Educacao musical na pre escola associando o desenvolvimento infantil com a cultura musical

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FACULDADE MÉTODO DE SÃO PAULO LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

ELETÍCIA DA CONCEIÇÃO JOICE ROSALIA DA SILVA SILVIA CARLOS DE ARAÚJO

EDUCAÇÃO MUSICAL NA PRÉ-ESCOLA ASSOCIANDO O DESENVOLVIMENTO INFANTIL COM A CULTURA MUSICAL

São Paulo 2014


FACULDADE MÉTODO DE SÃO PAULO LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

ELETÍCIA DA CONCEIÇÃO JOICE ROSALIA DA SILVA SILVIA CARLOS DE ARAÚJO

EDUCAÇÃO MUSICAL NA PRÉ-ESCOLA ASSOCIANDO O DESENVOLVIMENTO INFANTIL COM A CULTURA MUSICAL

Monografia apresentada à Faculdade Método de São Paulo como requisito parcial para a obtenção

do

título

de

licenciatura

em

Pedagogia. Orientadora: Virginia Laís de Souza

São Paulo 2014


ELETÍCIA DA CONCEIÇÃO JOICE ROSÁLIA DA SILVA SILVIA CARLOS DE ARAÚJO

EDUCAÇÃO MUSICAL NA PRÉ-ESCOLA ASSOCIANDO O DESENVOLVIMENTO INFANTIL COM A CULTURA MUSICAL

Monografia apresentada à Faculdade Método de São Paulo como requisito parcial para a obtenção

do

título

de

licenciatura

em

Pedagogia. Orientadora: Virginia Laís de Souza

Aprovado em: 24/06/2014

BANCA EXAMINADORA ________________________________________________________ Virginia Laís de Souza ________________________________________________________ Miriam Rodrigues Fiori _________________________________________________________ Olavo Egídio Alioto


Aos professores que, com paciência, empenharam-se em nos ensinar e nos preparar para chegarmos a nossa tão esperada formação acadêmica.


AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Deus por ter permitido que chegássemos até aqui; À professora e orientadora Virgínia Lais de Souza pela atenção e dedicação; Ao professor Olavo Elioto, por sua paciência e disposição; Ao corpo docente da FAMESP que nos preparou, em especial a professora Isilda Guimarães pelo incentivo. Eu Eletícia, agradeço em primeiro lugar a Deus pela força e por ter permitido que eu chegasse até aqui, pois sem ele eu nada seria, ao meu marido e grande amor da minha vida, pelo companheirismo e dedicação, me auxiliando todo o tempo e me incentivando sempre, aos meus familiares e amigos pela força e torcida, as minhas colegas e companheiras que sempre me encorajaram para que avançasse em meus estudos. Eu Joice, agradeço primeiramente a Deus, que permitiu que eu chegasse a este momento, protegendo-me ao longo de toda esta jornada, não somente como uma universitária, mas em todos os instantes de minha vida, ao meu maravilhoso e amado filho Marcelo, por toda sua paciência, carinho e dedicação até mesmo nas horas as quais precisava de sua ajuda na realização de meus trabalhos. E aos meus pais Odilon Mizael e Halia Chupel que também me apoiaram. Eu Silvia, agradeço grandemente a Deus por me dar a oportunidade, a força e a coragem de chegar ao final deste curso, aos meus pais Celso e Maria que desde o início me apoiaram, ao meu filho Marcello que veio de surpresa e meu deu mais motivos para continuar meus estudos, a minha irmã, o meu namorado, aos meus familiares, enfim a todos que sempre ficaram ao meu lado me incentivando e me apoiando.


Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes. (Rubem Alves)


RESUMO

Considerando o uso da música na educação infantil para corroborar no desenvolvimento global das crianças, este trabalho teve como objetivo entender como professores trabalham com a música nessa fase da escolarização. Na busca deste objetivo fizemos pesquisas bibliográficas nas quais os principais autores foram Bréscia, Brito, Gerhardt, Loureiro e Snyders que muito contribuíram na construção deste trabalho. Foram utilizados também questionários aplicados a seis docentes atuantes na área de educação infantil. As respostas apontaram que as professoras acreditam na música como instrumento facilitador e prazeroso de aprendizagem, aplicando-a de diversas maneiras e em diferentes situações. Concluiu-se que o trabalho com a música acarreta muitos benefícios para as crianças da Educação Infantil. Palavras-chave: Música. Desenvolvimento. Educação Infantil.


ABSTRACT

Considering the use of music in early childhood education to corroborate the global development of children, this study aimed to understand how teachers work with music in this stage of schooling. In pursuit of this goal we made bibliographical searches in which the main authors were Brescia, Brito, Gerhardt, Laurel and Snyders which greatly contributed in the construction of this work. Questionnaires were also applied to six active teachers in the area of early childhood education. The answers showed that the teachers believe in music as a facilitator and pleasurable learning instrument, applying it in different ways and in different situations. It was concluded that the work with the music carries many benefits for children of early childhood education. Keywords: Music. Development. early Childhood education.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 Capitulo I ............................................................................................................................. 11 1.1

BREVE HISTÓRICO SOBRE A HISTÓRIA DA MÚSICA NO BRASIL ................................... 11

1.2 A música na escola ..................................................................................................... 16 Capítulo II ............................................................................................................................ 20 2. O USO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA RELEVÂNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO ............................................................................................................ 20 2.1- A música como instrumento de ensino-aprendizagem .............................................. 27 Capítulo III ........................................................................................................................... 33 3. PESQUISA DE CAMPO ...................................................................................................... 33 3.1 Objetivos da pesquisa ................................................................................................ 33 3.2 Metodologia .............................................................................................................. 33 3.3 Sujeitos da pesquisa ................................................................................................... 34 3.4 Coleta e análise de dados ........................................................................................... 35 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................. 38 REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 40 Apêndice ............................................................................................................................. 43 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............................................................ 44 CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO........................................ 45


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INTRODUÇÃO

Entendendo que a música é um elemento importante e facilitador no processo de ensino e aprendizagem, já que a mesma está presente em cada canto deste mundo fazendo parte de nossa história e despertando o interesse de crianças e adultos, a escolhemos como tema central nesta pesquisa. A palavra música, originária do grego mousike techne – “a arte das musas” é definida como a arte de combinar o som e o silêncio, é uma linguagem universal que transmite sensações, pensamentos e sentimentos, além de ser utilizada em diversas áreas medicinais e terapêuticas. A Lei de Diretrizes e Bases – LDB 9394/96 diz no Artigo 26, inciso 6º, que o ensino de arte deve ser componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, intencionando formar e promover o desenvolvimento cultural dos alunos. O uso desta arte na educação deve ser planejado de modo que a mesma propicie a aprendizagem de maneira prazerosa e significativa. Neste sentido, entende-se o quanto o ensino de música pode corroborar no processo de ensino e aprendizagem nos primeiros anos de escolarização, mais precisamente na Educação Infantil, pois a hipótese aqui levantada é que esta pode contribuir significativamente, agindo como instrumento que visa facilitar a aprendizagem e interação entre as crianças, já que a mesma está presente na vida da criança antes mesmo do início de sua escolarização. O principal objetivo é entender como a música pode auxiliar no processo de desenvolvimento global da criança e ainda observar a música e sua interação com outros eixos temáticos, visando à construção do conhecimento infantil. Na busca por respostas para estas indagações observamos a práxis docente em escolas de educação infantil, realizando uma abordagem qualitativa, cuja intenção é compreender a lógica que permeia uma realidade. Durante a pesquisa de campo foi utilizado como instrumento de coleta o questionário, destinados aos docentes de escolas de Educação Infantil da Rede Pública de Ensino, nas cidades de São Paulo e Barueri. Este trabalho está dividido em três capítulos:


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No primeiro capítulo apresentamos um breve histórico sobre a origem da música no Brasil e abordamos sobre o uso da música nas instituições escolares. No capítulo dois discutimos sobre o uso da música na educação infantil enfatizando sua relevância para o desenvolvimento da criança. Ainda neste capítulo falamos da música como instrumento de ensino-aprendizagem. No capítulo três discorremos sobre a metodologia utilizada para a realização da pesquisa, esmiuçando cada instrumento de coleta de dados e apresentamos os resultados obtidos sobre a problematização levantada neste estudo, ou seja, entender como a música pode contribuir para o desenvolvimento infantil.


