Kathryn James
é uma escritora em tempo integral. Ela escreveu seu primeiro romance aos oito anos de idade, mas somente muito tempo, e muitos trabalhos depois, foi que conseguiu ser publicada. Seu trabalho como documentarista, relatando a vida de ciganos e viajantes, ajudou Kathryn a construir em Névoa e Gelo um cenário empolgante, rico em detalhes. Ela vive em Leicester com sua família e seus bichos. Conheça também o site da autora:
A névoa esconde alguma coisa... bela como a luz das estrelas, feroz como um lobo, fria como o gelo. A floresta do outro lado da névoa é lar dos Elfos e de Evan, o belo e enigmático Evan. E Nell se deixou cativar por ele. Mas o mundo dele está sendo devastado por terremotos, e somente Nell pode ajudar a salvá-lo. Ela terá de ir para muito além da floresta, onde um lago de gelo mortífero e um antigo inimigo a aguardam...
http://www.kathrynjames.co.uk
ISBN 978-85-8277-053-5
9 788582 770535
Eu mal tinha acabado de escrever Névoa e já não via a hora de voltar para Nell e Evan e descobrir o que aconteceria desta vez, quando os dois lutassem para salvar o mundo belo e mortífero dos Elfos. Adoro perigos a cada esquina. Gosto de ficar com os nervos à flor da pele! É o que vai acontecer quando você seguir Nell e Evan através da névoa e entrar naquele mundo frio e mordaz de gelo e neve. Sustos, trevas e emoções aguardam os dois a cada passo de sua corrida contra o tempo, pois eles sabem que podem muito bem nunca mais voltar para o nosso mundo. Adorei escrever este livro. Aproveite-o! Kathryn James
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Um
Alguma coisa acordou Nell. Com o coração batendo forte, ela se pôs sentada e se enrolou no seu velho casaco de peles. Estendera‑o sobre a cama na noite anterior, para ficar mais quentinha. O casaco ainda cheirava a folhas de pinho. Algo estava errado, mas ela não sabia o que era. No escuro, o rádio‑relógio indicava seis da manhã, ou seja, faltava um tempão para amanhecer. Quem sabe a nevasca a fizera acordar… ou o frio. Enfiara‑se na cama de roupa e tudo, porque a previsão do tempo tinha avisado que a temperatura chegaria a dez graus negativos. Era o segundo dia do novo ano e já fazia muito frio. Lá vai, de novo! Alguém jogava pedras na sua janela. Ela ergueu a persiana e tentou olhar lá para fora, mas havia gelo no vidro, do lado de dentro, mesmo com 7
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o aquecimento central ligado a noite toda. Ela usou a unha para abrir um buraquinho e ficou com a ponta do dedo congelada. Havia um vulto de pé no jardim, olhando para cima. Por um segundo, o coração de Nell quase parou e ela pensou que fosse Evan. Evan, o garoto misterioso com quem ela fizera ami‑ zade, que não era humano, que viera de outro mundo e deixara o dela de ponta‑cabeça. Mas não era ele. O vulto era muito pequeno e, de qualquer maneira, Evan estava em algum lugar ermo, bem mais ao norte. Já fazia dois meses e três dias que ele estava lá, e ela começava a achar que nunca mais vol‑ taria a vê‑lo. O vulto acenou com certa urgência e saiu correndo. Ela calçou as botas novas e disparou para fora do quarto, passando rapidamente por cima de um garoto deitado no patamar da escada e enrolado num cobertor. A porta do quarto da sua irmã estava aberta. Dava para ver cinco corpos espremidos na cama de Gwen. Outros dois estavam no chão sobre um colchão inflável e ves‑ tiam casacos. Lá embaixo, ela cruzou a sala de estar na ponta dos pés. Cada sofá abrigava um casal abraçadinho e acon‑ chegado em mantas. A única coisa que se ouvia, além da 8
