FAZENDO boletim do que por cá se faz
29 de Outubro de 2009 | Quinta | Edição # 25 | Quinzenal | Agenda Cultural Faialense | Distribuição Gratuita
No Faial não se passa nada, nem cinema, nem música, nem...
Opiniã Crónica Faial Filmes Fest Renata Lima
A construção do Festival de Curtas das Ilhas processa-se assim, entre o caos e a harmonia, entre a razão e o coração, com uma pitada de sorte
T
enho uma amiga que me pergunta frequentemente:
e ele repercute-se nos dias seguintes, no expressivo conjunto
então, como é que está a correr? - referindo-se ao processo
de filmes que compõem as sessões especiais e de competição.
de preparação do V Faial Filmes Fest – Festival de Curtas das
Nas 45 curtas-metragens da Selecção Oficial contam-se, além
Ilhas. Respondo-lhe invariavelmente, com uma espécie de
dos nacionais (incluindo Açores e Madeira), pela primeira vez,
suspiro: não sei. Acontece o discernimento acanhar-se diante
filmes das Canárias e de Cabo Verde, que responderam à
do emaranhado de coisas para ontem, coisinhas miudinhas e
abertura do Festival às cinematografias da Macaronésia – esse
outras demasiado grandes, telefonemas, emails, cartas, fortunas,
conjunto de realidades insulares paradoxalmente tão disperso
revezes… e até da matreira sorte.
de si mesmo e que pretendemos reunir no cinema, conferindo
A construção do Festival de Curtas das Ilhas processa-se assim,
maior dimensão ao enunciado “Festival de Curtas das Ilhas”.
entre o caos e a harmonia, entre a razão e o coração, com
Ao longo de 3 dias estarão em exibição as mais recentes
uma pitada de sorte; entre a vontade de ultrapassar as
produções nacionais e regionais de curta-metragem; filmes
contrariedades e a raiva delas, feita energia para encontrar
premiados em festivais de cinema de renome e outros que
soluções e enfrentar os desafios em frente, mas sobretudo
premeiam a criatividade.
com a alegria de ver as peças encaixarem-se, por força do
Fora de Competição, o FFF’09 apresenta um conjunto de 7
trabalho, do querer e do crer – nosso e dos que connosco
filmes que estabelece uma ponte entre os primeiros passos do
partilham este projecto, apoiando-o financeiramente ou
“cinema novo” português e o cinema da nova geração de
facilitando procedimentos e abrindo caminhos.
cineastas nacionais, com uma passagem pelo FFF’08 e um
O Faial Filmes Fest 2009 abre com uma declaração da força
pequeno segredo a ser desvendado ao vivo, no Cine Teatro
da conjugação de todos esses factores: um ano depois do
Faialense.
desafio avançado por um dos oradores da homenagem a Dias
Por tudo isto e muito mais, a 5ª edição do Faial Filmes Fest
de Melo (que deu o arranque à edição de 2008) aos realizadores
anuncia-se mais rica em diversidade e conteúdo, sólida e
presentes, eis que um documentário sobre o escritor açoriano
coerente - e mais dedicada ao público e ao próprio Cinema.
