Acidentes de trabalho por exposicao a material biologico

CAMILA PINELLI

ACIDENTES DE TRABALHO POR EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO CONTAMINADO: UMA PESQUISA QUALITATIVA

FACULDADE MÉTODO DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2014

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CAMILA PINELLI

ACIDENTES DE TRABALHO POR EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO CONTAMINADO: UMA PESQUISA QUALITATIVA

Monografia apresentada à FAMESP para a obtenção do título de Especialista em Gestão em Saúde e Controle de Infecção.

Orientadora: Profa Dra Leonor de Castro Monteiro Loffredo

FACULDADE MÉTODO DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2014

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Pinelli, Camila P716a

Acidentes de trabalho por exposição a material biológico contaminado: Uma pesquisa qualitativa. [manuscrito] / Camila Pinelli.

36f.,enc.

Orientador: Leonor de Castro Monteiro Loffredo Monografia: Faculdade Método de São Paulo Bibliografia: f. 36 1.

Acidente de trabalho 2. Exposição à agentes biológicos 3. Pesquisa qualitativa I. Título CDU: (043.2)

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AGRADECIMENTOS

A todos os professores do MBA, em especial ao professor Antônio Tadeu Fernandes e à querida Maria Olivia Vaz Fernandes, sempre muito dedicados ao curso e aos alunos, e pela excelente qualidade do curso. À professora Thalita Gomes do Carmo, pelas correções do TCC dentro das normas da FAMESP e à bibliotecária da FAMESP, Sra Aiguil Maria Colleone de Freitas, pela elaboração da ficha catalográfica desta monografia.

À professora Leonor de Castro Monteiro Loffredo pela participação como orientadora, sempre minha mestre e amiga.

Aos colegas de MBA, especialmente à Regiane, Douglas, Silmara e Elaine, pela amizade e companheirismo, e pelos trabalhos que realizamos em grupo.

A Deus, a meus familiares e todas as pessoas importantes que puderam me ajudar na vida pessoal, para que eu pudesse viajar e me dedicar ao estudo em São Paulo.

À Direção da Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP, pelo apoio e autorização de meu afastamento para realização deste MBA.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo apoio financeiro (processos 2011/00941-4 and 2012/03735-9) e aos acadêmicos bolsistas FAPESP, Luis Fernando de Oliveira Gorla e Luis Felipe Garcia Leal Mouta, pela execução de parte desta pesquisa.

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RESUMO

A exposição ocupacional a sangue ou fluidos corporais é um problema comum entre estudantes de Odontologia e cirurgiões-dentistas (CDs) e subnotificação dos casos é alta. Este estudo interpretativo qualitativo teve como objetivo verificar as percepções acerca do acidente sofrido, bem como os procedimentos realizados pós-exposição ocupacional a material biológico contaminado, entre um grupo de estudantes de Odontologia e cirurgiões-dentistas. Este estudo transversal de amostragem por conveniência e do tipo não probabilística foi realizado na cidade de Araraquara-SP, Brasil, a qual possui o campus da Univ. Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho" (UNESP). Ao total, 25 estudantes do curso de Odontologia e 40 CDs participaram da pesquisa. Entrevistas qualitativas semi estruturadas foram realizadas individualmente e registradas em um gravador de voz. As respostas foram transcritas, tematicamente codificadas e analisadas através do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Entre os CDs, a percepção quanto ao risco ocupacional individual foi baixa. Houve imprudência na notificação e pouca preocupação quanto à rotina a ser praticada após o acidente. Entre os estudantes, o medo de contrair doenças foi frequente e relataram preocupação em realizar testes sanguíneos, após o contato com material biológico contaminado. No entanto, tal conhecimento não mostrou um impacto positivo no comportamento pós-exposição ocupacional, porque muitos alunos não notificaram seus acidentes.

Houve baixa conformidade com os protocolos a serem seguidos após acidente com material biológico contaminado e baixa notificação dos casos entre os profissionais e os estudantes de Odontologia e entre os motivos relacionados às crenças estavam a baixa percepção do risco ocupacional. Instituições oficiais, serviços públicos de saúde, associações de saúde ocupacional e universidades devem melhorar as estratégias de ensino para melhor alinhar as percepções de risco e nortear o processo de tomada de decisão, em relação à notificação de acidentes com risco biológico.

Palavras-chave: 1.acidentes de trabalho. 2.exposição a agentes biológicos. 3.pesquisa qualitativa.

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ABSTRACT

Occupational exposure to blood or body fluids is a common problem among dental students and Dental Health Care Workers (DHCW) and underreporting is high. This qualitative interpretive study aimed to compare experienced feelings and post-exposure procedures among dental students and DHCW with regards to their occupational injuries to biological material from patients. This cross sectional investigation was conducted in Araraquara city (222,036 inhabitants), Sao Paulo, Brazil. The city has a campus of the Univ. Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho" (UNESP) and among 40 dental students injured in 2012 at Araraquara Dental School (FOAr–UNESP), 25 voluntarily participated in the study. In the dental surgeon’s group who worked in Araraquara city, 324 professionals registered in the Federal Council of Dental Professionals (CRO-SP, Sao Paulo, Brazil) were invited to participate. It resulted in 40 DHCW participations. Semistructured qualitative interviews were individually administered and audio recorded. Responses were transcribed, thematically coded and analyzed using a qualitative approach, the Collective Subject Discourse (CSD). DHCW showed a low perception of their occupational risk. They were reckless to report their own injuries and showed little concern in relation to the established protocols. Undergraduate students were afraid of contracting bloodborne diseases and were concerned about having to take blood tests. Perforation and blood contact were cited as the most important injuries to notify to the health services. However, this knowledge did not show a positive impact in behavior, because many students did not notify their accidents. Knowledge and fear of contagion did not result in improved compliance with protocols and notification of injuries among dental students or DHCW. Official institutions, public health services, occupational health associations and universities must improve education strategies to better align perceptions of risk, judgments and decision making process in relation to the notification of accidents.

KEYWORDS: 1.accidents, occupational. 2.exposure to biological agents. 3.qualitative research.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 8

2. METODOLOGIA ...........................................................................................

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2.1. Coleta dos depoimentos ...................................................................... 11 2.2. Análise de dados .................................................................................. 12

3. RESULTADOS ................................................................................................ 14 3.3. GRUPO: Acadêmicos de Odontologia .............................................. 16 3.4. GRUPO: Cirurgiões-Dentistas ..........................................................

