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Pintura EugĂŠnia Rufino
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opinião
Estado Social
Mário Moniz A adesão aos princípios que assumem a necessidade e responsabilidade de contribuir para uma resposta colectiva às necessidades das pessoas é uma prática que, em teoria, poucos admitem não acolher ou respeitar. Mas, da teoria à prática “vai um tiro de canhão”. A forma como o tema “Estado social” é tratado no nosso país, traz consigo uma carga avassaladora de cinismo. Uns juram pela sua mãezinha que é a sua profissão de fé, enquanto, na prática, o vão destruindo. Outros não são contra, mas quanto menos melhor. É a velha máxima da diferença entre “dar na cabeça” ou “na cabeça dar”. Em boa verdade, o conceito de Estado social, ou providência, é a negação da forma organizativa duma sociedade liberal. Defender o Estado social com políticas liberais é “querer estar bem com Deus e com o Diabo”. O Estado social assenta em princípios que dão uma resposta colectiva às necessidades de cada uma das pessoas. O sistema liberal professa o individualismo em detrimento da solidariedade. O Estado social tem todo o seu enfoque nas pessoas, no seu direito à saúde, à educação, ao trabalho. O sistema liberal alimenta-se do economicismo, na acumulação do capital, na diferença pelo poder do dinheiro. O conceito europeu de olhar para os que nada têm como uma obrigação do Estado e não apenas como uma mão caridosa estendida pelas organizações bem-intencionadas da sociedade civil pressupõe um aparelho de Estado bem organizado e uma economia saudável.
versus
Liberalismo Nos tempos que correm, nenhuma destas premissas é válida, não só em Portugal, mas na generalidade dos países europeus. Surge então a necessidade de mudança. E, novamente, todos falam do mesmo, mas sem explicar bem o que querem mudar. Aplica-se, então a célebre frase: “Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude”.
Porém, o que permanece igual é o caminho trilhado no sentido da progressiva destruição do Estado social, e o que muda é o aumento das restrições e dos cortes orçamentais na saúde, no ensino e na protecção social. Todo um princípio económico básico, essencial à existência do Estado social
está pervertido. O sistema financeiro deverá ser um meio de apoio ao bom funcionamento da economia, para que esta possa estar ao serviço do bem-estar das pessoas. O sistema liberal “espreme” as pessoas para que a economia esteja ao serviço da especulação financeira. Os teóricos liberais defendem a todo o custo o crescimento económico (leia-se: concentração do poder económico). Baseiam-se nas privatizações e não hesitam em recorrer à entrega, a um par de mãos, aquilo que é de todas as pessoas, sem qualquer excepção, incluindo a privatização da saúde, do ensino, e de bens essenciais como a água, para que quem tenha poder financeiro possa pagar e, assim, com as migalhas restantes, providenciar cuidados de saúde mínimos e o ensino indispensável aos pobrezinhos (“vamos brincar à caridadezinha”). Defendem que saúde e ensino para todos é uma utopia. “O Estado não tem receitas que possam suportar essas despesas!”. Esquecem que melhor para alguns e pior para outros é discriminação e que a opulência, desses alguns, é a carência destes outros. É uma falsa questão a falta de recursos do Estado para garantir a diminuição das disparidades sociais causadas pela sociedade capitalista. É, sim, uma questão de prioridades e de diversificação das receitas. O Estado não pode ser alimentado exclusivamente pela contribuição dos rendimentos de trabalho. Será aceitável
Será aceitável a existência de fortunas acumuladas através de maisvalias imobiliárias e transacções bolsistas que não são tocadas pelo fisco? a existência de fortunas acumuladas através de mais-valias imobiliárias e transacções bolsistas que não são tocadas pelo fisco? Tudo - o presente e o futuro do Estado social - é uma opção política. Com uma forte tributação sobre os dividendos não reinvestidos, distribuídos aos accionistas do sistema financeiro, e não “esquecendo” os paraísos fiscais, para onde “voam” milhões de euros, podem arrecadar-se recursos que, aliados à erradicação dos gastos despropositados e sem controlo, dotam o Estado dos recursos necessários. É criminoso para o Estado social que, a par da subordinação ao sistema financeiro, se gaste tantos milhões com a compra de dois submarinos, considerados “um luxo supérfluo” pelos “patrões” da NATO. Há uma grande ameaça sobre o Estado social, que é incentivada pelos privados. Inculca-se na Opinião Pública a ideia de que os serviços privados de Saúde são mais eficientes e, em simultâneo, desinveste-se no sector público. Caminhamos para o sistema que desvaloriza os cuidados de Saúde básicos aos cidadãos com menos recursos, sistema que outros países começam, finalmente, a dar a ideia de querer abandonar. Queremos retomar o que outros abandonam? Estamos a um passo de já não se poder considerar o que existe como Estado social, e, por isso, é urgente que se mudem as prioridades, porque o fim do Estado social europeu, como quer a actual chanceler alemã, Angela Merkel, seria o colapso da União Europeia.
O jornal Fazendo
capa
Eugénia Rufino Eugénia Rufino| 2006/8 Curso avançado de Artes Plásticas ARCO| 2006 workshop com João Pedro Vale, ARCO| 2007 workshop de vídeo ARCO, Pedro Fortes| Seminário “Traços da Criação Coreográfica Actual”, Museu Serralves, Maria José Fazenda| 2005/6 formação em pintura na Slade School of Fine Arte, Londres| 2004 workshop de pintura e desenho figurativo Next Art| workshop de gravura ARCO| 2003/6 curso de pintura ARCO|
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2006 fundadora de “Broken Heart Ateliers com Volker Schnuttgen. Exposições| projectos: 2005, “Verão”, ARCO| 2007 Iniciativa x, Galeria de Arte Contemporânea, Lisboa| Comunidade Global, Fábrica Braço de Prata| Open Studio, ARCO| 2008, GurbergelHouse – Londres| Maus Hábitos, Porto| LaborGras, Residência Artísitca no Espaço do tempo, Montemor-o-Novo| 2009, VIVE-ARTE, Exposição Internacional
de Artes Plásticas de Villafranca de los Barros, Espanha| Reflection – Houston, USA| 35x25, Palácio Glaveias, Lisboa, Beja e Santarém| School out – out of school, Galeria Arthobler, Londres, LX Factory, Lisboa| 2010, Evolução, Biblioteca Municipal do Camões, Lisboa. 2009, Menção Honrosa, Museu Jorge Vieira/Câmara municipal de Beja.
