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A FORMA COMO A AUTONOMIA É DESENVOLVIDA NA EDUCAÇÃO INFANTIL COM CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS Josefa Leandro da Silva¹, Silmara Fernandes Faria1, Ermelinda Barricelli² ¹ Alunas do curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Método de São Paulo (FAMESP). ² Doutora em Linguística Aplicada na linha de pesquisa Linguagem e Educação pela PUC-SP e professora do curso de Licenciatura em Pedagogia da FAMESP.
RESUMO A presente pesquisa bibliográfica e de campo, em caráter acadêmico tem como foco a descoberta de inovadoras possibilidades de trabalho pedagógica na educação infantil onde a contribuição dessas atividades proporcionadas pelos professores que propiciam a experiência para desenvolvimento e da autonomia, assim, a pesquisa apontará meios eficazes de se oportunizar aos alunos associando o ato do pensamento e o sentimento da criança que se expressa com autonomia e assimila os conhecimentos que constrói a sua realidade quanto está praticando alguma atividade lúdica. Palavras-chave: Educação Infantil. Autonomia. Heteronomia. Piaget
INTRODUÇÃO
Este trabalho nasceu do nosso interesse em descobrir e conhecer mais sobre o trabalho pedagógico voltado para a construção da autonomia das crianças na Educação Infantil que atende crianças de 0 a 3 anos de idade, compreendendo assim, suas fases e suas necessidades específicas de estímulos para que sejam autônomas. O objetivo é de contribuir e favorecer o trabalho pedagógico para o docente que atua com a Educação Infantil, com crianças de 0 a 3 anos de idade quanto ao desenvolvimento e autonomia. Considerando que na educação Infantil as atividades, conceitos e valores precisam ser trabalhados de forma lúdica para propiciar o crescimento e desenvolvimento das crianças, com foco nas possibilidades de construção significativas de conceitos, valores e aprendizagens. Nossa pesquisa de campo nos proporcionou conhecer os relatos de professores que atuam na Educação Básica, em especial Educação Infantil com
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crianças de 0 a 3 anos de idade, com relação ao trabalho para desenvolver a autonomia das crianças é que a pesquisa buscou colaborar com os estudos realizados por grandes pesquisadores sobre a contribuição do desenvolvimento da autonomia da criança. O que nos auxiliou na compreensão da prática docente para a realização desse trabalho pedagógico voltado para essa finalidade que é a nossa temática acerca da autonomia. Na pesquisa de campo utilizamos como instrumento de coleta de dados o questionário que foi utilizado com professores que atuam com a Educação Infantil voltadas para a nossa temática que é a autonomia, onde é analisado vários autores que sugerem sobre a prática do trabalho do desenvolvimento da autonomia. Assim, organizamos nosso artigo da seguinte forma, começamos com as discussões sobre a concepção de educação infantil no Brasil e como estão estruturadas as propostas de ensino para esse nível de Educação Escolar.
Aprendizagem na Educação Infantil
De acordo com Kramer (2004, p. 23) a globalização da economia mundial abre novas perspectivas à cooperação entre sociedades e indivíduos, implicando não somente em maior envolvimento em questões políticas e sociais, como também a necessidade intrínseca do reforço das identidades culturais e étnicas, na medida em que tal envolvimento determina maior interação entre grupos populacionais com características diferenciadas. Tais motivações e condicionalismos propiciaram a necessidade de se repensar o valor ético da construção da cidadania numa perspectiva democrática, com isso foi se formatando a Educação Infantil.
Essa afirmação nos mostra que nesse cenário de mudanças sociais e econômicas, a educação escolar pública se voltou para a compreensão da questão da creche como sendo um estabelecimento educativo e de cuidados às crianças com idade até os três anos. Conforme exista a necessidade desse sistema educativo em nosso país, a creche pode integrar-se à educação infantil e oferecer atendimento as crianças pequenas. No Brasil, as creches surgiram por volta de 1870, por motivos sociais e econômicos e por motivos políticos, para que as mães pudessem trabalhar fora, deixando seus filhos aos cuidados de alguém especializado, evitando,
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o abandono das crianças, para desse modo, engrossar as frentes de trabalho, como nos informa Kramer (2004, p. 34).