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4. DISCUSSÃO .................................................................................................... 26

5. CONCLUSÃO .................................................................................................

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INTRODUÇÃO

Em Odontologia, a natureza íntima entre dentista e paciente, a presença de sangue e saliva, a rotina do uso de instrumentos afiados e a frequente geração de aerossóis combinam para tornar o ambiente de trabalho do dentista em um local perigoso para a contaminação por infecções virais de transmissão sanguínea (Stewardson et al., 2002).

Por definição, as injúrias por perfurocortante envolvem desde o contato de pele não intacta, mucosa ocular, membrana mucosa ou contato parenteral (laceração ou punção com uma agulha ou outro instrumento afiado), com sangue ou outro material potencialmente infeccioso (saliva) – que ocorre quando do diagnóstico, tratamento de paciente ou quando lidando com moldes bucais sujos, aparelhos protéticos, bem como durante a disposição de agulhas ou outros instrumentos afiados (Wicker & Rabenau, 2010; Brozoski et al., 2010).

Estima-se que o risco de transmissão de infecção por meio de uma agulha contaminada é de 1:3 para Hepatite B, 1:30 para Hepatite C e 1:300 para o HIV (Godfre, 2001).

Embora o risco de uma transmissão do HIV seja geralmente inferior ao risco da transmissão das Hepatites B e C, a aquisição ocupacional do HIV representa uma séria consequência dos acidentes por perfurocortantes (Wiker & Rabenau, 2010; Garcia & Blank 2008). Soma-se ao fato de que os patógenos mencionados podem causar doenças com um período de incubação longo, e muitos trabalhadores da saúde podem ser portadores sem terem o conhecimento (Garcia & Blank, 2006).

Embora a transmissibilidade de patógenos como HBV, HCV e HIV parece no momento um evento raro em estabelecimentos odontológicos (Wicker & Rabenau, 2010), o risco ocupacional em se adquirir uma infecção por exposição a material biológico contaminado é real e depende da extensão da lesão, do volume do fluido biológico presente, das condições sistêmicas do profissional, das características dos microrganismos presentes, das condições clínicas do paciente-fonte e das condutas realizadas pós-exposição (Machado-Carvalhais et al., 2007; Brasil, 2000).

A maioria das injúrias é causada por agulhas de pequeno calibre ou por instrumentos compactos. Embora as medidas pós-exposição sejam claras e oficialmente recomendadas, principalmente para injúrias percutâneas, o que se vê na prática é o descaso com a

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notificação dos acidentes, impedindo acompanhamento do acidentado e potencializando o risco de transmissão (Tipple et al., 2004).

Estudos indicam que os acidentes de trabalho por perfurocortantes são mais frequentes entre acadêmicos de Odontologia do que entre os dentistas (Ramos-Gomez et al., 1997; Sofola et al., 22007; Younai et al., 2001; Wood et al., 2006; Machado Carvalhais et al., 2008; Wicker & Rabenau, 2010, Stewardson et al., 2002), fato atribuído a menor destreza manual dos alunos em formação. Estudo anterior (Wicker & Rabenau, 2010) verificou que as habilidades ocupacionais são um fator importante na ocorrência das injúrias por perfurocortantes, pois os acadêmicos de Odontologia tiveram quase duas vezes mais injúrias, quando comparado com os dentistas de mais de 10 anos de experiência clínica.

Entre os procedimentos do Ministério da Saúde do Brasil, em caso de exposição ocupacional a material biológico, é recomendado que se interrompa o atendimento, que se lave a área acidentada com água e sabão, que se pergunte ao paciente sobre doenças que seja portador, como AIDS, Hepatite B, Hepatite C ou doença sexualmente transmissível, se ele é usuário de drogas injetáveis e se ele aceita fornecer uma amostra de sangue para teste junto ao serviço de atendimento saúde, bem como é recomendado que se notifique o acidente e se realize exames sorológicos após a exposição e depois de seis meses, para descartar ou confirmar a aquisição ocupacional desses patógenos (Brasil, 2004b; Garcia & Blank, 2008). Entretanto, estima-se que 50% dos acidentes por perfurocortantes não são notificados (Niosh, 1999; Harris et al., 2010).

O acidente envolvendo material biológico pode trazer repercussões psicossociais ao profissional acidentado, levando a mudanças nas relações sociais, familiares e de trabalho.

Estudos sobre o acidente de trabalho com sangue e fluidos bucais desencadeiam no trabalhador exposto um processo de reflexão-ação, conduzindo-o a uma profunda visão de sua compreensão a respeito dessas injúrias (Sarquis & Felli, 2009). Embora os testes obrigatórios de pós-exposição dos profissionais de saúde sejam teoricamente simples, na prática, apresentam complexos dilemas morais, éticos e legais.

Entre os sentimentos negativos vivenciados estão preocupação e pânico, medo da contaminação, depressão, medo da morte, preocupação com a família, raiva e revolta, preconceito e discriminação, culpa, dor, preocupação com o paciente e nojo (Damasceno et al., 2006; Sarquis & Felli, 2009). Entre os pensamentos otimistas estão tranquilidade e segurança e apego à religiosidade (Damasceno et al., 2006). O relato dos cirurgiões-dentistas quanto à ocorrência dos

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acidentes por exposição a material biológico contaminado, bem como a investigação da percepção sobre os sentimentos vivenciados e sobre as medidas do pós-acidente são relevantes, de modo a determinar estratégias para melhorar o comportamento em saúde, quanto às medidas de prática segura no trabalho.

Assim, o objetivo deste estudo de cunho qualitativo foi comparar as percepções, os sentimentos vivenciados e as condutas do pós-acidente entre acadêmicos de Odontologia e Cirurgiões-Dentistas que haviam sofrido acidente com material biológico contaminado.

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METODOLOGIA

Tratou-se de uma pesquisa descritiva do tipo transversal, de amostragem por conveniência e do tipo não probabilística, com abordagem qualitativa, cuja participação era por voluntariado, realizada na cidade de Araraquara – SP, Brasil. O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa da FOAr-UNESP (protocolos 2/11 e 5/11).

Considerando o grupo de acadêmicos da Faculdade de Odontologia de Araraquara (FOAr-UNESP), dos 40 acidentados de 3o a 5o ano em 2012 por exposição a material biológico contaminado, 25 voluntários aceitaram participar da pesquisa.

Com relação ao grupo de cirurgiões-dentistas, apesar dos 324 profissionais cadastrados no município que foram convidados por meio de contato telefônico, apenas 40 desejaram colaborar com a pesquisa. Os dentistas que se negaram a participar relataram falta de tempo livre ou ainda recusaram ao ouvir que o tema da pesquisa seria sobre acidentes com material biológico contaminado. Embora isso tenha ocorrido, ressalta-se que os 40 participantes foram suficientes para a realização desta pesquisa, uma vez que o aspecto numérico da amostra final não é a preocupação fundamental das pesquisas qualitativas. (Crossley, 2004).