vem por este meio induzir os caros leitores a hipoteticamente fazerem o exercício de pensar na eventualidade de, quem sabe, poderem de forma livre e espontânea vir a ponderar uma possível colaboração com o jornal, tomando o mesmo a liberdade de, num cenário previsível de algumas interrogações, adiantar que esta colaboração poderá ser materializada através de artigos de opinião, textos literários de fino ou grosso recorte, pequenos apontamentos, devaneios ficcionais, emocionais, etc, que poderão corajosamente e para bem desta república, ser remetidos à nossa redacção, onde serão submetidos a sessões espíritas, experiências com animais, e por fim à impiedosa jurisdição do lápis azul. Obrigado
FICHA TÉCNICA: FAZENDO - Isento de registo na ERC ao abrigo da Lei de Imprensa 2/99 de 13 de Janeiro, art. 9º, nº2 - DIRECÇÃO GERAL: Jácome Armas - DIRECÇÃO EDITORIAL: Pedro Lucas - COORDENAÇÃO GERAL: Aurora Ribeiro COORDENADORES TEMÁTICOS: Albino, Anabela Morais, Carla Cook, Filipe Porteiro, Helena Krug, Luís Menezes, Miguel Valente, Pedro Gaspar, Pedro Afonso, Rosa Dart - COLABORADORES: Eduíno de Jesus, Mário Moniz, PNF, Sara Soares, Tiago Vouga, Tomás Melo, Victor Rui Dores - PROJECTO GRÁFICO: Nuno Brito e Cunha - PROPRIEDADE: Associação Cultural Fazendo SEDE: Rua Rogério Gonçalves nº 18 9900 Horta - PERIODICIDADE: Quinzenal TIRAGEM: 400 exemplares IMPRESSÃO: Gráfica o Telégrapho CONTACTOS: vai.se.fazendo@gmail.com
APOIO: DIRECÇÃO REGIONAL DA CULTURA
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breves e superficiais considerações sobre história da música
Tecnologia, filosofia e música
música
Pedro Lucas A música nasce possivelmente antes da comunicação verbal por emulação dos sons naturais pelos primeiros homens, ainda antes da sua difusão pelo planeta a partir de África. Assim o primeiro instrumento que o homem terá tido à sua disposição foi a voz, e as primeiras “músicas” não terão passado de sons vocais elementares utilizados para expressar determinadas emoções (daí que a música se entenda universalmente independentemente da língua). É de crer que o primeiro desenvolvimento desta arte em potência apareceria pelo acompanhamento rítmico das ditas vocalizações por palmas e outros sons feitos com o corpo, e será daqui que nasce o primeiro instrumentista: eventualmente alguém que tentou imitar esses ritmos com pequenos paus num tronco ou algo semelhante. Do “tronco percutido” aos sintetizadores digitais passaram-se alguns milénios de aprimoramento de técnicas, de materiais, dos instrumentos e dos timbres resultantes. Pelo meio de revoluções técnicas, ideológicas e económicas passámos por Antonio Stradivari, Thomas Edison e Robert Moog e passamos também por Bach, Wagner, Miles, Hendrix, Stockhausen, Afrika Bambaataa e Ryoji Ikeda.
Não se vai aprofundar aqui a promiscuidade existente entre transformações sociais, técnicas, filosóficas e artísticas mas vamos assumir que todas se alimentam entre si. É óbvio assumir também que a música se encontra no meio de todas essas convulsões, e como tudo o resto, empurra e é empurrada.
no início não se pretendia mais que imitar a natureza ou expressar uma ou outra emoção através de sons, na Grécia Clássica já se utilizava a música para acompanhar narrativas e hoje falamos em música conceptual e instalações sonoras com intenções semióticas que ultrapassam em muito meros efeitos dramáticos.
Os músicos criam música com os instrumentos que são da sua época, mas também ajudam a desenvolvê-los - a comunicação entre intérpretes famosos e os construtores de instrumentos é prática comum. Para além das condicionantes técnicas os músicos são também influenciados pelos contextos ideológicos que os envolvem - não é por acaso que a música atonal surge no período associado ao modernismo ou que o romantismo surge como resposta à revolução francesa, mais racional. Para fechar o triângulo há que considerar que as revoluções ideológicas acompanharam sempre os desenvolvimentos técnicos e científicos à época e vice-versa.
Assim sendo é perfeitamente natural que as primeiras músicas consistissem em sons vocais e percussões primitivas tocadas à volta de fogueiras por homens interessados em pouco mais que caçar e colher frutos para sobreviver. É igualmente natural que hoje, sendo nós rodeados por um mundo sonoro onde cabem o motor do carro, o barulho da máquina de café e do frigorífico, vozes robóticas em supermercados, uma miríade de “bips” e “blops” que vêm do telemóvel ao microondas, etc, e onde continuam a caber os sons natureza (pelo menos por enq u a nt o),
Dos primeiros homens ao homem contemporâneo houve uma evolução e complexificação exponencial da linguagem e dos sistemas mentais que é espelhado também na música feita, ela própria mais complexa. Enquanto
a música produzida seja um reflexo dessa envolvência. Quer seja electrónica, acústica, electro-acústica, punk, hip-hop, erudito, jazz, folk, a solo, em orquestra ou resultado de qualquer combinação entre as anteriores e muitas mais, a música, assim como todas as artes, é e será sempre sintomática das vivências de quem produz e do contexto em que é produzida. Quem quiser imaginar a música que será feita daqui a 100 anos terá de começar por imaginar como será a sociedade nessa altura, em termos técnicos, sociais e ideológicos.
