Jogos teatrais

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JOGOS TEATRAIS COMO RECURSO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA APLICADA AO FUNDAMENTAL I Rodolfo Flores¹, Persio Nakamoto² ¹ Aluno do curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Método de São Paulo (FAMESP). ² Professor do curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Método de São Paulo (FAMESP).

RESUMO Pensando nas problemáticas vivenciadas pelas instituições escolares na aplicação das metodologias de ensino aos alunos e suas dificuldades de aprendizagens na assimilação dos conteúdos, teremos a arte como base e suas vertentes, mais especificamente o teatro como eixo norteador deste artigo. Este visa entender o teatro e seus jogos teatrais como recurso de ensino-aprendizagem, fazendo com que os alunos percebam o fazer teatral como forma de conhecimento educativo e cultural, e também mostrar aos docentes a possibilidade de inserção dessa metodologia na rotina pedagógica, correlacionando com as disciplinas do currículo escolar de forma interdisciplinar, já que a escola é um espaço formal onde o aluno tem contato com o conhecimento em arte. Este artigo será fundamentado por meio de autores como Viola Spolin, Augusto Boal, Olga Reverbel e Joana Lopes. A pesquisa de campo será realizada com quatro pedagogos e dois professores especialistas que trabalham ou trabalharam no Ensino Fundamental I, com o foco em arte e suas ramificações. Esses profissionais responderam a um questionário com perguntas quantitativas e qualitativas. Na análise dos resultados, percebe-se que os profissionais consideram a arte como parte importante do processo de ensinoaprendizagem, porém não são todos que fazem o uso da aplicação em sala com autonomia, possibilitando as vertentes existentes. Esses docentes afirmam que essas manifestações artísticas devem ser repassadas com propriedade somente por especialistas. Palavras-chave: Teatro. Jogos teatrais. Arte. Interdisciplinaridade. Ensino fundamental. INTRODUÇÃO Ensinar o conteúdo curricular atualmente não se restringe a única função da unidade escolar. Como instituição formadora, ela deve possibilitar formas de acesso ao lazer, à cultura, às práticas esportivas, permitindo a integração mais efetiva dos alunos à sociedade. Para que isso aconteça, são diversos os métodos utilizados pelos professores. Neste trabalho, daremos destaque a um: o uso do teatro como forma de aprendizagem. O teatro, no que se diz respeito a seu lado filosófico, pode incomodar o indivíduo para as questões sociais, havendo uma vontade de querer promover a mudança de sua realidade. Nesse sentido, a relação teatro/aprendizagem viabiliza uma ampliação do conhecimento que nos leva a uma maior liberdade de expressão. A arte teatral está integrada a outras manifestações artísticas como música, dança e literatura, assim como estas também estão presentes ao fazer teatral. Estudos indicam que o teatro tenha surgido de momentos ritualísticos na Grécia antiga, com os coros ditirambicos para os deuses da natureza, abençoando a colheita. Começaram a deixar mais cênica essas


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manifestações, fazendo com que o teatro atingisse boa parte da população como forma de expressão. Dessa forma, pode se conviver com o teatro em conjunto a outras profissões, não só as educacionais ligadas à área de humanas, mas também exatas e específicas como teatro empresarial, manifestações religiosas, terapêuticas, de treinamento, e agregar potencialidades que correlacione elementos à aprendizagem, à conduta, ao bem-estar. O intuito deste artigo é explorar o uso dos jogos teatrais como uma das possibilidades de metodologias de ensino/aprendizagem para o processo de construção do conhecimento dos discentes do fundamental I. Para isso, serão abordados a arte e seu desenvolvimento na história embasado na lei que legaliza a aplicação da disciplina; jogos e brincadeiras, exemplificando essas palavras dentro do contexto educacional como auxilio; o teatro como ramificação da arte, evidenciando possibilidades de aplicação como metodologia de ensino; e os jogos teatrais como recurso na aprendizagem dos alunos como meio facilitador dos processos educativos. Analisaremos o contexto histórico teatral que se construiu desde então até hoje, passando pela educação brasileira, utilizando autores como Viola Spolin, Augusto Boal, Olga Reverbel e Joana Lopes, por eficiência das atividades propostas sobre a temática teatral e que estão em consonância com a pedagogia teatral em prol da educação. A arte em questão na reforma educacional do Brasil Barbosa e Coutinho (2011) questionam que, com a modernização educacional, influenciada pela Semana de 22, o ensino da arte volta a ser questionado no Brasil com o filósofo e pedagogo John Dewey no movimento da escola nova. Este defende o papel da arte integrada à educação primária como instrumento estimulador na capacidade de criação e conhecimento do ser humano de forma acessível para todos. As ideias de Dewey (apud BARBOSA; COUTINHO, 2011) levaram a educação a entender mais sobre o que seria a importância da arte e o ensino desta no país. Ele classificava como uma "observação naturalista; à arte como expressão de aula; como introjeção da apreciação dos elementos do desenho (deturpada na prática do desenho pedagógico)" (p. 15). Seria um processo em que a criança assimila valores aprendidos e reproduz perante o meio social, internalizando-os, diferente do que se entendia da utilização da arte como tradicional


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na área educacional. Ele complementa citando outros artistas e suas conquistas com relação ao ensino da arte como: [...] Mário de Andrade, criando ateliês para crianças nos Parques Infantis e na Biblioteca Infantil, quando exerceu a função equivalente a de Secretário de Cultura de São Paulo em 1936, ou as classes de arte de Anita Malfatti na Escola Americana, hoje Mackenzie ou a criação de Escolas de Arte para crianças bem dotadas em arte pelo Jornal A Tarde em São Paulo foram significativas mudanças cuja disseminação foi interrompida pelo golpe de Estado que instituiu a ditadura do Estado Novo. (BARBOSA; COUTINHO, 2011, p. 16)