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respiração das pessoas, era o leve som de tiros que partia do computador perto da janela da frente. Dois garotos enrolados em cobertores se debruçavam diante do mo‑ nitor, entretidos com algum jogo on‑line, como se não tivessem saído dali a noite inteira. Festa na casa da Gwen. Todos os amigos da irmã estavam passando a noite ali, porque Jackie, a mãe de Nell e Gwen, estava fa‑ zendo serão. Por causa do tempo horroroso, os serviços de emergência estavam no limite de sua capacidade operacional. Nell atravessou rapidamente o labirinto de corpos estirados sobre um futon no chão, pisando em um ou dois deles. Os corpos estremeceram e se viraram para o outro lado, puxando as cobertas e espalhando latas e garrafas. Colado à tevê, havia um bilhete que ontem não estivera lá. Era uma ameaça da mãe, que devia ter dado um pulo em casa no meio da noite, durante a patrulha. Gwen, quero esse povo todo fora daqui quando eu voltar, senão você vai ver!!! Eu falei quatro amigos, no máximo!!! A irmã estava toda encolhida feito um gatinho numa das poltronas. 9
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A cabeça sonolenta de Gwen se ergueu quando Nell passou por ali sorrateiramente. — Que foooi? Que horas são? — Cedo. Seis. Volte a dormir. — Aonde você vai? — Dar uma volta. — Doida. Vai morrer congelada. Gwen voltou a deitar e fechou os olhos, mas uma ca‑ beça loira brotou da outra poltrona. Nell mal viu que era Becca, a melhor amiga de Gwen. — Seis da manhã! Droga. Eu devia ter voltado para casa ontem à noite! Vou trabalhar pro meu pai hoje. Ele vai me matar! Becca começou a procurar as botas pela sala, pi‑ sando nos corpos adormecidos e fazendo‑os reclamar horrivelmente. Nell escapuliu. A porta da frente estava emperrada por causa da neve e do gelo e só abriu com um pontapé. Ela passou por cima da árvore de Natal, que agora estava meio enterrada perto da lixeira. O jardim e toda a Wood‑ bridge Road, a rua da sua casa, foram apagados pela neve. O vulto que jogara as pedras esperava por ela sob o poste de luz. Nell viu que era uma garotinha de casaco de peles, capuz, calças de lã e botas. Tranças brancas e finas escapavam do capuz. 10
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— Star! — exclamou Nell, espantada. A prima de Evan, a pequena feiticeira‑curandeira, ali na sua rua! — Está ouvindo? — gritou a Elfa. — Ouvindo o quê? Mas Star voltou a correr, descendo a rua. Algo terrí‑ vel devia ter acontecido para ela vir para este mundo. Nell foi atrás dela, entre escorregadelas e o ranger da neve, desceu a rua até a igreja e entrou na alameda que levava ao bosque. Star esperava na entrada, saltitando com impaciência, mas uma coisa havia chamado a aten‑ ção de Nell. A alameda estava tomada pela neve que ca‑ íra na noite anterior e cobrira as pegadas deixadas um dia antes… Então por que ela estava diante de três séries de rastros frescos? As pegadas pequenas eram da Star. Depois havia ou‑ tras maiores. O terceiro par parecia ter sido deixado por botas com saltos. Quem é que usava saltos no meio do mato, e com um tempo daqueles? — Quem mais veio com você? — perguntou Nell. — Ninguém. Só eu. — Star pulava, incentivando Nell a continuar. — Por favor! Não está ouvindo? Nell pôs‑se a ouvir, mas não escutou nada. Aconchegou‑se um pouco mais no casaco, lamen‑ tando não ter se lembrado de pegar as luvas, e entrou 11