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Capitulo I 1.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE A HISTÓRIA DA MÚSICA NO BRASIL

A música está presente em todos os lugares. Se pararmos para prestar atenção a nossa volta iremos notar a música em diferentes formas, podendo ser ouvidas, cantadas e expressadas em diversos contextos, pois esta se faz presente em sons do nosso corpo, da natureza, das ruas, como sons de automóveis e pessoas, das músicas, das vozes, etc. Pois música é, antes de mais nada, movimento. E sentimento e consciência do espaço-tempo. Ritmo, sons, silêncios e ruídos; estruturas que engendram formas vivas. Música é igualmente tensão e relaxamento, expectativa preenchida ou não, organização e liberdade de abolir uma ordem escolhida; controle e acaso. Música: alturas, intensidades, timbres e durações – peculiar maneira de sentir e de pensar. (MORAES, 1986, p. 7)

Segundo o autor, o povo brasileiro sempre foi musical e é formado por uma mistura de elementos da cultura indígena, europeia e africana, povos que participaram do período de colonização do país. Em seguida, foram surgindo outras influências que originaram uma diversidade de estilos musicais. De acordo com o dicionário Hauaiss apud Bréscia (2003, p. 25), a música “é uma combinação harmoniosa e expressiva de sons e a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a civilização e etc”. Para Moraes podemos afirmar que a música, por seu caráter expressivo, é uma forma de linguagem. A música é algo feito por seres humanos e para seres humanos. Ela pode ser considerada uma linguagem inclusive porque se organiza a partir de certos pressupostos (escolhas de sons, maneiras de articulá-los e etc.) que garantem a ela aquilo que se poderia chamar de coerência interna. A rigor, para ser uma linguagem, ela não precisa “expressar” alguma coisa que esteja fora dela, pois a música pertence ao universo não verbal. (MORAES, 1986, p. 67)

A história da música no Brasil iniciou-se na cultura indígena, primeiros povos que habitavam esta nação, porém sua influência nos dias atuais é pequena em relação a música europeia, por exemplo. Durante os dois primeiros séculos de colonização portuguesa a música estava atrelada à Igreja. Os primeiros professores de música foram os jesuítas, que também tinham a função


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de catequizar os índios. Eles utilizavam a música como instrumentos de conversão, ensinando as crianças indígenas a cantar, dançar, tocar flauta, gaita, viola, tambores e cravo. Consta até que existiam, nas aldeias já civilizadas, pequenas escolas de música para os filhos dos índios, cuja musicalidade era louvada pelos cronistas da época. Na Bahia, em 1578, os sacerdotes já formavam os primeiros “mestres-de-artes” instruídos a tocar instrumentos e em canto coral. Seu repertório era circunscrito ao cantochão e ao gênero da música renascentista, sobretudo portuguesa. (MARIZ, 1983, p. 34)

Com a chegada dos escravos africanos ao Brasil ouve uma miscigenação musical, pois suas práticas de danças e músicas eram vagarosamente divulgadas e misturadas àquelas aqui já existentes. Ainda segundo Mariz o hibridismo do folclore africano e do europeu ocorreu de forma lenta no período de colonização. No entanto, a influência branca, ou seja, portuguesa, espanhola, francesa e italiana, foi a mais relevante, na qual cada uma contribuiu a sua maneira. Os portugueses trouxeram os instrumentos e a literatura musical europeia; os espanhóis com seus boleros e fandangos; a Itália com o tango (música e dança); a França os cantos infantis e operetas; a Áustria a valsa; a Escócia o xótis; a Polônia a polca e os americanos o jazz”. (Ibid., p. 27)

Entretanto, segundo o autor, durante o período colonial apesar de permanecer essencialmente europeia, a música era quase exclusivamente interpretada por mulatos ou negros. Já no Período do Império, após o regresso da Família Real para Portugal a música sofreu grave declínio, estando mais presente a partir de 1887 com o surgimento dos concertos populares. Após este período surgiram dois ícones musicais: Carlos Gomes, considerado o maior compositor das Américas, e Villa-Lobos, o maior gênio musical do continente. Há, também, outros três compositores que, embora menos vangloriados, contribuíram para a formação da música brasileira: Leopoldo Miguez, Glauco Velásquez e Henrique Oswald, que encantaram o povo com suas demonstrações de óperas, que apesar de não serem brasileiras, circulavam pela sociedade. Já no final do século XIX surge o nacionalismo musical, ou seja, “a música escrita com sabor nacional” (Ibid., p. 93). Neste período, a princípio, houve resistência por parte da sociedade que estava acostumada com a música europeia.


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Desta geração nacionalista destacou-se dentre outros, Heitor Villas Lobos, que encantou o Brasil e o mundo com sua música. Villa Lobos é considerado um dos responsáveis pela implantação do Canto Orfeônico em todas as escolas públicas do país, fortalecendo então a mudança na visão do trabalho com a música. O Canto Orfeônico tem como base principal o foco no trabalho entre a teoria musical e o canto coletivo, contando com a intervenção de dois músicos: Chiafarelli Mignone e Antônio de Sá Pereira. Assim como Villa-Lobos, os músicos buscavam alcançar todos os educandos valorizando muito a educação e principalmente a educação musical. Para alcançar este objetivo esses educadores utilizaram dois métodos: o Canto Orfeônico e a Iniciação Musical. Mesmo compartilhando da mesma opinião a respeito do ensino da música eles se dividiram e o Canto Orfeônico foi implantado nas escolas públicas por Villa-Lobos enquanto a Iniciação Musical foi implantada no Conservatório Brasileiro de Música e no Instituto Nacional de Música por Chiafarelli Mignone e Antônio de Sá Pereira. Nessa perspectiva, “o presidente Getulio Vargas assinou o decreto nº. 18.890, de abril de 1932, tornando o Canto Orfeônico Obrigatório nas escolas públicas do Rio de Janeiro, passando a ser, então, um dos principais veículos de divulgação do novo regime”. (LOUREIRO, 2003, p. 56) Criaram ainda neste ano o Curso de Pedagogia de música e Canto Orfeônicos e o Orfeão dos professores do Distrito Federal, no qual passavam a imagem de uma facilitação ao trabalho do professor com a música. Na verdade o que existia era uma obrigação, fazendo com que os alunos participassem de cantos e apresentações nas quais eram reforçadas a situação política que o país estava vivendo. No ano de 1937, com base na constituição, o governo organiza e disciplina o ensino de música buscando divulgar a música Brasileira. Dentre algumas medidas estava à integração feita do Instituto de Música, a Universidade do Brasil e Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, reforçando a importância da formação do professor. O país começa, nesse momento, a se democratizar. Com isso, tudo o que passava a mensagem de autoritarismo precisava ser desfeito e assim, com essa nova concepção, o Canto Orfeônico teve o seu fim. Ainda que estivesse presente nas escolas, não tinha a mesma importância. Outrora, foi entendido como acionador do interesse pelo bom gosto musical, a civilidade e a disciplinarização, porém, aos poucos, perde sua força nas instituições escolares.


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Com o fim do Canto Orfeônico e diante da nova perspectiva que o país tinha a respeito das práticas que representavam algum tipo de autoritarismo, começa então a prevalecer uma nova ideia a respeito do ensino de Arte no Brasil. Passa a predominar o conceito de “criar e experimentar”. Dessa forma, tem-se a necessidade de criar escolas com essa visão e é inaugurada a Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro em 1948. Neste período se destaca Augusto Rodrigues, que considerava o fazer artístico como parte do desenvolvimento no processo educativo. Augusto Rodrigues engajou-se nesse novo projeto ao observar e identificarse com o conceito da criatividade que, lentamente, vinha ocupando espaços desde o final do século XIX, nas diversas esferas da sociedade, principalmente na educação musical (LOUREIRO, 2003, p.56).