A arte brasileira foi ganhando seu espaço e abandonando os modelos estrangeiros, pois havia um olhar sobre as necessidades educacionais, criando-se sua própria identidade. Desde a instauração da Academia Imperial de Belas Artes, primeira instituição pública e formal de formação para as Artes Plásticas no Brasil, até a formalização da Arte como área de conhecimento nos Parâmetros Curriculares Nacionais, passando pelas diferentes iniciativas do final do século XIX e por todo o século XX, os modelos de ensino da arte foram se tecendo e se sobrepondo, correspondendo às demandas políticas e culturais de cada época. Cada um desses modelos, para bem ou para o mal, se sustentam em concepções de arte e de educação, explícitas ou implícitas. (BARBOSA; COUTINHO, 2011, p. 32)

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1997), no que diz respeito ao ensino da arte, deve-se promover o desenvolvimento do pensamento artístico, que caracteriza um modo particular de dar sentido às experiências das pessoas. Dessa forma, o aluno acaba ampliando a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação, de tal importância para as relações interpessoais e intrapessoais em sua formação. Assim, passa a elaborar trabalhos artísticos e a entender sobre suas produções individuais e coletivas de modo a apreciar suas especificidades, levando o aluno a conviver com distintas culturas. Isso os faz desenvolver suas capacidades da real percepção em reconhecer ao seu redor objetos e formas para a prática de observação de outras artes como, por exemplo, manifestações artísticas de rua que encontramos no dia a dia. Assim, facilita as condições de uma vida melhor com maior qualidade e a socialização de modo a demonstrar os valores atuais. A arte está presente nos demais ramos profissionais como empresarial, hospitalar, religioso, terapêutico e essencialmente na educação escolar, ajudando na dimensão da visão de mundo. Diversos estudos e pesquisas indicam que a arte auxilia no desenvolvimento do aluno como, por exemplo, seu potencial de criação, expressão e suas atitudes de ação no mundo. Levando isso em questão, deve-se considerar que, ao longo do tempo, a palavra arte como expressão artística foi banalizada e empregada de forma a deixar a criança fazer arte sem nenhum tipo de intervenção. Até meados da década de 1960, não se pensava que esta poderia


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fazer parte importante do currículo, pois se acreditava que o seu ensino poderia de alguma forma delimitar a espontaneidade e expressão da criança (BRASIL, 1998). Estudos esclarecem que a aprendizagem das linguagens artísticas tem relevância nas propostas pedagógicas devido ao seu conteúdo e de como ocorre os processos de ensinoaprendizagem e suas perspectivas. Consequentemente o teatro, sendo uma ramificação da arte, não era reconhecido como uma prática educativa regular, aplicado apenas em atividades festivas. Somente no início do século XX, o modernismo trouxe para o Brasil no campo educacional a arte como expressão (BRASIL, 1998). Em 1971, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a arte é incluída no currículo escolar com o título de Educação Artística, mas é considerada atividade educativa e não disciplina (BRASIL, 1998). Em conformidade com Brasil (1998): Os professores de Educação Artística, capacitados inicialmente em cursos de curta duração, tinham como única alternativa seguir documentos oficiais (guias curriculares) e livros didáticos em geral, que não explicitavam fundamentos, orientações teórico-metodológicas ou mesmo bibliografias específicas. As próprias faculdades de Educação Artística, criadas especialmente para cobrir o mercado aberto pela lei, não estavam instrumentadas para a formação mais sólida do professor, oferecendo cursos eminentemente técnicos, sem bases conceituais.

Para considerar disciplina, é preciso uma literatura voltada para a area de forma a explicar fundamentos, orientações ou bibliográfias, estabelecendo não como materia, mas sim, como uma area bastante generosa. Mesmo com a inclusão oficial, não houve uma qualificação dos professores com o intuito de explorar essa linguagem. Em 1988, com a reformulação dessa lei e sancionada em 20 de dezembro de 1996, a arte foi considerada obrigatória na educação básica. “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (BRASIL, 1996). Segundo os PCN (BRASIL, 1997, p. 36): Quando brinca, a criança desenvolve atividades rítmicas, melódicas, fantasia-se de adulto, produz desenhos, danças, inventa histórias. Mas esse lugar da atividade lúdica no início da infância e cada vez mais substituído, fora e dentro da escola, por situações que antes favorecem a reprodução mecânica de valores impostos pela cultura de massas em detrimento da experiência imaginativa.

Para os PCN (BRASIL, 1997, p. 57), “o ato de dramatizar está potencialmente contido em cada um, como uma necessidade de compreender e representar uma realidade”. Por meio


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da dramatização, o aluno integra a realidade e os conhecimentos de mundo e a percepção do individual para o coletivo. Dessa forma, as atividades teatrais promovem e contextualizam situações do dia a dia dentro de grupos sociais, favorecendo as diferentes opiniões e o bom convívio, pois “o teatro tem como fundamento a experiência de vida: ideias, conhecimentos e sentimento” (p. 57). Logo, entende-se que o teatro está arraigado com as ações habituais do ser humano, mesmo não estando estas ligadas ao cenário teatral e suas encenações. A escola precisa criar condições que favoreçam uma sequência didática da linguagem dramática, lembrando que o intuito em aplicar a teatralidade deva ser de forma espontânea, sem perder a ludicidade da ação teatral em conjunto com a criatividade da criança em seu momento de faz de conta e colaborando com processo de construção social e suas relações com o meio. As propostas educacionais devem compreender a atividade teatral como uma combinação de atividades para o desenvolvimento global do indivíduo, um processo de socialização consciente e crítico, um exercício de convivência democrática, uma atividade artística com preocupações de organização estética e uma experiência que faz parte das culturas humanas. (BRASIL, 1997, p. 57)

Relacionar o teatro com os currículos auxilia na formação do aluno, no processo educativo e no conhecimento de mundo. Nesse sentido, essa relação não corrompe o aprendizado científico tratado em sala, pois a arte está arraigada às culturas e manifestam-se implicitamente. O jogo e a brincadeira Kishimoto (2007) explana que o teatro, como prática docente, deve se relacionar ao lúdico, que se entende por jogo ou brincadeira. Esse brincar teatral está entrelaçado àquele que joga de forma prazerosa. Esse tipo de metodologia oportuniza, de modo educativo, a aprendizagem do aluno, suas ações e seus comportamentos, estimulando a capacidade criativa. Por sua vez, é um ponto importante para socialização do aluno e sua conduta perante os valores e comportamentos sociais. A palavra jogo é direcionada neste artigo, de acordo com uma das definições do dicionário Aurélio (2004, p. 1154), àquilo que está ligada ao "exercício ou passatempo entre duas ou mais pessoas das quais uma ganha e a outra, ou as outras, perdem". No entanto, nesse caso, levaremos em consideração somente a diversão do jogar entre ambas, desconsiderando o