Pop, Folk e Clássico (ou Popular, Tradicional e Erudito)
número de géneros que ganham mais adeptos quanto mais se desenvolvem os grandes centros. (os exemplos iniciais mais reconhecíveis serão o Swing Jazz e as Big Bands dos anos 20.) O aparecimento dos registos fonográficos, da rádio e da televisão vão ser os grandes responsáveis pelo enorme
Pedro Lucas Apesar da sua origem comum, a evolução da música que acompanhou a história do homem foi-se especializando em diferentes categorias que até à relativamente pouco tempo estavam intimamente ligadas a determinadas classes sociais. Até à revolução industrial, sensivelmente, dividíamos a música em Erudita e Tradicional. A primeira, como a própria tradução em inglês indica, Art Music, refere-se à música tomada em si própria, como arte, onde independentemente de servir ou não outro propósito, é considerada exclusivamente pelo seu valor estético. Esteve quase sempre associada às elites intelectuais, normalmente pertencentes às classes sociais mais abastadas. Na música tradicional o valor estético é deixado para segundo plano sendo utilizada sobretudo para servir ou acompanhar determinadas funções imediatas: celebrações religiosas ou históricas, funerais, rituais, danças, etc. No séc. XVIII, num contexto político bastante especial na Alemanha, este género daria lugar ao conceito de
folk (do alemão “povo” e na origem etimológica de Folclore). Serviria este para reforçar e promover a identidade nacional, considerada ameaçada pelos valores mais racionais do Iluminismo, no qual se inseriam as elites mais cosmopolitas. Este carácter de cultura local, regional ou nacional está ainda hoje ligado à música tradicional.
existem maestros e solistas clássicos elevados à condição de “super stars” e cantaurores com origens marcadamente folk, como Bob Dylan ou Zeca Afonso
Durante o século XIX, e por consequência da revolução industrial, do aparecimento de grandes centros urbanos e da classe média, surge uma nova categoria subsidiária das anteriormente descritas: a música popular. Certamente mais cosmopolita que a música folk mas ainda sem a sofisticação estética da música erudita, a música popular compreende um sem
protagonismo que a música popular tem ainda hoje. Este posicionamento da música popular enquanto comodidade ou produto de entretenimento vai custar-lhe, com maior ou menor justeza, uma certa conotação negativa, considerada muitas vezes de vulgar em relação à autenticidade ou genuinidade da música tradicional e à integridade estética e artística da música erudita.
É também verdade que cada vez mais as barreiras entre estas categorias se estão a dissolver, ao ponto de vários musicólogos defenderem uma nova “taxonomia”. A cada vez maior diluição das classes, o acesso generalizado à educação, o desenvolvimento dos meios de comunicação entre outros factores estarão na base desta crescente homogeneidade. Aquilo que antes era um triângulo de três vértices mais ou menos bem definidos começa progressivamente a assemelhar-se com um salutar círculo de infinitas nuances, facilmente notado na forma como cada vez mais os artistas saltam entre as diversas categorias, quer musicalmente quer nas práticas da indústria – p.e. existem maestros e solistas clássicos elevados à condição de “super stars” e cantaurores com origens marcadamente folk, como Bob Dylan ou Zeca Afonso, que vendem milhares de discos. Até ver não existem indícios de que a mescla abrande o que nos levará a cada vez mais objectos musicais diferenciados, mais experiências, mais ideias, novas formas de encarar o som, novas técnicas e, em suma, maior riqueza musical.
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arquitectura e artes plásticas Luís Menezes A exposição de pintura contemporânea organizada pelo Museu da Horta e patente na Sala Polivalente da Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça, com a designação de Hochezeit |momento alto| e da autoria da artista plástica Eugénia Rufino, assinala o Dia Internacional dos Museus - 18 de Maio.
exposição de pintura
“istórias” pintadas resumidas e sensíveis
percurso temporal desde a infância à maturidade, e que nos arrasta para a introspecção pessoal de memórias e emoções.
Eugênia Rufino dá-nos aqui a mão para uma viagem no tempo perdido e por ela encontrado, com composições evocativas de momentos circunstanciais que revelam um generoso empenhamento por valores individuais e colectivos de partilha e convivência.
Esta amostra de pintura a óleo sobre tela, estrutura-se a partir de apontamentos do quotidiano tão triviais quanto comuns no nosso percurso individual e colectivo, que não se contém numa fronteira de identidade nacional ou diferenciação humana. É a captação de instantes narrativos que como afirma a autora “(…) Visa uma pequena reflexão sobre “rituais que são comuns ao indivíduo enquanto membro da comunidade independentemente do seu país de origem e que tem como ponto de partida imagens fotográficas dessas memórias (…) Recorrendo ao título Hochezeit|, termo de origem alemã que significa casamento e que a autora traduz livremente para “ momento alto”, a exposição desenha-se a partir da uma sequência de poses figurativas nos momentos mais plausíveis da nossa existência, que configuram um
projecta vivências de um quotidiano de experiências únicas mas, universais, que como ela própria nos diz pretende exprimir “ (…) exactamente a essência do sentimento aqui abordado e que nos faz simultaneamente tão individuais e colectivos. Enfim, o que nos faz ser tão humanos ...
Não lhe interessa o recorte preciso, porque mais do que isso o importante é a atitude tanto como o instante, que
Recorrendo especialmente ao figurativo, o espaço não é o foco essencial da atenção da pintora, embora não seja a abstracção da realidade. O crucial é a evidência do momento obtido através da gestualidade das figuras, onde os adereços e objectos reforçam a circunstância. Por outras palavras, o pincel de Eugênia Rufino conta-nos “istórias” que partilhamos, onde o importante é o momento. De resto, a beleza humana está ausente desta pintura. As figuras humanas são tratadas de forma sucinta, e as cores com maior ou menor carga expressiva nunca são intensas ou de violentos contrastes, antes pelo contrário,
emergem na tela de forma contida à medida da carga emocional plausível da memória de um tempo sem retorno. Do mesmo modo, a pincelada a óleo é delicada, e a suavidade das cores é recortada só quando necessário por tons escuros, para projectar as sombras e nos indicar a direcção da luz, gerando atmosferas que reportam a um mundo cândido. A obra simplificada de Eugênia Rufino, retém por si só um valor formal capaz de no imediato absorver a nossa atenção, onde o “godé” de cores suaves e o equilíbrio gráfico, recupera para a tela reminiscências no âmbito de um certo expressionismo lírico. Neste conjunto de obras, a autora presta-se a um diálogo plástico com o recôndito do seu íntimo, revelando uma apurada sensibilidade vivencial, grávida de uma carga emocional conservada pela sua inteligência artística. Esta pintura tem poesia no feminino, porque tem o encanto do sensível numa composição resumida.