Com intuito de comparação dos resultados qualitativos entre os dois grupos, utilizou-se o roteiro de perguntas, a seguir: Q1 – “Você já sofreu algum acidente com material biológico contaminado?”

Q2 – “Como você se sentiu nessa hora?”

Q3 - Qual foi a primeira medida que você tomou após o acidente? Depois disso você fez mais alguma coisa?”

Coleta dos depoimentos

As entrevistas com os 25 voluntários acadêmicos foram realizadas no ambiente da Faculdade de Odontologia de Araraquara, individualmente, com horário previamente agendado pelo pesquisador entrevistador (LFGLM), e conduzidas em uma sala de descanso, com total

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privacidade e respeito aos participantes.

Para o grupo dos cirurgiões-dentistas, uma visita individual a cada consultório de cada um dos 40 participantes foi previamente agendada por telefone pelo pesquisador entrevistador (LFOG). Cada entrevista foi então conduzida no próprio ambiente do consultório (local de trabalho) e registrada em gravador de voz.

Os depoimentos de ambos os grupos investigados foram registrados em gravador de voz digital (SONY recorder, Model No. ICD-SX57, Sony Corporation, 2007). O conteúdo de áudio foi posteriormente transcrito em papel/computador, mantendo-se a fidedignidade do que foi relatado por cada entrevistado.

Análise de dados

Para o estudo qualitativo analisou-se as percepções dos sujeitos da pesquisa segundo a proposta de Lefèvre & Lefèvre (2003), denominada de Análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Esta proposta é realizada por meio de análise quali-quantitativa. Com auxílio do programa QUALIQUANTISOFT®, três figuras metodológicas são obtidas - ideias-centrais, expressões-chave e o DSC propriamente dito.

Foi realizada aprofundada leitura das falas individuais, resultantes da interpretação de cada uma das questões norteadoras de resposta. Em seguida, foram associados os conteúdos significativos (expressões-chaves - ECHs), presentes em cada construção discursiva de cada sujeito, às respectivas ideias-centrais (ICs). As ICs, compreendidas como figuras metodológicas, permitiram traduzir o essencial das falas explicitadas pelos sujeitos em seus depoimentos, sendo sintetizadas em categorias, de modo a expressar todas as ideias centrais de mesmo sentido. Por fim, agregaram-se as ECHs respectivas, de modo a formar um todo discursivo coerente. Para cada questão do roteiro de perguntas foram construídos tantos DSCs, quantas as ideias centrais sínteses que foram captadas das falas.

Nessa etapa foram eliminadas repetições de ideias, mas não da mesma ideia quando expressa de modo ou com palavras diferentes, ainda que semelhantes, para não alterar a originalidade do depoimento. Nessa construção do DSC foi utilizado todo o material das

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expressões-chave (ECHs). Para ligação entre as partes do discurso foram introduzidos apenas conectivos que proporcionassem coesão, tais como: assim, logo, enfim. Além disso, eliminaramse particularismos de sexo e idade e o sujeito verbal foi a 1a pessoa do singular, justamente para sugerir, durante a leitura, uma pessoa coletiva falando como se fosse um sujeito individual de discurso (Lefèvre & Lefèvre, 2003).

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RESULTADOS

Para a apresentação dos resultados qualitativos seguiu-se a sugestão de Lefèvre & Lefèvre (2003), colocando-se inicialmente um quadro síntese (Quadro 1), contendo cada pergunta do roteiro proposto, bem como as respectivas categorias.

O quadro 1 mostra as categorias obtidas em cada pergunta, segundo entrevistados acadêmicos: Grupo de entrevistados acadêmicos da FOAr-UNESP Pergunta 1 – Você já sofreu algum acidente com material biológico contaminado do paciente? Como foi que aconteceu?

Categoria A: Sim, com respingo ou contato de aerossol. (20%) Categoria B: Sim, durante a lavagem de material. (20%) Categoria C: Sim, manuseando o instrumental odontológico. (60%) Pergunta 2 – Como você se sentiu nessa hora?

Categoria A: Nervoso. (12%) Categoria B: Calmo. (20%) Categoria C: Senti medo de uma contaminação. (60%) Categoria D: Senti dúvida em ir falar com o professor. (4%) Categoria E: Senti uma frustração. (4%) Pergunta 3 – a) Qual foi a primeira medida que você tomou após o acidente?

Categoria A: Lavei os olhos. (16%) Categoria B: Lavei o local da perfuração. (56%) Categoria C: Procurei o professor. (24%) Categoria D: Terminei o procedimento e avisei o professor. (4%) Pergunta 3 – b) E depois disso, o que você fez?

Categoria A: Continuei o procedimento. (52%) Categoria B: Procurei atendimento no posto.(44%) Categoria C: Apenas preenchi a documentação. (4%)

Quadro 1: Quadro síntese dos DSC e categorias, segundo ideias centrais de 25 voluntários acadêmicos. Araraquara, 2012.

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O quadro 2, a seguir, mostra as categorias obtidas em cada pergunta, segundo cirurgiões-dentistas entrevistados:

Grupo de cirurgiões-dentistas entrevistados Pergunta 1 – Você já sofreu algum acidente com material biológico contaminado do paciente? Como foi que aconteceu?

Categoria A: Sim, tipo corte/perfuração ao manipular instrumentos no atendimento. (55%) Categoria B: Sim, ao lavar instrumental. (20%) Categoria C: Sim, tive contato de secreções com olhos. (5%) Categoria D: Contato com a boca. (2,5%) Categoria E: Sim, tive contato com pele íntegra. (17,5%) Pergunta 2 – Como você se sentiu nessa hora?

Categoria A: Senti receio/medo de contrair alguma doença. (50%) Categoria B: Não ficou preocupado com a situação por achar que não havia riscos. (30%) Categoria C: Se sentiu mal por ter deixado o acidente acontecer. (2,5%) Categoria D: Ficou nervoso com o ocorrido. (2,5%) Categoria E: Ficou momentaneamente preocupado, mas se tranquilizou por saber o que deveria fazer. (5%) Categoria F: Não ficou preocupado por conhecer o paciente pessoalmente, ou por nada ter sido relatado na anamnese. (10%) Pergunta 3 – a) Qual foi a primeira medida que você tomou após o acidente? b) E depois disso, o que você fez?

