De que maneira a brincadeira se desenvolve na educação 1

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DE QUE MANEIRA A BRINCADEIRA SE DESENVOLVE NA EDUCAÇÃO INFANTIL? Maria Mileide Soares dos Santos, Noemia Santos Souza¹, ErmelindaBarricelli² ¹ Alunas do curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Método de São Paulo (FAMESP). ² Doutora em Linguística aplicada na linha de pesquisa Linguagem e Educação pela PUC/SP e professora do curso de Licenciatura em pedagogia da Faculdade Método de São Paulo (FAMESP).

RESUMO Este artigo teve o objetivo de verificar como os professores utilizam a brincadeira na Educação Infantil. Para isso utilizamos como base teórica autores que já possuem uma discussão neste campo e que descrevem que a brincadeira contribui de forma significativa para o desenvolvimento da criança na educação infantil como: Carvalho, Craidy, Kishimoto, Oliveira, Paniagua, Piaget, Saviani e Vygotsky. Realizamos uma pesquisa de campo de caráter qualitativo, com questionários constituídos de perguntas objetivas. Partimos da

hipótese de que por meio das brincadeiras a criança comunica-se consigo mesma e com o mundo onde está inserida, aprende a respeitar o outro, obedecer a comandos, estabelece relações com a sociedade, constrói conhecimento desenvolvendo-se integralmente. Nossa pesquisa nos mostrou que os professores possuem uma compreensão sobre a importância da brincadeira para o desenvolvimento infantil e utilizam-se das mesmas como instrumento pedagógico, como atividades favoráveis para o ensino e aprendizagem das crianças. Palavras-chaves: Brincadeira infantil. Educação infantil. Aprendizagem.

INTRODUÇÃO Este artigo nasceu de nosso interesse por investigar como a brincadeira contribui para o desenvolvimento infantil. A brincadeira desenvolve nas crianças aspectos básicos como: memorização, atenção, afetividade e socialização entre outros aspectos. Assim, o objetivo deste estudo é verificar como os professores utilizam as brincadeiras na Educação Infantil, pois, segundo os autores pesquisados, este é um período fundamental para a criança no que diz respeito ao seu desenvolvimento e aprendizagem de forma significativa. Para atingir esse objetivo utilizamos como aporte teórico autores como Carvalho, Craidy, Kishimoto, Oliveira, Paniagua, Piaget, Saviani e Vygotsky. De nossa pesquisa bibliográfica constatamos que o brincar é uma atividade específica da infância em que a criança recria a realidade usando sistemas


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simbólicos. É uma atividade humana criadora, na qual a imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão, de ação pelas crianças, possibilitando o surgimento de relações sociais com outras crianças e adultos, permitindo à criança vivenciar o lúdico e descobrir a si mesma, apreender a realidade, tornando-se capaz de desenvolver seu potencial criativo. É também colocado como um dos princípios fundamentais, defendido como um direito, uma forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação entre as crianças. Para definir a brincadeira infantil, ressaltamos a importância do brincar para o desenvolvimento integral do ser humano nos aspectos físico, social, cultural, afetivo, emocional e cognitivo. Para tanto, se faz necessário conscientizar os pais, educadores e sociedade em geral sobre à ludicidade que deve estar sendo vivenciada na infância. É durante a infância que ocorrem interações entre o mundo e o meio em que a criança vive, ocorrendo uma aprendizagem significativa. A infância conhecida como a etapa das brincadeiras, do lúdico, logo se pensa no brincar, é nessa etapa que a criança aprende brincando, ou seja, de que o brincar faz parte de uma aprendizagem prazerosa não sendo somente lazer, mas sim, um ato de aprendizagem. Nossa pesquisa de campos está baseada em fundamentos teóricos e prática, que foi desenvolvida com as crianças na idade de três (03) a cinco (05) anos. Tendo como objetivo deste estudo verificar como os professores utilizam a brincadeiras na Educação Infantil. Assim, constatamos que a brincadeira na educação infantil favorece o equilíbrio afetivo da criança e contribui para o processo de apropriação da aprendizagem.

