Minas Faz Ciência Infantil - Edição Especial 2017

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Redação - Av. José Cândido da Silveira, 1500, Bairro Horto - CEP 31.035-536 Belo Horizonte - MG - Brasil Telefone: +55 (31) 3280-2105 Fax: +55 (31) 3227-3864 E-mail: revista@fapemig.br

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De manhãzinha, o sol se esbalda sobre nós. Seu calor entra pelas frestas da janela, e, sorrateiro, nos lembra que lá está ela, delicadamente, a nos dar “bom dia”. Afinal, sua vontade de analisar, escarafunchar, descobrir, sarar, melhorar ou criar aparece em um quinquilhão de coisas – dos fios daquele travesseiro favorito ao velho chinelo de borracha; do gosto da pasta de dentes ao quentinho do chuveiro elétrico; da supermola do tênis esportivo à sapiência dos livros guardados na mochila. Sim! Apesar de a gente se esquecer de seu abraço diário, ela nos segue em todos os lugares. Companheirinha para 1001 aventuras pela vida, a ciência parece mesmo não ter limites: no mesmo instante, é capaz de se exibir lá no espaço, numa sorridente selfie com o astronauta, e, em segundos, cisma de nos cutucar, cheia de enigmas, naquele mega-maxi-ultra-problemão escabroso de Matemática! Achou pouco?! Mas tem muito mais... A ciência parece atleta,

GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Governador: Fernando Pimentel SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR Secretário: Miguel Corrêa Jr.

pois não se cansa nunca! Dia desses, no parque, dizem que ela apareceu na gangorra, na água, na barriguinha dos peixes, no vento, no avião que cruzou os céus, no picolé de morango, no skate veloz, na panela do pipoqueiro, no smartphone da mamãe, na bola que quase nos acertou, e, também, no... Ufa! Vamos parar por aqui! É que, para citar todos os lugares onde “ela” foi vista, seria necessário um espaço

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais Presidente: Evaldo Ferreira Vilela Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação: Paulo Sérgio Lacerda Beirão Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças: Alexsander da Silva Rocha Conselho Curador Presidente: Virmondes Rodrigues Júnior Membros: Clélio Campolina Diniz, Esther Margarida Bastos, Eva Burger, Luiz Roberto Guimarães Guilherme, Marcone Jamilson Freitas Souza, Michele Abreu Arroyo, Nilda de Fátima Ferreira Soares, Ricardo Vinhas Corrêa da Silva, Roberto do Nascimento Rodrigues, Valentino Rizziioli Para receber gratuitamente a revista MINAS FAZ CIÊNCIA, envie seus dados (nome, profissão, instituição/empresa, endereço completo, telefone, e e-mail) para o e-mail: revista@fapemig.br ou para o endereço: FAPEMIG / Revista MINAS FAZ CIÊNCIA Av. José Cândido da Silveira, 1500, Bairro Horto - Belo Horizonte/MG - Brasil - CEP 31.035-536

“infinito + infinito X infinito” de tamanho, né?! Ah! Por falar nisso, sabe onde é que a ciência também vai aparecer, toda cheia de vida, para conversar e conversar e conversar com você?! Na revista MINAS FAZ CIÊNCIA, é claro! Que tal, então, a gente se sentar um pouco para saborear as deliciosas (e misteriosas e incríveis e engraçadas e emocionantes) histórias que ela pode nos contar? Vanessa Fagundes e Maurício Guilherme Silva Jr. (E não é que esses dois jornalistas também são muito amigos da ciência? Sim! Eles realmente adoram conversar, brincar e aprender com ela.)

AO LEI TO R

EX P ED I EN T E

MINAS FAZ CIÊNCIA Diretora de redação: Vanessa Fagundes Editor-chefe: Maurício Guilherme Silva Jr. Redação: Alessandra Ribeiro, Lorena Tárcia, Luana Cruz, Luiza Lages, Mariana Alencar, Maurício Guilherme Silva Jr., Tatiana Pires Nepomuceno, Téo Scalioni, Vanessa Fagundes, Verônica Soares e Vivian Teixeira Direção de arte: Felipe Bueno Editoração: Fatine Oliveira Montagem e impressão: Rona Editora Tiragem: 25.000 exemplares Capa: Felipe Bueno


EU E MEUS SUPERPODERES

06 13 CORPO SAUDÁVEL, CACHOLA ESPERTA

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QUE SONHO DOIDO!

EU FALO COM AS MÃOS

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26 COMER É VIVER

O FANTÁSTICO MUNDO DO QUEIJO

28 43 CUIDADO COM SUA TATTOO DIGITAL!

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MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2017

32 JOYSTICK CONTRA AS CÁRIES

A CIÊNCIA POR TRÁS DOS SUPER-HERÓIS

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É VERDADE, PROFESSOR?

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FUNCIONA ASSIM

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VIAGEM AO FUNDO DO MAR

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PORRRRR QUE “CÊ” FALA ASSIM, ÔH, MEU?!

O FIM (NADA DOCE) DE UM RIO

35 50 LIVRO, APP, SITE, FILME, GAME!

39 MONTEIRO LOBATO E A CIÊNCIA

O BRASIL VAI ÀS ESTRELAS!

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“EINSTEIN”, EM VERSOS

55 VENENO DO BEM

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Que

superpoder você

gostaria

“Queria poder prever o futuro, para ajudar as pessoas”. Maria Clara Jardim Dornellas (9 anos)

“Supervelocidade, para ganhar todas as corridas”. Arthur Henrique Ferreira Sena (9 anos)

“Poder de mágica, para congelar o Arthur”. Bernard Augusto Ferreira Sena (3 anos), irmão do Arthur

“Voar e ficar invisível, pra mexer em coisa que não pode, e, também, pra ninguém me achar no esconde-esconde”. Alice Maciel (4 anos)

“Queria parar o tempo, pra poder fazer um monte de coisas com o tempo parado”. Clara Mesquita Villaça (11 anos)

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de ter?


“Queria poder salvar a Amazônia da ação do homem”. Fernanda Rabelo Bechara (9 anos)

“Teletransporte”. André Cunha, o Dedé (8 anos)

“Superforça e poder de fogo”. Gabriel Assis (9 anos)

“Poder me transformar em todos os bichos do mundo e controlar as forças da natureza”. Nino Baeta Rampini (7 anos)

“Queria ter o poder das crianças”. Victor Lucca Santana Rezende (3 anos)

“Poder de voar e de raio laser”. Miguel Bernini (7 anos)

“Queria poder correr rápido igual ao Flecha”. João Jorge Gonçalves Pereira (4 anos)

“Queria ter supervelocidade, para salvar o mundo”.

“Supervelocidade, pra salvar as pessoas em perigo, assim como o Barry, do The Flash”. Emanuelly Tauanny Veloso Paraiso (7 anos)

Lincoln Nunes (10 anos)

“Visão de raio X, pra conseguir ver tudo que tem na terra e nos mares”. Eduardo Campos Sabino (6 anos)

“Poder de Mulher Maravilha, pra cuidar da gente”.

“Quero o poder de superforça, para salvar o bem do dia”. Pedro Alves Mantovani (5 anos)

Isadora Viglione Orlandi (3 anos)

“Poder da cura, para as pessoas não terem mais câncer, AVC e outras doenças ruins”. Hadassa Victória da Silva Rocha Carvalho

“Invisibilidade, para poder sair nos cantos sem ninguém me perceber. E fazer gracinhas”.

(11 anos)

Maria Rita Moreira de Souza (9 anos)

“Gostaria de ter o poder da velocidade, principalmente, na aula de Educação Física”.

“Poder de me tornar uma fumaça de sombra”.

Fernanda Andrade de Luca (8 anos)

“Poder de ajudar todo mundo!”. Ana Eliza Ferreira de Moura (4 anos)

“Poder do Hulk e do Aranha”. João Antônio Araújo Ribeiro (4 anos)

André Naves (9 anos)

“Poder de choque”.