Para compreendermos o que se trata por aprendizagem na educação infantil, consideramos importante fazer um breve histórico do movimento que originou a educação infantil, como direito de todas as crianças. Entende-se a educação infantil, como um espaço acolhedor que objetiva o desenvolvimento integral das crianças que visa potencializar suas habilidades, assim são os objetivos da educação infantil, como mostra o RCNEI (1998, p. 22): Desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações; Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem estar.
E se tratando de Educação Infantil pública no Brasil, que atende crianças de 0 a 3 em CEIs (Centros de Educação Infantil) e de 4 a 5 anos em EMEIs (Escolas Municipais de Educação Infantil), são os professores que intervém no processo de construção do aluno com o auxilio da arte, da música, do movimento, entre outras áreas trabalhadas e estimuladas que é vista e sentida de maneiras diferentes pelo aluno (KRAMER, 2004). Assim, podemos observar e considerar que a criança valoriza mais o material que está utilizando, o processo (experiências, sensações, emoções) do que o resultado final, daí a grande necessidade do professor explorar concretamente com a criança essas situações. A criança deve ser estimulada a possibilidades, modo de manusear o lápis sobre a folha, pois esse é o início de sua expressão gráfica e, posteriormente, as levarão até as várias etapas de desenvolvimento e aprendizagem. Na escola de Educação Infantil tudo é trabalhado com foco no lúdico, ou seja, no imaginário e mundo das crianças, considerando que nessa situação, são trabalhadas atividades como: hora do conto, da música, do jogo, da brincadeira, da pintura e com foco no aprender e na aprendizagem significativa e na construção de sua autonomia (KRAMER, 2004). Assim, a Educação Infantil é uma importante etapa na vida de todas as crianças e é necessário ser criterioso frente às atitudes adotadas em meio ao
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processo de autonomia que é fundamental para sua aprendizagem, para que essa criança venha a agir sobre o meio em que está inserido de forma ativa e reflexiva. Nesta parte do artigo abordaremos o conceito de autonomia e aprendizagem na educação infantil para melhor clareza do que se objetiva por esse termo, através de pesquisas de autores renomados que no passado e no presente buscam compreender essa temática cientificamente. Nesse sentido, vários pesquisadores se voltaram para pesquisas cientificas sobre a aprendizagem e desenvolvimento nas crianças pequenas, para Piaget (1896-1980 apud WEISZ, 2010, pag.11), o desenvolvimento humano segue os seguintes estágios:
Estágio sensório-motor (do nascimento aos dois anos) - a criança desenvolve um conjunto de "esquemas de ação" sobre o objeto, que lhe permitem construir um conhecimento físico da realidade. Nesta etapa desenvolve o conceito de permanência do objeto, constrói esquemas sensório-motores e é capaz de fazer imitações, construindo representações mentais cada vez mais complexas. Estágio pré-operatório (dos dois aos seis anos) - a criança inicia a construção da relação de causa e efeito, bem como das simbolizações. É a chamada idade dos porquês e do faz-de-conta. Estágio operatório-concreto (dos sete aos onze anos) - a criança começa a construir conceitos através de estruturas lógicas, consolida a observação de quantidade e constrói o conceito de número. Seu pensamento, apesar de lógico, ainda está centrado nos conceitos do mundo físico, no qual as abstrações lógico-matemáticas são incipientes. Estágio operatório-formal (dos onze aos dezesseis anos) - fase em que o adolescente constrói o pensamento abstracto, conceitual, conseguindo ter em conta as hipóteses possíveis, os diferentes pontos de vista, e sendo capaz de pensar cientificamente.
Podemos observar que desse modo a criança, aprende construindo e reconstruindo o seu pensamento, através da assimilação e acomodação das suas estruturas que são construção do pensamento, essas mediações e intervenções, conforme afirma Piaget (1997). A conduta humana, conforme Weisz (2010) organiza-se em esquemas de ações ou de representações e são adquiridas e elaboradas pelo indivíduo a partir de sua experiência individual, que podem coordenar-se variavelmente em função de uma meta intencional e formar estruturas de conhecimento de diferentes níveis. A função que integra essas estruturas e sua mudança é a inteligência. Para Weisz (2010): Desenvolvimento inicial das coordenações e relações de ordem entre ações, início de diferenciação entre o próprio corpo e os objetos; aos 18 meses, mais ou menos, constituição da função simbólica (capacidade de
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representar um significado a partir de um significante). No estágio sensório motor o campo da inteligência aplica-se a situações e ações concretas (p. 35).