A brincadeira

Para Vygotsky (2003) é senso comum que a brincadeira é a ação de brincar, divertir, interagir com o meio, com outras crianças e até com adultos, é manifestação da criatividade, habilidade e imaginação. É por meio das brincadeiras que as crianças criam, inventam descobrem o mundo a sua volta. Durante as brincadeiras que as crianças podem demonstrar alegria, tristeza, enfim emoções diversas. Na brincadeira as crianças, também, aprende na seguir regras e socializar-se. As


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brincadeiras podem deixar nas crianças lembranças de situações vividas e de aprendizagens. De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação infantil (BRASIL, 1998) o brincar não está ligado apenas a brinquedos pré-fabricados, mas também aos objetos ou materiais diferenciados como, por exemplo, pedaços de madeira, caixas de papelão, tecidos, etc. E assim, usando objetos e recursos que lhes são disponíveis as crianças assimilam o mundo da fantasia à realidade. Solucionando seus problemas e compreendendo regras. A brincadeira lhes serve tanto para distração quanto para a aprendizagem. O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de maneira não literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos (v. 01, p. 27).

Vygotsky (2003) afirma que ao brincar, as crianças transferem suas emoções para um determinado personagem ou objeto, transmitindo para o personagem aquilo que estão vivenciando, fazem uma troca da realidade para o faz de conta, assumindo um papel e assim, diante da brincadeira e da inversão de papéis elas exibem um aprendizado. A criança necessita da brincadeira, conforme vão crescendo suas atitudes vão mudando, assim também com as brincadeiras, que vão mudando a cada fase da vida, ainda assim sem perder seu significado, seja para seu aprendizado, desenvolvimento ou divertimento. Ao brincar a criança entra em um mundo com o qual ela se sente bem, brincando de faz de conta elas interiorizamse com o mundo desejado, assumindo um papel de responsabilidades e autonomia, criando e recriando suas realidades. A criação de uma situação imaginária não é algo fortuito na vida da criança; pelo contrário, é a primeira manifestação da emancipação da criança em relação às restrições situacionais. Ou seja, a criança vivencia durante as brincadeiras aquilo que estão passando, libertando-se das restrições que lhes são impostas, mas que não por acaso auxiliam no amadurecimento cognitivo, servindo também como estímulo para o desenvolvimento. Vygotsky (2003) ressalta que a brincadeira em forma livre traz grandes benefícios para as crianças como: valorização do espaço e respeito às necessidades do próximo, sendo uma ação livre da criança. Esses fatores precisam


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adequar-se ao espaço de aprendizagem da criança, contribuindo para a construção do conhecimento, auxiliando a criança a observar o mundo imaginado por ela, fazendo com que a criança fique mais perto da nossa realidade. Hoje, a imagem de infância é enriquecida, também, com o auxílio de concepções psicológicas e pedagógicas, que reconhecem o papel de brinquedos e brincadeiras no desenvolvimento e na construção do conhecimento infantil (KISHIMOTO, 2010, p. 21).

O processo de imitação que faz parte do brincar e possibilita à criança conhecimentos aprendidos, atuando, assim, nas zonas de desenvolvimentos proximais e reais segundo Vygotsky (2003) não se constituem de forma alguma em uma atividade puramente mecânica. O brincar possibilita à criança momentos de atividade que promovam uma relação de domínio de si e da realidade, deixando de ser uma atividade aleatória, para tornar-se momento de real construção social. Carvalho (1992, p.14) afirma que: Desde muito cedo o jogo na vida da criança é de fundamental importância, pois quando ela brinca, explora e manuseia tudo aquilo que está a sua volta, através de esforços físicos se mentais e sem se sentir coagida pelo adulto, começa a ter sentimentos de liberdade, portanto, real valor e atenção as atividades vivenciadas naquele instante.