“Poder de viajar no tempo, para saber os resultados da Mega-Sena”. Francisco Alves Mantovani (9 anos)

“Poder de supervelocidade e telecinese”. Lucas Pontello Morato (10 anos)

“Queria voar, ficar invisível e me teletransportar”. Bianca Pontello Morato (6 anos)

Arthur Naves (9 anos)

“Poder de me teletransportar” Ian van de Schepop (8 anos)

“Queria ser invisível, pra comer muito doce, sem minha mãe ver”. Letícia Martins (11 anos)

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, á l a g i D ! e r t s e M

Alunos cheios de curiosidade esclarecem dúvidas iradas com seus professores Vivian Teixeira

MINAS FAZ CIÊNCIA foi à Escola Municipal do Bairro Tropical, em Contagem (MG), e propôs um papo, entre alunos e professores, sobre diversos assuntos. O resultado da divertida (e enriquecedora) conversa foram ótimas entrevistas, realizadas por três estudantes do quinto ano do Ensino Fundamental com seus mestres de Ciências, Geografia e Matemática. A galera aproveitou a ocasião para tirar dúvidas sobre coisas que deixam as pessoas muito curiosas! E você, o que perguntaria a seu Mestre? Guilherme Teles dos Prazeres (11 anos) – Qual a maior distância já percorrida pelo ser humano no espaço? Fernanda Carmelita Fonte Boa Rabelo, professora de Ciências – Nossa maior viagem pelo espaço foi à Lua, distância de, aproximadamente, 384 mil quilômetros. Apesar de os homens mandarem sondas a lugares muito mais distantes, elas não são tripuladas.

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Guilherme – Se a Terra parasse, quais os efeitos sobre o ser humano? Fernanda – Ocorreria algo parecido com uma grande batida entre carros. O movimento de rotação do planeta é de, aproximadamente, 1600 Km/h, e, se ele parasse, haveria desmoronamentos, desastres naturais e morte de seres vivos. Além disso, de um lado, a Terra ficaria completamente deserta, devido à exposição ao Sol; de outro, viraria uma geleira, e praticamente todas as espécies seriam extintas. Guilherme – Os “Buracos de Minhoca” existem? Fernanda – A teoria dos Buracos de Minhoca foi criada pelos cientistas Albert Einstein e Nathan Rosen e fala da hipótese de existirem portais que permitam passagens através do tempo. Seria possível viajar ao passado, ao futuro, ou, ainda, percorrer distâncias muito longas de maneira rápida? Ainda não temos resposta científica a isso.


Rodrigo Patrício

es dos Prazeres; fano e Guilherme Tel Tó ito Br ia tíc Le s, lhães Soare Martins de Amorim alunos Mariana Maga s (Geografia), Maria os nto a, Sa im s ac do a, s eit Lin dir r a Da esquerda para (Ciências), Ana Xavie Fernanda Carmelita Chiodi (Matemática) abaixo, as professoras ) e Mariana Carraro ora ret (di m rdi Ja ria a Ma (vice-diretora), Márci

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Mariana Magalhães Soares (11 anos) – No mundo, há muitas culturas, pessoas, tipos de locomoção e alimentos. A Geografia pode nos ajudar a entender tudo isso? Ana Xavier Limas dos Santos, professora de Geografia – Podemos viver a Geografia no dia a dia. Você falou, primeiro, em cultura. Estudamos países, continentes e sua vasta diversidade cultural. Veja o Brasil: somos um país muito grande e miscigenado. Para cá, vieram os europeus, os negros africanos, e, ainda, havia os índios. Essa mistura faz parte de nossa cultura. Sobre os alimentos, a gente já vivencia a Geografia em muitos lugares: de onde vem e onde foi cultivado o café? Os grãos serão exportados? Por fim, a lo-

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comoção é muito importante para entendermos a movimentação das pessoas, as migrações, as mercadorias. Mariana – Quantas placas tectônicas existem no mundo? Ana – Existem divergências sobre isso em livros e sites. Alguns dizem que há placas maiores e menores. Em relação às grandes, o número varia entre 14 e 15 placas importantes. Entre as menores, a variedade é de 50 a 55 placas, mas, por serem pequenas, nem aparecem no mapa. Quando se trata de aspectos físicos, porém, na Geografia, tudo está em permanente transformação. Pode ser que depois apareçam mais.


Mariana – Por que existem apenas seis biomas principais no Brasil? Ana – Temos a Mata Atlântica, o Serrado, a Caatinga e a Floresta Amazônica. Eles são chamados de principais por serem maiores, mas também temos aqueles de menor tamanho, como os Manguezais e vegetações litorâneas, aos quais os livros dão menos importância. Todos são vitais, pois abrigam espécies vegetais e animais de grande valor. Letícia Brito Tófano (11 anos) – O que a Matemática pode nos proporcionar? Onde e quando ela surgiu? Mariana Carolina Carraro Chiodi, professora de Matemática – A disciplina surgiu na Babilônia, no século VIII a. C. À época, era usada para necessidades como contar rebanhos e ganhos do rei. Atualmente, há Matemática em tudo o que nos rodeia: números, formas geométricas, relógio, calendário, dinheiro etc. Letícia – E por que a maioria dos alunos a considera tão difícil? Mariana – Quando começamos a aprender, conhecemos os números. Eles aumentam e a gente conhece muitas outras operações. Se não aprendermos a adição direito, não conseguiremos entender, lá na frente, a subtração ou a multiplicação. Afinal, na Matemática, um conteúdo é pré-requisito para outro. Muitos alunos a acham difícil, justamente, pelo fato de, lá atrás, não terem consolidado um conteúdo.

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Ilustrações Felipe Bueno

CO M

ONA UNCI F O

A Física que faz voar

Para percorrer longas distâncias com rapidez, nada melhor do que os aviões. É fácil vê-los nos céus de todo o mundo... Difícil é saber como essas imensas máquinas, que chegam a pesar mais de 200 toneladas, conseguem voar. Primeiramente, é preciso vencer a resistência do ar: o avião é impulsionado pelas turbinas, que soltam ventos em sentido oposto e o empurram para a frente. Em seguida, as asas entram em ação. A diferença de velocidade na passagem do ar faz com que a pressão sobre elas (a força do peso, em direção ao chão) seja menor do que a do “empurrão” para cima. Resultado? O avião ganha as nuvens! No mais, relaxe. E ótimo voo!

Blin-blon! A campainha elétrica é um mistério. A pessoa aperta um botão, que emite sons e avisa que alguém chegou à porta. Por trás de tal singela tecnologia, há um processo bem interessante! Trata-se da aplicação de eletroímãs, dispositivos formados por um núcleo de ferro inserido na bobina. Quando se pressiona a campainha, o circuito se fecha e a corrente elétrica é estabelecida. Carregado, o eletroímã gera o campo magnético responsável por atrair e movimentar o badalo, que, então, se choca com o gongo – o instrumento sonoro. Bem... Ao saber de toda essa trabalheira, imagino que você vá pensar duas vezes antes de dar “blin-blon” na casa dos outros e sair correndo!

Tem chiadeira no fogão É comum ouvir, na cozinha, as “cantorias” da panela de pressão... Você saberia dizer, porém, como age tal barulhento objeto, a ponto de deixar o feijão tão molinho e saboroso? Ao cozinhar um alimento com água, quanto maior a temperatura, menor o tempo de cozimento, até que se atinja o ponto de ebulição, quando a água evapora (ao nível do mar, isso ocorre a 100°C). Esse valor varia, contudo, de acordo com a pressão exercida. Na panela, a borracha da tampa garante vedação total e impede que o vapor escape. A pressão interna aumenta com o aquecimento ao fogo e não há evaporação a 100°C, mas a temperaturas bem mais altas. Isso permite que o alimento cozinhe rapidamente. E aí, entendeu, Mestre Cuca? 12

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CORPO

Corpo saudável, cérebro fortão! Exercícios físicos melhoram nossa capacidade de pensar, imaginar e calcular

Maurício Guilherme Silva Jr.

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“Mente sã, corpo são”. Por acaso, você já ouviu algum adulto soltar essa frase curtinha, mas superimportante?! No fundo, no fundo, essas quatro palavrinhas se juntaram para transmitir uma ideia bem legal: se a cabeça de alguém estiver cheia de charadas instigantes, e de pensamentos bons, a saúde de seu corpo também ficará ótima! Bacana, né?! Bem... Mas e se a gente inverter essa lógica? Ou seja: se o corpo estiver cheio de energia, a mente também ficaria mais forte, esperta e inteligente? Como tal dúvida não me saía da cabeça (pois eu também não paro de pensar!), resolvi conversar sobre ela com um cientista. Procurei, então, o professor Guilherme Menezes Lage, que trabalha na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG. Sabe que boa notícia ele nos deu? – A manutenção de um corpo saudável está associada a ganhos no bem-estar físico, social e mental das pessoas.

