MINAS FAZ CIÊNCIA • EDIÇÃO ESPECIAL 2013
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Redação - Rua Raul Pompéia, 101 - 12.º andar, São Pedro - CEP 30330-080 Belo Horizonte - MG - Brasil Telefone: +55 (31) 3280-2105 Fax: +55 (31) 3227-3864 E-mail: revista@fapemig.br Site: http://revista.fapemig.br
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GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Governador: Antonio Augusto Junho Anastasia SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR Secretário: Narcio Rodrigues
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais Presidente: Mario Neto Borges Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação: José Policarpo G. de Abreu Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças: Paulo Kleber Duarte Pereira Conselho Curador Presidente: João Francisco de Abreu Membros: Alexandre Christófaro Silva, Antônio Carlos de Barros Martins, Dijon Moraes Júnior, Evaldo Ferreira Vilela, Flávio Antônio dos Santos, Júnia Guimarães Mourão, Marcelo Henrique dos Santos, Marilena Chaves, Ricardo Vinhas Corrêa da Silva, Sérgio Costa Oliveira, Valentino Rizzioli
De tempos em tempos, a revista MINAS FAZ CIÊNCIA lança uma edição especial, em que busca iluminar temas relevantes para a área da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). A última delas abordou o esforço em prol da internacionalização da ciência, concretizado por meio de parcerias com várias instituições estrangeiras. Agora, chegou a vez de destrinchar um tema que está na boca de empresários, governantes e pesquisadores: inovação. Em nosso mundo conectado e tecnológico, repleto de novos desafios e onde as fronteiras do conhecimento se expandem rapidamente, inovar se tornou uma ordem e um desafio. A busca pelo novo impulsiona pesquisas científicas, orienta investimentos e estratégias e torna as economias mais competitivas. Porém, esse ainda é um caminho com muitos obstáculos: burocracia exagerada, falta de legislação específica e poucas opções de financiamento estão entre as dificuldades apontadas por aqueles que decidem arriscar-se nesse trajeto. Nesta edição especial, são apresentados programas e oportunidades que, acreditamos, serão um incentivo para os empreendedores mineiros. Afinal, o Estado conta com uma série de iniciativas destinadas a estimular a inovação nas empresas e nas universidades. O diálogo mais intenso entre o setor empresarial e o acadêmico, aliás, é uma das condições básicas para incrementar nossos índices em rankings de inovação que, hoje, não são dos melhores. Na última avaliação divulgada pelo Global Innovation Index, o Brasil ficou em 64ª posição. Ou seja, há muito espaço para crescer. Nas próximas páginas, os leitores conhecerão casos de sucesso que já estão dando frutos. Um deles é o tênis Aerobase, desenvolvido por meio de parceria entre empresa da região de Nova Serrana e um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com apoio do Programa Amitec. O sistema de amortecimento inspirado nos saltos dos felinos garantiu um diferencial ao produto, que está tendo boa aceitação no mercado. Outro projeto, financiado com recursos do Programa Inventiva, deu origem a uma leitora de cartões inteligente, que identifica o usuário em transações de segurança via web. É o primeiro produto do segmento desenvolvido por uma empresa brasileira. Já o Programa Pró-Inovação possibilitou a uma empresa da área de Tecnologia da Informação desenvolver jogos educativos capazes de auxiliar o processo de aprendizagem de pessoas com necessidades especiais. Existem, ainda, iniciativas que buscam construir um contexto favorável ao tema, como o Sistema Mineiro de Inovação (Simi), que une pesquisadores, empresas e governo por meio de uma rede de troca de experiências e divulgação de demandas. Conheça, também, a Rede Mineira de Propriedade Intelectual, que orienta a proteção do conhecimento, e algumas experiências da UFMG que alimentam a veia empreendedora de estudantes da graduação e pós-graduação. Na entrevista desta edição, Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, fala sobre os desafios para o Brasil e a importância do “espírito inovador”. Boas ideias e boa leitura! Vanessa Fagundes Diretora de redação MINAS FAZ CIÊNCIA • EDIÇÃO ESPECIAL 2013
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AO LEI TO R
EX P ED I EN T E
MINAS FAZ CIÊNCIA Diretora de redação: Vanessa Fagundes Editor-chefe: Maurício Guilherme Silva Jr. Redação: Ana Flávia de Oliveira, Ana Luiza Gonçalves, Diogo Brito, Juliana Saragá, Marcus Vinícius dos Santos, Maurício Guilherme Silva Jr., Vanessa Fagundes, Virgínia Fonseca e William Ferraz Diagramação: Fazenda Comunicação Revisão: Sílvia Brina Projeto gráfico: Hely Costa Jr. Editoração: Fazenda Comunicação & Marketing Montagem e impressão: Rona Editora Tiragem: 20.000 exemplares Capa: Hely Costa Jr.
ENTREVISTA
Um dos diretores da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda analisa o potencial brasileiro para ações inovadoras
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Financiamento
Conheça as duas linhas de pesquisa responsáveis por estimular iniciativas e artefatos de ponta
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o que é Inovação
Especialistas falam sobre criatividade, mercado e a vontade de “fazer o novo”
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Inovação no Brasil
Parcerias entre mercado e academia, aportes governamentais e legislação específica podem alavancar o país
Ciência e mercado
Pesquisadores vencem adversidades e oferecem novos produtos, serviços e ideias à sociedade
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Propriedade intelectual
Rede mineira auxilia pesquisadores e instituições a registrar suas novidades
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Parcerias empresariais
Fruto de ação conjunta entre FAPEMIG e Vale, projeto revela força da chamada “inovação aberta”
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Empreendedorismo
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Inovação em rede
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Bioengenharia
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Opinião
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Micro e pequenos empresários concretizam sonhos por meio do programa Inventiva
Programa interinstitucional, Amitec auxilia especialistas da UFMG a desenvolver tênis com tecnologia inédita
Simi promove aproximação entre instituições e indivíduos sem medo de ousar
Diretor de CT&I da FAPEMIG, José Policarpo G. de Abreu, discute o papel do governo no estímulo à inovação
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Academia e Inovação Centros de conhecimento registram iniciativas e debatem ensino do empreendedorismo
manos, aprimoramento da infraestrutura para pesquisa, fixação de pesquisadores no Estado e formação de centros tecnológicos, de forma a tornar Minas Gerais um modelo de excelência.”
Mario Neto Borges, presidente da FAPEMIG
de Minas Gerais (Cemig)
“Expandiu-se [no Brasil] a cultura da inovação, fato de suma importância para que seja crescente o apoio às tentativas de articulação benéficas não só à competitividade da indústria e à economia, como também, consequentemente, à população.”
“A Hélice Tríplice precisa girar no mesmo sentido. Há descompasso entre os atores. É preciso que todos estejam focados num único objetivo, trabalhando para favorecer a geração de conhecimento e o desenvolvimento de novos produtos processos e serviços que possam beneficiar a sociedade.”
Rodrigo Gava, Coordenador da Rede Mineira de Propriedade Intelectual (RMPI)
Jaelton Avelar Fernandino, gerente de Gestão Tecnológica da Companhia Energética
Pedro Vidigal, diretor da Coordenadoria de
“FAPEMIG e BDMG têm ideias convergentes. Por meio dessa parceria [responsável pelas linhas de pesquisa Pró-Inovação e Proptec], montamos a estrutura que, acredito, nenhum outro estado tenha: duas instituições articuladas, oferecendo recursos e condições para projetos inovadores.” Carlos Fernando da Silveira, gerente geral da Assessoria de Inovação do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG)
Transferência e Inovação Tecnológica da UFMG
“Inovar é muito caro, principalmente, porque se trabalha num ambiente de incertezas, em que nem sempre o empresário detém o conhecimento de como os consumidores reagirão à inovação. Obter recursos com taxas atrativas [por meio da linha de Pesquisa Pró-Inovação] encoraja o empresário a investir em novos produtos.” Igor Guadalupe, da empresa Jungle Digital
“Se quisermos atender a demanda projetada e continuarmos com matriz energética limpa, precisamos investir maciçamente em pesquisa sobre alternativas energéticas. Principalmente, a solar e eólica. A Cemig espera que o investimento possa gerar capacitação de recursos hu-
Games
“O programa [Pró-Inovação] cria um meio acessível, ágil e aderente às necessidades das empresas que investem e têm na inovação seu maior diferencial”. Glauber Mourão, da empresa ToLife
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MINAS FAZ CIÊNCIA tem por finalidade divulgar a produção científica e tecnológica do Estado para a sociedade. A reprodução do seu conteúdo é permitida, desde que citada a fonte. MINAS FAZ CIÊNCIA • EDIÇÃO ESPECIAL 2013
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inovação em frases
“Quando as ações eram decididas apenas pelo Governo Federal, ficavam centradas em Brasília e no Rio de Janeiro. Com o desenvolvimento das FAPs, foi possível atender às demandas específicas de cada região, levando em conta a diversidade dos estados.”
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especial
A inovação no divã Especialistas elucidam conceitos, significados e princípios deste importante substantivo, responsável por influenciar o espírito de desenvolvimento de uma nação
Maurício Guilherme Silva Jr.
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Trata-se de dimensões da ordem de “um milionésimo de metro”. Na escala nanométrica, os átomos revelam características peculiares e apresentam, por exemplo, tolerância à temperatura, reatividade química, condutividade elétrica ou extraordinária força de intensidade.
Como é? Leonardo da Vinci desenvolveu os primeiros rascunhos do veículo que, hoje, conhecemos por helicóptero? Ah, vá! Só falta, agora, dizer que, séculos depois, certo material usado nas asas de aviões transformou-se em eficiente amálgama dentário. Ou, por fim, descrever a mídia social que, elaborada por universitários, revolucionou a vida de bilhões de indivíduos. Basta, por favor! Antes que se atreva a me contar algo sobre aquelas incríveis nanoesferas, “objetos” esféricos em escala nanométrica que, em breve, servirão ao diagnóstico e ao combate do câncer. Haja criatividade! Apesar da explícita incredulidade do azucrinado narrador, será preciso, aqui, referendar a plena veracidade das quatro “fábulas” acima mencionadas. Além disso, há que se discutir, para além da aplicabilidade dos produtos desenvolvidos – todos diretamente relacionados à vida do homem –, a principal questão nelas incutida (mesmo que subliminarmente): o que, afinal, teria motivado tais estudiosos a acreditar e investir em suas ideias “malucas”, a ponto de transformarem algo aparentemente inconcebível em produtos, princípios ou serviços inovadores? Na visão do professor Pedro Vidigal, diretor da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), indivíduos ou organizações com espírito inovador são aqueles sempre interessados em buscar novas formas de fazer as coisas. “Falo de pessoas e instituições criativas, que apresentam olhares e pontos de vista diferentes e não se conformam com o senso comum”, afirma, ao destacar, ainda, o cenário ideal ao surgimento de grandes propostas: “Indivíduos podem ser incentivados a dar sugestões e a propor ideias. Para isso, precisam de um ambiente favorável, livre e aberto ao novo, ao diferente”, completa. Também para Rodrigo Monteiro da Mota, responsável pela área de pesquisa,
desenvolvimento e inovação da empresa Ecovec S.A., o desejo de inovar refere-se à vontade de fazer o novo. “E de introduzir melhorias, de não aceitar a permanência e a estática das coisas, de ‘ver além do alcance’ e de enxergar oportunidades e soluções onde todos os demais veem apenas problemas”, diz, ao assegurar que o estímulo a esse comportamento passa pela valorização da própria inovação nas organizações. No ver do professor Juan Pedro Bretas Roa, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) na área de química de materiais, espírito inovador significa ter a capacidade de buscar soluções nada óbvias para as dificuldades. “Seria algo como pensar e agir de modo diferente, transformando ideias em oportunidades de negócio”, comenta. A definição do pesquisador vai ao encontro dos princípios defendidos, pelo Sistema Mineiro de Inovação (Simi), em cartilha destinada a futuros empreendedores: “Por que inovar? Porque, no mercado competitivo atual, as empresas tradicionais são ‘engolidas’ por aquelas que atendem melhor as necessidades de seus clientes”.
Segundo a cartilha “O que é inovação”, a partir da abertura da economia brasileira, no início dos anos 1990, “as empresas de todos os setores passaram a sofrer com a concorrência dos ‘importados’”. Afinal, os “produtos eram mais baratos ou de melhor qualidade e, eventualmente, tinham as duas qualidades”.
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Gerente de inovação da empresa Waycarbon, a bióloga Mariana de Queiroz Bertelli – que também é mestre em Educação – centra-se, justamente, na necessidade de identificação de oportunidades, segundo, principalmente, as demandas do mercado. “Inovar é pensar em soluções tecnicamente viáveis, que as atendam de forma criativa e custo-efetiva”, acredita.
Do espírito ao substantivo Muito já se falou de “espírito inovador”. Seria importante, contudo, investigar a natureza conceitual do princípio a preceder a ação. Neste sentido, quais os principais significados do termo “inovação”? Trata-se, realmente – como já pode ter ficado claro – de termo polissêmico? Na visão objetiva de Juan Bretas, trata-se, tão somente, do conceito por trás das novidades implantadas pelo setor produtivo. E que se concretizam, no mercado, em forma de artefatos e/ou processos. À maneira de Juan, o professor Pedro Vidigal aborda o termo como expressão do uso, da aplicação ou da exploração de algo novo (produto, processo ou serviço), em benefício do indivíduo ou da sociedade. Já para Mariana Bertelli, no contexto empresarial, inovação seria a capacidade de transformar ideias em resultados positivos. Conforme sua visão, trata-se, principalmente, da possibilidade de aumento do faturamento e de ampliação do valor agregado de artefatos e atividades. “Dessa forma, o processo de inovação deve ser pensado e gerenciado no sentido de aumentar a competitividade das empresas no mercado”, comenta. Já na acepção de Rodrigo Monteiro, inovação diz respeito a novos processos, invenções ou serviços capazes de tornar seus antecessores imediatamente obsoletos ou em desuso – de maneira específica ou generalizada. “No conceito de inovação tecnológica, está contida a forte aceitação pelo público-alvo a que se destina, em detrimento das soluções substituídas, que, de certa forma, resolviam alguma necessidade”, ressalta, ao explicar que, por
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isso, as iniciativas realmente inovadoras acabam por alcançar sucesso comercial. “E têm o poder de mudar as regras dos mercados, moldadas a favor daquele que detém a inovação introduzida”, completa.
Brasil inovador? Em 2004, criou-se no país a Lei da Inovação, nº 10.973, responsável por garantir incentivos fiscais às empresas que realizam atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Para Mariana Bertelli, em função da novidade e da imaturidade das mudanças, tais arranjos ainda criam entraves, geram dúvidas e provocam insegurança nos cidadãos brasileiros interessados em inovar. “O CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], por exemplo, tem lançado diversos editais de fomento a projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação que excluem completamente as empresas nos critérios de elegibilidade de instituições executoras, sendo elegíveis apenas organizações de pesquisa e ensino sem fins lucrativos”. Segundo a gerente de inovação da Waycarbon, nem mesmo cláusulas que estimulem a parceria com empresas estão consideradas. No que tange, diretamente, à Lei de Inovação, Mariana lembra que a isenção de impostos é permitida, apenas, a empresas que declaram, ao Imposto de Renda, seu lucro real. “Desse modo, limitam-se os benefícios às grandes companhias, que, mesmo assim, não consideram clara a elegibilidade de certas despesas. O resultado é uma insegurança tributária e fiscal por até cinco anos após a declaração, já que o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação poderá julgar as despesas inelegíveis e a Receita Federal contestará a declaração”, comenta. No ver de Rodrigo Monteiro, o Brasil tem se esforçado a chamar a atenção do empresariado brasileiro para a inovação, com incentivos crescentes e marco regulatório positivo. “Agências de fomento como FAPEMIG e Finep assumem a responsabilidade e têm ganhado espaço na coordena-
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ção de políticas nacionais pró-inovação”, enfatiza, ao destacar, ainda, que se pode verificar, no país, forte tendência à desburocratização de investimentos. “Há muito dinheiro disponível para quem deseja inovar. Boa parte deste recursos advém de princípios regulatórios de concessões públicas. Além disso, ampliaram-se o incentivo e o diálogo com as universidades e centros de pesquisa e tecnologia”. O profissional da Ecovec S.A. cita, ainda, a importância de mecanismos legais de incentivo fiscal para as empresas inovadoras – a exemplo da chamada “Lei do Bem” –, “que permitiram ao já sobrecarregado e sobretaxado empresariado brasileiro ter fôlego para melhorar seus produtos e processos e se tornar mais competitivo”. Apesar de tudo isso, Rodrigo lembra que ainda há muito a ser feito. “A extensão da Lei do Bem a empresas de lucro presumido e a flexibilização do poder de compra do estado, para garantir reserva de mercado a empresas inovadoras e/ou de base tecnológica nascentes – oriundas de universidades e centros de pesquisa públicos – são exemplos de ações governamentais que, certamente, trariam resultados mais impactantes”, conclui. Pedro Vidigal afirma que, do ponto de vista financeiro, o governo brasileiro tem sido o grande investidor. O que falta, na opinião do diretor da CTIT, é a ampliação do investimento por parte do setor privado. “Os empresários ainda consideram muito elevado o investimento em P&D [Pesquisa e Desenvolvimento]. Importante ponto de melhoria está na desburocratização dos processos. Como, no Brasil, a maior parte da pesquisa ocorre nas universidades e centros de pesquisa públicos – ou em parceria com tais agentes –, a legislação atual dessas instituições emperra a pesquisa e, consequentemente, a inovação”, afirma. Como exemplo, Pedro cita as leis que retardam processos de compras de materiais e insumos e impedem contratações de pessoal qualificado, de modo a dificultar, dentre outra ações, as parcerias com o setor privado.