Assim, como desenvolve sua inteligência, progressivamente a criança vai se tornando autônoma em detrimento a heteronômia. Podemos compreender autonomia segundo Menin (1996) é mais fácil e cômodo ser heterônomo do que autônomo, então porque mudar, porque não deixamos a tradição prevalecer e nos conformamos com as condições do estágio convencional? As pessoas no mundo atual se queixam deveras vezes que tem de haver uma transformação social, relacionando às atrocidades que vivem a violência que o cercam, a pobreza, a situação de precariedade de muitas famílias brasileiras às imposições feitas pelos governantes (apesar do nosso sistema político ser democrático), acreditam que depois que o candidato é eleito, nada lhes restam a não ser acatar as regras impostas em favor à ordem, mesmo que tais continuem de uma maneira ou de outra os prejudicando. Conforme La Taille (1981, p. 39) A autonomia inicia-se quando as crianças intercambiam seus pontos de vista, iniciando assim, a construção de seus próprios valores ou até mesmo a compreensão dos já existentes. Dizemos crianças, pois uma relação entre iguais é muito mais propícia para a construção da autonomia do que relações entre desiguais. Isto porque. na maioria das vezes, na relação adulto-criança há proteção e mando, de uma parte e submissão e imitação, da outra, ou seja, uma relação de heteronímia. As crianças autônomas, após construírem as regras, fazem um uso racional e social das mesmas, sendo que estas são estabelecidas pelo consenso de todo o grupo.
Ou seja, a autonomia sendo trabalhada com as crianças com base no uso racional de suas ações e de suas consequências sobre a vida em sociedade, em família, em ambiente escolar, enfim, enquanto cidadãos todas as nossas ações terão um posicionamento racional, o que para os autores é educar com autonomia, reflexivo e racional. Nesse momento, observamos a ênfase para a ação reflexiva da autonomia como meio de ação consciente e tomada de decisão baseada em valores e consequências, onde é visível identificarmos duas condições e a decisão final é sempre do individuo em questão, que levará em consideração todas as suas experiências e vivencias.
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Piaget, ainda, argumenta que o desenvolvimento da moral das crianças é um processo em construção e que abrange em três fases, denominadas, conforme Araguaia (2010, p. 41):
Anomia (crianças até 5 anos): geralmente a moral não se coloca, com as normas de conduta sendo determinadas pelas necessidades básicas. Porém, quando as regras são obedecidas, são seguidas pelo hábito e não por uma consciência do que se é certo ou errado. Um bebê que chora até que seja alimentado é um exemplo dessa fase. Heteronomia (crianças até 9, 10 anos de idade): O certo é o cumprimento da regra e qualquer interpretação diferente desta não corresponde a uma atitude correta. Um homem pobre que roubou um remédio da farmácia para salvar a vida de sua esposa está tão errado quanto um outro que assassinou a esposa, seguindo o raciocínio heteronômico. Autonomia: legitimação das regras. O respeito a regras é gerado por meio de acordos mútuos. É a última fase do desenvolvimento da moral.
Ainda para Weisz (2010) a heteronímia (crianças até 9, 10 anos de idade) o certo é o cumprimento da regra e qualquer interpretação diferente desta não corresponde a uma atitude correta. Um homem pobre que roubou um remédio da farmácia para salvar a vida de sua esposa está tão errado quanto outro que assassinou a esposa, seguindo o raciocínio heteronômico, assim a autonomia que é a legitimação das regras. O respeito a regras é gerado por meio de acordos mútuos anda junto com a heteronímia que é a última fase do desenvolvimento da moral. Dessa maneira, professores e famílias, tendo conhecimento que as crianças e adolescentes se desenvolvem através de etapas e cada qual possui suas características, e que seguem fases mais ou menos parecidas quanto ao desenvolvimento moral e de autonomia, cabe ao educador compreender que há determinadas formas de lidar com diferentes situações e diferentes faixas etárias. Isto é uma realidade que nos grita a todo momento mas quando nos voltamos para a questão do desenvolvimento da autonomia na educação infantil, vimos que esse trabalho vai além de todas as dificuldades em termos de políticas públicas educacionais que encontramos, (KRAMER, 2004, p. 55)
Ainda para Menin (1996), a condição heterônoma, e numa sociedade na qual quem tem voz ativa é uma mísera parte da população para que a “massa” (o maior número de pessoas possíveis) seja ouvida numa dialética com os que têm
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maior poder é necessário que as reivindicações pelos direitos de todos sejam feitas com consciência, pensando no bem estar do coletivo. Na educação infantil, o que será possível através de discussões com as famílias e comunidade escolar, são as construções cooperativas, equilibradas na qual onde todos deverão ser ouvidos igualmente e isso só se dará com a consciência moral autônoma. Para Menin (1996, p. 23) o desenvolvimento da autonomia é resultado das relações pessoais entre indivíduos e o meio, a escola querendo ou não propicia essas relações em muitos casos mais na direção da heteronomia do que da autonomia. A educação social das crianças é de responsabilidade dos pais (da família), mas, também é dever do ambiente educacional propiciar situações que façam com que as crianças pequenas sigam em direção ao desenvolvimento autônomo.