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Cérebro atleta Em outras palavras, quando você joga futebol, dança balé, pula corda, brinca no quintal ou faz Educação Física, não é só o corpo que sorri! Sua mente também se fortifica, de maneira a que compreenda melhor, por exemplo, os desafios da Matemática ou as regrinhas de Português. – Os benefícios mais discutidos são as melhorias na condição cardiorrespiratória e no desenvolvimento dos sistemas muscular, esquelético e endócrino – afirma Guilherme. Isso quer dizer que, depois daquela divertida brincadeira, ou da prática de esportes, o coração, os pulmões, os ossos e os órgãos que produzem hormônios (substâncias importantes para o equilíbrio corporal) ficarão muito mais fortes! E quer saber outra ótima consequência desse corpo ativo e flexível? Um montão de melhorias nas chamadas “funções cognitivas”, e, por exemplo, no desempenho escolar: – Pesquisas mostram que a prática de exercícios físicos auxilia, por exemplo, as habilidades matemáticas e de leitura dos estudantes – explica o professor.


Tem mais! Um corpo saudável também é bom demais para o... humor! Sim! Exercícios físicos têm papel direto na regulação de nosso sorriso para a vida. Por meio deles, melhoram, por exemplo, os sintomas da depressão, uma doença perigosa, na qual a gente precisa ficar de olho! – Já observamos, ainda, ganhos em testes de QI. Outros efeitos, que precisam ser mais estudados, mostram redução da ansiedade e alteração positiva na autoestima de crianças e adolescentes – completa o professor Guilherme.

Corpo em movimento* Como você viu, exercitar-se é algo fundamental. Brincadeiras e esportes fortalecem a musculatura e a coordenação motora, além de melhorar a concentração para os estudos. Vamos brincar, então? Antes disso, basta escolher um objetivo: ⚐ Para queimar calorias: pega-pega, esconde-esconde ou concurso de dança com os amigos. ⚑ Para treinar força das pernas e braços: pular corda e jogar queimada. ⚐ Para se sentir atleta: descer e subir escadas, ou se pendurar em barras e saltar. ⚑ Para alongar: no chão de areia do parquinho, que tal cavar o buraco mais fundo que você conseguir? ⚐ Para relaxar: escolha um lugar bem bonito para fazer caminhada. (Ah! E se tiver bichinho de estimação, pode levá-lo junto!)

*Colaboração de Luana Cruz

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A M O I ID

Sons que contam histórias

De onde vêm os sotaques e por que falamos assim? Roberta Nunes Você já parou pra pensar por que sua maneira de falar não é a mesma das pessoas de outras regiões do País? Essa diferença toda se deve ao sotaque, que está relacionado ao modo como pronunciamos as palavras e usamos as expressões. O som e o ritmo da conversa contam o trajeto de cada ser humano, e apontam que tem muuuuuuita história por trás da linguagem!

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Imitações O Brasil é o quinto maior país em extensão territorial. Isso faz com que existam modos diferentes de falar a língua portuguesa. Cada região conserva um jeitinho específico, transmitido de geração a geração. E as pessoas aprendem a falar, assim ou assado, por meio do quê? Da imitação! Quem nasce em uma cidade passa a imitar os sons da língua de quem vive ali. No entanto, isso também se aplica a quem está em um local por muito tempo, pois a tendência natural é a de falar da mesma forma que as pessoas ao nosso redor.

min... h... o”. Aqui, é tão grande a diversidade de sotaques, que a gente reúne os modos de falar de todo o Brasil. Para entender tanta variedade, há cientistas que se dedicam a estudar a formação e as diferenças dos modos de falar. A professora Maria do Carmo Viegas, da Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG, é uma delas. Esses estudos mostram que o sotaque mineiro é composto por quatro tipos de falas: “baiano”, a partir do Norte de Minas; “paulista” (Sul do Estado); “mineiro”, próprio da Zona da Mata e da região do Campo das Vertentes; e o “fluminense” (Leste). Quer entender melhor, ainda? Vamos lá: o Mistureba boa! “baiano” tem maior abertura de vogais. A pessoa A origem dos sotaques tem a ver com a histó- fala “cÓ-ração” e “sÉ-reno”, por exemplo, em vez ria de formação de uma nação e de suas cidades, de “cÔ-ração” e “sÊ-reno”. Já o mineirês “paulista” explica a professora Marina Assaid. Em 1500, o tem o “r” mais puxado, o que é chamado de retrofleBrasil foi colonizado pelos lusitanos, que vinham xo. Você já ouviu alguém pronunciar “porrrrta” ou de diferentes regiões e traziam a pronúncia da “carrrne”? Pois é! língua materna. O português, então, virou nosso Já o tipo “mineiro” diz arroz e paz como “aridioma oficial. rois” e “pais”. E ele “costuma cumê o finalzim” das Apesar disso, os índios, que já viviam aqui, ti- palavras. Por fim, o falar “fluminense” sofre influênnham língua própria. Imagine só essa mistura! Mas cia do Rio de Janeiro, onde as pessoas “puxam” os tem mais: em vários outros momentos de nossa sons de Ch, S e X: “trêisx”, “máisx”, “pasxtel”. história, outros povos – africanos, italianos, alemães, japoneses e holandeses – chegaram em ter- “Minha pátria é minha língua”! ras brasileiras. Com tanta gente diferente, os modos Ufa! Haja diversidade, né?! O importante é obde falar passaram a variar de região a região. servar que não existem sotaques certos ou errados, melhores ou piores... Nem mesmo um jeito de falar que seja bonito ou feio. Essas diferenças fazem parO “mineirês” te da identidade dos povos. Marina Assaid lembra Como fica Minas Gerais nessa história? Falo que “cada um deve assumir seu sotaque e se orgu“dêsss lugarzim”, também conhecido pelos “uais”, lhar dele, pois diz muito sobre nossas origens, so“trens” e “sôs”, pelo “jeitim” cantado, e, claro, por bre a história do lugar de onde viemos, sobre nossa palavras que vão se perdendo no meio do “ca- cultura e identidade”.

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Quem fala? Além de explicar sua origem, embaralhamos vários sotaques, para você identificar a quem pertencem. Pegue uma caneta, ou um lápis, e tente ligar as frases numeradas às letrinhas com os nomes de cada jeito de falar. Depois, é só conferir as respostas, que estão, de cabeça para baixo, no “finalzim” desta página!

“Tu párte agora às dééz da noite, guri?” (Imigrantes italianos e alemães influenciaram o sotaque. Mas o jeito de reforçar o final das palavras é herança do espanhol.)

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“Entãum, mêo, pur quê cê num foi na festchinha?” (Imigrantes de todo o mundo influenciaram esse sotaque. Línguas indígenas também temperam esse jeito de pronunciar o R.)

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“Fetcha a porta! Oví dizê que hodje vai caí um tchuvão.” (O R arredondado também aparece neste sotaque, que é um dos mais “diferentões” do Brasil. Há bastante influência dos índios da região.) “Vamosh pegarh uma onda mánêra? Pôa, demorô!” (Portugueses da nobreza ensinaram muitos a falar o R “assoprado” – quando antes de consoante – e com um som de X na letra S.)

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“Oxênti, tu acha qui eu sô di oondiii?” (Colonos portugueses e escravos vindos de diferentes regiões da África deram origem a esse jeitão mais lento e arrastado de falar.) “Cê é dakimês? Pópegá um lugar procê.” (Aqui, corta-se e/ou emendam-se palavras – “ocê” já ouviu alguém falar “desjei” [desse jeito]? Influência de índios, africanos e portugueses.) 18

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a) Baiano b) Cuiabano c) Curitibano d) Gaúcho e) Mineiro f)

Carioca

g) Paulistano Respostas: 1c; 2d; 3g; 4b; 5f; 6a; 7e.

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“Eu gosto de ouvir um rrróquenrrrol tomando leite quente”. (A letra E, depois do D e do T, não é pronunciada como I. Já o R, às vezes, é pronunciado continuamente.)