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correndo no bosque atrás de Star. Parecia a perigosa pai‑ sagem invernal de um país de maravilhas: a neve entra‑ nhada nas árvores, os galhos delineados pela neve e o gelo. Nell não voltara ali desde a partida de Evan. Havia se concentrado nos estudos e divertia‑se deixando bem claro para suas “amigas” Paige e Bria que ela não dava mais a mínima para as duas. No momento, ela seguia Star, entre deslizes e escor‑ regões, rumo ao buraco onde estava a névoa. O caminho até lá era um gelo só. Ela se pendurou num galho ao des‑ cer a encosta e tomou um banho de neve, que escorreu por sua nuca. Então, avistou a névoa cintilar à sua frente, feito o ouropel que enfeitava a árvore de Natal da família. O caminho de pedras luzia, coberto de gelo. Star já dançava mais adiante, desaparecendo na névoa. Nell pisou na primeira pedra escorregadia. Ainda se lembrava da sequência de passos que a levaria para o lu‑ gar que assombrara seus sonhos nos últimos dois meses. Jamais esqueceria. Tampouco esqueceria a névoa se fe‑ chando ao seu redor, como se tentasse empurrá‑la para trás, nem a vertigem que sentia, como se caminhasse sobre um precipício. Ela forçou a passagem e saiu na clareira. O frio era ainda mais intenso ali. Era como se tivessem deixado 12
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a porta de um frigorífico aberta. As lágrimas em seus olhos começaram a congelar. A clareira estava coberta de neve e havia pinheiros por toda parte, os mesmos que tinham perfumado inde‑ levelmente seu casaco. Era a outra floresta, aquela que ficava fora do mundo e pertencia ao povo escondido, os Elfos. Era esse o segredo perigoso que ela guardava. Sin‑ celos de quase meio metro pendiam dos galhos, e pega‑ das de lobos ziguezagueavam de um lado a outro. Entre as árvores, outros trechos de névoa piscavam e cintila‑ vam, e cada um deles era um portal para outro lugar. Star, melancólica, estava bem no meio da clareira, e sua respiração se cristalizava em forma de nuvem. O capuz havia sido jogado para trás e as tranças brancas da menina reluziam sob a lua dos Elfos. — Eu ajudei você. Agora você tem de nos ajudar. Não resta mais ninguém — Star gritou. Nell se aproximou da menina e afundou até os joelhos na neve fina e solta. Ela segurou as mãos de Star. Pareciam gelo. — O que foi? — Aconteceu muito rápido. Não está ouvindo? Es‑ cute — sussurrou Star. Nell se esforçou para ouvir, mas não escutou nada. — Não sei do que está falando. 13
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Foi aí que seu coração pulou dentro do peito. Santo Deus. Era isso. Não escutava nada. Nada. Nem mesmo o ranger e o farfalhar das árvores, agora que estavam car‑ regadas de neve. Só o silêncio. Um silêncio profundo e congelado. — As Harpas. As Harpas deixaram de tocar — disse, horrorizada. Não se ouvia mais a música, não se ouviam mais as melodias intermináveis que partiam dos instrumentos enormes espalhados pela floresta e que impediam o país dos Elfos de se desfazer e morrer. — O gelo está saindo do lago e se espalhando. E vi‑ mos os Elfos do gelo. — O rosto de Star ficou ainda mais pálido que o normal, e olhe que já era de um branco lei‑ toso. — Eles são maus, Nell! São tão frios que seus cora‑ ções não batem. — O que posso fazer? — Nell perguntou. Star apertou desesperadamente as mãos dela. — Você precisa encontrar Evan. Becca conseguiu chegar à loja a tempo. A Joalheria e Antiquário Cutler, no centro da cidadezinha, era o ne‑ gócio da família. Ela deixara o pai estacionando o carro, mas não precisava ter se apressado: ninguém tinha saído para fazer compras, não com aquele tempo. 14