Assim, podemos observar que com a intenção de disciplinar seu alunos com foco nos valores éticos e morais com conceitos bem definidos a escola tende a ser mais heterônoma, pois é na escola que se fortalecem a moral da obediência na escola, ou seja, as primeiras convivências fora do grupo familiar, de modo que a relação de mediação e constante diálogo entre professores e alunos; ainda o fato de que na escola se busca ensinar a moral como se fosse uma “matéria à parte”; a terceira mostrar aos alunos quanto aos privilegiando das atividades individuais que enriquecem a construção de aprendizagem e a quarta construir
regras com
“excesso de significado”, ou seja, dando a significância para eles na sua atuação social Nas relações professor-aluno vemos que a construção da autonomia na educação infantil tem objetivo transformador muito claramente evidenciado, através das ações diárias dos professores em proporcionar aos alunos, e novas descobertas que possam agregar valores a eles. As escolas e toda a sociedade confundem a educação moral como se fosse uma disciplina e como se pudessem utilizar-se do mesmo método que usam para ensinar
as
outras
matérias,
através
da
oralidade,
verbalização.
Assim,
compreendemos que deve ser a atuação e a mediação do professor de educação infantil. O sujeito autônomo que se busca formar desde a educação infantil, como é o foco do nosso trabalho, e que se deseja formar desde a educação infantil não é
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necessariamente um “vencedor” no sentido daquele que sai ganhando sempre, tão pouco o grande perfeito. Para Menin (1996, p. 26), se autonomia significa ser capaz de decidir obedecer a uma lei por entendêla necessária para si e para os outros, muitas vezes significa também perder vantagens pessoais, deixar de “levar vantagem”, por recusar-se a usar o outro como um simples meio por finalidade que não lhe diz respeito. Assim, a motivação para tornar-se autônomo ou para propiciar educação a outros nesse sentido não pode estar ligada a nenhuma promessa de êxito individual ou de um grupo restrito.
Então, nesse momento compreender que não se trata de uma criação ou construção de um ser, de um indivíduo que seja sempre ótimo em tudo e que leve vantagem em todas as suas ações, não é essa a autonomia que vamos destacar no trabalho. Ter autonomia e ser autônomo desde a educação infantil significa ter vontade própria base em suas vivências e experiências e não com base nos outros e ser competente e ativo para atuar de forma reflexiva e racional no mundo em que vive. Assim, compreendemos que na escola de educação infantil, ou seja, na creche que a criança terá acesso as suas primeiras oportunidades de se construir sua identidade autônoma e conquista suas primeiras aprendizagens adquire a linguagem, aprende a andar, forma o pensamento simbólico e se torna um ser sociável. Conforme Kramer (2004, p. 56), Na faixa de 0 a 3 anos, explorar o eixo identidade e autonomia envolve ajudar os pequenos a desenvolver o reconhecimento da própria imagem. O objetivo é que eles se identifiquem como seres únicos, com corpo, hábitos e preferências próprias. Ao mesmo tempo, é desejável que os bebês ganhem independência progressiva para tanto para realizar ações cotidianas, como brincar e se expressar por meio da linguagem, quanto para o cuidado com a higiene e a alimentação.
O caminho lúdico e prazeroso e também privilegiado para conseguir esse desenvolvimento é no espaço oportunizado pela educação infantil, “onde são as atividades de interação, que possibilitam a criação de vínculos afetivos e o aprendizado das regras para a vida em sociedade”, Kramer (2004, p. 56)
Desenvolvimento e Autonomia
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Conforme Rabello (2000, p. 12) Vygotsky em suas pesquisas sobre desenvolvimento e aprendizagem na educação infantil enfatizava o processo histórico-social e o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Para o teórico, o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo que ele denominou de mediação.