nos vem “parar às mãos” e assentar como uma luva de plica
Agora sim, podemos afirmar: está tudo a postos. Venham as
mágica na primeira Sessão Especial da edição deste ano! Não
pessoas – muitas pessoas – e a festa do Cinema no Faial ficará
podíamos desejar melhor prenúncio para o arranque do Festival
completa! U
“O Matricida” de Sílvio Varela Sousa
“Pássaros” de Filipe Abranches
“Quem pega neste balde” de Pedro Escobar
“Arena” de João Salaviza
“A felicidade” de Jorge Silva Melo
ficha técnica - fazendo - isento de registo na erc ao abrigo da lei de imprensa 2/99 de 13 de janeiro, art. 9º, nº 2 - direcção geral: jácome armas - direcção editorial: pedro lucas - coordenadores temáticos: catarina azevedo, luís menezes, luís pereira, pedro gaspar, ricardo serrão, rosa dart - colaboradores: ana correia, dina dowling, eduardo carqueijeiro, hugo diogo, marco silva, pedro monteiro, renata lima, sara soares tomás silva - projecto gráfico: paulo neves, elcubu, contact@elcubu.com - paginação: aurora ribeiro | faial - capa: isabel sampaio - propriedade: associação cultural fazendo - sede: rua rogério gonçalves, nº 18, 9900 horta - periodicidade: quinzenal - tiragem: 400 exemplares - impressão: gráfica o telégrapho - contactos: vai.se.fazendo@gmail.com, http://fazendofazendo.blogspot.com - distribuição gratuita
02
Música Recuso-me a analisar teoricamente o que fiz ou a relação deste ou do outro acorde. Só me interessa o produto final. Se me soa bem e aquilo que concebi ou imaginei durante esse processo.
Nuno Costa regressa ao Faial Fausto
A
uno costa, músico de jazz, visita-nos
F: Em que sítio gostaste mais de tocar até hoje? Porquê?
musicais serão obrigatoriamente diferentes das do ano passado,
pela segunda vez, no âmbito do Faial Films Fest de 2009. Com
NC: Vou tentar não referir o concerto de lançamento do disco...
visto que teremos de obedecer não só às imagens, mas também
o seu primeiro trabalho de originais acabado de lançar
Não sei bem. Nem sempre tem a ver com o lugar em si, mas
ao natural condicionalismo da música ao vivo, no que diz
(Reticências entre parêntesis), Nuno Costa assume-se cada vez
também com quem estamos em palco, com as condições
respeito à dificuldade de sincronização com o video. Estou
mais como um músico de referência no panorama jazzístico
técnicas, etc. Os teatros antigos são, por regra, os meus locais
entusiasmado. Não percam!!! Dia 4 de Novembro.
português. Não perdemos esta oportunidade para o dar a
de eleição, um pouco à imagem do "vosso" Teatro Faialense,
conhecer melhor aos nossos fiéis leitores.
do Sá de Miranda em Viana do Castelo, do Bernardim Ribeiro
F: Que impressões registas do Faial em termos culturais e
em Estremoz do São Luís em Lisboa, etc.
sociais? NC: É difícil de responder porque, julgo eu, estive cá numa
Fazendo: Qual é o teu percurso académico na música? Nuno Costa: Comecei a tocar guitarra com 15 anos. Depois de
F: Como está para ti o panorama musical português? E como
semana bastante atípica, já que estava a decorrer um festival,
terminar o secundário, decidi dedicar-me a tempo inteiro à
está o jazz propriamente dito?
o que geralmente, e por si só, reúne mais pessoas do que o
música. Fui para a escola do Hot Club Portugal e, paralelamente,
NC: Não posso deixar passar esta oportunidade de me queixar...
normal. No entanto, não deixa de ser uma enorme chamada
estudava guitarra clássica na Academia de Amadores de Música.
Agora a sério, e referindo-me mais ao Jazz, por ser o meio que
de atenção para o que de melhor se passa a nível cultural no
Em 2002 recebi um prémio da Livraria Barata para terminar os
conheço melhor, julgo que, no geral, está a crescer de uma
nosso país. Aproveito para agradecer e enaltecer o trabalho
estudos no Hot. Em 2003, com uma bolsa de estudo, fui para
forma bastante positiva. Existem mais escolas, universidades
dos organizadores na atenção a todos os detalhes e pela semana
a Berklee College of Music. Terminei a licenciatura em Film
que oferecem cursos e especializações, músicos com uma
inesquecível que proporcionaram a todos os que participaram
Scoring em 2005.
excelente formação académica obtida em diferentes partes do
neste evento.
mundo e com provas dadas a nível internacional. Acho que, F: Qual é a tua ocupação profissional neste momento?
progressivamente, vamos tendo uma voz cada vez mais original
F: De que sentirias mais falta, se vivesses no Faial?