OCEAN O

Imensidão azul Cenário de histórias de ficção e inspiração para músicas e poemas, o fundo do mar esconde mistérios e belezas Mariana Alencar Bem no fundo do oceano Pacífico, na chamada “Fenda do Bikini”, vive o personagem que todos conhecemos: uma esponja do mar, de cor amarela, que veste calças quadradas e vive um montão de aventuras com o melhor amigo, uma estrela do mar cor de rosa.

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Embora as histórias de “Bob Esponja” sejam fictícias, há elementos reais no desenho animado. Um deles é a diversidade de vida no fundo do mar. O oceano, afinal, é o habitat de peixes, baleias e tubarões, certo? Sim! O legal, porém, está no fato de que ele também esconde mistérios que nem nossa imaginação poderia alcançar. Atualmente, os cientistas sabem mais do céu e do espaço do que sobre o fundo do mar. Isso porque há regiões tão profundas nos oceanos que nenhum ser humano ainda conseguiu alcançar. À medida que a profundidade aumenta, diminui a luz e cresce a presssão (que fica grande a ponto de poder esmagar partes do nosso corpo!). Além disso, no fundo do oceano, há regiões mais profundas que nossa montanha mais alta. Quer um exemplo? A “Fossa das Marianas”, no oceano Pacífico, tem 11 km de profundidade; já o Monte Everest, lugar mais alto do mundo, conta com “meros” 9 km de altura.

Conchinhas Coloridas, com formas, às vezes, bizarras e de tamanhos variados, as conchas são uma espécie de “armadura” a proteger moluscos marinhos e animais de corpo mole, como ostras, mariscos e vieiras. Podemos encontrá-las em vários lugares, mas é nos mares que estão as mais belas e gigantescas. Professor e paleontólogo do Museu de Ciências Naturais PUC Minas, Castor Cartelle explica que, desde a pré-história, o ser humano interage com as conchas. Algumas servem de decoração; outras podem se transfomar em caixinhas, botões e cumbucas. Em certas tribos africanas, elas também foram usadas como moedas de troca.

mar!

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Raio-X de Bob... O que é uma esponja do mar? Trata-se de um porífero – animal cujas células apresentam pequenos orifícios –, que serve de alimento a moluscos e peixes. Eles não têm órgãos, nem sistemas (digestivo, respiratório, circulatório etc.), e são exclusivamente aquáticos. Segundo o professor Castor Cartelle, as esponjas foram (e ainda são) amplamente usadas pelas pessoas no dia a dia. “Buchas, por exemplo, são esponjas, comumente encontradas no Mar Mediterrâneo, com esqueleto macio, bom para tomar banho e para lavar pratos e outros utensílios da cozinha”, explica. ...e de Patrick Já as estrelas do mar são animais marinhos de corpo liso, ou áspero, coberto por espinhos bem pequenos. Elas têm esse nome por apresentarem cinco “braços”. Porém, há espécies com mais de 20! “As estrelas podem se regenerar facilmente. Se perdem um braço, reconstroem outro. E o braço perdido pode originar outra estrela”, conta Cartelle. Embora pareçam inocentes, as “estrelinhas” são terríveis predadores. A maioria é carnívora e se alimenta de moluscos, crustáceos, esponjas e corais. Chegam a caçar e a se alimentar de animais bem maiores do que elas. (É! Parece que, na vida real, as estrelas do mar não são tão inofensivas quanto o melhor amigo do Bob Esponja.)

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SÃO U L IN C

As (duas) línguas do Brasil Sim, temos dois idiomas oficiais! Verônica Soares Quantos idiomas você domina? Português, com certeza! (Ou não conseguiria ler esta revista, não é mesmo?) No mais, inglês ou espanhol, talvez, pois a gente pode aprender no colégio ou em cursos particulares. Mas... e Libras? Não conhece? Então, vai se surpreender! Afinal, é a sigla para a “Língua Brasileira de Sinais”, oficialmente reconhecida, em 2002, como nosso segundo idioma. E não é que, três anos depois, um decreto – documento para regular as regras que precisamos seguir – estabeleceu que a Libras deveria ser disseminada no País, para que mais pessoas pudessem “falar” por meio dela? Essas aspas aí no verbo querem destacar algo superlegal: a Língua Brasileira de Sinais não depende da voz, mas das mãos, e, por exemplo, das expressões do corpo e do rosto. Quê?! Explico melhor: a Libras é usada na comunicação de pessoas surdas, cidadãos considerados bilíngues, pois, com base nos sinais, também aprendem a língua portuguesa.

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Símbolos A professora Michelle Nave Valadão, do Departamento de Letras da Universidade Federal de Viçosa (UFV), conta que as crianças surdas – assim como aquelas que podem ouvir – aprendem um idioma ao compreender linguagens diferentes, ao desenvolver habilidades cognitivas (formas de o cérebro organizar o modo como a gente deve pensar, lembrar etc.), e ao reconhecer símbolos e coisas abstratas. “Ouvintes aprendem a falar em contato com pessoas que falam, ao conversar e ouvir o nome das coisas. O processo é de associação: a gente escuta e percebe a relação entre palavras e objetos”, explica Michelle, ao lembrar que, com as pessoas surdas, a situação é a mesma: “Elas visualizam sinais e associam às coisas. Por isso é tão importante que as pessoas usem Libras”. Sentimentos A Língua Brasileira de Sinais é como qualquer outra, mas, ao invés de aprendê-la por meio da voz e do som, a gente recorre à visão e à noção de espaço. Os surdos se comunicam com sinais que surgem da combinação de formas das mãos, movimentos e pontos de articulação (locais, no espaço ou no corpo, onde os sinais são feitos). As expressões faciais e corporais também são muito importantes, pois ajudam a transmitir sentimentos que, para os ouvintes, aparecem na entonação da voz. Aprender Libras é como estudar outro idioma, descobrir uma cultura ou se aventurar por novas formas de comunicação.

Você sabia? Cada país tem sua língua de sinais. Mesmo em Portugal, onde as pessoas falam português, o idioma dos surdos – chamado de “Língua Gestual Portuguesa” – não é igual ao brasileiro. A Libras tem um pezinho na França. E se assemelha a experiências da Europa e da América.

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RO B E CÉ R

Viagem onírica Essa palavra diferentona aí no título tem a ver com os sonhos: vambora saber mais sobre eles? Vivian Teixeira

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Todos estão no pátio da escola, pois é hora do recreio. De repente, o sol desaparece e... surge um enorme dragão no céu. Toda a galera começa a correr e a se esconder, mas você está muito forte e levanta voo para combater o bicho! Nossa! Essa história escabrosa parece maluquice, né? Mas que nada! Qualquer um pode ter um sonho como esse! Afinal, ao sonharmos, tudo pode mesmo acontecer! Também é interessante saber o que ocorre com o organismo quando a pessoa está em pleno sonho. Quem aceitou o desafio de desvendar esse mistério foram os cientistas Bruno Resende de Souza e Cleiton Aguiar, da Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG. Eles explicam que os sonhos são fruto do intenso trabalho das células cerebrais – os neurônios –, que ficam ligadas umas às outras e registram todos os estímulos (internos ou externos) da nossa vida. Se passamos por uma experiência divertida na praia ou no sítio, lá estão eles, a registrar a sensação de alegria; se tiramos nota baixa na prova, acompanham a tristeza e a frustração. É, mas não é! Quando essas redes (felizes ou infelizes) são ativadas, formam-se os circuitos neurais, conhecidos como “engramas”. E são esses danadinhos de nome engraçado que constroem as nossas memórias. “O sonho acontece quando os circuitos neurais são reativados. Algumas vezes, a reativação pode ocorrer sem organização aparente, criando

sonhos bizarros. Neles, estamos em casa, mas não é nosso lar. Algúem conversa com a mãe, que não é ela, mas... é ela!”, explica. Tudo indica que os sonhos tiveram muitas funções na evolução do homem, ao fortalecer os circuitos que formam nossas memórias, e, consequentemente, melhorar nossa capacidade de enfrentar desafios relacionados à sobrevivência. Eis o motivo por que sonhamos com a mesma coisa quando estamos preocupados com algo. Isso, porém, não acontece a noite toda. “No total, o sono se divide em cinco fases. A última delas é o ‘REM”, ou Rapid Eye Movement [movimento rápido dos olhos], no qual sonhamos com frequência. Pesquisas recentes mostram, porém, que há sonhos formados em outras etapas”, conta Bruno Resende. Pesadelo bom? Sei que, agora, você deve se perguntar: “E os pesadelos? Por que acontecem?” Pois é! Os sonhos terríveis também são resultado do que a gente vive no dia a dia! Mas, acreditem, eles podem até nos ajudar! Bruno e Cleiton explicam que a formação de memórias ruins é importante para a sobrevivência, como forma de evitar situações perigosas no futuro. Os sonhos são importantes para fortalecer as conexões entre os neurônios do circuito neural e as memórias. Já os pesadelos fortalecem as lembranças de situações ruins, para que, mais tarde, elas sejam evitadas.