Categoria A: Não parou o atendimento. (12,5%) Categoria B: Não fez nada. (2,5%) Categoria C: Tirou a luva, lavou com água e sabão e repetiu a anamnese. (60%) Categoria D: Procurou serviço médico indicado após término do procedimento. (7,5%) Categoria E: Parou o atendimento e imediatamente procurou atendimento. (17,5%)

Quadro 2: Quadro síntese dos DSC e categorias, segundo ideias centrais de 40 cirurgiõesdentistas voluntários. Araraquara, 2012.

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A seguir, os relatórios da análise qualitativa, mostram cada questão com seus respectivos DSC, por categoria, segundo grupo de entrevistados.

GRUPO: Acadêmicos de Odontologia

PERGUNTA 1: Você já sofreu algum acidente com material biológico contaminado do paciente? Como foi que aconteceu?

Categoria A: Sim, com respingo ou contato com aerossol. (5/25) Entrevistados: E1;E5;E9;E15 e E17.

“Sim eu estava fazendo uma emergência e espirrou aerossol em meus olhos. Também estava fazendo uma restauração quando voou gotículas de saliva (...). Outra vez, eu estava fazendo uma profilaxia quando saliva caiu em meus olhos.”

Categoria B: Sim, durante a lavagem de material. (5/25) Entrevistados: E2;E4;E10;E11;E18.

“Durante a lavagem do meu material acabei me perfurando com uma tesoura de cirurgia.

Na hora que eu estava desrosqueando a capinha da minha seringa carpule, veio só ela, e então acabei me perfurando lá no expurgo. O meu material de periodontia rasgou minhas luvas e me perfurei. No expurgo, na hora que eu estava guardando meu material na caixa.”

Categoria C: Sim, manuseando o instrumental odontológico. (15/25) Entrevistados: E3; E6; E7; E8; E12; E13 ;E14;E16;E19;E20;E21;E22;E23;E24 e E25.

“Foi com instrumento de Endodontia, uma fresa na verdade, ela ficou engatada no baixa rotação. Eu levantei para pegar um material e quando eu voltei para sentar, a ponta fincou no meu braço. Virei com tudo para pegar o micromotor e acabei me perfurando. Eu fui desencapar uma agulha para irrigação acabei perfurando meu dedo (...) ela estava no potinho (cuba) e acabei nem vendo e me perfurei. Perfurei com uma agulha de sutura, na hora que

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estava suturando mesmo. Minha dupla jogou a agulha em cima das minhas mãos e acabou me perfurando. No meu caso, furei com sonda exploradora, ao retirar as amarrias dos dentes de meu paciente. Na verdade, minha auxiliar deixou a agulha anestesia desencapada e não vi, acabei me perfurando por culpa do material, que é muito fino. Foi durante uma raspagem, os materiais de periodontia são muito afiados. A fresa caiu no meu pé.”

PERGUNTA 2:Como você se sentiu nessa hora?

CATEGORIA A: Nervoso.(3/25) Entrevistados: E1; E2 e E8.

“Eu fiquei nervoso no momento do acidente. Fiquei desesperada e não tinha nenhum professor para me auxiliar no momento.”

CATEGORIA B: Calmo.(5/25) Entrevistados: E3,E7,E11,E13 e E17.

“No momento do acidente não fiquei nervosa, porque era um retratamento, só tinha saliva, então fiquei bem calma. Senti-me tranquilo porque o paciente estava lá e o professor também. Sem problemas.”

CATEGORIA C: Senti medo de uma contaminação.(15/25) Entrevistados: E4,E5,E6,E9,E10,E12,E14, E15,E16;E18;E19;E21;E22;E24 e E25.

“Senti desespero total, e fiquei com muito medo de eu estar contaminada. Tive muito medo de o paciente ter alguma doença grave e de ter me contaminado. No início fiquei muito preocupada, tensa na hora, mas depois tentei me acalmar, pois conversei com o professor e me tranqüilizei. O paciente tinha câncer. Nem tinha sangue nem nada, mas fiquei preocupada. Na hora pensei que estaria com alguma doença infectocontagiosa como AIDS ou Hepatite.”

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Categoria D: Senti dúvida em ir falar com o professor.(1/25) Entrevistado: E20.

“Na hora eu fiquei em dúvida na verdade, se falava ou não com o professor sobre meu acidente, resolvi falar.”

Categoria E: Senti uma frustração. (1/25) Entrevistado: E23.

“Fiquei muito frustrada por ter me perfurado, mas não fiquei tão preocupada porque foi com um material que entrou em contato com saliva e não sangue.”

PERGUNTA 3: a) Qual foi a primeira medida que você tomou após o acidente?

Categoria A: Lavei os olhos.(4/25) Entrevistados: E1,E9,E15 e E17.

“Lavei os olhos e só. Recoloquei meus óculos de proteção.”

Categoria B: Lavei o local da perfuração.(14/25) Entrevistados: E2,E3,E5,E6,E10,E12,E13,E16,E18,E21,E22,E23,E24 e E25.

“Tirei minha luva com sangue e a primeira coisa que eu fiz foi lavar minhas mãos com sabão enzimático e passar álcool. Fui direto para pia lavar minhas mãos. Depois fiz um curativo.”

Categoria C: Procurei o professor.(6/25) Entrevistados: E4,E8,E11,E14,E19 e E20.

“A primeira coisa que fiz foi falar com o professor para ver quais medidas iríamos tomar (...). Comecei a chorar e o professor foi me ajudar. Então, os professores me deram todo o formulário para eu preencher, pra gente ir ao posto de saúde.”

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Categoria D: Terminei o procedimento e avisei o professor.(1/25) Entrevistados:E7.

“Terminei o procedimento e só depois conversei com o professor do que realmente tinha ocorrido.”

PERGUNTA 3 b) E depois disso, o que você fez?

Categoria A: Continuei o procedimento.(13/25) Entrevistados: E1;E5;E8;E9;E12;E15;E16;E17;E18;E21;E22;E23 e E25.

“Não fiz nada, apenas continuei o procedimento. Conversei com o professor e com meu paciente e vimos que não tinha problema. Meu professor me tranquilizou. Fomos consultar a ficha do paciente para ver se ele relatava algum problema de saúde e como era um paciente conhecido vimos que não tinha problema, acabei por continuar. Coloquei luvas novas e eu e minha dupla continuamos atender. Não tive contato com nada, no máximo saliva. Então, deixei daquele jeito mesmo.”

Categoria B: Procurei atendimento no posto.(11/25) Entrevistados: E2,E3,E4,E6,E7,E10,E13,E14;E19;E20 e E24.