exposição de fotografia
Click Faial ERRATA No artigo “A Criatividade mora aqui ao lado” de Lia Goulart, publicado na edição anterior (nº59) nesta mesma página de Arquitectura e Artes Plásticas, foram, por lapso, deixados dois parágrafos no fim do texto que não estavam no artigo original. O leitor atento terá compreendido que eram dois parágrafos publicados numa edição anterior, num texto de Joana Soares e que, no processo de paginação, não foram apagados. Pelo facto pedimos aos leitores e, sobretudo, às autoras, as nossas desculpas.
Consiste num grupo de pessoas da ilha do Faial, nomeadamente, Hildeberto Garcia, Paulo Gabriel, Emanuel Raposo e Vítor Silva, que partilham o gosto e a paixão pelo mundo da fotografia amadora. O seu objectivo é divulgar, apresentar e partilhar tudo o que seja relacionado com a fotografia amadora e, em particular, na ilha do Faial desde a criação e organização de raids fotográficos, eventos fotográficos, workshops, formação, exposições, dicas, etc. Este grupo não tem quaisquer fins lucrativos. Qualquer pessoa que queira promover as suas fotografias poderá fazê-lo através da ClickFaial. Para tal, basta enviar as suas fotos para clickfaial@gmail.com e estas serão colocadas na página da ClickFaial no facebook, onde serão devidamente identificadas com o nome do autor. Este grupo já organizou três raids fotográficos: Raid Fotográfico Porto Pim, Raid Fotográfico Cidade da Horta e por último Raid Fotográfico Monte
da Guia no dia 8 de Maio. No início de cada raid é distribuído, a cada participante, uma folha informativa na qual consta um mapa do percurso a ser efectuado, bem como algumas referências a locais, património, fauna, flora a serem fotografados. A adesão aos raids tem sido razoável mas espera-se que, com a organização de mais eventos, haja uma maior adesão dos locais. A exposição patente na Casa de Chá e Bar é resultado de todos os participantes do Raid Fotográfico Cidade da Horta. Nela constam três fotos de cada participante, em suporte de papel nas dimensões de 10x15 cm e ainda dez fotos de cada participante em formato digital que serão exibidas por um projector. ClickFaial agradece, desde já, a ajuda prestada pela Casa de Chá através da cedência do seu espaço para esta primeira exposição. De futuro o grupo ClickFaial conta em fazer mais exposições. O ClickFaial apela à participação dos interessados.
Fotografia Lúcia Sebastião
ClickFaial é algo de muito recente, criado no dia 17 de Janeiro de 2011.
Fotografia Paulo Gabriel
Paulo Gabriel
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Introdução da Arte Abstracta em Portugal A designação de arte abstracta aplica-se comummente a todas as obras de pintura e escultura assim como às correntes ou tendências estéticas em que estas se integram (v.g., o raionismo, o orfismo, o suprematismo, o neo-plasticismo, a abstracção lírica, o expressionismo abstracto, o gestualismo, a action painting , o tachismo, o dripping, a arte informal, etc., etc.), cuja teoria geral se articula em torno dos valores pura e exclusivamente formais da obra artística, eliminando desde aí, portanto, o princípio clássico da imitação ou representação do real pela arte, e passando a não considerar essa imitação ou representação uma categoria artística. Segundo esta teoria, são as formas puras - quer dizer, as formas desprovidas de qualquer função representativa ou mimética (como os sons na música, por exemplo) - que, na obra de arte plástica, devem despertar, na sua própria e pura formatividade, a emoção estética. O ponto de partida para esta arte pode rastrear-se até à pintura impressionista surgida em França no 3º quartel de Oitocentos, em que as cores e a sua distribuição na superfície plana do quadro já começavam a ganhar certa autonomia estética em relação à representação da Natureza. A busca dessa autonomia prosseguiria depois, ainda no século XIX, principalmente com os neo-impressionistas, e logo a seguir, já na primeira década de Novecentos, com os fauves (1903), os cubistas (1907) , os futuristas (1909) e outros grupos e artistas isolados, atingindo a plena abstracção em 1910 com Kandinsky e logo também com Larionov e sua mulher Nathalia
literatura
e alguma contribuição açoriana
Gontcharova, Kupka, o casal Robert e Sonia Delaunay, que viveu algum tempo em Portugal, Mondrian, Malevitch, etc.. Daí por diante a arte abstracta não deixaria mais de estar presente na História da Arte, multiplicando-se em movimentos, tendências, escolas, correntes, estilos, numa procura incessante de renovação que, por vezes, tem atingido o paroxismo (como em Pollock, Tobey, Wols, Mathieu, por exemplo). Entre os artistas de várias origens que, nos começos do século XX, se encontravam estudando ou trabalhando em Paris - onde as novas tendências da arte convergiam e se estimulavam reciprocamente - encontravam-se também alguns açorianos, que, com outros portugueses (entre os quais Amadeo de Souza-Cardoso, Santa Rita Pintor, Eduardo Viana, Francisco Smith, Emmérico Nunes, Manuel Bentes, etc.), ali procuravam igualmente aperfeiçoar a sua arte com alguns mestres consagrados ou apenas conviver com outros artistas num ambiente mais evoluído do que o de Lisboa ou do Porto daquela época. Desses artistas açorianos sobressaíam o escultor Ernesto do Canto, que depois passaria a assinar Canto da Maia, e os pintores Domingos Rebelo e Francisco Álvares Cabral. Os três vieram a ter certo relevo nas primeiras exposições de artes plásticas que se realizaram em