NC: Dentro da música, faço várias coisas... Tento, acima de
no universo musical. Em relação às oportunidades de
NC: No meu caso muito particular, talvez da escassez de músicos.
tudo, manter um papel activo na cena jazzistica portuguesa.
apresentação e aos diversos apoios para a divulgação dos
Tive a oportunidade de tocar com alguns e este ano vamos
Lancei recentemente o meu primeiro disco: (...) - Reticências
projectos é que a conversa muda... salvaguardando-se alguns
voltar a fazê-lo. O nível que encontrei foi bastante apelativo
entre Parêntesis, editado pela TOAP e que conta com a
meios de comunicação, que a muito custo, têm apoiado
mas necessito de uma comunidade com mais instrumentistas
participação de alguns dos músicos que mais idolatro no
incondicionalmente os músicos portugueses.
para continuar a minha evolução e poder experimentar diferentes projectos e formações.
panorama musical nacional. Gravei também o disco do saxofonista Gonçalo Prazeres que será lançado no início de
F: Que livro estás a ler? E que livro aconselhas?
2010. Gosto bastante de estar ligado à música para imagens,
NC: Se queres mesmo saber... Neste momento estou a ler a
F: Como usufruis do teu tempo livre?
dando sequência ao curso que fiz, mas sendo também algo que
"Autobiografia pelos Monty Python".
NC: Filmes. Muitos filmes! Família. Amigos. Bairro Alto. Playstation e a ver o Glorioso!
me completa profissionalmente. Para além de trabalhar com realizadores, tenho um projecto de Filme-concerto. Dou aulas
F: E um disco imperdível?
na Escola de Jazz do Hot Club (guitarra e combo) e na Escola
NC: Para esta é que não tenho mesmo resposta!! É melhor nem
F: O que é que gostarias de fazer que ainda não tenhas feito?
de Jazz do Barreiro (Guitarra e Formação Musical). Em Outubro
começar a enumerá-los... Mas o "Kind of Blue" do Miles Davis
NC: Para além de pilotar um avião e saltar dele (deixando lá
de 2008, abri o estúdio de gravação "Timbuktu", em Lisboa,
será sempre um hit!
alguém para o aterrar), gravar o 2º disco. E... a ver se este ano me saio melhor com os cagarros!
juntamente com o músico André Fernandes. F: Que balanço fazes da oficina de música para filmes que F: Compor originais é uma coisa que te fascina?
vieste dirigir o ano passado no âmbito do Faial Filmes Fest, e
F: O que é que não gostarias de fazer e já fizeste?
NC: Claro! O fascínio está, precisamente em procurar diferentes
que expectativas tens para este ano?
NC: Na verdade, muito pouca coisa! Talvez um ou outro trabalho
técnicas e em atingir outras formas. É um trabalho bastante
NC: Foi muito, muito bom. Acabei por estender as sessões de
que aceitei para preencher a conta bancária. Coisas do passado!
cativante, desde a procura do ponto de partida até ao resultado
trabalho porque senti muita vontade e empenho por parte dos
Espero...U
final, passando pelas diferentes frustrações, por vezes, por não
participantes. Todos eles tinham perspectivas e objectivos
estar na direcção desejada ou por chegar a um beco sem saída...
bastante diferentes, o que proporcionou às sessões de trabalho
Para o meu grupo, por exemplo, tento que a música transpareça
uma evolução natural. O facto de nos conciliarmos com a oficina
uma forte componente visual e que seja o mais orgânica possível,
de imagem ajudou muito, já que acabámos por viver uma
sem recorrer a fórmulas matemáticas ou estruturas pré-definidas.