Entrevista
Agora ou nunca! Coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda comenta erros e acertos do ainda tímido “Brasil inovador” Maurício Guilherme Silva Jr.
Sim, eles existem no país: de Norte a Sul, milhares de corajosos brasileiros e brasileiras, ligados a instituições também audaciosas, buscam transfigurar ideias em projetos de inovação. Apesar do monumental esforço de seus criadores, porém, tais experiências revelam-se ainda incipientes – principalmente, se comparadas ao extenso volume de instituições e habitantes do país. Daí, pois, o enfático alerta de professor Carlos Arruda, diretor adjunto de parcerias empresariais e coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral (FDC): “Precisamos de mais investimentos privados e parcerias público-privadas”. Doutor em Administração, o especialista apresenta, ao leitor de MINAS FAZ CIÊNCIA, os principais desafios e obstáculos enfrentados por organizações dotadas do que aqui se discutirá como “espírito inovador”. Além disso, Arruda interpreta a natureza conceitual do termo inovação – esta incrível “destruição criadora” capaz de promover “desequilíbrio nas condições estáveis de um contexto econômico”.
O que significa, exatamente, o termo “inovação”? Na Fundação Dom Cabral, temos uma visão bem prática de inovação. Trata-se da transformação de uma ideia, ou conhecimento, em algo que seja valor para a empresa. Esta definição baseia-se na análise de centenas de empresas inovadoras, onde inovar é parte significativa de seu dia a dia. Desse modo é que se gera valor para a empresa e para o seu mercado. E o que caracteriza o “espírito inovador” de um indivíduo ou de uma organização? Vamos deixar claro que inovação, em nossa definição, é um processo organizacional. O indivíduo é parte fundamental deste processo, em todas as suas etapas – da identificação de um desafio ou oportunidade à geração de ideias, à transformação destas ideias em solução e ao teste e eventual aplicação desta solução em seu mercado. O espírito inovador de um indivíduo pode ser relevante em todas e em cada uma destas etapas.
Discutir ciência é, por vezes, tratar das “crises permanentes” – paradigmáticas ou metodológicas –, capazes de alimentar, na pesquisa, a “eterna dúvida” sobre tudo (ou “quase tudo”). Qual seria, a seu ver, o “lugar” da dúvida no desenvolvimento de projetos de inovação? A ciência é apenas um dos componentes da inovação. Há também os elementos humanos, o que inclui fatores econômicos. Relembrando [Joseph] Schumpeter, inovar é promover um desequilíbrio nas condições estáveis de um contexto econômico. Este fator de “destruição criadora” é um fator de criação de novas “crises” e de captura de valor, com seus resultados. O Brasil tem investido como deveria em inovação? O que está bom e o que precisa melhorar? O país tem crescido significativamente os seus investimentos em inovação. Há, no Brasil, um desequilíbrio entre recursos públicos e privados. Precisamos de mais investimentos privados e mais parcerias público-privadas para inovação. O peso
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Paulo Márcio
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e a responsabilidade ainda tendem muito para o setor público, que acaba por investir mais em ciência, e menos em tecnologia e inovação. Há fatores regulatórios e práticas que restrigem o crescimento destas parcerias, seja nas universidades, seja nos centros de pesquisa, e, até mesmo, nas agências de fomento. Em Minas Gerais, a FAPEMIG é um exemplo de parceira, com projetos conjuntos com a Vale, a Cemig, a Algar, a Whirlpool e muitas outras empresas e oportunidades. Seria interessante que iniciativas como estas fossem comuns na Finep, no BNDES, na Fapesp etc. Os NITs [Núcleos de Inovação Tecnológica] também precisam aprender a ser agências de inovação, ampliando seu escopo e focando na cooperação com o setor privado. Em outras palavras, ainda há muito a ser feito no país.
“Relembrando [Joseph] Schumpeter, inovar é promover um desequilíbrio nas condições estáveis de um contexto econômico. Este fator de ‘destruição criadora’ é um fator de criação de novas ‘crises’ e de captura de valor, com seus resultados”
Que análise o senhor faz da legislação brasileira, no que se refere aos processos de patenteamento de ideias, serviços e produtos? Até que ponto a burocracia emperra nossas aspirações? O Brasil está perdendo a corrida da economia do conhecimento. Tive acesso à base de dados de patentes do USA Patents and Trademark Office [Escritório de Marcas Registradas e Patentes dos Estados Unidos], onde são depositadas patentes com validade nos EUA. No total de patentes válidas, o Brasil aparece apenas na 31ª posição, tendo crescimento pequeno nos últimos dez anos. Países como China, Índia e Cingapura, que, em 2000, não apareciam com destaque na lista, hoje figuram entre as 25 primeiros nações que mais contribuem com patentes de tecnologias e produtos usados. Obviamente, o fator regulatório não é o único responsável, mas a falta de avanços significativos no marco regulatório pode ser uma barreira
ao desenvolvimento do Brasil. Vale a pena observarmos o que tem acontecido em países como Malásia e República Tcheca, que avançam de maneira muito mais significativa que o Brasil nos diversos indicadores de patentes e inovação. Em instituições como a Fundação Dom Cabral, busca-se – por meio da pesquisa e da inovação – o desenvolvimento de expertise relativa à área de business. O que, no modelo de sucesso da FDC, poderia ser “traduzido” aos interesses/objetivos de outras áreas e campos do saber? O segredo da Fundação é trabalharmos o tempo todo em colaboração. Na FDC, usamos a palavra “parceria”. Trabalhamos em parceria com o mercado no desenvolvimento de novas metodologias, conteúdos e programas, e em parceria com outras escolas de negócio na busca de soluções que possam atender às necessidades de mercado. Também trabalhamos em parceria com especialistas, independentemente de seus vínculos trabalhistas, e com agências do governo, como FAPEMIG, Sectes, BNDES e ABDI, entre outros. Essa postura de abertura aos parceiros faz com que a FDC seja muito mais relacional do que transacional. Eis um atributo fundamental ao espírito inovador. Por falar em parcerias, que diferenças há entre tais experiências no Brasil e no mundo? As parcerias, no Brasil, devem ter efeito de compensação. Nosso país tem muitas carências de qualidade, seja na educação, seja no marco regulatório ou na infraestrutura. As parcerias público-privadas brasileiras, diferentemente daquelas que vemos em países como EUA, Reino Unido e Japão, devem ser instrumentos de compensação destas deficiências –
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que podemos chamar de sistêmicas –, ao mesmo tempo em que precisam ser instrumentos de promoção do futuro. Não podemos apenas avançar, sem reconhecer a necessidade de superação de deficiências, nem ficarmos somente presos aos atrasos. Como exemplo, lembremos que uma parceria FAPEMIG/Empresa deve desafiar a comunidade a gerar novos conhecimentos de ponta, mas promovendo o desenvolvimento da qualidade da pesquisa, dos pesquisadores e dos laboratórios, com envolvimento de instituições referenciais, no campo em questão, fora do Brasil. Desafiar novos conhecimentos de modo restrito aos indivíduos e instituições que temos em Minas e no Brasil é muito restritivo e não promove o desenvolvimento destes mesmos indivíduos e instituições.
sil, centros de pesquisa, pesquisadores, empresas e universidades lideraram este processo com avanços significativos no desenvolvimento do etanol a partir da cana de açúcar. Hoje, contudo, há mais pesquisa sobre etanol nos Estados Unidos do que no Brasil. Há o risco de, no futuro, comprarmos tecnologias americanas do produto – se já não o estamos fazendo. Todo o movimento de cleantech [tecnologia limpa] estará revolucionando o mundo nos próximos anos, associado a energias renováveis, reciclagem de resíduos, tratamento de emissões, uso da água e, de maneira ainda mais significativa, exploração econômica da biodiversidade. Em todos estes campos, o Brasil deverá assistir à movimentação mundial de maneira quase passiva. Com boas exceções, mas apenas exceções.
No que diz respeito ao investimento em inovação, o senhor poderia nos contar histórias de boas experiências desenvolvidas em outros países? Por que tais projetos merecem destaque, a seu ver? Cito, no Brasil, o projeto Genolyptus, liderado pela Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] e com participação de empresas e universidades brasileiras e estrangeiras. O projeto, que visava o desenvolvimento de variedades de eucalipto melhor adaptadas à geografia brasileira, alavancou nossa indústria e nossa capacidade produtiva neste segmento. A partir da iniciativa, o país tornou-se líder mundial em celulose de eucalipto – assim como, potencialmente, líder mundial em produção de energia a partir do eucalipto. Trata-se, pois, de um exemplo de cooperação e investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação. O que faltou? Avançar ainda mais, de modo a ampliar a pesquisa para novos campos, como OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) e Biotecnologia. Observamos o mesmo fenômeno na pesquisa do Etanol. No Bra-
“As parcerias, no Brasil, devem ter efeito de compensação. Nosso país tem muitas carências de qualidade, seja na educação, seja no marco regulatório ou na infraestrutura. As parcerias público-privadas brasileiras, diferentemente daquelas que vemos em países como EUA, Reino Unido e Japão, devem ser instrumentos de compensação destas deficiências – que podemos chamar de sistêmicas –, ao mesmo tempo em que precisam ser instrumentos de promoção do futuro”
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Investimentos do governo, maior diálogo universidade-empresas e possível aprovação de legislação específica evidenciam os primeiros e pródigos passos da inovação no Brasil Juliana Saragá
Na década de 1940, por meio da teoria da “destruição criativa”, o economista Joseph Schumpeter (1883-1950) buscou estabelecer relação entre projetos inovadores e desenvolvimento da economia. Segundo tais preceitos, o sistema capitalista progride caso consiga “recriar”, constantemente, sua estrutura econômica, a partir do surgimento de novos produtos, firmas e tecnologias – que, pouco a pouco, substituem tudo o que há de antigo. Já na visão do fundador da fabricante de computadores norte-americana Apple, Steve Jobs (1950-2011) – responsável por revolucio-
nar segmentos da indústria e colocar a tecnologia na palma da mão do consumidor –, é a inovação que “distingue líderes de seguidores”. O próprio slogan de sua empresa, “Pense diferente”, parece traduzir o conceito nos dias de hoje. Ao também comentar os significados de inovação, o presidente da FAPEMIG, Mario Neto Borges, constrói a seguinte analogia: “Na pesquisa, transformamos o recurso em conhecimento. Inovar é fazer o caminho inverso: transformar o conhecimento em riqueza”, comenta, ao destacar, ainda, que é preciso completar “o ciclo”:
os recursos investidos pelo governo devem retornar, de modo a ampliar competitividade econômica do país. No Brasil, metade dos investimentos em inovação são públicos. Uma das formas mais comuns é a chamada subvenção econômica, modalidade de apoio financeiro que consiste na aplicação de recursos públicos não reembolsáveis diretamente nas empresas, para que elas possam compartilhar custos e riscos inerentes à atividade-fim. O marco-regulatório que viabiliza essa concessão foi estabelecido com a aprovação da Lei de Inovação, em 2004. A partir daí,
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INOVAÇÃO NO BRASIL
O gigante acordou
criou-se um cenário mais favorável ao desenvolvimento de propostas inovadoras em território brasileiro. Atualmente, se, por um lado, o país é responsável pelo significativo índice de 2,7% da produção científica mundial, por outro, ocupa a 64ª colocação entre os países mais inovadores do mundo, tendo caído seis posições em relação ao ano passado. A classificação leva em conta 84 indicadores para avaliação dos elementos da economia nacional que favorecem atividades de inovação, como instituições, capital humano e pesquisa, infraestrutura e aperfeiçoamento das empresas, além de provas manifestas em conhecimento, tecnologia e resultados criativos. Apenas 1,13% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é investido em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), enquanto países como a Coreia do Sul aplicam cerca de 4% no setor. O novo Brasil, que já é a sétima economia do mundo, ainda precisa vencer grandes desafios para estar realmente inserido na economia do conhecimento.
Iniciativas Lançado em setembro deste ano, o Inova Empresa (www.finep.gov.br/inovaempresa) é um plano de investimento em inovação elaborado pelo Governo Federalque prevê a articulação de diferentes ministérios e a oferta de apoio financeiro por meio de crédito, subvenção econômica, investimento e financiamento a instituições de pesquisa. Até 2014, serão aplicados mais de R$ 32,9 bilhões em inovação. Os recursos destinam-se a empresas brasileiras de todos os portes, que tenham projetos inovadores, com o objetivo de torná-las mais competitivas no mercado global. A iniciativa apoia setores considerados prioritários pelo governo: pesquisa aeroespacial, saúde, energia, petróleo e gás, tecnologia assistiva e tecnologias da informação e comunicação (TICs). Além do Inova empresa, o Governo Federal anunciou, em setembro, a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, a Embrapii. Com aporte de R$ 1 bilhão até 2014, a entidade fomentará projetos de cooperação entre empresas
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nacionais e instituições de pesquisa e desenvolvimento para a geração de produtos e processos inovadores. Inspirada na Embrapa, a ação piloto da Embrapii foi criada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A Empresa terá como sustentação a necessidade de maior articulação institucional entre os setores público e privado, de modo a complementar a atuação das agências de fomento. “A expectativa é que a Embrapii simplifique o acesso ao financiamento para a inovação, e, assim, haja maior apoio para projetos de risco tecnológico no período pré-competitivo, além de incremento das relações entre empresas, institutos de pesquisa e setor público”, declara o diretor de inovação da CNI, Paulo Mól Junior. O presidente do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap), Sergio Gargioni, também acredita que a Embrapii será um instrumento simplificador do processo, mas alerta que sua eficácia dependerá da qualidade da gestão e do grau de liberdade a ser concedido à organização. Gargioni explica que as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) querem ter participação ativa na gestão da Empresa e já manifestaram ao MCTI o desejo de participar do seu conselho de administração. “Independente disto, as FAPs querem ser agentes regionais e locais da Embrapii, identificando parcerias relevantes”. Ele acredita que a capacidade econômica e gerencial do grupo pode contribuir muito para a gestão dessa nova entidade. Hoje, as FAPs representam um conjunto expressivo de fomento à CT&I brasileira. Presentes em 26 estados (com exceção, apenas, de Roraima), investiram, juntas, somente em 2012, cerca de R$ 2,5 bilhões. “Quando as ações eram decididas apenas pelo Governo Federal, ficavam centradas em Brasília e no Rio de Janeiro. Com o desenvolvimento das FAPs, foi possível atender às demandas específicas de cada região, levando em conta a diversidade dos estados”, explica o presidente da FAPEMIG, Mario Neto Borges.
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Hélice Tríplice
Para que a inovação aconteça de fato, é preciso que três atores representem bem o seu papel: governo, universidades/centros de pesquisa e indústria. Somente por meio da interação desses três setores é que será possível criar um sistema de inovação sustentável e durável na era da economia do conhecimento. O modelo, conhecido como Hélice Tríplice, foi descrito por Henry Etzkovitz em meados dos anos 1990. “As universidades e centros de pesquisa produzem o conhecimento. As empresas transformam o conhecimento em produto, ou seja, fazem a inovação. Mas há grande dificuldade de articulação entre esses dois elementos, já que a tendência é que o saber fique retido na academia. O papel do governo é motivar a interação, facilitando e induzindo o diálogo”, esclarece Borges. O diretor de Inovação da CNI destaca ser preciso ampliar linhas de financiamento e de crédito para proporcionar mais parcerias entre indústria e centros de pesquisa e desenvolvimento. Outra forma de incentivo é a criação dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) nas universidades. Os NITs também estão previstos na Lei de Inovação e têm como função apoiar os pesquisadores na proteção dos resultados de suas pesquisas, no cumprimento das políticas de inovação tecnológica da instituição, na interação com o setor público e privado e na prospecção de parceiros para transferência de tecnologia. Na academia, existe uma corrente que ainda questiona a relação universidade-empresa e a relação público-privada. Para o diretor da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), da UFMG, Pedro Vidigal, tal discussão é legítima e deve fazer parte do processo de consolidação do ambiente de inovação nas universidades. Segundo ele, porém, não há espaço para o preconceito. “Minha vivência na CTIT sempre foi muito positiva nesse sentido. Entre aqueles pesquisadores que atuam em áreas tecnológicas, podemos dizer que, na pesquisa aplicada, essas dificuldades já não mais existem. Nenhuma de nossas ações deixou de ser realizada e nunca deixamos de efetivar parcerias com empresas por recusa do pesquisador baseado nessa questão”, afirma.