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ato de perda ou ganho, afinal, relaciona-se aos jogos como metodologia de ensinoaprendizagem (FERREIRA, 2004). Os jogos estão presentes nas primeiras fases do desenvolvimento das crianças por meio do sensorial, dos ritmos e das habilidades, seja nas relações interpessoais ou intrapessoais, que os leva a representações dramáticas no dia a dia, quando estão em brincadeiras de faz de conta ou brincadeiras populares nas quais a ludicidade e as regras se misturam, significando a gênese da atividade teatral. De acordo com o que diz Kishimoto (2007, p. 17): Cada contexto social constrói uma imagem de jogo conforme seus valores e modo de vida, que se expressa por meio da linguagem. O jogo é estabelecido conforme o contexto social a qual se encontra e será aplicado dentro da realidade específica de cada um, pode-se considerar um sistema de regras e objetivos para sua finalidade e, ao mesmo tempo, estará ligado ao lúdico como satisfação do brincar da criança.

Já Huizinga (1951 apud KISHIMOTO, 2007, p. 23) afirma que: O caráter “não-sério” [...] não implica que a brincadeira infantil deixe de ser séria. Quando a criança brinca, ela o faz de modo bastante compenetrado. A pouca seriedade a que faz referência está mais relacionada ao cômico, ao riso, que acompanha, na maioria das vezes, o ato lúdico e se contrapõe ao trabalho, considerado atividade séria.

A proposta da brincadeira em sala de aula está ligada ao divertimento, porém a atividade tem uma representação que atinge o conhecimento já adquirido por quem brinca. As experiências resultam em um grau de seriedade, pois a criança, ao se deparar na vida real com situações semelhantes, desempenha a tarefa com maior eficiência. Dessa maneira, ao brincar de fazer compras, essa ocupação está associada a uma boa execução ao substituir o imaginário para a vida real. A ligação entre o jogo, o brinquedo e a brincadeira serve de apoio e estimula o brinquedo como recurso para o uso pedagógico, influenciando o imaginário infantil na brincadeira e essa ação é concretizada em um jogo, por exemplo. O teatro na educação por olhares distintos A palavra teatro tem origem do latim Theatrum e do Grego Theatron, o que significa ver, enxergar, se ver no mundo, se perceber, perceber o outro e sua relação com o outro, literalmente "lugar para olhar". Há uns três séculos antes de Cristo e correlaciona-se com um olhar pedagógico (ARCOVERDE, 2015). O teatro na educação, como área do conhecimento, possibilita uma conduta social por meio de aprendizado de valores e das relações interpessoais


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e consequentemente das intrapessoais, estabelecendo as ações do indivíduo com o mundo e com outros seres humanos. O teatro é uma das formas de produzir arte, na qual representa uma situação por meio de um personagem. Entre as artes, o teatro é, por excelência, a que exige a presença da pessoa de forma completa: o corpo, a fala, o raciocínio e a emoção. O teatro tem como fundamento a experiência de vida: ideias, conhecimentos e sentimentos (os aspectos cognitivos e subjetivos). Sua ação consiste na ordenação desses conteúdos individuais e grupais e seu ensino ou exercício se faz através da encenação, da contemplação e da vivência dos jogos teatrais. Encontram-se em muitos autores a exploração acerca de gênese da atividade teatral na natureza humana (NEVES; SANTIAGO, 2009, p. 14)

Com isso, o teatro dentro de sua natureza cria uma formação completa do indivíduo de modo que haja uma consciência corporal mais ampla. Baseia-se nas vivências e isso faz com que o exercício de encenação os leve a aprendizagens por meio de experiências diferentes. Assim, a assimilação dos conteúdos curriculares se torna bem mais compreensiva. Na Grécia, surgiram os primeiros registros do aparecimento da arte na educação ocidental que entendia e valorizava a atividade teatral e os jogos agonísticos, a ciência referente à prática dos combates ou das lutas corporais dos atletas, ambos ligados às festividades religiosas (NEVES; SANTIAGO, 2009). Essas práticas eram valorizadas, pois havia os momentos comunitários que, por sinal, desenvolviam sua função educativa para a cidade, respeitando suas leis e questões ético-antropológicas. Sendo assim, o teatro se torna um instrumento importante nessa educação comunitária, trazendo elementos como a tragédia e a comédia, atuando diretamente como espelho dessa comunidade. Com isso, os gregos percebiam que, por meio do teatro, estes educavam a si mesmos. Franco Cambi (1999 apud NEVES; SANTIAGO, 2009, p. 79) demonstra: "Assim, o teatro em Atenas é também e, sobretudo, um lugar de representações das contradições que laceram o corpo da cidade e as consciências de seus membros". Para os romanos (2010), o propósito educacional do teatro, quando havia a representação das lições morais, auxiliava no processo de assimilação e comparação com a vida real, considerando a prática teatral como meio de entretenimento e educação. Ronaldo Boschi (1999 apud NEVES; SANTIAGO, 2009), professor e teatrólogo, acredita que a dramaturgia, por meio dos textos teatrais, exerce forte influência de como a população deva agir, sendo esta outra forma educativa.