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IAL C E ES P

“Tá” na mesa, pessoal! Para além de sabor e nutrientes, alimentos têm afeto, ciência e criatividade

Luana Cruz Mariana Alencar Comer é uma necessidade. Afinal, por meio dos alimentos, a gente consegue os nutrientes necessários para crescer de forma saudável, ficar inteligente e guardar energia para estudar e brincar! Além disso, trata-se de algo muito gostoso, né?! Quem já não se deliciou com aquela colorida salada de frutas, ou sentiu saudades do bolo de chocolate da vovó? (Ops! Por falar nisso, bateu aqui uma dúvida bem diferente: qual será a diferença entre o nosso almoço e as “refeições” dos animais?) A resposta está na maneira como preparamos nossos alimentos. Enquanto os bichos comem alimentos crus, que vivem na natureza – como plantas, frutas e outros animais, abatidos por meio da caça –, os seres humanos preparam a comida cuidadosamente: eles plantam, colhem, lavam, selecionam e, por fim, cozinham.

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Quando o homem das cavernas descobriu o fogo, há milhões de anos, aproveitou as chamas para esquentar os alimentos. Foi, então, que nossos ancestrais perceberam algo: cozidas, as comidas ficavam mais saborosas, além de mais fáceis de cortar e de mastigar. Estavam, ainda, livres de microrganismos ruins para a saúde. Fogo amigo Para descobrir outras coisas sobre a preparação dos alimentos, que tal viajarmos, agora, aos Estados Unidos? Lá, na Universidade de Harvard, que fica no Estado de Massachusetts, o antropólogo norte-americano Richard Wrangham realiza um monte de pesquisas sobre as peculiaridades do hábito de cozinhar. Esses estudos acabaram se transformando no livro Pegando fogo: por que cozinhar nos tornou humanos. Nele, Richard explica por que o ato de cozinhar os alimentos é algo tão importante para nós, a ponto de nos diferenciar dos outros animais. Quando cozinhamos, as moléculas que formam os alimentos são quebradas por conta do calor. Isso faz com que nosso organismo tenha mais facilidade para digerir e absorver a comida. Além disso, o ato de cozinhar elimina bactérias que podem fazer com que a gente fique doente. Quer um exemplo? A salmonela é uma bactéria que se aloja nas galinhas e faz mal ao ser humano. Ela também pode ser encontrada na gema do ovo. Quando cozinhamos esses alimentos, o calor do fogo mata a bactéria. Por isso é tão perigoso comer ovos crus! Como já falamos, o cozimento de boa parte dos alimentos é essencial para deixá-los mais saborosos, saudáveis, seguros e fáceis de ingerir. Ah, mas não se esqueça: na hora de cozinhar, é preciso muito cuidado para não se queimar! (continua na página 30)

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ER T S PÔ

d n u m o h n O estra m u e d r o i r e t no in Nesse “castelo” de cheiro e sabor, fungos e bactérias do bem não param de trabalhar!

Luana Cruz

Eles guardam milhares de microrganismos vivos, que não fazem mal à saúde e ainda garantem sabor e cheiro ao alimento. Sim, os queijos são casas perfeitas para fungos e bactérias, que apreciam ambientes úmidos e bons nutrientes para seu desenvolvimento! Por ser feito de leite, aquele queijinho gostoso do café da manhã funciona como um castelo de açúcares, proteínas e gorduras, onde os microrganismos podem se multiplicar. Bem... Mas como ocorre, exatamente, o crescimento de fungos e bactérias? 28

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O professor Luís Roberto Batista, da Universidade Federal de Lavras (Ufla), explica que esses pequenos seres vivos gostam de morar na superfície dos queijos. Se o alimento é produzido na indústria, eles são adicionados, de propósito, durante a fabricação. Quando feito de forma artesanal, os fungos e bactérias já presentes no leite se desenvolvem naturalmente, ainda mais se a temperatura estiver favorável. Queijo amarelo? Os microrganismos absorvem os nutrientes do leite, crescem e geram novos descendentes. Ao se alimentar, fungos e bactérias eliminam enzimas e gases, que são jogados para fora de suas células. Essas substâncias descartadas vão garantir o cheiro, o sabor, e a aparência de um queijo. (Ah! Agora, entendi: por isso é que existem aqueles queijos mais amarelados ou que parecem cheios de mofo!) O professor Luís Roberto conta que fungos e bactérias são verdadeiros trabalhadores, que transformam a massa original do queijo em outro produto, bastante refinado e saboroso. Certas bactérias, por exemplo, alimentam-se da lactose e transformam esse nutriente em ácido, o que faz com que o alimento tenha aquele gosto superforte! Além disso, como existem “zilhões” de tipos de fungos e bactérias, é possível ver e apreciar, no mundo todo, um montão de queijos diferentes. No Brasil, a gente nunca vai produzir aquele queijinho francês (e vice-versa)!

Ilustração Felipe Bueno

do vivo m queijo

Galera do bem Se você pensava que fungos e bactérias eram apenas vilões, causadores de doenças, descobriu que eles são muito importantes para a fabricação do queijo, né?! E eles também se mostram essenciais para produção de pães, iogurtes e outros alimentos. O professor diz que 90% dos microrganismos são legais! Apenas 10% apresentam riscos. Os lactobacillus são exemplos de bactérias usadas na produção de alimentos. Já as salmonelas podem causar doenças graves, e até matar. “Em ambiente natural, predominam as bactérias benéficas, pois as causadoras de doenças [chamadas de “patogênicas”] não conseguem competir”, afirma o pesquisador. Queijo de “pingo” Os queijos mineiros são muito especiais e premiados. Recentemente, Minas ganhou 11 medalhas em um concurso mundial, na França, ao disputar com 700 produtos de 20 países. Os produtores mineiros aprenderam a trabalhar bem com fungos e bactérias... e conseguem sabores únicos e deliciosos! Bem famosos, alguns queijos das regiões da Canastra e do Serro são feitos com uma técnica chamada “pingo”. Depois que está pronto, o alimento descansa numa bancada. Nesse local, surgem as bactérias. “Durante o descanso, pinga muita água. Os produtores coletam esse líquido, rico em microrganismos para jogar nos queijos a serem produzidos no dia seguinte”, explica o professor Luís Roberto.

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Carinho e memória Você já sabe a importância de se alimentar bem. Afinal, saco vazio não para em pé! Comida, porém, não é só nutriente. A hora de comer também é muito importante para ficar perto da família e dos amigos. Sentar à mesa é um ótimo momento para trocarmos carinho com quem a gente ama! Além disso, os pratos especiais, que dividimos com pessoas especiais, ficam guardados em nossa memória para sempre. A gente carrega o alimento na barriga, e as boas lembranças, no coração. Cientistas comprovaram que escolhemos a comida não só pelo valor nutritivo, mas porque elas nos levam a uma viagem cultural. E nos fazem lembrar a cidade onde moramos, a casa da vovó, o almoço de domingo em família ou a merenda com os amigos na escola. Mônica Chaves Abdala é cientista e pesquisa a relação das pessoas com a comida. Segundo ela, nossos alimentos preferidos dizem muito sobre quem somos nós: “A comida é muito mais que ali-

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mento. Por isso, em cada lugar do mundo, as pessoas fazem escolhas relacionadas à cultura local, ao clima ou à tradição familiar. Quando viajo para outra cidade ou país, fico desesperada para achar arroz e feijão!”. Já reparou que as pessoas se juntam para comer? Ninguém gosta de se alimentar sozinho, e a comida é um ótimo motivo para a união. Segundo a cientista Luciana Patrícia de Morais, que estuda costumes e alimentação, as refeições nos ensinam que não estamos sozinhos no mundo. “Ao lembrar de uma comida gostosa, pensamos em quem estava junto de nós. Ou na pessoa que fez a comidinha para comemorar um aniversário ou te ajudar a sarar de algo. Um prato pode nos fazer lembrar, com carinho, da vida e das pessoas que nos amam”, explica.