“Eu e o professor fizemos toda a documentação necessária e fomos realizar exames (...). A gente foi para o postinho, juntamente com o paciente, para realizar os testes rápidos de HIV. Assinamos todos os protocolos e fomos eu, o professor e o paciente. (...), depois no outro dia eu voltei sozinha para fazer os exames em mim.”

Categoria C: Apenas preenchi a documentação.(1/25) Entrevistado: E11.

“Informei ao meu paciente, e apenas preenchi a documentação. Não fui até o postinho realizar os exames.”

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GRUPO: Cirurgiões-Dentistas

PERGUNTA 1: Você já sofreu algum acidente com material biológico contaminado do paciente? Como foi que aconteceu?

Categoria A: Sim, tipo corte/perfuração ao manipular instrumentos no atendimento Entrevistados: E2, E3, E4, E5, E7, E8, E10, E11, E13, E17, E18, E20, E23, E24, E27, E28, E31, E32, E37, E38, E39, E40 (22/40).

“Eu tenho 25 anos de profissão, se em 25 anos alguém disser que nunca se perfurou, estará mentindo. Se você me perguntar quantas vezes, eu não vou nem me lembrar, mas eu já me furei sim, com agulhas de sutura e lima endodôntica. Em uma delas, eu estava fazendo um canal, um pré-molar, e sem perceber, acabei me perfurando. Isso ocorre frequentemente, em nossa profissão, estamos sempre sujeitos a isso. Foi perfuração com a agulha da carpule, e no momento da remoção da agulha e ao tentar reencapar, dei bobeira, virei e acabei espetando o dedo. No meu caso me perfurei com fio de aço, o que é comum com ortodontistas. Por mais cuidado que se tenha, o fio escapa e acaba perfurando a mão. Eu estava fazendo um procedimento clínico, a luva estava um pouco frouxa e a broca enroscou na luva e perfurou o meu dedo. Foi com instrumental periodontia, eu estava fazendo a raspagem, a cureta escapou e me perfurei. Eu estava fazendo uma cirurgia no hospital, e acabei me perfurando com a lâmina de uma serra, isto ocorreu mais de uma vez. No meu caso, eu estava fazendo uma exodontia de uma paciente que tinha hepatite B, e na hora da sutura, ela mexeu a cabeça e perfurei o dedo com a agulha do fio de sutura.”

Categoria B: Sim, ao lavar instrumental Entrevistados: E1, E9, E16, E22, E26, E29, E30, E34 (8/40) “Fui fazer força pra limpar ao lavar o instrumental. Mesmo calçada a luva, quando eu fui secar o material, uma lâmina de uma cureta cortou o dedo. Numa outra vez, eu estava

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retirando a resina com uma espátula 7, e eu furei o meu dedo. É comum! Eu manipulei a agulha e ao re-encapá-la, e me perfurei, mas aí tinha feito a anamnese do paciente, então fiquei mais tranquilo. E fui tirar uma fresa com o saca brocar, quando eu removi, não vi que o saca broca era furado e foi direto no meu dedo.”

Categoria C: Sim, tive contato de secreções com olhos Entrevistados: E6, E21 (2/40) “Voou sangue, saliva, com jato de água no olho, mesmo estando com óculos de proteção.

Em outro acidente espirrou partícula no olho, eu não tinha certeza se era da boca do paciente ou se era óleo do micromotor, só que neste caso, o paciente era HIV positivo, então eu tive que fazer todo o tratamento, porque na época eu só atendia paciente HIV positivo.”

Categoria D: Contato com a boca Entrevistado: E19 (1/40) “Eu estava fazendo projeto Rondon na Bahia, e a gente não usava nem mesmo luva naquele local. E eu tive um acidente numa extração de canino superior, em que o dente quando foi extraído, saiu voando e caiu dentro da minha boca. É uma situação extremamente desagradável, porque me senti péssima, eu estava em uma localidade muito pobre, nós não tínhamos absolutamente nenhum recurso e eu tive simplesmente que lavar a boca com água (...) a gente fazia atendimentos em escolas e qualquer lugar em que tivesse necessidade. Não tinha nada nem para esterilizar material muito menos para mim, não tinha recurso.”

Categoria E: Sim, tive contato com pele íntegra Entrevistados: E12, E14, E15, E25, E33, E35, E36 (7/40) “Sim. Já voou sangue e saliva na minha pele, espirrou em mim. Ocorreu quando estava fazendo extração ou raspagem com ultrassom, num outro procedimento periodontal, e também durante profilaxias com pasta de dentes.

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PERGUNTA 2: Como você se sentiu nessa hora?

Categoria A: Senti receio/medo de contrair alguma doença Entrevistados: E2, E3, E4, E5, E10, E11, E13, E14, E21, E23, E24, E25, E26, E27, E28, E29, E30, E31, E34, E38 (20/40) “Fiquei com medo, o medo de contrair alguma doença. Como não ficar? Você não sabe quem é o paciente que está ali, se tem doença, se não tem. Mas faz parte da minha profissão.

Eu também não tomava muito cuidado. Naquela época, há alguns anos atrás, não tinha ainda tanto essa orientação que tem hoje, os serviços hoje estão todos aí disponíveis, as informações também (...). A gente fica preocupado por causa das doenças atuais, porque a gente aprende na faculdade sobre os problemas. Mas, é um risco da profissão que infelizmente existe. Apesar de vacinado contra hepatite B, fiquei preocupado em contrair alguma outra doença, como a AIDS, sífilis. Interrompi o atendimento com delicadeza, e fui fazer uma higienização. Fui ao pronto socorro e eles falaram que estando de luva o acidente não tinha risco e fiquei mais tranquilo.”

Categoria B: Não ficou preocupado com a situação por achar que não havia riscos Entrevistados: E1, E7, E9, E15, E16, E18, E33, E35, E36, E37, E39, E40 (12/40) “Não foi agradável, mas não fiquei preocupado, nem tive nenhum receio. O índice de contaminação é muito pequeno estando paramentado. Se eu tomar os procedimentos corretos e avaliar o risco do paciente, não há preocupação. Sou vacinado contra Hepatite B e eu sei que o vírus da AIDS é frágil. Se eu ficar preocupado com todo acidente que ocorre, estou perdido. E também porque não foi uma coisa muito brutal, foi coisa bem pequena, mínima, então não teve risco não. Fiquei inseguro de ter uma contaminação e tal. Mas, depois passou, não aconteceu nada e tudo bem. Não tenho nenhum problema não, nem fico pensando muito nisso.”

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Categoria C: Se sentiu mal por ter deixado o acidente acontecer Entrevistado: E19 (1/40) “Eu me senti primeiro péssima por ter deixado um acidente desse tipo acontecer, e também porque a gente não tinha nenhum trabalho de proteção, não tínhamos luva, touca, máscara.