Desafios
Na opinião do presidente do Confap, Sergio Gargioni, dois fortes elementos entravam o desenvolvimento da inovação brasileira: pouca disponibilidade de recursos e burocracia. O presidente da FAPEMIG apoia e acrescenta um terceiro item: a ausência de legislação específica. “Falta dinheiro e sobra burocracia. Isto dificulta o acesso e cria inseguranças. Ainda temos que utilizar uma legislação criada para outras coisas”, pontua. O diretor da CTIT da UFMG destaca dificuldades causadas pelo excesso de burocracia no dia-a-dia dos pesquisadores. “Os processos de compra são demorados, atrasando o desenvolvimento de pesquisas. Muitas parcerias com empresas levam meses para ser aprovadas, devido à necessidade de atender a diversas exigências regulatórias”, comenta Pedro Vidigal, ao lembrar, ainda, que tecnologias desenvolvidas pela universidade deixam de ser transferidas para determinada empresa porque só podem ser licenciadas por meio de edital de oferta pública – processo que não é atraente para a empresa por ser demorado, de risco e expor a estratégia de mercado da empresa. “Pesquisadores deixam de empreender porque não podem atuar nas empresas e manter a atividade de pesquisa em suas instituições”, enumera. Em relação à quebra da burocracia, importante passo já foi dado. Está em tramitação, no Congresso Nacional, um Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que promete avanços. A proposta, batizada, na época, de “Código da Ciência” (leia reportagem sobre o tema em MINAS FAZ CIÊNCIA nº 47), surgiu em 2011, durante encontro do Confap. A ideia progrediu e foi criada, pelo Congresso, uma comissão especial mista para analisar as propostas sugeridas por entidades como Confap, Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Tecnologia e Inovação (Consecti), Academia Brasileira de Ciências (ABC) e Sociedade Brasileira de Pesquisa Científica (SBPC). O texto inicial do Código da Ciência teve desdobramentos, ao abordar, separadamente, a inovação, a biodiversidade e o Regime Diferenciado de Contratações (RDC). A última versão do documento também contou com participação do em-
presariado, com apoio da CNI, da Associação Nacional das Empresas de Inovação Tecnológica e da Associação Nacional das Incubadoras e Parques Tecnológicos. “A PEC dará abertura e respaldo a um novo arcabouço jurídico para a gestão da pesquisa e da inovação. A intenção é permitir a participação do pesquisador no desenvolvimento de projetos empresariais – sem que isso seja considerado ilegal – e colaborar com a criação de um regime simplificado de compra”, esclarece Sergio Gargioni. Já para Mario Neto Borges, presidente da FAPEMIG, a fragmentação do texto representa um risco à sinergia do arcabouço legal. “Não sabemos o resultado deste desdobramento, mas considero uma perda, já que um dos triunfos do Código era resumir, numa única lei, todos os aspectos que envolvem o processo”, opina. A expectativa é que a PEC seja aprovada ainda este ano. Na opinião do diretor de Inovação da CNI, Paulo Mól Júnior, para alavancar a inovação será necessário fortalecer a propriedade intelectual, estimular a interação entre empresas, universidades e centros
de pesquisa, por meio da ampliação de linhas de financiamento, e, principalmente, formar recursos humanos qualificados. Para o diretor da CTIT-UFMG, Pedro Vidigal, a Hélice Tríplice precisa girar no mesmo sentido. “Há descompasso entre os atores. É preciso que todos estejam focados num único objetivo, trabalhando para favorecer a geração de conhecimento e o desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços que possam beneficiar a sociedade”, opina. O presidente da FAPEMIG acredita que a atual fase é de transição: do completo desconhecimento ao início da instauração de uma cultura de valorização da ciência, da tecnologia e da inovação. “Estamos sempre na iminência de cortes governamentais nessa área. Para a sociedade agir, ela precisa reconhecer a ciência como um valor. O cenário ideal depende desta conscientização social. Esse é o caminho capaz de garantir o desenvolvimento econômico, cientifico e cultural do Brasil”, finaliza.
Inova Minas Um dos produtos do pacote de inovação do Governo Federal é o Tecnova, iniciativa da Finep para trabalhar em parceria com FAPs. Ao todo, serão destinados R$ 190 milhões para aplicação em micro e pequenas empresas brasileiras. Em Minas Gerais, a parceria com a FAPEMIG resultou em um edital que vai destinar R$ 15 milhões – sendo R$ 6 milhões da entidade mineira e R$ 9 milhões da Finep – para projetos de inovação de empresários do Estado. O objetivo é fomentar o desenvolvimento de novos produtos, serviços e processos que agreguem valor aos negócios e ampliem seus diferenciais competitivos. As linhas temáticas são agronegócio, biotecnologia, eletroeletrônico, energias alternativas, meio ambiente, mineral-metalúrgico, petróleo e gás e tecnologia da informação e comunicação. Gerente de Inovação da FAPEMIG, Heber Pereira Neves explica que o edital de Minas tem especificidades importantes, que buscam atender à realidade das empresas mineiras. Uma delas é que o coordenador do projeto não necessita ter experiência acadêmica, ou seja, não precisa ser pesquisador, como nos editais tradicionais. Outro ponto importante diz respeito ao fato de que a FAPEMIG, em parceria com a Fundação Dom Cabral, realizará acompanhamento e consultoria a 20 empresas que tiverem suas propostas aprovadas, a fim de facilitar o sucesso dos produtos no mercado. O edital está disponível no site da FAPEMIG e as propostas podem ser enviadas até 18 de novembro.
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CIÊNCIA E MERCADO
Uma ideia na cabeça e um produto na mão Incentivo ao empreendedorismo e atuação das incubadoras ajudam pesquisadores a vencer desafio de transpor para a sociedade os frutos de seus trabalhos acadêmicos
Virgínia Fonseca
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Clareza nos objetivos a serem alcançados, com foco nos pontos fortes Dinâmica interna forte, comunicação rápida, transparência e confiança Valorização de pessoas Proposta clara de valor
Grupo Folha de São Paulo/UOL compra Miner Technology Group. Akwan Information Technologies é vendida para Google Inc.. Zunnit Technologies selecionada para se instalar no Parque Tecnológico de Belo Horizonte. Qualquer semelhança entre essas referências e cadernos de informática dos jornais é mera coincidência. O ponto de contato entre as empresas de tecnologia aqui mencionadas é outro: as três surgiram no Laboratório para Tratamento da Informação (Latin) do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Mina Gerais (UFMG). E, embora não tenham chegado a ser manchete na mídia, o mérito dos seus criadores é bem real: professores e alunos envolvidos na concepção desses empreendimentos fazem parte do grupo, cada vez mais visível, de acadêmicos que conseguem transformar em negócio rentável os conhecimentos desenvolvidos em suas investigações científicas. As empresas acima são classificadas como startups, companhias geradas a partir de ideias ou resultados de pesquisas desenvolvidas em laboratórios universitários, que derivam em protótipos, tecnologia e, finalmente, produtos. Professor emérito do Departamento de Ciência da Computação da UFMG, orientador dos três projetos citados, Nivio Ziviani afirma que os conhecimentos intelectuais não são o único componente na equação que transforma ciência em produtos bem sucedidos no mercado. Para empreender, explica o veterano, é preciso, em primeiro lugar, compreender o que significa uma startup. “Trata-se de novas empresas que nascem de uma ideia – ou protótipo – combinada com uma grande paixão”, ensina. Essa conexão constitui o passo inicial, que, por sua vez, liga-se a outros fatores, já que a taxa de sobrevivência é muito baixa para os primeiros cinco anos de existência do empreendimento. Existem, segundo o professor, características comuns às startups de sucesso. Para executar tais princípios bem, é preciso ter um bom empreendedor, com conhecimento profundo dos produtos e
processos envolvidos, bem como competência para implementar os protótipos. “De fato, construir algo é a grande motivação do empreendedor. Isso é importante porque novos produtos e processos podem exigir novos modelos de negócio. Sem um bom gestor, as chances de sucesso são mínimas”, pondera. E quais seriam as características do bom empreendedor? “Eles são extremamente focados, possuem grande intensidade e paixão, forte conhecimento de pessoas – o que permite criar times de alto desempenho – e grande desprendimento de preconceitos pessoais”, detalha Ziviani. De acordo com o professor, o incentivo ao empreendedorismo e à inovação evoluiu muito nos últimos 10 anos no país, apesar de, segundo ele, ser ainda pequeno o esforço para incluir tais conteúdos nas escolas e universidades. “Isso deveria ser ensinado desde o nível fundamental até o superior”, opina. A professora Adriana Ferreira de Faria, diretora executiva do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa (CenTev/UFV), concorda que alguma mudança já se pode ver nos últimos anos, uma vez que Minas Gerais tem desenvolvido política sólida de apoio à inovação. “Por meio de diversos atores, verifica-se a execução de um conjunto consistente de ações que apoiam esse aspecto nas empresas, bem como o robustecimento de ambientes como parques tecnológicos e incubadoras”, justifica, ao mencionar a própria FAPEMIG entre os estimuladores da interação universidade-empresa, mola propulsora para a inovação.
Caminho das pedras
Discorre Adriana de Faria: a matéria-prima para a inovação é o conheciSão finalidades do CenTev o melhor aproveitamento dos recursos de incentivo à inovação e ao empreendedorismo e a promoção do desenvolvimento regional e local. O órgão é composto pela IEBT, pela Central de Empresas Juniores, pelo Parque Tecnológico de Viçosa e pelo Núcleo de Desenvolvimento Social e Educacional.
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André Berlinck.
Equipes de incubadoras, como a do CenTev, prestam suporte a novos empreendimentos de base tecnológica
mento, cujo celeiro, por sua vez, está nas universidades. Dessa forma, o desafio que se apresenta é deslocar o conhecimento das instituições de ensino, por meio da geração de novas empresas ou da transferência de tecnologia. “A criação de empresas de base tecnológica é um mecanismo importante de desenvolvimento econômico e social, pois promove a geração qualificada de emprego e renda”, afirma a professora. Os obstáculos presentes na trilha que une a academia à transformação do conhecimento em negócio começam, porém, já no momento em que o jovem talento tem uma boa ideia, com potencial para ser testada no mercado, e resolve implantar a empresa. Iniciam-se, aí, os processos – contador, advogado, capital para pagar as etapas envolvidas na regularização de documentos, prazo médio de 120 dias para formalização. Em seguida, é preciso alugar ambiente, contratar pessoas para desenvolver a tecnologia e gerar produtos. Nesta fase, vêm a rigidez e os riscos impostos pela legislação trabalhista. “Numa startup, as pessoas, muitas vezes, trabalham mais de 40 horas semanais, em horários flexíveis, sem bater ponto ou mesmo sem carteira de trabalho assinada, o que gera um passivo que pode custar caro, na Justiça do Trabalho, quando o profissional deixa a empresa”, pontua Nivio Ziviani. Com um detalhe: até esse ponto, não há receita para cobrir custos. Um dos mecanismos que aponta caminhos para a criação de empreendimen-
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tos inovadores, a partir de resultados de pesquisa das universidades e instituições científicas, é a Lei de Inovação. Entretanto, Ziviani endossa coro recorrente entre acadêmicos, ao afirmar que a legislação, por si, é insuficiente para estimular o surgimento de empresas inovadoras, já que as universidades e centros de pesquisa públicos têm tido dificuldade de regulamentá-la por completo. As incubadoras e parques tecnológicos assumem, então, papel essencial no fomento às empresas de base tecnológica. “Como habitat privilegiado de inovação, essas iniciativas auxiliam na criação e no desenvolvimento pleno das companhias nascentes”, atesta Adriana de Faria. Nivio Ziviani acrescenta que aquelas que participam desses empreendimentos passam a integrar um ecossistema de Pesquisa e Desenvolvimento que inclui fatores tais como proximidade com centros acadêmicos e mais facilidade na contratação
Professora Adriana de Faria: a inovação deriva de um sistema dinâmico, capaz de fomentar processos contínuos
de talentos. O docente também destaca o network proporcionado, a troca de experiência e a infraestrutura compartilhada. Que o diga o empresário Ígor Guadalupe Coelho, diretor executivo da Jungle, empresa tecnológica focada em educação e assistência social, que contou com o suporte da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (IEBT), do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa. Sem o trabalho da incubadora, 40 municípios, em oito estados brasileiros, não teriam hoje a administração de sua assistência social facilitada pelo sistema de gestão unificado Gesuas, um dos produtos da Jungle. “Tivemos acesso a consultorias e assessorias em aspectos de gestão críticos para o crescimento da companhia”, conta o gestor. A infraestrutura para início das atividades, em 2007, e a chancela da Universidade Federal de Viçosa (UFV) também são lembradas. “Fazer parte do programa
Saiba mais... Os três projetos coordenados pelo professor Nivio Ziviani que se tornaram empresas de sucesso têm foco na web. A primeira companhia, Miner Technology Group, foi fundada em abril de 1998, a partir de uma dissertação de mestrado desenvolvida no Latin, e vendida para o grupo Folha de S. Paulo em junho de 1999. Já a Akwan Information Technologies, constituída em abril de 2000, passou a integrar a Google Inc. em julho de 2005. A partir dela, a Google criou, em Belo Horizonte, seu centro de pesquisa e desenvolvimento para a América Latina. Por fim, a terceira, Zunnit Technologies, fundada em outubro de 2009, compõe, atualmente, o grupo de empresas selecionadas para se instalar no BHTec, o Parque Tecnológico de Belo Horizonte, lançado em 2012.
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de incubação nos permitiu acesso a vários mercados”, complementa.
“Gestação” de negócios Criada pela UFV em 1996, a incubadora do CenTev, como suas pares, encarrega-se de viabilizar a criação e o desenvolvimento de novos negócios de base tecnológica e de promover a difusão da cultura empreendedora e das tecnologias inovadoras produzidas pela comunidade acadêmica. Para tanto, são oferecidos sistemas de pré-incubação e incubação, além do programa de spin-off (novas empresas) da universidade. Desde sua fundação, a incubadora auxiliou a graduação de 30 empresas e apoiou dezenas de projetos de inovação, tendo sido, por duas vezes – 2006 e 2011 –, premiada como a melhor do país no quesito orientação para o desenvolvimento regional. O Programa de Pré-incubação atende empreendedores que possuam ideia de produto ou serviço inovador, mas que ainda precisam de suporte e orientação para transformá-la em negócio. Atividades com ênfase na conscientização empreendedora, no desenvolvimento de protótipos, na elaboração do plano de negócio e na capacitação para gestão empresarial fazem parte desta etapa. Já o Programa de Incubação atua na capacitação gerencial e no apoio ao desenvolvimento do negócio, com vistas a fortalecer empresas nascentes de base tecnológica. Infraestrutura compartilhada, assessorias gerenciais e técnicas, bem como mecanismos de apoio à inovação e à cooperação tecnológica fazem parte do arcabouço ofertado pelo IEBT neste nível, até que a empresa esteja pronta a atuar, por si, no mercado. A Jungle é exemplo de empreendimento que passou por todas as fases de incubação até “graduar-se”. A adesão aos programas ocorre por meio de edital e de processo de seleção anual da incubadora.
Mineira de Inovação (RMI). “A inovação se realiza por meio da interação entre os atores, compondo um sistema dinâmico, que fomenta os processos de forma contínua”, reitera Adriana de Faria. A professora, que também é diretora da RMI, destaca que o desafio é manter a articulação permanente entre os agentes e dar continuidade aos investimentos financeiros necessários. Fundada em 1997, a Rede atua de forma a estimular e apoiar o desenvolvimento do empreendedorismo e da inovação em Minas Gerais. A entidade reúne, atualmente, 22 incubadoras associadas, três parques tecnológicos – os de Belo Horizonte (BH-Tec), Itajubá (PCTI) e Ube-
raba (PTU) – e uma instituição educacional focada na capacitação profissional para as áreas de comércio de bens, serviços e turismo, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de Minas Gerais (Senac). Entre 2006 e 2013, 281 empresas graduaram-se nas incubadoras associadas à RMI. Atualmente, cerca de 130 encontram-se em incubação. “Não se pode mais conceber empresas apenas com a função de produzir. É necessário desenvolver iniciativas intensivas em tecnologia, capazes de apresentar ao mercado produtos e processos inovadores”, afirma Adriana de Faria.