Segundo Vygotsky (1989), as crianças desenvolvem a linguagem, organizam seus pensamentos, descobrem as regras e se socializam com outras crianças por meio das brincadeiras. Libertando-se do seu comportamento habitual e das limitações do mundo real, permitindo-se criar situações imaginárias, sendo essas situações essenciais para a socialização do indivíduo. A criança, durante o aprendizado de uma determinada operação, adquiri a capacidade de criar estruturas de certo tipo, independentemente dos materias com quais ela esta trabalhando e dos elementos particulares envolvidos. [...] (VYGOTSKY, 2003, p.109).

Nessa mesma direção Oliveira (2000), a brincadeira contribui, ainda, para a imaginação da criança e assume uma posição privilegiada, promove a interação, a imitação e a afetividade. Pela brincadeira a criança internaliza as normas sócias e assume comportamentos mais avançados que aqueles vivenciados no cotidiano. No entanto, o brincar acontece em determinados momentos do cotidiano infantil tornando-se importante o desenvolvimento da criança de uma maneira que as


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brincadeiras e jogos vão surgindo na vida da criança gradativamente, desde os mais simples até os que necessitam de regras. Conforme afirma Oliveira (2000): O brincar, pode ser uma atividade livre que não inibe a fantasia, favorece o fortalecimento da autonomia da criança e contribui para a não formação e até quebra de estruturas defensivas. Ao brincar de que é a mãe boneca, por exemplo, a menina não apenas imita e se identifica com a figura materna, mas realmente vive intensamente a situação de poder gerar filhos, e de ser uma mãe boa, forte e confiável (p.19)

O Referencial (BRASIL, 1998) também nos lembra que as brincadeiras além de motivadoras contribuem para a criatividade das crianças, pois é brincando que a criança aprende a respeitar regras, ampliar o seu relacionamento social, respeitar a si mesma e ao outro. A capacidade para imaginar, fazer planos, apropriar-se de novos conhecimentos, atuando mesmo que simbolicamente nas diferentes situações vividas pelo ser humano, reelaborando sentimentos, conhecimentos, significados e atitudes. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998): [...] Para que as crianças possam exercer suas capacidades de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhe são oferecidas nas instituições, sejam elas voltadas as brincadeiras ou à aprendizagem que ocorrem por meio de uma intervenção direta (p.27).

Desenvolvimento infantil e a brincadeira De acordo com Vygotsky (2003), as brincadeiras são ferramentas que contribuem para a aprendizagem das crianças, desde que utilizadas como trabalho pedagógico. É verdade que muitos veem a brincadeira como um passa tempo, ou um meio de distração, mas pode deixar de ser brincadeira e passar a ser uma atividade lúdica, com fundamentos na aprendizagem e no desenvolvimento infantil. Embora nos últimos tempos as brincadeiras venham se modificando, devido avanço tecnológico. Kishimoto (2010) afirma que aos poucos as crianças estão perdendo o hábito das brincadeiras convencionais, trocando-as pelo brinquedo tecnológico. É verdade que os tempos mudaram, é natural vermos crianças que ainda não conhecem nem as vogais manuseando com total tranquilidade, celulares ou tabletes, tem algumas