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A não ser o garoto sentado à porta, abraçando os pró‑ prios joelhos. Ela quase não o viu ali. Ele usava vários tons claros de cinza, feito sombras projetadas sobre o branco da neve. Misturava‑se ao ambiente. Vestia um casaco cinzento com capuz, de mangas arregaçadas, o zíper aberto até a me‑ tade, como se ele sentisse calor, e não um frio de matar. As calças de brim e as botas também eram cinzentas, mas de tonalidades diferentes. Ao ver Becca, ele ficou de pé num salto, contente como um cachorrinho. — Estava esperando vocês abrirem — disse ele, jovial. Tinha um leve sotaque estrangeiro. Becca tirou a boina felpuda e empurrou um fio dos cabelos desalinhados para trás da orelha. Ele era mesmo uma gracinha. Talvez tivesse a idade dela, ou menos. O rosto não tinha nada de especial, mas ainda assim era surpreendente. A pele era uma pérola, parecia nunca ter visto sol na vida. Becca não conseguia deixar de olhar para ele e, quando o garoto jogou o capuz para trás e ela viu os cabelos negros e reluzentes, feito as penas de um corvo, mal conseguiu conter a vontade de afagá‑los. Gostou do penteado. O garoto não parecia ter ido ao cabeleireiro nem passado horas na frente do espelho com um pote de gel nas mãos. Os cabelos pareciam ter crescido daquele jeito. 15
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Os olhos dele também eram cinzentos, bem clarinhos, feito prata desbotada. Ele levava a mão à testa, para fazer sombra aos olhos, como se a luz do dia fosse muito inten‑ sa. Não era. Na última meia hora, o céu tinha arroxeado feito um hematoma. Havia outra nevasca a caminho. — Várias outras lojas abriram. Você não precisava congelar sentado aí. — Esta loja. Eu queria esta loja. — Ele abriu um grande sorriso, impaciente e amistoso, e franziu o na‑ riz. — Deixe‑me entrar. Era melhor não, era melhor esperar o pai; ela preci‑ sava pensar na segurança. Mas aquele garoto‑cãozinho tão fofo dificilmente seria perigoso e, por isso, ela abriu a porta e desligou o alarme. A loja estava às escuras, com as persianas de segurança ainda abaixadas. Ele entrou logo atrás dela e deu uma olhada ao redor. A respiração dos dois fumegava, parecia mais frio ali dentro do que lá fora. Becca ligou o aquecedor elétrico. — Não está com frio? — ela perguntou. De perto, a pele dele parecia coberta por uma fina camada de gelo cintilante. Ele encolheu os ombros e falou:. — Não. Gosto assim. Lá de onde venho faz muito mais frio. — Deve ser no Ártico, então. 16
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— Hã‑rã — ele confirmou, meio que cantando. — Não exatamente. Mas é bem longe. O garoto olhou ao redor e acrescentou: — Fazia um tempo que eu queria vir para cá. Vai ser divertido. Ele se pôs a percorrer a loja e a examinar os mos‑ truários, admirado com as joias, como se tivesse paixão por ouro. Se estivessem ali, Gwen e as meninas o estra‑ gariam com mimos, tão adorável ele era. Ela foi subir as persianas. — Não. Está claro demais. Gosto do escuro. Por um instante, ela não soube dizer de onde vinha a voz dele. Perdera‑o de vista. A loja não era grande, mas ela teve de se concentrar para divisá‑lo na escuri‑ dão. Decididamente, ele sabia se misturar às sombras. Ele estava sentado diante de um dos mostruários, feito uma criança na loja de doces, com o nariz quase colado ao vidro. — Quero aquele anel — ele deixou escapar. O objeto de sua paixão estava acomodado numa al‑ mofada de veludo, sob um facho de luz no centro do mostruário: uma serpente de ouro em espiral que tinha como olhos dois rubis diminutos, mas perfeitos. — Certo. Claro que quer! — Ela sorriu, sem conseguir se conter. Como se ele tivesse dinheiro para comprar 17