Entre Midas e a ecologia Em campo diferente, mas não menos inovador, atua o professor Rochel Monteiro Lago, do Departamento de Química da UFMG. O docente é fundador da Verti Ecotecnologias, empresa que possui, como filosofia, transformar rejeitos de processos produtivos – usualmente associados a perdas – em lucro. A inspiração para o empreendimento veio de pesquisas sobre tecnologias ambientais, desenvolvidas na universidade. “Não se trata de métodos convencionais de reaproveitamento ou reciclagem. Nosso foco é usar ciência para gerar receita a partir da transformação do que antes era lixo”, reitera Rochel. Segundo o professor e empresário, no meio acadêmico, o desenvolvimento de tecnologias muitas vezes para no laboratório. “Grande número de produtos e processos não sai para o mercado, atualmente, porque não temos a capacidade de executar etapas fundamentais que a pesquisa deve seguir, como a avaliação da oportunidade e os estudos de escalonamento e engenharia”, avalia. A Verti foi criada, então, para preencher essa lacuna, na área de tecnologias ambientais, a partir da percepção de que estaria na universidade a resposta para a busca constante por soluções e oportunidades para esse setor. “Afinal, as indústrias possuem muitos problemas com efluentes e resíduos sólidos que esperam por novas possibilidades tecnológicas”, complementa. A empresa atua como consultora e executora na implantação de projetos de “tecnologia verde”. Desde sua criação, em 2008, a companhia desenvolveu várias soluções, entre produtos, patentes e projetos, por meio de parcerias com o setor privado e instituições de ensino.
Tramas da criação A organização e articulação dos ambientes favoráveis ao desenvolvimento de novos produtos também têm sido executadas, no Estado, por meio da Rede MINAS FAZ CIÊNCIA • EDIÇÃO ESPECIAL 2013
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EMPREENDEDORISMO
Não é preciso ser grande
Por meio do programa Inventiva, micro e pequenas empresas têm a possibilidade de concretizar – e ver crescer – suas melhores ideias William Ferraz
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A produção de conhecimento em Minas Gerais anda a todo vapor. Que o digam os avanços científicos e tecnológicos das últimas décadas, que põem o Estado em posição respeitável no mercado nacional e têm atraído holofotes dos quatro cantos do mundo. O resultado de tal processo é a captação de fortes parcerias, a atração de investidores nacionais e a aproximação com países de consolidada tradição de pesquisa, de modo a que haja não apenas transferência de conhecimentos, mas também incorporação de novos recursos e metodologias, e, principalmente, reconhecimento internacional quanto à expertise dos pesquisadores mineiros. Parte significativa desse processo deve-se ao plano estratégico desenvolvido pela FAPEMIG, que está sempre à procura de se antecipar em relação às necessidades do mercado e abarcar novos nichos, num constante esforço para potencializar o campo produtivo de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) em Minas. O investimento em inovação é um dos alicerces para a construção da sociedade do futuro, já dizia o visionário epistemólogo Jean Piaget (18961980), para quem o principal objetivo da educação seria “criar pessoas capazes de fazer coisas novas, e não simplesmente repetir o que outras gerações têm feito”. Não se trata de apenas isso, porém. Inovação não se resume à formação de mentes arrojadas. Criar e desenvolver uma nova ideia, um novo conceito e transformá-lo em produto envolve muito trabalho, conhecimento aplicado e investimentos. Além disso, nem sempre as grandes criações caminham lado a lado com capital disponível para suportar os gastos de um projeto. Sem investimentos, muitas ideias de sucesso ficam no papel – ou não se perpetuam no mercado. Quando nascidas com o micro ou o pequeno empresário, por exemplo, podem acabar ultrapassadas por conceitos similares nascidos no interior de uma multinacional, o que representa perda para as economias locais. “Ao final, o inventor não
possui recursos para investir na construção ou no melhoramento dos protótipos de patente de invenção ou modelo de utilidade”, lembra Patrícia de Lourdes Santos, chefe do Departamento de Transferência de Tecnologia da FAPEMIG. Em Minas Gerais, um dos grandes trunfos, nesse sentido, é o desenvolvimento de programas que se voltem ao descobrimento de talentos fora das instituições acadêmicas e ao fomento de projetos inovadores – para os quais o inventor dispõe de pouco ou nenhum recurso para assumir riscos financeiros. No mercado brasileiro, o cenário é carente de programas focados no apoio a iniciativas desenvolvidas por empresas de pequeno porte e inventores autônomos. O Programa de Apoio ao Inventor Independente e Microempresa e empresa de Pequeno Porte (Programa Inventiva) é uma das ações da FAPEMIG criadas para atender a esta vertente do mercado. Enquadrado na categoria de demandas de fluxo contínuo – ou seja, que recebem propostas ininterruptamente durante o ano –, foi elaborado com o principal objetivo de estimular a inovação tecnológica em Minas Gerais por meio de financiamento e de ações de incentivo, tendo em vista promover a transformação de ideias e invenções em produtos que possam ser absorvidos pelas cadeias produtivas. O programa volta-se, ainda, à criação de novas empresas, ao desenvolvimento de empregos e à economia de divisas. Criado em 2007, o Inventiva é resultado de parceria entre FAPEMIG, Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae) e Instituto Euvaldo Lodi (IEL). O programa prevê aporte financeiro de até R$ 50 mil para cada pesquisa, com oferta, ao empreendedor, de condições para construção e desenvolvimento de projetos. Dentre outras ações, baseadas no pedido de patente, a iniciativa permite que, por meio de recursos não reembolsáveis,
Até 11 de novembro, estarão abertas as inscrições para os interessados no programa Inventiva. Neste ano, serão destinados R$ 600 mil ao conjunto de propostas aprovadas – sendo cerca de R$ 40 mil por projeto. Estima-se, pois, que, em média, 15 novas ideias inovadoras sejam apoiadas até o fim de 2014. A análise dos planos de trabalho, realizada pelas câmaras, deve ocorrer entre dezembro de 2013 e janeiro do ano que vem.
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o inventor contrate consultoria especializada, desenvolva design competitivo e finalize pesquisas para a modelagem de protótipos. De acordo com Patrícia de Lourdes, a requisição do patenteamento significa um diferencial competitivo fundamental. “Para garantir a exclusividade de uma tecnologia, o inventor realiza o depósito de pedido de patente de invenção ou modelo de utilidade em uma fase inicial, ou mesmo antes do desenvolvimento do protótipo”, explica.
Identidade virtual Exemplo de trabalho fomentado por meio das ações do Inventiva é o projeto “Leitora de Cartões Inteligentes, Portátil e de Acesso Universal CCID”, idealizado pela empresa Ipê Inovação, especializada no desenvolvimento de equipamentos eletroeletrônicos. Sob a coordenação de Hugo Alexander de Moraes Pimentel, a iniciativa foi aprovada pelo Inventiva por meio do Projeto Proinv 16/08, lançado em 2010, e recebeu o investimento de R$ 30 mil para prototipagem do produto. “À época, estávamos no período inicial de nossas atividades, visto que se trata de empresa nova, que se consolidou em 2008. Os valores concedidos por meio do programa foram significativos para que pudéssemos colocar o projeto em execução”, destaca. O trabalho consiste na criação de leitora portátil de cartões, compatível com os sistemas operacionais de computador mais encontrados no mercado – Microsoft, Linux e Macintosh –, sem necessidade de instalação de drivers para seu reconhecimento (tecnologia Plug and Play), característica que confere grande flexibilidade de uso ao equipamento. “O produto foi estrategicamente pensado para acompanhar o usuário a todos os lugares. Ele funciona por USB, conexão escolhida por ser universal, e toma, como fonte de energia, o próprio dispositivo ao qual se conecta. A leitora é portátil, leve e programada para que haja grande praticidade de uso”, explica Hugo Pimentel, ao ressaltar, ainda, que o usuário pode conectar a leitora ao computador de casa, do escritório ou de, até
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mesmo, de um cybercafé. “E não precisará preocupar-se em instalar programas para seu funcionamento. Além disso, o usuário terá a garantia de que suas informações não serão alteradas ou lidas naquela ou em outra máquina”, completa. O mecanismo tem por objetivo gerar a identidade virtual do indivíduo para uso em transações de segurança via web que exijam reconhecimento do usuário. Cartões com microchips criptografados, devidamente registrados em órgãos governamentais, fornecem dados pessoais. “O que tínhamos até hoje no mercado era um identificador de dispositivos, o Protocolo de Internet (IP), que nada mais é que o endereço da máquina usada – e que não garante a identidade do usuário em si”, explica. A proposta dos cartões inteligentes é criar, na web, um sistema de registro que funcione como documento de identidade de reconhecimento global, e que permita a localização do indivíduo em qualquer máquina do planeta. “Com essa tecnologia, torna-se possível que ocorram, via internet, serviços com identificação obrigatória do usuário”. O produto, que, atualmente, encontra-se em processo de patenteamento, é o primeiro do segmento desenvolvido por uma empresa brasileira. E já encontra aplicações no mercado nacional. Transações bancárias, emissão de notas fiscais e acesso a informações por meio do site da Receita Federal são alguns dos exemplos. A proposta é que o produto esteja nas prateleiras das lojas de informática entre 2014 e 2015. O coordenador do projeto destaca que a tendência das tecnologias e das comunicações de segurança entre empresas e clientes é migrar, gradativamente, para o “universo” dos cartões eletrônicos. “A praticidade e a abrangência da identificação virtual, que não possui fronteiras, somadas à segurança garantida pela tecnologia dos chips criptografados, indicam que o uso desse recurso será rotineiro no futuro. Em breve, outras operações de segurança, como abertura de conta bancária, por exemplo, poderão ser realizados remotamente”, ressalta.
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BIOENGENHARIA
Com a leveza dos felinos A pedido de empresário mineiro – e por meio do Programa Amitec –, pesquisadores da UFMG desenvolvem sistema de amortecimento para tênis inspirado nos saltos dos gatos Diogo Brito Todos os dias, milhares de pessoas saem de casa, a caminho do trabalho, para exercer suas funções dentro de empresas, companhias, órgãos de estado e outros tantos postos de ofício. Há, também, aquelas que, diariamente, deixam o lar com uma ideia na cabeça e muita vontade de a transformar em algo real. Na maior parte das vezes, porém, esses profissionais não conseguem o direcionamento correto para que seus planos se concretizem. Resultado? O que poderia ser uma proposta fabulosa – e, quem sabe, transformadora – jamais sai do papel. Em Minas Gerais, o destino das iniciativas inovadoras é outro. Aqui, afinal, existem instituições que, em parceria, trabalham com foco no crescimento do Estado, no fortalecimento da economia, e, principalmente, na criação e na apli-
cação de novas tecnologias a produtos já existentes. Assim é que, por meio do Programa de Apoio à Melhoria de Inovação Tecnológica (Amitec), a FAPEMIG, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) apoiam empresários interessados em transformar ideias em novos produtos ou serviços. O Amitec é uma das ações da Rede de Tecnologia de Minas Gerais (Retec), implantada, há 11 anos, pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). A entidade nasceu para atender às demandas de micro e médio empresários, assim como de empreendedores individuais, que buscavam informações, suporte e consultoria para aprimorar seus produtos, criar novos mercados e investir em inova-
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ção, com foco na pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias. Em 2005, a Retec ganhou força e destaque no cenário empresarial de inovação tecnológica, já que, naquele ano, foi incorporada à lista de propósitos da entidade a oferta de recursos financeiros para financiamento de pesquisas demandadas pelos empresários interessados em melhorar seus produtos. Atualmente, o apoio concedido pode chegar a 80% dos custos de produção. A Rede atua fortemente em todos os tipos de demanda e conta com quatro linhas de apoio para subsidiar as consultorias tecnológicas: serviços de informações; suporte; consultoria e inovação. As consultorias são realizadas por entidades executoras, instituições sem fins lucrativos voltadas à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação. Por meio dos chamados “serviços de informações”, os empresários conseguem trocar ideias com especialistas. No que se refere ao “suporte tecnológico”, trata-se da possibilidade de realização de análises e testes. Tais experiências têm o objetivo de
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auxiliar as empresas no levantamento de informações ligadas à melhoria de seus processos ou produtos, dentro no nicho de inovação tecnológica. Outro item das linhas de pesquisa, a “consultoria” revela-se mais complexa, posto que exige a presença de um profissional com alto conhecimento sobre os assuntos a serem analisados. Por fim, a “inovação tecnológica” se caracteriza pelo uso do conhecimento sobre novos modos de produção e comercialização de bens e/ou serviços, assim como da aplicação do conhecimento no mercado ou no desenvolvimento de máquinas e equipamentos. Na Retec, todas as demandas são minuciosamente analisadas e, caso tenham méritos, acabam aprovadas pelo Comitê de Investimentos da Rede.
Salto de gato Sob a perspectiva, justamente, de melhorar seus produtos e serviços, um empresário de Nova Serrana, no Centro-Oeste de Minas Gerais, decidiu procurar apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para desenvolver tecnologia que
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Divulgação
O tênis Aerobase: nova tecnologia aproximou empresa e universidade
Antes da parceria com a UFMG, Júnior Silva fabricava o calçado sem estudos ou aplicação de tecnologia. Em função disso, durante anos, o calçado era produzido com materiais que o deixavam pesado. Além disso, para o usuário, não havia amortecimento do impacto da caminhada. A partir daí, iniciou o trabalho de pesquisa para criar um tênis com sistema de amortecimento benéfico aos usuários, mas que, ao mesmo tempo, não fosse igual aos já existentes no mercado.
aperfeiçoasse o amortecimento do impacto de um tênis para caminhada. Na verdade, tudo começou quando, em viagem a uma feira de calçados na Itália, Junior César Silva percebeu, nos estandes das principais marcas, que os produtos ali expostos tinham sido desenvolvidos em parceria com universidades ou centros de pesquisa. A ideia de Júnior deu certo: o empresário não apenas conseguiu apoio na UFMG, como, por meio do Amitec, pôde acompanhar o desenvolvimento de uma nova tecnologia a ser acoplada ao tênis que produzia. Coordenador da pesquisa na Universidade, o professor Marcos Pinotti Barbosa lembra que o período entre a concepção da ideia para o sistema de amortecimento e a efetiva produção do calçado durou pouco mais de seis meses. Formado por mestres e doutores de várias áreas, o grupo de pesquisadores começou a trabalhar no projeto e optou por inovar na forma de fabricação do solado. “Usei um par de tênis produzido pela empresa, durante uma semana, e, nesse período, meu pé ficou cheio de bolhas”, relata Pinotti. A primeira dificuldade encontrada pelo professor diz respeito ao aproveitamento do material, que, já utilizado pela empresa, comprara toneladas da matéria-prima para a fabricação do calçado. “Tivemos a ideia de que o tênis deveria ser leve. Decidimos usar o mesmo material, mas lhe aplicando uma nova tecnologia, inovando na forma do solado”, completa. O trabalho de pesquisa foi desenvolvido no laboratório de Bioengenharia, que utiliza tecnologias inspiradas na natureza. Pinotti conta que a equipe não sabia como fazer o solado de um tênis mais eficiente sem referências, até que a inspiração surgiu. “Começamos a pensar em qual animal poderíamos nos inspirar para criar o siste-
ma de amortecimento. Então, surgiu na cabeça, imediatamente, o gato. Você já percebeu como ele aterrissa leve?”, ressalta. A partir da constatação, a equipe desenvolveu estudos para descobrir o modo como o gato realiza um “pouso” tão suave e quase sem impacto. De acordo com Pinotti, durante as pesquisas, foram feitas duas descobertas, que deram origem ao sistema de amortecimento. “A esponja que os felinos têm no solado é responsável por parte do amortecimento. Já a leveza e a suavidade no aterrissar dos gatos vêm das estruturas de tracionamento – a condição de “esticar” – dos ligamentos da pata do animal”, esclarece. Munidos dessas informações, a equipe criou o novo solado, com uso do mesmo material usado, até então, pela empresa. O design, contudo, ficou muito mais moderno – e com entrelaçamento de linhas, para simular os tendões tracionados na composição. Dessa maneira, criou-se, enfim, um novo sistema de amortecimento para o tênis, que, de acordo com Pinotti, “é o único no mundo com tal tecnologia”. Intitulado Aerobase, possui duas versões, um para corrida e um para caminhada. O produto pode ser encontrado, para compra, no campus da UFMG. De acordo com Pinotti, tem boa saída e preço competitivo: “Muitas pessoas compram, justamente, por saber que foi desenvolvido na Universidade”, ressalta. O empresário Júnior Silva, é claro, gostou muito do novo produto. “É um tênis exclusivo, sem similar no mercado e que exemplifica o sucesso de uma parceria feita entre uma universidade e uma empresa. Isso só foi possível graças ao apoio recebido de entidades como FAPEMIG, Fiemg e Sebrae”, destaca.Pinotti também não esconde sua satisfação com o resultado. “É um orgulho saber que tudo foi feito aqui em Minas. A fábrica fica a 90 Km de Belo Horizonte e gera emprego e renda para o Estado”, comenta.