Portugal fora da tradição académica no triénio que precede a I Guerra Mundial (a partir de 1911). Nenhum deles, porém, foi atingido pela influência da arte abstracta. Aliás, dos portugueses desse tempo, também só três, e mesmo assim ocasionalmente, pagaram tributo ao Abstraccionismo: Amadeo de Souza-Cardoso, com dois quadros pintados em Paris e expostos no I Salão de Outono da galeria alemã Der Sturm (1913), Santa Rita Pintor, com ilustrações nas revistas modernistas Orpheu 2 (1915) e Portugal Futurista (1917), e Almada-Negreiros, com várias composições abstractas só mais tarde reveladas ao público, entre as quais a célebre Sinfonia do Amarelo (1913). Quaisquer dessas pinturas, porém, não abriram caminho ao Abstraccionismo em Portugal, nem sequer foram marcantes no contexto do Modernismo . Seria só a partir da 2ª metade da década de 40, com as primeiras pinturas abstractas de Fernando Lanhas e Nadir Afonso e as primeiras esculturas abstractas de Arlindo Rocha e Fernando Fernandes que o Abstraccionismo havia de iniciar propriamente o seu percurso em Portugal. Nesse percurso convergiram desde o início alguns artistas que viriam (e alguns já começavam) a ser dos mais representativos no panorama da arte portuguesa moderna, seguindo ou não na senda estrita do Abstraccionismo, como Joaquim
Rodrigo, Artur Bual, Cargaleiro, Menês, Jorge de Oliveira, Nuno de Siqueira, René Bertholo, por exemplo. Houve também artistas provindos de outros movimentos, principalmente do Surrealismo (ver Fernando de Azevedo, Cândido Costa Pinto, Vespeira, etc.), que se cruzaram com os abstraccionistas por alturas da transição do meio século. Entre estes conta-se o pintor açoriano António Dacosta, um dos iniciadores do Surrealismo na pintura portuguesa em 1940. No ano de 1948 pintou vários quadros abstractos, dos quais dois vieram a ser apresentados na primeira exposição colectiva do Grupo Surrealista de Lisboa em 1949. Esta sua contribuição para o Abstraccionismo foi, porém, episódica, posto que ainda viesse por várias vezes a reincidir em experiências do mesmo género.
Pintura Amadeo de Souza-Cardoso
Eduíno de Jesus
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A realização do I Salão de Arte Abstracta em Lisboa no meado da década de 5O (1954) ainda suscitou reacções agressivas do público, mas o próprio facto de já se justificar então um salão de arte portuguesa abstracta é um indicador claro de que o Abstraccionismo em Portugal havia deixado de se confinar a uns tantos casos marginais para se tornar um movimento . De facto, a Arte Abstracta já começava então a disputar ao Neo-Realismo e ao Surrealismo um espaço próprio na vanguarda da arte portuguesa e pode-se dizer, de resto, que os anos 50 foram os do seu apogeu em Portugal, a pontos de se justificar uma retrospectiva de Arte Abstracta mesmo antes do fim do decênio, em 1958.
açoriando
Os Silos do Silêncio Esta antologia pessoal reúne as poesias mais emblemáticas do autor de 1948 a 2004 – meio século de poesia que passeou por tão diferentes caminhos e temáticas que julgamos, por vezes, estar perante diferentes autores. Por isto mesmo, é difícil etiquetar a obra. Na busca de contextualizações, notam-se influências maiores como a do concretismo e a do simbolismo, com alguns traços românticos. Mais fácil é dizer que o autor segue o caminho multifacetado e caleidoscópico da Modernidade. Redutor também é falar-se de uma obra tematicamente centrífuga, numa poesia que tanto explora, e com o
de Eduíno de Jesus
mesmo à vontade na pena e no sentir, a metafísica como o quotidiano nas suas múltiplas vertentes e, entre estes dois pólos, as artes. Obra não completa de um autor que continua a surpreender, mas, seguramente, condensado mimo poético coligido pelo próprio e com direito a Inéditos. A perspicácia do leitor exige-se. Eduíno de Jesus nasceu em S. Miguel em 1928. Foi docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e, mais tarde (entre 1979 e 2000), regente da cadeira de Teoria de Literatura na Universidade Nova da mesma cidade. Foi um dos directores da Enciclopédia
Luso-Brasileira de Cultura da Verbo e ainda colaborador da Enciclopédia de Leitura Biblos e do Dicionário Cronológico de Autores Portugueses. Embora a sua obra seja mais profícua e conhecida no campo poético, não se limita a este, tendo igualmente publicado artigos, crónicas, contos e drama. Polímata activo, escreve continuamente sobre vários assuntos. É conhecida a sua actividade dinâmica enquanto Presidente da Casa dos Açores em Lisboa entre 2003 e 2009, que lhe valeu o merecido epíteto em l iv ro publ icado pelo I AC de “Eduíno de Jesus A C a(u) s a do s Aç or e s em Lisboa”.
Eduíno de Jesus
Carla Cook
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cinema e teatro Victor Rui Dores
espectáculo
Teatro Sénior
O teatro tem iluminado a minha vida nos últimos 30 anos, e nele tenho bebido “o leite da bondade humana” de que fala Shakespeare. Mas é na minha qualidade de professor da disciplina de Expressão Dramática da Universidade Sénior da Ilha do Faial que escrevo estas breves linhas, a propósito da recente estreia, no Teatro Faialense, da peça “O cantinho do Jacinto”, de que sou autor e encenador. Há um ditado norte-americano que diz que nós temos quatro idades: a primeira é a infância; a segunda é a adolescência; a terceira é a juventude; a quarta e última idade chama-se: “Você está com bom aspecto”.