situação bem próxima da realidade. A verdade é que num
Recuso-me a analisar teoricamente o que fiz ou a relação deste
workshop desta natureza também aprendo imenso. Este ano
ou do outro acorde. Só me interessa o produto final. Se me soa
como envolve a apresentação ao vivo dos trabalhos acredito
bem e aquilo que concebi ou imaginei durante esse processo.
que haja mais tensão e adrenalina. As escolhas e os padrões
03
Cinema e Teatro
Arquitectura e Artes Plásticas Exposição de Helena Krug no Bar do Teatro Eduardo Carqueijeiro
O
As pinturas de Helena Krug são mesmo assim, muito mais que s olhos são brilhantes. Os rostos em perfeita
simples pinturas. São retratos magníficos de virtuosismo, feitos de tinta mas também de emoções.
tridimensionalidade. O claro escuro transmite volume mas
São pinturas reflexivas, feitas de imagens interiores e exteriores.
também dramatismo. As cores bem calibradas, de frio e quente,
São ao mesmo tempo duas e multiplas dimensões físicas e
de claro e escuro, de branco e multitons criam esse ambiente,
temporais. Levam-nos a caminhos de memória, observação e
semi misterioso, semi-real, semi-fluido mas semi-opaco.
reflexão. Caminhos longínquos e profundos…
E…uma cara pode ser muito mais que uma cara…
Toda a pintura devia ser assim. U
Mário Botas
À Procura (1952 - 1983) ana correia
“Histórias do Condado Portucalense” Mário Botas (1981) (com especial adoração por Fernando Pessoa) conseguiu dar
N
A obra de Mário Botas pode dividir-se em dois momento distintos:
vida aos seus trabalhos.
a primeira antes de ter adoecido (em 1977) e a segunda depois.
Fez a sua primeira exposição na Nazaré em ’71. Em ’73 expôs
asceu na Nazaré em 1952. Formou-se em Lisboa,
Quando chegou a Lisboa para estudar teve contacto com artistas
em Lisboa, na galeria S.Mamede. Em ’78 mostra-se em Nova
em medicina, sempre com óptimo aproveitamento, apesar de
como Cruzeiro Seixas, Mário Cesariny, Paula Rego e Raúl Perez.
Iorque e em ’79 na Pensilvânia. Ainda que sendo extensa e
passar as aulas a desenhar compulsiva e instintivamente em
Apesar do surrealismo ter tido alguma influência no seu início,
bastante rica, a sua obra foi criada em poucos anos. Ao sentir-
modo semi-automático. Apesar de também se ter dedicado à
o expressionismo e o fauvismo também são correntes que se
se chegar ao fim, vítima de leucemia, começou a povoar as
escrita, a pintura e o desenho dominaram completamente a
notam na sua obra. Ainda assim, Mário Botas respirou o que
suas obras com simbolismos fúnebres. Em 1983, com 30 anos,
sua produção artística, fazendo uso
lhe interessou e com isso, com a sua imaginação fértil e com
um genial artista português deixa-nos apenas com a sua obra
principalmente da aguarela.
a fascinação pelos contos populares e por toda a literatura
e com as memórias dos que o acompanharam. U
E
Concurso de Banda Desenhada
do Jornal Avenida Marginal Marco Silva
ste concurso é direccionado a todos os amantes da
arte da BD que residem em Portugal. Tem lugar na ilha do Faial e deseja dinamizar em paralelo a BD local e regional, contando para o efeito com três prémios específicos para autores açorianos. Os outros três prémios são para autores nacionais. O tema desta primeira edição é livre, de forma a estimular a criatividade de quem quer contar uma história com recurso ao desenho e/ou outras técnicas de expressão artística – fotografia, pintura, etc. Todos os concorrentes serão desafiados a contarem uma história, um momento, um pensamento, um conceito recorrendo a uma única prancha, formato A3 ou A4. Os trabalhos seleccionados farão parte de uma exposição colectiva que decorrerá na ilha do Faial e depois estará patente na galeria do Instituto Politécnico de Beja. Os
trabalhos
deverão
ser
remetidos
para
bd.avenidamarginal@sapo.pt até ao dia 15 de Novembro de 2009. U Pa r a
mais
informações
visite
o
site
oficial:
http://concursobdavenidamarginal.blogspot.com
05
Literatura Ao longo da leitura vamos descobrindo diversos “falcões”que se aplicam a destruir os outros, minando as suas esperanças e os seus sonhos.