O ensino de música contava muito com a concepção de trabalho da Escola Nova que valorizava a atividade do aluno e assim a música é vista diante desta nova proposta como expressão humana. Nos anos 1960 a música vai além das paredes das escolas chegando até as ruas com o objetivo de romper com toda a tradição - que até o momento tinha uma presença muito forte. Durante os anos 70 a música passa por sérias mudanças. O processo de redemocratização iniciado com a queda do Estado Novo é rompido pelo golpe militar de 1964. A retomada do autoritarismo é justificada pela necessidade de acelerar o processo de desenvolvimento econômico do país. (Ibid., p. 68).

A música então é inserida como arte-educação. Surge o professor de educação artística e os cursos de licenciatura com duração menor que os existentes. Nos anos 80 com o fim do regime autoritário a questão da educação aparece fortemente em relação ao trabalho que vem sendo desenvolvido e a importância do mesmo. Cria-se então a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - Lei nº 9.394/96 - e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que trazem uma nova concepção e uma forma muito significativa de atuar na escola. Enfim, o histórico da música nos deixa clara a ideia de que não existe uma única concepção relacionada ao como trabalhar a música. A mesma está inserida em questões políticas e sociais nos fazendo compreender que a música sempre esteve presente na sociedade, teve a sua valorização e um significado diferente para o desenvolvimento do ser


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humano em diferentes momentos. Sendo assim, parece-nos importante que o educador compreenda o trabalho com a mĂşsica, para que possa desenvolver sua prĂĄtica visando contribuir com a aprendizagem do educando.


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1.2 A música na escola

Apesar de estar presente em diversos momentos na escola, nem sempre a música foi considerada conteúdo obrigatório. Com sua implementação começaram a surgiu indagações sobre como vivenciar esta arte no ambiente escolar. E, a partir daí, surgem autores que trazem justificativas para esta indagação. Segundo Kater (2012): A música na escola deve oferecer condições a crianças e jovens de tomarem contato prazeroso e efetivo com sua própria musicalidade, desenvolvê-la e vivenciá-la, mediante experiências criativas, a música em seu fazer humanamente integrador e transformador, o que significa desenvolverem seus potenciais, conhecerem-se melhor e qualificarem sua existência no mundo. (KATER, 2012, p. 42)

Neste sentido, percebe-se que a música no ambiente escolar deve ser planejada e ser intencional, buscando o pleno desenvolvimento do educando. [...] Uma educação musical que estimule o prazer (vínculo), para instaurar a presença (inteiridade), possibilitar a participação efetiva (relação, implicação), e assim, então, estimular a produção de conhecimentos gratificantes em nível geral. (Ibid., p. 43)

A música é uma arte que permite transmitir sensações, sentimentos e pensamentos por meio do som e do silêncio, presente em todas as culturas e integra aspectos afetivos, estéticos, cognitivos, despertando o interesse e o prazer no processo de ensino, proporcionando maior integração entre os educandos e de todos os seres humanos. “A importância das artes na escola, no caso, a música, é que ela é o único lugar em que o sensível e o cognitivo são absolutamente a mesma coisa.” (FAVARETTO, 2012, p. 55)

A música está presente desde as antigas civilizações, e está ligada diretamente com a educação de cada um, pois desde bebês as crianças já entram em contato com a música. Cada pessoa tem esse contato segundo a realidade em que está inserida: a mãe canta para alegrar a criança, para acalmá-la, ela já escuta o som e a música e, no seu dia a dia, escuta o som que está em seu entorno. No momento em que entram na escola as crianças já trazem suas experiências pessoais com a música, aquelas que estão presentes em seu contexto sócio-cultural e que estão


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habituadas a ouvir e que devem ser respeitadas. Estas podem até mesmo contribuir com a escolha da metodologia de trabalho que o professor irá utilizar para que assim os conhecimentos trazidos pelos educandos, possam ser aproveitados possibilitando que eles tenham a oportunidade de conhecer formas novas de sentir e trabalhar a música. Há inúmeras maneiras de introduzir a música no ambiente escolar e diferentes objetivos para seu uso. Algumas vezes o objetivo é o ensino da própria música e de seus elementos. Em outros momentos, a música aparece como auxiliar no ensino de outras disciplinas levando, assim, a uma aprendizagem interdisciplinar. Na LDB 9.394/96, no artigo 26, inciso 6º temos que: “A música será conteúdo obrigatório, mas não exclusivo do componente curricular”. Esse trecho diz respeito a Lei 11.769/2008 que trata da obrigatoriedade do ensino de música nas escolas brasileiras e dá o prazo de três anos (a contar da data de aprovação pelo governo) para os sistemas de ensino se adaptarem as exigências. É de grande importância que as escolas incluam no currículo o trabalho com a música desde a educação infantil e que a mesma esteja presente em todas as disciplinas. Assim este ensino sistemático da música possa contribuir na formação do cidadão que no futuro irá construir uma nação (ao se começar pela Educação Infantil abrangendo toda a Educação Básica). Segundo Breim A música oferece ao aluno possibilidades únicas de construção de esquemas quando é utilizada não como entretenimento ou outros fins, mas como linguagem, quando o ensino e a aprendizagem musical privilegiam o perceber e o perceber-se como alicerces da construção do conhecimento musical e do ser, valorizando tanto os produtos finais quanto a qualidade das experiências e processos de apreciar, compor, interpretar e improvisar. (2012, p. 166)

Neste sentido, entende-se que a música possibilita não só o desenvolvimento cognitivo, proposto na Educação Infantil e primeiros anos de alfabetização, quando se trabalha com ela de maneira intencional, como também possibilita o despertar para o gosto por ouvi-la e até mesmo para a musicalidade profissional.


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A música é tida como um dos melhores meios de expressão e socialização do ser humano por isso vê-se a necessidade de trabalhar a música na sala de aula, porém não de forma rotineira e sim em conjunto com outras atividades. Segundo Petraglia: A educação musical deve ter seu foco no que podemos chamar de musicalização geral. Esse processo deve possibilitar ao aluno uma relação íntima e ativa com a música. (2012, p. 64)

A arte é uma ótima contribuição para o desenvolvimento da inteligência e deve ser vista como um processo gerador de atividades que desenvolva diversos fatores predominantes na construção do ser, por contribuir no desenvolvimento físico, mental, social, emocional e no processo de ensino – aprendizagem. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) a música sempre esteve voltada para a cultura de cada época; os meios de comunicação e a tecnologia vêm modificando as referências associadas à música. Para que a aprendizagem da música possa ser fundamental na formação de cidadãos é necessário que todos tenham a oportunidade de participar ativamente como ouvintes, intérpretes, compositores e improvisadores, dentro e fora da sala. Envolvendo pessoas de fora no enriquecimento do ensino e promovendo interação com os grupos musicais, artísticos das localidades, a escola pode contribuir para que os alunos se tornem ouvintes sensíveis, amadores, talentosos ou músicos profissionais. Incentivando a participação em shows, festivais, concertos, eventos da cultura popular e outras manifestações musicais, ela pode proporcionar condições para uma apreciação rica e ampla onde o aluno aprenda a valorizar os momentos em que a música se inscreve no tempo e na historia. (BRASIL, 1998, p. 54).

É necessário que as propostas de ensino abram espaço para uma educação musical, seu contexto seja significativo para os alunos, suas interpretações estabeleçam elementos de linguagem através de atividades bem estruturadas e aprimorem a criação. Todo esse contexto tem muita importância para garantir um aprendizado significativo em sala de aula, desta maneira o aluno estará vivenciando práticas em que a música está presente. Isso contribui para seu desenvolvimento cognitivo e também afetivo, permitindo que o educando conheça novas formas de evoluir em relação aos conteúdos e na sua própria vivência como sujeito.