Assim, Vygotsky trouxe para a educação escolar e para a formação de um individuo com um olhar voltado para a reflexão das ações, uma nova perspectiva de olhar às crianças ao lado de colaboradores como Luria, Leontiev e Sakarov, entre outros. Para Menin (1996, p. 27), autonomia é um processo que permite à criança diminuir proporcionalmente a dependência do adulto e, em contrapartida, obter maior segurança em si mesma. À medida que a criança adquire capacidades que lhe permitem controle motor e verbal mais eficaz, verifica-se, da sua parte, uma crescente disponibilidade para explorar, descobrir e comunicar-se com o mundo ao seu redor, momento em que o termo autonomia ganha maior espaço em sua vida (apud ARAUJO, 1996, p.21).
Dessa maneira, o papel dos adultos e da escola na construção da autonomia dos seus filhos é também estimular meios de desenvolvimento e aprendizagem, garantindo que seja aos alunos significantes todas as ações tomadas pela escola em favor de promover a autonomia, Araújo (1996, p. 28). O teórico Vygotsky pretendia, conforme Rabello (2000, p. 13) afirma que uma abordagem que buscasse a síntese do homem como ser biológico, histórico e social. Ele sempre considerou o homem inserido na sociedade e, sendo assim, sua abordagem sempre foi orientada para os processos de desenvolvimento do ser humano com ênfase da dimensão sócio histórico e na interação do homem com o outro no espaço social. Sua abordagem sócio-interacionista buscava caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como as características humanas se formam ao longo da história do indivíduo. Então, é fundamental e influência e a interferência de modelos de indivíduos que se pretende formar de modo eficiente, a forma como a criança ultrapassa os diferentes desafios que se depara à medida que cresce. Valores devem ser
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trabalhados e pontuados aos alunos para que eles possam ter um parâmetro quanto ao que melhor lhe convém. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1996), identidade remete à ideia de distinção, uma marca de diferença entre as pessoas, a começar pelo nome, seguido de todas as características físicas, de modos de agir, de pensar e da história pessoal. Assim, construir a identidade e estimular a autonomia das crianças desde a educação infantil implica conhecer os próprios gostos e preferências e dominar habilidades e limites, sempre levando em conta a cultura, a sociedade, o ambiente e as pessoas com quem se convive. Esse autoconhecimento e esse levantamento de informações da clientela atendida pela unidade escolar começa no início da vida escolar ou seja, na educação infantil e segue até o seu fim, sempre na busca e na intenção de promover a autonomia como meio de ação reflexiva e consciente. De acordo com Araújo (1996, p. 37), mais do que auto cuidado e outros momentos que a criança conforme se desenvolve passa a executar como já mencionado anteriormente é necessário se voltar para a construção da identidade desse cidadão que se pretende que seja autônomo.
De que forma a autonomia é desenvolvida na educação infantil com crianças de 0 a 3 anos Para melhor compreensão da temática, abordaremos uma pesquisa realizada por Piaget e discutida por La Taille (1981). O processo de construção de estruturas mentais é obra do sujeito, obra esta que ninguém pode fazer por ele e cujos resultados traduzem as potencialidades nele inscritas, existe a necessidade de cooperação, de troca de pontos de vista entre pares para a busca de conhecimentos, seu conceito de abstração reflexiva não deixa de lembrar o trabalho do sábio que se eleva acima de seus semelhantes pela autoreflexão, reflexão esta, no entanto, somente possível a partir da ação sobre o mundo. Podemos analisar mais uma vez que a concepção mesmo que por autores diferentes, sobre autonomia na educação infantil, refere-se a questão da formação de um individuo reflexivo, capaz de saber de suas ações sobre o meio que o cerca,