O homem é um grande faisão sobre a terra de Herta Müller catarina azevedo
O
título do livro, um provérbio romeno que se aplica
Curiosamente, ou talvez porque o destino não tem qualquer
à acção negativa do homem sobre o que o rodeia, parece um
importância, a vida do pós-emigração é apenas aflorada (num
pouco bizarro mas, ao longo da leitura vamos descobrindo
pequeno episódio do regresso à aldeia, o sentimento de já não
diversos “falcões”que se aplicam a destruir os outros, minando
pertencer à comunidade e uma sensação de superioridade que
as suas esperanças e os seus sonhos (e não podemos deixar de
quase não é velada).
estremecer na cena em que nas crianças fardadas que brincam
A autora, ela própria uma emigrante romena que se instalou
ao patriotismo adivinhamos os adultos que amanhã serão
na Alemanha (Prémio Nobel da literatura este ano), não cai
verdadeiramente os “falcões” dos seus irmãos).
necessariamente no biografismo mas pinta um retrato preciso
Centrado no relato de uma comunidade rural da Roménia,
da Roménia de Ceasuesco (com descrições que essas sim ecoam
marcada pelo seu cariz germânico que a distingue de outras
de experiência vivida, as crianças que recitam ladainhas que
aqueles que esperam o graal – o passaporte -que lhes permitirá
comunidades, um local perdido onde a emigração marca as
mal percebem e todas as exigências burocráticas de um regime
escapar a um destino sem futuro e critica duramente os que
horas do dia, num desejo de fuga que parece impossível de
que se afastou do campo mas que pretende impor as suas
detém o poder e se aproveitam deste facto.
cumprir para aqueles que, presos na teia da corrupção, não
decisões) e do desejo de fuga que habitava uma grande parte
conseguem pagar o preço exigido, O Homem é um Grande
da população.
Apesar de esta não ser a obra mais importante da autora é
Faisão Sobre a Terra, gira sobretudo em torno da história de
Com frases curtas, que não deixam de lembrar os autores
uma das duas por ora traduzidas para português e uma boa
uma família e do percurso que os leva da aldeia a um outro
russos, Müller descreve, minuciosamente mas com a frieza de
forma de descobrir o universo da escritora, marcado pelo
país.
quem autopsia um corpo inerte, o aviltamento a que se sujeitam
desencanto, o sofrimento, a guerra fria e o totalitarismo. U
plano fixo, e tudo, desta maneira, irrisório, magnífico, não
Não se creia porém que por a acção se desenrolar em Lisboa
A Morte Branca
U
de Pierre Kyria catarina azevedo
teria nem retorno nem seguimento.”
abundam os tipos lisboetas, muito pelo contrário, escrito por
ma vida perfeita seria uma vida sem recordações.
Curiosamente, num livro que termina com o desejo de não ter
um francês o romance retrata sobretudo a comunidade inglesa,
Cada instante seria vivido em. si. Lavaríamos todas as manhãs
memória, toda a história se constrói em torna das recordações
fechada sobre si própria e com códigos de conduta estritos.
um rosto novo, daríamos força, cada dia, a um coração
e de uma cidade na qual se deambula em busca do passado
Uma forma agradável de redescobrir os encantos de Lisboa e
remoçado. Cada hora seria uma sequência, cada minuto um
que se esvaiu, fugaz e evasivo.
certas belezas já esquecidas ou pelas quais se passa sem olhar.U
Mãe, não tenho nada para ler...