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FINANCIAMENTO
Braços dados ao futuro As linhas de pesquisa Pró-Inovação e Proptec estimulam empresas a criar processos e produtos à frente de seu tempo Ana Luiza Gonçalves
A melhoria de produtos ou serviços, o desenvolvimento de novos processos – capazes de aumentar a lucratividade – e de produtos completamente novos encabeçam a lista de desempenho das empresas brasileiras no passado. E mostram que esses são os principais desafios que levarão as empresas a inovar no futuro. Para que o país chegasse a ser apontado como um cenário positivo no setor, as empresas precisaram compreender os clientes, buscar evolução e identificação no mercado, trabalhar com bons parceiros e aliar-se a pessoas inovadoras.
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Pró-Inovação
Juros: 0,64% a.m. Carência: até 12 meses Prazo total: até 60 meses Valores financiáveis: até R$ 2 milhões por empresa. Garantias: aval dos sócios em operações até R$ 1 milhão. Outras modalidades de garantias, conforme política de crédito do BDMG, em operações acima de R$ 1 milhão.
Proptec
Juros: 0,72% a.m. Carência: até 12 meses Prazo total: até 60 meses Garantias: aval dos sócios em operações até R$ 2 milhões.
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Tornar novo, renovar: eis o significado da palavra “inovar”, cuja consequência, como se pode inferir, é a inovação. Atualmente, as empresas andam abraçando esse conceito, de modo a pôr o verbo em prática. Além de legislação específica – que estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo com vistas à capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do País –, existem diferentes formas de investimentos. Em síntese, inovar, hoje, conforme o Barômetro de Inovação Global da GE – divulgado em agosto deste ano –, é uma prioridade estratégica para 95% dos empresários brasileiros. Explorar novas ideias e práticas, assumir riscos e levar o produto final ao mercado são características do processo de inovação. Para fomentar essa prática no estado, a FAPEMIG e o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) desenvolveram parceria inédita. Trata-se da criação de duas linhas de financiamento: o Pró-Inovação apoia projetos com foco no desenvolvimento de produtos, processos e serviços, enquanto o Proptec busca apoiar propostas de implantação, ampliação e modernização de empresas instaladas em Parques Tecnológicos. Gerente geral da Assessoria de Inovação do BDMG, Carlos Fernando da Silveira
Vianna destaca que os programas aliam recursos reembolsáveis e não reembolsáveis. Em outras palavras: dá-se a união entre um banco, que investe ao emprestar dinheiro com condições adequadas, juros fixos e prazos mais satisfatórios para pagamento, e uma Fundação, que utiliza a forma de concessão de recursos realizada por meio de subvenção econômica. Dessa forma, cada instituição exerce o seu papel, em apoio ao desenvolvimento do estado, às empresas, à economia, à pesquisa, à tecnologia e à inovação. “Temos ideias convergentes e, por meio dessa parceria, montamos a estrutura que, acredito, nenhum outro estado tenha: duas instituições articuladas, oferecendo recursos e condições para projetos inovadores”.
Os programas
Desenvolver jogos digitais educacionais para alunos com necessidades especiais ou um novo equipamento de classificação de risco clínico de pacientes, nos serviços de urgência e emergência, são exemplos de projetos apoiados pelo Pró-Inovação. O programa incentiva atividades voltadas a inovações radicais ou incrementais, que estimulem melhoria de qualidade, pioneirismo, aumento de produtividade e de competitividade no mercado. Para contribuir com a educação do país e desenvolver tecnologias de alto impacto social, a empresa Jungle Digital Games, com sede em Viçosa (MG), busca, a partir dos recursos do Pró-Inovação, construir um projeto de tecnologias educacionais – em especial, jogos educativos –, capazes de auxiliar o processo de aprendizagem de pessoas com necessidades especiais, como portadores de autismo e das síndromes de Down e de Willians. Com início em 2012, o projeto, atualmente, conta com um protótipo do jogo disponível no site www.turmadolilo.com. br. Mesmo com dificuldades para encontrar, na literatura, estratégias passíveis de serem incorporadas às atividades e que minimizem as limitações dos usuários, o coordenador da iniciativa, Igor Guadalupe, prevê a inserção de novas funcionalidades, assim como a validação do produto, no mercado, em 2014.
O pesquisador reforça a importância do programa para o desenvolvimento de projetos como este, cuja produção requer altos custos. “Inovar é muito caro, principalmente, porque se trabalha num ambiente de incertezas, em que nem sempre o empresário detém o conhecimento de como os consumidores reagirão à inovação. Obter recursos com taxas atrativas encoraja o empresário a investir em novos produtos”, destaca Igor. Ao todo, os programas Pró-Inovação e Proptec distribuirão investimentos de R$ 100 milhões, sendo R$ 50 milhões de cada instituição (FAPEMIG e BDMG) – dos quais cerca de R$ 44 milhões já foram liberados. A proposta é que os programas permaneçam financiando projetos durante cinco anos. Carlos Vianna lembra que empresas de diversos setores podem apresentar propostas: da tecnologia da informação – área com mais projetos financiados – à indústria alimentícia. Além disso, não há direcionamento. “Apoiamos desde empresas começando do zero até aquelas que faturam mais de R$ 500 milhões. Não há limite, mas um histórico dos programas revela que as pequenas empresas são as que mais deles se utilizam dos programas. Também não definimos setor: o investimento pode ser para TI, saúde, eletroeletrônico ou para áreas tradicionais, como a produção de alimentos e a indústria mecânica”, explica. Outro exemplo a respeito da abrangência dos programas é o projeto da empresa ToLife para desenvolvimento da segunda versão do Posto de Triagem TRIUS. O equipamento, inédito no mundo, destina-se a hospitais, UPAs e Unidades Básicas de Saúde, e auxilia a classificação de risco clínico de pacientes. O objetivo é agregar valor ao produto por meio de inclusão de novos módulos no sistema, como registro da queixa, fluxogramas e parâmetros de metas de tempo de espera, para agilizar o encaminhamento ao médico responsável. Além disso, o aparelho conta com oxímetro de pulso, glicosímetro, termômetro timpânico e mecanismo para medição da pressão arterial. Prevê-se que o artefato seja produzido no primeiro semestre de 2014.
Pró-Inovação e Proptec
Nº de empresas demandantes: 218 Nº de empresas enquadradas: 116 Valor do financiamento: R$ 84.4 milhões Valor liberado: R$ 43.5 milhões Empresas liberadas: 73 Empresas em análise: 19
Itens financiáveis dos projetos: - Obras civis, construção e reforma; - Máquinas e equipamentos novos, usados ou importados; - Instalações, montagens, móveis e utensílios; - Veículos utilitários ou caminhões novos; - Informatização e desenvolvimento tecnológico; - Pesquisa e desenvolvimento; - Investimentos intangíveis; - Capital de giro associado.
Responsável pela ToLife, Glauber Mourão comenta que o Pró-Inovação incentiva e apoia a criação e implantação de novos produtos e processos, bem como o aperfeiçoamento dos já existentes. “O programa cria um meio acessível, ágil e aderente às necessidades das empresas que investem e têm na inovação seu maior diferencial”. Os itens de financiamento do Pró-Inovação são os mesmos do Proptec, o qual, no entanto, apoia empresas localizadas dentro dos Parques Tecnológicos de Minas Gerais. Atualmente, existem seis deles no estado, sendo que cinco têm a mesma característica. Ou seja: concentram-se em áreas próximas a universidades ou pertencentes à União. Localizados nesses espaços, os grupos empresariais não têm a posse definitiva do terreno. Neste cenário, Carlos Vianna ressalta a dificuldade das empresas de oferecer garantia: “Criamos o Proptec para que as empresas se instalassem nos Parques, com financiamento de até R$ 2 milhões e sem dar garantia real, o que facilita todo o processo”. Henrique Pereira, responsável pela empresa WayCarbon, instalada no BHTec, explica que, sem os recursos do Proptec, dificilmente a empresa conseguiria o atual padrão de instalação física. Com a liberação dos recursos, cerca de R$ 180 mil foram investidos em obras civis, adequações, equipamentos e mobiliário. “O processo foi muito tranquilo, pois as garantias são realizadas por meio do aval dos sócios, e a liberação do recurso ocorreu sem nenhum atraso”, afirma. Outra questão abordada por Henrique diz respeito à dependência de investimentos para as empresas de inovação. “Algumas vezes, os riscos são muito altos e buscamos recursos, a fundo perdido, para um desenvolvimento inicial ou de protótipo. Uma vez que o produto ou serviço esteja maduro para o mercado, linhas como o Proptec têm o potencial de alavancar e agilizar o crescimento da empresa”, destaca. Juntos, o Pró-Inovação e o Proptec receberam cerca de 218 propostas, sendo que os recursos já foram liberados para 73 empresas. O gerente geral do BDMG explica que ambos os programas funcionam em fluxo contínuo, pois o dinheiro investido e financiado pelo banco volta e replica os va-
lores. “Atualmente, são realizadas reuniões mensais e, a qualquer momento, as propostas podem ser apresentadas. A empresa se habilita aos programas quando quiser. O termo de convênio é assinado para cinco anos, mas pode ser ampliado”, esclarece Carlos Vianna.
Desafios Mesmo com tantas formas de incentivo destinados à inovação, diversas empresas ainda as desconhecem. Embora, atualmente, o mercado inovador venha crescendo, por vezes, os projetos não têm continuidade e a boa ideia não se transforma em produto. Carlos Vianna afirma ser fundamental que as empresas trabalhem com inovação de maneira mais sistêmica, e não de forma pontual: “A empresa precisa ter inovação em seu DNA”. Ainda segundo o gerente geral do BDMG, não faltam recursos para projetos inovadores. O que se revela escassa, em muitas ocasiões, é a disposição para inovar – ato que demanda tempo, risco e coragem para desenvolvimento de processo ou produto incerto. “A gente entende que não é tão simples, mas acho que os empresários devem vencer, aos poucos, essa barreira da cultura, das dificuldades do dia a dia, e buscar a inovação, porque o Estado está bem encaminhado”, completa. Para Igor Guadalupe, inovar envolve custos e a decisão de buscar um nicho de atuação e oferecer aos consumidores algo inédito ou melhor. “Creio que os principais desafios sejam o de entender o mercado e validar o modelo de negócio o quanto antes, para reduzir custos e aumentar as chances de sucesso com o projeto”, diz. Já na visão de Glauber Mourão, para empresas novas e pequenas, como a ToLife, o senso de urgência pela inovação precisa ser maior, em função da tentativa de oferecer aos clientes soluções melhores e de maior valor. “No Brasil, de um modo geral, ainda são poucas as ações e políticas de incentivo à inovação. Em Minas Gerais, para o setor de TI, especificamente, temos o privilégio de contar com entidades que vêm apoiando projetos inovadores, como FAPEMIG, BDMG, Sebrae/MG e Fumsoft”, conclui.
PROPRIEDADE INTELECTUAL
Aliança pela ciência Rede Mineira de Propriedade Intelectual faz girar as hélices propulsoras da inovação no Estado Virgínia Fonseca
Quem inventou o avião? Responda rapidamente, caro leitor, se for capaz de fazê-lo, a despeito dos inúmeros adendos que acompanham a questão. Durante anos, nós, brasileiros, aprendemos a creditar tal façanha ao mineiro Alberto Santos Dumont, “o pai da aviação”. Hoje, basta um clique em sistemas de busca da internet para que se instale o caos quanto ao entendimento desse mérito. Dumont divide tal paternidade com os americanos Orville e Wilbur Wright – reconhecidos na maior parte do globo –, com o francês Clément Ader, dentre vários outros estudiosos da arte de conquistar os céus. E não há exame de DNA que desate o nó, visto que os registros são dispersos e variadas se revelam as contribuições que ajudaram o homem a se distanciar do chão.
Tivessem esses brilhantes homens vivido em tempos mais propícios à salvaguarda de suas ideias e o imbróglio quanto à criação dos aviões, provavelmente, jamais teria existido. No Brasil, por exemplo, cerca de um século se passou, desde o feito de Santos Dumont (1906), até que florescesse a cultura da inovação e da proteção ao conhecimento. Ainda no final da década de 1990, poucos compreendiam, discutiam e tinham o tema como relevante. Apenas no início deste milênio é que se intensificaram as ações neste sentido. Estudo realizado pela economista Valéria Bastos, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), aponta que os financiamentos reembolsáveis e não reembolsáveis têm se ampliado,
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chegando a mais de R$ 50 bilhões entre 2000 e 2010. O período coincide com o momento de criação dos instrumentos de incentivos fiscais às empresas, dos fundos setoriais de apoio a projetos cooperativos entre as instituições científicas e tecnológicas (ICTs) e outras iniciativas derivadas da inserção da inovação na política industrial do país. Também nesse ínterim, ganharam força os Núcleos de Inovação Tecnológica nas universidades e foi criada a Rede Mineira de Propriedade Intelectual (RMPI).
Teias da inovação
Criada em julho de 2003, a RMPI congrega 32 instituições e é gerenciada, conjuntamente, pelas universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e Viçosa (UFV), cujas coordenações ficam a cargo, respectivamente, dos professores Pedro Vidigal e Rodrigo Gava. Com sede na UFV, a Rede dedica-se a incentivar a política de propriedade intelectual por meio do apoio às ICTs mineiras no que se refere à gestão da propriedade intelectual e da inovação, com vistas à proteção do conhecimento científico e tecnológico no estado. A atuação da entidade se dá em âmbitos como a definição de políticas de proteção intelectual, a implantação dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) e a capacitação de recursos humanos, que lidam com gestão da proteção do conhecimento e transferência tecnológica. Além disso, a RMPI promove eventos com o intuito de discutir e disseminar o aprendizado de temas relativos à propriedade intelectual. As ICTs que compõem a Rede caracterizam-se por apresentar estrutura permanente de pesquisa e contar com núcleo responsável por gerir políticas de propriedade intelectual e inovação. Rodrigo Gava, do Departamento de Administração e Contabilidade da UFV, explica que, a partir das particularidades das instituições, cada NIT consolidou potencialidades específicas, o que possibilita ao grupo ter expertises relacionadas aos diferentes trâmites de gestão e de proteção das descobertas inovadoras. Os números da RMPI atestam o funcionamento do formato adotado em Minas. Os registros de proteção intelectual atuais representam seis vezes o total contabiliza-
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Um salto à inovação foi dado em 2004, com a criação da Lei 10.973, a Lei de Inovação. Tal legislação pretendeu constituir ambiente propício às parcerias estratégicas entre universidades, institutos tecnológicos e empresas, estimular a participação de ICTs no processo de inovação e incentivar iniciativas inovadoras. Os NITs passam, então, a ter sua existência reconhecida e suas ações descritas. A partir desse momento, as ICTs que ainda não haviam se mobilizado para a organização de seu NIT começaram a fazê-lo. do quando do início da Rede, há 10 anos, pois passaram de 284, em 2003, para 1.860, em 2013. Evidência, conforme afere Gava, do incremento gerado pela aproximação da produção científica com a aplicação industrial. Auxiliada por parceiros como o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior (Sectes) e a FAPEMIG, a RMPI promove cursos de capacitação, para seus profissionais, sobre questões ligadas a propriedade intelectual, redação de patentes e transferência de tecnologia. Enquanto isso, a atuação junto ao Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) busca, por sua vez, a integração de empreendimentos de menor porte. A Rede também se engajou em projeto cujo objetivo é constituir núcleo para a interação entre as ICTs e as empresas de Minas Gerais, com foco na transferência tecnológica e na promoção de inovações. Outra boa notícia diz respeito ao fato de que, em 2007, a entidade ingressou no Programa de Apoio a Redes da FAPEMIG, o que ampliou o apoio aos NITs mineiros.