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A concepção da música na educação visa um trabalho baseado em práticas significativas que proporcionam para o educando possibilidades de se desenvolver, adquirindo conhecimento, permitindo que os mesmos vivenciem experiências que serão válidas no decorrer de sua formação como futuro cidadão. Quando essas atividades musicais são aplicadas percebemos que podem contribuir no trabalho do professor que poderá utilizá-la no momento da formação de um educando escritor e leitor, com maior fluência na leitura ou melhor vocabulário a partir da estimulação de diferentes referências musicais. O trabalho com a música mostra para o educando possibilidades diferentes de se desenvolver e é neste momento que o educador precisa refletir sobre qual a melhor forma de se usar a música no seu trabalho. Sabemos que hoje a música está presente na escola, e neste sentido, é preciso propor atividades nas quais envolvam ambas, criança e música, de uma maneira que esta possa contribuir para seu desenvolvimento, além de proporcionar momentos de prazer. Alunos, com pouca concentração e baixo comprometimento, que apresentam superficialidade em suas relações com o ensino-aprendizagem, precisam ser incitados a experimentar formas de apreensão da linguagem musical, mesclando estilos e procedimentos, proporcionando maior abertura para o diálogo e o fazer musical, aliando experiências e vivências com as possibilidades do encontro com o novo. (LOUREIRO, 2003, p. 14).

É preciso que o educador reflita sobre a maneira de incluir a música em suas aulas e que tenha claro quais são os objetivos que deseja alcançar com a mesma; partindo deste ponto buscar metodologias que possam contribuir para que tais objetivos sejam cumpridos. Através dessas práticas o professor poderá ter o trabalho com a música como um aliado juntamente com todas as outras disciplinas trabalhadas em sala de aula, respeitando sempre o tempo de cada um de seus alunos, garantindo o desenvolvimento de suas potencialidades afetivas, criativas, percepções, sentidos e também sua criatividade.


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Capítulo II 2. O USO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA RELEVÂNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO

A música está tão presente em nossas vidas que nem percebemos sua riqueza e diversidade. Desde crianças ela faz parte e segue conosco em nossa trajetória. Desde criança as mães costumam cantar em diversos momentos para seus filhos e nos primeiros anos de escolarização ela está presente em muitos momentos. Os jogos e brinquedos cantados representam práticas legitimadas na educação infantil, sendo reconhecida a importância dessas atividades para o desenvolvimento das crianças. (BEINEKE, 2013, p. 20)

A Educação Infantil, segundo a Lei de Diretrizes e Bases - LDB nº 9.394/96 - é considerada uma fase muito importante para o desenvolvimento infantil. “As escolas de educação infantil surgiram na Europa, no século XVIII, com a Revolução Industrial, período em que as mulheres foram inseridas no mercado de trabalho. Estas instituições eram conhecidas como Jardim da Infância”, segundo Tiago (2008, p. 22). A autora relata ainda que no Brasil estas instituições surgiram um século depois, devido ao mesmo fato. Entretanto, a proposta era apenas de cuidar e proteger a criança. No final do século XIX, foram fundadas várias instituições e surgiram novas leis relacionadas ao atendimento das crianças, segundo Kramer (2003 apud Tiago, 2008, p. 23). A partir do início do século XX os movimentos a favor das crianças ganharam força. Em 1908, no Rio de Janeiro, surge a primeira creche popular destinada aos filhos dos operários (Ibid., p. 24). A partir de 1930 houve o crescimento da assistência às crianças de zero a seis anos, mas ainda com o intuito do cuidar, tendo poucas intenções pedagógicas. Apenas a partir da segunda metade do século XX, com o surgimento do movimento escolanovista, influenciado pelo ensino norte-americano, houve a expansão das creches e pré-escolas. Seguindo o curso com suas modificações, em 1959, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), aprovou a Declaração Universal dos Direitos da Criança, no qual seu princípio VII diz que “a criança tem direito a receber educação escolar, a qual será gratuita e


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obrigatória, ao menos nas etapas elementares”. Neste contexto, nota-se o grande valor da Declaração Universal dos Diretos da Criança para a Educação. No entanto, a ideia de que a Educação Infantil era um local de cuidados onde a criança permanecia por algumas horas foi dando espaço para uma nova concepção, no qual esta instituição passou a ser vista como local de desenvolvimento integral da criança, visando desenvolver a autonomia, a interação social e histórica para enriquecer seu universo cultural. Para Tiago (2008, p. 33) a partir deste período houve grandes batalhas para dissipar a ideia de que a Educação Infantil é a preparação para o Ensino Fundamental, e sim entendê-la como construção histórico-social. Considerando a relevância desta fase educacional para o desenvolvimento global da criança a práxis docente faz uso de diferentes instrumentos a fim de cumprir os objetivos propostos pela mesma, ou seja, o desenvolvimento do aluno. Um destes instrumentos é a música, que de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), está presente no âmbito de “Conhecimento de Mundo”, referindo-se à construção de diferentes linguagens pelas crianças (BRASIL, 1998, p. 46) A música, como é sabido, está presente no contexto escolar, principalmente na Educação Infantil, independente do padrão ou modelo adotado. Ela pode e deve ser trabalhada de diversas formas e com diferentes objetivos, conforme já discutido no capítulo anterior. Na Educação Infantil o uso da música é fundamental, fazendo parte do cotidiano e dando suporte ao trabalho docente, pois por meio dela a criança pode aprender conteúdos, desenvolver a motricidade e ainda interagir com os demais, facilitando sua vivência social.A música estimula a aprendizagem corroborando na apreciação da linguagem e da concentração. Através da música a criança desenvolve a socialização, e conquista aos poucos a sua autonomia, pois por meio dela a criança tem espaço para ser ela mesma, compartilhar momentos com os demais e se posicionar neste contexto. Entretanto, embora seja confirmada sua importância para o desenvolvimento infantil, muitas vezes, esta não é vista com a deveras relevância, sendo considerado complemento e não elemento fundamental no processo de ensino-aprendizagem.


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Segundo Loureiro (2003, p. 11), “embora presente em diversas atividades de recreação, festividades e, sobretudo, no cotidiano dos alunos e professores, observa-se que a música, como disciplina está ausente dos currículos”. No entanto, o RCNEI orienta o ensino de música como linguagem que deve ser trabalhada na Educação Infantil. Sabemos, porém que apesar de a música, muitas vezes, não estar presente no currículo, esta faz parte da rotina escolar, tendo diferentes funções. As escolas tendem a fazer uso da mesma em diferentes momentos do dia, como ao chegar, antes das refeições, durante as brincadeiras e ao se despedirem no final do dia. Esta práxis é muito positiva para a criança, pois além de orientar a criança em relação à rotina diária, possibilita o entendimento e memorização de dados. No currículo a ser trabalhado na Educação Infantil, dentre outras maneiras de expressão, há a linguagem corporal e a linguagem musical. Os meninos e meninas começam a vivenciar ritmos, gestos, jogos motrizes através de canções e danças. É por esse motivo que apresentamos como um único âmbito de experiência, no qual aprendem conteúdos da área da música e ao mesmo tempo, aprendem a utilizar o corpo para expressar intenções, emoções e vivências. (BASSEDAS et al., 1999, p. 83)

O uso da música e de instrumentos musicais aproxima a criança da cultura onde a mesma está inserida e ainda apresenta outras culturas e línguas. Na música e na expressão corporal, na escola infantil, “é preciso contemplar as diferentes vertentes, tanto a produção e a expressão (cantar, dançar, tocar instrumentos, emitir sons, e fazer ruídos) como a versão de seus espectadores (escutar audições, ver bailes, presenciar pequenas obras de teatro, etc.)” (Ibid., p.84) Entretanto a importância do professor neste processo é fundamental, pois cabe ao mesmo criar situações de canto e dança que possam enriquecer o repertório de conhecimento dos alunos. Devemos ampliar o contato das crianças com produtos musicais diversos, o que exige disposição para escutar, pesquisar e ir além do que a mídia costuma oferecer. É importante que as crianças conheçam novos compositores. (BRITO, 2003, p 127)

A escola sendo um dos locais onde se vivencia a música deve “abarcar todos os tipos de música” (SCHLICHTA; TAVARES, 2009, p. 153), pois mesmo que a criança não se


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identifique com determinados gêneros musicais, esta entenderá que eles existem, mesmo não fazendo parte de “seu mundo” e assim ampliando seu conhecimento. Existem muitas maneiras de apresentar a música para as crianças, seja por meio de brincadeiras ou para apreciação. Cabe então ao docente buscar tais maneiras e adequá-las com a realidade e possibilidades que a instituição escolar oferece. Segundo Brito (2003, p. 58), no cotidiano escolar da educação infantil a linguagem musical deve contemplar atividades como:

 Trabalho vocal;  Interpretação e criação de canções;  Brinquedos cantados e rítmicos;  Jogos que reúnam som, movimento e dança;  Jogos de improvisação;  Sonorização de histórias;  Elaboração e execução de arranjos (vocais e instrumentais);  Invenções musicais (vocais e instrumentais);  Construção de instrumentos e objetos sonoros;  Registro e notação;  Escuta sonora e musical: escuta atenta, apreciação musical;  Reflexões sobre a apreciação e a escuta.