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suas consequências e capaz de propor mudanças e planejar melhorias para a sua vida social, pessoal, intelectual, etc. Ainda de acordo com La Taille (1981) o segundo domínio, refere-se à função da razão. Para Piaget, a autonomia ocorre quando o indivíduo é capaz,· pela razão, construída segundo as estruturas Nuances do próprio sujeito, de se opor às autoridades. O "herói" piagetiano é, portanto, aquele que pode dizer "não'' quando o resto da sociedade, possível refém das tradições, diz "sim", contanto que este "não" seja fruto desta démarche intelectual ativa e não apenas decorrência de um ingênuo espírito de contradição. Assim, maiores são as possibilidades de sucesso no trabalho pedagógico de desenvolver a autonomia nas crianças pequenas de Educação Infantil, conduzindo a transição autonomia - heteronomia, encaminhando-se naturalmente para a sua própria autonomia moral e intelectual. PESQUISA DE CAMPO Objetivo Elaborou-se uma pesquisa de campo em forma de questionário, que será realizada em uma escola Municipal em Diadema, que atende crianças de 0 a 3 anos de idade (vide questionário) com o objetivo de mensurar conhecimentos e praticas dos docentes quanto a temática. Onde a intenção da pesquisa é de mensurar a consciência das professoras quanto as informações que elas tem quanto a autonomia das crianças e o trabalho realizado na sala de aula e difundido para toda a comunidade escolar. Metodologia Através do questionário e observação das ações para que tenhamos um enfoque do que se pensa pela teoria e o que as professores na lida diária com as crianças, entendem pela temática e como elas trabalham pedagogicamente essas questões, a fim, de obterem com êxito a autonomia dos alunos, que se inicia na Educação Infantil. Foram elaboradas as seguintes questões, O que você entende por autonomia? Você acredita que as crianças da creche são capazes de ser
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autônomas? Enquanto professor, quais são as atividades elaboradas para que as crianças construam a sua autonomia?
Sujeitos Professores, alunos e gestores de Educação Infantil, como demais envolvidos, como: funcionários diversos da escola, limpeza, portaria, cozinha e secretaria. Assim, as respostas dadas nos mostram de existe uma preocupação por parte do corpo docente em proporcionar ações de estimulam e desenvolvem a autonomia nessas crianças pequenas, com a intenção de formação de indivíduos reflexivos e ativos em seu ambiente de inserção, seja ela de qual esfera for: social, familiar, escolar, etc. Apresentando os resultados Elaborou-se uma pesquisa de campo em forma de questionário, que será realizada em uma escola Municipal em Diadema, também, com base na observação que fiz com a rotina escolar local que atende crianças de 0 a 3 anos de idade (vide questionário) com o objetivo de mensurar conhecimentos e praticas dos docentes quanto a temática. Onde a intenção da pesquisa é de mensurar a consciência das professoras quanto as informações que elas tem quanto a autonomia das crianças e o trabalho realizado na sala de aula e difundido para toda a comunidade escolar. Através do questionário e observação das ações para que tenhamos um enfoque do que se pensa pela teoria e o que as professores na lida diária com as crianças, entendem pela temática e como elas trabalham pedagogicamente essas questões, a fim, de obterem com êxito a autonomia dos alunos, que se inicia na Educação Infantil. Foram elaboradas as seguintes questões, O que você entende por autonomia? Você acredita que as crianças da creche são capazes de ser autônomas? Enquanto professor, quais são as atividades elaboradas para que as crianças construam a sua autonomia?
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Tabela 01. Perfil das entrevistadas.
Entrevistadas Professora 1 Professora 2 Professora 3 Professora 4 Professora 5
Formação acadêmica Pedagogia Pedagogia Pedagogia Pedagogia Pedagogia
Nível de atuação Maternal Maternal Mini Grupo Mini Grupo Maternal
Quantidade de alunos 16 16 16 16 16
Fonte: Própria autora
As professoras dessa escola que foram entrevistadas possuem formação acadêmica em nível superior com licenciatura plena em Pedagogia, todas são professoras de Educação Infantil que atuam com alunos de 2 a 3 anos de idade. Todas elas são professoras efetivas pela rede Municipal de Educação do Município.
Tabela 2. Conceito de Autonomia. Entrevistadas
O que é Autonomia?