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Macedo (2000 apud NEVES; SANTIAGO, 2009) salienta que a expansão das ações teatrais disseminou informações, descentralizando-as de espaços confessionais, possibilitando ao público leigo o senso crítico e suas reflexões diante do sistema social vigente. John Dewey (1952 apud NEVES; SANTIAGO, 2009), filósofo e pedagogo, discorre sobre a tendência da criança em relação às suas atitudes e atividades, dizendo que a espontaneidade são passíveis no seu processo de aprendizagem (jogos, brincadeiras). A associação dessas atividades contrapõe o modelo tradicional de educação já engessado, devido a proporcionar requisitos para que consigam resolver os possíveis problemas. Esse modelo diferenciado tem ganhado espaço, pois além de iniciativa e independência, levou-se à autonomia e ao autogoverno dos indivíduos. Acredita-se que, a partir desse conceito, as instituições educacionais apostem na aplicação para melhoria das metodologias. Caldwell Cook (1980 apud NEVES; SANTIAGO, 2009) defende que atividade dramática como metodologia se faz significativo no ensino, pois didaticamente e de forma lúdica, encena situações que clareiam os conteúdos propostos pelas distintas disciplinas, fazendo com que a aprendizagem seja interdisciplinar. Proficiência e aprendizado não advêm da disposição de ser ou escutar, mas da ação, do fazer, e da experiência; o bom trabalho é mais frequente resultado do esforço espontâneo e livre interesse, que da compulsão e aplicação forçada; e o meio natural do estudo, para a juventude é o jogo. (COURTNEY, 1980 apud NEVES; SANTIAGO, 2009. p. 24).

A prática nos leva à perfeição. Seguindo esse ditado, o fazer se torna eficiente e o aprendizado adquirido transpõe as barreiras da teoria. A obrigatoriedade do ensino é necessária, porém despertar o interesse dos alunos para os conteúdos exigidos é uma das chaves para melhorar o seu desempenho. Diferentemente de forçar o estudante a aprender, demanda um querer natural para ação educativa. O jogo possui características que estreitam o perfil do jovem em relação à importância da aprendizagem, citado por Courtney (1980 apud NEVES; SANTIAGO, 2009) como uma dessas chaves. Platão e Aristóteles (1962 apud NEVES; SANTIAGO, 2009) acreditavam nos jogos a favor da educação, porém questionavam o teatro com divergências em suas ideias. Para Aristóteles, filósofo grego, o teatro é uma imitação, assim como outras artes, pois a partir disso, observamos os acontecimentos por ele representados e passamos a refletir sobre os assuntos, ampliando nossos conhecimentos. Também entende o jogo na educação como algo


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que facilita o dia a dia e, ao mesmo tempo, proporciona prazer. Corroborando com Viola Spolin (2010, p. 3) "Aprendemos através da experiência, e ninguém ensina nada a ninguém". Para o homem, sempre houve essa necessidade de representar, inicialmente para cultuar deuses e com o decorrer do tempo uma forma de manifestação cultural, praticada por muitos povos. Desde então, o teatro está arraigado em nossa cultura como meio de revelar algo para o mundo. Com Platão (1962 apud NEVES; SANTIAGO, 2009), fala-se de uma educação liberal, pensando no desenvolvimento cognitivo e motor dos alunos, norteada pela ludicidade do lado artístico e respaldada no uso dos jogos. Este valoriza a linguagem do teatro como prática de educar essencialmente para a formação. Atividades que expunham uma dramaticidade eram focadas nos valores didáticos, logo dispomos um teatro com a personalidade do homem. Um instrumento significativo educacional, à medida que difundia o conhecimento e representava. Para a população, era uma forma de contentamento, diversão, de modo literário, vigente na época de Platão e Aristóteles. Goethe entendia que o teatro no ambiente escolar surgiria efeito tanto para quem apreciava quanto para quem o produzia e que ambos desenvolveriam memória, gestos e disciplina, frisando a importância de se improvisar. Para Bacon (apud COURTNEY, 1980, p. 12): [...] uma arte que fortalece a memória, regula o tom e efeito da voz e pronúncia, ensina um comportamento docente para a fisionomia e gestuação, promove a autoconfiança e habitua os jovens a não se sentirem incômodos quando estiverem.

Para Rousseau (1995 apud NEVES; SANTIAGO, 2009), a construção educacional da criança poderia ocorrer por meio dos jogos, que reúne elementos distintos para o desenvolvimento infantil. No Brasil, o teatro teve início com Padre Anchieta e Padre Manoel da Nóbrega com o intuito catequético e jesuítico de forma didática e pedagógica e com o objetivo de inserir a religião e a cultura europeia na população. É a partir da década de 1970 que o teatro passa a ser compreendido como atividade artística e auxílio na aprendizagem, tanto nas igrejas quanto nas escolas com o foco pedagógico do que pelo estético propriamente dito.


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Os jogos teatrais e seus principais autores Os jogos teatrais é uma das diversas classificações da categoria de jogos existentes. Além destes, temos: jogos de azar, de faz de conta, infantis (brincadeiras e passatempos), esportivos, de estratégia e dramáticos. Alguns autores diferenciam as expressões jogo dramático e jogo teatral, ambos dentro de suas representações simbólicas ou dramáticas. Os jogadores se envolvem em função de uma ação improvisada, porém os sujeitos não têm como definição seus personagens de primeiro momento, pois são experiências cotidianas, independente do tempo a qual se referem. Existe um entrosamento com a natureza do objeto, as possíveis limitações das criações, os desafios da memorização, do pensamento e da precisão. Neste artigo, leva-se em consideração o jogo teatral e seus elementos participantes, definidos como jogadores (atores) e plateia (observadores), alternando os papéis para que haja uma compreensão de todos em ambas as experiências, pois no jogo dramático, todos são considerados atores participantes da criação imaginária. De modo geral, a prática dos jogos teatrais inclui: o acordo grupal, a realidade a ser jogada, estabelecida entre os atores e a plateia, e a estrutura do jogo, geralmente determinada pelos aspectos onde (o ambiente em que se passa a ação), quem (os personagens) e o quê (as ações dos personagens). (NEVES; SANTIAGO, 2009, p. 75)

O jogar é constituído por esses elementos essenciais para efetivação das trocas de criações, partindo do princípio estabelecido por regras do grupo de modo coeso. Importante que pensem sobre a ação em que está sendo realizada, quem são esses atores participantes e no ambiente no qual se encontram, assim, a precisão da situação proposta facilitará a compreensão do jogar tanto para atores envolventes quanto para plateia em observação. A prática teatral na educação influencia no desenvolvimento da comunicação de modo espontâneo. Os sujeitos são envolvidos na encenação cênica, e os jogos efetivamente fazem com que estes vivenciem os processos por etapas de aprendizado teatral. Nessas etapas, os discentes terão a oportunidade de descobrir as possibilidades e os limites do próprio corpo dentre seus sons, movimentos, ações e emoções, trabalhando em conjunto na representação simbólica em que a vivência de um personagem estará à exposição de uma plateia em observação. Estes fortalecem a estimulação das capacidades, das competências e as habilidades cognitivas, juntamente da consciência corporal para que esses alunos entendam o espaço