As atividades descritas acima pela autora intenciona propiciar o desenvolvimento do educando, ampliando seu repertório e desenvolvendo a apreciação pela música. Porém, para que as atividades aplicadas atinjam os objetivos propostos é preciso que estas sejam planejadas e organizadas. Quando a brincadeira com música é colocada a serviço do desenvolvimento, seja cognitivo ou motor, esta se torna uma grande aliada no ensino.


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Ao brincar, a criança reproduz o que vê, imita o outro. Neste sentido ao fazer uma atividade musical coletiva o aluno estará involuntariamente aprendendo e se desenvolvendo. Observando como as crianças apropriam-se das brincadeiras, podemos criar com elas novas formas de jogar e fazer música em conjunto. Proporcionar diferentes formas de participação das crianças também favorece o engajamento na atividade musical, já que elas podem vivenciar a música cantando, tocando um instrumento, dançando, batendo palmas livremente ou simplesmente ouvindo. (BEINEKE, 2013, p. 21)

Neste sentido, entra o planejar e organizar tais situações para que estas atendam os objetivos didáticos estipulados a fim de propiciar aos alunos o desenvolvimento necessário para tal faixa etária. “Tratar de aspectos organizacionais é, afinal, tratar das condições que devemos levar em conta para conseguir desempenhar uma tarefa educativa.” (BASSEDAS et al., 1999, p. 93) Neste contexto, entendemos que não basta apenas levar a música para dentro da escola, mas planejar situações para que o uso da mesma proporcione, além de momentos de prazer, uma aprendizagem significativa para os alunos. De acordo com Beyer e Kebash (2009, p. 27), “músicos e teóricos da área compartilham a ideia de que o currículo de música deve incluir atividades de execução, criação e apreciação, pois estas três maneiras de conviver com a música enriquece a relação com a música”. Outro fator relevante para a educação musical é o gesto, pois ele corrobora com a construção do conhecimento. Ao apreciarmos uma música, ao produzirmos uma obra, ao criarmos acordes, estamos envolvidos pelo movimento. Todo o controle neuromuscular necessário para executarmos satisfatoriamente qualquer instrumento musical ou cantarmos uma canção está ligado ao conhecimento do movimento específico da ação realizada. (RODRIGUES, 2009, p. 37)

Neste sentido pecebe-se a importância de o professor proporcionar situações em que a criança participe de atividades com música nas quais ela possa desenvolver não só a apreciação musical, mas também os movimentos corporais. Além do gesto, outro fator importante, ou talvez primordial, é a voz. Assim como o arquiteto utiliza-se do corpo humano para conceber as escalas de suas estruturas de vida cotidiana, a voz humana, em conexão com o ouvido, deve fornecer os referenciais para as discussões sobre o ambiente acústico saudável à vida. (SCHAFER, 1991, p. 207)


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Para Brito (2003, p. 87) a voz é o primeiro instrumento musical natural humano. O bebê faz uso de sua voz para manifestar suas diversas necessidades e emoções, pois esta é a maneira de se comunicar com o mundo adulto, muitas vezes imitando-os. O contato que o bebê estabelece com os adultos e a possibilidade de imitar, inventar sons vocais e responder a eles são muito importantes para seu desenvolvimento afetivo, cognitivo e, obviamente, musical. (Ibid., p. 87)

Segundo a autora, a partir dos seis meses o bebê começa a balbuciar sons que irá ordenar e classificar, iniciando sua comunicação com os adultos, e esta comunicação acontece paulatinamente até que por volta dos doze meses começa a emitir vogais e consoantes, até chegar aos dois anos quando já estará hábil para a comunicação, e neste período, “o desenvolvimento musical é muito intenso, e sem dúvida, a voz (integrada ao movimento) é um elemento de grande importância neste contexto” (Ibid., p. 88). Neste sentido entende-se que deve haver um trabalho que vise o desenvolvimento vocal de bebês e crianças, e a escola é um local onde este trabalho deve ser feito visto que, atualmente, a maioria das crianças ingressa em instituições escolares ainda bebês. Entretanto, para realizar este trabalho é preciso que haja “um ambiente motivador e descontraído, livre de tensões exageradas, que podem comprometer a qualidade da voz infantil” (Ibid., p. 89). Existem inúmeras maneiras de se trabalhar com a voz, como imitando o som de animais, de ruídos, sonorizando histórias, cantando, dentre outras, tendo o professor o papel de apresentar e participar destes tipos de atividades. O educador deve considerar que, ao falar e cantar com as crianças, atuará como modelo e um dos responsáveis por seu desenvolvimento vocal, assim, deve formar bons hábitos, tais como não gritar, não forçar a voz, interar-se da região (tessitura) mais adequada para as crianças cantar, respirar tranquilamente, manter-se relaxado e com boa postura. (BRITO, 2003, p. 89)

Neste sentido, entende-se o quanto o papel do professor é importante neste processo, assim como na iniciação e desenvolvimento musical. No campo de estudos sobre a música infantil, afirmamos a necessidade de que músicos e educadores construam uma atitude de escuta aos jogos e brincadeiras das crianças, respeitando e valorizando a cultura infantil. Nesta perspectiva, as músicas fazem sentido quando compreendidas e vividas mais amplamente, o que inclui todo o contexto do brincar. (BEINEKE, 2013, p. 21)


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Um aluno pode se apropriar de todos os benefícios originários da música, como o aprender conteúdos e desenvolver os movimentos corporais, porém este ainda pode ir muito além, desenvolvendo o gosto musical e podendo ser no futuro um músico ou um bom apreciador da música. As crianças, por si só, ouvem diferentes tipos de músicas, especialmente através de meios de comunicação como a televisão. A escola tem a função de apresentar um maior repertório e incentivar a criança a participar das atividades musicais propostas. Hoje a educação busca um desenvolvimento integral do ser humano, preparando-o para viver socialmente; o conhecimento é a principal ferramenta neste processo, sendo um dos instrumentos o ensino de música, dentre outras áreas do conhecimento.


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2.1- A música como instrumento de ensino-aprendizagem

Sendo a música considerada uma arte, entende-se sua relevância para a formação do indivíduo, visto que estas duas áreas estão presentes no cotidiano das pessoas. De acordo com Bréscia (2003), a música é uma linguagem universal e faz parte da história da humanidade desde o início das civilizações e vem seguindo esta história de maneira cada vez mais significativa. A música e a musicalização tem sido consideradas instrumentos importantes no processo de ensino-aprendizagem e tem sido utilizada desde os primeiros anos de escolarização. Segundo Snyders (1994): A função mais evidente da escola é preparar os jovens para o futuro, para a vida adulta e suas responsabilidades. Mas ela pode parecer aos alunos como um remédio amargo que eles precisam engolir para assegurar, num futuro bastante indeterminado, uma felicidade bastante incerta. A música pode contribuir para tornar esse ambiente mais alegre e favorável à aprendizagem, afinal “propiciar uma alegria que seja vivida no presente é a dimensão essencial da pedagogia, e é preciso que os esforços dos alunos sejam estimulados, compensados e recompensados por uma alegria que possa ser vivida no momento presente” (SNYDERS, 1994, p. 14).

