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Está tudo ligado
O BOLETIM DO QUE POR CA´ SE FAZ
QUINZENAL 16 FEV a 1 MAR 2012 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
e d i ç ã o 100% fabricada na ilha do Pico, duas estudantes de 16 anos (capa da Júlia e uma crónica da Joana), uma sócia chamada São, bananinhas picarotas em filme, música que “abana” os 2351 metros de altura, fontanários intervencionados, os primeiros cagarros a ficarem em linha, fotografias e ilustrações , o Parque Natural, o carro da mala e o vinho, o vinho, a excelência do vinho
, Cronica
Janela com Pico Eduardo Brito
A Criação
Júlia Gentner
de Lugares de
Pertença Emocional Como é que nos tornamos parte de uma identidade, de um lugar, de um sítio, de um território? Os mais afoitos e audazes dirão que a nascença dá-nos essa condição de pertença, mas o que também é verdade é que muitas vezes podemos pertencer a um espaço sem lá ter avoengos ou filiação remota. Como resolver semelhante dicotomia identitária? Na primeira viagem que fiz ao arquipélago, vinte anos depois, estive alegremente acompanhado por europeus todos muito novos, alguns adultos, conhecendo por entre as ilhas açorianos de origens diversas que nos falavam do estado do tempo e que eram, à altura, curiosos e excelsos anfitriões, amadores sinceros destas terras de maravilha. Que lidimas saudades. Recordo que aqui no Pico, não havia adega ou produtora dos melhores néctares que não tivesse incluída uma visita. Todos nós ficámos com lábio largo e sinceridade imediata após tamanho périplo etílico – in vino veritas. Convirá, por isso, recordar quase duas décadas depois a inusitada reacção de uma italiana que, após
avistar a largura do horizonte do atlântico no cimo de um miradouro, desatou em compulsivo choro perante o olhar estupefacto de todos nós que a acompanhávamos. Face à surpresa e espanto da nossa reacção somente foi capaz de expressar que há muito não se sentia esmagada por tanto verde e azul em seu redor. Nós, incrédulos, respeitámos tamanha comoção. Em Setembro fará também quarenta anos que dois artistas plásticos – Tereza Arriaga e Jorge Oliveira, nascidos no mesmo dia e com sete anos de diferença, percorreram a Ilha do Pico como se descobrissem em cada porção da ilha o puzzle da história pessoal e do romantismo em que estavam envolvidos. A realidade é que hoje continuam unidos nesse romantismo admirável que é deles e porque é só deles merece aqui ser evocado. A distinta escola primária de São Roque do Pico pôde presenciar a passagem deles por esta ilha através dos slides projectados numa parede branca com as marcas do tempo. Às vezes somos cúmplices de acontecimentos raros e únicos sem nos darmos conta, o
que significa naturalmente défice de atenção e memória. Por que será que andamos tão distraídos? A nossa existência é, sem qualquer dúvida, um constante enigma por desvendar, procurando nestes lugares de pertença emocional momentos de epifania e revelação. Logo, estamos dependentes das acções e decisões que tomamos , muitas delas na demanda dos princípios que norteiam o nosso ser sem ter medo de assumir perante tudo e os outros que nos rodeiam que amamos o quadrado que habitamos. É que assim ficamos obrigados a cuidar dele, a desejá-lo a qualquer momento, numa procura constante desse pico existencial que nos devolva a felicidade, nem que seja por breves instantes. Devemos, por isso, caso assim desejemos, criar espaços de pertença emocional que sejam proporcionadores de momentos de liberdade, beleza, sinceridade, orientados para a multiplicação de energia e movimento, aptos a ser vividos e percorridos numa existência que se pretenda única e verdadeira! Fernando Nunes
A Sócia São Há mais de 300 dias, alguém disse: “Vão ver como se pescam os peixes”. Nós fomos. Pusemo-nos de luz, como as estrelas cadentes. Entornámos alguns copos de tinto e muitos de café entremeados com cigarros, no vestido colorido das ideias de criar uma associação. A 07 de Março de 2011 eclodiu a Associação Cultural Padre José Idalmiro, com sede em S. Roque do Pico. A possibilidade de exercício activo e participativo da cidadania que o associativismo proporciona é algo só exequível em democracia, quero dizer Democracia, ou melhor
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DEMOcracia (ele há coisas do diabo!). Estar dentro é tornarmo-nos agentes criadores da própria realidade social que integramos. Cidadã praticante não delega, toma a sua palavra. Na mudança das estações o desassossego polvilha as almas de inquietude criativa, uma gula do tamanho dos absurdos, a pressentir como tudo se cerca de magia. Uma Associação pode ser uma casa e esta escola primária com pátio de onde se vê o Pico e S. Jorge é a varanda da nossa casa, um lugar de reinventar a partilha e existir em conjunto. Esta (jovem) Associação envolvese na colaboração e desenvolvimento
Capa
de projectos de índole cultural que se aproximem das necessidades da comunidade local e públicos. Das conversas abertas, às oficinas temáticas, mercado de trocas, yoga, apontamentos musicais e cinema alternativo, movemos e co-movemo-nos no reencontro com a Poesia. A Arte é uma possibilidade de relação, sabemos que precisamos dos Uns e dos Outros para Sermos melhores, porque o que nos muda também nos aumenta, saborear a imaginação é pintar um tom (musical) na Vida. E assim se vai Fazendo, mais, junto com as Pessoas. São
Onde se avista a Prainha? Assaz ensejo que devíamos saber. A tenra idade é simplesmente um fait divers. Nada a temer. Podemos ser prematuros, adiantados nos gestos daquilo que ambicionamos edificar, no que aspiramos captar e observar nos gestos circundantes. Ninguém se atreverá a manifestar o contrário. Ainda bem que assim é. A bem querença pelos animais nunca foi demais. E claro, há também o céu, o mar, as plantas e as árvores a que raramente ficamos indiferentes. Eco dos dias e das estações em que a luz se modifica, em que se abre para a objectiva e tudo se liga num ápice. Há um momento na fotografia em que vemos que está tudo parado. Contemplemos. Interrompamos em conjunto a velocidade do mundo. Ou então modestamente aproveitemos o tempo que resta das obrigações e apropriemo-nos do olhar nos momentos em que o voo está suspenso, apostemos na luz coada das delicadas deslocações pois entrementes já nada é capaz de se mover. Primeiro, aguarde-se que eles se avizinhem, repousem, se deixem esclarecer na policromia exterior e depois é só implorar a estes seres e à sua transitória imobilidade bem como a oportunidade para que tudo possa acontecer. E acontece.