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também que já teclam em seus computadores com tamanha facilidade, quanto montasse bloquinhos lógicos. Mas é função do educador, não permitir que o hábito da brincadeira espontânea se perca. A educação infantil é uma ponte, que serve para entrar no mundo da criança, para resgatar o direito a infância, a criatividade e a espontaneidade que se encontra perdida diante de tanta tecnologia. Por isso defendemos que é importante inserir na escola momentos de interação, divertimento e apropriação de novos conhecimentos por meio das brincadeiras. A primeira relação da criança com a aprendizagem, pode ser pela brincadeira estar intimamente ligada à comunicação com outros indivíduos e ao contato com suas próprias emoções, o que favorece a criança o desenvolvimento de sua autoestima e a formação de vínculos. Assim, Kishimoto (2010) afirma que a importância da brincadeira na educação infantil é clara: é a base na formação educacional do cidadão é por meio desta que a criança estabelece relações sociais, desde que utilizada como recurso pedagógico e psicológico estimula a criança a desenvolver-se cognitivamente. Segundo Dohme (1998), a brincadeira é uma ferramenta muito importante para o professor uma vez que este saiba utilizá-la, ou seja, que tenha objetivo específico, focado sempre na aprendizagem do aluno. Aumentando a motivação dos alunos, sendo assim, a educação deve ser diversificada, pois, envolve múltiplas tarefas, sendo necessário que os alunos dominem o processo de aprendizagem para que desenvolvam o potencial que cada um tem. Vale ressaltar, também, que as brincadeiras, já fazem parte do cotidiano de grande parte dos alunos. Mas, mesmo diante desta realidade, parecem distantes da prática educacional. As brincadeiras mostram-se tímidas, ou mesmo, inexistentes, dentro das propostas educacionais. Desta forma, as possibilidades de utilizar brincadeiras sem que haja a construção do conhecimento é cada vez maior. De acordo com Dohme (1998), o professor que utiliza as brincadeiras torna-se mais seguro, desenvolvendo também a sua criatividade inovando suas aulas e criando outros jogos. Pois as brincadeiras pedagógicas são excelentes recursos de que o professor poderá lançar mão no processo ensino-aprendizagem, porque contribui e enriquecem o desenvolvimento intelectual e social na criança. Percebe-se que ao utilizar-se de um recurso significativo dentro da sala de aula, principalmente para as crianças, todo processo de ensino-aprendizagem será facilitado, não somente dentro da esfera do educando, mas também avanços na metodologia do


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professor, que tem oportunidade de trabalhar com um aliado em sua prática pedagógica, fazendo com que de forma simples o a criança aprenda. Vygotsky (2003) afirma que brincando sozinho ou sendo supervisionado por um adulto, as crianças concretizam suas ações, despertando interesse por certas coisas, construindo suas personalidades e conhecimentos que a ajudarão em seu desenvolvimento social, pois por meio das brincadeiras é que elas aprendem a obedecer a regras pré-estabelecidas, desenvolvem suas habilidades e ampliam seu contexto sociocultural. Independente de local ou objetos, a brincadeira em si é que desempenha sua função na educação infantil, que é o de oportunizar seus participantes

a

momentos

favoráveis

de

compreensão,

garantindo-lhes

a

oportunidades de interação com o próximo, socialização com o meio, concepção do processo de ensino-aprendizagem. O brincar nada mais é do que o momento da criança ser criança, de experimentar situações, desenvolver-se naturalmente e despertar habilidades físicas, morais e intelectuais. Vygotsky (2003) ressalta que é necessário que fiquemos atentos quanto às necessidades das crianças, pois para que ocorra a aprendizagem exige-se além da atenção, afeto e liberdade por parte do professor, deixando o aluno livre para novas descobertas.

Isso

significa

incluir

nas

rotinas

escolares

atividades

que

desempenhem o papel não só do ensino, mas também da diversão, permitindo ao aluno a interação com os colegas e o desenvolvimento das capacidades intelectuais.As crianças comunicam-se por meio das brincadeiras, portanto cabe ao professor utilizar-se desse meio de comunicação para ampliar o repertório cultural das crianças, agindo como mediador e responsável do seu desenvolvimento e autonomia. De acordo com Carvalho (2000), a brincadeira como ferramenta de apoio ao ensino tem por objetivo, propiciar às crianças uma aprendizagem divertida, deixando-as explorar com autonomia tudo que está ao seu alcance.Trazendo ao cotidiano das crianças, o prazer de ser criança, de realizar fantasias e se divertir, sendo então de suma importância em seu desenvolvimento mental e social. Nesse caso, a brincadeira favorece e ajuda a internalizar as normas sociais propondo facilitar o avanço da criança. Além da interação, a brincadeira, o brinquedo e o jogo proporcionam ferramentas como atenção, memória, percepção e criatividade dentre outras habilidades.


