagem de Rihanna, Fenty Beauty, que criou uma paleta com mais de 40 tons de base em 2017. A iniciativa foi tão bem recebida que rapida-
mente esgotou. Um fenómeno que levou a própria artista a explicar “As pessoas falam sobre o «efeito Fenty», mas para mim, não é uma tendência ou um efeito a curto prazo, é a vida real e a maneira como eu vejo o mundo. Não é sobre o número de tons, é sobre pessoas provenientes de todos os lugares”. Conseguimos por fim concluir que o mundo da maquilhagem está a progredir para a diversidade e ninguém é deixado de fora.
THE BIRKINBOY O Fashion Influencer sem rosto e sem história por Rita Castro
The BIRKINBOY, o nome pelo qual se apresenta o fashion influencer, surge quando o jovem sentiu a necessidade de criar uma identidade. Lembrou-se daquela que era a carteira que usava praticamente todos os dias, da marca Hermès, uma carteira prática e possível de usar em todas as situações: “Achei que faria sentido “The Birkinboy”, da mesma forma que a Birkin levava, na altura, todo o meu universo, assim o meu perfil iria conter grande parte desse meu universo também”. A ideia de criar uma página/ rede social dedicada, exclusivamente, à moda, começou por diversão. Posteriormente, foi ganhando uma dimensão maior e as oportunidades foram surgindo. Atualmente funciona como um excelente veículo de apresentação com um caráter mais profissional, não só representa a vertente da moda, como também está ligado a aspetos de lifestyle. O fashion influencer destaca os principais motivos que o levaram a adotar uma personagem sem rosto e sem história – “proteger a minha privacidade e preservar-me, muito por sugestão
dos meus pais e ter a possibilidade de expor peças e coleções especiais de elevada qualidade e prestígio, sendo por isso, necessário garantir a minha segurança através da descrição”. Com o decorrer dos acontecimentos, acabou por perceber que o “mistério” provocava curiosidade no público e que isso poderia ser usado a seu favor. Relativamente às principais influências e inspirações para o conteúdo que tem vindo a transmitir, o jovem influencer destaca Paris como um excelente “palco” de inspiração – “Basta sair à rua e rapidamente podemos ver pessoas com looks que resultam bem independente-
mente do estilo que escolhem. Qualquer esplanada, café, restaurante, teatro, livrarias, tem material excelente para analisar e consumir”. O Porto, acaba por ser também uma grande fonte de inspiração, tendo em conta que se tem vindo a tornar cada vez mais “cosmopolita”. A sua mais recente marca de jóias, da coleção TBOY COLLECTION, surge através de uma proposta da Elements Contemporary Jewellery. Dada a longa relação profissional e de amizade entre o fashion influencer e a
marca, nasce a possibilidade de desenvolver peças de qualidade e que estivessem ao alcance de um público mais alargado. A prata escurecida, o ouro e as esmeraldas foram os materiais escolhidos para esta primeira coleção. Segundo The BirkinBoy, não fazia sentido criar peças para um projeto com a Elements Comtemporary Jewellery com outros materiais que não fossem estes. A qualidade era um aspeto basilar na construção desta coleção, principalmente quando o objetivo era alcançar de uma forma assertiva vários públicos. Por um lado, conseguir chegar ao públi-
co que está habituado a comprar jóias de grandes marcas e que, dessa forma, estaria à espera de algo que superasse as expectativas. E por outro lado, dar a oportunidade a um público que até aprecia o universo de jóias, mas que não as consegue consumir com facilidade - “Queria que tivessem a experiência de luxo mesmo que fosse em peças de valor mais acessível”. Em relação à opção de pedras naturais, como esmeraldas e diamantes na sua coleção, esta preferência surge com a certeza de que estes materiais teriam a capacidade de transmitir a experiência que pretendia que os seus seguidores vivenciassem, tanto no momento da compra, como no uso de uma das suas jóias. A estrela como design exclusivo da sua marca remete para o caráter simbólico deste ícone – “A estrela tem muito significado para mim. Foi a primeira peça a ser desenvolvida. E penso que foi um bom ponto de saída, esta
que é também a coleção que deixa aberta uma porta para futuros desenvolvimentos”. No que diz respeito às principais expectativas para o futuro, The BirkinBoy pretende continuar a aprender e a aproveitar as oportunidades - “Espero um dia mais tarde poder fazer uma retrospetiva da minha vida e pensar que valeu a pena tudo o que vivi e aprendi. No fundo, se conseguir transmitir essa sensação, acho que me irei sentir bastante realizado”. Se tivesse de descrever a sua coleção numa única palavra, qual seria? FELIZ. Fui feliz a desenvolver, a apresenta-la e sou feliz quando a uso. Espero que as pessoas que usam as minhas jóias se sintam igual e que guardem memórias felizes dos momentos em que as usam. Talvez por esse motivo, o meu próximo passo seja a criação de “lucky charmes” que simbolizam momentos importantes.
III