Chafariz do Calhau, Chafariz dos Fetais Chafariz do Caminho da Manhenha Chafariz da Canada da Mulata, Chafariz de Altamor
A Banana do Pico
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CINEMA
A Banana do Pico/The Banana from Pico | 27' | País de produção - Portugal | Produtores - Luís Bicudo, Levi Martins | Realizador - Luís Bicudo Director de fotografia - Levi Martins | Som - Levi Martins, Luís Bicudo | Montagem - Luís Bicudo | Correcção de cor - Pedro Sousa | HDV | 16:9
Há mais coisas que te inspiram no Pico? Oh pá, eu gosto mais do Pico que do Faial, acho eu, porque era lá que eu passava a minha infância. Chegava ao Verão e em Junho ia para lá com 2, 3, 4, 5 anos e então aquilo entrou no meu imaginário… os meus avós maternos são de lá… no pico tudo me inspira.
um documentário de Luís Bicudo
O que te levou a fazer um filme sobre a banana do Pico? Isto apareceu porque eu estou sempre a pensar no grande conflito campo-cidade, principalmente quando estou em Lisboa. A ideia para a Banana do Pico surgiu quando vi na televisão um documentário que falava do envolvimento da Chiquita no tráfico de droga, o que me chocou de certa forma. Fez-me pensar que não se esgotava no sabor a diferença entre uma banana importada comprada no supermercado e a banana do Pico, cultivada pelos meus avós, com a qual cresci. E pensei que um gajo não pode fugir das cenas más que há no mundo. Nem sequer a comer bananas há exclusão do capitalismo. E pronto, depois disso numa aula de documentário contemporâneo, do prof. Luís Fonseca, o gajo falou qualquer coisa sobre pegar num elemento em particular e partir para o geral ou para o global… e aquilo fez click na minha cabeça e pensei logo na banana, na indústria, no Pico e nos
meus avós e foi aí que eu me lembrei de fazer este filme.
A banana do Pico
Luís Bicudo é um faialense apaixonado pelo Pico. Estudou cinema em Lisboa e o seu documentário “Banana do Pico” foi apreciado e premiado em vários festivais. Este filme que é uma homenagem à sua família, ao trabalho da terra e a toda uma ilha será visionado no lançamento desta edição do Fazendo na ilha do Pico. Nos últimos meses o realizador tem preparado um filme sobre os baleeiros, onde a ilha do Pico também assume um papel preponderante.
O que é que significava o Pico para um miúdo que tinha crescido no Faial e ia lá no Verão? Era o Verão, era mar, era férias… gosto muito do Pico, é a segunda maior ilha, mas tem a mesma população que o Faial, o tempo parece mais dilatado, as coisas estão mais afastadas. Gosto muito do sul do Pico, a minha avó é da Calheta e o meu avô é de Santa Cruz, acho que aquilo é espectacular… é a
montanha, é o vinho, é os figos, as bananas, a batata doce, os inhames, as raparigas. No Pico tudo sabe melhor.
Tiveste algum dinheiro, algum apoio, para fazer o filme sobre a Banana do Pico? O apoio que eu tive foi da família e do Levi Martins, que esteve aí comigo uma semana às custas dele. A câmara era dele, o gajo acreditou na ideia e veio numas férias de inverno, no Natal, e fizemos aquilo… Que prémios ganhaste com o filme? O filme esteve presente em quatro festivais: o Faial Filmes Fest, o Primeiro Olhar em Viana do Castelo, o Panorama em Lisboa. E agora também na 3ª edição do Labjovem. Os prémios foram em Viana do Castelo: Prémio Primeiro Olhar, o Prémio Ibertelco e o prémio IPJ… fiquei bastante satisfeito com estes prémios, porque o Primeiro Olhar tem um contexto bastante específico, é um festival de documentários feitos por estudantes de cinema. Gosto mais deste tipo de festivais em que à partida existe algum tipo de constrangimento, em vez de ser tudo ao molho e fé em Deus. Acho importante haver um contexto para a discussão dos próprios filmes, e fiquei contente porque ao menos naquele contexto em específico o filme foi reconhecido. Também é importante para mim o reconhecimento a nível do arquipélago através do Labjovem, nem que seja para que as pessoas tenham a possibilidade de ver a Banana do Pico, que é um filme que eu gosto bastante
e que gosto de pensar nele como uma homenagem a todos os avós. Consegues rever o processo de fabrico deste filme? Como é que ele se foi desenhando à medida que era feito? Na ideia inicial eu queria filmar também em Lisboa. Uma ou 2 cenas encenadas em que uma personagem comprava bananas num supermercado e as levava para casa. Mas depois de filmar os meus avós em Santa Cruz percebi que nada mais importava, estava ali tudo o que eu precisava. Não houve grande planificação porque na verdade os planos já estavam na minha cabeça. Imagens como a da minha avó a desmanchar os cachos ou a do meu avô a amarrar os caixotes, resultam do foco da minha atenção sempre que eu os ajudava naquele cerrado debaixo da rocha. O narrador (eu) explica, por cima dessas imagens, coisas que na verdade não encontram correspondência com o que o espectador vê, a história do cultivo da banana, a sua propagação pelo mundo, o desenvolvimento da industria da fruta e as crises políticas na americana latina, informação geral, pública, e disponível a qualquer pessoa na sociedade de informação de hoje em dia. A ideia é simples, colocar as coisas em perspectiva, na esperança, que o particular que é a banana do pico, se entenda ainda mais especial à luz do geral de que fala o narrador. O meu filme é um simples pensamento, uma ideia inocente de amor à ilha à mistura com alguma incompreensão pelo mundo. Aurora Ribeiro
ARTES PLASTICAS