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físico a qual se encontram e o espaço do outro, exercitando o equilíbrio, a concentração, a observação, a coordenação e o ritmo. Viola Spolin (2009 apud NEVES; SANTIAGO, 2009) criou um conceito sobre o teatro com pesquisas realizadas em 1960 e 1970. Envolvida na área teatral voltada para educação, experimentou com crianças nas comunidades de Chicago, criando grupos de teatro improvisacional. Com isso, ela procurou entender o processo de educação no teatro, por meio de uma pedagogia baseada na prática vivenciada pelos jogos teatrais. A autora enxerga que essas atividades são respaldadas pelo estímulo da espontaneidade a na ludicidade. Frisa que as brincadeiras têm uma relação direta com o fazer artístico, pois possibilita a entrega inteira do aluno. O jogo é uma forma natural de grupo que propicia o envolvimento e a liberdade pessoal necessário para a experiência. Os jogos desenvolvem as técnicas e habilidades pessoais necessárias para o jogo em si, através do próprio ato de jogar. As habilidades são desenvolvidas no próprio momento em que a pessoa está jogando, divertindo-se ao máximo e recebendo toda a estimulação que o jogo tem para oferecer - é este o exato momento em que ela está verdadeiramente aberta para recebê-las. (NEVES; SANTIAGO, 2009, p. 77)

Divertindo-se com seriedade, a linha de ideia da autora Spolin (2009 apud NEVES; SANTIAGO, 2009), declarou que o jogo envolve naturalmente as pessoas e auxilia no desenvolvimento de técnicas e habilidades pessoais. Ao jogar, o jogador recebe todos os estímulos que o jogo oferece, assim desenvolve habilidades, esse é o melhor momento para recebê-las e absorvê-las. Segundo ela, existem alguns elementos importantes na prática dos jogos como a improvisação, a conscientização do sentido da representação, a resolução corporal do problema e o teatro em consonância com as relações interpessoais e as subjetividades dos alunos. O processo de jogar envolve a concentração como foco principal e foco, a instrução mediada pelo professor e o envolvimento da plateia como observadores das ações para que alcancem os resultados, terminando com a avaliação coletiva de ambas as partes. A intenção do jogo é sanar um problema proposto, diante de regras estipuladas por quem joga, lembrando sempre do que temos como ponto de partida para o jogar, o papel (quem), a ação relacionada ao (o que) e (onde) como determinação do espaço físico que acontece a ação. O objetivo é o foco para o desenvolvimento do jogo. O sistema a qual Spolin


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(2009 apud NEVES; SANTIAGO, 2009) pesquisou e desenvolveu mostra uma funcionalidade em escolas que aderiram à linguagem teatral atrelada ao conteúdo escolar. Augusto Boal (2009 apud NEVES; SANTIAGO, 2009) é referência no cenário da pedagogia teatral no Brasil e no mundo. Com seu método do teatro do Oprimido, que envolve técnicas distintas sempre pensando em ação e aplicação em causas de lutas sociais, na política, na pedagogia, entre outras, promove uma estimulação no espectador para que este se prepare a uma ação real. Para ele, os jogos estimulam o corpo e a mente alienada, conforme os ocorridos diários, o uso do termo para esse efeito denominado por ele como "desmecanização", facilitando o "funcionamento como diálogos sensoriais, e estes, dentro da disciplina necessária, exigem a criatividade, que constitui sua essência" Boal (1975, apud NEVES; SANTIAGO, 2009, p. 81). Ele destaca a relação da arte teatral como prática de autoconhecimento, permitindo também ao aluno a observação do outro, aquele que age e exemplificando em uma tríade de eu observador, eu em situação e o não eu, no caso o outro. Olga Reverbel (1997 apud NEVES; SANTIAGO, 2009) afirma que a utilização de atividades teatrais é fundamental para a criança em seu processo de aprendizagem e favorece as demais disciplinas do currículo escolar. O jogo, sendo um meio natural da aprendizagem, é também uma brincadeira, podendo ser aplicada de forma orientada ou espontânea e, desta, origina-se os jogos educativos. Dessa forma, é fundamental a atividade teatral para que a criança conheça e aprenda sobre si mesma. Suas obras atribuem o teatro como processo na formação da personalidade e cultural das crianças e adolescentes com aplicações de técnicas, atividades de expressão e dramaturgia. Com a proposta de atividades no desenvolvimento da autoexpressão do aluno, ela indica a utilização de atividades para preparar a criança ou o jovem para qualquer tipo de aprendizagem. Destaca que o processo tem início nos primeiros meses de vida e, aos poucos, são relacionadas com seu mundo, com o crescimento, desenvolve a linguagem e, na fase da palavra, há a interação entre seu mundo interior com o mundo exterior. Essas atividades são aplicadas pelo professor de forma coletiva e visam estimular, além das habilidades artísticas, o espírito crítico, assim ele será capaz de avaliar e selecionar elementos durante o processo educativo. A autora indica também que as atividades devam ser de acordo com as faixas etárias, direcionando crianças entre 5 e 11 e adolescentes de 12 a 16 anos e defende a espontaneidade e a técnica. Num primeiro momento, o professor dedica-se à brincadeira que desenvolva a espontaneidade para poder iniciar trabalhos com


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expressão e o exercício de técnicas corporais, vocais, musicais, coreográficas, técnicas de mímica e finalmente técnicas dramáticas. Assim, sua obra é direcionada à escola. A autora Joana Lopes (2009 apud NEVES; SANTIAGO, 2009) trata a ideia surgida do jogo dramático, conforme registrado em seu livro Pega teatro. Com a definição de um teatro-aqui-agora: teatro de revelação e invenção. São trabalhos e atividades que podem ser praticados por pessoas comuns e não necessariamente artistas. Em sua obra, estabelece uma relação dos contextos educativos com a prática do teatro muito parecido com o psicodrama, que possibilita vivência de papéis para análise e discussão, caracterizando uma conscientização das situações sociais. Conforme Neves e Santiago (2009, p. 88): Joana Lopes não oferece simplesmente uma série de exercícios (jogos teatrais) aos professores de educação artística ou aos atores em formação. Oferece um relato e o resultado de uma prática de pesquisa, realizada ao longo de quase duas décadas, e suas conclusões. [...] a autora se refere ao teatro como uma prática dramática de ação educativa capaz de promover a transformação social.