A função da escola é preparar os jovens para o futuro, para a vida adulta, ter responsabilidades. E a música pode contribuir para um ambiente mais alegre e favorável a aprendizagem. Além de proporcionar um ambiente agradável a música pode e deve ser utilizada como um recurso no processo de ensino-aprendizagem. “A educação musical, trabalhada como linguagem artística deve compreender a relação entre as atividades de apreciação e produção musical”. (SCHLICHTA ; TAVARES, 2009, p. 126). De acordo com as autoras, a apreciação musical é o acesso a diversas manifestações artísticas em forma de música para que o aluno se familiarize com as mesmas. Já a produção musical trata de atividades em que alunos fazem uso de instrumentos musicais, cantam, fazem sons corporais. Ainda segundo Schlichta e Tavares (2009), ambas as formas de se trabalhar a música deve condizer com a realidade cultural da escola, pois existe uma infinidade de formas


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musicais, de instrumentos e técnicas que podem ser exploradas. Porém, é preciso oportunizar a criança a conhecer diferentes estilos musicais. Tão importante quanto conhecer e preservar nossas tradições musicais é conhecer a produção musical de outros povos e culturas e, de igual modo, explorar, criar e ampliar caminhos e os recursos para o fazer musical. (BRITO, 2003, p. 28)

Neste sentido, entende-se que é papel da escola ampliar o conhecimento do repertório musical do aluno, pois este, muitas vezes pode em sua família não ter tal oportunidade, ficando este saber à mercê da instituição escolar, pois infelizmente a realidade social brasileira nos mostra que muitas famílias, por diferentes motivos, não têm oportunidade de apresentar aos filhos diferentes estilos musicais. “As crianças são capazes de falar sobre música, emitir opiniões, tocar, cantar, imitar, inventar e imaginar. Precisamos favorecer espaços para que elas exerçam sua musicalidade.” (BEINEKE, 2013, p. 22)

Entretanto, incentivar a musicalidade do sujeito é diferente de criar uma expectativa de que esse torne-se um músico. "O uso da música nas instituições escolares não intenciona a formação de músicos, e sim propicia a abertura de canais sensoriais, facilitando a expressão de emoções, ampliando a cultura geral e contribuindo para a formação integral do ser.” (CHIARELLI ; BARRETO, 2005, p. 45) O uso da música na práxis escolar pode desencadear o gosto pela mesma e pela permanência neste ambiente, visto que a presença da música deixa o ambiente mais agradável e acolhedor. Segundo Craidy & Kaercher (2001, p. 123), “o cotidiano da Educação Infantil é repleto de atividades musicais, algumas tão conhecidas que já fazem parte do repertório usual das escolas”. Podemos pensar como exemplos triviais das escolas as cantigas de roda (como Ciranda, Cirandinha) ou brincadeiras cantadas como Escravos de Jó. A música, neste ambiente funciona como instrumento harmonizador e pedagógico visto suas múltiplas funções. É nosso papel criar condições para que se estabeleça um ambiente de comprometimento com os processos de aprendizagem musical do grupo, de colaboração mútua, de engajamento de interesses e de valorização das contribuições das crianças. (BEINEKE, 2013, p. 23)

A musicalização permite que a criança conheça melhor a si mesma e que desenvolva sua noção de esquema corporal e a socialização com o outro. Neste sentido percebe-se sua


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importância pra o desenvolvimento global da criança, agindo de forma positiva para a aprendizagem e funções motoras. “As atividades musicais oferecem muitas oportunidades para que a criança aprimore suas habilidades motoras, controle seus músculos e mova-se com agilidade”. (Ibid., p. 46) Quando a criança ouve uma música ela está, inconscientemente, interiorizando parte de sua cultura e ao chegar à escola esta estará familiarizada com a mesma, sentindo um clima aconchegante, ainda que fora de seu ambiente natural, sua casa. Neste sentido, a música funciona como instrumento de acolhimento. Quando a criança começa a frequentar a escola, o novo ambiente precisa tornar-se, o mais breve possível, familiar e aconchegante. Além das novidades do ambiente físico, o mundo sonoro é completamente desconhecido. A música pode se tornar um espaço a partir do qual os primeiros vínculos são criados e mantidos. Além disso, as aprendizagens de formas de expressão que comunicam estado de ânimo são imediatamente empregadas para expressar alegria e satisfação (CRAIDY ; KAERCHER, 2001, p. 130)

Neste contexto, nota-se que a música é entendida como elo entre criança e escola, sendo reconhecida e entendida como parte de seu conhecimento. “Ao utilizar a música, além das atividades motoras que a mesma proporciona, ela oportuniza o manuseio de objetos sonoros que são também de extrema importância”. (Ibid., p. 130). As experiências concretas com instrumentos musicais e objetos que emitem sons também são necessárias para as crianças. O manuseio sistemático de objetos sonoros permite a estruturação de pequenos jogos ou peças musicais. As crianças desenvolvem formas de trabalhar com os sons que permitirão organizar suas ações e realizar atividades expressivas com esses materiais. Agindo assim, as crianças aprendem a fazer parcerias, criam e reproduzem pequenas combinações, que são esboços das regras que regem os sons da cultura. (Ibid., p. 131)

Neste sentido, entende-se que o manejo de instrumentos musicais ou que produzem sons pode desencadear o gosto pela música, além de propiciar a interação social e o prazer natural que a música oferece. Na escola a prática com música e instrumentos musicais deve ocorrer de maneira reflexiva, a fim de proporcionar o desenvolvimento e aprendizagem da criança, além de sua interação com os demais alunos.


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Além de todos os benefícios oferecidos pela música esta ainda permite a inclusão e inserção de todas as crianças nas atividades. “As atividades relacionadas à música podem servir de estímulos para crianças com dificuldades de aprendizagem e ainda contribuir para a inclusão de crianças portadoras de necessidades educacionais especiais.” (CHIARELLI; BARRETO, 2005, p. 47) Nota-se que a música integra os alunos de maneira harmoniosa, propiciando diversos benefícios aos mesmos, como desenvolvimento motor, aprendizagem, interação social, além da compreensão de regras de convivência. A música só tem apresentado benefícios para o desenvolvimento infantil, sendo esta utilizada dentro não só de instituições escolares, mas também em outros ambientes, como hospitais, clínicas terapêuticas, filmes, animações, festas infantis, dentre outros. O contato com a música auxilia na relação interpessoal, e promove valores como senso de colaboração e respeito mútuo. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, O trabalho com música deve considerar, portanto, que ela é um meio de expressão e forma de conhecimento acessível aos bebês e crianças, inclusive aquelas que apresentem necessidades especiais. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. (BRASIL, 1998, p.47).

Neste sentido, entende-se que na escola a música pode ser utilizada em diversos momentos como para recepcionar os alunos, para aclamar os alunos em momentos de atividades físicas e principalmente para auxiliar na aprendizagem. Brito (2003, p. 21) propõe algumas atividades que estimulam a aprendizagem, são sugestões que podem ser seguidas por docentes que atuam na Educação Infantil: 

Solicitar as crianças que sintam a música, de forma breve, para que não venham a dispersar. Em seguida procurar saber os diversos sons que foram escutados, tanto naturais quanto os produzidos pela cultura e fazer com que se sintam a vontade para fazer comentários referentes aos sons que foram ouvidos e os que mais lhe chamaram a atenção e qual tinha maior ou menor intensidade.


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Conversar com as crianças de forma que as mesmas sintam-se atentas, e de maneira agradável, para que percebam os tipos de sensações que os sons ao seu redor lhe trazem, e trabalhar o jeito ao qual vivenciam a sonoridade.