Magia do Pico & azulejos partidos Uma visão de sonho Uma luminosidade etérea invade os fontanários da Ponta da ilha - freguesia da Piedade - do Pico, dissolvendo toda a tensão da forma como foram recuperados / revestidos ou se preferirem “ vestidinhos de novo”. Aplicações a rigor, trabalhados na cor e desenvoltura, os rodopiantes cacos de azulejo partido misturam-se numa multiplicidade de formas geométricas e cores vibrantes que se interpenetram como que numa formação lírica, para transmitir uma sensação de perspectiva e profundidade majestosamente simples e desprovidos de sofisticação; Puros como uma visão interior, os seus limites, (onde as composições geométricas são definidas pela arte no corte do tijolo), fazem com
que as massas de cor vibrem indistintas, contidas mas profundamente expressivas e quase magicamente invade-nos a sensação de conterem verdade ardente e comum, como se representassem a ideia de espírito ou alma numa interiorização xamânica de longa meditação; Trilhei surpreendentemente a força interior de gostar assim sem motivos deste manuseamento de tijolo partido, inteligente e controlado e devo admitir tratar-se de uma perfeita conjugação face ao pacote de austeridade que nos fizeram justificar tudo aquilo que não se vai fazendo, e a nossa vontade própria de ir podendo fazer algumas coisas, pelo que não cabe na nossa matriz ter uma ideia pré-concebida do resultado final, como se a mão não
tivesse vontade própria! O poder deste trabalho reside entre o monumento sólido representado pelo chafariz antes e o espaço aberto, vasto, representado após o “arranjinho”. A sua ligação connosco está demonstrada pelas palavras carinhosas e espontâneas das pessoas que os visitam, ou simplesmente que por ali residem. Continua actualmente uma série de fontanários a aguardar idêntico tratamento. “o princípio de acção é a busca do prazer e a fuga à dor” (Olivier Bloch) Gomes da Silva Ponta da Ilha, noutro passo, Fevereiro de chuva, ventanias, noites de deitar cedo. 3 FAZENDO + 16 FEV A 1 MAR 2012
, MUSICA
OdeHang Maria Margarita
O Fazendo está a organizar para este sábado, dia 18 de Fevereiro, às 17 horas, em conjunto com a Biblioteca de São Roque do Pico, um concerto musical diferente, com uma artista belga, residente na freguesia de São João e que toca apaixonadamente os seus Hang, seduzindo sonoramente quem escuta. Quem é ela? O seu nome é Maria Margarita e nasceu na Guatemala em 1984, onde viveu apenas três meses, passando a residir
na Bélgica até aos vinte e sete anos. Licenciada em Pintura Monumental, descobriu a sua paixão pelo Hang em 2005, cinco anos depois de Sabina Schärer and Felix Rohner o terem tornado público. Sendo uma autodidacta deste instrumento, tocando de forma pessoal e particular, foi desenvolvendo e aperfeiçoando a técnica e, desde então, foi demonstrando o seu talento, organizando diferentes concertos,
participando em animações culturais, musicais e teatrais e participando em festivais europeus de música. Em 2009 editou o seu primeiro CD e em 2011 um DVD. Conhece os Açores pela primeira vez em 2008 e desde então tem voltado com regularidade. Em São Miguel, participou no projecto “Açores em Dança” e no Festival Regional de Música e Dança “Em Volta”, ambos com a coordenação de Beatriz Oliveira, trabalhando com diversas instituições de solidariedade social. Depois de uma exposição de pintura no Clube Naval do Faial e de vários concertos pelas ilhas açorianas, Maria Margarita fixou-se em 2012 em São João, na ilha do Pico, onde se sente inspirada para pintar e criar novas melodias com o Hang. Venham ouvir.
“Abana”do Pico Os instrumentos tradicionalmente usados nas ilhas do Pico e do Faial, nos serões de baile (as folgas), eram duas violas da terra e uma rabeca. Das duas violas, uma tocava rasgado (acompanhamento), a outra ponteado (solo). Com o passar do tempo, houve, nas referidas ilhas açorianas, um fenómeno que não se verificou nas restantes sete. É que, logo no primeiro quartel do século XX, a viola da terra acabaria por ser destronada pelo bandolim, instrumento de origem napolitana introduzido na ilha do Faial pela família Dabney que aqui permaneceu durante praticamente todo o século XIX. Pela iconografia da época, reparamos que muitos elementos daquela família norte-americana tocavam bandolim. E de tal maneira esta influência se espalhou no Faial e no Pico que o bandolim chegou a fazer parte do espólio da noiva, sendo que ainda hoje muitas mulheres e raparigas faialenses e picoenses tocam o referido instrumento. Este goza igualmente da preferência masculina, havendo quem, entre nós (o professor José Maria Silva,
por exemplo), alcance patamares de virtuosismo em termos de execução. De resto, não é segredo para ninguém que as melhores tunas dos Açores são as existentes no Faial e no Pico. Hoje a viola da terra tem pouca expressão nestas duas ilhas, e a sua função é mais de acompanhar e não de pontear. Vem isto a propósito da cantiga “Abana”, também conhecida por “Ciranda”, originária da ilha do Pico, e que no Faial tem o nome de “Casaca” ou “Eu cá sei”, tendo em comum o facto de possuírem a característica da música assentar num ritmo binário (2 por 4) e de a melodia e letra serem praticamente idênticas. O mesmo se diga em relação à marcação coreográfica.
Uma coisa é certa: o “Abana” é de criação local, pois não consta nos Cancioneiros a nível nacional. Para trás, para diante Hei-de te fazer andar As solinhas dos sapatos Hei-de tas fazer gastar. Victor Rui Dores
“Abana” é uma cantiga alegre e com quadras de índole divertida: Eu tenho sete casacas Todas elas são de estopa Minha avó para as fiar Caiu-lhe os dentes da boca.