Emaranhado
Rodrigo Gava observa como principal avanço para a área – desde a criação da Rede – a ampliação do conhecimento e da sensibilidade das sociedades mineira e brasileira quanto à importância de proje-
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tos de inovação. “Realmente, expandiu-se essa cultura, fato de suma importância para que seja crescente o apoio às tentativas de articulação benéficas não só à competitividade da indústria e à economia, como também, consequentemente, à população”, avalia. O pesquisador, porém, faz sua ressalva: a evolução, embora substancial, reflete passos ainda lentos de um país que, tardiamente, iniciou a organização de seu amparo legal e dos estímulos necessários a impulsionar as relações entre os atores que fazem girar as hélices de Etzkovitz. “O contexto é propício à inovação e as mudanças são grandes. Mas seriam possíveis resultados ainda melhores”, opina. Consenso entre os dois coordenadores da Rede, os aspectos formais permanecem como principal gargalo. Gava comenta que os NITs ainda não têm toda a autonomia necessária: a legislação exige certa tramitação, que, muitas vezes, limita a dinâmica de negociação comum ao setor privado. Pedro Vidigal complementa o raciocínio, ao lembrar o déficit de recursos humanos capacitados. “É difícil a contratação, já que os cargos para os núcleos não são previstos no organograma das instituições”, relata. A saída tem sido a atuação de bolsistas e profissionais temporários, o que não soluciona o impasse, pois o vencimento dos contratos gera necessidade de novos acordos e capacitações. O gestor do Núcleo de Inovação Tecnológica e Empreendedorismo (Nite) da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), professor Rodrigo Bianchi, observa outra questão: frequentemente, depósitos de patentes não encontram interesses correspondentes no setor produtivo. Ou seja, patenteamentos são gerados para posterior busca de consortes comerciais e industriais. Segundo o pesquisador, o oposto deveria ser o usual: tais parceiros induziEstudioso conhecido nos debates sobre inovação, por suas contribuições acerca dos atores (as “hélices”) da inovação, ao ressaltar as relações entre governo, instituições de pesquisa e setor privado.
rem, na academia, o desenvolvimento de projetos estratégicos, que, por sua vez, levariam a produtos de interesse social. “A relação entre setor produtivo e acadêmico seria mais sólida, o que tonaria comum e natural o trâmite patente-produto”.
“Como há intenso processo de aprendizagem em andamento, com muitas tecnologias já disponíveis nas prateleiras do site da RMPI, boa parte delas pode não ser exatamente o que esperava o setor privado”, concorda Gava. O coordenador reitera que, por isso, a Rede trabalha a conscientização
acerca da importância do desenvolvimento tecnológico em parceria com empresas e Governo – o que exige treinamento em negociação e elaboração de contratos, para garantir o respeito mútuo aos direitos, além, especialmente, do desenvolvimento de produtos tecnológicos de sucesso.
Dispositivo de auxílio à manipulação de embalagens Este dispositivo foi desenvolvido, especialmente, para facilitar os portadores de artrite reumatoide a abrir e fechar diversos tipos de recipientes, com ênfase nos que possuem tampas e anéis puxadores.
Arquivo CTIT
Novos dispositivos propõem soluções para antigas dificuldades
Pé articulado amortecedor e antiderrapante O Artpé foi desenvolvido para ser acoplado em equipamentos de apoio, como andadores, bengalas e muletas. Sua base articulada proporciona maior área de contato com o chão e aderência, independentemente da inclinação do dispositivo.
Coleção de Produtos Citológicos e Histológicos Tridimensionais Peças que representam partes do corpo humano em diferentes escalas. Visa o manuseio por deficientes visuais, tornando mais eficazes e inclusivos o ensino e a aprendizagem de Ciências da Vida.
Órtese elétrica para mão Indicada para indivíduos que perderam o movimento manual ou dos punhos, esta órtese funcional possibilita a reabilitação dos movimentos de abrir e fechar as mãos.
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Mesa funcional Mesa desenvolvida para atender pessoas com problemas posturais causadores de déficit funcional. De fácil montagem, manuseio e limpeza, suas peças se desencaixam, facilitando seu transporte e armazenamento. Peças que representam parte do corpo humano em escala. Visa o manuseio por deficientes visuais, tornando mais eficaz e inclusivo o ensino e aprendizagem de Ciências da Vida. Este dispositivo foi desenvolvido especialmente para facilitar os portadores da artrite reumatoide a abrir e fechar diversos tipos de recipientes, especialmente os que possuem tampas e anéis puxadores.
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PARCERIAS EMPRESARIAIS
Conhecimento compartilhado
Parceria entre FAPEMIG e Vale evidencia o foco de atuação da Fundação com o setor empresarial e é exemplo de sucesso na aplicação do conceito de inovação aberta no Brasil Juliana Saragá
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O Brasil é o quinto maior país do mundo em extensão territorial e possui a sexta maior produção de mineração do mundo. São quase nove mil companhias mineradoras espalhadas pelas regiões do país. O setor, que tem crescimento exponencial, responde por cerca de 2% do PIB e a previsão de investimentos entre 2012 e 2016 soma US$ 75 bilhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Para que o setor mantenha este contínuo crescimento, é fundamental avançar em práticas sustentáveis, por meio do investimento em pesquisas que otimizem os processos, reduzindo impactos ambientais. Uma das maiores empresas do ramo, com sede em mais de 30 países, a Vale vem trabalhando com agenda de desenvolvimento sustentável em todas as etapas de sua operação. Só em 2012, aplicou US$ 1,3 bilhão em ações socioambientais. Naquele ano, também bateu o recorde de produção de minério de ferro: 320 milhões de toneladas. Um dos desafios ambientais para indústrias como a Vale é a gestão dos resíduos sólidos derivados das atividades mineradoras. Ao pensar nisso, um grupo de pesquisadores do Departamento de Engenharia Civil do Centro Federal Tecnológico de Minas Gerais (Cefet-MG) desenvolveu projeto de reutilização de rejeitos – de forma que possam tornar-se matéria-prima para outro tipo de indústria: a construção civil. O projeto, intitulado “Reutilização de resíduos sólidos de indústria de base mineral como matriz para produção de concretos e argamassas”, é um dos frutos de parceria inovadora entre a FAPEMIG e a Vale. A iniciativa representa investimento de mais de R$ 42 milhões em Minas para projetos nas áreas de mineração, energia, eco-eficiência e biodiversidade e produtos ferrosos para siderurgia. O edital específico foi preparado em articulação com outras duas FAPs, a Fapespa (Pará) e a Fapesp (São Paulo), e lançado em 2010. No Brasil, esta múltipla cooperação representa ação pioneira de parceria público-privada para ações de open innovation. “Em um mundo com sete milhões de ha-
bitantes, não há como uma única empresa deter todas as competências. Inovação aberta, conceito mais fácil de expor do que de executar, é elemento-chave na sociedade do conhecimento. Parcerias como esta são exemplo concreto das ações da Vale nessa linha. As patentes já depositadas, as teses defendidas e os trabalhos publicados revelam-se apenas a ponta do iceberg dos resultados que esperamos alcançar”, declara o diretor do Instituto Tecnológico Vale, Luis Mello. No total, apresentaram-se 131 projetos. “Os 56 melhores foram selecionados e estão sendo executados. A avaliação do processo de inovação aberta, nesta parceria, tem demonstrado como uma aliança entre uma grande empresa e uma agência estadual pode contribuir para o desenvolvimento do país. Os resultados mostram-se Em seu livro Open innovation: the new imperative for creating and profiting from technology (“Inovação aberta: o novo Imperativo para criar e lucrar com a tecnologia”), o economista Henry Chesbrough criou, em 2003, o termo “inovação aberta”, para explicar como as empresas podem buscar ideias externas de modo a acelerar seu desenvolvimento, além de compartilhar as próprias inovações. A ideia central é também compartilhar com outras organizações os riscos e recompensas inerentes aos processos inovadores. Trata-se de maneira criativa de fazer a ponte entre as empresas (requerentes do conhecimento) e os centros de pesquisa (produtores de conhecimento). Por meio da inovação aberta, pequenas, médias e grandes empresas compartilham conhecimentos e desenvolvem soluções tecnológicas em conjunto, para alavancar sua evolução. Fiat, Google, Intel e IBM são exemplos mundiais de organizações que criaram produtos inovadores e rentáveis a partir desta iniciativa. No Brasil, a Embraer, em parceria com quatro outras companhias, desenvolveu o projeto do jato ERJ-145, grande sucesso de vendas.
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tão positivos que novas propostas estão sendo consideradas”, analisa o presidente da FAPEMIG, Mario Neto Borges.
Conhecimento sustentável A mineração é uma atividade que gera grande volume de resíduos sólidos, devido à pequena concentração de metal encontrada no mineral bruto. Os resíduos provenientes das barragens exibem características mineralógicas, geotécnicas e físico-químicas bastante variáveis, e, se não forem geridos adequadamente, podem contaminar solo, água, propagar doenças e, ainda, oferecer riscos para a flora e a fauna do entorno. O objetivo principal do projeto em questão é implementar metodologias e aplicações que sirvam como ferramenta de suporte para solução ambiental de depósitos de resíduos sólidos das atividades mineradoras. “Simplificando em etapas, precisamos identificar a composição química destes rejeitos, estudar os processos de separação e a viabilidade do reaproveitamento na produção de materiais para a construção civil. Podemos dizer que já conhecemos os resíduos das mineradoras da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Atualmente, estudamos propostas para o reprocessamento destes rejeitos e sua separação, em escala industrial, das frações ferrosas e não ferrosas”, esclarece o coordenador do projeto, Ricardo Fiorotti. O pesquisador explica que as lamas presentes nas barragens de rejeito possuem, em sua constituição, cerca de 40% de minério de ferro. A ideia central é recuperar esse teor de minério, retornando-o ao processo minerário, o que garante lucro para esta etapa do processo. A partir daí, resta um material rico em sílica, alumina e, ainda, algum minério de ferro, com potencial de se tornar matéria-prima de qualidade para produtos da construção civil, como concretos e argamassas. Na prática, a aplicabilidade da pesquisa deve gerar lucros para as empresas (com aumento da produtividade industrial
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e redução de custos com monitoramento de barragens), originar produtos tecnológicos de qualidade e com preços competitivos (produzidos a partir de ações de reciclagem), obtendo ganhos ambientais e sociais (formação de recursos humanos e geração de empregos). “Nosso grupo trabalha com resíduos sólidos industriais desde 2003, mas podemos dizer que os trabalhos desenvolvidos estão classificados em dois tempos: antes e depois do edital FAPEMIG-Vale. Além de adquirir novos equipamentos e financiar bolsas de pesquisa, a iniciativa nos possibilitou acesso a diversas áreas da mineração promoveu interação entre o setor produtivo e a academia. Discutimos estratégias e aplicabilidade dos resultados”, declara o coordenador. Estão envolvidos na pesquisa alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado, pesquisadores de outras universidades (UFOP, Cefet-ES), profissionais da Vale e de outras empresas parceiras, a Mineral Mix e a Biogold. O projeto é exemplo de como o intercâmbio entre academia, empresas e governo – a chamada Hélice Tríplice – pode funcionar para gerar benefícios sociais. Além disso, representa um caso brasileiro de sucesso na aplicação do conceito de inovação aberta.
FAPEMIG e o setor empresarial “Na sociedade do conhecimento do século XXI, formar pesquisadores e cientistas não é mais suficiente para garantir o desenvolvimento social e econômico do país. É essencial que estes pesquisadores atuem não só nas universidades, mas, também, no setor empresarial, de forma a promover a tecnologia e a inovação nas empresas”, afirma o presidente da FAPEMIG, Mario Neto Borges. As alianças entre a FAPEMIG e o setor empresarial se fortaleceram a partir de 2010. Só no ano passado, a Fundação articulou oito parcerias com empresas privadas. Um dos destaques é o convênio assinado com a Cemig em 2011, que prevê
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R$ 150 milhões em recursos para o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao setor elétrico. Os projetos aprovados no primeiro edital, no valor de R$ 30 milhões, já estão sendo executados nas áreas de equipamentos, meio ambiente e sistemas computacionais. “Se quisermos atender a demanda projetada e continuarmos com matriz energética limpa, precisamos in-
vestir maciçamente em pesquisa sobre alternativas energéticas. Principalmente, a solar e a eólica. A Cemig espera que o investimento possa gerar capacitação de recursos humanos, aprimoramento da infraestrutura para pesquisa, fixação de pesquisadores no Estado e formação de centros tecnológicos, de forma a tornar Minas Gerais um modelo de excelência”,
declara o gerente de Gestão Tecnológica da Cemig, Jaelton Avelar Fernandino, para quem o trabalho conjunto é de grande importância para o Estado, pois potencializa os recursos financeiros de duas grandes instituições em prol da ciência, além de contribuir, de forma significativa, para a indução de parcerias entre governo, empresas e instituições de ensino e pesquisa.
Outras parcerias As alianças formadas entre a FAPEMIG e o setor empresarial fomentam pesquisas em variados setores da indústria. Os acordos são estabelecidos na modalidade de um para um, sendo que cada parte investe 50% do total de recursos. Além da Vale e da Cemig, conheça outras empresas que mantêm parceria com a Fundação:
A parceria FAPEMIG-Fiat já colhe resultados. Cerca de R$ 800 mil foram destinados à realização de projetos voltados para o estudo do cliente, nas áreas de antropologia do consumo, medição de resultados, semiótica da comunicação, comércio eletrônico e redes sociais. As propostas desenvolvidas visam melhorias na competitividade da empresa, proporcionando benefícios para o consumidor.
A parceria foi celebrada, em 2010, por um período de cinco anos, com investimentos totais de R$ 10 milhões. No mesmo ano, foi concebido projeto que oferece bolsas de mestrado aos cursos de Engenharia que tenham atividades de pesquisa nas áreas de atuação da empresa, que é líder no mercado de eletrodomésticos. O primeiro edital comtemplou pesquisas na área de design de produtos da linha branca.
Pesquisas voltadas às áreas de telecomunicações, processamento de grãos, segurança e aviação são o alvo desta parceria, assinada em 2011 com o Grupo Algar. Os investimentos somam R$ 15 milhões em pesquisas com o foco em inovações.
O convênio prevê, entre outras ações, a implantação do Centro de Tecnologia e Capacitação Aeroespacial (CTCA), na cidade de Lagoa Santa, Região Metropolitana de Belo Horizonte. O CTCA será a sede definitiva da Embraer na capital mineira. Em 2012, inaugurou-se a sede provisória da empresa no Parque Tecnológico de Belo Horizonte, o BHTec. Atualmente, a unidade desenvolve produtos para aeronaves nas áreas de projetos estruturais, aerodinâmica computacional, cargas, softwares e simulação de sistemas.
Com a Ericsson, o acordo visa inovação em duas tecnologias-chave para o futuro da televisão digital e da integração das telefonias fixa e móvel (IPTV – IP Television e IMS – IP Multimedia Subsystem). A primeira está sendo desenvolvida em Santa Rita do Sapucaí e a segunda, em Belo Horizonte. Os recursos somam R$ 21 milhões.
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Inovação em rede
Conectados às oportunidades
Rede social capaz de integrar instituições e indivíduos interessados em inovação, Sistema Mineiro de Inovação (Simi) amplia visão integrada Ana Flávia de Oliveira
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Se muitas conquistas já foram feitas no campo da ciência, da tecnologia e da inovação, outras tantas vitórias estão por vir. A Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes) utiliza o modelo conhecido como Hélice Tríplice – designativo da parceria entre academia, empresa e governo, fundamental à geração de conhecimento – para ampliar seu leque de ação. Desse modo, as universidades podem produzir saber estimuladas por demandas das empresas, mas sempre sob a orientação de expertises em movimentação de mercado. Por fim, cabe ao governo fornecer suporte financeiro, ou político, para a execução dos projetos. A atual política estadual decorre do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI), criado para estimular medidas mais competitivas por parte do Estado, dentro e fora do país, por meio da geração de produtos e serviços de alta tecnologia e inovação. De acordo com Mario Neto Borges, presidente da FAPEMIG, tais artefatos e atividades respondem, hoje, por cerca de 10% da ar-
recadação estadual. O objetivo, porém, é que alcancem 30% até 2022. Isso seria importante porque haveria ampliação do volume de exportações, geração de vagas de trabalho especializado e consequente atração de investimentos estrangeiros. Neste contexto, a Hélice Tríplice possibilitou equilibrar o índice de resultados científicos e produtos tecnológicos gerados pelas indústrias, principalmente as de base tecnológica. Daí nasceu a metodologia que articulou competências e investimentos para reunir todos os envolvidos no processo. Por fim, em 2007, surgiu o Sistema Mineiro de Inovação (Simi), programa sob responsabilidade da Sectes e da FAPEMIG que estimula a inovação e o empreendedorismo, mobilizando pesquisadores, empresas e governo a um ambiente favorável para a inovação. De acordo com o secretário adjunto de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Evaldo Vilela, a essência do trabalho prático do Simi tem a inspiração do modelo teórico da Hélice Tríplice. Ele observa que, com o avanço das experiências, o modelo
Em 2013, o Innovation Camp, etapa do Programa de Empreendedorismo na Pós-graduação, aconteceu no Instituto Inhotim, em Brumadinho
tem incorporado uma quarta hélice, representada pelo setor financeiro – o venture capital, principalmente –, dando ao modelo um sentido mais completo e pragmático na promoção do processo de inovação. “O modelo passou, assim, a ser denominado Triple Helix Plus, sem esquecer que a participação da comunidade é também um elemento chave no sucesso do trabalho. Seria praticamente uma quinta hélice o envolvimento permanente da comunidade relativa às ações pretendidas de inovação. O Simi se orienta pela teoria e pela prática, mundialmente aceitas”, esclarece. O Sistema promove interações e alinhamento de demandas, ofertas tecnológicas e recursos financeiros e conta com plataforma operacional voltada à preparação e aprovação de políticas e estratégias de incentivo à inovação. Além disso, estimula a cultura em favor da inovação nos setores econômico e social, apresenta novos conhecimentos e oferece oportunidade de interação entre atores interessados no Estado. Por meio de uma rede social, o Simi (www.simi.org.br) conecta as comunidades das áreas de ciência, tecnologia e inovação com a de negócios. A base desta troca está nos contatos, no banco de ofertas, nas demandas tecnológicas e no compartilhamento de informações. Atualmente, o Simi conta com mais de sete mil usuários cadastrados, entre pesquisadores, empresários, gestores e membros da comunidade, que criam perfis e entram em contato uns com os outros. A iniciativa evolui permanentemente, por meio de novas ferramentas e recursos. Tal expansão
Venture capital é o investimento nas empresas em estágio inicial, com potencial de geração de receitas, lucros ainda incertos e, possivelmente, dependentes de produtos, tecnologias ou mercados que não tenham sido totalmente testados como proposição de negócios.