No intuito de estimulo a audição e a convivência, trabalhar a escuta dos diversos sons circundantes em vários ambientes da escola e ao redor, e o registros destas observações sonoras em forma de desenho e exposição. E se possível utilizar aparelhos que possam vir a reproduzir os sons como forma de melhor aprendizagem.

Em uma roda de conversa deixar com que as crianças exponham suas vivências de acordo com seu dia-a-dia em vários momentos seja nas férias, passeios de fim de semana, viagens, o simples estar em casa com a família e seus bichinhos de estimação, o brincar com os coleguinhas entre outros, a fim de perceberem e refletirem a respeito de sons que ouviram. E em seguida pedir que as crianças reproduzam os sons que foram ouvidos, seja por expressão corporal, através da voz e brinquedos sonoros. Ainda segundo a autora, o trabalho com a música “pode (e deve) reunir grande variedade de fontes sonoras” (BRITO, 2003, p. 64). A escola pode confeccionar objetos sonoros com as crianças aproveitando materiais disponíveis no ambiente – inclusive materiais reciclados que também podem ser usados no trabalho de outras disciplinas. O trabalho com a voz também é muito importante. Ela é nosso primeiro instrumento, pelo qual nos comunicamos e neste sentido é preciso desenvolver esta habilidade nas crianças ainda pequenas. São diversas oportunidades e maneiras de se trabalhar com a música na educação infantil e também nos anos seguintes da escolarização, cabe ao professor querer fazê-lo, porém é preciso que seja feito com respeito e dedicação. Segundo Loureiro (2003): “Na educação em geral, e nela incluindo a música, não como música pela música, mas como instrumento de educação, sua presença pode surgir de forma dinâmica e produtiva.” (p. 114)

Ou seja, no ambiente escolar a música deve ser entendida principalmente como um instrumento pedagógico, pois neste contexto pode ser um facilitador da aprendizagem. Para Loureiro (2003), o essencial é entrar em contato com a própria música de modo prazeroso e


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interessante para o aluno e que o professor esteja preparado para descobertas e improvisos. Neste sentido percebe-se a import芒ncia do professor em todo este processo de reconhecimento da pr贸pria musicalidade.


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Capítulo III 3. PESQUISA DE CAMPO

3.1 Objetivos da pesquisa

Refletir sobre a maneira que a música está sendo inserida nas salas de Educação

Infantil;

Entender como a música pode auxiliar no processo de desenvolvimento da criança;

Observar a música e sua interação com outros eixos temáticos, visando a construção

do conhecimento infantil.

3.2 Metodologia

Por acreditar na relevância da música para o desenvolvimento global da criança e os benefícios da mesma, nos primeiros anos de escolarização das crianças, buscou-se nesta pesquisa entender como escolas de Educação Infantil, nas cidades de São Paulo e Barueri, fazem uso da música de modo que esta traga progressos na aprendizagem das crianças. Para esse objetivo utilizou-se a pesquisa qualitativa que, segundo Gerhardt e Silveira (2009, p. 31), “não há uma preocupação com representação numérica”. Como instrumento de coleta foi utilizado um questionário que, para Jung (2009), é a busca pela informação sem que haja interferência por parte do aplicador. Neste havia sete questões referentes ao tema, nas quais buscamos respostas ao objetivo aqui apresentado, ou seja, entender como docentes atuantes em instituições de Educação Infantil trabalham com a música de forma que esta seja favorável ao desenvolvimento infantil. Neste sentido, entender a práxis docente nestas instituições nos permitiu compreender como as mesmas utilizam a música em seu cotidiano.


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3.3 Sujeitos da pesquisa

Na busca deste objetivo foram investigadas duas instituições de Educação Infantil, uma delas foi o Centro Educacional Infantil (CEI) Benjamin Antonio Salles Arcuri (CEI conveniado) situado à Avenida Engenheiro Luiz Gomes Cardin Sagirardi, Vila Mariana, na cidade de São Paulo. Foram aplicados questionários (apêndice) a três professoras, todas atuantes no local. A outra foi a instituição pública municipal Maternal Maria Rosa Ferreira, situada à Rua Petrolina, 85, em Barueri, onde também foram entregues os mesmos questionários à três docentes. Antes de iniciarmos a pesquisa propriamente dita buscou-se saber qual o perfil dos participantes da pesquisa, questionando o nome, formação acadêmica e tempo de magistério de cada uma, conforme segue tabela abaixo:

Tabela 01. Sujeitos da pesquisa.

DOCENTES

FORMAÇÃO ACADÊMICA

TEMPO DE ATUAÇÃO

Jane

Pedagogia

3 anos

Marilú

Magistério

15 anos

Claudia

Pedagogia/Magistério

8 anos

Ivanete

Letras/Pedagogia/ Pós

20 anos

Ednalda

Pedagogia/Pós

15 anos

Josiane

Pedagogia/Pós

8 anos

Fonte: Autoria própria.

De modo geral os dados levantados corroboraram muito com nosso trabalho, pois apresentaram respostas para que pudéssemos aperfeiçoar o trabalho. Embora o número de sujeitos da pesquisa seja um número pequeno, ou seja, seis participantes, estes vieram mostrar sua prática que, conforme foi apresentada, condiz com que os autores aqui pesquisados afirmaram: a importância da música para o processo de ensino-aprendizagem.


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Em relação à formação profissional das participantes, notou-se que a primeira instituição, no caso o CEI, mostrou que duas delas têm formação superior em Pedagogia e apenas uma possui formação no Magistério. Já na segunda, a escola municipal, as três participantes possuem, além da formação em Pedagogia, especialização em Psicopedagogia.

3.4 Coleta e análise de dados

Na busca aos questionamentos levantados neste estudo foram encaminhados questionários aos sujeitos da pesquisa constando sete questões, das quais se intencionou buscar respostas às indagações levantadas no início da pesquisa, visando entender como as professoras fazem uso da música em sua práxis. Nossa primeira questão foi: Você considera que a música auxilia no desenvolvimento da criança? Justifique. O objetivo dessa questão era saber como o entrevistado observa a importância que a música tem para o desenvolvimento da criança e de que maneira se trabalha para que isso aconteça. Por meio das respostas, em ambas as instituições, as participantes confirmaram acreditar que a música auxilia no desenvolvimento da criança, ajudando também para o enriquecimento do vocabulário e da concentração. Segundo Brito (2003, p. 26), a música é uma linguagem que organiza, intencionalmente, os signos sonoros e pode ser um meio de ampliação da percepção e da consciência, porque permite vivenciar e conscientizar fenômenos e conceitos diversos. Na questão de número 2, que continha relação com a questão anterior, nosso objetivo era saber se a música pode ajudar a criança da Educação Infantil a aprender com maior facilidade. Por meio dessa questão buscou-se saber se os professores acreditam na música como um instrumento auxiliador e facilitador no processo de ensino-aprendizagem. As respostas foram unânimes ao dizer que sim, complementando que a música pode auxiliar no desenvolvimento da autonomia, ampliar o conhecimento musical e cultural e ajudar na socialização, além de facilitar o aprendizado. Neste contexto, Loureiro (2003, p. 11) diz que vê “na música uma linguagem e acredita na sua importância no desenvolvimento harmonioso do ser humano”.