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uma coisa daquelas! — É o anel élfico. Meu pai diz que a ourivesaria é tão absurdamente refinada e as pedras tão bem lapidadas que o anel só pode ter sido feito pelo povo élfico. — Elfo — ele comentou distraído, sem tirar os olhos de cima do anel. — Perdão? — Elfo, e não élfico. É sempre Elfo. — É brincadeira do meu pai, não é verdade — ela fa‑ lou, intrigada com a repentina seriedade do garoto. Ele teve um sobressalto e concordou alegremente: — Hã‑rã. Claro. Um ao lado do outro, os dois admiraram a joia. — O anel tem forma de serpente, foi feito para se en‑ roscar no dedo. — Amei, adorei — ele falou. — Onde foi que o encontraram? Becca não respondeu no mesmo instante, porque ele havia apanhado a pluma negra que o pai dela usava para tirar o pó dos anéis e, distraído, roçava com ela a face branca. Por um ou dois segundos, Becca se deixou hip‑ notizar. Queria manter o garoto ali até Gwen aparecer, para que pudessem observá‑lo juntas! — Um homem veio aqui alguns anos atrás e nos ven‑ deu o anel. 18
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Ele a ouvia com toda a atenção, e agora mordiscava a pluma com seus dentes brancos e perfeitos. — Não está à venda. Meu pai deixa o anel aí no mos‑ truário porque o adora. — O homem disse como se chamava? — ele perguntou. — Sim. Há uma etiqueta na caixa. Veja: Thorn. É tudo que sabemos. — Posso experimentá‑lo? Ela se pegou fitando os olhos prateados do garoto. Agora tinham um quê de felino travesso. — Não. Não tenho permissão. Você vai ter de esperar meu pai chegar. Ele franziu o nariz e fez uma cara ligeiramente con‑ trariada. Até isso era uma graça. — Ele não vai demorar. Você é novo aqui? — Hã‑rã. Pelo jeito, era essa sua maneira de dizer sim. De repente, ela teve uma ótima ideia. — Bom, não espalhe, mas teremos uma festa na neve hoje à noite. O zelador se esqueceu de trancar a quadra da escola e vamos passar a noite lá. Venha com a gente. Ele continuou a olhar ao redor e perguntou: — Quem vai? — Todo mundo. Minha melhor amiga, Gwen, as me‑ ninas e… 19
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Ele girou nos calcanhares, todo interessado, de uma hora para outra. — … e a Nell? — É, acho que sim. Por um instante, ela se perguntou como ele co‑ nhecia a irmã caçula de Gwen, mas o pensamento lhe escapuliu. — Esqueça a Nell. Espere só até conhecer nossa turma. Ele deu uma risada. Era como gelo se partindo. — Pena, mas não posso. É proibido. Só estou aqui por causa do ouro. Ela fechou a cara, decepcionada. — Então é bom você ter muito dinheiro. Ele riu outra vez. — Não, eu não vou comprar nada! Sou Loki Thorn. Vim pegar nosso anel de volta. — Ele olhou ao redor e seus olhos se acenderam. — E já que estou aqui acho que também vou levar todas as outras coisinhas brilhantes. Becca levou as mãos aos quadris. Era alguma piada? — Certo, você é uma graça, mas, sério, quem está pen‑ sando que é? Ele continuou a examinar os mostruários e disse ca‑ sualmente, com um aceno de mão: — Durma. 20
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Becca caiu feito uma pedra. Ele se inclinou para sus‑ surrar no ouvido dela: — Sinto muito, menina bonita, mas sou seu pesadelo. Posso fazê‑la sonhar com o que eu quiser. Ele se aproximou e sussurrou mais algumas coisas. Em seguida, pôs‑se a quebrar o vidro de todos os mostruários, ignorando o alarme que começou a apitar estridentemente. Pegou tudo e saiu da loja antes que o pai de Becca tivesse tempo de virar a esquina correndo. Como o Sr. Cutler contaria mais tarde à polícia, as únicas coisas que ouviu foram duas pessoas garga‑ lhando e passos rápidos, no exato momento em que a neve voltou a cair feito uma cortina branca.
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