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baseia-se no chamado design thinking, responsável por estruturas de navegação cada vez mais atrativas.
Encontros de inovação Enquanto a rede social se afirma como ambiente virtual de aproximação entre quem produz conhecimento e tecnologias e aqueles que necessitam de saber para competir no mercado global, o Simi ultrapassa o meio digital e promove os “Encontros de Inovação”. Nessas reuniões, as discussões iniciadas no ambiente virtual são ampliadas, a partir, principalmente, da exposição das demandas das empresas e da apresentação das tecnologias e do conhecimento pelas universidades. Evaldo Vilela reconhece que o Simi tem contribuído, de modo crescente, para a geração de novos produtos e serviços no Estado, dentro da perspectiva de que é preciso diversificar a economia mineira, indo além da produção de minério, de produtos agrícolas e serviços pouco tecnológicos. “Agregar valores, fortalecendo o PIB, deve ser a meta mineira. O Simi tem colaborado para isto. Sozinho, obviamente, o Sistema pode muito pouco, mas, como parte da estratégia de desenvolvimento da economia do conhecimento em Minas, trata-se de ferramenta poderosa, derivada de efetiva política pública”, defende. Nos “Encontros de Inovação”, pesquisadores e empresários reúnem-se para aprimorar seu know-how e seus conhecimentos, além de tratar das novas demandas tecnológicas. Nas reuniões, são apresentadas às empresas interessadas em inovação e Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) as tecnologias de determinado setor, criadas pelas universidades. Desse intercâmbio, normalmente, surge a possibilidade de transferência de tecnologia e de geração de produtos e processos inovadores, ao mesmo tempo em que os pesquisadores são incentivados a participar de demandas das empresas.
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O termo design thinking refere-se a métodos de abordagem de problemas voltados para a aquisição de informações, análise de conhecimento e propostas de soluções. Sua principal premissa é a de que, ao compreender os métodos e processos que designers usam ao encontrar soluções, indivíduos e organizações seriam capazes de se conectar e revigorar os próprios processos de criação, a fim de aumentar o nível de inovação. Como fruto do Simi, Mario Neto Borges destaca o encontro anual, promovido pelos integrantes da rede, com a Companhia Energética de Minas Geais (Cemig), para discussões e encorajamento da comunidade acadêmica a responder às demandas por pesquisa tecnológica da empresa. O destaque do sistema são as metodologias facilitadoras da interação e a posterior avaliação, que mede a eficácia do encontro, via questionário, pelas parcerias efetivas. Desde que os Encontros tiveram início, em 2008, foram promovidas 54 reuniões, com a participação de 2.324 pessoas, ligadas a 703 instituições, entre universidades e empresas. Evaldo Vilela reforça que os encontros são fundamentais para dar sequência às articulações nascidas na web. “A convergência dos interesses de pesquisadores, empresários e agentes das políticas governamentais não se dá de modo trivial, óbvio. São necessárias reuniões presenciais, além de análise e assinatura de acordos etc., o que requer a existência do evento, com metodologia comprovada para o aprofundamento das relações institucionais. O Simi tem sua rede social, mas vai além dela”, argumenta. Outra ação que conta com a participação do Sistema é o Programa Mineiro de Atração de Centros de Pesquisa e Desenvolvimento, pioneiro no País. O projeto identifica e faz contato com centros de P&D
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privados e com empresas de base tecnológica interessadas em se instalar em Minas Gerais. A iniciativa conta com o Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi) e outros órgãos governamentais, que atuam em parceria com a FAPEMIG, cuidam de incentivos fiscais e outras facilidades para novos empreendimentos. O Simi também auxilia no atendimento de demandas específicas, como a busca por engenheiros e outros profissionais, sempre articulado com os Parques Tecnológicos e universidades do Estado. Foram muitas as conquistas, desde o início do programa, entre as quais a atração de três empreendimentos de P&D de classe mundial: Ericsson, CSEM Brasil e Embraer.
Simi e educação O Programa de Empreendedorismo na Pós-graduação amplia a influência do Simi no ambiente universitário mineiro, ao realizar competições entre estudantes de mestrado e doutorado de várias universidades. Os alunos são instruídos e motivados a empreender ideias e resultados das pesquisas que conduzem em áreas como Engenharia, Biotecnologia, Computação, Agronomia e Biologia. Em sua segunda edição, realizada em 2013, o programa enfatizou a formação de empreendedores de novas tecnologias, ao estimular, simultaneamente, a criação de startups em diversas áreas. As equipes vencedoras participam de estágios em centros de P&D do Brasil e do exterior. Para Evaldo Vilela, o Sistema abriu portas para talentos que poderiam ficar escondidos. “O Simi enxergou na pós-graduação stricto sensu das universidades mineiras um celeiro de bons empreendedores de base tecnológica. Mestres e doutores lidam com verdadeira riqueza adormecida, que pode contribuir decisivamente na transferência das tecnologias, geradas nas bancadas universitárias, para as empresas, novas ou consolidadas, grandes ou pequenas, criando valor para a sociedade”, completa.
ACADEMIA e inovaçâo
Universidade “gazela”
Conforme previa a Lei de Inovação (2004 ) centros de conhecimento registram iniciativas de aplicação do conhecimento e debatem o ensino do empreendedorismo Marcus Vinicius dos Santos
O jornal português Expresso publicou reportagem com o professor Francisco Veloso, catedrático na área de inovação e empreendedorismo na Universidade Católica de Portugal. No texto, o especialista defende a criação de condições ideais para que surjam mais “empresas-gazela”, ou startups, com mais de cinco anos de criação. Devido a seu elevado potencial de crescimento e geração de emprego qualificado, esse tipo de empresa é fundamental para a rápida recuperação econômica de uma nação. Estudo da Kauffman Foundation, associação norte-americana ligada ao empreendedorismo, mostra que, em cada 10 empregos criados nos EUA, 6,5 tiveram origem em empresas com menos de cincos anos de existência e forte crescimento. Cada vez mais empresas e pesquisadores têm se permitido descobrir o valor dessa parceria.
Para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), é função do ensino superior “promover, acima de tudo, uma educação para a paz, respeito aos direitos humanos, justiça social, multiculturalidade e promoção das minorias e dos excluídos”. O Brasil tem mostrado avanços na área da produção do conhecimento aplicado. Investimentos crescentes e iniciativas para reduzir a burocracia, aliadas ao raiar da promoção da cultura do empreendedorismo, têm levado o país a números expressivos no setor. Em relação aos 20 países da América Latina – que vem se convertendo em protagonista do mercado global –, a Unesco chama a atenção para a importância de que sejam encontradas formas mais adequadas de oferecer aprendizagem, investigação e oportunidades de trabalho, assegurando aquisição de conhecimentos avançados e
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que permitam o desenvolvimento de suas economias. Segundo a Pesquisa de Inovação Tecnológica, a Pintec2008, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), empresas que atuam na área de inovação de produtos e processos originais tendem a usar, mais intensamente, informações geradas pelas universidades ou outros centros de ensino superior. A habilidade para inovar é influenciada pela capacidade dessas empresas de absorver e combinar informações. As companhias inovadoras do setor de P&D (que desenvolvem atividades que produzam novos conhecimentos) identificaram, sobretudo, as universidades e institutos de pesquisa (97,2%) como principal parceiro para cooperar, indicando aumento no percentual observado na Pintec2005 (85,4%). Os ganhos de competitividade gerados pela inovação são importantes estímulos ao desenvolvimento de produtos e processos novos ou substancialmente aprimorados pela empresa. Dentre os maiores obstáculos apontados pelas empresas de P&D, depois das questões financeiras – elevados custos da inovação (73,3%), escassez de fontes de financiamento (70,0%), excessivos riscos econômicos (63,3%) –, está a falta de pessoal qualificado (46,7%). Este último, que ocupava a sexta colocação no Pintec2005, teve crescimento relativo proporcional. A publicação da Pintec2011 é esperada para dezembro de 2013.
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Comunicação Ufop
Luiz Carlos Oliveira
Cromo para tratamento do couro é reutilizado
Ufop: inovação acelera crescimento do interior
Inovação na universidade
A criação de condições que permitam o desenvolvimento de ideias, nem sempre reconhecidas por grandes empresas, podem resultar em substancial oferta de emprego e renda, e, assim, fazer o país crescer mais rápido, defende o professor Aluir Dias, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 2010, incentivado por seu então orientador de doutorado, Rochel Lago, sua trajetória começou a mudar. Participou de programa do governo do Estado voltado a incentivar o empreendedorismo e, embora meio descrente, ganhou seu primeiro prêmio. A partir daí, Aluir já foi premiado 30 vezes, não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos, na Suécia e na Turquia. Em primeiro lugar, foram 11 vezes. Em 2013, consolidou diversas ações voltadas, principalmente, ao ensino do empreendedorismo em cursos de graduação. Hoje, é coordenador da respectiva área na Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT-Empreender). Atua, ainda, como membro da equipe coordenadora da incubadora de negócios Inova e do Programa de Incentivo à Inovação, ambos da UFMG. “A comunidade acadêmica ainda tem visão distorcida do empreendedorismo na universidade”, avalia o professor. A maioria acha que o único objetivo seja “ganhar dinheiro” através de empresas. “Não é. Trata-se de questão de comportamento, de personalidade. Uma pessoa empreende-
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dora nunca se acomoda. Assume riscos. É arrojada. Por sua vez, os pesquisadores com esse comportamento, associado a um enorme conhecimento técnico, têm alta capacidade para inovar”. E a pesquisa científica também pode se beneficiar da cultura empreendedora, observa Aluir, para quem a pesquisa deve melhorar a vida das pessoas. “E a iniciativa privada pode ajudar a universidade a cumprir melhor esse papel”. O professor convoca as demais universidades mineiras a se unirem, como forma de buscar resultados cada vez mais rápidos, sólidos e representativos no contexto da economia nacional. Sediado em Ouro Preto, a aproximadamente 100 Km de Belo Horizonte, 400 Km do Rio de Janeiro e outros 680 Km de São Paulo, o professor Rodrigo Bianchi, coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica e Empreendedorismo (Nite) da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), destaca a distância entre os grandes centros como um dificultador para a relação das universidades do interior com o setor produtivo. Para Bianchi, estimular a cultura empreendedora nessas universidades não é apenas uma estratégia de incentivo ao “aprender a empreender”, com vistas ao desenvolvimento de pesquisas aplicadas, mas, sobretudo, à promoção de empreendimentos locais e aos olhares das grandes e médias empresas. Sem dúvida, a incorporação da cultura de inovação empreendedora nas universidades do interior é estratégia de aceleração de crescimento regional e social.
Dá para aprender
Na visão de Fernando Dolabela, consultor, professor da Fundação Dom Cabral e autor do livro O segredo de Luísa, existe um descompasso entre a função da universidade e a formação de empreendedores. “Isso não significa limitação da universidade. Por sua natureza, a academia não é local ideal para formação de empreendedores”, afirma. Considerando como fundamental que as universidades se tornem centros de excelência científica e de indução da inovação empresarial, para o professor Bianchi,
empreender é sinônimo de “atitude com conhecimento”. Segundo ele, em alguns indivíduos, isso acontece naturalmente; em outros, por meio de estímulos. “Por isso, é papel das universidades despertar o perfil empreendedor de seus estudantes, para elevar as chances de sucesso no mundo dos negócios”, recomenda. Na visão de Dolabela, as diferenças entre ensino e aprendizagem são a chave para que se compreenda essa aparente contradição. Segundo o consultor, a universidade sabe aferir se um engenheiro, por exemplo, domina conhecimentos indispensáveis ao exercício da sua profissão. Ele explica que o ensino superior se estrutura como “uma hierarquia do conhecimento apoiada no mérito, reproduzindo conhecimentos”. No caso da formação de um empreendedor, não há hierarquia do saber ou conhecimento consolidado a ser transferido, esclarece. “Há milênios, empreendedores aprendem por meio da interação em redes descentralizadas. Cada um busca o saber que lhe interessa. Cada inovação requer uma teoria específica, um processo ou caminho diferente”, adverte, ao afirmar que as universidades perderam o monopólio do conhecimento. A justificativa é que as atividades centrais – identificar oportunidades, inovar e criar o futuro – não são traduzíveis em algoritmos ou em relações de causa e efeito. “Envolve o ser e suas individualidades”, analisa, ao chamar a atenção para abordagens mais individualizadas. “O diploma é algo sem utilidade para essa capacitação específica. Não é possível dizer se alguém terá, ou não, sucesso”, destaca.
Processo na “prateleira”
Ganhador do Prêmio Finep 2013, na categoria “Inventor inovador”, o químico Luiz Carlos Alves de Oliveira acha o mesmo. Ele foi premiado por ter desenvolvido um processo para reciclagem, reutilização do cromo usado no tratamento do couro – um poluente classe 1. Descobriu, ainda, que o subproduto químico gerado nesse processo tem valor comercial como fertilizante. Quando começou nessa área, em 2004, Luiz conta que MINAS FAZ CIÊNCIA • EDIÇÃO ESPECIAL 2013
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não sabia nada de empreendedorismo. “Foi difícil aprender a falar a linguagem específica e compreender a lógica do setor. Foram necessários nove anos de estudos para chegar à patente. Associei-me a pessoas que já tinham conhecimento e procurei muita informação”, relembra. Dentre os fatos mais chocantes da trajetória, ele cita que, certa vez, no início, durante reunião de apresentação de um projeto, um empresário perguntou qual era sua experiência com tecnologia no mercado. E emendou: “Em outras palavras, o que você já produziu que está na prateleira?”. Luiz Carlos relata que ficou chocado. Só então se deu conta de que havia publicado vários artigos, orientado teses, mas nunca havia feito inovação. “Não adiantava chegar com um processo lindo do ponto de vista tecnológico, mas sem viabilidade financeira”. Foi aí que se conscientizou de que seria preciso mais do que apenas um “processinho” bonito. “Acho que esse é o futuro da universidade atual”, diz. E, para quem pensa que a empresa interfere de forma negativa no trabalho da universidade, Luiz garante que se trata de um engano. “Eles convidam e a gente aceita se quiser. Os caminhos e os prazos estão postos. Mesmo com pesquisas financiadas por organismos públicos, a gente precisa saber priorizar, escolher e, até mesmo, desistir de alguma outra, por um tempo. Além disso tudo, ainda existe pressão de outros pesquisadores de opinião contrária ao relacionamento universidade-empresa”, constata.