Cédric Grolet

Tem artista na cozinha! Quem nunca brincou de fazer uma carinha feliz com a comida que atire a primeira pedra! Macarrão se transforma em cabelo; azeitonas, em olhos; batata frita, em sorriso largo... Viu, só?! Comer também é divertido! Agora, imagine um sushi em formato de tênis, um bolo que parece cubo mágico ou uma sobremesa tão bonita – e tão diferente! – que você não sabe se é para comer ou enfeitar! Imaginou? Pois bem... Essa maneira diferente de organizar os alimentos no prato tem um nome tão sofisticado quanto as comidas: food design. Quando alguém falar em “comer com os olhos”, é isso o quer dizer! A nova onda entre os cozinheiros e chefs de cozinha serve para deixar a comida na memória. Você, cer-

tamente, não se esqueceria que comeu um sushi em formato de tênis, não é, mesmo? Com a técnica do food design, o cozinheiro tenta estimular nossos cinco sentidos (visão, olfato, audição, tato e paladar), ao usar os alimentos de maneira “estranha”, mas, no fundo, bem interessante! Para construir um cubo mágico feito de bolo, por exemplo, o francês Cédric Grolet precisa pensar nas cores de cada pedacinho, no tamanho dos quadradinhos, nas diferentes texturas, e, é claro, no sabor da comida. Afinal, não adianta nada a guloseima ser bonita, mas nada gostosa! Para entrar na moda do food design, não basta apenas saber cozinhar. É preciso se preocupar com todas as características dos alimentos: sabor, valor nutricional, formato, cheiro, tamanho, textura, cor etc. Ou seja: é preciso ser um cientista-cozinheiro-artista! Gostou dessa técnica? Então, agora, é a hora de você se aventurar na cozinha e criar pratos bonitos e gostosos! Lembre-se de que quanto mais colorido, mais bonito será o prato. Para isso, abuse de frutas, verduras e legumes. (E, na cozinha, não se esqueça de pedir ajuda a um adulto!)

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TES N E D

A grande batalha da boca Em game empolgante, jogadores combatem cáries e outros inimigos Téo Scalioni

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Ficar com os dentes branquinhos, bonitos e sem cáries tornou-se mais fácil e divertido! Por meio do game Proteja os dentes com a Dra. Cláudia Starling, todas as vezes em que a higiene bucal é realizada, o usuário ganha pontos e elimina o maior dos inimigos: o monstro das cáries. O jogo estimula os participantes a corrigir a escovação e a usar o fio dental, práticas essenciais à saúde. No game, o jogador participa de combates épicos, assume o comando da proteção dos dentes e aprimora suas habilidades. A cada fase concluída, ganha dicas valiosas e itens que lhe ajudarão a manter a dentição limpa e saudável. É possível, ainda, observar quando a arcada dentária não é bem cuidada, além de perceber o ataque de uma série de bichos. Em outro desafio, os inimigos se multiplicam e fazem de tudo para estragar seu sorriso!

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Criança feliz Idealizadora do aplicativo, feito em parceria com a empresa de games Tower Up Studios, Cláudia Starling explica que a ideia de lançar o jogo nasceu do fato de, hoje, o mundo ter se tornado digital. “Precisamos ser criativos para fazer com que as coisas cotidianas se mostrem atrativas. No game, educamos as crianças no mundo virtual, numa verdadeira ação de proteção aos dentes”, comenta. Ao usar o game, as crianças passam a achar mais divertida a diária rotina de escovação. Cuidar dos dentes, afinal, não precisa ser algo apenas obrigatório. Garotos e garotas podem se sentir felizes! “É o que estamos conseguindo. Segundo pesquisas já realizadas com pais, devido ao jogo, a escovação dos filhos está melhor e mais frequente”, comemora Cláudia.

Como jogar? Proteja os dentes com a Dra. Cláudia Starling pode ser baixado, gratuitamente, nos sistemas Android e IOS, tanto em smarthphones quanto em tablets.

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Ilustração Felipe Bueno

MEIO AM BIE N

Tijolo por tijolo

Cientistas transformam a lama de uma tragédia em material para construir casas

Alessandra Ribeiro

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TE


Com certeza, você conhece a famosa história dos três porquinhos: o mais velho e mais esperto construiu uma casa forte, feita de tijolos, para se proteger do lobo mau. Agora, imagine que, em vez de um sopro forte, uma avalanche de lama atingisse um lar de verdade. A construção poderia ser feita de madeira, de pedra, de qualquer coisa. Mas não resistiria, por mais que tenha sido levantada com todo carinho e cuidado. Isso aconteceu na vida real, com dezenas de famílias que moravam num povoado chamado Bento Rodrigues, na cidade histórica de Mariana, a primeira capital de Minas Gerais. Você também deve ter ouvido essa história, né? Afinal, foi o maior desastre ambiental já ocorrido no Brasil, e um dos maiores do mundo. Há dois anos, no dia 5 de novembro de 2015, uma barragem de rejeitos de mineração se rompeu e um mar de lama devastou casas, arrastou carros, caminhões e tudo mais que havia na frente – inclusive, 19 vidas humanas.

Barragens ou represas são barreiras feitas pelo homem para segurar a água ou outros líquidos, como rejeitos e detritos. Aquelas construídas para estocar a água costumam ser destinadas ao abastecimento de casas e indústrias, à irrigação, à navegação e à produção de energia elétrica. Já as barragens de rejeito são usadas para depositar os resíduos e a água gerados a partir da produção do minério.

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É uma história muito triste, mas que não pode ser esquecida: a lama era tanta que destruiu todo o povoado, e continuou a se espalhar, até chegar ao Rio Doce. O desastre matou milhões de peixes e plantas, acabou com nascentes, deixou cidades sem água potável. E, como os rios correm para o mar, praias do Espírito Santo e do Sul da Bahia acabaram poluídas e tingidas de marrom. Já que a natureza demora para se recuperar, infelizmente, você vai crescer e, lá no futuro, ainda verá os efeitos de tudo isso.

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Tijolos para recomeçar Começamos a conversar e eu falei de tijolos, lembra? Pois bem! Para ajudar a recuperação do meio ambiente, um cientista pensou em usar a lama do vazamento para produzir... tijolos! Ele se chama Fernando Lameiras e trabalha na área de Engenharia de Materiais, dentro do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, o CDTN. Normalmente, os tijolos são feitos de argila. Fernando explica, porém, que o material que vazou da barragem tem pouca argila e muita areia fina misturada à lama. “O desafio desse projeto é, justamente, fabricar um tijolo sem o uso de argila”, ele diz. Então, a lama foi levada para o laboratório e misturada a um material também usado na fabricação do vidro, a barrilha. “Quando aquecida, junto à areia, a barrilha derrete a areia e forma uma liga que, ao esfriar, parece um tijolo”, conta Fernando. Além dele, a cientista Mayare de Souza, da Universidade Federal de Ouro Preto, a Ufop, e um estudante de iniciação científica participam do projeto. Agora, eles precisam tornar o tijolo resistente, de acordo com as normas brasileiras. Depois, a ideia é criar fábricas que gerem empregos, principalmente, para os trabalhadores afetados pela tragédia. Os tijolos também poderão ser usados em construções, até mesmo, de novas moradias para as pessoas que perderam suas casas.

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LITERAT UR A

Tem ciência no Sítio Obras clássicas de Monteiro Lobato retratam, de modo divertido, a busca pelo saber Mariana Alencar

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Criados em 1920, os livros do Sítio do Picapau Amarelo foram adaptados inúmeras vezes para a TV, inclusive, como desenho animado. Confira na internet!

Um sabugo de milho que ganha vida, anda, fala e pensa como humano. Visconde de Sabugosa, personagem criado por Monteiro Lobato (1882-1948), é, no universo do Sítio do Picapau Amarelo, a representação do cientista. Inteligente e curioso, o sabugo de milho passou parte da vida numa biblioteca. Seus conhecimentos só aumentaram, e, aos poucos, ele se tornou um sábio e criativo inventor. Não é só por meio de Visconde, porém, que a ciência aparece nos livros infantojuvenis de Lobato, autor de grande importância na Literatura Brasileira do século XX. Fascinado por ciência, o criador do Sítio do Picapau Amarelo acreditava que a divulgação e o ensino da ciência seriam o melhor caminho para o desenvolvimento do País. “Ciência e arte nasceram para viver juntas”, dizia.