2351 NOME DA OBRA MUSICAL: 2351 Autor: Helder José Neves Bettencourt DURAÇÃO DA OBRA MUSICAL: 11’04’’ Pequena descrição da obra musical Esta obra musical pretende retratar as diversas etapas que constituem uma subida à montanha do Pico (Ilha do Pico-Açores): • Chegar à Ilha; Iniciar a subida à montanha; Descanso e admiração; O retomar da subida; Chegar ao cimo e contemplar… ver o Nascer do Sol; A subida ao Pico Pequenino (últimos 100 metros da Montanha); “2351”: chegada do ponto mais alto de Portugal; • O cume da montanha está a 2351 metros acima do nível médio do mar, sendo o ponto mais alto de Portugal. Assim, esta obra retrata toda a magnitude, imponência e beleza que a montanha mostra e ao mesmo tempo a dificuldade que é a sua subida, tendo um final apoteótico, de conquista e êxtase. COMO SURGIU A OBRA? A obra foi composta para um concurso de composição nacional promovido pela Banda Sinfónica Portuguesa (BSP). Depois de cumpridos todos os requisitos esta peça musical foi eleita umas das duas obras finalistas, do referido concurso, tendo sido estreada mundialmente na Casa da Música (Porto), pela BSP, no passado dia 11 de dezembro. Eu estive presente na referida estreia e a reação do público ali presente foi espetacular, tendo sido aplaudida de pé. À composição musical 2351 foi atribuída (pelo júri do concurso) o prémio de Menção Honrosa. O Compositor Helder José Neves Bettencourt
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ilustração Daniel Lopes
~ INteRVENCAO
Vai ser a partida. A paragem é a Árvore, naturalmente, porque as paragens têm de ser sempre um amigo que não possa fugir. As pessoas sobem e o autocarro enche-se de janelas que sorriem. Os rostos olham e trepidam - do motor, do piso, da excitação, do ritmo. O carro da mala está carregado de música. O condutor encheu-o de som a deitar por fora. Está mais quente lá dentro, alguns vidros embaciam, lotando os bancos de fantasmas. As bocas produzem desfocagens. Parece um carrocel de gente, avizinha-se mais um dia bonito. A partida foi. A carreira acompanhou-a, deixando por segundos uma efémera senda de espantos na janela, depois uma cabeleira de ritmos despenteados, finalmente apenas uma pegada de pó a encher os vidros. A freguesia da Terra do Pão é algures para a esquerda. Instala-se o calor. O dia absurdamente verde, traz cheiro a incenso e a maresia. As crianças não têm corpo, ocultado pelo écran, abaixo do nível da tela. Só dentes e olhos. Alegria e curiosidade. Na mudança das estações o tempo fica indeciso, ora se mete com os nevoeiros e as humidades, ora surge um esplêndido dia de Verão, desgarrado e sonolento, como as papoilas numa seara de trigo. As vacas passam mais alto e mais devagar, andam alheias, aparentemente. Minutos atrás, instantes depois, a janela é atravessada por homens e mulheres, riscos verticais de pele morena, secos como palmeiras. São pastores/
Pico Extremo
Uma ilha: Pico, um autocarro: Madalena/Piedade, 2 linhas: Norte/S. Roque – Sul/Lajes. O carro da mala entra na moldura pouco antes de sair da freguesia da Calheta do Nesquim, buzinando com uma buzina de outro tempo. A luz acumula nitidez, parece ascender do mar, as hortênsias organizando o silêncio. O autocarro é corcunda como todas as camionetas de quarenta anos. Tem uma magnífica janela traseira em elipse, de onde qualquer estrada parece uma galáxia: nos mapas escolares é a forma onde cabe metade do mundo. Cinema é o universo a passar em relâmpagos à frente de uma varanda. Filme é estarmos quietos acordados enquanto a magia desfila pela nossa surpresa. Às seis da manhã o brilho penetra os olhos do espectador. As cores ainda muito agarradas da timidez do sol e da clara imensidão do céu. O velho carro da mala separa-se do dragoeiro que a manteve a salvo das estrelas. Faz-se à estrada e à tela, despegada da paisagem. Anuncia-se à freguesia, como um galo mecânico. Dá duas voltas pelo vazio das duas ruas do lugar. Passa uma vez pela janela, perto e grande; passa outra, afastada e pequena. O motor tosse. Insiste. As andanças da carreira acordam a primeira poeira do dia. Alguns passageiros acorrem. O vento também vai às pressas, além de enfunar os casacos, empurra as palavras em sentido contrário.