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Segundo Vygotsky (1989) a partir do momento que a criança vai se relacionando com outras culturas, ela começa a desenvolver sua capacidade de criar e recriar estratégias para se adaptar as mudanças de seu ambiente social. Sendo assim o educador deve interagir com as crianças para orientar sua aprendizagem, respeitar sua forma de ser e agir no mundo oportunizando experiências estimuladoras que possibilitem o aluno a construir seu próprio conhecimento. Ainda para Vygotsky (1998), o educador poderá fazer uso de jogos, brincadeiras, historias e outros, para que forma lúdica a criança seja desafiada a pensar e resolver situações problemáticas, para que imite e recrie regras utilizadas pelo adulto. Seguindo o pensamento acima, estabelecer regras vem a partir do momento que a criança resolve situações problemas, brinca, joga e é desafiada a pensar. Com isso é possível entender que as brincadeiras são importantes no processo de aprendizagem. O brinquedo cria na criança uma zona de desenvolvimento proximal, que é por ele definida como a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 1998, p.112).

Para

Vygotsky

(1998),

através do

brinquedo

é

criada

na

criança

transformações durante seu desenvolvimento, passando realizar sozinha aquilo que ela fazia com auxílio de um adulto, com isso a criança vai adquirindo uma independência podendo favorecer desde a sua infância até a fase adulta. Nesse sentido a “zona de desenvolvimento proximal” refere se aos processos que estão sendo construídos na criança, sendo a brincadeira, o importante recurso para ser utilizado na escola desde os primeiros dias de aula da criança.

Educação infantil

De acordo com o art. 29 da Lei de Diretrizes e Bases (LBD) a educação infantil é uma parte imprescindível na formação da criança como cidadã e é dever do Estado e da família atender as necessidades para que todas as crianças tenham a


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liberdade e o direito de aprender em circunstâncias que as permitam permanecer na escola. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (BRASIL, 1996).

Para Kaecher (2001) a criança é incentivada a aprender quando a situação de aprendizagem parte do princípio da ludicidade, ou seja, quanto mais interação for colocada em contato com a criança mais fácil será para ela assimilar as novas informações, pois poderá relacioná-las com aspectos e brincadeiras de seu cotidiano. São por essas razões que a educação infantil, a escola, e a metodologia aplicada nos processos de aprendizado são indispensáveis para a inserção da criança na sociedade, e facilitam a eventual socialização pela qual a criança passará nas próximas fases da vida. Logo, educação infantil é o meio de descoberta da criança quando se trata sociedade na qual vive. Segundo Oliveira (2011), a criança aprende com a vivência do seu cotidiano, interpretando o mundo a sua maneira, tanto na zona escolar quanto no familiar. Cabe ao educador utilizar-se desse processo de transição de conhecimentos e focar na aprendizagem, contribuindo assim para o processo de desenvolvimento infantil, fazendo do lúdico um instrumento de trabalho. "A instituição de educação infantil pode atuar, sim, como agente de transmissão de conhecimentos elaborados pelo conjunto das relações sociais presentes em determinados momento histórico" [...] (OLIVEIRA, 2011, p. 46). De acordo com Paniagua (2007), a educação infantil não está relacionada apenas a cuidados de necessidades físicas, mas também a oportunidades de conhecimentos e exploração de sentidos, sabendo que a criança tem seus momentos de compreensão. Para que aprendam é necessário que participem de um processo, o aprendizado vem por meio das conquistas. E a educação infantil é a porta de entrada para que haja esse aprendizado e um desenvolvimento intelectual seguro. Oliveira (2011) afirma, também, que as instituições de educação infantil, contribuem para transformar o contexto cultural. Desde que bem avaliado o trabalho pedagógico deve ser elaborado para esse fim, é necessário que traga mudança e contribuição para a criança, possibilitando-lhes um desempenho mental e corporal.