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Protagonizadas por personagens como Pedrinho, Narizinho, Dona Benta, Emília e Tia Nastácia, as histórias do Sítio têm dois focos: a ficção faz com que o leitor se divirta e deixe a imaginação fluir; a informação busca mostrar conteúdos de diversas áreas do conhecimento. Ou seja, é possível aprender bastante com alguns desses livros! Viagem pelo saber “Respeitável público! Vou começar a viagem com a apresentação dos artistas que acabam de chegar do País da Matemática. Peço a todos a maior atenção e respeito, porque isto é coisa muito séria e não a tal bagunça que a Senhora Emília acaba de dizer”.

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Dica importaPincatpaeu !Amarelo

Sítio do Embora as histórias do ia, é preciso r em contato com a ciênc sejam ótimas para entra . Ou seja, crito há quase 100 anos es foi ro liv da ca e qu ar lembr por es ultrapassadas, e que, há, ali, ideias e informaçõ não Por isso, na hora de ler, vezes, geram polêmica. as com seus tenha medo de tirar dúvid pais ou professores!

Em tal trecho do livro Aritmética da Emília, Visconde apresenta os personagens do sítio para o universo da Matemática. Em um grande circo montado no Sítio, somos apresentados a números, cálculos, equações e medidas. Já em História das invenções, Dona Benta narra a história do mundo. “As distâncias entre os astros são tamanhas que para medi-las com quilômetros seria necessário usar carroçadas de zeros, de maneira que não haveria papel que chegasse. E então os astrônomos inventaram o ‘metro astronômico’, ou a ‘unidade astronômica’, que é como eles dizem”, diz a avó a Narizinho, para explicar coisas de Astronomia. Princípios básicos da Química e da Física estão em Serões de Dona Benta; já a Geologia aparece em O poço do Visconde”. Outros livros desse universo, como A reforma da natureza, Viagem ao céu, Emília no País da Gramática e Geografia de Dona Benta, levam conteúdos científicos, aos leitores, de forma lúdica e divertida.

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TECNOL OGI

Tatuagens digitais Já parou pra pensar que suas publicações na internet podem ficar lá para o resto da vida? Lorena Tárcia

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A


Sim, é verdade! Os textos, fotos, vídeos e comentários que qualquer pessoa publica hoje na internet continuarão online daqui a 5, 10, 20 anos. Mesmo que você delete algo, existe a possibilidade de a informação ter sido copiada para outro lugar. Se isso acontecer, dificilmente ela desaparecerá. E, se sumir, pode deixar muitas marcas na sua imagem, ou ser usada de forma prejudicial. Ou seja: aquela foto maluca com seus amigos, aquela explosão de mau humor em um comentário ou aquela brincadeira inocente podem virar um problema no futuro, quando você começar a namorar, ao procurar emprego ou no momento em que tiver seus próprios filhos! (Já pensou?!) O problema é tão sério, mas tão sério, que existe, no Brasil e em outros países, pessoas dedicadas a alertar e a ajudar jovens, pais e mães a se proteger e a agir de maneira consciente nas redes. A SaferNet, uma entidade especializada no assunto, já atendeu milhares de queixas relacionadas à exposição prejudicial online de informações e dados pessoais.

Por que é importante? Todos os dias, formamos imagens de pessoas que não conhecemos pessoalmente, com base, apenas, em informações publicadas na web. Pode ser uma foto, um comentário ou um vídeo. O mesmo acontece com você: desconhecidos pensam coisas a seu respeito, ao observar suas publicações ou aquilo que outras pessoas postam. Por isso, fique atento! Não dá para controlar a internet. Quando algo entra na rede, você nunca saberá ao certo quem viu, gostou, não gostou ou copiou.

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Perguntas de ouro A coordenadora da SaferNet Brasil, Juliana Cunha, sugere algumas perguntas a serem feitas antes de apertar o enter. Para evitar confusão, você deve pensar duas vezes e se questionar:

Com quem quero compartilhar esta informação? Qual tipo de site pode ser melhor? Será que vale a pena deixar meu perfil totalmente público na rede social?

Estou exagerando ao expor detalhes da minha intimidade?

Estes vídeos e imagens podem me prejudicar, agora ou no futuro, na escola, na minha casa, com meus pais, avós ou, até mesmo, com meus futuros filhos? Esta foto não está muito reveladora e poderá ser usada por alguém com más intenções?

Ah, e lembre-se! Você precisa cuidar não apenas de sua imagem, mas, também, da de seus amigos. Não publique nada que possa vir a prejudicá-los.

Quer ajuda? Se ainda tiver dúvidas e quiser mais informações, pode entrar em contato direto com a SaferNet. Em caso de problemas, não deixe de procurar ajuda. Você nem precisará se identificar. O site deles é http://new. safernet.org.br/helpline.

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Ilustração Felipe Bueno

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S DI C A

Um livro, um aplicativo, um site, um filme e um game para aprender, sonhar e se divertir Mariana Alencar

A vizinha antipática que sabia Matemática Como boa parte das crianças de sua idade, Theo não gostava nem um pouco de Matemática. Isso começa a mudar quando Dona Malu Quete, uma professora antipática da disciplina, muda-se para perto da casa do garoto. Durante uma conversa, ela lhe conta algo sobre o Manual do Sábio Matemático. A única maneira de Theo ter acesso à obra, porém, seria passar pelos Testes Rachacucalógicos. Intrigado, ele aceita encarar o desafio. Quem nos conta isso tudo é a professora Eliana Martins, autora do livro, ao mostrar a todos que a Matemática não é um bicho de sete cabeças!

Detetives da história (Disponível para iOS e Android) O jogo foi um dos 25 vencedores do concurso INOVApps, incentivo do Ministério das Comunicações com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de aplicativos e jogos sérios de interesse público. Por meio do game, o jogador pode se tornar um detetive e viajar no tempo, para prender os ladrões que querem roubar todas as relíquias brasileiras. É possível conhecer personagens e figuras importantes de nossa história ao longo da jornada, por meio da coleta de pistas, pesquisas e incríveis descobertas. 50

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Wall-e (2008) A história se passa no ano de 2700, quando a Terra está cercada de lixo por todos os lados, e se torna um lugar inabitável aos seres vivos. O planeta é abandonado pelos humanos, mas conta com um último ocupante, o robozinho que dá título ao filme. Na história, ele passa os dias compactando e organizando o lixo criado pela humanidade. Wall-e ganha, então, a oportunidade de ter uma nova vida e de conhecer os humanos, que agora vivem na imensa nave chamada Axiom. Memrise: aprender idiomas (Disponível para iOS e Android) Quer falar com o mundo? Agora, ficou mais fácil! Eleito melhor aplicativo de 2017 pelo Google, o Memrise ajuda na aprendizagem de francês, espanhol (europeu ou mexicano), alemão, inglês (britânico ou americano), chinês, japonês, coreano, turco, russo, italiano, português (brasileiro ou europeu, para estrangeiros), sueco, norueguês, dinamarquês e muito mais! Com a experiência completa de um jogo baseado em textos e imagens, o app mostra que é possível aprender e se divertir ao mesmo tempo.

Castelo Rá-Tim-Bum (www.youtube.com/videocasteloratimbum) Sucesso na TV dos anos 1990, o Castelo Rá-Tim-Bum marcou uma geração. Agora, todos os episódios da série podem ser vistos, gratuitamente, no canal do programa no YouTube. Na história, Nino, um menino de 300 anos, vive com seus tios Victor, um grande inventor, e Morgana, a feiticeira de 5999 anos. Junto a seus novos amigos, Biba, Pedro e Zequinha, eles vivem grandes aventuras. A série é tão legal que trata, ao mesmo tempo, de ciências, Matemática, artes, Ecologia e cidadania. Vale a pena conferir!