Nicolau Marques
Na Volta do Carro da Mala
director da Biblioteca de São Roque
ilustração Daniel Lopes
agricultores. Fulgurante imagem. Neste momento o filme tem passos seguros, macios: a canada veste-se de bagacina, os pés rasos de sapatos. Para observar as pegadas é preciso escutar, a orelha colada à tela. Os pastores não foram à escola, mas aprenderam a ler no chão: a caligrafia dos serrados. Através de uma pegada conseguem saber o tamanho, a cor e a idade de uma vaca. Entra-se na vila de S. Roque por um quadrado à escala de 1/1: a câmara, a escola, o porto, o centro de saúde, a estação de serviço. As bombas, dos anos 70, têm as patas ferrugentas, calçam “Sacor”, mas o chapéu de néon diz, “Azoria”. Está torto, iluminado por dois lampiões carecas A música Escolho um disco e uma de electricidade. O ar vai mudando de cor. Do branco banda que mais têm tocado no para o amarelo. Do laranja para o leitor de DVD’s nos últimos tempos: castanho. Ao fim da tarde veste-se Cassandra Wilson - “Closer to you: the de vermelho. O calor foge janela fora pop side” e Sigur Rós e os seus vários para o fundo das fajãs, na direcção do discos fantásticos. Faial e da noite. No horizonte moram, O filme Tal como a música ou a mesmo em cima do parapeito, alguns editora é difícil fazer uma escolha. crocodilos cinzentos. Não se levantam Não há preferidos. Por isso escolho nunca. Deles vê-se apenas o perfil do três filmes que me sensibilizaram, lombo: uma serrilha esfarrapando as todos por diferentes razões: Saraband nuvens que cometem a imprudência de Ingmar Bergman e a crítica de Bénard da Costa no jornal Público (dois de raspar neles. O carro da mala deitou-se cedo. A janela grandes senhores do cinema), Lost in é novamente a sombra generosa do Translation de Sofia Coppola e Gran enorme dragoeiro. As traineiras saem Torino de Clint Eastwood. como pirilampos de flutuar, os pescadores A editora Escolho a Assírio e Alvim pela concentram-se nos seus afazeres, não vão linha editorial de grande qualidade que mantém há vários anos, pela aposta os peixes escapar ou os barcos entornar. O Pico é um filme até a bruma nos em novos autores e escritores menos conhecidos, pelas colecções que edita convidar a encostar a portada. Ser gratos à vida, assim, com e também pelo grafismo. simplicidade, é uma festa por dentro O lugar mais belo do Pico Indiscutivelmente Santo Amaro. das pessoas. Cristina Lourido O lugar mais bonito dos Açores Ainda não conheço todas as ilhas. Daquelas que conheço todas têm as suas particularidades e lugares bonitos mas em termos de unidade ou carácter o Pico é a ilha com a qual mais me identifico. pela CVIP dividem-se em várias O livro que anda a ler Passeios africanos de Alberto Moravia categorias: -Vinho Licoroso de Indicação Uma definição de Picarotos Engenhosos é uma definição possível. Geográfica Protegida (IGP) – Lajido; -Vinho Licoroso particularmente doce De que é que sente saudades no continente Para além da família na prova – Angelica; -Vinhos Regionais Açores, com três e amigos, às vezes faz-me falta a marcas reconhecidas - Terras de Lava confusão e o anonimato. Branco, Frei Gigante e Terras de Lava Função de biblioteca pública São várias, mas aquela que é Tinto; -Vinhos de mesa tintos - Cavaco Tinto, fundamental é a de colocar as o comummente designado “vinho de pessoas em relação com os livros e a cheiro”; Maroiço, elaborado com 50% informação. de “vinho de cheiro” e 50% de vinho Palavra açoriana preferida Poderes de castas europeias tintas; Basalto, é uma palavra engraçada pela carga produzido unicamente de castas simbólica que encerra em si, com ou sem contexto. europeias tintas e Terras de Lava Rose; -Vinho de mesa branco - Cavaco O que se pode afirmar de 2351 Para Branco, produzido a partir de uvas os Picarotos, sobretudo, é um número europeias brancas e de lotes de que representa a montanha. Mas ela representa também mais que um diferentes anos. Os vinhos produzidos pela CVIP gozam número. Ela é geradora de sentidos e de reconhecida qualidade, sendo apropriações muito importantes para prova os vários prémios conquistados os Picarotos e Açorianos. em concursos de carácter Regional, O que ficou das albarcas O espectro Nacional e Internacional. Maria Álvares de pés calejados. Nicolau Marques
Pico Vinhateiro O produto por excelência é o vinho A Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico caracteriza-se por ser uma paisagem sui generis, que interessa potenciar e, simultaneamente, preservar. Origina um produto de excelência - o vinho (licoroso e de mesa). As explorações vitícolas instaladas nesta Paisagem caracterizam-se pela sua reduzida dimensão (área média de aproximadamente 0,3 ha) e dispersão geográfica das várias parcelas que as constituem. Estas características, associadas a um sistema de condução tradicional em “currais”, onde a vinha vegeta entre muros de pedra e junto ao solo, com elevada pedregosidade e afloramentos rochosos, impossibilitam a mecanização do maneio vitícola, exigindo, assim, um esforço humano hercúleo, por forma a manter viva toda esta tradição ancestral, a qual remonta aos primeiros tempos do povoamento da ilha do Pico. A relevância deste cenário extraordinário, de simbiose perfeita
entre o Homem e a Natureza, originou a que, em Julho de 2004, a UNESCO considerasse a Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico como Património da Humanidade, fazendo, desta forma, uma mais que justa homenagem às gerações de mulheres e homens do Pico que a construíram e mantiveram viva até ao quotidiano. A Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico ocupa uma área total de 987 ha, envolvida por uma zona tampão de 1924 ha, sendo composta pelo lajido da Criação Velha e o lajido de Santa Luzia. Como principal receptora das uvas brancas tradicionais (Arinto, Verdelho e o Terrantês) produzidas, nomeadamente, na Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, a Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico é, indiscutivelmente, a principal referência em termos de transformação e comercialização no sector dos Vinhos na Região Autónoma dos Açores. As nove marcas de vinhos produzidos
5 FAZENDO + 16 FEV A 1 MAR 2012
O cagarro,
o cagarro na web
e o cagarro na Ilha do Pico, pela ordem inversa Soube que o Fazendo decidiu lançar uma edição dedicada ao Pico e eu decidi contribuir fazendo um pequeno apontamento sobre o cagarro (a convite do amigo Fernando Nunes). Vivi e trabalhei dois anos no Pico e foram muitas as experiências vividas, a maior parte delas agradáveis, outras menos boas. Desses anos restou um forte sentimento de saudade e eu “Gosto” (um sentido abraço a todos com quem me relacionei na ilha). O cagarro, na Ilha do Pico O facto de ter de escrever sobre o cagarro fez-me recuar no tempo e relembrar uma série de histórias, o que é sempre um prazer. Lembro-me do primeiro cagarro que salvei, pelas 3 horas da madrugada do dia 3 de Novembro de 1998 em São Jorge, com a ajuda de uns amigos depois de uma noite passada na mais animada (e única?) tasquinha de Velas. Nunca tive a sensação de no Pico não haver nada para fazer, muito pelo contrário. As noites de Outubro, início de Novembro eram de grande agitação. Tive de começar por me impor limites – terminar à uma da madrugada porque no dia seguinte havia que trabalhar. Pelas onze horas da noite pegava no meu citroen vermelho e, umas vezes sozinho, outras acompanhado, conduzia ao acaso com os olhos pregados no céu. Logo se via a habitual chuva de cagarros a cair nas ruas e estradas da ilha. Enquanto recolhia um
ou dois cagarros e os transportava para serem libertados num local escuro, via mais três ou quatro a caírem e fixava o local para de seguida os ir salvar. Se não me tivesse imposto o limite haveria trabalho para toda a noite.