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PESQUISA DE CAMPO Objetivo A pesquisa de campo tem como objetivo verificar se as brincadeiras que os professores utilizam na educação infantil contribuem para o desenvolvimento das crianças. Metodologia A pesquisa foi realizada com a participação de quatro (04) professores de educação infantil, sendo três (03) da rede pública e uma (01) da particular, a participação foi voluntaria e todas assinaram um termo de consentimento nos permitindo e autorizando caso necessário a publicação de suas respostas. Foi realizado uma pesquisa com perguntas de caráter qualitativa, a escolha da pesquisa foi intencional, pois desejávamos observar a diferenciação dos trabalhos nas diferentes redes de ensino. Sujeitos Iniciamos nossa pesquisa com perguntas sobre o perfil das professoras e sua formação acadêmica. As professoras têm entre 20 e 35 anos, a Adriana, Rose e Nayara tem formação em pedagogia e atuam em creches conveniadas com a prefeitura e somente a professora Ana tem licenciatura plena em letras e atua na rede particular. Tabela 01. Perfil das entrevistadas. NOMES FICTÍCIOS

FORMAÇÃO ACADÊMICA

ATUAÇÃO NA ESCOLA

FAIXA ETÁRIA DAS CRIANÇAS

Adriana Rose

Pedagogia Pedagogia

8 meses 2 anos

3 anos 3 anos

Nayara

Pedagogia

1 ano

4 anos

Ana

Letras

4 anos

5 anos

Fonte: autoria própria.


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Análise e discussão dos resultados

Nas perguntas dois e três questionamos se as professoras costumam brincar com as crianças, como é dividido o tempo e como é elaborado as estratégias e recursos para as brincadeiras. De acordo com as respostas das professoras constatamos que todas elas preparam o espaço de acordo com o tema proposto na aula, com recursos apropriados para as brincadeiras nas salas ou parque. Em seguida na questão quatro questionamos sobre por que a brincadeira contribui no desenvolvimento? Obtivemos a seguinte resposta. A professora Ana explica "[...] a brincadeira contribui no processo de aprendizagem porque estimula as conexões neurológicas, desta forma os conceitos são transmitidos e assimilados mais facilmente". Já as professoras Adriana e Rose afirmaram que a brincadeira contribui para a interiorização dos saberes, como socialização cidadania, autonomia e criatividade. E a professora Nayara ressalta que a brincadeira ultrapassa a realidade e através da imaginação, expressão o que não conseguem explicar. Como

visto

neste

trabalho, o

brincar

aprende

a

conhecer, a

fazer

principalmente a conviver, estimular a curiosidade e a fala, “o faz de conta” é um exemplo de brincadeira fundamental no desenvolvimento da criança. Todas as respostas afirmam que as brincadeiras contribuem sim no desenvolvimento das crianças. Em relação ao desenvolvimento infantil, Oliveira (1996) considera: A brincadeira de faz-de-conta está intimamente ligada ao símbolo, uma vez que por meio dele, a criança representa ações, pessoas ou objetos, pois estes trazem como temática para essa brincadeira o seu cotidiano (contexto familiar e escolar) de uma forma diferente de brincar com assuntos fictícios, contos de fadas ou personagens de televisão (p.76).

Como vimos nas respostas das professoras a brincadeira é uma forma de a criança reproduzir seus conhecimentos adquiridos em seu cotidiano. A

pergunta

cinco

aborda

sobre

os objetivos

na

elaboração

das

brincadeiras. As professoras relataram formas muito parecidas nas elaborações de suas brincadeiras, como por exemplo: faz de conta, para a parte psicomotora,


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brincadeiras, como boliche, jogo da memória, dança das cadeiras entre outras para trabalhar o raciocínio lógico. Todas as professoras concordaram que ao elaborar uma brincadeira tem-se que buscar um objetivo de acordo com as necessidades dos alunos e o interesse do grupo com a interação de todas as crianças, brincadeira que estimulem o movimento, trabalhe a observação a atenção e instigue a criatividade. O