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Um satélite pequenino desenvolvido por brasileiros promete trazer grandes avanços para a pesquisa espacial Vanessa Fagundes

Nas telas do cinema, o homem já viajou pelo espaço, visitou vários planetas, chegou perto de buracos negros e até bateu papo com ETs. Mas, na vida real, as coisas não são tão simples assim... Mandar um foguete para fora da Terra envolve muitos anos de estudo e um monte de dinheiro. Nesse campo, os Estados Unidos são referência. O país já realizou dezenas de missões espaciais e conseguiu enviar diversos astronautas para o espaço. E o Brasil? Ah, o nosso País também já tem histórias para contar! Em 2006, mandamos o primeiro astronauta para o espaço e, agora, um grupo de pesquisadores trabalha em um satélite para ser enviado à Lua. 52

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Marcos Pontes foi o primeiro astronauta brasileiro a ir ao espaço. Em 2006, ele partiu para a Estação Espacial Internacional (ISS), em viagem batizada de “Missão Centenário”, uma referência à comemoração dos 100 anos do voo de Santos Dumont. Pontes ficou no espaço por pouco mais de um mês, e, nesse período, realizou experimentos científicos.


O projeto foi batizado de Garatéa-L, que, em tupi-guarani, significa “busca vidas”. Os cientistas, que são de diferentes instituições de pesquisa, planejam enviar o satélite brasileiro à Lua até o ano de 2021. “É a primeira vez que uma tecnologia brasileira é proposta para um voo lunar”, conta Lucas Fonseca, engenheiro espacial, fundador da empresa Airvantis e diretor da missão Garatéa. Quando chegar à órbita lunar, o satélite irá coletar dados sobre a superfície, além de permitir experimentos científicos com micróbios, moléculas e, até mesmo, células humanas. Até a data prevista para a missão à Lua, muita coisa ainda deve ser feita! Existe a parte do desenvolvimento tecnológico, que vai resultar no satélite em si, e, também, a tarefa de levantar recursos para tornar o projeto uma realidade. Quando tudo estiver pronto, a missão Garatéa-L pegará carona com um foguete indiano, o PSLV-XL, que já enviou, com sucesso, uma missão à Lua em 2008. Diversos cubesats (satélites em formato de cubo), além do brasileiro, serão transportados à órbita lunar por essa nave, que transmitirá os dados coletados durante, ao menos, seis meses. O lançamento deverá ser feito do centro espacial de Satish Dhawan, na Índia.

Satélite é o nome genérico dado a um corpo que gravita em torno de outro de massa maior. A Lua, por exemplo, é um satélite natural da Terra... O artificial é aquele construído pelo homem, que pode ser posto em órbita ao redor do nosso planeta ou de qualquer outro corpo celeste. Os satélites artificiais são divididos pelo tamanho, e variam desde os enormes, que pesam toneladas, até aqueles pequenininhos. O satélite da missão Garatéa-L é desses pequeninos, que têm o nome técnico de “cubesat”. A medida mínima de uma cubesat é um cubo com arestas de 10x10x10 centímetros, pesando não mais do que 1,2 kg.

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Por que gastar tanto tempo de estudo e dinheiro para mandar um satélite ao espaço? Lucas explica que existem diversos motivos para isso: monitoramento terrestre, telecomunicação, pesquisas científicas, dentre outros. O principal, porém, é a possibilidade de alcançar uma perspectiva global quando colocamos algo em órbita. “Não existe outra tecnologia que forneça esse acesso ao planeta Terra de forma tão eficaz!”

Mas não seria muito mais legal mandar um astronauta ao espaço? Por que mandar um satélite? Lucas Fonseca responde: “O Brasil é um país sem tradição na cultura espacial, então, temos um longo caminho a construir. Voos tripulados por pessoas são arriscados e muito caros. Precisamos desenvolver outras tecnologias antes de nos arriscarmos em pôr um astronauta brasileiro no espaço com tecnologia nacional. A sonda espacial nos permite desenvolver várias pesquisas científicas por um preço acessível. Por isso, preferimos a exploração robótica”.

O astronauta não é o único que estuda e trabalha com o Universo. As ciências espaciais envolvem grande quantidade de áreas do conhecimento – é como se existissem pequenos mundos em cada projeto, cada um com diversos sistemas para garantir que tudo dê certo. Por exemplo, quando falamos em um satélite, temos que pensar na equipe que cria a tecnologia e faz ele funcionar lá no espaço. Além disso, existe uma necessidade grande de cientistas das mais diversas áreas, para estudar os dados coletados. Ainda temos a equipe de solo, que cuida de tudo para que a missão seja um sucesso quando o satélite já está no espaço. O processo de uma missão espacial é muito complexo, e sempre envolve muitas pessoas, com conhecimentos distintos. Quem sabe você não se torna um desses profissionais?

Para saber mais sobre a missão Garatéa-L, você pode visitar o site http://www.garatea.spac e.

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MEDIC INA

Ajuda inesperada Cobras e outros animais “nocivos” podem ajudar a curar um tantão de doenças Tatiana Pires Nepomuceno

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Quem não tem medo de serpente, abelha ou escorpião? Já pensou se um deles aparece naquele jardim onde você adora brincar? Dá até arrepio! É, mas, apesar de certos bichinhos serem realmente perigosos, também podem nos salvar. Afinal, muitos deles são usados em estudos científicos e ajudam a curar uma série de doenças humanas. Quem nos conta isso são os cientistas da Fundação Ezequiel Dias, a Funed. Lá, existem estudos, por exemplo, sobre a serpente Surucucu: ao introduzir uma proteína do veneno da cobra em células de insetos – cultivadas em laboratório –, eles desenvolvem remédios contra problemas cardiovasculares. Em outra investigação, tentam entender melhor as propriedades da toxina das abelhas no combate à artrite, doença que gera inflamação e dor nas articulações do corpo.

Que boa ideia! Tudo bem, tudo bem! Mas, por que, mesmo, é necessário pôr uma proteína do veneno da Surucucu em células de insetos? A questão é a seguinte: os cientistas precisam de grande quantidade da toxina da serpente para continuar os estudos. E aí vem a notícia triste: esta espécie de cobra está em risco de extinção, e, por isso, não pode ser usada em larga escala. Os cientistas descobriram, então, que podiam inserir, nas células de insetos, o DNA com a sequência de uma proteína chamada Mutalisina-II, que passa a ser produzida junto a outras próprias proteínas.

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Molécula presente no núcleo das células de todos os seres vivos, que carrega toda a sua informação genética.


Xô, artrite! Agora, que tal sair da terra e olhar um pouquinho para o céu? Você já escuta este zumbido? ZZZZZZ!!! É o som de um enxame de abelhas! Fique alerta, principalmente, se for alérgico. A boa notícia é que, apesar de intenso, o veneno das abelhinhas também cura dores e inflamações! Legal, né?! Os cientistas descobriram que a apitoxina (eta, mas que nome difícil!), uma propriedade da toxina das abelhas, ajuda a desenvolver uma pomada para aliviar as dores de quem tem artrite. Coração saudável Lá vem ele, o temível escorpião amarelo! E é verdade: este artrópode possui um veneno que pode matar... Apesar disso, sua toxina também promove o bem, e é muito importante para a ciência. Estudiosos da Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG, perceberam que ele pode ajudar as pessoas em caso de infarto. “Primeiro, a gente estudou as propriedades do veneno que auxiliam a baixar a pressão arterial. Hoje, certos elementos da toxina são usados, ainda, para diminuir a arritmia cardíaca”, conta Thiago Verano Braga, coordenador da pesquisa. Viva a natureza! Legal saber que bichos com “cara de bravo” podem ajudar no tratamento de doenças, né? E viu só por que é tão importante preservar a natureza? Pois é! Mesmo que, à primeira vista, aquela valente abelha do jardim pareça tão perigosa, ela também pode salvar a nossa vida (e, claro, produzir mel! Hummmmmm!). No fundo, no fundo, os animais não querem fazer mal a ninguém. Na verdade, eles só atacam por três motivos: fome, defesa ou ameaça à própria vida.

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Quem é você, Leo? “Como os cientistas, eu também gosto muito de desafios, de dúvidas e de usar a imaginação. E também faço muitos experimentos: tiro uma palavra aqui, ponho outra ali, testo uma combinação. Não ficou bom? Começo tudo de novo. Nessa brincadeira, desde 1993, eu já publiquei cerca de 60 livros de literatura infantil e juvenil. Vários deles foram premiados e alguns viraram música e peças de teatro”.

Einstein Com a língua de fora,

o velhinho mais parecia uma criança. É que ele já tinha encontrado

a lei da relativa idade.

Leo Cunha

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MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2017 Ilustração Felipe Bueno

L VA RA


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