Não tinha nada.”

Categoria D: Ficou nervoso com o ocorrido Entrevistados: E20 (1/40) “Fiquei bem nervoso, a adrenalina sobe, você fica nervoso, tenta conversar com o paciente, e por ai vai, na verdade o certo era parar o atendimento e ter procurado um posto de saúde.”

Categoria E: Ficou momentaneamente preocupado, mas se tranquilizou por saber o que deveria fazer Entrevistados: E17, E32 (2/40) “Na hora fiquei preocupada, com muito medo, afinal, o paciente era HIV positivo. Mas, como já tinha acontecido e eu já sabia o procedimento correto a ser realizado, mantive a calma, terminei o que eu estava fazendo, passei pelo médico. Fizemos o protocolo que tem que fazer, tomei a medicação e fiz acompanhamento por 6 meses e não deu nada. Em outro caso, a paciente revelou ser portadora de hepatite B, e também apenas dei continuidade ao procedimento correto.”

Categoria F: Não ficou preocupado por conhecer o paciente pessoalmente, ou por nada ter sido relatado na anamnese.

Entrevistados: E6, E8, E12, E22 (4/40) “Eu me senti um pouco preocupado na hora, um pouco assustado. Mas, eu faço anamnese em todos os meus pacientes, o que é uma boa avaliação pré-operatória, apesar de não saber se eles estão realmente respondendo corretamente Nenhum dos pacientes tinha relatado doença. Eu conhecia o paciente e isso me tranquilizou de certa forma, pois eu sabia que ele gozava de boa saúde. Eu acho que a gente sabe mais ou menos quem são os nossos pacientes. E também foi uma exposição de sangue extremamente pequena.”

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PERGUNTA 3: O que você fez depois que ocorreu o acidente?

Categoria A: Não parou o atendimento Entrevistados: E12, E13, E24, E27, E35 (5/40) “Não interrompi o atendimento. No caso, eu apenas troquei a luva e continuei o atendimento. Após, procurei verificar o dano na pele, desinfetei a região e normal. Só depois de acabar é que fiz o descarte de todo material contaminado, lavagem da região com água e sabão e com iodo, depois passei álcool 70 na mão. Depois de algum tempo procurei o médico para realizar meus exames de rotina e não tinha acontecido nada.”

Categoria B: Não fez nada Entrevistado: E19 (1/40) “Eu simplesmente deixei passar em branco, não me preocupei muito com isso pois naquela época não tinha preocupação com acidentes de trabalho, levei na brincadeira e tudo bem, ficou por isso mesmo, não fiz nenhum exame. Claro que hoje faço os exames preventivos, exames de sangue. Eu trabalho com pacientes com HIV, então, de vez em quando tenho que fazer exame pra ver se eu não estou contaminada, pra não ter problema. Como não tenho e até hoje não tive nada, aquele acidente foi meramente um acidente de percurso.”

Categoria C: Tirou a luva, lavou com água e sabão e repetiu a anamnese.

Entrevistados: E1, E2, E4, E5, E6, E8, E9, E16, E18, E20, E34, E40, E23, E7, E10, E15, E22, E25, E33, E14, E26, E36, E37, E39 (24/40) “Tirei a luva, lavei com bastante água e sabão e passei álcool 70% para desinfetar o máximo possível a região que sofreu a contusão (...). Eu parei o atendimento, tirei a luva, comprimi a região que estava sangrando, para que o sangue saia e quando o sangramento parou, coloquei outra luva e continuei o atendimento. Não alerto o paciente, nada. Só que eu fiz foi interromper o atendimento e repetir a anamnese do paciente para eu ficar mais tranquilo. Então, fiz antissepsia de mãos como a gente faz uma antissepsia pré-cirúrgica,

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calcei outra luva e voltei a trabalhar. Eu tomei a decisão de não ir atrás do encaminhamento correto, mas por decisão minha.”

Categoria D: Procurou serviço médico indicado após término do procedimento.

Entrevistados: E3, E30, E32 (3/40) “No caso, o paciente já tinha ido embora e era um paciente bem confiável, mas mesmo assim eu entrei em contato com ele, telefonei. (...) ele me trouxe os exames dele que não indicavam nada, mas mesmo assim fui ao Serviço do SESA da cidade e realizei meus exames. Então, na hora terminei o que estava fazendo, suturei, e nós fomos até o SESA. No SESA, foi feito o teste rápido de HIV e depois eu fiz o teste para ver se a minha vacina estava ativa, e eu estava imune.”

Categoria E: Parou o atendimento e imediatamente procurou atendimento Entrevistado: E11, E17, E21, E28, E29, E31, E38 (7/40) “Já resolvi na hora. Saí de campo, lavei bem com água, água oxigenada, iodo. Na hora eu já colhi sangue do paciente, colhi o meu sangue, mandei para estudo, foi feito o teste rápido e vi que o paciente não tinha nenhum tipo de doença ou outro tipo de problema que eu pudesse ficar mais preocupado, se não começaria a tomar as medicações corretas pra resolver esse problema. Parei o atendimento e procurei o pronto-socorro pra ver quais medidas que nós deviríamos tomar. Fiz alguns exames e tomei uma injeção para validação da minha vacina contra hepatite B. Também foram realizados testes no paciente, e fomos dispensados, pois graças a Deus ele não tinha nada. A gente já sabia que era portadora de HIV, mas no caso, eu sabia que a carga viral dela tava zerada então já fiquei menos preocupado, e também devido ao fato do acidente não ter sido tão grave, já que a chance de contaminação no acidente de mucosa é bem menor do que acidente cortante. Então lavei com soro fisiológico e lavei o rosto com água e sabão. Fui procurar o SESA já no dia seguinte. Passei por todos os exames, tanto eu, quanto o paciente. Tomei a medicação fiz o acompanhamento de HIV hepatite C tal, dali 6 meses fiz de novo e não deu nada.”

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DISCUSSÃO

O estudo atual buscou investigar as percepções, sentimentos vivenciados e o conhecimento sobre o tema acidentes ocupacionais por exposição a material biológico contaminado, bem como sobre a notificação desses agravos, entre acadêmicos da FOAr-UNESP e cirurgiões-dentistas (CDs) do município de Araraquara – SP, Brasil, por meio da análise do Discurso do Sujeito Coletivo. Utilizou-se a metodologia de análise qualitativa, que é adequada para a compreensão da complexidade do comportamento humano e explora os comportamentos e experiências individuais numa tentativa de explicar o porquê essas experiências ocorrem (Thorne et al., 2004; Barrett & Randle, 2008).