Referencial

Curricular

Nacional

para a

Educação

Infantil

(MEC,

1998) estabeleceu a brincadeira como um de seus princípios norteadores, e a define como um direito da criança que garante seu desenvolvimento, sua interação social, além de situá-la na cultura que está inserida. As atividades com brincadeira na educação infantil são praticadas há muitos anos, entretanto, torna-se imprescindível que o professor distinga o que é brincadeira livre e o que é atividade pedagógica com aspectos lúdicos. De acordo com referencial as respostas das professoras estão coerentes com as informações citadas no referencial, pois elas buscam um objetivo na elaboração das atividades com brincadeiras. A questão seis refere-se as professoras tem algum aluno portador de deficiência física, mas a resposta foi inânime, pois nenhuma delas tem alunos portadores de necessidades especiais. Porém a professora Nayara relata que já trabalhou, e seu aluno participava de todas as brincadeiras junto com o grupo, um exemplo, na hora da roda de brincar como corre cotia ou brincar de obstáculos, o aluno tinha o auxílio da professora para desenvolver a brincadeira proposta. A próxima pergunta foi sobre Quanto tempo duram e como as crianças participam da brincadeira. As respostas obtidas foram as seguintes, as professoras Adriana, Rose e Nayara apenas relataram o tempo estimulado das brincadeiras que variam entre 15 a 30 minutos, já a professora Ana relatou que o tempo estimulado é de 20 a 30 minutos e que dependendo do grau de dificuldade e da duração da brincadeira geralmente utiliza jogos nos quais cada criança é incentivada a participar individualmente, as vezes há competição, ás vezes não. Mas os valores passados durante a brincadeira não são aqueles que diz que o vencedor é sempre o melhor, mas sim que a participação de todos é importante. É evidente que existe um tempo determinado para a brincadeiras e que as crianças têm um direcionamento da professora durante as brincadeiras. Com relação às questões oito e nove questionamos se há liderança e improviso nas brincadeiras, caso não funcione como planejado. Percebemos


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que a uma concordância nas respostas, as professoras Adriana e Rose relataram que há uma alternância com as crianças e a professora, ou até mesmo uma brincadeira livre sem comandos da professora. As professoras Nayara, e Ana estão de acordo em dirigir as brincadeiras e no uso das regras e jogos. Na questão da improvisação, todas concordaram que é necessário improvisar, quando as brincadeiras não estão atingindo os objetivos esperados. Por fim a última pergunta foi sobre Como a professora utiliza a brincadeira para que possibilite o desenvolvimento integral da criança? Para a qual obtivemos a resposta. A professora Adriana acredita que "[...] o brincar desenvolve aspectos

sócias,

culturais,

afetivos

e emocionais

e

é

essencial

para

o

desenvolvimento das crianças, é a forma com que a criança descobre o mundo que vive". A professora Rose e Nayara afirmam que o brincar estimula a criatividade e a curiosidade, como brincar de sentidos (tato, paladar, visão e audição). A professora Ana responde que o brincar faz parte da infância e, através deste possibilita um repertório de desenvolvimento, seja na esfera cognitiva, quanto na social, biológico, motor e afetivo. De acordo com Piaget (2003), o caráter educativo do brincar é visto como uma atividade formativa, que pressupõe o desenvolvimento integral do sujeito quer seja, na sua capacidade física, intelectual e moral, como também a constituição da individualidade, a formação do caráter e da personalidade de cada um. Como vimos nas respostas dadas pelas professoras, é possível por meio das brincadeiras ajudar a criança a desenvolver valores e a lidar com o desenvolvimento emocional. O brincar deve ser valorizado como atividade principal na educação infantil, uma vez que a partir da brincadeira a criança interage com outras crianças, produz e reproduz cultura infantil, é o momento no qual ela se liberta para expressar os seus

sentimentos e a partir daí podemos trabalhar conceitos de como conviver em sociedade e como resolver os conflitos. Dessa forma, eles conseguem situar-se e formar a sua personalidade. CONSIDERAÇÕES

Neste artigo buscou-se verificar como os professores utilizam a brincadeiras na Educação. Acreditando na possibilidade de melhoria da qualidade do ensino após