Ela apresenta uma prática da década de 1960 descrevendo a utilização do teatro popular. A partir do contato, grupos compartilhavam experiência e as vivenciavam por meio dos jogos teatrais e encenação da realidade social e simulação de acontecimentos do cotidiano profissional, por exemplo. A autora afirma: “O teatro educa, se entendermos por educar a descoberta e utilização de formas e meios de apoio para o desenvolvimento do ser humano em direção à vida autônoma e consequentemente para a sociedade de que seja membro” (1989 apud NEVES; SANTIAGO, 2009, p. 88), e também constata a função educativa do teatro promovida pelo teatro educação, com a proposta de compreender e decifrar as fases do jogo dramático para não incorrer no risco de generalizações, traduzidas por técnicas padronizadas referente à união da arte e a educação. PESQUISA DE CAMPO Segundo José Filho (2006, p. 64) “o ato de pesquisar traz em si a necessidade do diálogo com a realidade a qual se pretende investigar e com o diferente, um diálogo dotado de crítica, canalizador de momentos criativos”. A pesquisa acadêmica proposta neste artigo tem por objetivo analisar os dados coletados a partir da contribuição de pessoas voluntárias envolvidas na educação e nos permitirá uma visão mais ampla e coerente referente à pesquisa bibliográfica, demonstrandonos resultados para futuros estudos sobre o assunto.


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Objetivo Verificar como as instituições de ensino e o corpo docente utilizam a arte e mais especificamente os jogos teatrais, que circundam conceitos das disciplinas durante o processo de ensino/aprendizagem e como são aplicadas. Objetivo específico ● Comparar a visão entre os pedagogos com relação à utilização da arte e para os especialistas, à aplicação dos jogos teatrais (como recurso da arte), caso não utilizem ou não apliquem, explicar por qual razão. ● Questionar a ideia da relevância sobre o uso dos jogos teatrais e se sua aplicação deva ser específica (especialistas) ou de uma forma mais ampla e nocional (pedagogos).

Metodologia Inicialmente, foi pensado um questionário amplo para os dois grupos. No entanto, como são profissionais díspares, ficou resolvido que seriam desenvolvidos dois questionários diferentes, contemplando suas especificidades. Os questionários contêm quatro questões quantitativas com o intuito de traçar o perfil dos profissionais, seguido de quatro questões qualitativas para os pedagogos, sobre a ação da arte como desenvolvimento do trabalho educacional e cinco questões para os especialistas, abordando os jogos teatrais como uma das ramificações da disciplina, porém uma das dissertativas é igual por se tratar da arte e sua importância na educação. Totalizando oito perguntas para pedagogos e nove para especialistas. Os profissionais foram escolhidos por indicação de outros alunos pesquisadores que atuam na mesma escola, e a aplicação do questionário foi realizada individualmente de modo escrito, deixando-os livre para responderem sem interferência por parte do pesquisador. Sujeitos Os sujeitos escolhidos para a pesquisa foram quatro pedagogos e dois professores especialistas atuantes da rede pública do ensino fundamental I de três escolas distintas do município de São Paulo.


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Tabela 01: Pedagogos atuantes. Sujeitos

Idade

Formação acadêmica

Especialização

Experiência profissional

P1

44

Magistério e Pedagogia

x

Ensino público e ensino privado

Nível educacional de atuação Ed. Infantil Ed. Fund. I e II Ensino Médio

Tempo de atuação Acima de 20 anos

P2

33

Pedagogia

x

Ensino público

Ed. Fund. I

Entre 5 a 10 anos

P3

30

Didática da matemática nas séries iniciais

Ensino público

Ed. Fund. I

Entre 5 a 10 anos

P4

45

Magistério Pedagogia Especialização Magistério Pedagogia Especialização

Pós-graduação em matemática

Ensino público e privado

Ed. Fund. I

Entre 15 a 20 anos

Fonte: autoria própria

Tabela 02: Especialistas atuantes. Sujeitos

Idade

Formação acadêmica

Especialização

Experiência profissional

E1

49

Licenciatura em artes plásticas e especialização

Pós-graduação em arte educação e docência do ensino superior

Ensino público e privado

E2

51

Pedagogia

Arte

Público

Nível educacional de atuação Ed. Infantil Ed. Fund. I e II Ensino Médio Ed. Fund. I e II

Tempo de atuação Entre 15 a 20 anos Entre 5 a 10 anos

Fonte: autoria própria

Analise e discussão de dados A primeira questão teve como objetivo identificar a qualificação técnica de cada profissional atuante na área, de modo que haja uma melhor compreensão das respostas futuras. Já a segunda questão visa analisar em qual regime de contratação os profissionais já trabalharam, relacionando sua experiência às atividades aplicadas em setores educacionais distintos. A terceira questão é um complemento da anterior, assim podemos analisar se a metodologia aplicada foi utilizada para diferentes faixas etárias. A quarta questão tem por objetivo saber o tempo de atuação, fazendo um paralelo à experiência já adquirida na área. A seguir, apresentaremos as perguntas do questionário, com uma síntese das respostas fornecidas pelos sujeitos e uma análise baseada nas teorias explicitadas.