Contém um Guia de conduta para o salvamento de cagarros.
Às vezes optava por deixar os cagarros, dentro de caixas, na cozinha de casa. Cheguei a ter seis cagarros em casa para libertar na manhã seguinte. Claro que também houve a noite em que um cagarro fugiu da caixa e, na manhã seguinte, dei com ele no sofá da sala. Todas estas “actividades” eram registadas no meu caderno de “Saídas de campo” – pequeno caderno onde registo todas as observações relacionadas com birdwatching (iniciei os registos a 16 de Janeiro de 1993, já lá vão 20 anos!).
O cagarro, na Wikipédia. Pouco depois já estou no YouTube, repito a pesquisa por cagarro e descubro: www.youtube.com/watch?v=P_
O cagarro, na web Também me lembro de ter construído um web-site para divulgação/ protecção ao cagarro, feito a pensar num público escolar. (Foi, também, a minha primeira experiência na construção de web-sites). Ainda hoje está on-line, embora algo esquecido, muito remendado e muito muito antiquado. Mas penso que continua a prestar (algum) serviço. Pode ser visto em http://soscagarro.no.sapo.pt/ Estou sentado ao computador e aproveito para fazer um mergulho em apneia no Google: www.azores.gov.pt/gra/dram-soscagarro
“É uma imagem a negro e cinzento que me mete medo” – escreveu Raul Brandão, a 26 Julho de 1924, quando se aproximava, por mar, desta imponente ilha do Pico. Começa assim, a nossa volta no tempo, até ao século passado. Em 1924, este homem nascido na Foz do Douro, no Porto, aventurou-se no Oceano Atlântico, rumo às “Ilhas Desconhecidas” – os Açores. Foi ele o responsável pelo código de cores que define as ilhas açorianas e que deu ao Pico a designação de ilha Negra. Nessa época, era o Pico uma ilha pouco desenvolvida, com pouca população, onde os dias se passavam sempre da mesma forma, quase como um filme reproduzido sistematicamente - “Nalgumas destas aldeias denegridas vive-se como há trezentos anos, com meia dúzia de ideias e um padre (…)”, “(…) e o meu pensamento, mais fixo com o cerrar da noite, era fugir, fugir para muito longe destas pequenas terras de província, piores que a cadeia e o degredo, e onde a gente sente pesar-lhe a vulgaridade de todos os dias, o hábito mesquinho de todos os dias, as palavras que se empregam todos os dias (…)” – assim, é descrita a vivência nesta ilha e, assim, nos é permitida a comparação com os dias de hoje. De verdade, continuamos a ser uma ilha pouco desenvolvida, com pouca população, 6 FAZENDO + 16 FEV A 1 MAR 2012
www.spea.pt/gca/index.php?id=108
Da SPEA que considerou o cagarro a ave do ano 2011. http://pt.wikipedia.org/wiki/Calonectris_ diomedea_borealis
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O cagarro nos Açores, produzido pela RTP. www.youtube.com/watch?v=SekQASLNjk8
Gravações do som destas aves marinhas. (Se está nos Açores, para ouvir a ave basta abrir a janela). O cagarro O cagarro é pois uma das minhas aves preferidas. A cegonha branca e o pisco-de-peito-azul (uma raridade) são outras. No meu Guia de Aves, da Hamlyn, verifico que o nome científico do cagarro é Calonetris diomedea borealis e que também é conhecido por cagarra ou pardela-de-bico-amarelo. Tem uma plumagem escura por cima e clara por baixo, bico forte (cuidado!) de cor amarela e mede cerca de 50 cm de comprimento. É a ave marinha mais abundante dos Açores cuja população é a maior da subespécie borealis. Alimenta-se no mar de peixes, crustáceos e lulas, muitas vezes em associação com golfinhos. Sabe-se que
é uma ave monogâmica e conta-se que permanece fiel ao seu companheiro mesmo depois da morte de um deles. Depois de alguns meses mais a sul chega aos Açores a partir de Março. Costuma ser observada a voar junto à água para poupar energia e visita as colónias durante a noite, por isso, em terra, só se observa a partir do fim do dia. O seu canto nocturno é inesquecível. Vêm a terra apenas para nidificar, em buracos que escavam no chão e põem um único ovo no final de Maio. O ovo é incubado, por ambos os membros do casal, durante 55 dias. Em finais de Outubro dá-se o primeiro voo para os cagarros jovens, que depois de abandonados pelos progenitores e com fome, acabam por se lançar ao mar em busca de alimento. Orientam-se pelas estrelas e, assim, são facilmente encadeados e atraídos pelas luzes artificiais e caem nas estradas. Muitas vezes são atropelados, daí a necessidade das campanhas de protecção e sensibilização. Depois voltam a partir para sul e podem viver até aos 40 anos regressando sempre às ilhas para continuarem o ciclo. O cagarro, uma bela ave e um símbolo das belas ilhas dos Açores. Texto escrito em português pré novo acordo ortográfico para a língua portuguesa. Paulo Sampaio
Crónica da onde os dias se passam todos da mesma maneira. Os tempos mudaram, as pessoas mudaram, os hábitos e as condições de vida mudaram, mas a rotina desta ilha permanece intacta - “Tudo tão (…) parado que parece que o tempo suspendeu a sua marcha.”. Apesar de muitas semelhanças, podemos dizer que algumas coisas mudaram, por cá, principalmente no que diz respeito a actividades económicas. Embora mantenhamos a pecuária como um importante foco económico na nossa ilha e na generalidade do arquipélago, bem como a vinha que nasce sobre a rocha pura e se propaga, exemplo inquestionável do “(…) triunfo do homem sobre as forças brutas da natureza”, deixámos a caça à baleia, que na altura assumia grande importância especialmente no Pico e no Faial e que muito mais do que actividade rentável, era um modo de vida enraizado na alma dos nossos homens, porque afinal os picarotos eram “(…) os mais destemidos homens do mar do arquipélago, tisnados, secos, graves e leais.”. Apesar de nos termos afastado desta actividade, ela deu lugar a uma nova, o turismo, com a qual ganhámos em termos económicos e aprendemos a manter