Ora, os meus actores e actrizes da Universidade Sénior, com idades compreendidas entre os 60 e os 80 anos de idade, estão com bom aspecto. E são a prova provada de que a aprendizagem ao longo da vida não é uma mera figura de estilo. Nunca é tarde para se fazer seja o que for, nem que seja representar pela primeira vez aos 70 anos de idade. Os meus alunos e alunas atingiram a reforma. Mas a reforma não significa o fim de uma carreira; significa tão somente que vamos ficando mais vividos, menos jovens e menos magros… E não há limite de idade para quem continua a ter sonhos e projectos de
espectáculo
Romeu e Julieta
vida. Esta é uma grande lição para quem, como eu, trabalha no dia a dia com jovens actores do ensino secundário. Até porque a lei só tira o exercício ao funcionário; o homem e a mulher exercem enquanto vivem. Por conseguinte, trabalhar com gente sénior tem sido, para mim, uma experiência muito enriquecedora. Assinalo as relações afectivas e de solidariedade geradas no interior do grupo. Venham ver como eles respiram em cima do palco. Venham apreciar a dicção mais que perfeita da dona Emília Andrade, uma jovem de oitenta primaveras.
oficina
Teatro do Oprimido
com Tomás Motos
Tiago Vouga Tiago Vouga
O L.C. Sem Companhia – Grupo de Teatro Experimental está de regresso ao Faial. Apenas cinco meses depois da sua belíssima interpretação de “Monólogos da Vagina”, traz-nos novamente um projecto surpreendente e ambicioso - uma versão one man show de Romeu e Julieta.
Decorreu no Centro do Mar, organizado pelo Teatro de Giz no âmbito dos Encontros Filosóficos e sob orientação de Tomas Motos, Doutorado em Filosofia e Ciências da Educação, investigador e professor universitário. Com uma componente prática muito forte, abordou-se primeiro o conceito de opressão, através de várias formas de expressão (palavra, som, desenho,...), todas partes integrantes
Uma original abordagem à obra de William Shakespeare, numa adaptação, encenação e interpretação de Luís Carvalho, um desafio à medida de um intérprete de excelência, o que Luís Carvalho já demonstrou ser.
Touro auróscopo
22 de Abril a 22 de Maio
Aurora Ribeiro
Não é a primeira constelação apresentada nesta rúbrica que homenageia uma infidelidade de Zeus.
Neste caso Zeus apaixonou-se por Europa, jovem princesa que brincava na praia com algumas amigas. Para a atrair, o deus transformou-se num lindo touro todo branco e com uns cornos parecidos a luas em quarto crescente. Nesses preparos, deitou-se aos pés da rapariga, que a princípio se assustou, mas depois afagou o bicho, acariciando-o e montando-se no seu dorso. Aproveitando a ocasião, o touro
corre para o mar, levando-a às costas apesar dos gritos desta, que se agarra com todas as suas forças aos grandes cornos. Chegados à ilha de Creta, Zeus consuma o seu amor pela jovem (esperamos que antes tivesse retomado a sua forma original) à sombra de plátanos. Desta união nasceram três filhos. O mais velho deles, Minos, veio a ser rei de Creta e sua mulher Pasífae apaixonar-se-ia mais tarde perdidamente por um touro, gerando depois o Minotauro que daria origem à sobejamente conhecida lenda do labirinto.
Outras versões são dadas para a origem mitológica da constelação, o que é certo é que parece associar-se à figura de um bovino já desde tempos imemoriais. A constelação é facilmente reconhecível e inclui dois grupos estelares, as Plêiades e as Híades. As Plêiades, mais famosas, também conhecidas como “sete-estrelo”, por se poderem contar sete estrelas à vista desarmada são afinal um cúmulo aberto, onde um grupo consideravelmente maior do que sete está imerso numa nebulosidade difusa. A mitologia grega liga estas sete jovens irmãs à constelação de Orionte, que por elas se terá apaixonado (por todas - é preciso explicar que ele era um gigante). Para as proteger, Zeus terá transformado as meninas em estrelas e colocou-as sob a segurança do Touro (um avatar dele próprio, a acreditar na lenda de Europa).
da metodologia desenvolvida por Augusto Boal; depois partindo para as situações vivenciadas pelos participantes, para as compreender e ensaiar novas formas de acção. Na base de todo o trabalho, o jogo e a forma generosa como os participantes se envolveram, expondo alguns dos seus receios, estudando-os em conjunto, aceitando as hipóteses de resposta propostas pelo grupo, sempre com boa disposição e espírito de cooperação.
No Alentejo, uma lenda pastoral explica a existência destas estrelas assim: o “sete-estrelo” é um rebanho de cabras, a quem o pastor (Sírio, a estrela mais brilhante do céu) atirou um cajado (as três Marias ou o cinturão de Orionte), para as espantar de onde não deviam estar. Não se pode escrever um artigo sobre Touro sem mencionar Aldebarã, a sua estrela mais brilhante, uma gigante vermelha de fácil identificação e que se considera ser o olho direito do Touro. Os nativos do signo partilham com o animal a solidez e a capacidade de suportar situações adversas sem problemas, tal como o touro carrega o jugo e trabalha sempre. São obstinados e têm uma enorme capacidade de construir a sua vida de uma forma própria e coerente. O verbo do signo, como já foi apresentado, é “eu tenho”, no sentido de capacidade para, poder de construção, matéria-prima para conseguir algo mais.