Astérix
de Uderzo e catarina azevedo
N
o meio da Gália ocupada pelos romanos uma pequena
aldeia resiste…De certeza que já te divertiste a ler as aventuras de Astérix e Obélix e do seu cãozinho Ideiafix, que já sonhaste ter tanta força como eles ou beber a poção mágica. Se ainda não conheces estes dois amigos não percas tempo e descobre todas as suas aventuras. Será que os romanos vão conseguir vencê-los? Ou será que Astérix e os seus amigos vão enlouquecêlos? Uma palavrinha aos pais – Comemoram-se este ano os cinquenta anos de Astérix, uma ocasião para os pais voltarem a descobrir esta série de banda desenhada que marcou a infância de muitos e partilhá-la com os seus filhos. U
Astérix, Obélix e deiafix com 50 anos
06
Ciência e Ambiente
Pesca Recreativa Hugo Diogo / DOP Uaç
A
não eram devidamente respeitados, indiciando que a fiscalização não estaria a funcionar em pleno. O que mostra claramente tomada de consciência sobre a importância
que o processo de fiscalização tem de ser urgentemente revisto.
sócio-economica da pesca recreativa Açoriana tem sido
Nos Açores continua-se, infelizmente, a cultivar a existência
manifestamente tardia, tal como a avaliação dos seus impactos.
de áreas marinhas protegidas apenas no papel.
Em 2003 no Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP)
A nova legislação de 2007 para a pesca lúdica veio procurar
iniciou-se um estudo que se debruçou sobre a caracterização
preencher uma lacuna que há muito era visível, a parca
da caça submarina na ilha de São Miguel. No entanto este
regulamentação deste sector. Às licenças de pesca e restrição
estudo que abrangeu apenas a uma pequena percentagem das
de capturas diárias da caça submarina, o novo decreto de lei
operações de pesca lúdica observadas acabou por ser um
veio adicionar semelhantes obrigatoriedades às embarcações
catalisador para em 2004 se iniciar um segundo trabalho que
de recreio, possibilitando aos gestores e investigadores garantir
decorreu nas ilhas do Faial e do Pico. Deste novo estudo, de
um maior controlo (ainda que não total) sobre o número de
abordagem mais abrangente, sobressai a estimativa das capturas
pescadores nestas actividades como também sobre o crescimento
da pesca diurna recreativa que se descobriu corresponderem
das capturas deste sector.
a 1/3 das capturas efectuadas pela pesca comercial costeira
Igualmente espera-se dos nossos políticos o difícil equilíbrio
artesanal. Um valor deveras a ter em conta! As actividades
legislativo, que de um lado salvaguarde os ecossistemas dos
mais em foco foram, por ordem decrescente, as embarcações
nossos mares em pleno processo crítico de exploração de alguns
de recreio, seguidas pela pesca a cana de costa e caça
dos seus recursos e que de outro lado garanta a tradição
submarina.
cultural deste sector no panorama Açoriano, não só como
Com alguma consternação, detectou-se que as áreas de reserva
importante actividade de lazer mas também como fonte
integral da apanha da lapa, bem como os períodos de defeso,
económica para algumas pequenas empresas da região. U
A
Limpa (A) Fundo 2009 Pedro Monteiro / OMA
Campanha Limpa (A) Fundo 2009, uma iniciativa
toneladas de lixo.
do Observatório do Mar dos Açores em parceria com o Clube
Entretanto, em terra, os sacos cheios pelos mergulhadores
Naval da Horta e a Dive Azores, teve lugar, no dia 17 de Outubro,
eram puxados para o cais e o lixo separado e pesado antes de
no Porto da Horta e em entre Montes.