^ CIENCIA E AMBIENTE ilustração Daniel Lopes
Parque Natural do Pico Atendendo à diversidade de situações resultantes da implementação da Rede Natura 2000 na Região Autónoma dos Açores e à necessidade de adotar um modelo assente em critérios de gestão que uniformizem a diversidade de designações das áreas classificadas como protegidas e concentrem competências numa unidade territorial de ilha enquanto unidade base de gestão, procedeu-se a uma reformulação do regime jurídico da classificação, gestão e administração das Áreas Protegidas (Decreto Legislativo Regional n.º 15/2007/A, de 25 de Junho). A Rede Regional de Áreas Protegidas da Região Autónoma dos Açores concretiza, na Região, a classificação adotada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) adaptando-a às particularidades geográficas, ambientais, culturais e político-administrativas do território do arquipélago dos Açores, sendo que estão contempladas as seguintes categorias: a) Reserva natural (Categoria I - IUCN)
b) Monumento natural (Categoria III IUCN) c) Área protegida para a gestão de habitats ou espécies (Categoria IVIUCN) d) Área de paisagem protegida (Categoria V - IUCN) e) Área protegida de gestão de recursos (Categoria VI - IUCN) Cada Parque Natural de Ilha constitui a unidade de gestão das áreas protegidas que lhe estão consagradas. No caso da Ilha do Pico, é o maior parque natural dos Açores, compreendendo 22 áreas protegidas, com uma área territorial que abrange cerca de 35% da sua superfície terrestre, o que corresponde a cerca de 156km², à qual acresce cerca de 79km² de área de proteção marinha. Assim, na ilha do Pico, encontram-se definidas 4 reservas naturais, 1 monumento natural, 8 áreas protegidas para a gestão de habitats ou espécies, 6 áreas de paisagem protegida e 3 áreas protegidas de gestão de recursos. Refira-se que, maioritariamente as áreas protegidas definidas no Parque Natural do Pico, já se encontravam classificadas ao abrigo de figuras legais referentes à proteção e à conservação da natureza, como é o caso das 5 áreas
Ilha Negra uma convivência saudável e harmoniosa com esta natureza e este mar que são só nossos e que mais nenhum lugar no mundo tem, porque “(…) só há uma coisa mais bela neste mundo – o céu; mas esse está muito longe e o mar vive na nossa companhia.”. No entanto, por muitas mudanças que o Pico tenha sofrido, o espírito de cada picoense e açoriano mantém-se… Porque estamos divididos entre nove ilhas, partilhamos diferentes costumes e tradições, mas todos temos algo muito particular em comum, este sentimento patriota que nos une a todos enquanto açorianos e que se compreende quando estamos no Pico e olhamos para o Faial, ou quando olhamos das Flores para o Corvo, ou da Terceira para São Jorge, porque “(…) o que as ilhas têm de mais belo e as completa é a ilha que está em frente”. Sou picoense e vejo no Pico algo de muito especial, não por ser a minha ilha natal, mas por acreditar que esta ilha é a prova viva da superação, do renascimento e de que impossíveis não existem. Basta olhar para esta pedra negra, tão comum por cá, e para a vegetação que nasce dela e floresce, quando aparentemente não existem condições para isso. Talvez por alguns destes motivos, os nossos antepassados
classificadas como zona de especial de conservação (ZEC) e 4 áreas classificadas como zonas de proteção especial (ZPE) no âmbito da Rede Natura 2000 e, as reservas naturais do Caveiro, Mistério da Prainha e da Montanha do Pico. Integra igualmente o Parque Natural, a paisagem protegida da cultura da vinha, que foi estabelecida como área protegida em Junho de 1996, tendo sido reconhecido o seu valor singular e universal com a consagração da inscrição na Lista do Património Mundial, em 2004. A Gruta das Torres, classificada no ano de 2004 como monumento natural regional, foi também objeto de reclassificação encontra-se também incluída neste conjunto de áreas protegidas do Parque Natural. No âmbito do projeto Geoparque Açores, a ilha do Pico apresenta 18 geosítios, sendo que apenas 4 encontram-se em área não abrangida pelo Parque Natural do Pico. O Parque Natural dispõe ainda de três infraestruturas de apoio aos visitantes, a Casa da Montanha, o Centro de Visitantes da Gruta das Torres e o Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha da ilha do Pico e de 6 percursos pedestres homologados. Ao explorar o Parque Natural do Pico, poderão desfrutar de diversas experiências inesquecíveis, desde