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12 a 26 MAI. 2011
dop / universidade dos açores
Fotografia Nuno Rodrigues
Subida ao Vulcão dos Capelinhos
PNF A erupção do vulcão dos Capelinhos, iniciada em 1957, criou aquela que ainda hoje é a paisagem mais recente de Portugal e única no panorama internacional. Este trilho possui uma extensão de 3,2 km e tem início junto do centro de interpretação. À medida que caminhamos sobre as cinzas resultantes de erupções submarinas, cedo nos apercebemos que estamos perante uma paisagem “lunar”. A Este podemos contemplar o alinhamento de cones vulcânicos Caldeira-Capelinhos, parte integrante do Complexo Vulcânico do Capelo. Este é um importante ponto de nidificação de uma espécie de ave marinha em vias de extinção, o garajau-rosado (Sterna dougalli). A época de nidificação desta ave coincide também com a época estival e de maior afluência de visitantes pelo que se deve ter atenção e não se aproximar ou provocar qualquer perturbação. Durante o trilho encontram-se assentes numa base de cinzas, inúmeros materiais piroclásticos soltos, como por exemplo bombas e bombetes, resultantes das erupções terrestres (sub-aéreas) dos Capelinhos. Uma vez no topo tem-se uma visão privilegiada de todo o Vulcão do Costado da Nau (de características semelhantes ao vulcão dos Capelinhos) e do farol dos Capelinhos. Na descida revelam-se algumas espécies de flora, como o caso do bracel-da-rocha (Festuca petraea) e, em menor quantidade, espinafre (Tetragonia tetragonioides), e a diabelha (Plantago coronopus). Localiza-se aqui também, a maior colónia de gaivotas (Larus michahellis atlantis) do Faial. Os habitats extremos do vulcão são hostis para a maioria das aves terrestres e, nesta zona, apenas os milhafres (Buteo buteo rothschildi), talvez uma das raras excepções, efectuam incursões dentro da área do vulcão, para se alimentarem em campo aberto, onde a possibilidade das potenciais presas se ocultarem é menor. Os invertebrados, especialmente os artrópodes e moluscos constituem uma fracção importante da comunidade onde se destaca o escaravelho-das-rochas do Vulcão dos Capelinhos (Gietella faialensis). O trilho termina com o regresso pelo caminho inverso em direcção ao Centro de Interpretação do Vulcão.
Precária na Ciência versus
Sílvia Lino
ciência e ambiente
Ciência Precária
Tenho 31 anos, trabalho há quase 7 anos em investigação científica em Portugal e sou precária. A minha precariedade tem já um longo currículo: trabalhei como estagiária, como voluntária, com bolsas de investigação, a recibos verdes e actualmente tenho uma bolsa de doutoramento. Não sei o que é gozar um subsídio de férias ou de Natal e quando tenho a sorte de ter uma bolsa tenho direito a 22 dias de férias por cada 12 meses de bolsa. Também posso dizer que sou uma das sortudas que nunca esteve mais de 5 meses sem trabalho (o que não é o que acontece a muitos colegas que mesmo com currículos considerados muito bons passam por vezes mais de um ano sem bolsa ou outra forma de trabalho em ciência). Durante estes meses, entre bolsas, não temos direito a qualquer subsídio de desemprego, mesmo com todos os descontos para a segurança social em regime voluntário. Só sobrevivo graças a alguma ginástica financeira (com alguma tristeza confesso que apenas
o consigo sem passar fome graças a algum suporte familiar), não tenho casa própria (arrendo), conduzo um carro com mais de 15 anos e vivo uma vida simples. E porquê? Porque padeço de um mal comum a todos os cientistas: teimosia crónica. Fazer ciência em qualquer parte do mundo já é por si um desafio. Fazê-lo em Portugal e numa região como os Açores é quase uma missão impossível... mas esta vontade de sermos mais e melhores, mesmo com todas as contrariedades leva-nos a reinventarmo-nos e encontramos soluções onde nunca ninguém antes tinha procurado. Em Portugal faz-se muito boa ciência mas se esta avança e nos leva além fronteiras é à custa de muitos precários, teimosos que não querem desistir.
e orgulha-se mesmo de colocar a Universidade dos Açores em tops mundiais em termos de trabalhos científicos publicados. Oficialmente este departamento universitário tem um quadro permanente de 10 investigadores e docentes e 17 funcionários. Na prática no DOP trabalham mais de 110 pessoas, grande parte destas... precárias. Mas até quando? pergunto eu. Quanto mais tempo vamos nós continuar a (sobre)viver apenas por esta paixão pela ciência marinha? Que futuro temos nós, os precários da ciência...? Eu, para já, não vejo muitas saídas: “quando esta bolsa acabar lá vou ter eu de emigrar!”
O Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores (DOP) é uma das instituições que, a nível nacional, mais artigos científicos produz na área das ciências do mar
Precariedade Sílvia Lino
A palavra que define a sociedade actual… e que está a tomar conta das nossas vidas sem que muitos de nós saibamos sequer o seu significado. A “precariedade” refere-se a uma situação geral de escassez de dinheiro e protecção social, que leva a uma situação de instabilidade, insegurança e a uma pressão para aceitarmos trabalho a qualquer preço. Corresponde a um certo “modo de vida” que nos é cada vez mais imposto e que é caracterizado pela fragilização dos direitos de cada trabalhador garantindo apenas as condições mínimas que nos permitem sobreviver, por privilegiar a redução dos custos para o empregador e a redução das condições de vida do empregado. Para saberes se és “precário”, responde às seguintes questões: 1) Trabalhas com contratos a prazo (às vezes apenas de 3 a 6 meses), quando estás a executar tarefas que são uma necessidade permanente da tua empresa ou instituição? 2) Trabalhas com horário e local fixo, usando material da empresa ou instituição mas tens de passar recibos como se fosses um “trabalhador independente” e pagar segurança social do teu bolso? 3) Realizas trabalho mas és pago com uma bolsa que não te dá direito a subsídio de férias, de natal e nem sequer direito tens a subsídio de desemprego quando esta termina? Se respondeste a pelo menos uma destas questões com sim então fazes parte dos 2 milhões de precários que existem em Portugal!