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uma reflexão que possibilite aos professores melhor compreensão sobre o assunto e consequentemente no conteúdo proposto no cotidiano escolar. A aprendizagem acontece por meio da descoberta, experimentação e investigação observa-se que a brincadeira está cada vez mais presente no cotidiano das crianças, a partir daí surge a necessidade do uso dos recursos no ensino, em particular das brincadeiras nas aulas propostas. Além disso, as brincadeiras podem auxiliar no aprendizado das mais diversas disciplinas escolares. A brincadeira com sua característica lúdica é capaz de motivar as crianças a construírem seu conhecimento, adquirindo novos conceitos, aprendendo novos conteúdos, com diversão e satisfação. As atividades de brincadeiras conduzidas pela professora, ou aquelas em que elas estão presente dando sugestões e brincando junto, mostram sua contribuição no desenvolvimento da brincadeira. As professoras têm consciência da importância das brincadeiras e de sua mediação para as crianças. Ao mesmo tempo, algumas falas delas, expressões que utilizam e práticas a respeito da brincadeira como alternativa para dias de chuva ou para quando as crianças já acabaram a lição mais importante, mostram falta algum conhecimento mais aprofundado no entendimento do fenômeno do brincar. Assim, com este estudo pudemos perceber que a brincadeira é uma ferramenta importante no ensino infantil, que o professor tenha conhecimento a respeito de tal ferramenta conhecendo suas vantagens e desvantagens, e saiba planejar aulas que utilizem brincadeiras educativas, visando sempre aproveitamento dos

alunos

nos

conteúdos

trabalhados.

Devem-se

oferecer

instrumentos

comunicativos, materiais alternativos para que os alunos possam viver numa sociedade multicultural, pois é esse o fazer pedagógico, um dos maiores desafios com que se defronta a educação nos dias de hoje. Pretende-se então que este trabalho possa contribuir de uma forma facilitadora de aprendizagem na concretude dessas idéias. Além disso, que ele ajude aos educadores compromissados com a mudança a refletirem sobre a prática educativa, de modo a promoverem a tão sonhada mudança e que amplie novos horizontes em busca de novas idéias. Portanto, precisamos incentivar os professores para trabalharem de forma lúdica, com atividades que chamem a atenção das crianças no ambiente escolar, observando que esta prática possibilitará a criança um melhor desenvolvimento de forma gradativa e prazerosa, sendo que a educação infantil é à base da formação


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sócio educacional de todo o cidadão. Entender a organização do contexto como forma de mediação é importante para o brincar, perceber a brincadeira como atividade que tem um fim em si mesmo e que é importante para a criança apenas brincar, sem se preocupar com objetivos maiores. Na educação infantil o agora é mais importante que o ontem, devendo servir de base para as decisões do amanhã. Valorizando o trabalho com brincadeiras, os professores terão uma ferramenta indispensável para o trabalho cotidiano na aprendizagem dos seus alunos, afinal educar o ser humano é prepara-lo para a vida independente dos desafios que possam encontrar. REFERÊNCIAS BRASIL ministério da educação. Referencial curricular nacional para educação infantil. MEC: Brasília, 1998. v. 01 ______. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC, 1998. _______. A Formação Social da Mente: O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1989. CARVALHO, A. M. C. et al. (org.). Brincadeira e cultura:viajando pelo Brasil que brinca.São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992. CRAIDY, Carmem Maria; KAECHER, Gládis Elise P. da Silva. Educação infantil, pra que te quero. Porto Alegre: Editora Artmed, 2001. KISHIMOTO, Tizuko M. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. São Paulo: Cortez, 2010. OLIVEIRA, Vera Barros de (org.). O brincar e a criança do nascimento aos seis anos. Petrópolis-RJ: Vozes,2000. OLIVEIRA, Zilma de Morais Ramos de. Educação infantil: muitos olhares. São Paulo: Cortez, 1996. _______. Educação infantil, fundamentos e métodos, 7.ed. São Paulo: Cortez, 2011. PANIAGUA, Gema; PALACIOS, Jesús. Educação Infantil: Resposta Educativa à Diversidade. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 24-25. PIAGET, J. A construção do real na criança. 3 ed. São Paulo: Ática, 2003. PIAGET, Jean. Piaget Na sala de aula. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1970.


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