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5. Qual a relevância das artes para a educação fundamental I? Explique por quê. A quinta questão pretende entender o que os profissionais pensam sobre a importância da arte no ensino fundamental I, se há uma transformação do indivíduo por meio dessa manifestação artística presente, expondo os porquês da aplicação no ensino, se valorizam a disciplina e se acham tão importante quanto as outras do currículo escolar, de modo a relatar o que contribuiria para a melhoria dos processos educativos. P1 diz que a criança, desde de muito cedo, reage aos estímulos artísticos e é uma criadora em potencial. Acredita que a arte fornece oportunidade para desenvolvimento quando trabalhado por diversos tipos de materiais para manipulação. P2 diz que proporciona conhecimento, aprendendo a interpretar, refletir e emocionar-se, assim percebendo a beleza dos artistas, por meio das palavras, pinturas, formas geométricas, retratos e histórias. P3 também aborda o desenvolvimento, porém do senso estético, trabalhando a sensibilidade para a arte, aprendendo a apreciá-la e finaliza dizendo que auxilia no raciocínio para outras disciplinas. P4 também cita a criatividade e complementa com a lateralidade, coordenação motora e finaliza relatando sobre o despertar do olhar artístico para diferentes áreas da arte. E1 e E2 compartilham da mesma ideia de P1 e P4 sobre estimular a criatividade e a E1 complementa com a imaginação sendo desenvolvida por meio do lúdico. Percebe-se de modo geral de que todos acreditam na arte como parte importante do desenvolvimento dos alunos, isso já é considerável. Ochôa e Mesti (2015, s/p) exemplificam que “a manifestação artística tem em comum com o conhecimento científico, técnico ou filosófico seu caráter de criação e inovação, essencialmente, o ato criador”. Abordam palavras-chave como despertar, refletir, sensibilidade, criatividade e senso crítico, porém ainda parece vago o conhecimento teórico apresentado nessas respostas de modo a refletir como estariam praticando a arte e suas vertentes. 6. Explique como utiliza as artes na rotina diária de suas aulas e quanto tempo dedica a isso. A sexta questão, para os especialistas, visa entender como utilizam a metodologia em aula, trabalhando quais vertentes da arte e o tempo disponibilizado para as atividades e de que forma é aproveitado. Para os pedagogos, a intenção é entender se utilizam a arte nas aulas, como e quanto tempo. Caso contrário, qual o motivo da não utilização.


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P1 afirma utilizar a arte na rotina em algumas disciplinas de diversas formas. Cita língua portuguesa com releitura de obras de arte, contos de fadas, expressão corporal e teatro; em história, pintores brasileiros; em matemática, formas geométricas. P2 complementa citando um exemplo na aula de história sobre cafeicultura no Brasil e imigrantes trabalhadores nas lavouras. Trabalhar por meio das pinturas como foram retratadas pessoas do século passado ou retrasado. P3 questiona o programa curricular do Estado, justificando ser muito pesado, não possibilitando a arte de forma abrangente e inviabilizando o uso com frequência. P4 diz trabalhar diferentes vertentes da disciplina como origami, fantoches e construção de cenários com personagens, como fechamento das atividades desenvolvidas na semana. A E1 diversifica suas aulas com colagens, dobraduras, recortes e contação de histórias. E2 diz que trabalha linguagens visuais e suas técnicas por meio de desenho de observação e apreciação de obras de arte, trabalhando diversas formas de expressões. Todos utilizam a arte nas rotinas da sala, sendo que P1 e P2 trabalham de modo interdisciplinar, oportunizando a aplicação na maioria das disciplinas: “[...] dar oportunidades a cada um de descobrir o mundo, a si próprio e a importância da arte na vida humana” (REVERBEL, 1989, p. 25). Já P3 relata que não trabalha a arte em sua rotina, justificando que o currículo do Estado é muito pesado. Percebe-se em sua resposta que não há uma abertura para oportunizar seus alunos a vivência de uma prática artística em sala. Talvez não haja um discernimento do que seria exatamente essas manifestações em seu dia a dia e não perceba que pintura de desenhos e produções livres que geralmente são frequentes em algumas metodologias docentes também se enquadrem como uma forma de expressão da arte. P4 e os especialistas diversificam suas aulas disponibilizando distintos materiais como recurso. Isso só justifica o que Reverbel (1996) diz que o docente deve pensar como trabalhar as atividades e sua ordem para aplicação, analisando quais personalidades encontrará. O educador deverá adaptar o ensino a cada momento, alunos e o grupo estabelecido. 7. Em algum momento, em sua prática pedagógica, trabalhou jogos teatrais? Se sim, explique como; se não, explique por quê. A sétima questão visa compreender o que os especialistas sabem sobre jogos teatrais, se entendem as possibilidades existentes de abordagens das artes dentro da disciplina, se já aplicaram em algum momento ou não, explicando os porquês em ambas as situações. Para os


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pedagogos, a intenção é entender se aplicação das artes deva ser conduzida por professores especialistas ou se pedagogos podem aplicar, explicando os porquês. P1 relata ter se deparado com uma situação em que teve de assumir algumas aulas de arte em uma escola particular. Por não ser especialista, percebeu o quanto é difícil em algumas situações ministrar essas aulas sem a formação especifica. P1, P2 e P3 compartilham a ideia sobre a aplicação da arte somente por especialistas, pois possuem a formação e estão preparados. P3 afirma a importância e a complexidade da disciplina e que a formação oferecida na pedagogia não é o suficiente para que o professor trabalhe com eficácia. P4 acredita que a disciplina possa ser trabalha por ambos, pois cada um tem objetivos específicos, complementando o trabalho do outro, estabelecendo uma parceria. E1 diz nunca ter trabalhado jogos teatrais e não tem habilidade, pois sua formação é em artes plásticas. E2 diz ter trabalhado com jogos, em algumas vezes, usando temas ou deixando que os grupos decidam o que apresentar. O jogo dramático sempre é proposto, com tempo estipulado de 10 minutos para discutir, criar e apresentar para a sala. Há uma tendência da não compreensão dos pedagogos quando questionados sobre a aplicação da arte em aula, entende-se o quanto poderia ser abordado entre as vertentes da disciplina. Entendem a arte como matriz só para especialistas e não enxergam as possibilidade de conceitos e métodos para a aplicação. Preconiza (LIS, 2008, p. 9) “Faz-se necessário que o professor, embora tenha sua formação somente numa especificidade de linguagem, busque os conhecimentos artísticos necessários, os quais não são de sua área de formação”. Importamte esse entendimento sobre essas linguagens. Talvez façam implicitamente, não diferenciando algumas atividades propostas executadas em aula como pertencente a uma manifestação artística como desenho para colorir, produções livres, músicas cantadas e projetos em feiras literárias, todos criados pelos próprios profissionais e seus alunos. 8. Qual relevância vê na prática dos jogos teatrais para a educação fundamental I? Explique por quê. A oitava questão, para os especialistas, caso as respostas fossem positivas com relação aos jogos teatrais, questionado na questão anterior, era saber sobre a importância da aplicação destes no desenvolvimento dos alunos. No entanto, caso não houvesse um resultado positivo sobre o conhecimento dos jogos, procurou-se entender quais vertentes da arte costumavam aplicar em sala como metodologia. Para os pedagogos, a intenção era entender quais