A perda gradual das regalias sociais colectivamente asseguradas (pelos nossos pais com a revolução do 25 de Abril) e institucionalizadas pelo Estado social é um facto incontornável. A precariedade é hoje em dia a proposta que está a ser imposta em todas as relações laborais. É um processo que chega a todos os novos assalariados atingindo os mais jovens com maior impacto mas que já está a alastrar por todas as gerações. Não cedas à Chantagem... TODOS Contra a Precariedade Depois da manifestação de 12 de Março de 2011, que juntou mais de 300 mil pessoas em todo o país e cerca de 60 pessoas nas ruas da Horta (“Quando a Luta bate à Porta (afinal) a Horta Não Está Morta!”), vários movimentos de precários por todo o país resolveram não se ficar apenas pelo protesto mas sim apresentar soluções para
combater a precariedade que o país vive atualmente. Daqui resultou uma proposta de lei que pretende criar mecanismos de combate à precariedade. A Lei Contra a Precariedade é uma iniciativa legislativa de cidadãos, o que significa que é uma lei apresentada por cidadãos diretamente ao Parlamento para que os partidos a votem. Nesta primeira fase a proposta centra-se nas 3 principais formas de precariedade laboral: os falsos recibos verdes, os contratos a prazo e o trabalho temporário (para consulta da proposta na totalidade e outras informações vai a http://www.leicontraaprecariedade. net) A proposta, necessita de 35 mil assinaturas para poder ser apresentada ao Parlamento o que significa que é preciso a TUA assinatura! Quando alguém te abordar com a proposta, assina! E porque toda a ajuda é bem vinda, porque não seres Tu próprio a recolher assinaturas entre amigos, família e mesmo na rua. Se quiseres dinamizar uma recolha de assinaturas aqui na Horta, envia para o e-mail da iniciativa (leicontraaprecariedade@ sapo.pt), um contacto e o local ou zona onde pretendes recolher. A recolha de assinaturas tem de ser realizada utilizando a folha específica para efeito (disponível em http://www. premiosprecar iedade.net /folha_ A4_ recolha.pdf), deve ser impressa frente-e-verso e quem não souber o número de eleitor pode deixar apenas a data de nascimento a lápis. Mais ninguém o fará por nós. Vamos ter de nos “desenrascar”...
Protesto Fotográfico dos Bolseiros do DOP em 2010.
trilhos pedestres do parque natural do faial
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FLAUTA E PIANO 2 Teatro Faialense - 21h30
O FIM DA LINHA de Rupert Murray Auditório do DOP - 21h30 8
DOM. 21 NOV cinema TOY STORY 3 de Lee Unkrish Teatro Faialense - 17h
12 a 26 MAI. 2011
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Tomás Melo
Agenda Gatafunhos Loja ZON Açores Rua de Jesus, Matriz, 9900 Horta Segunda a Sexta, das 9h00-13h00 e 14h00-17h30
Maio
SÁB. 14 MAI. música ENSEMBLE 20/21 direcção de Pedro Figueiredo Temporada de Música Atlântica Teatro Faialense - 21h30 DOM. 15 MAI. caminhada/fotografia RIBEIRAS Circuito Pedestre e Fotográfico Mais informações: 968723198 Rosa dos Ventos - 15h30 arraial IMPÉRIO DA PONTE Rua da Igreja Flamengos - 21h
cinema RITUAL de Mikael Hasfrom Idade: M/ 16 Teatro Faialense - 21h30 18 MAI. a 25 JUN. Tomás Melo exposição HOCHZEIT de Eugénia Rufino Pintura Contemporânea (ver pag. 4) Sala de Exposições do Museu - 10h às 12h30 e 14h às 17h30 SEX. 20 MAI. música CONCERTO DIDÁCTICO pelos alunos do Conservatório Regional da Horta Igreja de São Francisco - 21h SÁB. 21 MAI. fotografia FAUNA E FLORA Encontro de Fotografia Rosa dos Ventos - 15h30
Gatafunhos
Tomás Melo
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Horta
Gatafunhos
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faial
Legenda Serviços Públicos
Percursos Pedonais
Comércio
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Cais de Embarque
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Sra. da Guia
1-
Ourivesaria Olímpio
2-
Hospital
2-
Miradouro dos Dabney
2-
ZON Açores
3-
Posto de Turismo
3-
Praia de Porto Pim
3-
Alberg. Estrela do Atlântico
4-
Biblioteca
4-
Monte Queimado
5-
Museu
5-
Da ribeira à Torre do Relógio
6-
Câmara Municipal
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Parque da Alagoa
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Correios
faial
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Legenda
8 - Mercado Municipal Serviços Públicos 9 - Piscinas Municipais 1 - Cais de Embarque
Percursos Pedonais
Comércio
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Sra. da Guia
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Ourivesaria Olímpio
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Hospital
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Miradouro dos Dabney
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ZON Açores
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Posto de Turismo
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Praia de Porto Pim
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Alberg. Estrela do Atlântico
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Correios
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Mercado Municipal
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Piscinas Municipais
SÁB. 21 MAI. teatro ROMEU E JULIETA de William Shakespeare L.C., Sem Companhia - Grupo de Teatro Experimental (ver pág. 6) Encenação, Adaptação e Interpretação: Luís Carvalho Teatro Faialense - 21h30 música V ENCONTRO DO FADO Fadistas das ilhas do Faial, Pico, São Jorge, Terceira, São Miguel, Sta. Maria e Flores. Acompanhados pelo grupo de guitarras Ecos do Fado e tocadores convidados. Barão Palace - 20h
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DOM. 22 de MAI. arraial Império da Lomba - Flamengos - 21h cinema AGENTES DO DESTINO de George Nolfi Teatro Faialense - 21h30 QUA. 25 MAI. CAIS DA CIDADANIA E DIVERSIDADE Porto da Horta 09h às 18h
SEX. 27 MAI música CONCERTO DIDÁCTICO pelos alunos do Conservatório Regional da Horta Igreja da Ribeira Funda - Cedros
mapas à escala
Ilustração Tomás Silva
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Calçada Santo António 1 9900-135 Horta Tel. 292 943 003 info@edatlantico.com www.edatlantico.com
Calçada Santo António 1 9900-135 Horta Tel. 292 943 003 info@edatlantico.com www.edatlantico.com
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Horta
Loja ZON Açores Rua de Jesus, Matriz, 9900 Horta Olímpio Segunda a Sexta, Ourivesaria das 9h00-13h00 e 14h00-17h30 Lg. Dq. D’Ávila e Bolama, 11 9900-141 Horta Tel. 292 292 311. oolimpio@gmail.com
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Ilustração Tomás Silva
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Ourivesaria Olímpio Lg. Dq. D’Ávila e Bolama, 11 9900-141 Horta Tel. 292 292 311. oolimpio@gmail.com
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