Exemplos
Brinquedo Atitude Saber compartilhar
Professora 4
Fazer escolhas Ação Resolução de Problemas Organização
Guardar Pertences
Professora 5
Ação e Consequências
Atitude e Reflexão
Professora 1 Professora 2 Professora 3
Ações e práticas em favor da construção da autonomia Cuidar Escolhas Expressão Organização dos Espaços Resolução de Problemáticas
Fonte: Própria autora
São elaborados projetos na unidade escolar com a intenção de se trabalhar valores e atitudes com os alunos, focando a questão da autonomia para as ações que
são
estimuladas
diariamente
nos espaços da
creche,
como
sendo
conhecedores de suas causas e consequências, sabedores de que desde muito cedo, as nossas ações e atitudes nos custa uma consequência. Que coincide exatamente com a idéia e concepção de autonomia de Piajet, onde o autor se volta para a questão reflexiva das ações e das questões racionais da ações desenvolvidas pelos alunos já na educação infantil, pois é exatamente
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nessa fase que se tem um posicionamento aberto as novas experiências e aprendizagens por parte das crianças. Para Jean Piaget (apud ARAGUAIA, 2010) a partir de observações minuciosas de seus próprios filhos e de várias outras crianças concluiu que estas, ao contrário do que se pensava na época, não pensam como os adultos: certas habilidades ainda não foram desenvolvidas. Para ele, os valores morais são construídos a partir da interação do sujeito com os diversos ambientes sociais e será durante a convivência diária, principalmente com o adulto, que ela irá construir seus valores, princípios e normas morais. Assim sendo, considerando todas as leituras e pesquisas realizadas até o momento chegamos a muitas conclusões, e sem duvida destacar que podemos que esse processo requer tempo.
Tabela 3. Estímulo Pedagógico a Construção da Autonomia. Entrevistadas Professora 1
Capacidade de ser Autônomas Não, elas são independentes.
Professora 2
Ainda não reconhecem consequências de seus atos
Professora 3
Resolução de Problemas com intervenção de adulto Sendo Organizadas e atenciosas
Professora 4
Professora 5
Alunos estimulados a serem autônomos são capazes de se expressar e sabedores de suas ações e consequências
Planejamento Rico em ações lúdicas voltadas para a realização de atividades que estimulam a autonomia Atividades voltadas para respeitar as regras Rotina Escolar clara e objetiva Planejamento com foco nas ações diárias dos alunos. Planejamento voltado para as literaturas que estimulam a tomada de decisão, a organização e a independência.
Parceria Escola e Família Nenhuma
Família prática o inverso do que lhe é orientado. Nem todas as famílias. Nem todas as famílias.
Sim, quando estimuladas a serem participativas e entendidas como parte importante desse processo.
Fonte: Própria autora
O que precisa estar claro para todos os envolvidos nesse processo é as interações aconteçam nos processos de organização interna e adaptação com as turmas para que de fato ocorra assimilação e acomodação quanto ao exercício da autonomia.
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Também, para as professoras se faz necessária uma formação pedagógica que as possibilitem compreender o que entende por autonomia para estimulá-las a serem no seu dia a dia na escola. Para Jean Piaget (apud ARAGUAIA, 2010, p. 35) os esquemas de assimilação se modificam de acordo com os estágios de desenvolvimento do indivíduo e consistem na tentativa destes em solucionar situações a partir de suas estruturas cognitivas e conhecimentos anteriores. Ao entrar em contato com a novidade, retiram dele informações consideradas relevantes e, a partir daí, há uma modificação na estrutura mental antiga para dominar o novo objeto de conhecimento, gerando o que Piaget denomina acomodação.
Podemos perceber que nessas preocupações e nessas ações docentes das professoras da escola acima citada, que a formação continuada dos professores sobre o desenvolvimento da criança faz a diferença na prática. Com base nas inúmeras pesquisas bibliográficas, pesquisas de campo de observação em sala de aula oportunizadas também pelo meu estagio, observo que o trabalho na educação infantil é rico em detalhes e grandioso em desenvolvimento.
CONSIDERAÇÕES
Dado o exposto, a iniciação do trabalho pedagógico de desenvolvimento da autonomia é algo a ser levado a serio em todos os seus momentos e etapas, para que de fato, tenhamos os resultados em formação de indivíduos reflexivos, ativos e capazes de saberem quais são as ações a serem tomadas e quais as consequências que virão a partir de então. Aprendemos e compreendemos que o tema vai além de simples ações como organização de pertences e manuseio deles, mas está voltado para uma ação racional de atitude e postura para toda a vida, onde o individuo a faça com total consciência e seja sabedor do que ele pretende com qualquer que seja a sua ação no meio em que está inserido. Assim, as respostas dadas nos mostraram que existe uma preocupação por parte do corpo docente em proporcionar ações que estimulem e desenvolvam a autonomia nessas crianças pequenas, com a intenção de formação de indivíduos reflexivos e ativos em seu ambiente de inserção, seja ela de qual esfera for: social, familiar, escolar, etc.
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