ProNutti
Com foco nas demandas de mercado, o Projeto Núcleo de Transferência Tecnológica e Inovação (ProNutti), segundo Gabriela Parreira, gerente interina do Núcleo de Apoio à Inovação (NAI) do Instituto Euvaldo Lodi, do Sistema FIEMG, integra o Programa de Fortalecimento dos Sistemas Regionais de Inovação no Brasil. O objetivo é promover a interação entre empresas e centros de conhecimento (universidades e outras instituições de ensino superior). Após o mapeamento das necessidades da empresa – principalmente de inovação, mas também de todo o processo produtivo –, o passo seguinte é identificar os pesquisadores com interesse em prestar
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aquele serviço à empresa. “Ainda é muito difícil que esse contato vire negócio, principalmente por causa das normas e da burocracia que controla as universidades públicas. E da grande diferença entre o tempo de ação do cientista e do empresário”, destaca Gabriela Parreira. Para aperfeiçoar esta relação, a equipe do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) procura os Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) das instituições federais de Minas Gerais, estruturas responsáveis por identificar o pesquisador com a competência necessária. “Caso haja interesse, aproximamos as duas partes para negociação e tentativa de viabilização do projeto”, explica. Financiados pela FAPEMIG no Estado, os NITs são descritos, pela Lei de Inovação (nº 10.973/04), que organiza como se dá o incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com o objetivo final de levar à autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do País. “Este processo todo ainda está muito inicial, mas vem amadurecendo”, analisa Gabriela Parreira, para quem é preciso ter profissionais na universidade capacitados a falar a linguagem da empresa. “Que entendam de negócios e tenham o timing empresarial”. Nesse sentido, a analista cita o Pró-valor, projeto que cria um escritório de negócios dentro de uma faculdade, na qual serão levantadas as competências e estabelecidos os preços para prestação de serviços, de acordo com as normas internas da instituição e os anseios empresariais. “Será uma relação comercial: a escola não terá direito sobre aquilo que produzir, mas, em contrapartida, a empresa vai pagar preço justo por aquilo que deseja adquirir, junto à propriedade intelectual”, resume. Segundo outra analista de inovação tecnológica do IEL, Gabriela Franco, advogada especializada em propriedade intelectual, ao contrário do que possa parecer, a patente não é a única forma de garantia da propriedade de um bem intelectual. “E ela pode não ser a via mais adequada”, adverte, citando como exemplo o caso da Coca Cola. “Se a marca fosse patenteada, já teria caído em domínio público com 80 anos. No entanto, ela é um segredo de negócio centenário”.
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José Policarpo Gonçalves de Abreu Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da FAPEMIG
Diogo Brito/FAPEMIG
Inovação é, sem dúvida, uma palavra da moda. Todos querem ser inovadores e muitas empresas trazem esse conceito, inclusive, no nome: em uma busca rápida pela internet, verificamos que a palavra batiza desde firmas de Recursos Humanos e aluguel de carros até empresas de decoração, fotografia e materiais de construção. Mas o que significa inovação? De acordo com o Manual de Oslo, inovação é a implementação de um produto, sejam bens ou serviços, novo ou significativamente melhorado, um processo, um novo método de marketing ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. Já a Lei Federal de Inovação define o termo como a introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços. É possível citar, ainda, a definição da Lei Mineira de Inovação: inovação tecnológica é a concepção de novo produto ou processo de fabricação e agregação de utilidades ou características como bem ou processo tecnológico que resulte em melhoria de qualidade, maior competitividade no mercado e maior produtividade. Ou seja, uma inovação está associada não só a algo novo, mas também a algum tipo de melhoria, e à oferta do produto (novo ou melhorado) no mercado. O exemplo clássico é o do telefone. A invenção foi patenteada no século XIX, mas, desde então, tornou-se alvo de inúmeras inovações. A invenção – telefone – é a mesma, mas calcula-se que um celular vendido hoje carregue em torno de cinco mil inovações. Recentemente, ranking divulgado pela Glo-
bal Innovation Index mostrou a situação dos países no quesito inovação. A posição brasileira não é invejável: ocupamos, atualmente, o 64ª lugar, atrás de países como Costa Rica, África do Sul e Barbados. Na avaliação realizada há dois anos, o Brasil estava em 58º lugar. Ou seja, estamos ficando para trás. A boa notícia é que se nota um esforço dos governos federal e estaduais para reverter essa situação. No plano federal, citamos o lançamento de programas de incentivo à inovação, como o Plano Inova Empresa, que oferece possibilidades diversas de apoio a empresas inovadoras em várias áreas do conhecimento. Em âmbito estadual, importante destacar o papel de liderança assumido pelas Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) e o esforço para promover a aproximação entre os setores acadêmico e empresarial. A FAPEMIG aparece como modelo para outras agências de fomento. Ela é a única a possuir uma Diretoria de Ciência, Tecnologia e Inovação, além de gerências e departamentos dedicados a proteção do conhecimento, transferência de tecnologia, inovação e relacionamento com empresas (estrutura oficializada por meio das Leis Delegadas 180 e 182/11 e pelo Decreto 45.536/11). Apoiada nas Leis de Inovação, o relacionamento com as empresas tornou-se mais intenso, resultando em editais conjuntos, programas e instalação de centros de Pesquisa e Desenvolvimento no Estado. Oriundos de parcerias com empresas, esses recursos integram o montante captado pela Fundação – que, em 2012, equivaleu a 20% do total do orçamento executado.
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ARTIGO
O tempo dirá
A FAPEMIG atua em todas as etapas da inovação. Primeiro, fomenta a pesquisa, em todas as áreas do conhecimento. Depois, se essa pesquisa resulta em algo passível de proteção, ela orienta os pesquisadores na obtenção da patente e em outras formas de proteção do conhecimento. Com a patente em mãos, é hora de transformar o conhecimento em produto. A academia não faz isso. Essa é uma função do setor empresarial. Auxiliamos, assim, a transferência da tecnologia para a indústria. Quando o produto chega ao mercado, vemos a sociedade se beneficiando com os resultados de nosso investimento. Além disso, 1% do imposto arrecadado com a comercialização do produto ou processo inovador volta para a FAPEMIG, e é aplicado no financiamento de novas pesquisas. É o que chamo de verdadeiro ciclo virtuoso. Quem participou dessas quatro etapas (pesquisa, proteção intelectual, transferência de tecnologia e inovação)? O governo, a academia e a empresa. É o conceito de Hélice Tríplice na prática. Importante ressaltar que o papel desempenhado pelo governo é fundamental. Ele age no início, fornecendo recurso e minimizando os riscos, possibilitando que um número maior de empresas se desenvolva. O in-
vestimento é inicial, para colocar ideias em prática e incentivar o aumento de novos empreendimentos no mercado. Depois, a empresa deve caminhar sozinha. Dessa ideia nascem os recursos não reembolsáveis oferecidos por entidades como BNDES e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Em parceria com a última, a FAPEMIG lançou, recentemente, um edital do programa Tecnova, que oferece recursos não reembolsáveis a micro e pequenas empresas inovadoras. Serão investidos R$ 15 milhões nos projetos aprovados, o que, esperamos, resulte em novas empresas inovadoras no mercado. E, não custa lembrar, mais empresas significa mais empregos e desenvolvimento. Esses três agentes – governo, academia e empresa – funcionam como pontos colineares, que formam um plano estável. Tira-se ou acrescenta-se um ponto e teremos um provável desequilíbrio. Da mesma forma funcionam a ciência, a tecnologia e a inovação. Os três eixos devem receber atenção igual, e serem incentivados com a mesma intensidade, de forma a alcançarmos o desenvolvimento sustentável. A FAPEMIG está fazendo suas apostas, e muitas delas significam mudanças de paradigmas. O resultado só o tempo dirá.
Inovação
Fomento à pesquisa
Governo
Empresa
Academia
Transferência de tecnologia A figura ilustra a parceria entre governo, academia e empresa – a chamada Hélice Tríplice – e as etapas da inovação
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Proteção Intelectual
Como será visto neste livro, do ponto de vista contábil, a inovação é deficitária, e à sociedade cabe financiá-la. Do ponto de vista do intangível e da única maneira de se promover desenvolvimento econômico nesta sociedade do conhecimento, a inovação é o investimento mais seguro e com os resultados mais promissores que há. A grande questão, de que devemos sempre nos lembrar, é que não há progresso sem inovação e, portanto, neste campo não haverá resultado sem investimento.
Para ir além do famoso conceito de Hélice Tríplice, designativo das instâncias prioritárias da inovação – universidade, empresa e governo –, os professores Marcos Pinotti Barbosa e Nizete Lacerda Araújo trabalham, neste importante livro, com a metáfora do trevo de quatro folhas. Desse modo, acrescentam, à clássica tríade de princípios estruturais de projetos inovadores, as figuras dos investidores, profissionais fundamentais à gestão do conhecimento.
Nos seis capítulos da obra, os autores analisam questões fundamentais aos propósitos do Homo Innovatus – o profissional interessado em tornar reais as ideias mais inovadoras. Além disso, promovem discussões acerca de financiamento, discutem maneiras para agregar valor a processos, produtos e serviços e problematizam uma série de mecanismos de geração, apropriação e divulgação do saber.
Livro: Homo Innovatus – Manual de inovação Autores: Marcos Pinotti Barbosa e Nizete Lacerda Araújo Editora: Juruá Páginas: 154 Ano: 2013
O poder
Os instrumentos de incentivo à inovação ainda são para poucos. Num universo de 30 mil empresas brasileiras que se declaram inovadoras e de 6 mil que realizam atividades de P&D, conforme apontou o Iedi, somente oitocentas empresas eram beneficiárias da Lei de Informática e da Lei do Bem. Um dos problemas é que os incentivos tributários se destinam a companhias no regime de lucro real, quando a maioria das empresas brasileiras está no regime de lucro presumido ou no Simples.
desenvolvimento
da tecnologia
Doutor em Comunicação Social pela Universidade de São Paulo (USP) e colaborador do jornal O Estado de S. Paulo, onde escreve sobre tecnologia, o jornalista Renato Cruz constrói importante panorama das iniciativas de inovação na chamada “Era do Conhecimento”. O cenário delineado pelo autor diz respeito à nova configuração do relacionamento entre empresas, instituições geradoras de inovação, consumidores de bens e serviços – e, por meio da análise de uma série de exemplos, aproxima o leitor de iniciativas categoricamente reais.
Na obra, também são abordadas temáticas seminais ao desenvolvimento dos projetos de inovação, da natureza da elite responsável por elaborar novos produtos e serviços às noções em torno de empreendedorismo e investimentos. Por fim, para além da abordagem de desafios e oportunidades dos projetos inovadores, há espaço privilegiado para o debate sobre o que Renato Cruz chama de “alavancas tecnológicas”.
Livro: O Desafio da Inovação – a revolução do conhecimento nas empresas brasileiras Autores: Renato Cruz Editora: Senac Páginas: 237 Ano: 2011
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LEITURAS
O amuleto do
Hiperlink
Governo de Minas abre seus dados Um convite diferente foi feito a todos os cidadãos no fim do mês de outubro. Pela primeira vez, o governo de Minas abriu os seus dados a hackers, programadores, designers, jornalistas e demais interessados. A proposta foi a criação – colaborativa e coletiva – de soluções tecnológicas a partir de dados estratégicos do Governo: arrecadação estadual, gastos com folha de pagamento e com programas governamentais, dívida pública e repasse do Estado aos municípios. Batizado de Hackathon, o evento, uma verdadeira maratona tecnológica, buscou incentivar a discussão sobre tecnologia e uso de informações a serviço da sociedade. O Hackathon foi realizado pelo Movimento Minas, em parceria com a Controladoria Geral do Estado de Minas Gerais e
com apoio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), do Plug Minas e da FAPEMIG. Paralelamente, realizou-se o Hackday, com oficinas, palestras e debates sobre temas como cultura digital, design thinking, ciberativismo e jogos. “Vimos o Hackday como uma oportunidade para criar interação entre governo e sociedade de forma inovadora”, explica Raquel Camargo, empreendedora pública do projeto Movimento Minas, responsável pelo evento. “Preferimos associar a iniciativa da maratona hacker nessa mesma ocasião pelo fato de podermos ampliar o público-alvo do evento, atraindo tanto profissionais já experientes da área de desenvolvimento, quanto curiosos e estudantes”. O evento contou com a participação de inventores e especialistas de organi-
Na boca e na cabeça Inovação é palavra que vem sendo usada amplamente por pesquisadores e empresários. Nesta edição especial de MINAS FAZ CIÊNCIA, por exemplo, é possível conhecer vários programas destinados ao incentivo da inovação. O programa de rádio Ondas da Ciência produziu uma série de três programas sobre o tema. Neles, o professor Raoni Barros, ligado ao departamento de Engenharia de Produção da PUC Minas e doutorando em Gestão da Inovação, apresenta conceitos e dá dicas sobre como buscar a inovação no dia a dia. No primeiro programa, o pesquisador discute a definição do termo, que está associada à possibilidade de se explorar uma ideia com sucesso. No segundo, Raoni fala degestão da inovação, e, no terceiro, discute as benesses do planejamento, atividade fundamental para que boas soluções sejam aproveitadas no momento certo, e de acordo com as metas estabelecidas. Escute toda a série nos links http:// wordpress.fapemig.br ou www.youtube. com/ondasdaciencia.
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zações como MIT Center for Civic Media, Ônibus Hacker, Coletivo Capital dos Jogos, consultoria Sodet e a Glutão e Degustador na Meatballs Digital Brunch. Cerca de 30 maratonistas, divididos em nove equipes, participaram do evento. No primeiro dia, foram 10 horas de programação e, no segundo e últimos, mais 9 horas. As equipes focaram todas as energias no desenvolvimento de suas propostas, enquanto oficinas eram realizadas com o Ônibus Hacker e os convidados. No blog do Movimento Minas (http:// blog.movimentominas.mg.gov.br/), é possível conhecer a classificação final das equipes e as propostas de desenvolvimento. Fotos e vídeos do evento também estão disponíveis no Facebook da entidade.
Oportunidades de inovação O edital 13/2013 – Tecnova, lançado em setembro pela FAPEMIG e pela Finep, já recebe propostas para financiamento de projetos de inovação. Ao todo, R$ 15 milhões serão destinados aos trabalhos aprovados, que devem ter como foco o desenvolvimento de produtos ou processos inovadores. A fim de divulgar as oportunidades, foram organizados workshops em seis cidades mineiras: Belo Horizonte, Uberaba, Uberlândia, Itajubá, Juiz de Fora e Montes Claros. A iniciativa revelou-se um sucesso: mais de 200 pessoas, entre empresários, gestores e pesquisadores, participaram dos encontros. O último workshop ocorreu em Montes Claros. Alysson Queiroz, delegado estadual do Meio Ambiente, participante do evento, destacou o desconhecimento sobre o assunto na cidade e no Norte do Estado e a importância da iniciativa para incentivar os empresários a apostar em
projetos inovadores. “É necessário estabelecer comunicação direta com as empresas e estreitar o relacionamento entre elas, as universidades e os centros de pesquisas. Isso só é possível a partir de medidas de difusão, como este encontro”, afirma. Os workshops contaram com a parceria do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), por meio do Instituto Euvaldo Lodi (IEL). Gerente de Inovação da FAPEMIG, Heber Pereira Neves destaca a importância da iniciativa: “Três instituições presentes nos eventos, mais os demais parceiros envolvidos no programa, são o diferencial de Minas Gerais. O trabalho em conjunto facilita processos e constrói uma grande oportunidade”, destaca. O edital Tecnova está disponível no portal da FAPEMIG: www.fapemig.br.
Fitas de luz As forças das turbinas geradoras de energia elétrica foram trocadas por pequenas fitas impressas, produzidas dentro de um laboratório. O Centro de Inovações Csem Brasil, localizado na Cidade da Ciência, em Belo Horizonte, é o principal produtor de tais dispositivos compactos, que tornam Minas Gerais pioneira na área. A partir dos raios solares, o mecanismo ajuda a gerar energia limpa, além de levar eletricidade a importante parcela da população. Feitas de plástico biodegradável, as fitas revelam-se uma opção às estruturas de silício. A transparência é outra aliada, já que as fitas podem ser aplicadas em janelas e fachadas sem prejuízo à estética dos edifícios. Além disso, os dispositivos são produzidos dentro de um processo contínuo, em
baixa temperatura, com materiais abundantes na terra e, também, recicláveis. Ou seja: a união desses aspectos resulta num produto de baixo custo. Trata-se de tecnologia 70% mais barata do que os sistemas tradicionais. Além da produção das placas, que possuem inúmeras aplicações, o Csem Brasil desenvolve tecnologia voltada à iluminação, que já vem sendo testada comercialmente no exterior. Apenas três centros internacionais desenvolvem essa técnica e a produção implica a adaptação de infraestruturas já existentes, abrindo ainda outras possibilidades. Confira vídeo sobre o assunto no programa Ciência no ar (http://fapemig.wordpress.com/ ciencia-no-ar e www.youtube.com/ ciencianoar)
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Primeira imagem realizada, no Brasil, do marcador radioativo [18F]Fluorcolina, usado para identificação de cânceres cerebrais e de próstata. A fotografia dos rins e da bexiga de um camundongo Swiss revela que houve as devidas captação e excreção do radiofármaco, o que permitiu os avanços que levariam à atual etapa da investigação, com seres humanos. O estudo é desenvolvido pela Unidade de Pesquisa e Produção de Radiofármacos do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (UPPR/ CDTN), em parceria com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Medicina Molecular da Universidade Federal de Minas Gerais (INCT MM/UFMG).
Arquivo UPPR/CDTN e INCT Medicina Molecular/UFMG
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