ser colocado nos contentores. Entre os resíduos separados
O objectivo principal desta campanha, que já tem vindo a ser
contabilizaram-se 85 pneus, diversas garrafas de vidro e de
realizada em anos anteriores, é o de sensibilizar a população
plástico, latas, roupa, equipamento electrónico, filtros de
local, em especial os jovens e a comunidade piscatória, para
óleo, vários resíduos de equipamento de pesca e uma bateria.
o problema da utilização do mar como local de depósito de
Por seu lado, a limpeza da Baía de Entre Montes esteve a cargo
lixo.
da equipa da Dive Azores, composta por 6 mergulhadores de
Fruto de uma crescente preocupação com as questões ambientais
escafandro autónomo que recolheram 100Kg de resíduos.
que afectam o nosso planeta actualmente, foram muitos
dar o seu contributo por esta causa.
Esta acção de limpeza fez parte da campanha mundial “Clean
os voluntários que às 10 horas se reuniram em frente à lota
A recolha dos resíduos depositados no fundo do mar ficou a
Up the World – Limpar o Mundo” cujo objectivo é levar
para dar inicio aos trabalhos de limpeza. Para tal, foram
cargo das equipas de mergulhadores e apneistas que, durante
participantes, em regime de voluntariado, a tornar mais limpa
formadas equipas com elementos de diversas entidades, alunos
cerca de 2 horas, não tiveram mãos a medir, percorrendo uma
uma zona à sua escolha, organizando um grupo de trabalho
de escolas locais e outros, anónimos, que também quiseram
área de aproximadamente 2000 m2 e recolhendo perto de 2
para o efeito. U
Campanha SOS Cagarro Dina Dowling / Ecoteca do Faial
C
Após a partida dos progenitores para o Hemisfério Sul, nas
Os voluntários poderão acompanhar as notícias e iniciativas,
próximas noites, sobretudo nas nubladas, os juvenis sairão,
assim como, o número de aves recolhidas no Micro Site da
pela primeira vez, dos ninhos em direcção ao mar, mas por
Secretaria Regional do Ambiente e do Mar.U
om o passar dos anos, o cagarro tem-se tornado uma
não dominarem perfeitamente o voo e por serem atraídos pela
das aves mais emblemáticas dos Açores e a sensibilidade para
iluminação pública das povoações caem muitas vezes nas
a sua protecção tem crescido entre os açorianos, de facto o
estradas.
local aonde se encontra a maior concentração da espécie
A Campanha SOS Cagarro é uma iniciativa da Secretaria Regional
Calonectris diomedea é nos Açores.
do Ambiente e do Mar, que decorre anualmente no Arquipélago
Na Europa existem duas subespécies de cagarros com
dos Açores, entre 1 de Outubro e 15 de Novembro e visa
distribuições espaciais distintas: a Calonectris diomedea
envolver a população no salvamento de cagarros juvenis
diomedea que nidifica no Mediterrâneo e a sub-espécie
alertando para a importância de preservação desta espécie
Calonectris diomedea borealis de constituição mais robusta do
marinha.
que a primeira, reproduz-se nas ilhas da Macaronésia, sendo
A Ecoteca e o Serviço de Ambiente do Faial promovem sessões
que 75% desta subespécie nidifica nos Açores.
educativas em estabelecimentos de ensino, concursos, libertação
A população europeia de cagarros encontra-se protegida, no
e largada de cagarros e organizam “Brigadas Nocturnas” para
entanto o seu estado de conservação é desfavorável e tem
recolha e salvamento de cagarros juvenis perdidos nas estradas,
vindo a decrescer nas últimas décadas. Entre as diversas
em conjunto com entidades parceiras (DOP, ONGs, GNR, PSP,
ameaças que estas aves enfrentam destaca-se o perigo de
Polícia Marítima, comunidade escolar e agrupamentos de
colisão e atropelamento.
escuteiros). 07
http://soscagarro.azores.gov.pt
Foto: paulo Henrique Silva
Fazendus