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atividades artísticas são aplicadas durante o ano letivo, disponibilizando informações aos alunos e oportunizando diferentes visões sobre arte. P1 justifica que as atividades aplicadas no ano letivo são por meio dos projetos elaborados no planejamento realizado pela coordenadora de modo adequado. P2 diz que as atividades artísticas são trabalhadas somente pelo especialista com foco no conteúdo programático. (LOMBARDI, 2010, p. 6) afirma que para o pedagogo utilizar jogos teatrais, precisa conhecê-los em sua formação, já que o “o comportamento lúdico não é um comportamento herdado, ele é adquirido pelas influências que recebemos no decorrer da evolução dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem”. P3 e P4 disseram que trabalham com diversas manifestações artísticas desde pinturas, releituras de obras de arte, textos da temática, teatro, dança, datas comemorativas, montagens de cenários e personagens. E1 e E2 compartilham a ideia quanto à aplicação dos jogos teatrais por ambos os profissionais e qualquer profissional, ligado a área de educação. CONSIDERAÇÕES Com fundamento no processo histórico referente à utilização da prática teatral na educação, observa-se que não houve modificações notáveis ao longo do tempo. Como consequência, sua aplicação é mínima na educação, diante do propósito benéfico relacionado ao processo de ensino-aprendizagem dos alunos, que os diferenciam, pois aguçam a percepção dos sentidos muitas vezes não explorados no modelo currícular tradicional de ensino nas escolas. O trabalho aborda os jogos teatrais como recurso da prática pedagógica no fundamental I. Estudos apontam, conforme as referências teóricas, embasada nos autores como Viola Spolin, Augusto Boal, Olga Reverbel e Joana Lopes e a análise na pesquisa de campo, que existe uma melhora nos resultados de aprendizagem quanto à aplicação desses jogos. Entretanto, há uma desconhecimento quanto aos profissionais em perceber e comparar a diferença na dinâmica da compreensão do aluno para a sociedade. É válido ressaltar que os jogos teatrais como recurso da prática pedagógica é um complemento e sua utilização maximiza o desenvolvimento do aluno, mas está longe de ser uma solução para os problemas de aprendizagem. Dessa forma, é indispensável um estudo mais específico que visa tratar as diversas problemáticas existentes no ensino de um modo geral, da mesma maneira que seja considerada a formação de profissionais com uma


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qualificação mais precisa ou numa linguagem mais técnica, uma vez que aumenta a atenção do educador em relação às diversas dificuldades enfrentadas em sala de aula, por exemplo. Essa prática, também como manifestação humana, traz subsídios que ajudam desenvolver os aspectos intelectuais em consonância com as questões morais e éticas de tal importância para educadores, professores de arte e educandos, esse aspecto docentes e discentes é de total importância, já que o processo do conhecimento continua fora do ambiente escolar, sendo sua principal extensão. A apresentação desse trabalho deduz como incentivo a inovações e os jogos teatrais como ramificação da arte como ferramenta existente no processo educativo para melhorar resultados e possibilitar que os profissionais de educação, e os demais, identifiquem que o ensino tradicional pode e deve ser complementado por meio da pedagogia teatral, havendo uma formação continuada aos profissionais como cursos específicos que auxiliarão na aplicabilidade dos jogos para discernirem esse aspecto na instituição, dentro dos currículos, permitindo que a didática e a metodologia provoquem mudanças significativas em diversas áreas de aprendizagem. REFERÊNCIAS ARCOVERDE, S. L. M. A importância do teatro na formação da criança. Disponível em: <https://not6vg-bn1306.files.1drv.com/y3mzSpkqE8PHyBm7xKc0UlUpGZjny2ZKbnTppLu 8NyudzvsRFIAN_xkq81Nw7VqWYEvcmDuBVPUJel5HEJQRBXIRjeCrGkWHfXAl2kBms VTxeaWNgzDV2xx11kvhVpgXodM8fye--ox5I14p6lg51rImA/teatro%20e%20a%20forma% C3%A7%C3%A3o%20da%20crian%C3%A7a.pdf?psid=1>. Acesso em: 28 nov. 2015. BARBOSA, A. M.; COUTINHO, R. G. Ensino da arte no Brasil: aspectos históricos e metodológicos.

Rede

São

Paulo

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Formação

Docente,

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Disponível

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Acesso em: 30 nov 2015. LOMBARDI, L. M. S. S. Jogos teatrais na formação de pedagogos. Disponível em: <http://www.revistafenix.pro.br/PDF22/TEXTO_15_ARTIGO_DOSSIE_LUCIA_MARIA_S ALGADO_DOS_SANTOS_LOMBARDI_FENIX_JAN_FEV_MAR_ABR_2010.pdf>. Acesso em: 30 nov 2015. NEVES, L. R.; SANTIAGO, A. L. B. O uso dos jogos teatrais na educação. 2. ed. Campinas: Papirus, 2009. OCHÖA, P. C. A; MESTI, R. L. Teatro na escola: linguagem e produção de sentidos. Disponível em: <www.alb.com.br/anais16/sem12pdf/sm12ss01_09.pdf>. Acesso em: 01 ago 2015. PIANA, M. C. A construção do perfil do assistente social no cenário educacional. São Paulo: Ed. UNESP; Cultura Acadêmica, 2009. REVERBEL, O. O texto no palco. Porto Alegre: Kuarup, 1993. SPOLIN, V. Improvisação para o teatro. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.


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