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A pergunta 3 buscava investigar a prática das professoras no que dizia respeito aos recursos e atividades aplicadas em sala de aula. As professoras participantes trabalham com a música e contaram que usam diferentes recursos, como CD, DVD, cantiga de roda, gestos, dentre outras. Segundo Brito (2003, p. 127), devemos ampliar o contato das crianças com produtos musicais diversos. A autora ainda diz que, existem canções para todos os temas e assuntos, e, tudo pode ser cantado. Na questão de número 4 tínhamos como objetivo entender o efeito da música nas crianças. As docentes participantes disseram que a música auxilia na concentração, no desenvolvimento e amplia os conhecimentos dos alunos. Quando, num processo educativo o professor se transforma em educador, inverte-se a preponderância de uma formação para a música por uma formação pela música, tornando possível aos alunos inscreverem-se num espaço de construção do sujeito, no qual estratégias dinâmicas de aprendizado (as lúdicas, por exemplo) permitem um “desaprisionamento” individual que favorece a apreensão da questão da identidade fundamento do desenvolvimento humano). (PETRAGLIA, 2012, p. 43)

Por meio das respostas notou-se que as docentes participantes acreditam que a música causa efeitos positivos nas crianças, concordando com o autor acima, quando revela os benefícios que a música agrega para a criança. Na questão 5 queríamos entender um pouco sobre o conhecimento de cada professora em relação a educação musical obrigatória nas escolas brasileiras. De acordo com as respostas, as professoras entendem a música como uma ampliação de cultura, como novas oportunidades de ampliar conhecimentos e como auxiliadora na construção global da criança. Neste sentido, Petraglia diz que Considerar a educação musical como uma instância de construção e exercício da autonomia pessoal do aluno e de sua participação ativa em sociedade não representa mais uma visão romântica, idealista, utópica, como durante muitos anos foi feita a crítica. (Ibid. p. 46)

Com a questão 6 nosso objetivo era pesquisar a formação dos professores para trabalhar música na Educação Infantil. As professoras responderam que o profissional que faz uso da música em sua prática deve estar envolvido com o aprendizado do seu aluno, ser flexível, aberto às mudanças, ser dinâmico e trabalhar com prazer, além de buscar conhecer um bom repertório musical e saber


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fazer uso do mesmo. Neste sentido, Brito (2003, p. 92) diz que, “é importante brincar e cantar com as crianças, pois, o vínculo afetivo e prazeroso que se estabelece nos grupos em que se canta é forte e significativo”. As respostas revelaram que não há necessidade de ter uma formação específica para se trabalhar a música nas escolas, e sim ter vontade, disposição e prazer em fazê-lo. Em nossa última questão buscamos saber como é a prática e as referências de cada professora no que diz respeito ao ensino da música. Notamos por meio das respostas que ambas as instituições investigadas têm o costume de trabalhar com música e concordam com os benefícios que a mesma trás. A única diferença aparente nas respostas é que as docentes participantes da escola municipal citaram trabalhar com música clássica, enquanto a outra instituição não citou gêneros musicais, mas demonstrou trabalhar com a música de um modo geral. Por meio das respostas reveladas, entende-se que todas participantes, assim como os autores mencionados neste trabalho, concordam que a música é um instrumento facilitador no processo de ensino-aprendizagem, corroborando significativamente, além de permitir o desenvolvimento motor, a socialização ou simplesmente oportunizar momentos de prazer e descontração. Embora as professoras tiverem revelado que para trabalhar com a música não é necessário ter formação específica, basta ter vontade comprometimento e criatividade, acreditamos que é importante buscar um conhecimento que auxilie a prática musical na sala de aula, visando sempre o desenvolvimento do aluno. A intenção deste estudo, ao pesquisar a práxis docente, não foi em momento algum fazer críticas ou generalizar práticas, e sim buscar saber se estas utilizam a música como instrumento de aprendizagem e desenvolvimento e entender a presença da música nas instituições de Educação Infantil.


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CONSIDERAÇÕES

A música está presente no cotidiano do ser humano, sendo um meio de comunicação. Ela contribui para a oralidade, no modo de expressar as emoções e sentimentos, contribuindo no sentido de aprendizado significativo para o educando da Educação Infantil. Desde que a lei 11.769 entrou em vigor, a música vem sendo incorporada aos currículos escolares. A LDB (9.394/96) também fala sobre a música como conteúdo obrigatório no currículo escolar, mas não como componente exclusivo. O presente estudo intencionou entender de que maneira e com que objetivos docentes de escolas de Educação Infantil fazem uso da música. Sendo uma pesquisa qualitativa, não houve intenção de quantificar dados e, nem mesmo questionar ou interferir nas respostas apresentadas, não havendo em hipótese alguma, intenção de julgá-las. As respostas, porém, nos pareceram muito satisfatórias, pois as mesmas se aproximam dos autores estudados nesta pesquisa. Percebemos por meio das respostas apresentadas pelas participantes a grande importância do ensino musical dentro das escolas. Através dos questionários as entrevistadas responderam, dando ênfase nos resultados positivos, que trabalhar a música e assim colaborar com a leitura, a escrita e outras aprendizagens pertinentes à construção de conhecimentos é fundamental. As questões analisadas fazem referência a um aprendizado musical onde as docentes visam, ao trabalhar com a música, a mudança de comportamento dos alunos e seu desenvolvimento na interação, percepção, criatividade, amizade, cooperação e trabalho em equipe. Com o aprendizado musical, defendemos que não seja apenas o conteúdo “música” uma forma de passar o tempo dos alunos e sim, que seja utilizado como ferramenta de ensino na construção do conhecimento desses educandos desde a Educação Infantil. Os sujeitos da pesquisa mostraram trabalhar de forma prazerosa, acreditando nos benefícios que a música oferece e buscando alcançar seus objetivos. Acreditam que o trabalho com música além de divertimento, contribui com o desenvolvimento cognitivo e motor das crianças, além de sua importante função no aspecto da socialização do indivíduo.


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As músicas, de diversas maneiras, estão presentes em nosso cotidiano, e neste sentido, cabe ao professor selecioná-las de acordo com suas intenções pedagógicas e fazer uso das mesmas, focando o principal objetivo da escola: o desenvolvimento global do educando. Concluímos então, nesse momento, que o trabalho com música quando tendo por base práticas significativas proporcionam muitos benefícios para crianças de Educação Infantil. Pode ser uma cantiga de roda, uma brincadeira que mistura gesto e movimento ou um jogo rítmico, a música sempre estará agregando na aprendizagem dos alunos.


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Dissertação

(Mestrado).

<Disponível

http://repositorio.ufu.br/handle/123456789/1014>. Acesso em: 19 de Maio de 2014.

em:


43

Apêndice

Questionário

1-

Você considera que a música auxilia no desenvolvimento da criança? Justifique.

2-

A música pode ajudar a criança na Educação Infantil a aprender com mais facilidade?

Justifique. 3-

Como você trabalha a música com as crianças? Quais os recursos e atividades

utilizados? 4-

Para você o efeito que a música causa nas crianças é de:

(

) Concentração

(

) Amplia os conhecimentos

(

) Auxilia no desenvolvimento

(

) Dispersão

(

) Outros

5-

Sabe dizer qual a definição de educação musical nas escolas?

6-

O que acredita ser um perfil profissional daqueles que trabalham com música na

educação infantil? 7-

Em que se baseia sua prática ao ensinar música na educação infantil?


44

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) a participar, como voluntário (a), da pesquisa: Educação Musical na Pré-Escola – Associando o Desenvolvimento Infantil com a Cultura Musical. No caso de concordar em participar, favor assinar ao final do documento. Sua participação não é obrigatória, e, a qualquer momento, poderá desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição. Será realizada uma avaliação, na qual será mantido, em absoluto sigilo, sua identidade; e não haverá despesas nem qualquer compensação financeira relacionada à sua participação. As informações coletadas para o referido trabalho estarão disponíveis a você, aos pesquisadores e à entidade envolvida, podendo ser divulgados para fins científicos, mantendo sua intimidade preservada. Este trabalho tem orientação da Profa. Virgínia Laís de Souza e das acadêmicas Eleticia da Conceição, Joice Rosalia da Silva, Silvia Carlos de Araújo.


45

CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO

Eu,

______________________________________________________________,

RG______________________________ CPF___________________________________, declaro que li as informações contidas nesse documento, fui devidamente informado (a) pelo(s) pesquisador(s) Eleticia da Conceição, Joice Rosalia e Silvia Araujo, dos procedimentos que serão utilizados, riscos, benefícios e sigilo da pesquisa, concordando ainda em participar desta. Foi-me garantido que posso retirar o consentimento a qualquer momento, sem que isso leve a qualquer penalidade.

São Paulo, ________ de ___________________________________ de 2014.

_______________________________ (Nome por Extenso)

________________________ (Assinatura)


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