Os acidentes ocupacionais com material biológico tradicionalmente têm sido investigados e descritos na literatura, quanto às taxas de incidência de exposição, indivíduo que sofre o acidente, tipo de exposição, local da injúria e tipo de instrumento utilizado, localização anatômica da injúria no trabalhador de saúde, estado vacinal, condição de imunidade contra a Hepatite B e estado de saúde do paciente fonte (Ramos-Gomez et al., 1997; Younai et al., 2001; Martins et al., 2010; Cuny et al., 2011; Gatto et al., 2013). Entretanto, pouco se sabe sobre a percepção e as crenças dos trabalhadores da saúde quanto aos próprios acidentes sofridos; a descoberta sobre essas percepções podem favorecer o ajuste entre as práticas de treinamento e ensino de forma a alinhar a percepção de risco, o comportamento, o julgamento e o processo de tomada de decisão em relação à notificação e acompanhamento do caso (Wood et al., 2006).

O presente estudo, ao explorar comparativamente os discursos mostrou que os acadêmicos de Odontologia apresentavam maior medo de contágio: “Senti desespero total, e fiquei com muito medo de eu estar contaminada.

Tive muito medo de o paciente ter alguma doença grave e de ter me contaminado. No início fiquei muito preocupada, tensa na hora, mas depois tentei me acalmar, pois conversei com o professor e me tranquilizei. O paciente tinha câncer. Nem tinha sangue nem nada, mas fiquei preocupada.

Na hora pensei que estaria com alguma doença infectocontagiosa como AIDS ou Hepatite.”

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Essa representação social sobre acidentes com material biológico é bastante frequente entre os diversos profissionais de saúde, principalmente após o advento da AIDS. Estudo anterior verificou que o risco biológico gerava medo e angústia entre os profissionais acidentados ou não (Murofuse et al., 2008). A literatura mostra que, no primeiro momento, as atenções estão centradas em uma possível contaminação com vírus HIV, HVB e HVC (Sarquis & Felli, 2009).

Por outro lado, os discursos dos cirurgiões dentistas, embora metade dos investigados tenha mostrado medo de contágio (Pergunta 2), os acidentes foram frequentemente percebidos como algo natural da profissão: “Eu tenho 25 anos de profissão e se em 25 anos alguém disser que nunca se perfurou, estará mentindo. Se você me perguntar quantas vezes, eu não vou nem me lembrar, mas eu já me furei sim, com agulhas de sutura e lima endodôntica. Em uma delas, eu estava fazendo um canal, um pré-molar, e sem perceber, acabei me perfurando. Isso ocorre frequentemente, em nossa profissão, estamos sempre sujeitos a isso.”

O significado do acidente para cada profissional está diretamente associado aos conceitos, valores, princípios de vida e conhecimentos do indivíduo sobre o assunto, ou seja, de acordo com sua percepção de todo contexto relacionado ao acidente (Damasceno et al. 2006).

Nesse âmbito surge talvez o resultado mais alarmante deste estudo, uma vez que 42,5 % dos entrevistados não apresentaram nenhum sentimento negativo, e lidaram com o ocorrido como se nada pudesse ocorrer: “Não foi agradável, mas não fiquei preocupado, nem tive nenhum receio. O índice de contaminação é muito pequeno estando paramentado. Se eu tomar os procedimentos corretos e avaliar o risco do paciente, não há preocupação.

Sou vacinado contra Hepatite B e eu sei que o vírus da AIDS é frágil. Se eu ficar preocupado com todo acidente que ocorre, estou perdido. E também porque não foi uma coisa muito brutal, foi coisa bem pequena, mínima, então não teve risco não. Fiquei inseguro de ter uma contaminação e tal. Mas, depois passou, não aconteceu nada e tudo bem. Não tenho nenhum problema não, nem fico pensando muito nisso.”

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Pode-se verificar pelo discurso acima que a baixa percepção do risco frente ao acidente com material biológico advém de uma sensação de controle do profissional sobre a paramentação apropriada, da existência prévia de imunidade pela vacinação contra Hepatite B, bem como sobre o tamanho do corte ser pequeno.

De acordo com a literatura, os indivíduos da área da saúde tendem a considerar os acidentes com materiais biológicos como algo corriqueiro, e se tornam indiferentes ao risco de contaminação (Figueiredo et al., 1999). Há discrepâncias entre conhecimento de protocolos e adoção de rotinas corretas pós-acidente (Garcia & Blank, 2006; Martins et al., 2010). O medo desses eventos acidentais declina com o passar dos anos, sendo algo subjetivo aplicado à interpretação individual, e parecem variar segundo o sexo, tendo o feminino mais responsabilidade sobre os acidentes (Wood et al., 2006).

Com relação aos procedimentos, logo após o acidente, os acadêmicos realizaram a higiene da área exposta e procuraram o professor para orientações. Quanto à higiene da área acidentada, pode-se notar uma crença incorreta de que o sabão enzimático deveria ser usado para higienizar as mãos. Possivelmente, eles se referiam ao termo “sabão degermante”, ao invés de “detergente enzimático”. Outro produto que foi bastante relatado para uso na injúria em pele foi o álcool. A representação social de que o álcool atua como desinfetante do ferimento é uma crença incorreta, porque os cuidados imediatos após as lesões percutâneas se resumem à lavagem exaustiva do local exposto com água e sabão. Nas exposições que atingem as mucosas, a recomendação é de que se lave exaustivamente com água ou solução fisiológica (Ramos-Gomez et al., 1997; Garcia & Blank., 2008). A recomendação do uso do álcool precisa ser mais bem trabalhada, por meio das estratégias educativas futuras, junto aos acadêmicos.

No que diz respeito ao grupo de cirurgiões-dentistas, a higiene das mãos com água e sabão foi relatada como a mais frequente, o que concorda com a literatura. Martins et al. em 2010, realizaram estudo sobre adesão a protocolo pós- exposição ocupacional de acidentes entre cirurgiões dentistas, e observaram que a grande maioria relatou lavar abundantemente o local com água e sabão após ferimento com instrumento perfurocortante. Porém, Lima et al. (2008) classificaram a atitude dos cirurgiões-dentistas e auxiliares como deficiente, uma vez que a conduta mais realizada é a lavagem do local (98,0%) e os cuidados mediatos são negligenciados.