um mergulho nas águas límpidas do oceano, a um passeio de barco para observação de baleias e golfinhos, passando por uma caminhada nos trilhos de basalto em “lajidos” e “mistérios”, explorando os muitos quilómetros de grutas vulcânicas, ou subindo as encostas escarpadas em direção ao planalto central, polvilhado de vulcões, de lagoas, de vegetação natural e de pastagens, até atingirem o ponto mais alto de Portugal, a Montanha do Pico. Mas a ilha do Pico não é só natureza, não é só paisagem, é também gente. Gente que soube aproveitar uma paisagem inóspita para da pedra fazer vinho e que se aventurou no mar à caça da Baleia, sempre em busca do seu sustento. Por tudo isto e por muito mais que a ilha tem para oferecer, quer seja através de um mergulho no oceano, de um passeio de barco, a pé ao longo de trilhos, de bicicleta, de carro, a ver o azul do mar, o verde da vegetação, o negro da rocha, o pôr do sol que nunca é igual, a ouvir o som dos cagarros, a sentir a aspereza e o calor das rochas ou simplesmente a relaxar, ouvindo o mar a bater nas rochas ou a escutar o silêncio, a provar um vinho verdelho um queijo do Pico ou um caldo de peixe, de certo que a ilha do Pico não o irá deixar indiferente. Paulino Costa
ilustração Daniel Lopes
tenham sido tão grandes e tão bons baleeiros, homens que suportavam a dor e o sofrimento de uma maneira sóbria e irrepreensível. Nascemos aqui, rodeados pelo mar, por estes montes que nos limitam, pelos penhascos negros que nos prendem de medo, por esta solidão que nos esmaga. O ar é carregado, a noite é sombria. Toda a ilha parece ainda fumegar depois da tortura pela qual passou, desde a montanha até aos mistérios, a lava não teve dó nem piedade e destruiu tudo; mas ao mesmo tempo fez toda a ilha renascer das cinzas, fez-nos a todos descobrir um propósito de vida, onde aparentemente seria impossível, e fez-nos encontrar nos nossos limites e nos nossos medos uma forma de querermos e acreditarmos ir mais longe. É este “(…) o Pico na sua verdadeira expressão” e nós só precisamos de saber ouvir as súplicas que vêm das entranhas da terra - as que ajudaram os nossos antepassados a ultrapassar todas as dificuldades e que hoje voltam para nos incumbir, a nós, a tarefa de fazer prevalecer este espírito picoense – “É um som que dá uma impressão extraordinária de vida, como se os sinos encantados da Atlântida começassem a chamar por nós. Ouves? Ouves?”. Joana Pontes 7 FAZENDO + 16 FEV A 1 MAR 2012
Agenda
PICO Sáb_18 Fev. 17h Biblioteca Municipal de São Roque LANÇAMENTO DE FAZENDO 100% PICAROTO exposição de fotografia de Pedro Escobar música de Maria Margarita documentário de Luís Bicudo 22h Liga dos Amigos da Manhenha BAILE DE CARNAVAL com o grupo “Os Kontrabanda” 23h Salão da Sociedade Recreativa Alegria no Campo BAILE DE CARNAVAL como grupo “Bate n’Avó” Salão Cultural e Recreativo da Ribeira do Meio BAILE DE CARNAVAL com o grupo “Atlas”
Dom_19 Fev.
15h Casa do Povo da Candelária MATINÉ DE CARNAVAL 16h Salão Cultural e Recreativo da Ribeira do Meio MATINÉ
Seg_20 Fev. 22h Casa do Povo da Criação Velha BAILE DE CARNAVAL com o grupo “Ilhéus” Filarmónica Lira Madalense BAILE DE CARNAVAL com o grupo NOX
Gatafunhos
Ter_21 Fev. 14h30 Patinódromo Municipal BATALHA DE ÁGUA 16h Salão Cultural e Recreativo da Ribeira do Meio MATINÉ 22h Filarmónica U.M. Piedade ASSALTO DE CARNAVAL com grupo “Os Kontrabanda”
Qua_22 Fev. 16h Biblioteca Municipal Dias de Melo UM, DOIS, TRÊS… ERA UMA VEZ… animação e pedagogia com Susana Moura
Sex_24 Fev. 16h Bibioteca Municipal Dias de Melo VEM BRINCAR COM A MAGIA! animação infantile com Tibério Neves
14h30 DESFILE DE CARNAVAL pelas ruas da Vila da Madalena
18h Salão dos Toledos CONVÍVIO CARNAVALESCO
Casa do Povo da Candelária BAILE DE CARNAVAL com César Neves e Tânia Monteiro
21h Auditório Municipal das Lajes do Pico PURO AÇO filme de Shawn Levy
Sáb_25 Fev. 15h Parque Florestal de São João TROCA DE SEMENTES 18h Auditório Municipal das Lajes do Pico ALMA DA TERRA projeção do episódio da série da RTPAçores “Pedras Brancas” 18h às 19h30 Biblioteca Pública Municipal da Madalena OFICINA DE TÉCNICAS DE CONTAR HISTÓRIAS II com Susana Moura
Tomás Melo
FAIAL Sáb_18 Fev. 22h30 Sociedade Filarmónica Artista Faialense BAILE DE CARNAVAL com desfile de fantasias e grupo “Turma do Rodeio”
Dom_19 Fev. 15h CORSO CARNAVALESCO concentração no polivalente dos Flamengos 15h30 Avenida Unânime Praiense – Praia do Almoxarife DESFILE DE FANTASIAS 23h Polivalente do Salão CONCURSO DE FANTASIAS baile com o grupo “Onda Jovem”
Seg_20 Fev. 16h Fayal Sport Club MATINÉ 20h30 Sociedade Filarmónica Artista Faialense ASSALTO DE CARNAVAL com o grupo “Turma do Rodeio” 23h Polivalente do Salão CONCURSO DE MASCARADOS baile com o grupo “Onda Jovem”
Ficha Técnica FAZENDO - DIRECÇÃO Jácome Armas Pedro Lucas Aurora Ribeiro Tomás Melo COORDENAÇÃO DESTA EDIÇÃO Fernando Nunes CAPA Julia Gentner COLABORADORES Cristina Lourido, Gomes da Silva, Helder José Neves Bettencourt, Joana Pontes, Maria Álvares, Nicolau Marques, Paulino Costa, Paulo Sampaio, Victor Rui Dores REVISÃO E AGENDA Sara Soares PROJECTO GRÁFICO Lia Goulart PROPRIEDADE Associação Cultural Fazendo SEDE Rua Rogério Gonçalves nº 18 9900 Horta PERIODICIDADE Quinzenal TIRAGEM 500 exemplares
Ter_21 Fev.
IMPRESSÃO Gráfica O Telégrapho
15h Avenida Unânime Praiense – Praia do Almoxarife BATALHA DE ÁGUA
CONTACTOS vai.se.fazendo@gmail.com fazendofazendo.blogspot.com 967567254
16h Fayal Sport Club CONCURSO DE FANTASIAS
Sáb_25 e Dom_26 Fev. 21h30 Teatro Faialense PURO AÇO filme de Shawn Levy