Pode-se constatar que existem equívocos relacionados aos cuidados locais com o ferimento, em

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função de mitos e crenças anteriores, tais como o relatado da atitude de comprimir o tecido próximo à lesão “para que o sangue saísse”. Isso concorda com estudo anterior (Martins et al., 2010). A crença popular se sobrepõe ao conhecimento científico dos protocolos quando o ensino e o treinamento não foram suficientes para mudança de paradigmas.

A análise dos discursos mostrou que 13 em 25 acadêmicos continuaram atendendo o paciente, ou seja, a subnotificação foi muito frequente. Entre os cirurgiões-dentistas, o mesmo ocorreu, pois apenas 7 entre 40 entrevistados pararam o atendimento para ir ao serviço de saúde realizar exames. Os discursos a seguir mostram essa percepção sobre a ausência de cuidados pósacidente, em que se optou pela continuidade do atendimento odontológico: “Não interrompi o atendimento. No caso, eu apenas troquei a luva e continuei o atendimento. Após, procurei verificar o dano na pele, desinfetei a região e normal. Só depois de acabar é que fiz o descarte de todo material contaminado, lavagem da região com água e sabão e com iodo, depois passei álcool 70 na mão. Depois de algum tempo procurei o médico para realizar meus exames de rotina e não tinha acontecido nada.”

Ou:

“Eu simplesmente deixei passar em branco, não me preocupei muito

com isso pois naquela época não tinha preocupação com acidentes de trabalho, levei na brincadeira e tudo bem, ficou por isso mesmo, não fiz nenhum exame. Claro que hoje faço os exames preventivos, exames de sangue. Eu trabalho com pacientes com HIV, então, de vez em quando tenho que fazer exame pra ver se eu não estou contaminada, pra não ter problema.

Como não tenho e até hoje não tive nada, aquele acidente foi meramente um acidente de percurso.”

Ou ainda: “Tirei a luva, lavei com bastante água e sabão e passei álcool 70% para desinfetar o máximo possível a região que sofreu a contusão (...). Eu parei o atendimento, tirei a luva, comprimi a região que estava sangrando, para que o sangue saia e quando o sangramento parou, coloquei outra luva e continuei o atendimento. Não alerto o paciente, nada. Só que eu fiz foi interromper o atendimento e repetir a anamnese do paciente para eu ficar

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mais tranquilo. Então, fiz antissepsia de mãos como a gente faz uma antissepsia pré-cirúrgica, calcei outra luva e voltei a trabalhar. Eu tomei a decisão de não ir atrás do encaminhamento correto, mas por decisão minha.”

Garcia & Blank (2008) relataram que a notificação do acidente e a solicitação de exames para os pacientes foram os procedimentos menos adotados pelos cirurgiões-dentistas (3,1% para ambas as condutas). Porém, sabe-se que a notificação dos acidentes de trabalho é uma exigência legal e fornece dados relativos ao número, distribuição e características dos acidentes e das vítimas, constituindo uma base indispensável para indicação, aplicação e controle de medidas de prevenção (Martins et al., 2010; Cuny, 2011). Além disso, a prevenção é a principal e mais eficaz medida para evitar a transmissão ocupacional de doenças na prática odontológica (RamosGomez, 1997) uma vez que nenhuma medida pós-exposição é totalmente eficaz e não existe quimioprofilaxia para reduzir o risco de transmissão do HCV após exposição ocupacional.

Embora a literatura mostre que os acidentes de trabalho com sangue e fluidos bucais desencadeiem nos trabalhadores expostos um processo de reflexão-ação, conduzindo a uma profunda visão de sua compreensão a respeito dos acidentes de trabalho (Sarquis & Felli, 2009), há outros indivíduos que menosprezam tal acidente, por não terem a real consciência dos riscos envolvidos (Damasceno et al., 2006). Esse menosprezo pode ser observado no estudo atual, em situações relatadas como corte pequeno ou ter confiança na anamnese do paciente-fonte.

Numa comparação direta entre os dois grupos aqui investigados, houve certa semelhança quanto à baixa notificação dos acidentes. Tal comportamento de baixa adesão às recomendações pós-acidente, semelhantes nos dois grupos, sugere falhas durante a formação universitária, com reflexos na vida profissional do futuro egresso da Odontologia.

As Faculdades de Odontologia precisam investir mais esforços educativos e treinamentos, valorizando a área de controle de infecção para o aluno, exibindo modelos de comportamento a serem seguidos. É preciso que seja dada maior ênfase à relação entre epidemiologia das doenças infectocontagiosas em serviços de saúde e comportamentos inadequados dos profissionais, mudando a rotina de como os acidentes são vistos pela comunidade Odontológica. Há que se acrescentar o componente das ciências do comportamento e aumentar a percepção de risco ocupacional por meio da experiência prática, investindo no aluno

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como egresso. O monitoramento dos estudantes para verificar se estão tomando as medidas preventivas necessárias sem falhas também é muito importante (Gatto et al., 2013).

A Educação tem sempre sido parte integral do controle de infecção, porém um adequado conhecimento sobre precauções padrão não necessariamente prediz um comportamento apropriado (Pittet, 2004). Conhecimento, atitude, crenças e características individuais que influenciam o comportamento interagem no processo de tomada de decisão frente à ocorrência de acidente com material biológico. Há que se considerar que controle de infecção e a prevenção são essencialmente parte de uma ciência comportamental, com consideráveis variações segundo região geográfica do mundo, sendo influenciado pelas diferenças culturais (Borg, 2014).

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CONCLUSÃO

Considerando os acadêmicos de Odontologia, é preciso estabelecer estratégias de sensibilização e educação de toda a comunidade acadêmica, atribuindo maior peso aos desdobramentos indesejáveis que o acidente por exposição a material biológico contaminado pode causar. As estratégias de ensino e prevenção precisam ser reformuladas para atuar na mudança de paradigma, entre a comunidade acadêmica, em busca de maior uniformização, para ajudar a tornar o ambiente de trabalho mais seguro. A capacitação de toda a comunidade representa um novo desafio a ser vencido, para aumentar a sensibilização dos acadêmicos e professores para a importância da notificação das injúrias e para se implementar processos de avaliação da melhoria de desempenho para as condutas do pós-acidente. Quanto à percepção dos cirurgiões-dentistas a cerca dos acidentes por exposição a material biológico contaminado, significativa parte dos entrevistados não apresentavam sentimentos negativos após a ocorrência do acidente, revelando a baixa percepção dos riscos relacionados ao acidente. A educação continuada, por meio de campanhas apoiadas por instituições governamentais realizadas em ambiente de assistência à saúde bem como na universidade, são necessários. Prevenção é a medida mais efetiva para se evitar a transmissão de doenças de origem ocupacional nas práticas de assistência à saúde.

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